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Lesões ortopédicas traumáticas em crianças e adolescentes *

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Academic year: 2021

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Lesões ortopédicas traumáticas

em crianças e adolescentes

*

LÚCIO HONÓRIODE CARVALHO JÚNIOR1, FERNANDO MILTONDA CUNHA2, FREDERICODE SOUZA FERREIRA3,

ANTÔNIO EDUARDO PEREIRA MORATO3, LUIZ HENRIQUE ANTUNES ROCHA3, RODRIGO FERREIRA MEDEIROS3

* Trabalho realizado no Hospital João XXIII, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, apresentado como um dos elementos para a obtenção do título de mestre em Medicina, área de concentração em Pediatria, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

1. Mestre em Medicina; Professor Assistente do Departamento do Apare-lho Locomotor da Faculdade de Medicina da UFMG.

2. Doutor em Medicina; Professor Adjunto do Departamento do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina da UFMG.

3. Aluno do curso de graduação em Medicina da UFMG.

Endereço para correspondência: Rua Olavo Carsalade Vilella, 264, Ipê – 34000-000 – Nova Lima, MG. Tel.: 31-581-7603, fax: 31-581-8118. Recebido em 25/11/99. Aprovado para publicação em 15/2/00. Copyright RBO2000

ABSTRACT

Traumatic orthopedic lesions in children and adolescents The authors performed an epidemiological study on trau-matic orthopedic lesions (fractures, strains, sprains, con-tusions, dislocations) in a random sample of 2,831 patients under 20 years of age, treated as outpatients in the

ortho-pedic service of the emergency department of João XXIII

hospital during 1997. The male:female rate was 1.91:1. Mean age was 11.32 years. Fracture was the most frequent event 49.77% (p < 0.0001), mainly in the radius 31.63% (p < 0.0001). Contusion, sprain, strain and dislocations came next in this order. Fall from own height was the most frequent mechanism, 31.75% (p < 0.0001). Open fractures and dislocations occurred in 8.12% of these events. The busiest hours were between 19:00 and 19:59 and Septem-ber was the busiest month (both p < 0.0001).

Key words – Trauma/epidemiol.; children; adolescents

INTRODUÇÃO

Até o século passado, as doenças infecciosas eram a maior causa de morte e incapacidade em quase todos os países do mundo. Nos últimos 100 a 150 anos, as nações industrializadas passaram por uma transição epidemioló-gica na qual a incidência de doenças infecciosas declinou, com resultante diminuição da mortalidade infantil e subse-qüente maior expectativa de vida. Em muitos países de-senvolvidos, as lesões traumáticas são a principal causa de anos potenciais de vida perdidos(1).

Como resultado de campanhas mundiais organizadas por entidades como a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças infecciosas, comuns na infância, vêm diminuin-do. No sentido contrário e simultaneamente, a incidência de trauma vem aumentando. A OMS estima que, em torno do ano 2020, a mudança da situação epidemiológica terá

RESUMO

Os autores realizam estudo epidemiológico sobre as lesões ortopédicas traumáticas (fraturas, luxações, en-torses e contusões) encontradas em uma amostra alea-tória de 2.381 pacientes com idade inferior a 20 anos, atendidos no Serviço de Ortopedia do Setor de Urgên-cia do Hospital João XXIII durante o ano de 1997. O sexo masculino foi preponderante numa relação de 1,91: 1. A média de idade foi 11,32 anos. A fratura foi o even-to mais freqüentemente encontrado, com 49,77% dos casos (p < 0,0001), principalmente a do rádio (31,63%) (p < 0,0001). A contusão, a entorse e a luxação foram as subseqüentes por ordem de freqüência. A queda da pró-pria altura (31,75%) foi o mecanismo mais habitual (p < 0,0001). As fraturas e as luxações com exposição ós-sea ou articular ocorreram em 8,12% dos casos. O ho-rário de maior demanda foi entre as 19 e as 19:59 horas e o mês de setembro foi o de maior número de atendi-mentos (p < 0,0001).

