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A arte/educação na perspectiva da educação popular de Paulo Freire

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Academic year: 2021

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JAQUELINE DOS SANTOS TREVISAN

A ARTE/EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO POPULAR DE PAULO FREIRE

Ijuí 2008

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JAQUELINE DOS SANTOS TREVISAN

A ARTE/EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO POPULAR DE PAULO FREIRE

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação nas Ciências – Mestrado, Departamento de Pedagogia (DePe) da Universidade Regional do Noroeste do Estado Rio Grande do Sul – UNIJUI, requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação nas Ciências.

Orientadora: Profª Dra. Cláudia Luiza Caimi

Ijuí 2008

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Dedico esta dissertação à todos os profissionais educadores que buscam uma vida mais digna, justa e igualitária para todos, e que acreditam que a Arte pode fazer diferença. Ainda, dedico-a especialmente à minha família, cujo apoio me fortaleceu e me fez crer que era possível.

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AGRADECIMENTOS

Escrever dói. E esta escrita doeu para muitas pessoas, quase como um parto. No entanto, a dor passou, o “filho” nasceu e o alívio é imenso. A todos que sentiram dor comigo, quero dedicar esta dissertação:

Marcelo, a você, meu esposo. Obrigada.

Helena, minha filha. Você nasceu durante o processo, e trouxe felicidade e a certeza de que, pelo seu futuro, eu precisava concluir.

Pai e mãe, o que seria de mim sem vocês? Mãe, obrigada pelas palavras e atitudes de incentivo e carinho constantes. Pai, além destas, obrigada pelo apoio técnico, por revisar o português e se dispor a ler. Ah, e por eu existir!

Bea, minha irmãzinha, valeu! O que seria do meu bolso não fosse sua contribuição imensa na revisão normativa? Obrigada! Inclusive por me importunar com frases do tipo “minha dissertação está aqui, e a sua?”.

Scheila, minha irmã intelectual: sua leitura no início do processo foi um pontapé bem grande para eu deslanchar. Valeu mesmo por todo o incentivo! E puxões de orelhas.

Nessa, minha irmã prática: perguntar nunca ofende, é o ditado. E você nunca cansou de perguntar se eu estava escrevendo, quando e se ficaria pronto. Obrigada por apoiar e incentivar!

Cunhados Nick, Gilnei e Claus, obrigada por se importarem.

Aos cunhados Jacque e Giovani, à sogra Maristela, obrigada por cuidar da Helena quando precisei estudar. Valeu!

Comadre Débora: você já está entendendo tudo de Paulo Freire, pois leu várias vezes e me disse outras tantas: “isto aqui você já falou, risca”. E eu risquei sem olhar. Deu certo! Obrigada. E também à Gê, pela disposição de serem as duas minhas “office girls”, e pelo apoio constante. Vocês são demais!

Professor Dr. Manfredo Wachs, sem o senhor acho que o Freire teria ficado no meio do caminho. Agradeço imensamente sua disposição em ler e fazer os apontamentos devidos, mesmo sem ter nada a ver com o processo. Obrigada!

Professoras Elza Falkembach e Marlene François, obrigada por acreditarem e por contribuírem para que este trabalho fosse concluído.

Professor Ayrton Dutra Corrêa, agradeço a leitura e as palavras elogiosas na defesa desta dissertação.

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RESUMO

Esta pesquisa pretende contribuir para o desenvolvimento da Arte/Educação nas escolas de educação popular a partir de dois relatos de experiências, de uma revisão teórica da educação popular no Brasil em Paulo Freire e da Arte/Educação especialmente em Ana Mae Barbosa. O primeiro relato, “Nós, Sebastião e a Comunidade” descreve um projeto relacionado a fotografias de Sebastião Salgado em uma escola de periferia com educandos do Ensino Médio. O segundo projeto, “A Arte Contemporânea: uma ponte com a comunidade local” descreve um projeto em Arte Contemporânea na mesma escola, também com educandos de Ensino Médio. Tais projetos motivaram a revisão teórica que se segue. Sobre educação popular, aborda-se o histórico da mesma no Brasil, o que é educação popular a partir dos pressupostos teóricos de Paulo Freire, conceitos freirianos como liberdade e dialogicidade e o ser educador-educando freiriano. Permeando a revisão teórica, fazem-se ligações da aplicação de tais conceitos nos projetos relatados. Sobre Arte/Educação, se faz um breve histórico da mesma no Brasil, seguida da Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa e da Educação do Sensível de João Francisco Duarte Junior, e como tais pressupostos teóricos estão inseridos nas experiências relatadas. Aborda-se a seguir as dimensões do ensino da Arte. Tem-se a convicção de que a Arte, abordada sob o prisma da Proposta Triangular, da Educação do Sensível e sob a ótica freiriana da educação seja um viés para a emancipação do cidadãos que, conscientes do seu ponto de partida, possam assumir seu papel na luta por um mundo mais justo, que lhes dê condições de acesso a tudo e a todos.

