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CONSULTA DE MEDICINA FAMILIAR: CARACTERIZAÇÃO DA NÃO ADERÊNCIA. Banúmia Bucancil Baçarde Cabral

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Artigo de Investigação Médica Mestrado Integrado em Medicina

CONSULTA DE MEDICINA FAMILIAR: CARACTERIZAÇÃO DA

NÃO ADERÊNCIA

Banúmia Bucancil Baçarde Cabral

Instituto de Ciências Biomédica de Abel Salazar/ Universidade do

Porto

Orientador:

Professora Dra. Zaida de Aguiar Sá Azeredo

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RESUMO

INTRODUÇAO: Estudar a não aderência á consulta de Medicina Familiar é um facto

importante, pois pode ajudar a equipa de cuidados de saúde primários a perceber melhor a dinâmica de relação utente/família – Médico de Família/equipa de cuidados de saúde primários. Pode ainda contribuir para influenciar estratégias na abordagem desta temática. Os objectivos deste estudo é caracterizar quem não vai à consulta de Medicina Geral e Familiar, bem como saber quais os factores que motivaram a não aderência.

METODOS: Fez-se a análise do registo dos utentes (análise documental) tendo sido

feita uma lista dos utentes que entre 1/1/2008 e 23/3/2009 não frequentaram a consulta do seu Médico de Família. A estes utentes foi aplicado telefonicamente uma entrevista para saber os motivos porque não a frequentam. Para o efeito foi elaborado um guião. A análise estatística foi realizada com o auxílio do programa estatístico SPSS. Foram aplicados os testes Qui-quadrado, Oneway Anova e Kruskal Waliis.

RESULTADOS: Dos 763 utentes que não foram à consulta com o seu Médico de

Família no período de 1/1/2008 a 23/3/2009, 18,7% responderam ao guião de entrevista. 53,1% dos utentes são do sexo masculino e 46,9% são do sexo feminino, com idade média de 39,4 anos. Não existem diferenças significativas entre os sexos relativamente à não aderência às consultas de medicina geral e familiar. A não aderência é mais frequente na faixa etária dos 19 aos 40 anos. A causa mais frequente da não aderência é a procura por clínicas privadas e o facto de sentirem-se bem de saúde.

PALAVRAS-CHAVE: Cuidados de saúde primários, Medicina familiar, cuidados

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INTRODUÇÃO

A Medicina Familiar é uma especialidade médica que presta cuidados essenciais, continuados globais e integrados ao utente e à respectiva família. Presta cuidados curativos e/ou preventivos, a pessoas doentes ou sãs, no consultório ou no domicílio, sendo o Médico de proximidade e portanto de maior acessibilidade a toda a comunidade pela qual é responsável.

O Médico de Família é um elemento essencial numa equipa de cuidados de saúde primários, contribuindo através da prevenção de doenças e promoção de saúde, para a melhoria da saúde da população onde está inserido.

Segundo Zurro (1991) a equipa de cuidados de saúde primários não deve ser entendida só como um conjunto de profissionais a desenvolver actividades mas também devem ter objectivos comuns e uma metodologia concreta de trabalho 1.

Com o envelhecimento da população a equipa de cuidados de saúde primários vê aumentarem e alterarem-se as suas actividades no sentido de dar mais e melhor resposta a idosos, pessoas com algum grau de incapacidade e/ou pessoas com patologia crónica. Com a evolução do grau de instrução e do auto cuidado e com a tendência para maior responsabilização da população pela saúde individual e colectiva, a relação médico-doente está a alterar-se. Assim parece que o utente está a tornar-se mais independente não vendo o Médico de Família já como um ser superior, mas antes como um ser em tudo semelhante ao utente, ou seja evolui-se de uma relação clássica autoritária para uma mais igualitária, de natureza contratual e muito mais negociável. Estas modificações são influenciadas por factores sócio-económicos e culturais. Segundo Zurro (1991) são 3 os principais factores que intervêm no processo de utilização das consultas de Medicina Familiar:

1) As necessidades sentidas pelo utente e/ou família que por sua vez depende da forma como aquele(s) percepciona(m) a doença e a forma como percepciona(m) a necessidade de ajuda (relação doença-dolência) (cultura sanitária familiar).