(2)

sido de tal ordem que mundialmente o trauma e as doenças infecciosas irão responder por igual número de anos po-tenciais de vida perdidos(2).

Em função de pequenos investimentos em pesquisa, o trauma é chamado de “doença negligenciada da sociedade moderna”. Segundo a OMS, enquanto os gastos por cada ano potencial de vida perdido ou de incapacidade devido à síndrome de imunodeficiência adquirida e outras doenças sexualmente transmissíveis são de US$ 3,89, para malária de US$ 1,31, para o trauma são de somente US$ 0,06(1).

Belo Horizonte (BH) possui uma população de mais de 2 milhões de habitantes segundo o censo de 1996, ultrapas-sando 3,5 milhões se considerada juntamente com as 23 cidades que compõem a sua região metropolitana (RMBH). Apesar das constantes tentativas no sentido contrário, o sis-tema público de atendimento ao paciente traumatizado está concentrado no Hospital João XXIII (HJXXIII), da Funda-ção Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG). Lo-calizado na área central, o hospital atende pessoas de toda a região metropolitana, do Interior e de outros Estados, sen-do referência em traumas de qualquer natureza, particular-mente politraumatismos, decorrentes de grandes aciden-tes, agressões e intoxicações por elementos exógenos(3). O

objetivo principal deste estudo foi fazer uma análise des-critiva das lesões ortopédicas traumáticas, em pacientes pediátricos e adolescentes (ou seja, com até 20 anos de idade, segundo a OMS) atendidos no serviço de ortopedia do setor de urgências do HJXXIII, da FHEMIG, no ano de 1997.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo foi retrospectivo, transversal e observacio-nal. Como todo estudo retrospectivo baseado em registros de prontuários, algumas dificuldades foram encontradas, em especial no que se refere à grafia. Apesar disso, o diag-nóstico foi obtido na quase totalidade dos casos (99,66%) e somente em oito não foi possível identificá-lo.

O cálculo amostral foi feito após sondagem de que no ano de 1997 foram atendidos, no Serviço de Ortopedia do Setor de Urgência do HJXXIII, 14.235 crianças e adoles-centes com menos de 20 anos de idade. Calculou-se ainda o número médio de atendimentos por dia da semana, que mostrou ser a segunda-feira o dia de maior número de aten-dimentos (x = 460) e a quinta-feira o de menor (x = 412). Apesar dessa diferença, esta não se mostrou estatisticamente significativa (p > 0,0500).

Também não houve diferença estatística entre os dias úteis e os fins de semana e isso não foi considerado no processo de aleatorização.

Para cálculo da amostra, usou-se como prevalência o valor de 50,00% e erro alfa de 0,0500, mesmo sabendo que todos os pacientes do universo apresentavam algum tipo de traumatismo sobre o aparelho locomotor. Com isso, des-cobrimos que precisaríamos de 2.279 casos, com nível de precisão de 99,00% de que a amostra seria representativa. Dado que a média diária de atendimentos dentro da faixa etária de interesse era de 39 pacientes/dia (máximo de 64 e mínimo de 20), com 58,44 dias seriam obtidos os 2.279 casos. Dividiu-se então 58,44 pelos 12 meses do ano, acres-cendo um número de dias tal que comportasse uma perda estimada em 5,00% (110 casos). Obtiveram-se então 2.389 pacientes. Desse total, 2.381 estavam com suas fichas com-pletas e prestavam-se para avaliação (perda de 0,34%).

Definição dos termos: Do ponto de vista genérico, as

lesões ortopédicas traumáticas podem ser divididas em quatro tipos que são assim definidos(4), segundo o

subco-mitê de nomenclatura atlética da Associação Médica Ame-ricana (AMA):

Contusão – lesão traumática do tegumento, sem ruptura da continuidade da pele.

Entorse – lesão traumática, torcional, das partes moles de uma determinada articulação, por estresse agudo ou so-licitação extrema, de tal forma que a estabilidade articular não seja comprometida.

Fratura – lesão óssea traumática, em que exista ruptura da porção cortical, com solução na continuidade óssea.

