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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP. Graziela Bonato Lião. Funções da preposição de no uso do português brasileiro

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Graziela Bonato Lião

Funções da preposição “de” no uso do português

brasileiro

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

SÃO PAULO

2018

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Graziela Bonato Lião

Funções da preposição “de” no uso do português

brasileiro

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Língua Portuguesa no Programa de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Profa. Dra. Regina Célia Pagliuchi da Silveira.

SÃO PAULO

2018

(3)

Banca Examinadora

(4)

“Hallelujah”

(5)

Ao Bento e à Maria Ivone,

pelo exemplo e pela dedicação.

Ao Hodney e ao Pedro,

pelo amor e pelo tempo de convívio

“roubado”.

À Daniela e ao Bento,

pelo carinho e pela paciência.

(6)

À Profa. Dra. Regina Célia Pagliuchi da

Silveira, minha orientadora, agradeço por me

aceitar como sua orientanda e, conforme João

Cabral de Melo Neto, por me guiar com tamanha

(7)

O presente trabalho foi realizado com

apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).

(8)

AGRADECIMENTOS

À banca de qualificação: Profa. Dra. Aparecida Regina Borges Sellan e Profa.

Dra. Deborah Gomes de Paula pelas sugestões e observações enriquecedoras para a

elaboração deste trabalho.

Aos professores de pós-graduação - Prof. Dr. Luiz Antonio Ferreira, Prof. Dr.

João Hilton Sayeg de Siqueira e Profa. Dra. Dieli Vesaro Palma – pelos ensinamentos

recebidos na minha formação como pesquisadora de Língua Portuguesa. Também, à

Maria de Lourdes Scaglione pelas orientações e pelos auxílios constantes e precisos.

Aos professores e colegas do Curso de Especialização em Língua Portuguesa da

PUC/SP, que tanto contribuíram para a minha retomada nos estudos e me

enconrajaram a chegar nesta etapa. Em especial à Profa. Mestre Valeuska França Curi

Martins e à Profa. Dra. Karlene do Socorro da Rocha Campos. À Luanda Ferraz,

amiga, que acreditando no meu trabalho, levou-me, pela primeira vez, ao Programa de

Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa.

Aos meus amigos professores, amigos do Corpo Administrativo e alunos do

Colégio FAAP-SP, na pessoa do Prof. Mestre Henrique Vailati Neto, meu mais

sincero agradecimento por cada dia; por tudo.

Por fim, a todos que comigo partilharam cada momento que possibilitou este

caminhar, este trabalho, o meu mais profundo e sincero agradecimento.

(9)

RESUMO

Esta dissertação está situada na área da Gramática de Língua Portuguesa e tem por tema as diferentes funções que a preposição DE adquire no uso efetivo do Português Brasileiro. A hipótese inicial é de que no uso efetivo do Português Brasileiro, a preposição DE seja um lexema e/ou um gramema. Justifica-se a pesquisa realizada, pois a Gramática Tradicional, no Brasil, define as preposições como uma classe de palavras que relaciona palavra com palavra. O Dicionário de

usos do Português, o DUP, de Francisco da Silva Borba (2002), o ponto de partida

desta pesquisa, apresenta a preposição DE como um vocábulo que contém uma série de predicações, de forma a considerar essa preposição como um lexema, capaz de receber diferentes gramaticalizações. A pesquisa está fundamentada na gramática sistêmico-funcional de Givón (1993), no uso efetivo da língua, quando as unidades sistêmicas, pancronicamente, adquirem novas funções. O objetivo geral deste trabalho é contribuir com os estudos gramaticais prepositivos do Português Brasileiro e como objetivos específicos têm: I. rever tratamentos dados da gramática histórica e da gramática tradicional à preposição DE; II. buscar, pela diacronia da Língua Portuguesa, os atuais usos pancrônicos da preposição DE; III. examinar os usos da preposição DE em segmentos de textos escritos, em busca de função lexical; IV. examinar os usos da preposição DE em segmentos de textos escritos, em busca de função gramatical. A pesquisa realizada é de natureza qualitativa, com

corpus composto por crônicas de Mário Viana e Ivan Angelo, publicadas na revista Veja São Paulo, e textos diversos, publicados na revista São Paulo, da Folha de S. Paulo, e, também, na revista Claudia, com diversas autorias, coletados entre 2017 e

2018. Os resultados evidenciam que se trata de um termo híbrido, funcionando tanto como lexema quanto como gramema. Como lexema estabelece a relação entre palavras, inserindo sentidos conforme os contextos em que aparece. Como gramema é um morfema gramatical independente que funciona na relação entre lexias.

Palavras-chave: preposição DE, lexia, gramaticalização, pancrônico, Português Brasileiro

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ABSTRACT

This dissertation is located in the area of Portuguese language grammar and has as its theme the diferent functions wich the preposition OF acquires in the effective usage of Brazilian Portuguese. The initial hypothesis is that in the effective usage of the Brazilian Portuguese, the preposition OF is a lexeme and/or gramema. The research done is justified, since the traditional Grammar in Brazil defines the prepositions as a class of words that relates word to word. The Dictionary of

Portuguese Uses, DUP, by Francisco da Silva Borba (2002), the starting point of the

research, presents the preposition OF as a term containing a series of predications, in order to consider this preposition as lexeme, capable of receiving grammaticalizations. It is based on the systemic-functional grammar of Givón (1993), in the effective use of the language, when the systemic units, pancronically, acquire functions. The general objective of this work is to contribute with the gramatical studies of Brazilian Portuguese and specific objectives are: I. review treatments data from historical grammar and traditional grammar to preposition OF; II. to seek, through the diachrony oh the Portuguese Language, the presente panchronic uses of the preposition OF; III. to examine the uses of the preposition OF in segments of written texts, in search of lexical function; IV. to examine the uses of the preposition OF in segments of written texts, in search of grammatical function. The research carried out is of a qualitative nature, with a selected corpus by Mário Viana and Ivan Angelo chronicles, published in the magazine Veja São Paulo, and several texts, published in the São Paulo magazine, Folha de S. Paulo, and also in the journal Claudia, with several authors, collected between 2017 and 2018. The results show that this is a hybrid term, functioning both as a lexeme and as a grammar. As lexeme establishes the relation between words, inserting meanings according to the contexts in which it appears. As a grammar it is an independent grammatical morpheme that functions in the relationship between lexias.

