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Arq. NeuroPsiquiatr. vol.5 número2

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Academic year: 2018

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A N O M A L I A S I N D U Z I D A S D A P E R C E P Ç Ã O

N E L S O N P I R E S *

Até os leigos sabem que os fatores afetivos podem determinar erros

sensorials. Fatos correntes encontradiços em todas as regiões

do-cumentam a chamada crendice popular — o homem que, à noite, no

cemitério, foi perseguido pelo fogo fátuo e por vozes; o cavaleiro que,

à noite, teve sua montada "empacada" por algo que só o cavalo ou

ambos, cavalo e cavaleiro viam ou pressentiam, as casas mal-assombradas,

etc. são de todos os tempos e lugares.

As alterações da percepção, or

ã

têm explicação banalíssima — a

catatimia — ora desafiam toda classe de interpretação (Quercy,

Mo-nakow e Mourgue, Henry E y ) . Principalmente as alucinações visuais

mostram-se dificilmente acessíveis ao estudo: inúmeras vezes não

conse-guimos apurar se há realmente "percepção sem objeto" ou se há

inter-pretação delirante, ilusão, falsificação da memória ou se falamos de

mundo diverso, do mundo em que vive o doente (alucinações nas

es-quizofrenias,. Enfim, duvida-se mesmo que, fora das desordens mentais

nítidas, existam alucinações visuais.

Jaspers procurou obviar algumas dessas dificuldades e estabeleceu

umas quantas caraterísticas das percepções. Visava principalmente

distingui-las das representações. Para Jaspers, as percepções se

cara-terizam por terem o caráter de corporeidade e de objetividade;

aparece-rem no espaço exterior objetivo; teaparece-rem contorno determinado, seaparece-rem

completas e nos apresentarem todos os detalhes; terem plena vlvacidade

sensorial os elementos particulares da sensação (por exemplo, as cores

brilham) ; serem constantes e poderem conservar facilmente a mesma

forma; serem independentes da vontade, não podendo ser criadas à

von-tade nem mudadas; aceitamo-las com sentimento de passividade. Por

outro lado, as representações têm o caráter de imagem, de subjetividade;

aparecem no espaço interno subjetivo; têm contornos indeterminados,

são incompletas e com detalhes isolados; certos elementos podem ser

idequados aos elementos da percepção, mas a maior parte são

inade-quados (por exemplo, tudo é cinzento) ; as representações se

"epar-T r a b a l h o e n t r e g u e p a r a p u b l i c a ç ã o e m 6 m a r ç o 1947.

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pillent", "escoam" e devem ser criadas de novo; as representações

dependem da vontade, podem ser criadas e transformadas à vontade;

produzkno-las com sentimento de atividade.

Coligimos duas observações que nos parecem merecer menção.

Per-tencem a uma categoria que poderíamos chamar "alucinações induzidas".

O fenômeno do contágio psíquico é banal, mas em uma das observações

as conseqüências já não foram tão banais. No último caso, é de relevo

a vivacidade sensorial da alucinação em ambos os pacientes. Este

cara-terístico foi por Jaspers chamado de "frescor sensorial". Há

seme-lhanças com os célebres exemplos de Kandinsky e de Johannes Muller.

N u m a prisão militar, e m 1936, e x i s t i a m vários o f i c i a i s , presos políticos, entre o s quais 3 comunistas. D e l e s , u m apresentava típicos traços paranóicos que s u

p u s e m o s constitucionais e, portanto, f i x o s : a tudo o que ocorria o oficial e m -prestava u m sentido de p e r s e g u i ç ã o — o d i á l o g o mais trivial continha " ciladas e t e s t e s " ; a sua c r e n ç a espírita era, a seu ver, prova de sua incompatibilidade c o m o f a s c i s m o ; os e m p r e g a d o s da prisão e r a m espiões l á colocados para delatarem o que o u v i a m ; olhares dos oficiais e m s e r v i ç o tinham significados de advertência. A o lado d e sua c o n v i c ç ã o doutrinária, ostentava p a r a d o x a l m e n t e g r a n d e o r g u l h o de seu tronco o r i g i n á r i o , de sua l i n h a g e m ilustre, sua capacidade mental e p r o -fissional.