Luxação – lesão articular traumática em que exista per-da parcial ou total do contato entre os ossos que a com-põem.

A elaboração de um formulário de pesquisa foi feita após observação da ficha de atendimento da instituição. Após o teste piloto, a ficha individual de pesquisa foi aprimorada para que o pesquisador e sua equipe realizassem uma mar-cação rápida e codificada dos dados do prontuário. Desta forma, no processo de análise dos resultados foram consi-deradas lesões na mão aquelas identificadas como carpo (ou qualquer um dos seus ossos), metacarpianos, falanges e suas articulações. Da mesma forma, foram consideradas lesões no pé aquelas identificadas como tarso (ou qualquer um de seus ossos), metatarsianos, falanges e suas articula-ções.

As lesões na perna estavam em sua maioria identifica-das dessa forma e foram computaidentifica-das quando a marcação

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0 50 100 150 200 250 300 350 400 00----|02 02----|04 04----|06 06----|08 08----|10 10----|12 12----|14 14----|16 16----|18 18----|20 Faixa etária

Freqüência de distribuição de lesões em número absoluto

Masculino Feminino Total

Gráfico 2 – Dados relativos a 2.381 crianças e adolescentes,

portado-res de traumas ortopédicos, atendidos no Serviço de Ortopedia do Se-tor de Urgência do HJXXIII no ano de 1997 quanto à freqüência de distribuição de lesões em número absoluto (eixo Y) por faixa etária (eixo X) no global e em ambos os sexos

Gráfico 1 – Dados relativos a 2.381 crianças e adolescentes,

portado-res de traumas ortopédicos, atendidos no Serviço de Ortopedia do Se-tor de Urgência do HJXXIII no ano de 1997 quanto à distribuição por sexo

se dava sobre a tíbia ou fíbula, mesmo que somente por sobre uma delas. Contrariando essa tendência, as lesões dos ossos do antebraço estavam em sua maioria bem iden-tificadas quanto ao osso envolvido (somente o rádio ou somente a ulna). Quando não houve especificação, ambos foram computados. Isso explica a diferenciação das des-crições entre os membros inferiores e superiores.

As lesões no cotovelo foram assim consideradas quando envolviam as articulações radiocapitelar, ulnotroclear ou simplesmente cotovelo ou, ainda, quando acometiam o úmero distal em qualquer das suas regiões.

O mecanismo de trauma, “trauma direto” (contra um objeto ou obstáculo), surgiu após análise dos eventos mais freqüentes dentre aqueles qualificados como outros, não constando das opções primariamente disponíveis na ficha individual de pesquisa.

A divisão etária foi feita de dois em dois anos, pois, quan-to menores as faixas de análise, maior a precisão e veloci-dade em detectar mudanças ou tendências.

A análise estatística dos resultados foi feita utilizando-se a freqüência das variáveis utilizando-sexo, local de residência, hora do atendimento, dia da semana, tipo da lesão, local topo-gráfico, tipo de trauma e suas características e tratamento instituído. A variável idade foi analisada quanto às medi-das de tendência central e de variabilidade. Testes de asso-ciação de diferença entre proporções e de análise de va-riância foram empregados nas comparações de diversas variáveis. Em todo o estudo, o nível de significância consi-derado foi de 95,00% (p < 0,0500). Por se tratar de estudo envolvendo prontuários de atendimento, e não existindo a menor possibilidade de identificação dos pacientes, pres-cindiu-se da autorização por escrito desses. Ainda assim, o projeto de pesquisa foi apresentado e aprovado pela co-missão de ética da FHEMIG.