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2) Acessibilidade aos serviços de saúde. Ideologicamente os serviços de cuidados de saúde primários devem estar acessíveis a toda a população, porém há constrangimentos, nomeadamente barreiras arquitectónicas, deslocação e transporte que dificultam ou impedem o acesso àqueles serviços. Assim os constrangimentos podem ser de carácter geográfico ou físico (distancia, barreira arquitectónica) económica, de legalidade ou cultural.

3) Atitude/comportamento do Médico de Família e restante equipa.

Dependendo da idade, sexo, patologia de que padece, entre outros factores, seria bom que pelo menos uma vez por ano, todo o utente inscrito na lista de um Médico de Família tivesse uma consulta com o seu médico 1.

Por decisão dos superiores hierárquicos está decidido que o utente e respectiva família poderão ser excluídos da lista de um Médico de Família se nenhum dos membros do processo familiar for pelo menos uma vez a uma consulta em 2 anos. Esta decisão vem na sequência da diminuição de médicos no activo e a necessidade de redistribuição de utentes sem médico, resultando ainda da filosofia de que a Medicina Familiar presta cuidados curativos (a pessoas doentes), preventivos (a pessoas sãs ou doentes) e de promoção de saúde ao utente e respectiva família.

Assim estudar a não aderência á consulta de Medicina Familiar é importante, ajudando a equipa de cuidados de saúde primários a perceber melhor a dinâmica a relação utente/família – Médico de Família/equipa de cuidados de saúde primários.

Pode ainda contribuir para influenciar estratégias na abordagem desta temática.

Na pesquisa bibliográfica por nós efectuada encontramos poucos artigos sobre a não aderência às consultas, sendo a grande maioria sobre a não aderência às consultas hospitalares. Estes trabalhos foram desenvolvidos na sua maioria em países do norte da Europa e Inglaterra, que têm um sistema de saúde a funcionar de forma diferente do sistema de saúde português. Nestes países os Médicos de Família

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mandam uma carta para casa do utente a comunicar a marcação da consulta, tendo o utente que comparecer no dia e na hora marcada. Neste caso, a não aderência às consultas significa falta de comparência à consulta após a marcação da mesma que é da responsabilidade do Médico de Família.

A não aderência nalguns destes países é um factor muito importante, pois representa perda financeira e de tempo para os médicos e é mais frequente na faixa etária dos 17-40 anos. (George and Rubin, 2002) 2.

Nos estudos consultados, os utentes que não aderem às consultas hospitalares e de Medicina Geral e Familiar tem em comum o facto de serem jovens e de baixa condição socioeconómica (BMJ, 2001; Hamilton et al, 1987 sit Hamilton et al, 2002) 3 4

5. Parece também que o factor sexo só influencia a não aderência as consultas

hospitalares, sendo esta mais frequente no sexo masculino (BMJ, 2001; Dickey and Morrow, 1991 sit Hamilton et al, 2002) 3 5 6.

Num estudo realizado por Hamilton et al (2002), a faixa etária com maior percentagem de não aderência é a dos 25-44 anos (38%) seguida pela dos 15-24 anos (21%); nas restantes faixas etárias a não aderência é inferior a 8%. A média de idades dos não aderentes é de 37 anos. A razão mais apontada para a não aderência é o esquecimento e representa 35% das respostas, seguida pelo erro na marcação da consulta que represente 12% e por outros compromissos relacionados com a família ou trabalho no mesmo horário, 12%. Não parece haver uma relação entre a não aderência e o modo como o utente percepciona o seu estado de saúde 5.