Palavras-chave: Educação popular. Liberdade. Dialogicidade. Arte/Educação. Proposta Triangular. Educação do Sensível.

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This inquiry intends to contribute to the development of the Art / Education in the schools of popular education from two reports of experiences, of a theoretical revision of the popular education in Brazil in Paulo Freire and of the Art / Education specially in Ana Mae Barbosa. The first report, “ We, Sebastião and the Community ” describes a project made a list of the photographies of Sebastião Salgado in a school of periphery with students of the Secondary education. The second project, “The Contemporary Art: a bridge with the local community ” describes a project in Contemporary Art in the same school, also with students of Secondary education. Such projects caused the theoretical revision that follows. On popular education, the historical thing is boarded of same in Brazil, which is a popular education from the theoretical presuppositions of Paulo Freire, “Freirianos” concepts like freedom and “dialogicidade” and the being educator educating “freiriano”. Permeating the theoretical revision, there are done connections of the application of such concepts in the reported projects. On Art / Education, it is done soon historically of same in Brazil, followed from the Triangular Proposal of Ana Mae Barbosa and from the Education of the Sensitive one of João Francisco Duarte Junior, and such theoretical presuppositions are inserted in the reported experiences. It is boarded following the dimensions of the teaching of the Art. There has been the conviction of which the Art boarded through the prism of the Triangular Proposal, of the Education of the Sensitive one and through the optics “freiriana” of the education is a slant for the emancipation of citizens who conscious of his starting point, could assume his paper in the struggle for a more just world, which gives conditions of access to everything and to all.

Key Words: Popular Education. Freedom. “Dialogicidade”. Art / Education. Triangular proposal. Education of the Sensitive one.

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LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 1 ... 29 Fotografia 2 ... 29 Fotografia 3 ... 30 Fotografia 4 ... 30 Fotografia 5... 31 Fotografia 6 ... 31 Fotografia 7 ... 32 Fotografia 8 ... 32 Fotografia 9 ... 33 Fotografia 10 ... 33 Fotografia 11 ... 34 Fotografia 12 ... 34 Fotografia 13 ... 35 Fotografia 14 ... 35 Fotografia 15 ... 35 Fotografia 16 ... 36 Fotografia 17 ... 36 Fotografia 18 ... 40 Fotografia 19 ... 40 Fotografia 20 ... 42 Fotografia 21 ... 42 Fotografia 22 ... 45 Fotografia 23 ... 48 Fotografia 24 ... 51 Fotografia 25 ... 52 Fotografia 26 ... 52 Fotografia 27 ... 54 Fotografia 28 ... 56 56

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1 INTRODUÇÃO ... 10

2 EXPERIÊNCIAS EMPÍRICAS NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO EMIL GLITZ... 13

2.1 A escola ... 15

2.2 Apresentação do projeto “Nós, Sebastião e a Comunidade”... 16

2.3 Atividades gerais com educandos - descrição pormenorizada das atividades... 19

2.3.1 Transcrição de textos... 21

2.3.2 Considerações de duas educandas sobre o trabalho de campo ... 27

2.4 Imagens fotográficas feitas pelos educandos ... 29

2.4.1 Considerações sobre a experiência ... 37

2.5 A arte contemporânea: um ponte com a comunidade local ... 37

2.5.1 Documentação: textos escritos pelos educando sobre o projeto e respectivas fotografias ... 39 3 EDUCAÇÃO POPULAR NO BRASIL EM PAULO FREIRE ... 57

3.1 Um histórico ... 61

3.2 Paulo Freire – educação como prática da liberdade ... 66

3.2.1 Sobre liberdade e dialogicidade na educação ... 70

3.2.2 Sobre dizer a palavra ... 75

3.3 O método Paulo Freire ... 79

3.4 O educador - educando Freiriano ... 82

4 ARTE/EDUCAÇÃO BRASILEIRA ... 94

4.1 Arte/Educação no Brasil ... 94

4.2 Proposta Triangular e Educação do Sensível ... 109

4.2.1 Aplicabilidade da Proposta Triangular e Educação do Sensível ... 115

4.3 Dimensões do ensino da arte ... 117

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 120

6 REFERÊNCIAS ... 124 125 129

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1. INTRODUÇÃO

A presente reflexão foi construída a partir do desejo de embasar teoricamente uma experiência do ensino da Arte em escola pública. Em outras palavras, após vários anos de experiência docente em escola pública de periferia com Arte/Educação, sentiu-se a necessidade de pensar o porquê do modo como estava se desenvolvendo o trabalho, bem como buscar novas possibilidades de encaminhamento do ensino/aprendizagem, a fim de torná-lo mais significativo para o educando.