Keywords: preposition OF, lexia, grammaticalization, panchonic, Brazilian Portuguese

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Declinações no Latim Vulgar ... ... 20

Quadro 2 – Declinações no Latim ... 23

Quadro 3 – As 40 preposições da Língua latina ... 24 e 25 Quadro 4 – Sintagma preposicional encaixado num sintagma nominal ... 69

Quadro 5 – Sintagma preposicional encaixado num sintagma verbal ... 69

Quadro 6 – As preposições e o tratamento da categoria cognitiva de Espaço ... 71

Quadro 7 – As preposições menos e mais gramaticalizadas ... 73

Quadro 8 – Preposições complexas ... 73

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Sumário

Considerações Iniciais ... 14

CAPÍTULO I Línguas Latina e Portuguesa – Breve histórico 1.1 Apresentação diacrônica da preposição DE ... 17

1.2 Língua Latina: perda das desinências casuais e uso da preposição DE ... 17

1.3 O Latim Vulgar ... 21

1.4 As 40 preposições da Língua Latina ... 23

1.5 A Língua Portuguesa no Brasil ... 27

1.6 A preposição pela tradição gramatical ... 30

1.6.1 Nova Gramática do Português Contemporâneo (Cunha e Lindley Cintra, 1985) ... 32

1.7 A preposição para os linguistas ... 39

CAPÍTULO II A preposição pelos gramáticos do Português Brasileiro: uma visão funcionalista 2.1 Gramática de Usos do Português (Maria Helena de Moura Neves, 2000) ... 40

2.2 Gramática do Português Brasileiro (Ataliba T. de Castiho, 2016) ... 67

CAPÍTULO III Fundamentos teóricos 3.1 A gramática estruturalista descritiva ... 76

3.2 A gramática gerativo-transformacional ... 77

3.3 Do formalismo ao funcionalismo linguístico ... 78

3.4 A gramaticalização ... 82

3.5 A gramática sistêmico-funcional ... 86

3.6 O funcionalismo de Talmy Givón (1993) ... 93

(13)

CAPÍTULO IV

O uso efetivo da preposição DE no Português Brasileiro

4.1 A dimensão lexical-vocabular ...106

4.2 A título de exemplificação ... 109

4.2.1 A preposição DE com sentido prototípico (espaço-temporal) ... 110

4.3 A preposição DE como introdutora de complemento de verbo ... 111

4.3.1 Indicando inclusão ... 111

4.3.2 Indicando assunto; sobre ... 113

4.4 A preposição DE como introdutora de complemento de substantivo ... 114

4.4.1 Indicando lugar; em ... 114

4.4.2 Indicando tempo passado ... 116

4.4.3 Indicando percurso; por ... 118

4.4.4 Significando entre ... 119

4.4.5 Indicando destinação ou finalidade; para ... 120

4.4.6 Indicando delimitação; com referência a ... 121

4.4.7 Indicando quantidade ... 123

4.4.8 Indicando posse ... 124

4.4.9 Indicando conteúdo; com ... 124

4.4.10 Indicando matéria; feito DE ... 125

4.4.11 Indicando disposição ou propósito; para ... 127

4.4.12 Indicando em forma DE ... 128

4.4.13 Indicando parente DE ... 129

4.5 A preposição DE como introdutora de complemento de adjetivo ... 129

4.6 A preposição DE como introdutora de complemento de advérbio ... 130

4.7 A preposição DE como introdutora de complemento de locução adverbial ... 131

4.8 Resultados obtidos das dimensões analisadas ... 132

Considerações Finais ... 136

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Textos examinados por Moura Neves na Gramática de Usos do Português (2000) ... 145

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Considerações Iniciais

Esta dissertação está situada na área da Gramática de Língua Portuguesa e está inserida na linha de pesquisa História e Descrição da Língua Portuguesa, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

A pesquisa realizada tem por tema as diferentes funções que a preposição DE adquire no uso efetivo do Português Brasileiro. Os resultados obtidos por Madre Olivia (1979), quando afirmou não haver nenhuma relação sem valor, pois todo enunciado tem conteúdo semântico, deram início à nossa pesquisa.

O problema proposto é: no uso efetivo do Português Brasileiro, a preposição DE é um lexema ou um gramema? Justifica-se a pesquisa realizada, pois a Gramática Tradicional, no Brasil, define as preposições como uma classe de palavras que relaciona palavra com palavra, sendo, assim, diferente da conjunção que relaciona orações. Todavia, ainda que seja um termo de relação, o tratamento dado é lexical.

O Dicionário de usos do Português, o DUP, de Francisco da Silva Borba (2002) é o ponto de partida da nossa pesquisa porque apresenta a preposição DE como um vocábulo que contém uma série de predicações, de forma a considerar essa preposição como um lexema, capaz de receber diferentes gramaticalizações. Fundamentada na gramática sistêmico-funcional de Givón (1993), nossa pesquisa tem como pressuposto que a língua se define por um sistema, mas no seu

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15

uso efetivo, por falantes nativos, as unidades sistêmicas, pancronicamente, adquirem novas funções. Estas progressivamente podem ou não compor o sistema da língua de forma a apresentar mudanças diacrônicas.

Esta pesquisa tem como Objetivo Geral contribuir com os estudos gramaticais prepositivos do Português Brasileiro e como Objetivos Específicos: I. rever tratamentos dados da gramática histórica e da gramática tradicional à preposição DE; II. buscar, pela diacronia da Língua Portuguesa, os atuais usos pancrônicos da preposição DE; III. examinar os usos da preposição DE em segmentos de textos escritos, em busca de função lexical; IV. examinar os usos da preposição DE em segmentos de textos escritos, em busca de função gramatical.

A pesquisa é de natureza qualitativa, com corpus composto por crônicas de Mário Viana e Ivan Angelo, publicadas na revista Veja São Paulo, e textos diversos, publicados na revista São Paulo, da Folha de S. Paulo, e, também, na revista

Claudia, com diversas autorias. Para que fossem representativos para esta

pesquisa, tais crônicas e textos foram coletados entre 2017 e 2018. Esta dissertação está composta por:

Capítulo I – Línguas Latina e Portuguesa – Breve histórico

O capítulo apresenta os tratamentos diacrônico, histórico e da gramática tradicional para a preposição DE.

Capítulo II – A preposição pelos gramáticos do Português Brasileiro: uma visão funcionalista

O capítulo apresenta a revisão das gramáticas de Língua Portuguesa, com visão funcionalista, de Moura Neves (2000) e Castilho (2016).

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Capítulo III – Fundamentos teóricos

O capítulo reúne as bases teóricas da gramática sistêmico-funcional e da gramaticalização.

Capítulo IV – O uso efetivo da preposição DE no Português Brasileiro

O capítulo apresenta nossas análises segundo as três dimensões linguísticas propostas por Talmy Givón (1993): dimensão lexical (trata do significado oferecido pelo léxico); dimensão proposicional (trata da combinação de palavras do léxico para a expressão de conceito); dimensão pragmático-discursiva (trata do discurso formado pela reunião das proposições). E, ainda, os resultados obtidos neste trabalho.

Nas Considerações Finais verificamos se os objetivos iniciais da pesquisa foram atendidos. Para tanto, retomamos menções apontadas na dissertação, ressaltando os aspectos que consideramos relevantes ao tratamento da preposição DE.

Nas referências bibliográficas apresentamos os estudiosos que nos auxiliaram na escrita do trabalho.

(18)

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CAPÍTULO I

Línguas Latina e Portuguesa - Breve histórico

Este capítulo apresenta breve histórico das Línguas Latina e Portuguesa, além do tratamento dado à preposição por gramáticos e linguistas do século XX e por Cunha e Lindley Cintra (1985), gramáticos do português contemporâneo.

1.1 Apresentação diacrônica da preposição DE

A gramática sistêmico-funcional tem por ponto de partida que toda língua possui um sistema e este apresenta um dinamismo, pois as unidades atuais decorrem de funções que as unidades sistêmicas adquirem em uso. Sendo assim, o sistema compreende um conjunto de unidades pancrônicas decorrentes da cristalização de funções anteriores e atuais. Ele, o sistema, está sempre aberto para novas cristalizações decorrentes das funções outras que uma mesma unidade sistêmica pode adquirir.

Logo, este capítulo inicia-se com uma apresentação diacrônica da preposição DE na língua portuguesa, com o objetivo de verificar como as funções adquiridas modificaram essa unidade no sistema do Português Brasileiro.