A minha passagem pelo Centro de Saúde, permitiu-me constatar a problemática da não aderência dos utentes à consulta, bem como a preocupação manifestada pelos médicos em relação a esse comportamento. Importa salientar que as justificações habitualmente apresentadas pelos utentes revelam de alguma forma o desconhecimento do objectivo preventivo da consulta. A título de exemplo, há utentes que entendem que não é necessário ir a uma consulta sem estar doente. Apesar de se

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tratar de uma questão preocupante, percebe-se de alguma forma a partir da revisão bibliográfica, que é um assunto pouco abordado pela comunidade científica, daí o meu interesse em estudar esta problemática.

O objectivo do presente estudo é identificar as principais características dos utentes da Unidade de Saúde Familiar de Serpa Pinto e motivos para a não aderência às consultas de Medicina Geral e Familiar.

Assim do nosso estudo presidiram algumas questões de partida para nos orientarmos:

-Será que a idade influencia a não aderência?

-Que outros factores podem interferir na não aderência á consulta de Medicina Familiar?

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MATERIAL E MÉTODOS

Foram estudados os utentes que entre 1/1/2008 e 23/3/2009, isto é, pelo menos durante um ano não frequentaram a consulta do seu Médico de Família. Assim foram analisados os registos informatizados de uma lista de utentes de um Médico de Família da U.S.F de Serpa Pinto correspondentes ao período em estudo, bem como os respectivos registos clínicos do SAM (sistema de apoio ao médico) (N=763). A estes utentes entre 2 de Maio de 2009 e 2 de Junho de 2009 foi feita uma entrevista telefónica no sentido de saber os motivos que levaram à não frequência da consulta no período em estudo.

Para o efeito foi elaborado um guião de entrevista do qual constavam perguntas sobre o estado de saúde percepcionado pelo utente, dificuldade de acessibilidade, forma de ter acesso ao seu Médico (barreiras arquitectónicas, transporte e outras mobilidades), entre outras. Assim as questões foram divididas em 3 grupos:

-Dados pessoais: com o objectivo de caracterizar a amostra e determinar a sua influência nas outras variáveis, como por exemplo o sexo, a idade, freguesia de residência e o sistema de saúde ao qual o utente pertence.

-Questões onde se pede ao utente que diga há quanto tempo não vai ao Médico de Família: quantas vezes por ano vai ao Médico de Família, o motivo da não aderência em 2008/2009, como se sente em relação a saúde e porque motivo habitualmente visita o Médico de Família.

-Questões relacionadas com a acessibilidade à Unidade de Saúde Familiar, tais como a distancia entre o centro de saúde é a residência do utente, se existe um centro de saúde mais próximo da residência do utente, se há necessidade de utilização de transporte para ir ao centro de saúde, se em situação de urgência consegue consulta em 24h, qual o meio que utiliza para marcar a consulta e quanto tempo demora entre a marcação e a ter a consulta.

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Após 3 tentativas telefónicas foi apenas possível obter resposta de 143 (18,7%) entrevistados.

As repostas destes utentes foram escritas durante a entrevista em suporte de papel. Em algumas das respostas foi feita análise de conteúdo estabelecendo-se categorias que serviram apenas de informação adicional aos dados obtidos informaticamente.

Na análise estatística foram construídas tabelas de frequência para todas as variáveis.

Para avaliar a significância estatística das diferenças entre grupos, foram aplicados os testes Qui-Quadrado, Oneway Anova e Kruskal Waliis de acordo com as características das variáveis em análise e a sua distribuição.

A análise estatística foi realizada com o auxilio do SPSS 16.0. Foram considerados estatisticamente significativas as diferenças em que p <0,05.

Foram cruzadas as seguintes variáveis:

1-idade e sexo com a frequência de consultas

2-idade e sexo com como se sente em relação a sua saúde, dividido em 3 grupos sendo que 1e2 mal, 3 médio e 4e5 bem.