O ponto de partida foi o relato de experiência de um projeto realizado em sala de aula, que não é propriamente o objeto desta pesquisa, uma vez que se tratava de uma proposta de ensino da Arte para educandos do ensino médio. Metodologicamente falando, tal relato servirá para ilustrar como podem ser postas em prática as concepções teóricas abordadas neste trabalho. Além disso, o relato torna-se fundamental à medida que possuiem si elementos que servem para a reflexão que ora pretende-se fazer.

O relato de experiência acima citado, traz textos produzidos em sala de aula que dizem do processo de criação artística dos educandos, das imagens apreciadas e da reflexão sobre os problemas que tais imagens revelam. Ainda, contém imagens fotográficas feitas pelos educandos a partir da orientação da educadora responsável pelo projeto, que são releituras da obra de Sebastião Salgado, bem como, imagens de criações artísticas dos mesmos. Os textos e as imagens em questão foram produzidos no ano de 2002, sendo que os autores não estão mais na escola. O projeto foi premiado pela Rede Arte na Escola – Fundação Ioschpe e publicado, em partes, em diferentes meios de comunicação.

O objetivo da presente dissertação é contribuir para o desenvolvimento da Arte/Educação nas escolas de educação popular. Isto porque acredita-se que através da Arte o educando pode vir a expressar-se, representar a sua realidade, os seus medos, as suas angústias, os seus anseios, a sua perspectiva de futuro ou falta dela; e tornar-se, ao mesmo tempo, sensível à Arte, além de capacitar-se a produzir criações artísticas de qualidade. Por isso, o objeto de pesquisa é a educação popular em Paulo Freire, a Arte/Educação especialmente através da Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa e da Educação do Sensível de João Francisco Duarte Júnior. A tentativa é de agrupar tais conceitos enquanto uma possibilidade para o ensino da Arte nas escolas populares.

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cunhados pelo estudioso baseiam esta reflexão. É perceptível, no decorrer de sua obra, que Paulo Freire utiliza constantemente as expressões “opressor” para referir-se à ideologia dominante e “oprimido” para dizer dos que sofrem a massificação. Optou-se em manter tais expressões no decorrer do texto, mesmo que talvez até o próprio Paulo Freire se inclinasse a utilizar expressões diferentes, dados os contextos atuais. Entende-se que o educando de escola pública de periferia seja um “oprimido”, uma vez que lhe falta muito para que tenha uma vida digna no sentido amplo da palavra, isto é, acesso pleno à saúde, educação, moradia, emprego, bens de consumo e cultura. Aqui, a partir do teórico supracitado, serão feitas considerações sobre esta realidade, e propostas alternativas para uma educação libertadora e significativa.

Sobre Arte/Educação elaborou-se um breve histórico desta no Brasil, especialmente a partir de Ana Mae Barbosa a fim de contextualizar e, então, discorrer sobre a Proposta Triangular e a Educação do Sensível, situando-as na aplicabilidade do ensino. O objetivo é entender como tais conceitos foram abordados nos projetos relatados, que motivaram esta pesquisa. Também aponta-se para as mudanças que ocorreram no ensino da Arte em nível de Brasil, principalmente no que se refere às mudanças que operaram-se nas duas últimas décadas no nosso país. No que concerne à nomenclatura optou-se por usar o termo Arte/Educação a partir da explicação de Ana Mae Barbosa ao comentar que “prefiro a designação Arte/Educação (com barra) por recomendação de uma lingüista, a Lúcia Pimentel, que criticou o uso do hífem como usávamos em Arte-Educação, para dar o sentido de pertencimento” 1. Entretanto observa-se nas bibliografias sobre o assunto o uso da expressão arte educação e arte-educação. Por convicção e padronização usar-se-á sempre Arte/Educação, salvo em citações de autores que empregam a outra expressão.

A escolha metodológica pouco convencional é proposital. Foi intencional relatar uma experiência, fazer uma reflexão teórica sobre educação popular e Arte/Educação – Educação do Sensível trazendo elos de ligação entre a reflexão teórica e a experiência narrada, e, por fim, tecer uma análise que integre as partes operando com dois conceitos trabalhados

1

BARBOSA, Ana Mae. Uma introdução à Arte/Educação Contemporânea in Barbosa, Ana Mae (org). Arte/Educação Contemporânea : consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005.p.99.

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teoricamente. Buscou-se não apenas a síntese do pensamento dos autores, mas uma escrita reflexiva sobre temas por eles trabalhados.