Certa noite na prisão ocorreu-lhe que, n o f o r r o da casa, e m pleno recinto militar, " o u v i r a ruídos, c o m o se a l g u é m d e s u s a s s e c a u t e l o s a m e n t e " . A f i r m o u t r a -tar-se de i n v e s t i g a d o r e s da polícia civil. D e v e - s e notar que na prisão militar

(fortaleza de Sta. C r u z ) n ã o interferia a polícia c i v i l ; tratava-se de a s s u n t o sobre o qual os militares s ã o e x t r e m a m e n t e ciosos — a autonomia da autoridade militar. O u v i n d o as suspeitas d o companheiro, o fato foi, n o dia imediato, discutido à m e s a do a l m o ç o . C o n t e s t a r a m n o e m g e r a l : n ã o era admissível que a e s p i o n a g e m p o licial, onipresente n o país inteiro naquela época, se h o u v e s s e estendido até a f o r taleza e sobretudo utilizado a tática n o v e l e s c a de ouvir, do f o r r o da prisão, c o n v e r s a s de 3 militares, j á presos por m o t i v o s políticos. S e r i a m a i s simples a a d o ção de outro m é t o d o , e n t ã o e m plena v o g a — o i n t e r r o g a t ó r i o direto dos a c u s a -dos e, se n e c e s s á r i o f o s s e , a tortura.

N o i t e s s e g u i d a s , os oficiais se punham de sobreaviso. N u m a delas, a l g u n s aceitaram c o m o reais os " n í t i d o s ruídos de d e s l i s a m e n t o " n o f o r r o da prisão. Sobressaltados, o s militares cercaram a casa, a l ç a r a m - s e a o í ô r r o , d e v a s s a r a m - n o e m todas as direções e n e m siquer v i s l u m b r a r a m v e s t í g i o s de corpos o u partes de corpos h u m a n o s , na poeira ali amontoada. R e n o v a r a m s e os ruídos e m certas o c a s i õ e s e, afinal, os presos l e v a r a m o fato a o conhecimento do comandante da f o r -taleza que, pessoalmente, " f o i resolver o fato c o m seus a m i g o s da polícia c i v i l " . A l g u n s o f i c i a i s c o n t e s t a v a m fracamente a realidade do fato. A l g u n s dos m a i s crédulos — j u s t a m e n t e o s que mais t e m i a m as i n v e s t i g a ç õ e s policiais — p e r m a -n e c e r a m c o -n v i c t o s a t é a -noite crítica da devassa, qua-ndo e-ntão se co-nve-nceram da i n e x a t i d ã o d o que " o u v i r a m " . A p ó s a intervenção do comandante, desapare-ceu e m todos ( n o paranóico apenas abalou-se u m tanto a c o n v i c ç ã o ) , a crença d e e s t a r e m sendo espionados.

S o u b e m o s m a i s tarde p e l o próprio comandante da prisão que n ã o fora tomada providência a l g u m a na polícia, que o próprio comandante n ã o as pedira porque sabia impossível a ingerência da polícia na fortaleza. P r o m e t e r a intervir para

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O mais curioso é que o pivot do episodio, o paranóico típico, 4

anos após a absolvição e liberdade, foi por nós abordado. Quase não o

reconhecíamos do ponto de vista oaracterológico: eufórico, animoso,

ri-sonho, afetuoso, negligente nas precauções, desmentía que a "personor

Udade fosse predisposta às reações paranóicas". Tratava-se dum

sin-tónico de estrutura corporal pícnica com a caracterología também comum

ao pícnico. Não era de presumir que tal personalidade pudesse ser

protagonista duma reação paranóica, a não ser aceitando o que nos

en-sina Specht quando estabelece nexos entre paranóia e círculo

maníaco-depressivo. Ao menos neste caso, o pícnico tinha tal afinidade

para-nóica.

Temos outro exemplo documentado pelas próprias declarações dos

observados. Trata-se duma "alucinação induzida reciprocamente" em

dois estudantes. Não pudemos completar o estudo do episódio

aluci-natório com o estudo da personalidade dos observados, porque um deles

(mais induzido que indutor) esquivou-se a solicitações reiteradas de

comparecimiento ao exame. Motivos de discreção também impedem

maiores relatos sobre a personalidade do indutor. Pode-se afirmar,

en-tretanto, tratar-se dum indivíduo com eretismo emotivo.