3-idade e sexo com razão da visita ao Médico de Família 4-idade e sexo com razão da não ida ao Centro de Saúde 5-frequência das consultas com distância

6-frequência das consultas com como se sente 7-distância com não ida ao Centro de Saúde

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ANÁLISE DOS RESULTADOS

Dos 763 utentes que não foram à consulta do seu Médico de Família no período de 1/1/2008 a 23/3/2009, 18,7% (n=143) responderam ao guião de entrevista, 81,3% (n=620) não responderam. Dos 81,3% que não responderam, 80,2% não atenderam o telefone, 8,2% faleceram e 11,6% não têm número de telefone ou mudaram de residência. A média de idade dos não entrevistados é de 41,84 anos (SD=25,61) (Figura 1).

Figura 1.Utentes que não foram as consultas entre 2008/2009

N= número de utentes

Em relação aos utentes entrevistados, 53% eram do sexo masculino, com idade média de 39,43 anos (DP=19,042), mínimo de 3 anos e um máximo de 88 anos. A média de idade e o sexo dos entrevistados não é significativamente diferente da média de idade e do sexo dos não entrevistados (média de idade, teste Qui-quadrado p=0,21, sexo teste Qui-quadrado, p=0,223). A faixa etária dos 19-40 anos (41%) e a dos 41-64 anos (31%) tem o maior número de utentes entrevistados e juntos

Total da lista N=763 Entrevistados N=143 18,7% Não entrevistado N=620 81,3% N/responderam telefone N=497 80,2% sds Falecidos N=51 8,2% Contacto errado N=72 11,6%

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representem 72% dos entrevistados. A maioria dos utentes (63%) vive nas freguesias próximas a Unidade de Saúde (Cedofeita, 27%, Paranhos, 15% e Ramalde, 21%) só 31% dos utentes reside fora da cidade do Porto. Metade (51%) dos utentes entrevistados tem como sistema se saúde a Caixa de Previdência, estes juntamente com os que pertencem a ADSE representam 83% dos utentes (Tabela I).

Tabela I. Caracterização da amostra em termos de sexo, idade, freguesia, sistema de

saúde Caracterização da amostra n % Sexo Masculino Feminino 76 67 53 47 Idade 0-18 anos 19-40 anos 41-64 anos +65 anos 21 59 44 19 15 41 31 13 Freguesia Aldoar Cedofeita Paranhos Ramalde

Outras freguesias do Porto Fora do Porto 4 38 22 30 4 45 3 27 15 21 3 31 Sistema de Saúde Caixa de Providência ADSE SAD/ADMG SAMS SGMS Seguros Sem registo 73 46 1 5 2 1 15 51 32,2 0,7 3,5 1,4 0,7 10,5 ADSE= ; SAD/ADMG=;SAMS=;SGMS=

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Dos utentes entrevistados, quanto questionados sobre o número de vezes por ano que usualmente visita o Médico de Família, 55% responderam menos de 1 vez/6 em 6 meses e 31% dos utentes nunca foram ao Médico de Família (Tabela II).

Em relação ao tempo de não ida ao Médico de Família, só 26 % dos entrevistados foram há menos de 2 anos à consulta e 74% não vão há mais de 3 anos; destes, 31% nunca foram a uma consulta com o seu Médico de Família. (Tabela II)

Relativamente à como o doente se sente em relação à sua saúde, mais de metade dos utentes (65,7%) responderam que se sentem muito bem de saúde (Tabela II).

Das razões invocadas para não ter recorrido ao Médico de Família no período em estudo, as respostas “consulta na privada” e “falta de tempo” foram as mais frequentes e têm a mesma percentagem de respostas (38%); representam 76% dos entrevistados (Tabela II).

No que diz respeito à causa da visita ao Médico de Família, a percentagem mais alta de respostas foi a “vigilância de saúde” (35%) (Tabela II).

A maioria dos utentes (69%) reside a menos de 5 km da Unidade de Saúde; 48% têm um Centro de Saúde mais próximo de sua casa e não estarem lá inscritos e 6% desconhecem se há outro Centro de Saúde mais próximo (Tabela II).