Enfim, objetivou-se produzir um texto simples e claro, que possa dizer da Arte/Educação na educação popular, através de uma análise da educação e da Arte/Educação brasileiras. Para tanto tomou-se como exemplo projetos pedagógicos realizados em uma escola que apresenta uma realidade pouco favorável economicamente, mas que ousou experimentar práticas, especialmente em Artes, diferentes das tradicionais. Por esses motivos enquadra-se no perfil denunciado e vivenciado pelos teóricos que respaldam este trabalho e servem como exemplo de que ações pedagógicas diferenciadas e voltadas ao educando, são possíveis e significativas.

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2. EXPERIÊNCIAS EMPÍRICAS NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO EMIL GLITZ

No primeiro capítulo relatam-se duas experiências empíricas que serão problematizadoras das questões teóricas que se pretende abordar: a Arte/Educação e a Educação Popular no Brasil. O primeiro relato retrata um projeto envolvendo a arte da fotografia que aconteceu no ano de 2002, em uma escola de ensino médio da periferia da cidade de Ijuí, RS. Vale dizer que este foi agraciado com o primeiro lugar do III Prêmio Nacional Arte na Escola Cidadã da Rede Arte na Escola, Fundação Ioschpe, nesse mesmo ano.

É importante ressaltar que a experiência em questão foi, originalmente, pensada como uma proposta de curso normal para a terceira etapa do Ensino Médio2, não tendo pretensão de participar de concurso e, sim, ser algo que fizesse parte da prática pedagógica cotidiana. Talvez tenha sido este aspecto que tornou o projeto tão significativo a ponto de ter sido considerado o melhor entre os concorrentes e receber o prêmio acima citado. Nesse sentido, o projeto em questão nasceu do desejo de abordar o ensino da Arte a partir da vivência dos educandos, para que estes pudessem atribuir significados ao seu aprendizado. Para tanto, procurou-se universalizar as condições de acesso ao mundo da Arte, pelo menos no que concerne às reproduções de imagens de obras de arte e textos referentes ao assunto.

Acredita-se que a Arte é um bem universal a que todos têm direito. Por isso entende-se que a mesma deveria entende-ser de domínio público. Não obstante, para o educando de uma cidade do interior o contato com a Obra de Arte instituída se resume a reproduções. E o espaço onde esse acesso às imagens da Arte Universal ocorre é, quase que exclusivamente, a sala de aula. Por isso, o educando de periferia, normalmente, não possui a dimensão exata do tamanho, da bidimensionalidade ou tridimensionalidade da obra, das cores, da textura, dos materiais e objetos utilizados ou ainda do estilo próprio que cada artista imprime à sua criação.

2

As explicações sobre a escola e seu funcionamento estão a seguir, inclusive sobre o que consiste uma etapa e como ela funciona.

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Para desenvolver atividades que propiciem o ensino/aprendizagem da Arte de forma significativa e não de forma que este se resuma a discursos sem retorno, faz-se necessário buscar subsídios em imagens e artistas que sejam de interesse do próprio educando e da sua comunidade. Não é possível envolver os educandos no processo de aprendizagem apresentando-lhes imagens que não os remetam à sua própria vivência, isto é: sem um mínimo de identificação. Em outras palavras, a possibilidade concreta de trabalhar com Arte/Educação em determinada comunidade, consiste da própria vivência dos educandos, para assim, garantir o engajamento e a efetiva participação, em um processo de diálogo e interação entre educador e educando, cujo resultado seja o conhecimento. Como diz Paulo Freire, “educador e educandos (liderança e massas), co-intencionados à realidade se encontram numa tarefa em que ambos são sujeitos no ato, não só de desvelá-la e, assim, criticamente conhecê-la, mas também no ato de recriar o conhecimento” 3. Neste caso, recriar o conhecimento através da criação artística dos próprios educandos.

Na proposta de Arte/Educação apresentada e relatada nos projetos a seguir, poderá verificar-se que o ponto central deu-se a partir da vivência do educando - para o mundo e novamente ao seu local de origem - o que diz da educação popular em Paulo Freire. Para tanto, foi necessário ouvir o educando, deixá-lo falar de seu modo de vida, perceber como seria possível encaminhar reflexões que pudessem desencadear um aprendizado em Arte. Em geral os temas selecionados versam sobre os problemas enfrentados, quais sejam: drogadição, violência, desemprego, fome, prostituição e outros. A partir desta problematização buscou-se na Arte, imagens e artistas que pudessem viabilizar tal demanda, ou que representassem ou apresentassem situações dos temas em questão. A contextualização histórica também fez referência aos acontecimentos da sociedade na época em que a obra foi criada, fazendo-se, então, um paralelo com a atualidade. A criação artística veio como uma resposta do educando à realidade que o rodeava, possibilitando-o a utilizar sua criatividade, sensibilizar-se e conhecer novas possibilidades de materiais. Vale adiantar que os passos acima remetem à Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa, sobre a qual versará parte do quarto capítulo desta dissertação.

