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Vigilanti cura: uma educação cinematográfica nos colégios católicos de Pernambuco na década de 1950

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HAROLDO MORAES DE FIGUEIREDO

VIGILANTI CURA:

uma educação cinematográfica nos colégios católicos de Pernambuco na década de 1950

Recife 2012

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VIGILANTI CURA:

uma educação cinematográfica nos colégios católicos de Pernambuco na década de 1950

Tese de Doutorado aprese ntada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Ed ílso n Ferna ndes de Souza

Recife 2012

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PERNAMBUCO

VIGILANTI CURA: uma ed ucação ci nematográ fica nos colégios católicos de Pernamb uco na década de 1950

COMISSÃO EXAMINADORA

_________________________________________________ Prof. Dr. Edilson Ferna ndes de Souza

1º Exami nador/Presidente

_________________________________________________ Prof. Dr. Se verino Vicente da Silva

2º Exami nador

_________________________________________________ Prof. Dr. José L uis Simões

3º Exami nador

_________________________________________________ Prof. Dr. César Romero Amaral Vieira

4º Exami nador

_________________________________________________ Profª. Drª. Auxi liadora Maria Martins da Silva

5ª Exami nadora

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Ao me sentar em fre nte ao computador para escrever este texto de agradecimentos, pe nsei em como fa zê-lo , de ma neira que p udesse demonstrar minha gratidão pelas pessoas que co laboraram para a realização da pesquisa, mas, também, consegui ndo traduzir em alg umas pala vras um pouco da minha história acadêmica.

Nessa perspectiva , ao me aproxima r um pouco mais do campo da história e da sociologia pude compreender como estamos interligados uns aos o utros pelas mais diversas razões e ded uzir que não somos apenas sujeitos da história, mas, principalme nte, nós somos a própria história.

E essa identidade vai se ndo construída ao longo da nossa existência, pe las escolhas que fazemos, pelas oportunidades que decidimos agarrar, pelas pessoas que passam pela nossa vida e deixam um pouco delas dentro de nós; também pelas lições que aprendemos ao cair e le va ntar, pe lo conhecimento adq uirido com esforço e dedicação, pela superação dos nossos limites, pelo enfrenta mento dos obstáculos; pelos momentos de diálogo e de silêncio, pelas críticas ouvidas e as reflexões geradas a partir delas.

Todas essas questões se fizeram prese ntes em minha jornada acadêmica, iniciada no ano de 1998, qua ndo um amigo de i nfância (Hugo) estendeu sua mão para mim e me oportunizou vir para o Recife cursar o pré-vestibular que me alçaria para o curso de Licenciatura em Educação F ísica da UFPE. Chegando ao Recife, fui “adotado” pelos tios Petrônio e Socorro, os quais também co laboraram significativame nte para q ue ho je eu p udesse co nstruir mi nha vida acadêmica.

Reafirmo os agradecimentos também à UFPE, por todas as oportunidades que recebi, desde a grad uação, onde pude fazer mi nha iniciação no campo da pesquisa científica, da docência e da extensão , por meio dos projetos do Laboratório de Sociologia do Esporte, coordenados pelo prof. Dr. Edilson Fernandes de Souza. Mais do que mestre, se mostro u um amigo que sempre me e ncora jou, acredito u e forneceu as ferrame ntas para que eu pudesse construir mi nha auto nomia e autoconfia nça, o que culmino u em minha tra jetória pela pós-graduação em Educação da UFPE. Esta tese é mais um produto de todo o investimento feito ao longo de dez a nos de parcerias.

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(principalmente nas disciplinas de Pesquisa em Teo ria e História da Ed ucação), muito contrib uíra m para o amadurecimento do meu objeto de estudo: Márcio Eustáq uio, Tchê, Maria Hele na, Bruno Maro nes, Eduardo Malta , Edilson Laurenti no, Joanna Lessa, Marcos Nunes e outros.

Estendo o me u muito ob rigado a toda a equipe da secretaria do Programa de Pós-Graduação e m Ed ucação da UFPE, a qua l semp re se mostro u prestati va, orienta ndo-me sobre os trâmites acadêmicos em relação às bo lsas, participação em eventos, disciplinas, bancas e docume ntos, e ntre outras situações.

Agradeço infinitame nte aos meus pais por toda dedicação e esforço empregado para me dar as ferrame ntas necessárias ao meu ingresso na graduação em Educação Física, na UFPE. No decorrer de la pude desenvolver minha autonomia acadêmica, profissional e pessoal, sendo um processo importa nte para me alçar até a pós-graduação e chegar à conclusão de um curso de Doutorado em Educação. Sempre ouvi de vocês que a herança a ser deixada para mim e meus irmãos seria o conhecimento. Obrigado também aos meus irmãos Nynho e Halan pela força .

No decorrer dessa minha jornada de doutora ndo, precisei abrir mão de muitos momentos com a família em razão das necessidades que a pesquisa e a escrita da tese me colocaram. Todavia, há o utras situações em que conseguimos conciliar a participação junto à família com as obrigações acadêmicas. Nesse conte xto, o doutorado foi uma e xperiê ncia importa nte no aspecto acadêmico e especial no familiar, pois recebi um dos maiores e mais importantes títulos q ue um homem poderia merecer: ser Pai. Logo no primeiro, a no nasceu Gabriele e agora, no último ano, após a defesa, nascerá Cecília, as q uais juntame nte co m mi nha esposa, Marcela, formam o teso uro da mi nha vida. O amor inco ndicional de vocês me fortaleceu para que eu pudesse chegar até aqui!

Por fim, não poderia deixar de agradecer aos colégios que me receberam quando da busca das fo ntes: Nossa Senhora do Carmo, Salesia no Sagrado Coração, Damas Recife, São Luís e Histo rial Marista, Vera Cruz, Damas de Vitória de Santo Antão, Regina Coeli, Damas de Nazaré da Mata e Santa Maria. Da mesma maneira, estendo meus agradecimentos aos sujeitos da pesquisa, pela concessão

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domínio do C inema desprezaria uma das influências mais decisivas que recebe a juventude contemporânea (LOGGER, 1967, p. 25).

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A presente tese está vinculada ao Núcleo de Teoria e História do Programa de Pós-Graduação e m Educação da UFPE e estudou a ed ucação cinema tográfica em colégios católicos de Pernamb uco na década de 1950. A pesquisa parti u da aná lise das encíclicas papais Vigilanti Cura e Miranda Prorsus, escritas respecti vame nte pelos Papas Pio XI (1936) e Pio XII (1957), apresenta ndo críticas e orientações sobre cinema . Suas influências chegaram até o Brasil, po r i ntermédio de representantes da Organi zação Católica Internacional do Cinema (OCIC), incumbidos de criar uma cultura cine matográ fica mediante a realização de cursos e seminários. Esse movime nto contribuiu também para a criação de cinemas e cineclubes católicos pelo Brasil, inclusive Pernambuco, destacando-se o Cineclube Vigilanti Cura (1952). Seus integrantes foram os pioneiros no trabalho de educação cinematográfica em Perna mbuco, inicialme nte po r meio das exibições de filmes e realização de cine-fóruns, e, em seguida, ministrando cursos e palestras em alguns colégios católicos da capital pernambucana e interior. Nesse conte xto, a re le vância da pesquisa que reali zamos está tanto na ampliação de conhecimentos sobre as influê ncias do catolicismo na criação de uma cultura cinema tográfica no Brasil como, também, e pri ncipalme nte , no esforço de nos apro ximar da parte dessa história que trata de educação cinematográ fica. De modo geral, nosso objetivo foi ente nder como surgiu e se propago u um trabalho de ed ucação cinema tográfica em Pernamb uco na década de 1950. Como metodo logia, cole tamos e analisamos fo ntes orais (pessoas que vi venciaram atividades de educação cinematográ fica, principalme nte nos colégios católicos), impressas (jornais da época e livros didáticos) e iconográficas (filmes e xibidos). Dentre os resultados obtidos nas consultas às fontes, identificamos os seguintes colégios católicos conte mplados com atividades de educação cinematográfica: Regina Coeli, localizado no município de Limoeiro; Damas Nossa Senho ra das Graças, no município de Vitória de Santo Antão; Damas Santa Cristina, em Nazaré da Mata; Sa nta Maria em Timbaúba ; e no Recife, Nossa Senhora do Carmo, Salesiano Sagrado Coração, Damas, São Luís e Vera Cruz. Por fim, chegamos à co nclusão de que o trabalho de educação cinema tográfica foi iniciado no Recife, mas também foi levado para alguns colégios cató licos do interior, dos quais o único que o incorporo u à sua ro tina pedagógica foi o Regina Coeli.