Apesar de a distância não ser demasiado grande para muitos utentes, 60% tem que utilizar transportes: 10% utilizam autocarro e 50% utilizam carro (Tabela II).

Em situação de urgência, 61% responderam que já utilizaram as consultas em menos de 24 horas, enquanto 8% responderam que não utilizam os serviços em situação de urgência (Tabela II).

Para marcar consulta, 59% fazem-no por telefone; 10% vai até ao centro de saúde enquanto 31% não utiliza o Centro de Saúde (Tabela II).

A maioria dos utentes (65%) responde que obtêm consulta não urgente em menos de 1 mês. (Tabela II)

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Tabela II. Percentagem de respostas dadas a uma série de perguntas

Pergunta Opções de resposta N %

Tempo que não vai ao Médico de Família 1-2 anos 3-4 anos >5 anos Nunca 38 30 31 44 26 21 22 31 Nº vezes/anos que visita Médico de

Família

1 vez/mês ou mais 1 vez/de 3 em 3 meses 1 vez/ de 6 em 6 meses

Menos de 1 vez/de 6 em 6 meses Nunca 0 6 14 79 44 0 4 10 55 31

Motivo da não aderência

Falta de tempo

Sente-se bem de saúde Mudou de residência

Mudou de Médico de Família Tem que cuidar de outro Depende de alguém que o leve Consulta na privada Outros 11 55 11 8 1 2 55 0 8 38 8 6 0,7 1,3 38 0 Como se sente em relação a sua

saúde (escala de 1-5)

1(muito mal) 2(mal)

3(mais ou menos bem) 4(bem) 5(muito bem) 0 1 13 35 94 0 0,7 9,1 24,5 65,7 Motivo habitual da visita ao Médico

de Família

Vigilância de saúde

Vigilância de doença existente Aconselhamento

Motivos administrativos Outros motivos

Sem significado (nunca foram ao Médico de Família) 50 38 1 10 0 44 35 26,6 0,7 7 0 30,7

Distancia entre a residência e o centro de saúde <1km 1km 2-5 km >5km 35 21 42 45 25 15 29 31 Outro Centro de saúde mais

próximo de casa Sim Não Não sabe 69 65 9 48 46 6

Transporte para ir ao centro de saúde Carro Sim Autocarro Não 71 15 57 50 10 40

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13 Consulta em 24h em situação de urgência Sim Não Nunca precisou

Sem significado (nunca foi ao Médico de Família) 87 0 12 44 61 0 8 31

Marca consulta por: Telefone

Email

Unidade de saúde Outros meios

Sem significado (nunca foram ao Médico de Família) 84 0 15 0 44 59 0 10 0 31

Tempo entre a marcação e a ter a consulta

≤ 5 dias 16-30 dias

31 dias até 3 meses > 3 meses

Sem significado (nunca foram ao Médico de Família) 47 45 7 0 44 33 31 5 0 31

Associação entre os diferentes factores

Quando comparamos as respostas dadas pelos dois sexos às questões, tempo de não ida ao Médico de Família, número de vezes/ano que visita o Médico de Família, motivo da não aderência, o modo como se sente em relação à saúde e a motivo habitual de visita ao Médico de Família, vemos que não existem diferenças significativas entre as respostas dadas pelos dois sexos (Tabela III).

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Tabela III. Relação entre o sexo dos utentes com uma serie de questões.

Questões Valor de p

(sexo)

Tempo que não vai ao Médico de Família 0,233

Nº vezes/anos que visita Médico de Família 0,26

Motivo de não aderência 0,30

Como se sente em relação em relação a sua saúde, numa escala de 1-5

0,21

Motivo habitual de visita ao Médico de Família 0,35 Teste Qui-quadrado, com intervalo de confiança de 95%

O factor idade, tem influência em algumas das respostas dadas pelos utentes. Assim, as respostas dadas às questões, tempo de não ida ao Médico de Família, número de vezes/ano que visita o Médico de Família, motivo de não aderência, o modo como se sente em relação a saúde, são significativamente diferentes nas diferentes faixas etárias (Tabelas IV, V, VI e VII). De acordo com os resultados observados, os utentes da faixa etária dos 19-40 anos são os que menos vezes consultam o Médico de Família e os que mais vezes vão ao Centro de Saúde (tabela IV e V).