A segunda situação a ser relatada neste trabalho é um projeto em Arte Contemporânea, realizado na mesma escola. Com sua descrição pretende-se demonstrar que o educando tem a possibilidade de expressar o seu entendimento da Arte através de manifestações contemporâneas, utilizando diferentes materiais e partindo do seu cotidiano,

3

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2.1 A escola

A Escola Estadual de Ensino Médio4 na qual foi realizado o projeto aqui descrito é uma escola de periferia da cidade de Ijuí – RS. Possui em torno de 1.100 educandos. Nos turnos matutino e vespertino oferece o Ensino Fundamental. O noturno, por sua vez, está reservado para o Ensino Médio. A escola caracteriza-se por ser voltada à Educação Popular, sendo que os educandos, em sua maioria, são oriundos dos bairros próximos a esta escola, considerados de baixa renda. A Proposta Político Pedagógica da escola como um todo busca fundamentação teórica, dentre outros, no educador Paulo Freire, que afirma que “nenhuma pedagogia realmente libertadora pode ficar distante dos oprimidos [...]. Os oprimidos hão de ser o exemplo para si mesmos, na luta por sua redenção” 5.

O Ensino Médio da escola em questão, desde sua criação, foi contemplado com uma proposta diferenciada. Isto é, surgiu como uma alternativa para pessoas que haviam interrompido seus estudos há algum tempo, em especial, trabalhadores. No início a faixa etária dos educandos era bem elevada (de até 60 anos). Aos poucos a escola foi recebendo também educandos mais jovens, provenientes do Ensino Fundamental da própria escola e de escolas vizinhas, pois não há outra escola de Ensino Médio nas proximidades. No segundo e terceiro anos de funcionamento do Ensino Médio trabalhou-se com EJA – Educação de Jovens e Adultos – o que deixou de ser oferecido para que os educandos menores de 18 anos freqüentassem o Ensino Médio noturno.

No ano de 2002 a escola optou por uma organização diferenciada das escolas formais na modalidade de Ensino Médio. Ao invés de séries, desenvolveu o ensino em etapas. A duração do Ensino Médio passou de três para três anos e meio, distribuídos em cinco etapas que independiam do ano do calendário. As aulas aconteciam de segunda à quinta-feira. A sexta-feira foi reservada para estudo e formação de professores e tempo-comunidade para os educandos. Este tempo destinava-se a um projeto interdisciplinar que pudesse gerar reflexão sobre a comunidade e resultar em ações dos educandos na própria

4

Os dados sobre a referida escola dizem da época na qual aconteceu o projeto, ou seja, o ano de 2002.

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comunidade. Nesta reorganização curricular uma conquista fundamental foi a igualdade de carga horária para todos os componentes curriculares do Ensino Médio e a inserção dos componentes curriculares: Sociologia e Filosofia. Ao todo, são doze componentes curriculares, distribuídos em três blocos, com a duração de dez semanas cada um, sendo contemplados quatro componentes curriculares em cada bloco.

Quanto à metodologia e ao planejamento da Escola, buscou-se uma interação entre os componentes, ou seja, um enfoque interdisciplinar de forma que todos os conceitos e conteúdos partissem da realidade do educando. Para que isto acontecesse fez-se uma Pesquisa Participante na qual envolveram-se educadores, educandos e funcionários, que consistiu em uma visita do grupo, nos bairros que compõem a comunidade escolar. Nessa visita o grupo conversou com moradores e fez perguntas informais de modo a identificar as demandas da comunidade na qual os educandos encontravam-se inseridos. As falas desta comunidade foram anotadas da forma original e, a seguir, organizou-se uma rede temática, sendo que uma fala tornou-se o tema-gerador, norteador de todo o projeto pedagógico do Ensino Médio assim intitulado: “A gente véve do jeito que dá”. A partir deste tema-gerador originou-se o contra-tema: “É possível viver de outro jeito construindo cidadania.” Para cada etapa escolheu-se um foco e uma fala, ambos retirados da pesquisa participante.