1.2 Língua Latina: perda das desinências casuais e uso da preposição DE No latim clássico, segundo Whelock (2005, p. 512), os substantivos possuíam seis tipos de casos, com uma forma para o singular e outra para o plural, totalizando doze marcações morfológicas de caso, e cada caso com

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18

função própria. Dessa forma, no latim clássico, demonstravam-se várias relações entre os substantivos sem depender tanto das preposições. Além dos casos acusativo, ablativo, dativo e genitivo, existiam o nominativo – para indicar o sujeito da oração -, e o vocativo – para marcar o direcionamento a uma pessoa ou coisa. Não existia o adjetivo articular; portanto, os casos supriam essa ausência para o usuário da língua latina. Afirma Menéndez Pidal que

a declinação das línguas indo-europeias se conserva menos que a conjugação, porque a substantividade invariável do substantivo não exige a distinção de formas como o verbo que indica ação, progresso, mudança. As relações indicadas pelas desinências casuais são, via de regra, mais vagas que as expressas pelas desinências verbais e necessitavam concretizar-se por meio de uma preposição. (1941, p. 205).

Na medida em que as desinências casuais ou casos latinos [acusativo (função de objeto direto), ablativo (função de adjunto adverbial e agente da passiva, sempre formado com a preposição), dativo (função de objeto indireto), genitivo (função de adjunto adnominal restritivo), nominativo (função de sujeito) e vocativo (função de chamamento)] iam se amortecendo, o emprego das preposições se tornava mais frequente. Passo a passo, acontecimentos da e na língua latina concorreram para a redução dos casos latinos. Vejamos:

a. ocorreu perda do m final e o desaparecimento da oposição quantitativa que levou à confusão entre diversos casos;

b. o nominativo e o vocativo tornaram-se iguais na primeira declinação; c. o acusativo e o ablativo, na primeira declinação, no singular, também,

tornaram-se iguais;

d. o acusativo, o dativo e o ablativo, na segunda declinação, no singular, também se confundiram;

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19

e. o acusativo e o ablativo, na terceira declinação, no singular, também se identificaram.

Destaca-se, ainda, que o plural foi menos atingido, mas o abandono de certos casos no singular trouxe, como consequência, também desuso do plural. (Cf. Budin, J. e Elia, S., 1963).

As mudanças continuaram, já que o vocativo acabou por identificar-se completamente com o nominativo. O genitivo passou a ser substituído pelo

ablativo com DE e, para tanto, o

ponto de partida está em certas construções clássicas. Assim, com valor partitivo, tanto se podia empregar o genitivo (pars militum), como o ablativo com de (pauci de nostris, Cés.). Para indicar matéria podia usar-se o genitivo (sebi ac picis glebas, pedaços de sebo e pez, Cés.) ou ablativo com preposição (templum de

marmore, Virg., Georg.). A expressão da referência, tal como se

encontra neste passo de Cícero: De triumpho autem nulla me

cupiditas tenuit, levava facilmente, como observou Bourciez, a um

grupo cupiditas de triumpho. Por todos esses motivos e mais o da tendência analítica, sucedeu que o torneio de + ablativo acabou por suplantar a designação do genitivo. (Budin, J. e Elia, S., 1963, p. 73-74).

As preposições, assim, foram absorvendo as significações próprias dos casos, e as desinências casuais se tornaram desnecessárias, não havendo mais motivo para continuar a distinção entre preposições que regiam o ablativo e preposições que regiam o acusativo (consulte As 40 preposições da Língua

Latina – item 1.4). O resultado dessas reduções foi que apenas dois casos

restaram no latim vulgar: o nominativo e o acusativo, ou seja, um caso reto e um caso oblíquo.

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Quadro 1 – Declinações no Latim Vulgar1

Sabe-se que a duplicidade de algumas formas se deve ao fato de que em certas partes da România, região em que se falavam as línguas de origem latina, o s final se conservava (Gallia e Hispania) e em outras caía (Itália e Dácia). Portanto, as formas com s final são as que passaram para a língua portuguesa.

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Vaananem (1971, p. 181-182) ressalta: “desde as origens, o acusativo usado com o significado de movimento e o ablativo usado com o significado de separação necessitavam do apoio de uma preposição, com exceção de algumas formas arcaicas (tradução livre)”2. Whelock (2005, p. 512) menciona que uma

preposição era empregada junto com o caso ablativo para indicar “acompanhamento”, “forma”, “lugar onde algo ocorre”, “lugar de onde a ação acontece”, “separação” ou, ainda, “seguindo numerais cardinais”. Calabrese (1995, p. 71-126) relata que levava ou não o uso da preposição associado ao ablativo o fato de esse caso desempenhar papel espacial, indicado pelo uso de uma preposição, ou cumprir um papel instrumental, indicado pela ausência da preposição. Portanto, diz-se que as preposições eram usadas para subordinar o complemento do verbo, com a função de reforçar as relações de regência nos casos acusativo e ablativo.

1.3 O Latim Vulgar

Segundo Budin, J. e Elia, S. (1963), chama-se latim vulgar a língua falada pela grande massa do povo romano, principalmente pelas classes médias e populares. É costume opor-se latim vulgar a latim clássico e a latim literário. Latim clássico é o latim literário do período clássico, ou seja, do período que compreende a maior parte do século I a.C. e se estende até a morte de Augusto (14 d.C.). É uma fração do latim literário, o qual se prolonga até o fim da época imperial, pelo menos (120 d.C.).

É nessa fase clássica que a língua latina adquire a sua feição literária definitiva, com a nítida consciência de que havia uma linguagem dos cultos e

2 Texto original: “desde los orígenes, usos tales como el acusativo de movimiento y el ablativo de separación necesitaban el apoyo de una preposición, a excepción de algunas formas supervivientes”.

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22

outra das classes populares. A primeira oposição que surge é entre a fala da capital (urbanitas) e a fala das populações campesinas (rusticitas), distinção feita por Quintiliano e Cícero. Os latinos usavam certas expressões para distinguir essas duas modalidades; para a fala culta era o sermo urbanus ou eruditus, para a fala popular o sermo vulgaris ou plebeius ou ainda rusticus.

As características da fala vulgar são encontradas na pronúncia, na gramática e no vocabulário, mas foi principalmente a maneira de pronunciar as palavras que chamou a atenção dos homens cultos da cidade. E os autores continuam: “a fala rústica parecia-lhes pesada e malsoante, em contraste com a

subtilitas, a suavitas, a lenitas vocis de que fala Cícero”. E, em que consistiria

esta rudeza dialetal? Em Storia della Lingua di Roma lemos:

não podia tratar-se de outra cousa senão do acento. Ao passo que, na idade ciceroniana, ainda vigorava plenamente o acento musical, nas campanhas romanas com certeza já apontava nítido o acento de intensidade que haveria de comandar as alterações fonéticas do latim em neolatim. (Devoto, 1940, p. 148).

Quanto ao sermo vulgaris, a morfologia apresentava poderosa tendência ao analitismo, caracterizando o sentido da evolução do latim vulgar para as línguas neolatinas; ou seja, a tendência para substituir formas dotadas de flexão por outras constituídas de elementos distintos, mas unificadas pela identidade de função. É o caso da substituição de um genitivo (liber Petri) por uma preposição (liber de Petro).