RESULTADOS

Em 1997 o mês de maior atendimento foi setembro, com 9,95% dos casos, e o de menor foi julho, com 6,51% (p < 0,0001). O período de maior demanda foi compreendido entre 12:00 e 17:59 horas. Apesar disso, o pico do número de atendimentos foi entre as 19:00 e 19:59 horas, com 8,60% de todos os atendimentos do dia sendo realizados nesse horário. O período de menor demanda foi da 00:00 às 5:59 horas, com 0,60% de todos os casos. A diferença entre os horários mostrou-se significativa (p < 0,0500). Na análise estatística, observamos diferença significante na fre-qüência de lesões entre as faixas etárias (p < 0,0001). Se considerarmos somente dois grupos, o 1º composto pelas 828 (34,78%) crianças com menos de 10 anos de idade e o 2º pelas 1.553 (65,22%) com mais de 10 anos, teremos uma diferença significante, com p < 0,0001 e uma relação de 1,87:1 favorável às maiores de 10 anos. Quanto ao sexo (gráfico 1), 65,77% eram do masculino e 34,23% do femi-nino, numa relação de 1,91:1 (p < 0,0001).

Quanto ao sexo por idade (gráfico 2), observamos pre-domínio feminino, de zero a dois anos, e masculino de dois anos a três anos e 11 meses, ambos sem diferença estatisti-camente significativa. Dos quatro anos aos 19 anos e 11 meses, houve diferença significativa (p < 0,0001), sempre a favor do sexo masculino.

Dentre os tipos de trauma (tabela 1), a queda da própria altura foi o mais freqüente, com 756 casos, corresponden-do a 31,75% corresponden-dos traumas. O seguncorresponden-do foi o trauma direto, com 260 (10,92%), seguido pela queda de altura, com 239 (10,04%), acidentes com bicicleta, com 110 (4,62%), atro-pelamentos, com 98 (4,12%) e por outros de menor repre-sentatividade.

Masculino 65,77% Feminino

(4)

Foram considerados de alto impacto (gráfico 3) os aci-dentes automobilísticos, motociclísticos, atropelamentos, quedas de mais de três metros de altura, soterramentos e lesões por arma de fogo. De baixo impacto foram conside-rados os acidentes produzidos por quedas da própria altu-ra, agressão, acidentes de bicicleta e trauma direto. Desta forma, 82,90% dos traumas foram considerados de baixo impacto e 17,10% de alto impacto.

O tratamento foi conservador em 92,69% dos pacientes, e cirúrgico em 7,31%.

Houve exposição óssea ou articular em 8,12% das fratu-ras e luxações.

Quanto ao tipo de trauma por local de residência, obser-vou-se que, nos pacientes do Interior do Estado, o trauma por acidente de bicicleta mostrou-se próximo do conside-rado significante (p = 0,0616).

Diferença significativa somente foi encontrada nos aci-dentes de motocicleta, com predomínio desse mecanismo nos pacientes oriundos da RMBH (p = 0,0391) e do Interior (p = 0,0141) em relação aos residentes em BH.

TABELA 1

Dados relativos a 2.381 crianças e adolescentes, portadores de traumas ortopédicos, atendidos no Serviço de Ortopedia do Setor de Urgência do HJXXIII no ano de 1997 quanto à freqüência dos diversos mecanismos de trauma por sexo, com as respectivas percentagens e valores de p

Mecanismo de lesão Total % Masc. % Fem. % p

Queda da própria altura 756 31,75 452 28,86 304 37,30 < 0,0001

Trauma direto 260 10,92 171 10,92 89 10,92 0,9995 Queda de altura 239 10,04 177 11,30 62 7,61 0,0044 Bicicleta 110 4,62 94 6,00 16 1,96 < 0,0001 Atropelamento 98 4,12 64 4,09 34 4,17 0,9211 Torção 43 1,81 19 1,22 24 2,95 0,0026 Acidente automobilístico 39 1,63 28 1,79 11 1,35 0,4240 Agressão 39 1,63 24 1,53 15 1,84 0,5743 Acidente motociclístico 34 1,43 29 1,85 5 0,61 0,0156 Patins 19 0,80 11 0,70 8 0,98 0,4675

Tração pelo braço 11 0,46 2 0,13 9 1,11 0,0017

Arma de fogo 8 0,34 7 0,45 1 0,12 0,2856 Soterramento 3 0,13 2 0,13 1 0,12 0,5648 Trauma obstétrico 2 0,08 0 0,00 2 0,25 Indeterminados 655 27,51 439 28,03 216 26,50 0,4275 Outros 65 2,73 47 3,00 18 2,21 0,2600 Total 2.381 100,00 1.566 100,00 815 100,00