A comunidade escolar à qual se faz referência é muito carente em termos econômicos e culturais, além de grande parte dela não estar inserida no mercado de trabalho formal. Os educandos trabalham na construção civil, como empregados domésticos e babás, como catadores de lixo, dentre outros. Três dos bairros que compõem esta comunidade são formados por pessoas oriundas do Movimento dos Sem-Teto e outros movimentos semelhantes. Portanto, as dificuldades financeiras são inúmeras. A Arte para eles está distante, salvo esporádicas mostras de trabalhos escolares, algumas manifestações de dança, principalmente gaúcha e artesanato. As áreas de lazer disponíveis são poucas: um campo de futebol, um pequeno CTG (Centro de Tradições Gaúchas) 6 e a escola, que foi apontada na pesquisa participante como o ponto principal de encontro e lazer.

2.2 Apresentação do projeto “Nós, Sebastião e a Comunidade”

6

No CTG a comunidade tem a possibilidade de se encontrar para festejar, dançar, conviver com os demais. É um local que a família pode freqüentar em conjunto.

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o contexto social da comunidade escolar, no intuito de valorizar as pessoas que a integram como cidadãos. O projeto deu-se na terceira etapa do Ensino Médio, cujo foco era “Alternativas de desenvolvimento cultural e mobilização social”, pautado na fala “Há muitos adolescentes e crianças sem ocupação. Precisam trabalhar e estudar para acabar com a baderna no bairro”, retirada da pesquisa participante. Nesta etapa a faixa etária variou entre 15 e 50 anos. Conforme Luis Camargo,

O primeiro mundo que buscamos compreender é o da família, a casa onde moramos, o quintal onde brincamos, a pracinha, o bairro onde vivemos, a cidade, o estado, o país. Tudo isso marcado fortemente por nosso lugar social, nossa origem social. E, ao buscar compreender, estamos fazendo leituras desse mundo. Leitura crítica, prazerosa, envolvente, significativa, desafiadora. Leitura, que inserida num contexto social e econômico, é da natureza educativa e política, pois nossa maneira de ver o mundo é modelada por questões de poder, por questões ideológicas7.

Os educandos da terceira etapa já estavam familiarizados com algumas linguagens da arte, outros porém (boa parte deles) haviam interrompido seus estudos há muitos anos, quando ainda não era obrigatório o ensino de Arte (ou Educação Artística). Destes, vários só conheciam a cópia ou a livre expressão. Então, desde a primeira etapa retomou-se os elementos visuais, a leitura da imagem, a apreciação de obras/imagens e a vida de artistas de todos os tempos, bem como, a contextualização histórica. Isto para que os educandos pudessem visualizar a Arte em suas diferentes manifestações, mesmo que somente através de reproduções. A criação a partir de diversas manifestações da Arte esteve sempre presente. Durante o projeto os educandos tiveram acesso a um curso básico (teórico) de fotografia oferecido por um laboratório fotográfico da cidade. Nenhum dos educandos possuía máquina fotográfica e a maioria nunca havia tido contato com tal aparelho8.

7

CAMARGO, Luiz apud PILLAR, Analice Dutra (Org). A Educação do Olhar no ensino das Artes. Porto Alegre: Mediação, 1999, p. 14.

8

A forma como foi conduzido o projeto, bem como, todos os passos, conceitos e conteúdos trabalhados serão especificados a seguir.

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A fotografia funcionou como mediadora – uma “janela” pela qual o educando visualizou, através da fotografia de Sebastião Salgado, o contexto social mundial. E, através da lente da na qual “clicou” a sua realidade com outro olhar, o educando pôde vivenciar a Arte. Neste sentido Analice Dutra Pillar reflete que:

O olhar de cada um está impregnado com experiências anteriores, associações, lembranças, fantasias, interpretações, etc. O que se vê não é o dado real, mas aquilo que se consegue captar e interpretar acerca do visto, o que nos é significado. Desse modo, podemos lançar diferentes olhares e fazer uma pluralidade de leituras do mundo9.

A fotografia se tornou a “releitura” que o educando fez de seu mundo, utilizando outra linguagem que não a fala, a escrita ou a plástica. Releitura esta que diz da imagem e do contexto social, econômico e cultural no qual está inserido, pois, conforme Analice Dutra Pillar,

Tal imagem foi produzida por um sujeito um determinado contexto, numa determinada época, segundo sua visão de mundo. E esta leitura, esta percepção, esta compreensão, esta atribuição de significados vai ser feita por um sujeito que tem uma história de vida, em que objetividade e subjetividade organizam sua forma de apreensão e de apropriação de mundo 10.

Ométodo fotográfico utilizado por Sebastião Salgado, o porquê das fotografias em preto e branco, as modificações feitas durante a revelação, a interferência no próprio filme e o conceito de fotografia artística e jornalística também foram abordados no decorrer do projeto.