No que se refere ao motivo habitual de visita ao Médico de Família não existe evidência suficiente para podermos afirmar que as respostas dadas nas diferentes faixas etárias (p=0,44,teste Kruskal Wallis) e entre os sexos (p=0,35, teste Qui-quadrado) são diferentes.

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Tabela IV. Tabela de frequência entre o tempo de não aderência as consultas e as

diferentes faixas etárias

Tempo de não aderência as consultas

Grupo etário 1-2 anos + 2 anos Nunca Total

0-18 19-40 41-64 +65 Total 11 10 11 6 38 7 30 19 5 61 3 19 14 8 44 21 59 44 19 143

Teste Qui-quadrado (p=0,046), com um intervalo de confiança de 95%

Tabela V. Tabela de frequência entre a frequência às consultas e as diferentes faixas

etárias. Frequência às consultas Grupo etário Até 1 vez/de 6 em 6 meses Menos de 1vez/de 6 em 6 meses Nunca Total 0-18 19-40 41-64 +65 Total 6 4 5 5 20 12 36 25 6 79 3 19 14 8 44 21 59 44 19 143 Teste Qui-quadrado (p=0,048), com um intervalo de confiança de 95%

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Tabela VI. Relação entre modo como o doente se sente em relação a sua saúde e a

idade Como se sente em relação à sua saúde? / Idade N % Media Desvio Padrão Mediana Intervalo Interquantil

Mais ou menos bem 14 9,8 62,14 18,025 62 28

Bem 35 24,5 50,83 15,023 52 26

Muito bem 94 65,7 31,81 15,507 32 22

Teste Oneway Anova (p<0,001)

Tendo em conta a relação entre a idade dos utentes e o modo como estes se sentem em relação à sua saúde, vemos que os utentes que se sentem muito bem em relação à sua saúde têm uma média de idades de 31,81 ano, à medida que a idade avança parecem ter uma percepção pior da sua saúde.

Tabela VII. Relação entre o motivo da não aderência e a idade Motivo da não aderência /Idade N % Media Desvio Padrão Mediana Intervalo interquantil Falta de tempo 11 8 44 16,498 42 34

Não tem motivo (sente-se bem de saúde)

55 38 33,15 17,019 32 22

Mudou de residência 11 8 33,91 14,025 34 15

Mudou de médico 8 6 36,63 12,363 34 7

Consulta na privada 58 40 45,97 20,865 46,50 34 Teste Oneway Anova (p=0,005)

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Comparando o motivo da não aderência com a idade do utente verificamos que a media e a mediana mais baixas de idade são de 33,15 e 32 anos respectivamente e os mais velhos, média e mediana de 45,97anos e 46,50 anos respectivamente, são os que não aderem às consultas porque vão à privada.

Tabela VIII. Relação entre a distância C. S - Casa e as seguintes questões.

Questão Valor de p

Usualmente quantas vezes por ano visita o seu Médico de Família? 0,245 Há quanto tempo não vai ao seu Médico de Família? 0,340 Teste Qui-quadrado; C.S= Centro de saúde

A não ida ao centro de saúde e a frequência com que os utentes visitam o Médico de Família não está relacionada com a distância ao centro de saúde.

Não se pode afirmar que a frequência de consultas está relacionada com o estado de saúde do utente (teste Qui-quadrado, p=0,14).

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DISCUSSÃO DE RESULTADOS

A amostra estudada é pouco representativa dos utentes que não aderem às consultas do seu Médico de Família, no período em estudo, pois só obtivemos resposta em 18,7% dos utentes. Por esse motivo a interpretação dos resultados obtidos não deverá ser extrapolada sem conhecimento de quem são os outros utentes que não responderam.

