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UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO USC

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO – USC

KARINA VIEIRA SOUZA ALVES SANT´ANA

REPORTAGEM:

A VIDA NAS RUAS DE BOTUCATU

BAURU

2012

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A vida nas ruas de Botucatu

A Praça da Igreja Sagrado Coração de Jesus, na Rua Major Matheus, em Botucatu é um local onde se pode encontrar crianças brincando, jovens namorando, senhores aposentados conversando e moradores de rua que, aproveitam o movimento para pedir alguma ajuda ou simplesmente descansar o corpo. Quase sempre franzino e sujo devido há dias vivendo nas ruas. A vida ao relento não é fácil, existem regras próprias para se proteger, é necessário saber com quem anda e não ter medo de se defender ao sentir alguma ameaça. A maioria das pessoas que estão nessa situação, se entrega aos vícios do álcool e outras drogas muito cedo, a predominância é o “crack” e a maconha, por que são mais acessíveis. O uso começa ainda na infância ou adolescência, pula-se a fase mais produtiva da vida (dos 15-40), e assim essas pessoas acabam indo para as ruas por decorrência dos vícios. Paulo Henrique André da Silva, 36, casado, pai de três filhos. Passa a maior parte do tempo embriagado, admite que está nas ruas devido aos vícios que tem com cigarro e bebida alcoólica. Quando questionado sobre o que a rua significa para si, fala que a rua é sua segunda casa e que, se sente melhor quando está nas ruas por que em casa sabe que atrapalha. Antônio José da Silva, 48 anos, casado. Estava sentado em um banco da praça ao lado de Paulo, visivelmente embriagado, apesar da pouca idade, possuía uma aparência bem mais velha e adoecida. Afirma que já foi para o abrigo CAMIM, levado pelos policiais. “Eu fui muito bem tratado lá, dormi bem, recebi comida, café, almoço e janta e, também me deram uma roupa azul para eu vestir, mas eu não quis”. A roupa azul que se refere, trata-se de um tipo de uniforme provisório cedido pelo abrigo aos moradores de rua. Senhor Antônio veio de Capão Bonito, interior de São Paulo, é pintor e gosta de pescar. Suas palavras variam entre a lucidez e a fantasia, parece não se importar com as pessoas que passam, sabe que não é visto pela sociedade. Quando perguntado sobre o preconceito social, ele responde: “As pessoas não se aproximam para ajudar, só aparece (“pinguaiada”) ”. Referindo-se aos colegas de rua.

A assistente social Irani Branco Lourenço, 56 anos, com trinta anos de carreira e vinte e três trabalhando com moradores de rua é responsável pelo único abrigo da cidade, o Centro de Atenção ao Migrante, Itinerante e

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Mendicante – CAMIM, afirma que já viu pessoas passarem a vida nas ruas, até a morte. Mas também teve o prazer de ver gente sair e se restabelecer: “com o tempo eles conseguem vender produtos de limpeza, artesanatos... Já vi gente com sua própria perua trabalhando nas ruas, os quais eu considero micro-empresários, e isso dá uma grande satisfação”, admite. O abrigo conta com o apoio da Guarda Civil Municipal e é o “braço forte” da Secretaria de Assistência Social. Recebe pessoas de Botucatu e outras regiões brasileiras. “São gente que estão de passagem pela cidade, trabalhadores rurais que migram de uma cidade à outra atrás de emprego e acabam ficando por que não têm dinheiro para prosseguir viagem nem voltar para casa”. Revela Irani. Caso semelhante, também passa algumas pessoas carentes de cidades vizinhas, em uma situação de miséria extrema, vão ao Hospital das Clínicas da UNESP em Rubião Júnior para receber assistência médica e ficam durante dias dormindo ao relento sem condições de voltar para casa. Isso por que, elas chegam à cidade com o dinheiro contado para passagem rodoviária, com fome, acabam gastando parte do dinheiro. O abrigo dá assistência a essas pessoas proporcionando o valor da passagem de volta para casa. Também oferece Higienização, roupas limpas, três refeições diárias e leitos para dormir. Proporciona cursos profissionalizantes de artesanato, jardinagem, entre outros, voltados àqueles que querem sair das ruas com uma fonte de renda. A maioria dos moradores de rua atendidos lá são homens em idade média de 20 a 35 anos, de pele morena à negra. O abrigo CAMIM aceita doações de roupas e sapatos masculinos, aqueles que se interessar em ajudar deve ir à Rua Paula Vieira, 511 – Vila Ema. Ou ligar para 3882-8444, ou ainda entrar em contato com a Defesa Civil pelo telefone 199.