O interesse da observação cinge-se à nitidez sensorial das alucinações

\ i suais, à indução mais ou menos perfeita delas ao lado da ausência de

psicose. Os depoimentos de ambos foram obtidos com semanas de

diferença. Sabe-se quanta deformação sofrem os testemunhos nestas

condições. Apesar disso, é curioso o confronto. Para exato estudo

parece-nos preferível a comparação pari-passu entre os dois relatos.

" N a madrugada de 4 de n o v e m b r o de 1945, e s t a n d o a estudar questões r e -lativas a o câncer, fui convidado para u m a refeição por u m c o l e g a de p e n s ã o , n o quarto do qual c o n v e r s a m o s sobre os mais variados assuntos, principalmente sobre política, assunto na o r d e m do dia. A noite era clara e muito quente. N a natureza tudo era quietude e silêncio. F a l a m o s da a l m a e suas c o r r e l a ç õ e s c o m o espírito, da inteligência, da m e m ó r i a e do raciocínio. N u m dado instante, f o m o s surpreen-didos pela p a s s a g e m de n u m e r o s o s transeuntes que, apressados, buscavam, por certo, os seus lares. Contrastando c o m os primeiros, u m outro m a r c h a v a e m " câ-mara l e n t a " , diante do portão principal do edifício, que fica na e x t r e m i d a d e de u m a reta de 30 metros tirada da porta do quarto do m e u colega. N e s s e m o m e n t o , repetidas v e z e s g r i t e i - l h e bem alto que " p o d i a entrar, pois o p o r t ã o estava a b e r t o " , s e m obter a m e n o r resposta. Sei que t r a j a v a - s e de branco, que estava penteado, que usava sapato preto, que a g r a v a t a n ã o e s t a v a bem apertada ao colarinho, que o pano da roupa dava a impressão de ser brim e de que estva, na e x p r e s s ã o p o -pular, " e n x o v a l h a d a ".

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entercssc. T a l quadro e a perspectiva de que poderia ser " a l g u é m do o u t r o m u n i o " aterrorizou horrivelmente n o s s o colega.

Depois nos retiramos j a r a o interior d o quarto, onde apanhamos mais uni pouco de nossa refeição, e voltamos à porta, onde continuávamos a conversar à procura duma e x p l i c a ç ã o para o sucedido. N u m dado m o m e n t o , observei forte e estranha luminosidade na metade inferior d o portão e, n o h e m i - p o r t ã o direito, sur-g i u um lenço de laquê branco acenando v i v a m e n t e para nós. A o lado disso, uma faixa vermelha, c o m o se f ô : a um tubo de " N e o n " , fazia m o v i m e n t o s de v a i - e - v e m entre a trave inferior d o p o r t ã o e o batente de m á r m o r e . T e n d o eu observado isso primeiro, chamei a a t e n ç ã o de m e u c o l e g a e perguntei-lhe se êle via a l g u m a cousa de estranho no portão. Reçpondeu-me afirmativamente, d e s c r e v e n d o o que via, o que coincidiu c o m o acima descrito. A perspectiva de cousas extra-terrenas tinha c h e g a d o a o a u g e , quando, brandamente, este quadro desaparece e desenha-se, nitidamente, n o portão, um busto h u m a n o forte, de pele " b e m queimada pelo s o l " , em cuja face se destacava um riso s a r d ó n i c o que nos fazia arrepiar. A o lado disso, apresentava v i v a m o v i m e n t a ç ã o , c o m o se estivesse ao sabor das ondas. T e n d o permanecido por mais de um m i n u t o na nossa presença, tive t e m n o de mandar m e u colega buscar uma cadeira para trepar e verificar se, além do busto, tinha essa aparição mais a l g u m a cousa, pois, sendo o quarto de nível inferior à calçada, n ã o v i s u a l i z a m o s e m toda a sua e x t e n s ã o ; foi esclarecido, assim, que o m e s m o ( b u s t o ) n ã o se prolongava a l é m do que nosos o l h o s , antes, viram. Indaguei t a m b é m do c o l e g a se não se tratava da cúpula de um pé de c r ó t o a v e r m e -lhado que e x i s t i a na casa da frente, ao que êle respondeu negativamente. A o ter-minar estas i n t e r r o g a ç õ e s , o busto, de frente para n ó s , acenou c o m a m ã o e perdeuse pelo lado direito do portão. N e n h u m de nós dois procurou mais e x p l i c a -ções. Cada qual se dirigiu para o seu leito e procurou dormir. E r a m , precisa-mente. 3 horas da m a n h ã " .