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This thesis is connected to the Nucle us of Theory a nd History in the UFPE’s Post-Gradua te course in Ed ucation, ha vi ng studied education in cinema tography within Pernamb uco’s Catholic colleges duri ng the 1950s. The research commenced with a n analysis of the papal e ncyclicals letters Vigilanti Cura and Miranda Prorsus, written, respective ly, b y Popes Pio XI (1936) and Pio XII (1957). These letters presented criticisms and o rienta tions with regard to cinema . Their influe nce reached Brazil b y way of representati ves of the International Catholic Organization for Cinema a nd Audiovisua l (OC IC), in cha rge of creating a culture for the cinema thro ug h co urses and seminars. This mo veme nt also contributed to the creation of ci nemas and Catholic cinema clubs througho ut Bra zi l, including Pernambuco, bei ng highlig hted b y the Cineclube which had the name of Vigilanti Cura (1952). Its participants were pioneers in the work of cinema tographic education in Pernamb uco: initially in the exhibition of films and in the realiza tion of cine ma forums; and, following this, in the delivery o f co urses a nd lectures i n some of the Catholic colleges in the capital o f the State of Pernambuco, as well as in the countryside. In this context, the relevance of the investigation that we ha ve created is importa nt in the wa y it widens our knowledge of the influe nces of Catholicism i n the creation o f a cinematographic culture i n Bra zil. And moreover, i n its force in bringi ng us closer to this story which deals with ci nematographic education. Our general objective was to understand how an ed ucational ci nematog raphic work appeared a nd p ropagated itself in the Pernamb uco d uri ng the 1950s. In our methodolog y we collected a nd a nalyzed oral sources (people who lived thro ugh activities in cinematographic educatio n, mainly in Catholic colleges), printed material (newspapers and teaching material fro m that time) and iconographic material (films tha t had been exhibited). Amongst the results obtained by the consultation o f sources, we selected the followi ng Catholic colleges to be co ntemp lated for their cine matograp hic education: the Regina Coeli, found in the municipality of Limoeiro; Damas Nossa Senhora das Graças, i n the municipality of Vitória de Santo Antão; Damas Santa Cristina, in Na zare da Mata; and Santa Maria in Timbaúba. In Recife, we studied Nossa Senhora do Carmo, Salesiano Sagrado Coração, Damas, São Luis and Vera Cruz. Finally, we reached the conclusion tha t the work in ci nematograp hic education in the Pernambuco, have been initiated in Recife, had also been taken to some Catho lic colleges in the

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La presente tesis está vinculada al Núcleo de Teoría e Historia del Programa de Pos-Graduació n en Educación de la UFPE y estudió la educación cine matográfica en colegios católicos de Pernamb uco en la década de 1950. La investigación partió del aná lisis de las encíclicas papales Vigilanti Cura e Miranda Prorsus escritas respectivamente por los Papas Pío XI (1936) y Pío XII (1957), prese ntando críticas y orientaciones sob re cine. Sus i nflue ncias llegaro n hasta Brasil por medio de representantes de la Orga nización Católica Internaciona l de Cine (OC IC), incumbidos de crear una cultura cinematográfica mediante la reali zación de cursos y seminarios. Este movimie nto contribuye también a la creación de cines y ci neclubs católicos en Brasil, incluso en Pernambuco , destacando el Cineclub Vigilati Cura (1952). Sus i ntegra ntes fueron los pioneros e n el trabajo de educación cinematográfica en Pernamb uco, inicialme nte por medio de exhibiciones de películas y rea lización de cine fórums y a continuación impartiendo cursos y conferencias en algunos colegios católicos de Recife y provincia. En este contexto, la releva ncia de la investigación reali zada está tanto en la ampliación de conocimientos sobre la influe ncia del catolicismo en la creació n de una cultura cinematográfica en Brasil, como, sobre todo, en el esfuerzo de acercarse a la educación cinematográfica. Genera lmente el objeti vo fue entender como surgió y se propagó un trabajo de educación ci nematográ fica en Pernamb uco, en la década de 1950. Metodología: recolecta y análisis de fuentes orales (personas q ue protagoni zaron acti vidades de educación ci nematog ráfica, sobre todo e n colegios católicos), impresas (periódicos de la época y libros didácticos) e iconográficas (películas exhibidas). De entre los resultados obte nidos en las co nsultas a las fuentes, ide ntificamos los siguientes colegios católicos que imparten acti vidades de educación cinematográfica: Regina Coeli, ubicado en el municipio de Limoeiro; Damas Nossa Senhora das Graças, e n Vitòria de Santo Antão ; Damas Santa Cristina, e n Nazaré da Mata; Santa María e n Timbaúba; y e n Recife, Nossa Senhora do Carmo , Salesiano Sagrado Coração, Damas, São Luis y Vera Cruz. Finalme nte, se llegó a la conclusión de q ue el trabajo de educación cinematográfica en Pernambuco se i nició en Recife, pero también se llevó a algunos colegios católicos de la pro vincia, de los cuales el único que lo incorporó a su rutina pedagógica fue e l Regina Coeli.

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Figura 1 – Prospecto do filme “Monsieur Vincent – capelão das galeras” ... 63 Quadro 1 – Classificação Moral dos filmes ... 85

Figura 2 – Recorte do Jornal católico A Tribuna, de 5 de janeiro de 1952, na coluna “A que filmes assistirei esta semana?”, contendo a relação dos filmes e suas respecti vas cotações morais ... 89 Figura 3 – Cenas iniciais do filme “Ladrões de bicicleta” (1948): à

esquerda, o personagem Ricci se apresentando ao empregador e, à direita, saindo para o primeiro dia de trabalho com o filho Bruno e sua bicicleta ... 91 Figura 4 – O padre da aldeia de Ambricourt em um dos vários

momentos em que ele escre ve em seu diário ... 93 Figura 5 – Capa do filme “Juventude Tra nsviada” (à esquerda) e cena

de briga (à direita) entre os personagens Jim Starks e Buzz, líder da guang ue da escola ... 95 Figura 6 – Mapa de Pernambuco destacando a loca lização dos

municípios onde se encontram os colégios católicos pesquisados ... 101 Quadro 2 – Semana de cine ma do Recife: programação e palestras

... 107 Figura 7 – Livros utili zados pelos alunos do cineclube do Regina Coeli,

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ACB Ação Católica Brasileira

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CCC Central Católica de Cinema

CCVC Cine Clube Vigilanti C ura

CEC Círculo de Estudos Cinematográficos

CNBB Confederação Nacional dos Bispos do Brasil

DEIP Departamento Estadua l de Imprensa e Propaga nda de São Paulo

FAFIRE Faculdade Frassi netti do Recife

FUNDAJ Fundação Joaquim Nabuco

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Esta tística JEC Juventude Estudantil Católica

JUC Juventude Universitária Católica

LOC Liga Operária Católica

MISPE Museu da Imagem e do Som de Pernamb uco OCIC Office Catolique International Du Cinéma OME Orientação Moral dos Espetáculos

PUC Pontifícia Universidade Católica

SIC Serviço de Informações Cinematográ ficas SNOP Serviço Nacional de Opi nião Pública UFPE Uni versidade Federal de Pernamb uco UNICAMP Uni versidade de Campinas