Fonte: Hospital João XXIII – Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais

Baixo impacto 82,90%

Alto impacto 17,10%

Gráfico 3 – Dados relativos à amostra de 2.381 crianças e

adolescen-tes atendidos no Serviço de Ortopedia do Setor de Urgência do HJXXIII em 1997, quanto ao tipo de impacto dos traumas

Fratura 49,77% Luxação 3,99% Contusão 36,79% Outros 0,80% Entorse 8 65% 8,65%

Gráfico 4 – Dados relativos à amostra de 2.381 crianças e

adolescen-tes atendidos no Serviço de Ortopedia do Setor de Urgência do HJXXIII, em 1997, quanto ao tipo de lesão

(5)

Quanto ao tipo de lesão (gráfico 4), observou-se: fratu-ra: 49,77%; contusão: 36,79%; entorse: 8,65%; luxação: 3,99%; outros: 0,80%.

Quanto ao tipo de lesão por faixa etária, observou-se: contusão – predomínio não significativo (p = 0,2905) abai-xo dos dois anos e significativo acima dos 16 anos (p < 0,0200). Em todas as outras faixas etárias, houve predomí-nio das fraturas, com p < 0,0001.

Em relação ao local das entorses (tabela 2), observou-se: predomínio feminino de 1,22:1 (p = 0,0487); predomí-nio do tornozelo (p < 0,0001), seguido pelo pé, joelho, punho e mão.

Em relação ao local das luxações (tabela 3), observou-se: predomínio masculino de 1,16:1 (p = 0,3097). O local mais freqüente foi o cotovelo, com 62 (64,58%); o ombro, com 10 (10,42%); o pé com 8 (8,33%); e a mão, com 7 (7,29%).

Quanto aos locais de fratura (gráfico 5), encontrou-se que o rádio foi o mais freqüente (p < 0,0001). Novamente aqui, foi considerado individualmente cada um dos ossos do antebraço, ao contrário da perna, onde os dois ossos foram levados em conta em conjunto. Todas as fraturas do úmero distal foram consideradas como cotovelo, incluin-do-se aí as supracondilianas.

Na análise por faixa etária ocorreu predomínio do rádio em todas as faixas, exceto a última:

Até um ano e 11 meses: houve predomínio não signifi-cativo do rádio (p = 0,7813).

De dois anos a três anos e 11 meses: predomínio signifi-cativo (p = 0,0530).

De quatro anos a cinco anos e 11 meses: predomínio significativo (p = 0,2432).

De seis anos a sete anos e 11 meses: predomínio signifi-cativo (p = 0,0187).

De oito anos a nove anos e 11 meses: predomínio signi-ficativo (p < 0,0001).

De 10 anos a 11 anos e 11 meses: predomínio significa-tivo (p < 0,0001). Pela primeira vez foram encontradas fra-turas do tornozelo.

De 12 anos a 13 anos e 11 meses: predomínio significa-tivo (p = 0,0003).

De 14 anos a 15 anos e 11 meses: predomínio significa-tivo (p < 0,0001). Pela primeira vez foram encontradas fra-turas da coluna.

De 16 anos a 17 anos e 11 meses: predomínio significa-tivo (p = 0,0071) Aumento das fraturas da mão.

TABELA 2

Distribuição de freqüência e percentagem de entorses na amostra de 2.381 crianças e adolescentes atendidos

no Serviço de Ortopedia do Setor de Urgências do HJXXIII, em 1997, quanto à localização das lesões

Localização Freqüência Percentagem

Tornozelo 121 57,90 Pé 40 19,14 Joelho 23 11,00 Punho 14 6,70 Mão 5 2,39 Cotovelo 4 1,91 Coluna cervical 1 0,48 Ombro 1 0,48 Total 209 100,00

Fonte: Hospital João XXIII – Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais

TABELA 3

Distribuição de freqüência e percentagem de luxações na amostra de 2.381 crianças e adolescentes atendidos

no Serviço de Ortopedia do Setor de Urgências do HJXXIII, quanto à localização das lesões

Localização Freqüência Percentagem

Cotovelo 62 64,58 Ombro 10 10,42 Pé 8 8,33 Mão 7 7,29 Outros 9 9,38 Total 96 100,00

Fonte: Hospital João XXIII – Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Frequência 01/01/00 Localização Rádio Ulna Perna Mão Cotovelo Pé Clavícula Fêmur Úmero Punho Bacia Tornozelo Coluna Patela Outros

Gráfico 5 – Distribuição das 1.527 fraturas observadas em 1.185

crian-ças e adolescentes da amostra estudada quanto à freqüência (eixo Y) da localização (eixo X)

(6)

De 18 anos a 19 anos e 11 meses: predomínio significa-tivo das fraturas da mão (p < 0,0001), rádio cai para a quar-ta colocação. Pela primeira vez são diagnosticadas fraturas da patela.

A clavícula mostrou números expressivos somente na faixa etária abaixo dos dois anos de idade (22,22%), refle-tindo a relação com traumatismos obstétricos, fato já rela-tado por Bhat et al.(5). A partir dessa idade, diminuiu

pro-gressivamente até os 15 anos e 11 meses. A partir dos 16 anos, voltou a ser significativa, coincidindo com a faixa etária, em que os atropelamentos apresentaram seu segun-do pico de incidência. As fraturas segun-dos arcos costais apare-ceram em uma criança (0,82%) entre os dois e os três anos e 11 meses, surgindo novamente somente entre os 18 e os 19 anos e 11 meses, o que foi altamente sugestivo de abuso.

DISCUSSÃO

Este predomínio estatístico das contusões nas faixas etá-rias acima dos 16 anos segue o padrão esperado segundo a literatura, pois é a idade quando a resistência óssea se tor-na semelhante à do adulto, com maior facilidade para dis-sipação de energia nas partes moles(6). Tais achados podem

estar relacionados com mudanças na resistência óssea; con-tudo, podem ainda refletir triagem doméstica (menor nú-mero de lesões menos graves entre os jovens), pois os pais não trariam para avaliação crianças com traumatismos de baixa energia, ou com manifestações clínicas pobres. Já os adolescentes, por possuírem maior independência de loco-moção, procurariam assistência médica por qualquer trau-ma, aumentando a freqüência de contusões nessa faixa etá-ria. Esses resultados foram controversos quando compara-dos com a literatura, pois naqueles estucompara-dos em que existia na população um predomínio do grupo acima dos 10 anos (como nesse estudo), houve prevalência de lesões sobre as partes moles(7,8), o que, apesar de ser encontrado em

algu-mas faixas quando da análise por idade, não se verificou na análise global.

Quanto ao tipo de trauma por sexo: houve diferença es-tatisticamente significativa entre os sexos para queda da própria altura, torção e tração pelo braço, com predomínio feminino, e também significativo, porém com predomínio masculino nas quedas de altura, acidentes de bicicleta e motociclísticos. Rivara et al.(9) justificaram esses achados

pela menor coordenação motora do sexo feminino. Hu et

al. (10) justificaram esses mesmos achados pela maior

expo-sição do sexo masculino ao ciclismo. No nosso meio, fato-res culturais estão associados à utilização precoce da

mo-tocicleta, como se pôde comprovar pelo número desse tipo de trauma abaixo da idade mínima permitida para habilita-ção. Apesar de ter sido identificada diferença significativa nos acidentes de bicicleta, entre os sexos, ao analisarmos cada faixa etária, não encontramos diferença significativa; contudo, a partir dos 10 anos, há uma tendência significa-tiva a aumento por parte dos meninos e a diminuição por parte das meninas.