No que concerne aos objetivos específicos deste projeto, pode-se afirmar que estes foram: conhecer o fotógrafo Sebastião Salgado e sua obra e alguns pintores brasileiros que enfocaram questões sociais; oportunizar a experimentação de materiais diversos através da criação de composições visuais; fotografar a realidade social e econômica que compõe a

9

PILLAR, Analice Dutra. (Org). A Educação do Olhar no ensino das Artes. Porto Alegre: Mediação, 1999, p. 13-14.

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artistas brasileiros que enfocaram questões sociais11; estudo do período Modernista Brasileiro, com ênfase na Semana de Arte Moderna de 1922; conhecimento da obra de Sebastião Salgado e sua vida através da exposição Êxodos12 e do álbum Terra, bem como a leitura de entrevistas e reportagens sobre o fotógrafo; leitura da imagem fotográfica e comparação com a pintura modernista; produção artística (com materiais diversos e escolhidos pelos educandos), na qual a idéia central da fotografia e obra escolhidas estivesse contemplada; estudo da linguagem fotográfica a partir de textos; curso teórico básico de fotografia enfatizando o uso de uma máquina fotográfica e como obter boas imagens; trabalho de campo – fotografias tiradas pelos educandos durante uma caminhada por alguns bairros, em que as situações e locais foram escolhidos pelos próprios educandos; análise e apresentação do trabalho.

A exposição “Êxodos”, de Sebastião Salgado, foi um marco para a maioria dos educandos, pois a dramaticidade e a veracidade das fotografias, extremamente realistas, possibilitaram aos educandos uma reflexão sobre os conflitos sociais, as guerras, a fome, a miserabilidade e a impiedade humanas, ao mesmo tempo em que eles puderam apreciar a beleza da imagem fotográfica. Talvez, como o próprio Sebastião Salgado, eles tenham tido a percepção de que a fotografia representa, simultaneamente, um acontecimento e a forma física dele. Não foi difícil para os educandos atribuir significado a estas imagens, pois algumas delas eram muito semelhantes à realidade deles. Como disse Sebastião Salgado em entrevista televisiva de 29 de março de 2002, “a fotografia é o idioma das imagens, a verdadeira imagem universal”.

2.3 Atividades gerais com educandos - descrição pormenorizada das atividades

11

Anita Malfatti, Cândido Portinari, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Dejanira, Vicente do Rego Monteiro – todos os artistas foram escolhidos pelos educandos a partir da apreciação de diversas imagens.

12

A UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul estava sediando uma exposição de reproduções de fotografias do referido álbum do fotógrafo Sebastião Salgado aberta ao público, à qual os educandos tiveram acesso.

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Neste subcapítulo serão descritas as atividades feitas com os educandos no decorrer de todo o projeto. Inicialmente estudou-se a linguagem fotográfica e o Modernismo Brasileiro, e, após a visualização das obras, cada educando escolheu uma obra que, em seu sentido, fosse semelhante à fotografia escolhida durante a visita à exposição “Êxodos”. O passo seguinte consistiu em compará-la a uma das imagens modernistas, e, a partir da escolha, criar um projeto que resultasse em uma composição visual, na qual utilizariam materiais alternativos. Algumas obras de artistas apresentados não foram escolhidas, sendo que a escolha recaiu especialmente sobre obras de Cândido Portinari. A justificativa da opção dos educandos foi de que este artista melhor retratou os problemas sociais. Por fim iniciou-se a criação.

Miriam Celeste Martins comenta que:

Na linguagem da arte há criação, construção, invenção. O ser humano, através dela, transforma a matéria oferecida pelo mundo da natureza e da cultura em algo significativo. Atribui significado a sons, gestos, cores, com uma intenção, num exercício que mais parece um jogo de armar, um quebra-cabeça no qual se busca a forma justa 13.

A maioria dos educandos buscou materiais do cotidiano, principalmente lixo limpo e orgânico para sua criação. No entanto, o passo que mais gerou ansiedade foi o de utilizar a máquina fotográfica. Em uma tarde chuvosa, de um sábado do mês de agosto de 2002, fez-se uma caminhada pelos bairros escolhidos pensando-fez-se em buscar situações que pudesfez-sem ser fotografadas. Nem todos os educandos puderam participar deste momento, que foi acompanhado por dois educadores e uma voluntária. A caminhada aconteceu nos bairros Alvorada e Getúlio Vargas 2 e 3 14 e consistiu em conversas informais com as pessoas encontradas, solicitando sua autorização cada vez que se desejava fotografar uma situação. Cada educando bateu de uma a três fotos, por não poder arcar com o valor de mais

13

MARTINS, Miriam Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. Terezinha Telles. Didática do Ensino da Arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998, p. 54.