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1 INTRODUÇÃO – A GARIMPAGEM DOS VESTÍGIOS DESSA

HISTÓRIA... 16

2 PERCORRENDO OS CENÁRIOS TEÓRICOS DA PESQUISA ... 27

2.1 DO ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO E DAS FONTES DE PESQUISA ... 35

3 EDUCAÇÃO CINEMATOGRÁFIC A CATÓLICA 44 3.1 A IDEIA DE EDUCAÇÃO CINEMATOGRÁF ICA À LUZ DO CATOL IC ISMO ... 45

3.2 O C INEMA E AS ATIVIDADES DA AÇÃO CATÓL ICA ... 54

4 CINECLUBISMO E APOSTOLADO CINEMATOGRÁFICO EM PERNAMBUCO ... 65

4.1 O CINECLUBE VIGILANTI CURA DO REC IFE ... 74

4.2 O CINEMA COMO “L IÇÃO DE COISAS”: UMA EDUCAÇÃO A PARTIR DOS FIL MES ... 88

5 EDUCAÇÃO CINEMATOGRÁFICA EM ALGUNS COLÉGIOS CATÓLICOS DO RECIFE E DO INTERIOR DE PERNAMBUCO NA DÉCADA DE 1950 ... 100

5.1 COLÉGIO REGINA COEL I, LIMOEIRO – PE ... 103

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 118

REFERÊNCIAS ... 125

APÊNDICE A – Transcrição da 1ª entrevista ... 133

APÊNDICE B – Transcrição da 2º e ntre vista ... 146

APÊNDICE C – Transcrição da 3º e ntre vista ... 153

APÊNDICE D – Transcrição da 4º e ntre vista ... 159

ANEXO A – Carta Encíclica Vigilanti C ura (1936) ... 166

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A presente tese buscou respo nder a seguinte questão: O trabalho de educação cinematográfica realizado em alguns colégios católicos de Pernambuco na década de 1950 teria seguido à risca as orientações presentes nas encíclicas Vigilanti Cura e Miranda Prorsus? E, com essa questão, situa-se no Núcleo de Teoria e História do Programa de Pós-Grad uação em Educação da Uni versidade Federal de Pernambuco. Nesse conte xto, construímos a hipótese de que houve um trabalho direcionado para a educação cinema tográfica, pautada nas orientações da igreja católica, a qual foi desenvo lvida também de ntro dos colégios católicos do Recife e i nterior de Pernamb uco, no referido período.

O trabalho que se segue foi gerado a partir dos desdobramentos da nossa dissertação de mestrado (FIGUEIREDO, 2008), na qua l discutimos as relações existe ntes e ntre as esferas da ed ucação, do catolicismo e dos di vertimentos q ue, po r sua vez, co ntribuíram pa ra a criação de uma ed ucação para o la zer baseada nos princípios da moral católica. Dentre os espaços de la zer existe ntes em Vicência, destacavam-se os segui ntes: Os ca mpos de várzea para a prática do futebol, as festividades de rua do calendário católico e civil, o bordel da Rua da Telha, o mercado municipal, que funcionava como clube, e, por fim, o ci nema da cidade.

Como forma de dar continuidade às pesquisas no campo da história da educação, mante ndo como cenário principal o interior de Pernambuco, partimos da referida dissertação e pinçamos um dos elementos que não fora investigado minuciosamente naquele momento, a saber: o ci nema. A princípio, estabelece r conexões entre cinema e educação dentro do município de Vicência se mostrava uma tarefa nada simples.

Nesse contexto, percebemos que um dos maiores esforços de um trabalho científico está na construção e co nstituição do objeto de pesquisa, pois este não está dado. Do mesmo modo, esse processo de dar vida ao objeto de estudo não é algo insta ntâneo. Ele é refle xo das várias idas e vi ndas aos campos teórico e emp írico, na tentati va de nos apro ximarmos cada vez mais de ce nários, perso nage ns, fatos e relações que possam nos mostrar as evidê ncias necessárias à reconstrução de uma história. Em algumas situações, as contrib uições de pesquisadores mais experientes podem ajudar a clarear as ideias.

Foi o que nos acontece u quando sub metemos nosso projeto de pesquisa às análises de outros colegas, na disciplina de Pesquisa III. Um deles sugeri u a leitura de duas encíclicas papais que tratava m especificamente de questões relacionadas ao

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unive rso cinematográfico, escritas por Pio XI e Pio XII. Após as devidas a nálises desses documentos (disponíveis no site do Vaticano, em portug uês) (IGREJA CATÓL ICA, 1936, 1957), nos demos conta da proporção do nosso tema de pesq uisa, ao descobrirmos intervenções da Ação Católica Internacio nal sobre o ci nema.

Investigamos també m o ce nário nacional e co mo essas i nfluências chegaram até o Brasil, contribuindo para a criação de movime ntos e órgãos ca tólicos com o papel de fiscalizar, ce nsurar, orientar e promover ati vidades ligadas ao mundo do cinema. Nesse processo, fo ram criados órgãos como o Serviço de Orientações Cinematográficas da CNBB, mo vimentos como o Aposto lado Cinematográ fico e alguns cineclubes cató licos, como o Cineclube Vigilanti Cura, no Recife .

A partir do trabalho pioneiro dos integra ntes do Cineclube Vigilanti Cura , um conjunto de atividades relacionadas aos estudos cinematográ ficos foi desenvolvid o como, por e xemplo, os ci ne-fóruns e as projeções de fi lmes selecionados com base na cotação moral, publicada pela igreja católica em alguns jornais impressos da capital pernamb ucana. As ati vidades, em muitas situações promovidas pelo laicato católico, fa ziam parte de um traba lho de educação cinematográfica e tinham a finalidade de orientar as pessoas para o que a igreja considerava como sendo bom e mau no cinema.

De modo geral, o objetivo da pesquisa foi entender como se inici ou e se propagou o trabalho de educação cinematográfica em Pernamb uco. Por sua vez, ele se desdobrou em três ob jeti vos específicos, a saber:

a) ana lisar a ideia de educação cinematográfica prese nte em alg umas encíclicas papais sobre cinema;

b) analisar as atividades do Cineclube Vigilanti Cura, destinadas a uma educação cinematográfica em Recife;

c) explicar que tipo de relações educacionais foram construídas entre os integra ntes do Cineclube Vigilanti Cura e alguns colégios católicos do Recife e interior de Pernambuco.

Numa primeira va rred ura em busca de artigos científicos na i nte rne t, deparamos com um te xto sobre história do cinema nacional, de Malusá (2008), dando um pano rama desses mo vimentos e m to rno do cinema. Esse artigo não só nos dei xo u um pouco mais pró ximos do nosso ob jeto de estudo, como també m apontou outras fontes a pa rtir da bibliografia utilizada pela a utora.

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Desse ponto em diante, começamos a garimpar essas referê ncias nos chamados sebos virtuais1, ou seja, sites na internet onde os sebos de várias partes do Brasil estão cadastrados para comerciali zarem se us acervos. Por esse caminho, conseg uimos adquirir uma das fontes mais importantes para localiza r melhor nossa temática dentro de Pernambuco . Foi o livro de Araújo (1997), no qua l mediante recortes de jornais a ntigos, ela reconstrói uma parte daquela história, bem co mo apresenta muitas informações sobre um dos espaços que estudamos, a saber: o Cineclube Vigilanti Cura. Araújo (1997), por sua ve z, apo ntou outro tipo de fonte, ou seja, os jornais da época como o Diário de Pernamb uco, o Jornal do Commércio e o semanário católico A Trib una.

Mas as nossas i nvestidas no campo emp írico não se resumiram aos sebos. Trata mos também de delinea r alg uns locais específicos para a coleta de dados, como, por exemplo: o arquivo docume ntal da Cúria Metropo litana do Recife , localizado no bairro da Várzea; o Arquivo Público Estadual, situado no bairro de Santo Antô nio; e o Centro de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), q ue se encontra no bairro de Apipucos.

O primeiro acervo a ser visitado foi o da Cúria. É um espaço simples, com as estantes o nde se locali zam documentos, li vros, jornais e revistas. Há uma pessoa responsável pela recepção dos pesquisadores, entretanto ela se mostra limitada no que diz respeito às orientações para localização de muitas obras e seus conteúdos. O acervo não está organizado de forma sistemática, o que lentifica o levantame nto das fontes para a pesquisa. Para dar início às nossas investidas, tomamos a decisão de selecionar as fontes considerando como re ferê ncia a década de 1950.