Relativamente a caracterização dos utentes que não aderem as consultas de Medicina Geral e Familiar, parece não existir diferenças entre os dois sexos em relação à não aderência, e ao motivo de não aderência. Este resultado vem de encontro aos observados no estudo realizado por Hamilton (2002) 5.

Analisando a média de idades (39,43%) e as faixas etárias dos utentes (19-40 anos) entrevistados, vemos que os adultos jovens e os adultos são as que menos vezes recorrem ao seu Médico de Família. Estes resultados são aproximados dos resultados observados no estudo de Hamilton (2002), onde a média de idade dos utentes é de 37 anos e ao estudo de George and Rubin (2002), e a faixa etária dos utentes que não aderem às consultas é a dos 17-40 anos 2 5. Talvez este facto esteja relacionado com o modo como o utente percepciona o seu estado de saúde, já que como podemos ver, os utentes que se sentirem bem em relação à sua saúde têm em média 31,8 anos. Assim parece que os mais jovens ao sentirem-se bem, contribuem mais para a não aderência, enquanto que os mais velhos geralmente têm mais patologias que os obriga a procurar assistência médica. A corroborar esta linha de raciocino temos ainda o facto de uma das razões mais frequentemente apontada para a não aderência ser precisamente o facto de o utente se sentir bem em relação à sua saúde. Segundo Zurro (1991), o modo como o utente percepciona a sua saúde tem influência na aderência às consultas. Mas é curioso observar que, quando relacionamos o modo como o doente percepciona o seu estado de saúde com a

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frequência às consultas, verificamos que este facto parece não ter influência na não aderência 1.

A outra causa apontada para a não aderência é a procura por consultas em instituições de saúde privadas. Este facto pode estar relacionado com o estatuto socioeconómico do utente, factor que não foi analisado neste estudo, ou com o sistema de saúde a que o utente pertence.

Metade dos utentes entrevistados pertence à Caixa de Providencia; 32,2% pertence a ADSE, os restantes pertencem a outros sistemas de saúde. A maioria destes sistemas de saúde tem protocolos com algumas instituições de saúde privadas que permitem ao utente obter descontos nas consultas.

O facto das listas de espera para as consultas hospitalares serem extensas, e o utente só ter acesso a estas consultas através do Médico de Família, também pode contribuir para a procura pelas instituições de saúde privadas, evitando assim a espera durante meses pelas consultas de especialidade.

Em relação à acessibilidade ao Centro de Saúde, vemos que a maioria dos utentes mora a menos de 5 km do Centro de Saúde e tem acesso a transporte para se dirigir até lá. Por isso a acessibilidade parece não ser um forte constrangimento para a deslocação ao Centro de Saúde. A corroborar esta suposição há o facto de 48% terem um Centro de Saúde mais próximo de sua casa e não estarem lá inscritos. Assim parece que não são os constrangimentos geográficos ou físicos que contribuem para a não aderência neste estudo.

Estes resultados mostram que os utentes estão mal informados acerca dos objectivos das consultas de Medicina Geral e Familiar, que são os de prestação de cuidados curativos (a pessoas doentes), preventivos (a pessoas sãs ou doentes) e de promoção de saúde ao utente e respectiva família.

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CONCLUSÃO

- Parece que adultos jovens e os adultos são os utentes que menos aderem às consultas de Medicina Geral e Familiar.

- As razões invocadas para a não aderência são a procura por consultas em instituições privadas e o estado de saúde do doente.

- Seria pertinente realizar um novo estudo com um maior número de utentes.

- Devido ao facto de existirem muitos utentes sem Médico de Família, penso que se torna necessário promover medidas que permitam actualizar a lista de utentes de um Médico de Família, com o intuito de evitar que constem na lista, pessoas que já faleceram, que estão inscritos em dois Centros de Saúde ou que mudaram de Médico de Família, não tendo sido comunicado tal facto ao Centro de Saúde onde primeiramente estavam inscritos. A identificação destes utentes permitiria diminuir a lista de espera para obter um Médico de Família, redistribuindo estes utentes.