Este estudo não teve por objetivo analisar as lesões orto-pédicas traumáticas em crianças e adolescentes de BH ou de sua RM, e representa somente uma análise do HJXXIII. Tal extrapolação somente seria possível se esse hospital fosse o único, não existindo multiplicidade de opções, se o acesso da população à assistência fosse livre, se a confian-ça no sistema público fosse alta e ainda se o sistema de referência para transferência de pacientes fosse bom. Ape-sar disso, dada a magnitude do HJXXIII, sua tradição e o fato de ser hospital de referência para trauma dentro do Estado de MG, julgamos ser o estudo relevante pela sua representatividade, até dentro do próprio hospital.

Quanto aos aspectos sazonais, Cheng e Shen(11),

pesqui-sando fraturas, encontraram predomínio dos meses de ve-rão e outono. Cunha et al.(3), analisando fraturas expostas

no mesmo HJXXIII, encontraram o mês de setembro com o de maior número de atendimentos. Comparação com estes estudos é difícil; contudo, a transição climática marcante do mês de setembro, com mudança do número de horas de sol, poderia estar relacionada com esta diferença, levando-se em consideração o fato do mês de julho levando-ser de férias escolares.

A chegada dos pais em casa, após o trabalho, justificaria o pico encontrado entre as 19:00 e as 19:59 horas, pois teriam um período médio de duas a três horas para sair do trabalho, chegar ao domicílio e, encontrando a criança trau-matizada, procurarem assistência médica. Esses achados coincidem com os de Cunha et al.(3) que, analisando

fratu-ras expostas, encontraram um pico de atendimentos na mesma faixa.

Apesar da média de idade equiparar-se com a dos prin-cipais estudos, a maior concentração se deu no grupo entre 16 anos e 17 anos e 11 meses, o que seria explicado pela maior facilidade dos adolescentes em procurar diretamen-te o HJXXIII, pois, mais independentes do ponto de vista da locomoção, prescindiriam do auxílio paterno para buscar assistência médica.

Justificativas para o predomínio masculino devem-se a uma maior exposição desse sexo a situações de risco para

(7)

o trauma. Apesar da sabida rapidez masculina no desen-volvimento de habilidades motoras, tal característica ten-deria a diminuir o número de lesões nos homens, e não aumentá-las. Comportamento estereotipado aprendido dos pais e reforçado pela TV e pela escola poderia estar relacio-nado a uma maior exposição a atividades de risco por parte dos meninos. Não poderíamos prever se os mesmos resul-tados seriam alcançados numa sociedade de organização matriarcal. Rivara et al.(9) observaram diferenças entre os

sexos a partir dos dois anos de idade. Esse estudo obser-vou diferenças a partir dos quatro anos, relacionadas pos-sivelmente com uma maior diferença comportamental a partir dessa idade.

A distribuição dos acidentes por local de residência nos faz pensar que no Interior e nas cidades da RMBH os pa-cientes com lesões secundárias a acidentes motociclísticos não encontram atendimento adequado, seja por falta de recursos materiais ou humanos, sendo encaminhados para o grande centro. A mesma tendência é seguida pelas víti-mas de acidentes com bicicletas.

Das luxações do cotovelo, 54 (87,10%) aconteceram até os três anos e 11 meses na região radiocapitelar, corres-pondendo à lesão denominada pronação dolorosa do coto-velo. A literatura a coloca como freqüente até os cinco ou seis anos de idade(11). Das 10 luxações do ombro, sete

(70,00%) ocorreram em pacientes maiores de 16 anos, se-guindo o padrão encontrado no adulto.

As fraturas da patela surgiram pela primeira vez aos 18 anos, coincidindo com a idade mínima para habilitação para a direção de veículos automotores e com um aumento sig-nificativo do número de acidentes automobilísticos e mo-tociclísticos. Os traumas no painel, em colisões frontais, poderiam ser os fatores relacionados a esses eventos. As fraturas da coluna vertebral somente foram observadas a partir dos 16 anos, correlacionando-se com acidentes de alta energia, que passaram a ser mais freqüentes na mesma faixa etária. Fraturas da articulação acrômio-clavicular so-mente apareceram no grupo mais próximo da idade adulta. A mão, como local de fratura, surge de forma significativa a partir dos 10 anos de idade, mantendo uma tendência progressiva até os 16 anos, quando eleva de forma impor-tante sua participação no cômputo global de fraturas (20,53% entre os 16 anos e 17 anos e 11 meses, e 22,88% nos maiores de 18 anos). Devemos considerar que, a partir dessa idade, o envolvimento dos adolescentes em aciden-tes de trabalho passa a ser maior e a mão é um local de maior risco para esses acidentes.