Conseguimos e ncontrar alguns bole tins informativos da CNBB, da década de 1960, nos quais havia uma sessão chamada de Serviço Naciona l de Opinião Pública (SNOP), encarregada d e comunicar, criticar e orienta r seus leitores q uanto às questões referentes à área de comunicação em gera l, entre e las o Cinema. Por meio desses boletins, percebemos que a Igreja Católica no Brasil daquela época criara vários órgãos encarregados de monitorar, comunicar e intervir no cená rio da comunicação naciona l. Temos como e xemplos a Central Católica de Cinema (CCC) e o Serviço de Informação Cinematográ fica (SIC ). Além disso, percebemos que muitos eventos promovidos por esses órgãos (como cursos e pales tras), ocorriam em

1

Adquiri alguns livros para minha pesquisa nos seguintes sebos virtuais: http://www.estantevirtual.com.br; http://www.trac a.com.br; e http://br.gojaba.com.

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instituições católicas de ensino, a exemplo da Faculdade Salesiana de Filosofia de Lorena-SP. Os registros foram feitos com a utilização de câmera fotográfica digital.

Após as análises desse material, se ntimos a necessidade de vasculhar o Banco de Teses da CAPES, em busca de pesquisas que já tivessem sido realizadas dentro da temá tica de nosso interesse, o que nos levo u rapidamente às bibliotecas virtuais de algumas universidades federais, bem como de a lg umas PUCs (Pontifícia Uni versidade Católica). Em seus acervos virtuais, encontramos alguns trabalhos q ue poderiam nos a uxiliar na pesquisa, porém nem todos estavam disponíveis no formato digital para download na íntegra, principalmente aque les defe ndidos num período anterior ao a no 2000.

Nesse contexto, co nseguimos baixar por comp leto apenas d uas dissertações de mestrado, sendo uma da UNICAMP, prod uzida por Malusá (2007), e outra da PUC-SP, por Santos (2009).

A primeira de Malusá (2007) trata da fo rmação de uma cultura ci nematográ fica como um dos propósitos da Igre ja Católica na capital paulista , fato que se deu por meio da criação de uma escola superior de cinema apoiada na estrutura do Colégio Católico São Luís; a segunda, por sua vez, discute desde uma educação do espírito por meio da imagem, perpassa pelo Apostolado Brasileiro do Cinema até chegar ao contexto baiano, onde locali za alg umas atividades da Igreja no meio cinematográ fico, nos co légios católicos de Sa lvador.

Santos (2009), em especial no cap ítulo 4 q ua ndo, fa la dos colégios, foi de grande importâ ncia para a delimitação dos espaços de intervenção católicos em relação ao cinema. Como nosso campo de pesquisa está situado no âmbito da História da Educação, direcionar a investigação para os colégios católicos existentes em Pernamb uco na década de 1950 ajudou no rastreamento das atividades do grupo que integrava o Cineclube Vigilanti Cura.

Nessa perspecti va, os trabalhos do Vigilanti estavam ancorados e m dois pontos principais: educar para o cine ma, i nvesti ndo assim na formação de uma cultura cinema tográfica; e educar pelo cinema, orientando e modelando comportame ntos dentro da moral cristã. E esse mo vimento se deu da capital pernambuca na em direção ao i nterior do Estado, por meio dos co légios católicos.

Dando continuidade à coleta dos dados, seguimos em direção ao Arquivo Público Estad ual, na busca pelos jornais do período estudado, se lecionados a partir de Araújo (1997). Naquele local só é permitido acesso a dois jornais por solicitação,

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mediante preenchimento de protocolo, i ndicando o nome do jorna l, o ano e o mês de publicação.

Começamos pelo semanário A Tribuna , de 1952, por ser um impresso de nature za católica, no qual o Vigilanti Cura tinha um espaço reservado para a publicação de artigos, divulgação de cursos e encontros, bem como anunciava sua programação com a de vida cotação moral dos filmes (adultos e infantis). Além disso, informa va a respeito das ações da Liga Operária Católica (L OC) em Pernamb uco, como, por e xemplo, o seu Serviço de Cinema.

Pesquisando esse jornal descobrimos, por exemplo, a locali zação e dinâmica de funcionamento do Vigilanti Cura, a existência do primeiro cineclube católico do interior de Pernambuco, na cidade de Catende, locali zada na região da Mata Sul, chamado Mens Sana , com perfi l de atuação seme lha nte ao se u a ntecessor, do Recife. Nos exemplares a nalisados, não percebemos q ualque r dado que p udesse relacionar o refe rido cineclube recifense aos colégios católicos da cidade e mesmo do interior do Estado. Entretanto, selecio namos alg uns deles a partir das pistas encontradas nas dissertações de mestrado adquiridas, bem como no livro de Araújo (1997).

No que diz respeito ao Recife, elencamos os seguintes colégios católicos: Nossa Senhora do Carmo , Marista São Luís, Damas e Vera Cruz. Em relação ao interior de Pernambuco, optamos pelos colégios: Regina Coeli, e m Limoeiro, e Damas, no município de Vitória de Sa nto Antão .

Começamos pelo Colégio Nossa Senhora do Carmo, seguindo uma pista encontrada em Araújo (1997). Chegando lá, fomos recebidos gentilme nte pela coordenadora pedagógica, que tratou logo de saber do q ue tra tava a pesquisa e como a Igreja e a escola seriam estudadas. Após as devidas explicações, a coordenadora anotou as informações e encaminhou a solicitação até a madre superiora, compromete ndo-se em dar uma resposta de ntro de dois dias.

De fato, dentro do prazo combinado fomos co ntatados, porém nos informaram que não se ria possível realizar a pesquisa em razão de o colégio não possuir acervo histórico dentro do período estudado. Nesse caso, é possível que o tema da pesquisa tenha passado alg uma i nsegurança, no se ntido da exposição da instituição num trabalho acadêmico.

Seguindo as coordenadas traçadas para a pesquisa empírica, nos dirigimos ao Colégio Salesiano Sagrado Coração, onde fomos bem recebidos pela supervisora da

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instituição e orientados a nos dirigirmos até o arqui vo histórico. Os docume ntos institucionais estão em processo de catalogação e arquiva me nto, sendo agrupados por tipo de docume nto (fotos, cadernetas escolares, convites, folders etc.).

Até o presente mo mento, pudemos ma nusear ape nas as pastas referentes aos Documentos Especiais – programas e convites (COLÉGIO SALESIANO SAGRADO CORAÇÃO, 1960a, 1960b). Neles encontramos várias ati vidades culturais , como celebrações e festi vidades religiosas, apresentações de grupos de canto e teatro, inclusive e ve ntos esporti vos internos representados pelos jogos entre os times formados pe los alunos em regime de internato .

No caso de atividades cinematográficas dentro do colégio, não ha víamos localizado, a princípio, nenhuma e vidência quando, nos últimos documentos da última pasta, encontramos dois convites do mês de maio de 1960 (COLÉGIO SALESIANO SAGRADO CORAÇÃO, 1960a, 1960b) com a prog ramação da Festa dos Maiores a Nossa Senhora. Nas duas situações, percebemos que, entre os últimos itens das programações, co nstava uma ati vidade envolvendo uma pro jeção de fi lme com o prová ve l título de A Santa Missa, dividido em duas partes. Na verdade, podemos considerar esse dado como uma pista a ser investigada, na intenção de chegarmos até evidências mais detalhadas acerca do nosso tema de pesquisa.

Nesse conte xto, é importante esta rmos ate ntos não apenas ao espaço da pesquisa (nesse caso, arq ui vos institucio nais) e seu acervo documental, mas també m às pessoas que trabalham e/ou tra nsitam nele, pois nunca se sabe qua ndo uma nova pista ou mesmo e vidência mais consistente pode se apresentar mediante uma conversa, por exemplo.

Tal situação ocorre u co nosco quando e xp licamos a ideia da pesquisa e falamos sobre o utras fontes que procurávamos, e ntre elas as orais. Após uma conversa com a pessoa responsáve l pelo arqui vamento dos documentos históricos do Colégio Salesiano, fomos orientados por ela a b uscar mais informações no Museu da Imagem e do Som de Pernamb uco (MISPE), que está temporariame nte insta lado numa sala da raia norte , primeiro andar, na Casa da Cultura, localizada no bairro de Santo Antônio, Recife-PE.

Seguimos até o MISPE, mas, de acordo com seus responsá veis, não ha via registros sobre a história do cinema no Recife na década de 1950, pois o acervo do

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museu possui registros históricos a partir dos anos de 1970, quando foi criado2. Entre tanto, conseguimos o telefo ne do pro fessor Jomard Muniz de Brito , um dos integra ntes do Cineclube Vigilanti Cura, o qual poderia preenche r alg umas lacunas de informações deixadas pelas fontes impressas.