Vale lembrar que os substantivos, em latim, estavam reunidos em cinco grupos (cinco declinações), pois nem todos terminavam da mesma maneira. Assim, as declinações dividiam-se em cinco com singular e plural. Cada declinação apresentava um total de doze flexões, seis para o singular e seis para

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o plural. Para saber a que declinação pertencia uma palavra, bastava verificar a desinência do genitivo singular. Os dicionários traziam a palavra no nominativo, em seguida no genitivo, a palavra toda ou somente as letras da desinência. Veja, abaixo, o genitivo singular das cinco declinações.

Quadro 2 – Declinações no Latim

1.4 As 40 preposições da Língua Latina

A Gramática Latina Ragon (1961, p. 149), inicialmente, define preposição como “palavra invariável que se coloca antes do nome ou do pronome para exprimir algumas circunstâncias de tempo ou de lugar, de instrumento ou de modo, de causa ou de origem”. Depois, apresenta as preposições que regem o acusativo, o ablativo, e os dois casos (acusativo e ablativo) ao mesmo tempo. Na próxima página, conheça cada uma das preposições da Língua Latina.

(25)

24

(26)

25

Também se empregam como preposições, em latim, os dois ablativos

causa, em vista de; gratia, por amor de, e a palavra arcaica ergo, por causa de,

que se colocam depois do seu complemento (genitivo); coram, na presença de (ablativo); pridie, a véspera de, postridie, o dia seguinte. Ex.: Farei isto para ele,

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Tanto em latim como em português, há diversas palavras que se empregam ora como advérbios (sem regime), ora como preposições (com regime). Exemplos: post, após; ante, antes; propter, junto, junto de.

A preposição geralmente precede o seu complemento. Todavia, as preposições contra, inter, propter e mais algumas, acompanham às vezes, imediatamente, o pronome relativo. Ex.: Os que repartiram entre si os papéis, ii

quos inter divisae sunt partes. Aqui vale ressaltar que Said Ali (1971, p. 204)

resume o que Ferreira (1999, p. 607) e Sousa da Silveira (1951), em outras palavras, também já destacaram: DE “é a preposição empregada com mais frequência e para fins os mais diversos”.

Afirma Manoel Said Ali:

Algumas destas partículas continuam a usar-se em latim; outras tiveram novas aplicações além das antigas; em trás alterou-se completamente o sentido primitivo. Cada preposição teve originariamente um sentido delimitado; mas a associação de ideiais tornou possível o alargamento do domínio semântico de algumas a ponto de invadirem umas o domínio das outras e se confundirem por vezes as partículas na aplicação prática (1964, p. 203-204).

Ainda, conforme Manoel Said Ali (1964, p. 204), DE, Inicialmente, exprimia “afastamento de cima para baixo”, diferente de ab que significava “afastamento no sentido horizontal”. DE começou a confundir-se com ab e essa última desapareceu. Para expressar o “movimento de dentro para fora”, o latim usava a preposição ex. DE tornou-se equivalente a ex, e essa veio a desaparecer. Portanto, DE passou a exprimir sentido de “afastamento” e “procedência”.

Dessa maneira, DE acabou por eliminar as duas outras preposições que com ela competiam (ab, ex) e passou a assumir as três noções do latim representadas pelas preposições ab, ex e DE e mais a ideia de posse encontrada

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no seu sentido de base, que se exprime pela relação de subordinação de um substantivo a outro.

1.5 A Língua Portuguesa no Brasil

Segundo Budin, J. e Elia, S. (1963), a língua portuguesa pertence ao grupo das línguas românicas ou neolatinas, isto é, das línguas que são um prolongamento no tempo do latim vulgar. Foi esse o latim levado ao território ibérico e já em 197 a.C., século II a.C., a península foi convertida em província romana.

Os autores ainda destacam que Walther von Wartburg (1888-1971), romanista suiço, retornou à ideia de Diez3, atualizando-a: falamos da distinção

entre România Ocidental e România Oriental. À primeira pertencem a Ibéria (Português, Espanhol, Catalão) e a Gália (Francês, provençal); à segunda pertence a Dácia (Romeno). A Itália fica dividida entre as duas: o Norte vai com a România Ocidental e o restante com a România Oriental, linha divisória Spezzia-Rimini. O Sardo e rético incluem-se na România Oriental.

Sabe-se, com base na linguística românica, que a língua portuguesa vem do ramo ocidental da România, isto é, de uma zona onde o latim corrente era mais conservador ou, o que é outra maneira de dizer, mais culto. Foi essa forma do latim corrente que os romanos, penetrando pelas bacias do Ebro e do Guadalquivir, levaram para a península ibérica, onde passou a sofrer a influência dos substratos4 céltico, ibérico e ligúrico.

3 Diez, fundador da Linguística Românica, esteve sob influência direta da filosofia dos românticos. Com suas obras (principalmente a Gramática de 1836), Friedriech Christian Diez (1974-1876) confirmou que havia entre o latim e as principais línguas românicas uma relação semelhante à do indo-europeu com o método comparativo dos indoeuropeístas. Rodolfo Ilari, Linguística Românica, Editora Contexto, 1992.

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Vê-se que o latim que está na base das línguas românicas, o chamado latim vulgar, nada tinha de uniforme. Também não se pense em uma língua incorreta, usada apenas pelas camadas incultas da população, mas sim na língua falada, no latim cotidiano, usado sem intenção artística, em simples tom natural de conversa. Cícero, em suas cartas, chamou-o ora sermo plebeius ora sermo

vulgaris. (Cf. Budin, J. e Elia, S., 1963, p. 11).

Este latim “nada uniforme” influencia a língua dos primeiros moradores do Brasil e depois permeia a escrita. Segundo o professor Serafim Silva Neto (1950, p.88), quem divide a história da língua portuguesa em três fases, “a primeira vai de 1500 a 1654, com a expulsão definitiva dos holandeses; a segunda vai dessa data até 1808, com a chegada do Príncipe Regente e sua corte, e a última se estende de 1808 aos nossos dias”.

A primeira fase, para o professor Serafim Silva Neto, caracteriza-se pela predominância quantitativa do indígena e africano, pois os primeiros escravos negros aqui chegaram ainda no século XVI. A necessidade de comunicação entre senhores e escravos, que usavam de idiomas pátrios diferentes, levou à criação de um falar de emergência que tinha como base a língua portuguesa, desfigurada e simplificada na boca daqueles considerados incultos. Surgem em consequência os dialetos crioulos do Brasil, falares sem condições sociais de permanência, que iriam ser, progressivamente, eliminados com a inevitável elevação do estatus cultural da colônia.

Além da formação e generalização desses dialetos crioulos, principalmente nas zonas rurais de maior isolamento, outro caráter do primeiro período é a distância cultural entre a massa popular e as elites. No século XVI e na primeira

que passa a falar a língua do povo vencedor, imprimindo-lhe, porém, com o correr dos séculos, tendências da velha língua abandonada.

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metade do século XVII, tal separação era quase absoluta, pois enquanto a massa popular se via privada dos mais elementares bens da civilização intelectual, as elites das cidades procuravam imitar e ultrapassar os requintes da metrópole.

Na história do Brasil, consta que Olinda, no século XVI, e Bahia, no século XVII, foram núcleos de intensa europeização. Segundo o professor Serafim Silva Neto, um documento do século XVI conta que Olinda parece uma Lisboa pequena; e é notório que Antônio Vieira, aqui, chegado com seis anos de idade, tenha atingindo singular posição, demonstrando o nível do ensino dos jesuítas em nossa terra, já no segundo século da colonização.