CONCLUSÕES

Em relação às lesões ortopédicas traumáticas, da amos-tra de 2.381 crianças e adolescentes, atendidos no Serviço de Ortopedia do Setor de Urgência do Hospital João XXIII, no ano de 1997, pode-se concluir que:

• O perfil dos pacientes deste estudo é de um adoles-cente do sexo masculino, vítima de queda da própria altu-ra, apresentando fratura do rádio.

• A média de idade foi de 11,32 anos, com desvio-pa-drão de 5,30 anos.

• O sexo masculino foi predominante na relação de 1,91:1.

• A maior parte dos pacientes residia em Belo Horizon-te ou na sua região metropolitana.

• A queda da própria altura foi o mecanismo mais fre-qüente de lesão com significância estatística.

• Nas crianças menores que dois anos de idade, predo-minaram as contusões sem significado estatístico. Entre dois anos e 15 anos e 11 meses, prevaleceram as fraturas e, aci-ma dos 16 anos, a lesão aci-mais comum voltou a ser a contu-são, ambas altamente significativas na análise estatística.

• Houve predomínio estatisticamente significativo das fraturas. O rádio foi o osso mais fraturado, em todas as faixas etárias, com exceção do grupo de adolescentes maio-res do que 18 anos.

• O tratamento conservador foi empregado em 92,69% dos pacientes.

• Foi observado maior número de atendimentos no mês de setembro. O horário de maior demanda foi entre as 12:00 e 17:59 horas, sem significância estatística.

• Houve predomínio significativo dos acidentes de mo-tocicleta nos pacientes oriundos da região metropolitana e do Interior, em relação aos residentes em Belo Horizon-te.

Como contribuições do estudo e recomendações, pode-mos sugerir que as campanhas de saúde pública visando à diminuição do número e à gravidade dos traumatismos, em crianças e adolescentes, devem focar, particularmente, o adolescente do sexo masculino nas suas atividades diárias, esportivas ou não. Os meses de maior divulgação dessas campanhas seriam os de agosto e setembro. Campanhas educativas, voltadas para o adolescente masculino, alertan-do-o sobre os riscos de acidentes de trânsito, associadas a um maior rigor no patrulhamento, seriam formas que po-deriam levar à diminuição do número de acidentes com veículos automotores. Maior preparo material e humano, dos hospitais da RMBH e do Interior, seriam alternativas no

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intuito de diminuir o número de pacientes encaminhados destas instituições para o HJXXIII.

Algumas mudanças na dinâmica e na administração do Serviço de Ortopedia do Setor de Urgência do HJXXIII po-dem ser úteis baseadas nos achados deste trabalho. Orga-nização das escalas de férias e de substituições, de forma a prover o mês de setembro com maior número possível de profissionais, na área da Ortopedia, no intuito de suprir o aumento de demanda, neste período. Os programas de edu-cação continuada da equipe de Ortopedia devem ter parti-cular atenção para com as fraturas do membro superior em

crianças e adolescentes, notadamente, aquelas do rádio. No membro inferior, a atenção maior deveria ser dada às fra-turas da tíbia. A escala de horários e a distribuição do nú-mero de profissionais deveriam ser feitas de forma a dispo-nibilizar um maior número de pessoas no horário das 12:00 às 23:59 horas, com maior disponibilidade entre as 19:00 e 20:00 horas. O horário de troca de turno de plantão, às 19:00 horas, deve ser revisto, em virtude dos achados des-te trabalho. Há possibilidade de diminuição da equipe, nos horários entre 1:00 e 7:00 horas, tamanha a redução obser-vada na demanda.

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