Entra mos em conta to com ele e recebemos uma resposta positi va no sentido de uma colaboração por meio dos registros orais de suas memórias sobre o referido cineclube. Ficamos de agendar um encontro para a coleta do seu depoimento, mas, antes disso, Jomard nos pediu que conve rsássemos com Marilda Vasconcelos e Lauro de Oli veira (e x-integrantes do Vigilanti Cura, que já militavam nele antes de Jomard fazer parte). Naquele momento, ele nos forneceu o tele fo ne do casal, para que pudéssemos entrar em contato.

Após uma breve conversa com Seu Lauro , exp licando sobre a pesquisa, conseg uimos agendar um enco ntro na residência do casal, em Boa Viagem. Antes de iniciarmos a coleta dos depoimentos deles, discorremos mais detalhadamente sobre a pesquisa e o tipo de informações que procurávamos acerca do referido cineclube. Em seguida, configuramos o gravador digital para a qualidade média de captação de som, tomando o cuidado para que a gravação não ficasse com baixo volume, de vido à amplitude da sala onde co nversamos. Dona Mari lda permitiu a gra vação, desde q ue não fosse feito qualquer registro fotográfico de les.

Tendo o casal presente na sala ao mesmo tempo, as conversas seguiram a seguinte ordem: primeirame nte, com Dona Ma rilda, que ve rbali zou uma série de lembra nças sobre as a tividades da eq uipe do Vigilanti Cura, principalme nte no conta to com as escolas católicas do Recife e do interior de Pernambuco; em seguida, ela se retirou do espaço e pediu que o esposo, Lauro, desse co nti nuidade. Este , por sua ve z, lembro u também de pa lestras, projeções e ci ne-fó runs realizados em colégios como Vera Cruz e Damas (Recife), bem como no Regina Coeli (Limoeiro-PE).

Seu Lauro relatou ainda que nem todos os colégios despertavam i nteresse por atividades ligadas ao cinema, com exceção de algumas instituições em que as madres responsá veis ti vessem boa relação com as artes3. Nesses casos, o trabalho era realizado sem muita dificuldade. Mas esse desinteresse pelo trabalho do referido cineclube, na intenção de oportuni zar uma educação cinema tográfica, parecia não

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Informação fornecida pelo coordenador do MISPE Geraldo Pinho.

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Entrevista c onc edida ao dout orando Haroldo Moraes de Figueiredo no dia 19 de fevereiro de 2011, na res idência dos entrevistados, bairro de Boa Viagem, Recife-PE.

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leva r em consideração as orientações do Vaticano contidas nas encíclicas papais. Do mesmo modo, ocorrera com a Arquidiocese de Olinda e Recife, pois, ela não proibia essas atividades, mas também não dava o apoio necessário segundo seu Lauro4. Mais uma co ntradição que foi explorada com mais deta lhes no decorrer deste trabalho.

Finalizada essa tarefa, continua mos a pesquisa empírica com a utilização dos recursos disponíveis na internet, como, por exemplo , sites de relacionamento. Nelas é possível enco ntrar páginas de pessoas ou comunidades por meio de uma b usca simples. Seguimos essa trilha virtual até encontrar as comunidades dos colégios católicos que pretendemos visitar para coleta r dados. Cadastramo-nos nelas, e assim tivemos acesso aos fóruns do tipo “q uem estudou no Santa Cristi na na década de 1950?” (COLÉGIO SANTA CRISTINA, 2011). Dessa forma, p udemos chegar até as páginas das pessoas dentro desse perfil, com as quais entra mos em co ntato e agendamos um encontro , no qual rea lizamos no vas coletas de fo ntes o rais.

Uma das buscas realizadas nos le vou até a comunidade do Colégio Regina Coeli, Limoeiro-PE. A partir daí, conseguimos localizar pessoas q ue de forma direta ou indireta contribuíram no leva ntame nto de informações importa ntes. Eentre esses dados estava a locali zação de alguns atores sociais que estudaram naq uele estabelecimento educaciona l na década de 1950, inclusive sujeitos que atuaram na direção do cineclube local.

Além disso, conseg uimos chegar até o referido colégio e nos reunirmos com a coordenação pedagógica e a direção, para esclarecer o propósito da nossa pesq uisa e solicitar autorização para acessar se us arq uivos. Apesar de não termos conseg uido a permissão, dura nte as conversas descobrimos que o colégio passa por um processo de armazenamento dos objetos que remetem à sua história, para a fundação de um muse u. Numa das conve rsas com a coordenadora pedagógica, conseg uimos adquirir um livro (MAIA, 1999) que narra muitos fatos da história daquele colégio e seus personagens, escrito por uma ex-aluna que também chegou a trabalhar como pro fessora, a senhora Ge ny Teixeira Maia.

Nessas primeiras visitas, foi possível localizar as residências de alguns dos sujeitos q ue colaboraram na medida em que traziam à tona as suas memórias sobre aquele passado. Descobrimos, por e xe mplo, q ue o grupo de estudos

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Entrevista c oncedida ao doutorando Haroldo Moraes de Figueiredo no dia 19 de fevereiro de 2011, na res idência dos entrevistados, bairro de Boa Viagem, Recife-PE.

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cinematográficos começou a funcionar antes mesmo das visitas dos membros do apostolado do cinema, q ue eram do Recife . E esse fato nos inq uietou, fa ze ndo-nos questionar até que ponto a Igreja Católica, representada por suas dioceses e paróquias, se fa zia presente nessa missão dedicada à educação cinematográfica. Algumas respostas para essa e outras questões foram encontradas no decorre r dos encontros com o utras fontes, as quais revelaram mais deta lhes sobre essa história.

A Tese está estruturada em 6 capítulos: no primeiro cap ítulo intitulado Introdução – A garimpagem dos vestígios dessa história , apresentamos o problema de pesquisa, os objetivos e a conte xtualização de alguns fatos que nos guiaram na busca das fontes. Alem disso, re latamos o percurso que fi zemos be m como os personage ns, a rquivos e documentos enco ntrados nesse processo de pesquisa.

No segundo capítulo, Percorrendo os Cenários Teóricos da Pesquisa, as ideias discutidas giram em torno da área de educação, considera ndo sua abrangê ncia social para alé m dos limites do espaço esco lar formal e, p rincipalmente, sua atuação moldada de acordo com os interesses de grupos sociais, a exemplo da Igreja Católica. Uma das finalidades colocadas pela Santa Sé era formar indivíd uos cristãos, capazes de lidar com situações mundanas consideradas perigosas aos olhos dela, a exemp lo do cinema . Nesse caso específico, as ações realizadas assumiram um formato chamado de educação cine matográfica e que seria responsá vel ta nto por uma formação no aspecto técnico do cinema como també m das questões mo ral, cultural, psicológico, social e ed ucaciona l.

No terceiro capítulo, Educação Cinematográfica Católica, traçamos um percurso q ue atra vessa a histó ria do cinema, desde a sua criação pelos irmãos Lumière, perpassando pela sua chegada ao Brasil e como se desenvo lveu ao lo ngo da década de 1950. Na sequência, tra tamos de discorrer sobre as intervenções da Ig reja Católica no universo cinematográfico, sob a alegação de cuidar da formação cristã da sociedade a partir dos seus princípios morais e éticos. Muitas orientações nesse sentido foram concentradas em d uas encíclicas papais conhecidas como Vigilanti Cura e Miranda Prorsus, dentre elas a missão da Igreja no que diz respeito a uma educação cine matográfica, pautada na decência e nos bo ns costumes. Algumas evidências apontaram para o desenvo lvimento de ações dessa natureza , representadas atra vés de cineclubes, movimentos de apostolado, prod ução de livros

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e artigos de jornais, bem como estudos cine matográficos incorporados a atividades escolares.