A segunda fase passa por sensível diminuição da distância cultural entre as elites e as grandes massas rurais e urbanas, fenômeno traduzido na mestiçagem. Adensam-se às cidades do litoral e ganha incremento a penetração do interior. Com a descoberta do ouro em Minas em 1692, desencadeia-se a epopeia dos bandeirantes, que encontram nos rios Tietê e São Francisco as vias naturais de conquista da terra. E, nos fins do século XVIII, os grandes centros econômicos e culturais do Brasil chegam às montanhas das Minas Gerais.

Nessa ocasião, os jesuítas foram expulsos e perseguidos pelo Marquês de Pombal e os índios retornam às zonas mais retiradas do Oeste. Vai esmorecendo, portanto, o uso da língua geral, ou seja, um ramo do falar tupi que se difundira pela costa do Brasil. Assim, cresce a influência dos elementos brancos e negros da colônia, estes importados em proporção cada vez maior e a nossa educação, a educação brasileira, neste momento passa por modificações. A terceira fase inicia-se com a chegada do Princípe Regente. O acontecimento é fundamental, porque a vinda da família real acelerou o processo de urbanização das áreas litorâneas. O Rio de Janeiro, já então sede do

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vice-30

reinado, pois assim o exigira a necessidade de atender com maior presteza aos grandes centros de mineração, iria tornar-se a capital do mundo português. Da maior importância foi também o ato do Regente, ainda quando estava na cidade de Salvador, ao abrir os portos do Brasil às nações amigas, o que fez a conselho do sábio economista brasileiro Visconde de Cairu. Pode-se dizer que a imigração, no Brasil, começa com a regência do príncipe D. João; mas só com a extinção da escravatura pôde desenvolver-se completamente.

Assim, pouco a pouco, formava-se a nação brasileira composta por homens livres, filhos e netos de portugueses, mestiços resultantes dos mais variados cruzamentos, imigrantes de terras europeias e seus descendentes, vindos para o Brasil desde a época da descoberta do ouro e ampliando-se esta vinda após a Abolição da Escravatura e da Primeira e Segunda Guerra Mundial.

O Português Brasileiro firma-se após a República, pois o Partido Português deixou de ter prestígio no Brasil e progressivamente o Partido Brasileiro dominou a política brasileira, afastando-se dos movimentos gramaticais em Portugal, como, por exemplo, as reformas ortográficas e a NGB.

1.6 A preposição pela tradição gramatical

A palavra preposição tem origem latina (prae positio ou praepositione) e significa “posicionar à frente”. Em português, dado que todos os elementos que compõem esta classe de palavras são posicionados à frente de sintagmas preposicionais, este significado é adequado.

Sob o ponto de vista das gramáticas tradicionais brasileiras, não há divergência a respeito da definição e do papel da preposição. A maioria delas enfatiza a função relacional das preposições e sua propriedade de

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invariabilidade.

Para esta dissertação, selecionamos Said Ali, Rocha Lima, Mendes de Almeida e Bechara, gramáticos influentes, considerados tradicionais. Vejamos, para:

SAID ALI => Preposição é a palavra invariável que se antepõe a nome ou pronome para acrescentar-lhes uma noção de lugar, instrumento, meio, companhia, posse etc., subordinando ao mesmo tempo o dito nome ou pronome a outro termo da mesma oração. (1966, p. 101).

ROCHA LIMA => Preposições são palavras que subordinam

um termo da frase a outro – o que vale dizer que tornam o

segundo dependente do primeiro. (...) Os termos que precedem as preposições chamam-se antecedentes; os que as seguem chamam-se consequentes. Como se vê, a preposição mostra que entre o antecedente e o consequente há uma relação, de tal modo que o sentido do primeiro é explicado ou completado pelo segundo. (1999, p. 180).

MENDES DE ALMEIDA => A preposição liga palavras

(substantivo a substantivo, substantivo a adjetivo, substantivo a verbo, adjetivo a verbo etc.), ao passo que a conjunção liga

orações. (...) Preposição é uma palavra invariável que tem por função ligar o complemento à palavra completada. (...) Os termos ligados pela preposição denominam-se antecedente (o que vem antes da preposição) e consequente (o que vem depois). (2004, p. 334).

BECHARA => Chama-se preposição a uma unidade linguística

desprovida de independência – isto é, não aparece sozinha no

discurso, salvo por hipertaxe – e, em geral, átona, que se junta a substantivos, adjetivos, verbos e advérbios para marcar as relações gramaticais que elas desempenham no discurso, quer nos grupos unitários nominais, quer nas orações. (1999, p. 47).

As definições acima retratam posturas gramaticais diferentes, mas não opostas. Assim, Said Ali (1966), com uma visão diacrônica, trata a preposição como palavra invariável e privilegia aspectos semânticos; Rocha Lima (1999), com enfoque prescritivo, mostra-se específico ao determinar a função das preposições que é de subordinar um termo da frase a outro; e Mendes de

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Almeida (2004), também prescritivo, trata a preposição como palavra invariável, que liga palavras. Bechara (1999) deixa claro que as preposições não são palavras isoladas e, portanto, dependem de outras, mantendo relações no discurso, com aspectos semânticos, podendo relacionar orações.

1.6.1 Nova Gramática do Português Contemporâneo (Cunha e Lindley Cintra, 1985)

Na referida gramática, Cunha e Lindley Cintra tratam a preposição como lexia de relação ao defini-la como

palavras invariáveis que relacionam dois termos de uma oração, de tal modo que o sentido do primeiro (ANTECEDENTE) é explicado ou completado pelo segundo (CONSEQUENTE). (1985, p. 542).

Em seguida, os autores apresentam:

ANTECEDENTE Vou Chegaram Todos saíram Chorava Estive Concordo PREPOSIÇÃO a a DE DE com com CONSEQUENTE Roma tempo casa dor Pedro você

Após, passamos à forma das preposições que podem ser:

a) SIMPLES, quando expressas por um só vocábulo;

b) COMPOSTAS (ou LOCUÇÕES PREPOSITIVAS), quando constituídas de dois ou mais vocábulos, sendo o último deles uma PREPOSIÇÃO SIMPLES (geralmente de).

(Cunha e Lindley Cintra, 1985, p. 542).

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após, até, com, contra, DE, desde, em, entre, para, perante, por (per), sem, sob, sobre, trás. Em constraste com as preposições essenciais, temos as preposições

acidentais que normalmente pertencem a outras classes de palavras e, às vezes, funcionam como preposições: afora, conforme, consoante, durante, exceto, fora,

mediante, menos, não obstante, salvo, segundo, senão, tirante, visto etc.

Segundo os autores, as locuções prepositivas podem ser:

abaixo de apesar de embaixo de para baixo de acerca de a respeito de em cima de para cima de acima de atrás de em frente a para com a despeito de através de em frente de perto de adiante de de acordo com em lugar de por baixo de a fim de debaixo de em redor de por causa de além de de cima de em torno de por cima de antes de defronte de em vez de por detrás de ao lado de dentro de graças a por diante de ao redor de depois de junto a por entre a par de diante de junto de por trás de

(Cunha e Lindley Cintra, 1985, p. 543).