Dona Maria Della Coletta é secretária da Secretaria de Assistência Social, é uma mulher simples e comunicativa, com 47 anos já viveu muitas experiências marcantes em sua carreira e afirma que é necessário ter um limiar à frustração para lidar com pessoas em situação de rua. “O trabalho da assistência social consiste em orientar, e trabalhar com essas pessoas para aproximá-las da família e reestruturá-las, investir no potencial delas, porém nem sempre o objetivo é alcançado, por que alguns não querem”, admite.

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Dona Maria afirma que em Botucatu há apenas trinta moradores de rua, parece pouco. Ela reconhece, mas a Secretaria de Assistência Social trabalha também com uma população em trânsito de mendicância. Contando com as pessoas que estão de passagem é difícil saber a quantidade exata de indigentes que são atendidos: “hoje pode haver mais uns vinte, amanhã pode ter menos” esclarece. “Operação Migrante”, esse é o nome dado à estratégia social da Secretaria de Segurança e Direitos Humanos de Botucatu, onde também funciona a Guarda Civil Municipal. Consiste em orientar e retirar pessoas das ruas encaminhando-as para o abrigo, assistência médica ou à família (quando possível). Segundo o comandante Adjair Campos a prioridade da segurança pública de Botucatu é a vida: “desde que começamos com a operação migrante em 2009, fazendo rondas frequentes nas ruas, orientando e resgatando pessoas o índice de mortalidade entre a população de rua caiu para zero. Nós Buscamos orientar os moradores de rua quanto aos riscos que eles estão submissos, sobre tudo em estação de chuvas e inverno. Averiguamos antecedentes criminais com o objetivo de manter a ordem”, esclarece. Questionado sobre o impacto da presença dos moradores de rua na cidade, senhor Adjair afirma que eles não cometem delitos sérios: “Geralmente os moradores de rua provocam casos de agressão e bebedeira, nada grave. Também pequenos casos de furtos, devido ao uso de drogas, em especial o “crack” e a bebida alcoólica. A situação de rua é uma decorrência do vício”.

Segundo dados fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública Municipal, os locais onde há mais moradores de rua em Botucatu são: a Praça do Bosque no centro, a região onde fica a antiga e abandonada Estação Ferroviária Sorocabana, Praça da Igreja Nossa Senhora de Fátima na Vila Antártica, Praça da Major Matheus e na Rua Floriano Peixoto. Ao passar por esses lugares o que se nota é um contraste social gritante, sobre tudo na região do centro onde a maior parte dos moradores é de classe média e a praça está em meio ao centro comercial da cidade. As demais localidades citadas estão numa região mais simples, de vilas, onde boa parte dos residentes é pobre ou de classe média baixa.

Indagadas nas ruas, algumas pessoas da Vila dos Lavradores disseram que quando veem um morador de rua sente pena, apenas dois rapazes

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disseram sentirem-se revoltados com o poder público, quando encontram os indigentes, acreditam que eles refletem o descaso das autoridades municipais.

Ao observar os moradores de rua é impossível não notar quão grande é a fragilidade humana, e como a falta de estrutura familiar e social pode levar pessoas a um estágio de total esquecimento e degradação. Numa sociedade capitalista como a nossa é comum acreditar que, mais vale o que você tem e representa do que o que você é. Por isso essas pessoas que perderam tudo na vida, são vistas por grande parte da sociedade, como marginais, porém nem todos são ameaças. São gente comum com suas histórias e experiências de vida, alguns têm boa formação escolar e, em um determinado momento de fraqueza, optaram pelas ruas. Passam boa parte do dia embriagados, quase sempre estão em movimento andando de um lado ao outro pela praça, sem rumo. Outras vezes estão parados com o olhar distante, alguns vasculham latões de lixo em busca de alguma coisa para comer. Bebem, fumam, conversam com o colega ou até mesmo sozinhos. Muitos possuem problemas psicológicos graves e vivem em um universo próprio, no qual, são plenamente aceitos e compreendidos.

Referências

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