O quarto capítulo, Cineclubismo e Apostolado Cinematográfico em Pernambuco, ficou destinado às aná lises das relações existentes e ntre o Cineclube Vigilanti Cura do Recife e os colégios católicos da capital pernamb ucana , bem como o grau de envo lvimento das instâncias da Igre ja nessa dinâmica social. Além disso, buscamos e ntende r a estrutura e organização dos grupos cató licos que milita vam à favo r do chamado bom cinema, bem como as limitações e co ntradições que fizera m parte desse processo de interve nção social. Apesar das ações terem se dado e m colégios católicos (possivelme nte por uma q uestão de melhor aproximação), alg uns simpatizavam com aquele traba lho, e nqua nto que outros não da vam muita ate nção.

No quinto capítulo, Educação Cinematográfica nos Colégios Católicos do Recife e do Interior de Pernambuco na Década de 1950, buscamos analisar co mo essa dinâmica em torno de uma educação cinematográfica se expa ndiu para o interior de Pernambuco e também conseguiu encontrar terreno férti l para o desenvolvimento do trabalho, em alguns colégios católicos. Esse movime nto se deu principalme nte através dos grupos de Apostolado do Cinema, q ue partiam do Recife com o fito de promover palestras, grupos de estudos, cineclubes e cine-fóruns, dentre outras ações. Assim como na capital pernambucana , poucas instituições escolares católicas incorporaram as atividades cinematog ráficas aos seus currículos, de modo a trabalhá -las e nquanto conteúdo ob rigatório ou comple mentar.

No quinto se xto capítulo, Considerações finais, fize mos o fechamento das nossas observações e críticas, porém deixa ndo claro que as discussões sobre o tema trabalhado ao longo da tese não se esgotaram. Sinali zamos a possibilidade de dar prosseguime nto às pesquisas dentro dessa te mática, principalmente na década de 1960, ta nto no Brasil como em Pernambuco.

E por fim as Referências e Apêndices, que apresentam o co njunto das fontes utili zadas na co nstrução da tese (livros, jornais impressos, prospecto, filmes, e-book, teses e dissertações, depoimentos etc.). Elas tratam de assuntos re lacionados a cinema, cineclubismo e ed ucação cinematográfica católicos.

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Neste primeiro cap ítulo, o objeti vo é apresentar o traçado metodológico adotado para a realização da pesquisa e produção da tese, tomando como ponto de apoio uma corrente da área de História, chamada Nova Histó ria, a qual discute a importância da ampliação e diversificação das fontes de pesquisa e as relações que o pesquisador deve buscar e ntre e las, no intuito de se ap roxima r cada ve z mais do passado investigado. No mesmo caminho, apresentamos, ainda, o arcabouço teórico tomado como suporte para o direcionamento desta pesquisa, a partir de algumas ideias do sociólogo alemão Norbert Elias, principalmente relacionadas ao controle das emoções.

Dando continuidade às pesquisas no campo da história da educação, mantivemos como ce nário de nosso interesse o interior de Pernambuco (além de considerarmos também fatos e questões que partira m do contexto recifense), tomando como ponto de partida a referida dissertação. O objeto de estudo pinçado para aprofundarmos nossas a nálises foi, a princípio, o cinema. Nessa perspectiva, a ideia pensada para o desenvolvime nto desta tese foi estabelecer cone xões entre educação católica e cinema, considerando uma arq uitetura de contro les da Igreja Católica no inte rior dessa relação.

No período que correspo nde à década de 1950, era efervesce nte no Brasil a dinâmica em torno das questões sobre ci nema , e nvolvendo tanto a dime nsão técnica como a artística. Muitos fo ram os ci neclubes fundados na intenção de tornar mais acessível a chamada cultura cinematográ fica nos grandes ce ntros urba nos, como , por exemp lo, São Paulo, Belo Hori zonte , Salvador e Recife.

A forma como essa cultura cinematográfica se desenvolvia era motivo de preocupação por parte da Igreja Cató lica, por entender que determinados conte údos fílmicos poderiam desencaminhar as pessoas do caminho do bem e da decência a partir da incorporação de códigos de comportamento muitas vezes contrários aos princípios morais do catolicismo. A Igreja e nte nde u que a forma de combater o q ue ela classificava como mau ci nema se ria agindo de de ntro para fora (ou se ja, se apropriando da linguagem daque le universo) e, assim, tratou de criar espaços destinados a estudar a chamada sétima a rte.

No final da década de 1950, foram criados, na cidade de São Paulo, o Cineclube do Ce ntro Dom Vital e a Escola Superior de Cinema São Luiz (esta

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fundada a partir da estrutura física do colégio de mesmo nome), co nforme Malusá (2007), na capital mi neira, na mesma época, funciona va o Cineclube Belo Horizonte (antes chamado Cineclube da Ação Católica) e, na década seguinte, segundo Malusá (2008) surge também na capital mineira uma escola superior de cinema; no caso de Salvador, fi zeram parte das ações educacionais destinadas ao cinema alguns colégios confessionais, como: Antônio Vieira, Marista São Francisco, Salesiano do Salvador e das Sacramenti nas (SANTOS, 2009); o Recife também se destacava naquela conjuntura nacional, sendo representado pelo Cineclube Vigilanti Cura e suas atividades (ARAÚJO, 1997).

A educação cinematográfica traz à discussão três facetas de uma mesma problemática. Numa primeira direção, deparamos com os filmes projetados nas te las de cinema, em imagens luminosas, despertando se ntime ntos e enca ntando multidões mundo afora. Essa mesma luz ora re velava registros da realidade (ou a vida como ela é), ora apresentava reco nstruções do nosso mundo impregnadas de fantasias (ou aquilo que chamamos de ficção), desejos e se ntime ntos. Os conte údos e xibidos conquista vam a admiração de algumas pessoas e o rep údio de outras.

Na segunda direção, temos os espectadores envolvidos pelo enredo dos filmes e atentos aos desdobramentos das ações de cada personagem. Com seus olha res fixados na tela, transportavam-se para o utras realidades, o u se ja, uni versos fictícios que permitiam a eles se despre nderem (mesmo que por a lguns minutos) do mundo real e, assim, experimentar emoções, muitas ve zes proibidas em sociedade.

A terceira face ta era representada pela dimensão da ed ucação, eleme nto responsável pela tra nsmissão cultural de uma sociedade, tribo e/ou grupo social. Apresenta caráter polimorfo, e, nesse caso, suas práticas/i nterve nções não se restringe m ao âmbito escolar, pode ndo se manifestar no espaço familiar, na igreja, embaixo de uma árvore , em espaços de lazer e tc.

E esse modo de vida tra nsmitido via educação represe nta não apenas o aprendizado dos códigos de comunicação (língua), das tecno logias e das histórias de um po vo , mas também é responsável pela reprodução de códigos sociais de conduta (ética). Os modos de ser e de viver de um i ndivíduo ou grupo podem ser construídos sob influê ncia direta do meio social, mediante o uso de processos educacionais q ue irão auxiliar na inte rnali zação de normas e códigos de comportamento .

Qua ndo tratamos de uma educação cinematográfica, nos referimos aos códigos de controle, os quais por meio da educação são internali zados pelos

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indivíd uos, resulta ndo em comportame ntos mais aceitáveis (a utocontrole) em meio ao grupo do qua l fa z parte . Nesta tese, tratamos especificamente de um universo (o cinema), que com sua luz (os co nteúdos fílmicos), desestabili zava o comportame nto dos indivíduos sobre o mundo e estaria ate ntando co ntra a mora l cristã e os bons costumes – no ente ndimento da Igreja Católica.

Entre tanto, a própria Igreja, que a princípio repudiava as exibições dos filmes por considerá-los inadequados, em seguida entende que era preciso se apropriar da ling uagem cinema tográfica e suas técnicas como forma de restabelecer a ordem moral na sociedade. Ela emergiu no se ntido de intervir sobre o ci nema, com base em seus princípios é ticos e morais. E um dos caminhos utilizados foi mediante de uma educação cinematográfica, processo que le varia à formação de espectadores conscientes dos perigos do chamado mau cinema.

Mais adiante, os esforços se dariam pela realização de cursos e seminários, bem como a criação de cineclubes católicos, que e xibissem aquelas películas consideradas dignas de serem assistidas pelos cristãos. Paralelamente, tentavam se articular com outras instituições que pudessem se enga jar naquela missão , como , por exemp lo, as escolas.