O tratamento dado, por esses autores, às preposições chega à significação, ou seja, a preposição passa a ser vista, também, como uma lexia de designação, ou seja,

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a relação que se estabelece entre palavras ligadas por intermédio de PREPOSIÇÃO pode implicar movimento ou não movimento; melhor dizendo: pode exprimir um movimento ou uma situação daí resultante. (Cunha e Lindley Cintra, 1985, p. 543).

Em “Vou a Roma” e “Todos saíram DE casa”, as preposições “a” e “DE” expressam no conjunto de palavras a ideia de movimento. Mas as mesmas preposições, em outro conjunto de palavras, podem não exprimir a ideia de movimento. Vejamos:

Chegaram a tempo. Chorava DE dor. Estive com Pedro. Concordo com você.

(Cunha e Lindley Cintra, 1985, p. 543).

Os referidos autores apresentam a preposição DE em referência ao espaço, ao tempo e à noção (o significado da preposição depende do contexto em que é empregada):

a) ESPACIAL em:

Todos saíram DE casa. b) TEMPORAL em:

Trabalha DE 8 às 8 todos os dias. c) NOCIONAL em:

Chorava DE dor. (expressa causa) Livro DE Pedro. (expressa posse)

(Cunha e Lindley Cintra, 1985, p. 544).

E salientam que nos três casos

a preposição DE relaciona palavras à base de uma ideia central: “movimento de afastamento de um limite”, “procedência”. Em outros casos, mais raros, predomina a noção, daí derivada, de “situação longe de”. Os matizes significativos que esta preposição pode adquirir em contextos diversos derivarão sempre desse conteúdo significativo fundamental e das suas possibilidades de aplicação aos campos espacial, temporal ou nocional, com a

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presença ou a ausência de movimento.

Na expressão de relações preposicionais com ideia de movimento considerado globalmente, importa levar em conta um ponto limite (A), em referência ao qual o movimento será de aproximação (B → A) ou de afastamento (A → C):

B → A → C

Vou a Roma. Venho DE Roma. Trabalharei até amanhã. Estou aqui desde ontem. Foi para o Norte. Saíram pela porta.

(Cunha e Lindley Cintra, 1985, p. 544).

Para Cunha e Lindley Cintra, as preposições apresentam grande variedade de usos, bastante diferenciados no discurso, sendo possível estabelecer para cada uma delas uma significação fundamental, marcada pela expressão de movimento ou de situação resultante (ausência de movimento) e aplicável aos campos espacial, temporal e nocional.

Tomando como base a obra de Bernard Pottier, Systématique des

éléments de relation. Etude de morphosyntaxe structurale romane, Cunha e

Lindley Cintra (1985, p. 545) propõem um esquema para a análise do sistema funcional das preposições em português, “sem que precisemos levar em conta os variados matizes que podem adquirir em decorrência do contexto em que vêm inseridas”:

Conteúdo Significativo Fundamental das preposições em português Movimento Situação

Espaço Tempo Noção Espaço Tempo Noção

Vejamos os exemplos oferecidos pelos autores: “Viajei com Pedro” e “Concordo com você”. O conteúdo significativo e a função relacional da

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preposição com nos exemplos citados levam-nos a observar que a preposição

tem como antecedente uma forma verbal (viajei e concordo), ligada por ela a um consequente, que, no primeiro caso, é um termo acessório (com Pedro = ADJUNTO ADVERBIAL) e, no segundo, um termo integrante (com você = OBJETO INDIRETO) da oração. Embora as preposições apresentem grande variedade de usos, bastante diferenciados no discurso, é possível estabelecer para cada uma delas uma significação fundamental, marcada pela expressão de movimento ou de situação resultante (ausência de movimento) e aplicável aos campos espacial, temporal e nocional. (Cunha e Lindley Cintra, 1985, p. 545).

De acordo com a gramática de padrão normativo, os autores ressaltam que se costuma desprezar o sentido da preposição considerando-a apenas por seu papel sintático e desprezando-se o conteúdo nocional. Mas, imediatamente, destacam:

cumpre, no entanto, salientar que as relações sintáticas que se fazem por intermédio de PREPOSIÇÃO OBRIGATÓRIA selecionam determinadas PREPOSIÇÕES exatamente por causa do seu significado básico. (Cunha e Lindley Cintra, 1985, p. 546).

E destacam, novamente, a ideia de Bernard Pottier (1962) que, segundo os próprios autores, tem combatido sistematicamente a ideia difundida pela gramática de padrão normativo:

já se pode dizer que há preposições que chegam a não ter significação (a propósito do de francês), o que não tem justificativa: se existe um morfema em uma língua, está ele condicionado e, portanto, desempenha um papel na estrutura da língua. (Cunha e Lindley Cintra, 1968, p. 145).

E resumem:

a maior ou menor intensidade significativa da PREPOSIÇÃO depende do tipo de RELAÇÃO SINTÁTICA por ela estabelecida. Essa RELAÇÃO, como esclarecemos a seguir, pode ser FIXA, NECESSÁRIA ou LIVRE. (Cunha e Lindley Cintra, 1985, p. 546).

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estabelecidas pelas preposições nas seguintes frases:

O rapaz entrou no café da Rua Luís DE Camões.

(Andrade, C. D. Cadeira de balanço; crônicas, p. 30). Necessariamente hão DE vencer eles.

(C. Castelo Branco, Obra seleta, I, p. 653);

Porém poesia não sai mais de mim senão de longe em longe. (M. de Andrade. Cartas de Mário de Andrade a Manuel

Bandeira, p. 214).

- Então, sigo em frente até dar com eles. (A. Ribeiro, Volfrâmio, p. 438).

verificamos que o uso associou de tal forma as PREPOSIÇÕES a determinadas palavras (ou grupo de palavras), que esses elementos não mais se desvinculam: passam a constituir um todo significativo, uma verdadeira palavra composta.

Nesses casos, a primitiva função relacional e o sentido mesmo da PREPOSIÇÃO se esvaziam profundamente, vindo a preponderar tanto na organização da frase como no valor significativo do conjunto léxico resultante da fixação da relação sintática preposicional.

Em dar com (= “topar”), por exemplo, a preposição, fixada à forma verbal, não lhe acrescenta apenas novos matizes conotativos, mas altera-lhe a própria denotação. (Cunha e Lindley Cintra, 1985, p. 547).

Antes de os autores seguirem para os valores da preposição DE, salientam as relações necessárias, ou seja, a relação sintática em si, minimizando o conteúdo significativo que a função relacional pode estabelecer entre tais palavras, em um determinado contexto, exemplificando:

lembro-me DE nada (verbo + objeto indireto)

vontade DE Deus (substantivo + complemento nominal) fui a Cambridge (verbo + adjunto adverbial necessário) feita por alfaiate (particípio + agente da passiva)

(Cunha e Lindley Cintra, 1985, p. 548).

No capítulo “Valores das Preposições”, os autores discorrem sobre várias preposições, mas com base no tema do nosso trabalho, daqui para frente, destacaremos apenas a preposição DE e “as múltiplas e matizadas noções que

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esta preposição pode assumir no discurso”, como já disse Sousa da Silveira (1951). Cunha e Lindley Cintra (1985, p. 554-555) definem (e exemplificam):

DE

Movimento = afastamento de um ponto, de um limite, procedência,

origem. As noções de causa, posse, etc., daí derivadas, podem prevalecer em razão do contexto:

a) no espaço:

Vinha DE longe o mar ...

Vinha DE longe, Dos confins Do medo ...