" N o dia 3 de n o v e m b r o de 1945, c o m o de costume, iniciei os meus estudos às 21 horas. À s 24 h o r a s , a p r o x i m a d a m e n t e , estando um p o u c o fatigado, descansei u m pouco, reiniciando os estudos à 2 hora da manhã d o dia 4. E r a m mais ou m e n o s 2,45 quando, sentindo f o m e , fui até a o quarto d o A . , a fim de c h a m á - l o para c o m e r c o m i g o um pouco de pão c o m a ç ú c a r que tinha no m e u quarto. M e u quarto está situado bem e m frente d o portão de entrada d o qual dista a p r o x i m a -damente 20 metros. O quarto é iluminado por uma só lâmpada presa à parede, provida de u m quebra-luz de papel v e r m e l h o , projetando luz s o m e n t e sobre a minha m e s a de estudo. C o m o a lâmpada está sobre a parede e m que foi aberta a porta e c o m o esta, sendo composta de duas peças, um das quais, a do lado da lâmpada, eu mantinha sempre fechada, n ã o havia possibilidade da p r o j e ç ã o de sombras na parte externa. D e v i d o a ser m u i t o tarde, tanto as luzes da p e n s ã o c o m o a da c a s a vizinha e s t a v a m t o d a s apagadas. A s únicas l u z e s eram as da rua, as do quarto do A . e a do meu. O portão de entrada é fechado por uma g r a d e d e f e r r o que d e i x a na sua parte inferior um intervalo de uns 4 ou 5 centímetros.

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postes de iluminação n o nariz do sujeito. E s t e vestia u m a roupa de fazenda bem clara, quase branca, camisa branca e g r a v a t a preta. E r a u m pouco m a g r o , e, c o m o s ó era visível a partir de um pouco acima do t o r n o z e l o , deduzi que êle devia estar entre os trilhos do bonde e o m e i o fio. O A . então g r i t o u : " ó , v o c ê aí, quê é que v o c ê quer? S e quiser a l g u m a c o u s a empurre o p o r t ã o e e n t r e " . E n -tão, o que parecia ser um h o m e m c o m e ç o u a desaparecer, n ã o c o m o t o d o s os fantasmas, isto é, volatilizando-se, mas enterrando-se, ao que m e parecia, verti-calmente, n o solo. F i c a m o s naturalmente um bocado intrigados c o m o acontecido, m a s nada c o m e n t a m o s . Comecei a c o m e r outro pedaço de pão e voltei à porta. N e s t e m o m e n t o , o A . m e c h a m o u a a t e n ç ã o para uma espécie de chama que corria sob o portão. P a r a se ter melhor idéia de c o m o era esta chama, comparei-a c o m uma lámpada fluorescente a o acender-se, sendo p o r é m de c ô r vermelha. A inter-valos regulares, desta chama se levantava uma outra c h a m a parecida c o m o f o g o do álcool, p o r é m d e c ô r rosa. N i s t o chamei a atenção d o A . para u m pano branco que o A . achou parecido c o m u m l e n ç o de setim branco brilhante s e g u r o por uma de suas pontas, p o r é m n ã o se via m ã o nenhuma. E s t a s e g u n d a cena durou uns cinco minutos mais ou m e n o s e depois bruscamente desapareceu. F i z e m o s a l g u n s comentários, atacamos outro pedaço de pão e v o l t a m o s à porta. V i m o s então u m indivíduo completamente nú, s o m e n t e visível da altura do e s t ô m a g o , mais o u m e nos, para cima, forte, m u i t o m u s c u l o s o e queimado pelo sol c o m o se t i v e s s e p a s -sado um dia na praia. S o b r e e s s e busto h a v i a uma f a i x a de luz branca e bri-lhante, enquanto a chama v e r m e l h a v o l t a v a a correr sob o portão. D e tudo, o que mais m e impressionou foi o s o r r i s o m a l v a d o desta aparição. Senti u m b o cado de m e d o e o pão ficou a m a r g o e m m i n h a boca. N o entanto, n ã o m e c o n -venci que aquela cousa que não tinha pernas e balançava de m o d o tal que, conform e disse o A . , parecia estar apoiado sobre uconform prato que boiava e conform á g u a s a g i t a -das realmente n ã o p o s s u í s s e os m e m b r o s inferiores. P a r a m e certificar, coloquei uma cadeira atrás d o A . e nela subi. N e s t a s condições eu podia observar qual-quer cousa até o nível da calçada. M a s apenas consegui avistar s o m e n t e até a cintura do sujeito e relatei isso ao A . . D e s c i da cadeira e continuei as o b s e r v a ções. O sujeito balançou para u m lado, a t r a v e s s o u o p o r t ã o e m toda a sua l a r g u r a , voltou e sumiu, n ã o mais voltando. C o m o a m i n h a c o r a g e m t i n h a d i m i -nuído sensivelmente, convidei o A . para se retirar e, mal êle saiu, tranquei a porta e fui dormir.