Qua ndo se fala em ci nema, podemos deparar com um unive rso repleto de representações e significados construídos no imaginário social. De fato, o mundo nunca mais foi o mesmo depois que os irmãos Lumière inventaram, em 1895, na cidade de Paris, o chamado Cinematógrafo. A notícia sobre tal feito logo se alastro u, contagiando as pessoas com os encantos e desenca ntos da sétima arte, que nascera em tons de ci nza, mas q ue, no decorrer da evo lução das técnicas cinematográ ficas, possibilitou a inse rção de som e cores.

Apesar de o cinema ocupar um lugar de e ntretenime nto/di versão/la zer no campo das representações sociais, pode també m ser usado co m fi nalidades de controle social a partir da se leção dos conte údos a serem exibidos. Como exemplo, podemos citar as ações da Igreja Católica no sentido de orientar, avaliar e a té censurar muitas películas, visando restabelecer a decê ncia, que, seg undo ela, foi corro ída pelo q ue o Vaticano chamava de “abusos das representações cinematográficas” (IGREJA CATÓL ICA, 1936, p. 1). Mesmo que houvesse filmes qualificados dentro dos seus padrões de decência, o processo de produção precisa va ser entendido e controlado em vários aspectos (técnico, social, psíq uico, educacional, etc.).

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Entre tanto, o Vaticano por si só não daria co nta de manter sob controle as produções, pro jeções, comercializações e, principalmente, os efeitos dos conte údos cinematográficos sobre os pe nsame ntos, sentime ntos, desejos e ações das pessoas. Permitir que qualq uer filme p udesse ser exibido sem q ualque r orie ntação afrouxaria as amarras i nte rnas dos indi víd uos responsáveis por reg ula r se us imp ulsos, le vando-os à redução do autocontro le q ue assegura va suas condutas, ma ntendo-as a justadas às normas de co nvívio em sociedade.

Nessa perspectiva, a missão de promover uma educação cinematográfica exigia o recrutame nto de todas as instâncias e representantes do orbe católico, principalme nte bispos, padres e leigos ligados aos movimentos da Ig reja. A própria encíclica Vigilanti Cura já e xpunha esse dese jo do Papa Pio XI em relação à “[...] adesão pronta e dedicada dos fiéis [...]” (IGREJA CATÓL ICA, 1936, p. 3) e declarava que o atendime nto a esse chamado seria maior na medida em que os bispos do mundo i nteiro se esforçassem nessa vig ília pastoral sobre o cinema .

O poder envolvido nessa arquitetura do controle sobre os indivíd uos que transitava m naq uele meio cinematográfico, fosse na condição de prod uto res ou de expectadores, na prá tica não esta va cristalizado nas mãos do Vaticano. Muito pelo contrário, ele circula va por todas as instâ ncias e grupos ligados ao trabalho de educação cinematográfica, emanando maior força, principalmente nas mãos dos padres e leigos católicos, por terem sido eles os personagens que atua vam na li nha de fre nte das ações ed ucacionais de interve nção.

A faceta que nos interessa discutir não propõe liberdade às ações humanas, no contato com diferentes culturas e troca de experiências, na medida em que o indivíd uo se aproxima de outras referê ncias de comporta mento social, de modos de sentir, pe nsar e agir; tratamos aq ui de uma ed ucação cinema tográfica de caráte r restriti vo, reg ulado por um ethos católico, que se materializa por meio das ações de interve nção na realidade social, realizadas por pastorais e grupos católicos (re ligiosos e leigos), em q ue um dos focos está no universo cinematográfico.

No caso desta pesquisa, tomamos como objeto de estudo a re lação e ntre educação, cinema e Igreja Católica, dentro da qual trabalhamos com a hipótese de que as interve nções rea lizadas nesse meio tenham gerado uma espécie de educação pelo cinema, que se projeto u do Cineclube Vigilanti Cura para o interior dos colégios católicos em Pernamb uco, sobretudo apoiadas nas orientações do Vaticano contidas em duas e ncíclicas papais.

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A primeira, chamada Vigilanti Cura, escrita em 1936 pelo Papa Pio XI, foi uma resposta dada em apoio aos milita ntes da Legião da Decência, os quais realiza va m intervenções no meio cinematográfico nos Estados Unidos desde 1932, orientando, fiscaliza ndo e reprimindo atividades ligadas ao cinema.

O refe rido documento papal também teve a fina lidade de orientar as pessoas quanto aos perigos dos conte údos cinematográficos, que, em sua opinião, se desviaram do caminho da decência . Convocava as pessoas para manter uma vigilância co nsta nte sobre o que a Ig reja Católica considera va ser mau ci nema5, bem como zelar pela mora l cristã (IGREJA CATÓL ICA, 1936). De acordo com esse docume nto, “[...] a arte e ind ústria do cinema chegara, por assim dizer, ‘em grandes passos fora do caminho’, ao ponto de mostrar a todos, em imagens luminosas, os vícios, crimes e delitos” (IGREJA CATÓLICA, 1936, p. 3).

Por outro lado , admitia também ser de suma importâ ncia que o cinema pudesse servir à finalidade do que chamou de aperfeiçoame nto do ser huma no. Ente nda-se, nesse caso, como sendo um processo de formação humana imb uída dos princípios da própria mora l cristã “[...] para que o cinema se torne cada vez mais um elemento precioso de instrução e de educação, e não de destruição e de ruína para as almas” (IGREJA CATÓLICA, 1936, p . 2, grifo nosso ).

O Vaticano reconhecia a necessidade do lazer, desde que sadio e dentro dos princípios morais. Por fim, trata dos meios de vigilância e censura no q ue di z respeito à produção e veiculação dos filmes, além de fazer um apelo aos diretores, autores e atores católicos, para q ue limitem sua participação àquelas p roduções consideradas respeitáveis.

A segunda encíclica, Miranda Prorsus, escrita em 1957 pelo Papa Pio XII (IGREJA CATÓL ICA, 1957), abra nge três esfe ras da comunicação: o rádio, a tele visão e a cinematografia. Possui d uas partes, aprese ntando um cará ter mais técnico em relação à encíclica anterior: a primeira é geral e trata de questões refere ntes à difusão aceitável na do utrina cristã , os limites de sua liberdade, as atribuições dos poderes públicos e dos grupos profissionais, bem co mo os cuidados

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A ideia de mau cinema pregada pela Legião da Decência (e que em s eguida foi adotada pela Sé Romana e difundida através das referidas enc íclicas ) faz ia referência a algumas produç ões que s e dis tanciavam do modelo de decoro da Igreja Católica, rompendo com os princ ípios que regem o comport amento cris tão considerado correto e, principalmente, ferindo s uas normas de conduta. Filmes que exibissem, por exemplo, relaç ões amorosas ex traconjugais eram considerados apologia ao adultério, logo, uma má influência que deveria ser extirpada da s étima arte (esta considerada como dom divino pres enteado ao ser humano).

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com a educação das massas, co nsiderando sua missão pastoral; e a segunda é especial, sendo que os po ntos q ue fa lam sobre cine ma envolvem os equipame ntos, a classificação moral dos filmes e sua distrib uição, os críticos e empresários, os espaços de exibição, além de atores, diretores e produtores (IGREJA CATÓL ICA, 1957).

Nesse segundo docume nto, o Vaticano reco nhece a importância dos progressos técnicos no campo das comunicações como meios de melhorar as condições de vida das pessoas (IGREJA CATÓL ICA, 1957). Da mesma forma, entende que as técnicas de difusão apresentam gra nde poder de influência nos modos de pensar e agir de indivíduos e grupos. Entretanto , é possíve l perceber q ue esse contro le sobre técnicas de produção e conte údos está re lacionado també m à transmissão dos valores cristãos, de um ethos católico que não poderia ser posto em risco pelas fa ntasias e refe rências que muitos filmes exibiam (amores proibidos, divórcio, rebe ldia, e ntre outros temas).

Ente ndem as técnicas em si mesmas como se ndo do ns preciosos de Deus , mas que o Ser Huma no, dotado de liberdade, estaria ab usando delas na difusão dos males q ue ferem a moral e os va lores espirituais. Daí o interesse em controlar esses conhecimentos, para que fosse possíve l utili zá-los na “santificação das almas” (IGREJA CATÓLICA, 1936, p. 5).