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BIBLIOGRAFIA:

1.Zurro, A.M., Perez, J.F.C. – Manuel de Cuidados Primários: Organização e protocolos de actuação na consulta; edição portuguesa – Famapress edição Lda Lisboa 1991.

2. George A and Rubin G. Non-attendance in general practice: a systematic review and its implications for acess to primary health care. Family Practice 2003; 20: 178-184. 3. Non-Attendance at general practices and outpacient clinics. BMJ 2001; 323: 1081-2 4. Hamilton, R.A, Perlmann, T. and de Souza, J.J. 1987: The unbooked pacient. Part I. Reasons for failure to attend antenatal clinics. Soouth African Medical Journal 71, 28-31.

5. Hamilton W, Luthra M, Smith T, Evans P. Non-atendance in general practice: a questionnaire survey. Primary Health Care Research and Development 2002; 3: 226-230.

6. Dickey, W. and Morrow, J.I. 1991: Can outpatient non-attendance be predicted from the referral letter? An audit of default at neurology clinics. Journal of the Royal Society of Medicine 84, 662-63.

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AGRADECIMENTOS:

Quero manifestar os meus agradecimentos:

 Professora Dra. Zaida Azeredo, pela orientação e atenção.

 Dra. Manuela Dias, pela disponibilidade e facilitação às instalações da Unidade de Saúde de Serpa Pinto.

 Dr. Bernardo Vilas Boas, pela facilitação às instalações da Unidade de Saúde de Serpa Pinto.

 Funcionários da Unidade de Saúde familiar de Serpa Pinto, pela disponibilidade  Dra. Eduarda Matos, pela ajuda no tratamento estatístico.

 Utentes da Unidade de saúde familiar de Serpa Pinto, que colaboraram neste trabalho.

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Guião de entrevista

Nome: Idade: Sexo: Freguesia de residência:

1) Há quanto tempo não vai ao seu Médico de Família? 1-2 anos

3-4 anos ≥ 5 anos Nunca

2) Usualmente quantas, vezes por ano visita o seu Médico de Família? 1 vez/mês ou mais

Até 1 vez/3 em 3 meses Até 1vez/6 em 6 meses Menos de 1vez/6 em 6 meses Nunca

3) No ano de 2008 não visitou o seu Médico de Família. Porque?

Falta de tempo

Sente-se bem de saúde Mudou de residência

Mudou de Médico de Família Tem que cuidar de outro

Depende de alguém que o leve ao Médico de Família Consulta na privada

Outro motivo. Qual? _______________________________________________

4) ”Illeness” Em relação á sua saúde como se sente? (numa escala de 1-5)

(25)

25

5) Habitualmente visita o seu Médico de Família para:

Vigilância de saúde (inclui mostrar exames)

Vigilância de doença existente (inclui mostrar exames) Aconselhamento

Motivos administrativos Outros motivos

Sem significado (nunca foram ao médico de família)

6) Acessibilidade

6.1- Distância: Residência – Médico de Família

6.1.1- Distância entre a residência e o Centro de saúde

<1 km 1 km 2-5 km > 5 km

6.1.2- Tem Centro de Saúde mais próximo de sua residência

Sim Não Não sabe

6.1.3- Tem que usar transporte para ir ao Centro de Saúde

Autocarro Sim

Outro. Qual?

(26)

26 6.2- Disponibilidade do Médico de Família

6.2.1- Em situação urgente, sempre que necessita tem consulta em 24h?

6.2.2- Pode marcar consulta por:

Telefone Email

Unidade de Saúde Outros meios

6.2.3- Quanto tempo pensa que demora entre a marcação da consulta e a ter a consulta?

Até 15 dias (inclusivo) De 16 a 30 dias De 31até 3 meses Mais de 3 meses

Referências

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