(M. Torga, Alguns poemas ibéricos, p. 65). O silêncio sobre Da terra magoada,

o silêncio vontade desce Do céu luminoso. (E. Moura, Itinerário poético, p. 25).

O Tonecas e o Neco tinham chegado Da Floresta, com as gaiolas de bordão, e explicavam algo, excitados.

(A. Santos, Kinaxixe e outras prosas, p. 17). b) no tempo:

Roma fala Do passado ao presente. (E. Moura, Itinerário poético, p. 25).

Como pudera desaparecer DE um momento para outro? (J. Montello, Labirinto de espelhos, p. 199).

O Comissário partiu DE manhã com um pequeno grupo. (Pepetela, Mayombe, p. 75).

c) na noção:

Mais do que a sombra Do teu vulto, vi o claro outrora Do teu riso largo ...

(A. Renault, A lápide sob a lua, p. XLVI).

Ela vem falar Da agricultura, isto é, Da atividade fundamental Do seu grupo, que nela assenta a defesa DE todos os seus valores, materiais e morais.

(A. Margarido, Estudos sobre literaturas das nações africanas

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1.7 A preposição para os linguistas

Bernard Pottier (1968) preocupou-se em dar à lexicologia e à lexicografia o estatus de disciplina linguística. Segundo o autor, a lexicologia tem por objeto de estudo a lexia, ou seja, uma unidade memorizada pelos falantes que tem por finalidade construir a informação, de forma a investir linguisticamente os conceitos que não têm natureza linguística.

O autor diferenciou dois tipos de lexia: designação e relação. A lexia de designação, como o próprio nome diz, designa seres e ações do mundo bio-físico-sócio-cultural. Como, por exemplo, substantivos, verbos e adjetivos.

A lexia de relação tem por objeto estabelecer uma relação entre um termo e o outro. A preposição DE é uma lexia de relação, segundo as definições dadas pelos gramáticos no item anterior. Por vezes, ela apresenta uma área semântica composta pelo conjunto de significados indicados por alguns gramáticos.

Em síntese, a apresentação diacrônica da preposição DE mostrou que a perda das desinências casuais, na Língua Latina, proporcionou o maior uso de preposições latinas. Em concomitância, os autores revistos, indicaram que a preposição DE passou a ser a mais utilizada e a ser tratadatanto como uma lexia de designação, relativa a espaço e tempo, quanto uma lexia de relação que gramaticalmente estabelece relações entre elementos oracionais.

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40

CAPÍTULO II

A preposição pelos gramáticos do Português Brasileiro: uma visão funcionalista

Este capítulo apresenta a preposição DE segundo gramáticos do Português Brasileiro, também designados gramáticos de usos. São eles: Maria Helena de Moura Neves (2000) e Ataliba T. de Castilho (2016).

Apesar de contemporâneas, há entre as duas gramáticas escolhidas,

Gramática de Usos do Português, de Maria Helena de Moura Neves (2000), e a Nova Gramática do Português Brasileiro, de Ataliba T. de Castilho (2016), uma

que se apresenta mais conservadora, a de Moura Neves (2000), e outra, mais inovadora, a de Castilho (2016). Esta prima por identificar “os processos criativos do português brasileiro que conduziram aos produtos listados”5.

2.1 Gramática de Usos do Português (Maria Helena de Moura Neves, 2000) Para Moura Neves (2000), a preposição DE figura na Parte IV da referida gramática, na seção “A junção”, sendo apresentada em dois grandes grupos: “A preposição DE funciona no sistema de transitividade, isto é, introduz complemento” e “A preposição DE funciona fora do sistema de transitividade, estabelecendo relações semânticas”.

Dessa forma, Moura Neves (2014) trata o sistema de transitividade ou propriedade de (in)transitividade com enfoque gramatical do verbo. Segundo a autora:

inerente ao funcionamento predicativo, por isso mesmo inerentemente ligada ao funcionamento verbal, constitui “um

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fenômeno complexo que envolve componentes sintáticos, semânticos e pragmáticos” que “pode ser definido em termos desses três principais traços” (Givón, 1993, p. 99). Acrescenta o autor que “cada um desses traços tem foco nas propriedades ou do sujeito, ou do objeto, ou do verbo da oração”, e, “tomados juntos”, os três definem o protótipo do semanticamente transitivo” 6. Assim definido, o protótipo da oração transitiva teria: 1. semanticamente, agentividade (um agente deliberadamente ativo), afetabilidade (um paciente concreto, visível) e perfectividade (evento limitado, terminado, fast-changing; que se dá em tempo real); 2. sintaticamente, um verbo com objeto direto (p. 39).

A autora aprecia a proposta de Hopper e Thompson (1980) sobre o modo como as orações transitivas se codificam sintagmaticamente (sintaxe), segundo as propriedades de um agente e de um participante afetado (semântica), e até de como a transitividade depende da função da oração no todo do discurso, por exemplo, em ligação com o fluxo de informação (pragmática).

A preposição DE funciona no sistema de transitividade, isto é, introduz complemento de verbo, quando o complemento se refere ao ponto de origem, ponto de partida, ponto inicial de referência, ponto de partida de uma experiência ou mudança (fonte), segundo Moura Neves (2000, p. 644-647). Alguns exemplos com verbos +dinâmicos que indicam:

a) afastamento

Convém que o senhor não se afaste DEsta cidade. (AM) Não costumo apear DO cavalo para ficar em pé. (SE) O povo apeou DO poder um monarca. (REB)

Se eu pudesse (...) arrancar tua imagem DO meu espírito. (AE) Nem acho que a gente deva se alienar DE um papel político na sociedade. (FAV)

Nitidamente [o livro] se alheia DE qualquer compromisso.

(MA-O)

Mãe mandou pedir ao senhor para arredar DA cabeça do pai a raiva com que ele está. (CAN)

Qual a lógica de escamotear DO público conhecimento de uma verdade que ninguém ignora? (AB)

6Texto original: “Transitivity is a complex phenomenon involving semantic, pragmatic and syntactic components.

One may define it first in terms of its three main semantic features. Each one of these features focuses on the semantic properties of either the subject, the object or the verb in the clause. Taken together, the three defined the prototype of the semantically transitive”.

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b) saída, partida

Saía eu DE uma beleza e entrava em outra. (CL)

A empresa não pode ausentar-se DE solução de tão importante problema. (PT)

c) separação, desligamento

Lula fez questão de desassociar o movimento DE um fato

político. (CB)

As dificuldades peculiares do ministério nas condições de nossa Diocese sejam-lhes [aos Padres] incentivo para se desapegarem sempre DAS coisas terrenas. (MA-O)

d) origem, proveniência

Tudo vem DE nossa experiência. (CF)

O fenômeno deriva (...) DE deficiência do sistema educacional.