Na ve rdade, ao conseg uir o controle sobre o cine ma a Igreja teria em mãos uma oportunidade de fortalecer se us domínios, inseri ndo sua ideologia em todo o processo que envo lve as produções fílmicas, desde a (re)construção dos roteiros a té a exibição dos conteúdos nas salas de cinema, cineclubes e escolas, entre outros locais.

Também demonstra va preocupação em relação ao g rau de envolvimento dos indivíd uos com os filmes considerados sem pudor o u q ue ferissem aos princípios da moral e dos bons costumes. Essa aproximação poderia afrouxa r os mecanismos internos de autocontro le6, estimula ndo as pessoas a se deixarem le var por impulsos como a paixão, o ódio e a rebeldia. Por fim, essa dinâmica poderia gerar um distanciamento desses i ndivíduos do controle da Igre ja Católica.

Para combater os perigos do chamado mau ci nema, bispos católicos dos Estados Unidos criaram, na década de 1930, a chamada National Legion of Decency.

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A Legião da Decência (como ficou conhecido esse movimento) funciona va co mo uma espécie de agente de censura, que, seg uindo as instruções formais da hierarq uia católica, “[...] não de veria adotar nenhum outro critério de julgamento além dos da moral e da decência. Os bispos america nos estavam co nvencidos de q ue o acréscimo de eleme ntos artísticos, técnicos ou filosóficos só serviriam para desorie ntar o público” (GOMES, 1981, p. 167).

De fato, as primeiras ações desses legionários (religiosos e leigos) se deram em torno de uma fiscalização sobre as películas produzidas e a exibição dos seus conteúdos. E esses esforços lhe renderam, inclusive, elogios por parte do Vaticano, na figura do Papa Pio XI, por meio da carta-encíclica Vigilanti Cura (IGREJA CATÓL ICA, 1936). Congratula os membros da Legião da Decência, destacando a relevância dos seus serviços pastorais no cumprimento da missão de conduzir o cinema para que contribua no aperfeiçoamento do Ser Huma no (IGREJA CATÓLICA, 1936).

Mas a ação católica pelo mundo atuava também em outras fre ntes de combate, a exemplo da Organi zação Católica Internacional do Cinema (OC IC), entidade responsável por combi nar esforços no sentido de re unir os católicos atua ntes no mundo cinematográfico (ASOC IACIÓN CATÓL ICA MUNDIAL PARA LA COMUNICACIÓN, 2012). Essa ação co njunta permitiu uma maior extensão nas suas intervenções: fiscalizadora , no q ue co ncerne um exame mais pró ximo das produções; reguladora, na qual podemos e nquad rar a classificação moral dos filmes e, em alguns casos, colaborando com a censura; e formadora , pois intencio nava também a formação da opinião p ública, de ed ucadores e profissionais do cinema, com base e m seus pri ncípios éticos e morais.

Nesse conte xto, uma das missões da OCIC chegou ao Brasil por vo lta de 1952 e logo iniciou sua jornada de criar uma cultura cine matográfica q ue pudesse tocar a consciências das pessoas e livrá-las dos vícios e blasfêmias que, seg undo a Igreja , estavam presentes em muitos filmes classificados como impróprios. Dentre as suas tarefas, destaca vam-se a realização de cursos e seminários, bem como a estimulação para criação de cineclubes nas i nstituições ligadas à Igreja (MALUSÁ, 2008).

Levando em consideração o contexto cultura l cinema tográfico brasileiro na década de 1950 e especificamente o cenário recifense, optamos por a nalisar as relações entre a parte do referido cenário sob influência da Igreja Católica e sua interface com a educação.

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Buscamos ente nder se a partir dessas relações e da criação de um cineclube católico no Recife ho uve um desdobrame nto na direção de uma ed ucação cinematográfica, que orienta va as pessoas para que pudessem realizar boas escolhas (do ponto de vista de um ethos católico). E é seguindo por essa trilha que pretendemos esclarecer a lgumas q uestões pertence ntes ao conte xto apresentado.

2.1 DO ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO E DAS FONTES DE PESQUISA

O caminho que o pesquisador constrói para se aproximar do passado é composto pelos vestígios encontrados ao longo de sua jornada investigativa. Colocamos a ideia de construção do caminho no se ntido de que as peças q ue compõem o quebra-cabeça do tempo não estão dadas, o u se ja, elas são re unidas mediante o esforço que o pesquisador imprime em sua busca. Podemos considerar seu trabalho como sendo um processo de garimpagem das fontes.

Mesmo qua ndo o pesq uisador tem clareza do seu objeto de estudo, isso não significa dizer q ue a busca das fontes se dará de forma tra nquila e simples. Em muitos casos, qua ndo está na fase inicial da sua jornada investigati va vai desenha ndo seu percurso co m o auxílio de pistas, que podem ser sua única bússola dura nte algum tempo, até co nseguir chegar, fina lmente, aos primeiros documentos relacionados ao seu tema de pesq uisa.

Entre tanto, o fato de enco ntrar uma pista nem sempre é garantia de acesso direto aos docume ntos. Muitas ve zes, uma informação nos co nduz até um determinado espaço ou pessoa, que por sua ve z apontam outros trechos do caminho, faze ndo-nos, fi nalmente, localizar um arq uivo, um documento ou mesmo um personagem vi vo do passado estudado. Como exemp lo dessa situação, podemos citar os contatos que estabelecemos com os guardiões dos arquivos, que podem indicar outros espaços para i nvestigar ou pessoas para e ntre vista r.

Mas, qua ndo fa lamos em fo ntes histó ricas ou, mais precisame nte, em docume ntos históricos, a q ue esta mos nos referindo? Nesse caso, é fundame ntal mencionar a revolução pro vocada no campo da História, desencadeada, sobretudo, pela Escola dos Anna les fundada por L ucien Febvre e Marc Bloch, em 1929, a qual se convenciono u chamar de Nova História.

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De acordo com Burke (2011), a Nova História represe nta um movimento de reação contra o paradigma tradicional. Este, por sua vez, limitava seu campo de atuação ao aspecto político, bem como se us historiadores co nsideravam a história como essencialme nte uma na rrati va dos acontecimentos. Mas essas não eram as únicas características desse paradigma, pois também co nsiderava que a história deveria ser co ntada a partir dos gra ndes feitos e pe rsonagens (reis, políticos, generais e eclesiásticos, por e xemplo), sendo, para isso, co ntada a partir dos chamados docume ntos oficiais (produzidas pelo go verno e guardadas em a rqui vos), apresentando ape nas os fatos ocorridos.

A partir da Escola dos Annales, no século XX, tecendo suas críticas aos conceitos e métodos de pesquisa da história tradicional, as noções de fonte e docume nto p uderam ser ampliadas, direcionando a busca dos pesquisadores por todo o tipo de produções humanas e, dessa maneira, contribuindo pa ra a revelação de outras histórias: do cotidiano, da se xualidade, do silê ncio, das mulheres, do la zer, da educação e do cinema, entre outras (KARNAL; TATCH apud PINSKY; DE LUCA, 2011).

Essas influê ncias chegaram ao Brasil por vo lta da década de 1980, gerando uma série de mudanças qua ntitativas e qualitati vas no modo como se desenvolviam as pesquisas, sobretudo incentivando a realização de investigações que tra tassem de temas antes co nsiderados como sendo de pouca importância no interior da história da educação (LOPES; GALVÃO, 2001). Como exemplo, podemos citar o tema ge rador da pesquisa que se materializou nesta tese: educação cinema tográfica em alguns colégios católicos de Pernamb uco.

Mas as mudanças fo ram além da simples proposição de novas temáticas de pesquisa, ou seja, ta mbém pro vocaram ino vações nos processos de se leção dos objetos (educação cinematográfica católica, por exe mplo) e na fo rma de abordá-los (história o ral e análise fílmica, e ntre o utros que podemos citar).

Outro aspecto considerado releva nte trata da reali zação de estudos mais localizados, preocupados em lançar mão de o utras fontes e dados q ue colaborem com o desvelamento de outras histó rias até então desco nhecidas. Nessa perspectiva , podemos tomar como exemplo a importância da descentrali zação das pesquisas que, muitas ve zes, se realizam no coração dos grandes centros urbanos e que, nem sempre, visuali zam o u busca m conexões com fatos e eventos ocorridos nas cidades do interior do seu Estado.

Referências

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