A t é h o j e n ã o encontrei u m a e x p l i c a ç ã o plausível d o que sucedeu naquela m a -drugada. A l g u n s m e disseram que devia se tratar de telepatia, t r a n s m i s s ã o de pensamentos devido a o que e s t á v a m o s l e n d o n o m o m e n t o . I s t o eu acho que p o s s o refutar completamente, pois eu estava estudando cálculo integral e o A . , t u m o r e s d o útero. E a c h o que foi s ó isso

O interesse do caso é manifesto, quer no aspecto teórico, quer no

prático. Estudando as desordens da percepção, verificamos

freqüente-mente que os autores: a) ou pretendem distinguir as alucinaçÕes das

demais alterações da percepção (sobretudo das pseudo-alucinações), com

esquematismo exagerado, onde se percebe que o esforço didático mutila,

deforma e violenta os fatos; b) ou promovem uma análise finíssima

dos fenômenos, perdendo-se em detalhes, sem qualquer diferenciação

precisa entre uns e outros distúrbios.

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Pa-recém muito escassos os depoimentos de pseudo-alucinações. Como o

nosso caso assemelha-se tanto às pseudo-alucinações como às alucinações,

aos escassos depoimentos dos autores acrescentamos um outro muito

nítido que, aos estudiosos, oferecerá novo documento importante.

Acresce que se trata, aqui, de um distúrbio induzido, da esfera visual,

em indivíduos não alienados nem sujeitos a hetero-intoxicações (sem

dúvida, havia fadiga e, talvez, fome).

Para classificar os distúrbios da percepção em nossos observados,

lembraremos seus caracteres: a) a percepção era nítida e seus

con-tornos precisos; b) havia vivacidade sensorial e corpcreidade; c)

houve mobilidade do percebido; d) inicialmente, o "julgamento de

rea-lidade" não se impunha; o primeiro estudante diz que "queria provocar

medo" no seu companheiro. Mas, depois, também se convenceu de que

"aquilo que estava vendo, existia, mas não era deste mundo, era

sobre-natural"; e) tratava-se de percepção "extrajetada", isto é, achava-se

no "campo externo da visão"; f) o percebido não obedeceu à influência

da vontade; g) não se pôde afirmar a ausência total de objetos ou

estímulos verdadeiros (objetos mal iluminados, complicando jogo de

luzes e de sombras) cuja percepção fora alterada ou deformada.

Comparando estes dados com o que se encontra nas ilusões,

repre-sentações, pseudo-alucinações e alucinações, concluiremos que o distúrbio

da percepção apresentado por nossos pacientes pode ser classificado como

alucinação, apesar da fixidez (que deveria ser apreciável) não ser

abso-luta e de, inicialmente, haver certa oscilação no "julgamento de realidade".

Duas palavras mais sobre o estado mental de um dos estudantes, o

único que conhecemos pessoalmente: é tímido, sugestionável, excitável,

"nervoso". Já foi vítima de outra experiência alucinatória: u'a mão

fria roçou-lhe o rosto, ao mesmo tempo que sentiu um sopro na face.

Também este episódio ocorreu à noite, em local isolado de uma fazenda,

em condições favoráveis ao advento do medo.

Do ponto de vista prático, nossas observações demonstram a

exis-tência de alucinações fora das doenças mentais declaradas. Há

aluci-nações induzidas.

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