(FM)

Decorre DO que se vem dizendo sobre Ruy, que ele contribui

(...) para a concreção de uma realidade brasileira. (FI) Às vezes eu filava o jantar DE algum amigo. (FE)

Comprei o Mimoso DE seu Neusico. (IC) Cobram entrada DOS que vão vê-la. (CCI)

e) liberação, depuração

Bastava a alegação de ignorância da lei para livrar DE

responsabilidade os que a violassem. (DB)

Há especialistas que pretendem depurar a sua prática científica

DO influxo de um compromisso com a realidade social. (RS)

Precisava desabafar-se DA leitura do último livro do político de Pará de Minas. (EM)

A tarefa do jornalista é filtrar a informação correta DO volume de propaganda que recebe. (VEJ)

f) privação de posse, desapropriação

Vieram tomar o menino DA senhora. (CBC)

Foi-se obrigado a recorrer a escravos, desapropriando-os DE

seus senhores. (H)

Não havia garimpeiros que escondiam pedras na boca (...) para as

furtar DOS sócios? (CAS)

Qualquer pessoa está sujeita a ser tratada como ladrão e

desapossada DO veículo que tem sob sua direção. (JT)

g) transformação

O homem fez DO mundo um vasto arsenal de artefatos. (SV)

Fiz DO punho torniquete e espremi o cativo. (CL)

h) proveito

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[Sto. Agostinho] soube se abeberar DA herança grega. (HF)

i) desejo

DO coronel só quero uma prenda. (CL)

j) triunfo

Triunfando DE grandes dificuldades, apertou minha mão. (A)

l) defesa, proteção

Nossa Senhora me defenda DE me encontrar com ele. (CAN)

m) ressarcimento

Ao cunhar a moeda, a autoridade se ressarcia DO custo de fabricação ou cunhagem. (NU)

Reabilitar aquela criatura, compensá-la DE longos sofrimentos devia ser o seu sonho. (BHM)

n) abatimento, redução

O governo poderia abater 50 milhões de dólares DE sua dívida pública. (VEJ)

Prevê a impossibilidade de deduzir DA receita tributável impostos

pagos fora do prazo. (FSP)

o) inferência

Não se pode inferir DA situação marginal desses grupos o caráter anônimo da magia. (MAG)

Lela Booher concluiu DE suas experiências ser provável que a vitamina G e o pigmento verde-fluorescente do leite fossem idênticos. (NFN)

Contudo [ele] deduziu essa doutrina exata, a unidade de Deus, DE

um fundamento falso, o monismo racionalista. (HF)

p) desistência, renúncia

Eu é que desisti De alguns clientes. (GTT) Chiquinho desistiu DE cultivar tristezas. (VER)

Sempre declinei DOS convites para fazer parte da Arena. (TA) Valia a pena criar raízes na terra, abdicar DO seu passado.

(BHM)

Ainda no sistema de transitividade, Moura Neves (2000, p. 647) ressalta a preposição DE com verbos -dinâmicos que indicam:

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a) necessidade, carência, escassez

O Brasil não necessita DE aval internacional. (JC)

Eles não precisam DE autoridades, mas sim DE cúmplices.

(CAS)

Os estudos genealógicos entre nós (...) carecem DE realismo e profundidade. (CGS)

b) distância espacial

A casa distava três quarteirões DA praia. (MP)

c) distância temporal

Creio que data DESSA época o desenho animado. (CF)

d) descrença

A gente não deve descrer DE tudo. (ART)

Aliás, não são poucos os que desacreditam DA viabilidade do

programa. (VEJ)

e) dependência

Tudo vai depender DA reação e DA estratégia das grandes potências e DOS principais países consumidores. (ESP)

Tratador de porcos também é bom, depende DE gostar. (TE) A emoção é um sentimento mais ou menos isolado, independe

DOS outros. (DI)

Se não, ai da gente que vive DISSO. (AB)

Parlamentares bem pagos e cheios de regalias, como se muitos ricos, vivem DE inventar mil razões para não irem ao plenário.

(ESP)

f) diferença, desigualdade, discrepância

É o próprio diálogo o elemento que difere o homem DOS animais irracionais. (JC)

De que serve um conselheiro que não deve discrepar DA opinião daqueles que o consultam? (DC)

A preposição DE aparece também no complemento que se refere a um ponto de chegada, ou ponto final de referência (uma meta) com verbos +dinâmicos que indicam aproximação:

Como o ponteiro abeirasse DAS onze, chamei os amigos para uma vadiagem de beira-rio. (CL)

E a disputa pela (...) presidência (...) avizinha-se também DE um

desfecho cercado de suspense. (VEJ)

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Sampaio aproximava-se DOS 35 anos. (BB)

Moura Neves, 2000, p. 648.

Caso o complemento se refira ao objeto da ação, a preposição DE aparecerá com verbos que indicam:

a) encargo

O homem se encarrega DE pequenos transportes. (FE)

Encarregamos uma firma DE demolir a casa velha. (LM)

b) trato, cuidado

Já cuidei DE uma quitanda no Rio do Braço. (TE)

Tratamos DAS consultas médicas. (CF)

c) abuso

Aproveitou-se DE uma linha de crédito especial para as minorias

e abriu seu próprio negócio. (VEJ) Eu abusava DO café. (MEC)

Lacerda abusava DA paciência do presidente. (OG)

d) apropriação

O rei deseja é apropriar-se DOS bens da nobreza. (BN) Sei que deseja apoderar-se DE metade do meu reino. (CEN) Árabes mouros foram se assenhoreando DA região. (CGS)

A viúva e os ajudantes se apossaram DO dinheiro. (FP) e) desconsideração

O primo ficou político comigo, por achar que desfez DA sua

coragem. (CL)

f) vingança, forra

Agora ela vingava-se DO marido e sentia prazer nisso. (AGO)

g) elocução  referência:

Mas DE casamento nem é bom falar. (CL)

Eu quero te contar DAS chuvas que apanhei. (RV)

 zombaria:

Pode zombar DE mim, DA poesia e DOS poetas. (BN) Sem vergonha está caçoando DE você. (RV)

Deus abandonou o mundo, escarnece DELE. (DM) Você vive debochando DA gente. (OPP)

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 vanglória:

Não sabes que os Teixeiras se vangloriam DISSO. (MA)

Ela firmava o axioma e jactava-se DO conhecimento que adquirira de si mesma. (PV)

[Ângelo] Riu e blasonou DAS ideias. (MAP)

(Moura Neves, 2000, p. 648-649).

O complemento pode se referir ao agente (agente da passiva) e a preposição DE apresentar sentido de “por”:

Morreria ali, onde era estimado DE todos. (VER) O intercâmbio é regado DE muita comida. (FSP)

(Moura Neves, 2000, p. 649).

Outros exemplos de complementos com a preposição DE, ainda no sistema de transitividade, são elencados por Moura Neves (2000, p. 649-652):

1.1.5 O complemento se refere ao meio ou ao instrumento da ação. São verbos +dinâmicos que indicam utilização, usufruto:

Vou-me servir DO vosso próprio exemplo. (COR-O) A moça resolveu usar DE uma esperteza. (GT)

Valemo-nos, aqui ainda, DA autoridade de Ralph Linton. (AE)

Às vezes ela se socorria DE um parente. (CBC)

Incerto no que deveria responder, valeu-se DE subterfúgios. (AM)

1.1.6 O complemento se refere à matéria. São verbos

-dinâmicos que indicam composição:

O Senado Nacional se compõe DE trinta Senadores da

República. (DB)

O bilhete compõe-se DE 20 vigésimos. (ZH)

A membrana plasmática constitui-se DE uma fina película que envolve o citoplasma de todas as células. (BC)

Um quadro não constava apenas DE uma superfície estranha.

(BHM)

1.1.7 O complemento se refere à causa do evento. São verbos que indicam sensação:

Marisa não se agradava DO realismo francês. (DM) Seu Marcelino padecia DAQUELE ataque. (MA) Manuel sofria DE amor. (Q)

Referências

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