14

À medida que o Bairro Getúlio Vargas foi crescendo a partir dos movimentos pela moradia, os próprios moradores foram numerando os aumentos do bairro. Hoje, já existe até o Getúlio Vargas 5. No entanto, esta situação é exclusiva, pois os próprios moradores são preconceituosos com quem mora nos anexos do bairro.

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sido fotografado sem licença. Como não havia nenhum adulto por perto no momento, um educando fotografou o menino soltando pipa, com o consentimento deste. Ao perceber, o senhor citado, pai do menino, quis quebrar a máquina fotográfica. Os educandos desculparam-se, prometendo levar o negativo posteriormente, o que realmente foi feito. Algumas pessoas estavam pouco à vontade com a presença dos educandos e perguntavam o que queriam no seu bairro.

Sebastião Salgado em entrevista televisiva de 29 de março de 2002 afirmou que sua “maior esperança é provocar um debate sobre a condição humana do ponto de vista dos povos em êxodo de todo o mundo”. O mesmo artista ainda afirma que “minhas fotografias são um vetor entre o que acontece no mundo e as pessoas que não têm como presenciar o que acontece. Espero que a pessoa que entrar numa exposição não saia a mesma”. Os educandos sentiram-se assim depois desta experiência: sensibilizados, pois a reflexão sobre o que viram os fez repensar a prática e perceber que a realidade visitada era vivida por alguns deles.

2.3.1 Transcrição dos textos

Serão transcritas as produções textuais de alguns dos educandos, as quais foram elaboradas durante todo o processo. Para não descaracterizar a escrita dos mesmos, os textos serão reproduzidos literalmente15.

Texto de educando A

“A foto exposta na exposição de Sebastião Salgado, que mais me chamou a minha atenção a obra – Na estação de Ivankow, 120 refugiados vivem numa longa composição ferroviária Croácia 1994. Refugiados e migrados, que após vê-la me tocou por haver nela

15

Optou-se por colocar em itálico os textos dos educandos por estarem transcritos tal e qual foram escritos, e serem em si palavras de outrem.

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um garoto só, distanciado dos outros por ele estar no meio de uma das atitudes que os povos tomam os conflitos dos sem-terra, a competência dos pais é pouca, por isso são diminutas as possibilidades de mudar o que vimos nas fotos. E a foto que comparei, é de um garoto tirando leite, de Cândido Portinari a sua obra é magnífica. A comparação, foi por ele também ser um garoto sozinho trabalhador. As semelhanças são bem parecidas pois criança sempre aparece, com jeito de sofrida, nestas fotos como minha pessoa me chama atenção.”

Texto de educandos B e C

“Retirante (1944) Cândido Portinari: painel a óleo sobe tela 190cm x 190cm. Museu de Arte de São Paulo.

Esta foto nos revela o estado em que as famílias sofridas do nordeste são famílias inteiras em estado de grande pobreza, que não encontram trabalho e tem que fugir de sua terra para outros lugares afim de encontrar alimento que mate a fome da sua família, pois o seu rosto já estão cansados de ver tanta miséria, sm perspectiva de um futuro melhor.

Comparamos esta foto dos retirantes com a foto de Sebastião Salgado tirou dos refugiados Ruandenses em Hdutu onde milhares de pessoas tinham que fugir por causa de grande miséria ali existe que estava matando o seu povo de fome onde as pessoas estavam muito desnutridas pois elas eram expulsos do seu habitat.”

Nosso projeto:

Nós, Sebastião Salgado e a realidade e a vida

Usamos isopor, palitos de picolé, plástico, caixas de papelão emitando casa e galpão

Bonecos de plástico emitando pessoas Flores de plástico

Animais de plástico emitando animais vivos

O tamanho é pequeno mas nos projeta para a realidade.

O projeto nosso mostra a realidade de um povo a procura do seu chão ou seja do seu pedaço de terra onde possa tirar o seu sustento e de sua família. Pois a realidade é mais nua e crua pois ainda existe muita pobreza neste país.”

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valores culturais e familiares, religiosos e má distribuição de verbas públicas, causando distúrbios, com um futuro sem muitos caminhos a seguir, em abismo sem beira em busca de paz.

Várias pessoas morrem sem solução em seus caminhos, sem solução, ficam revoltados, desgostosos para os familiares e comunidade em geral, nossa indignação nada resolve. Eles querem acabar com a violência, querem paz, esta paz tão citada em assembléia, mas denegrida com leis corruptas que só causam dor para os não beneficiados.”

Texto de educando E

“Obras de Sebastião Salgado

Uma das fotos que me chamou atensão foi a do cano de água que cruzava no meio da favela que não tinha água.

A prova que o pobre ficara sem água no futuro ou totalmente sem água, a pobreza não tem vez e vai ficar cada vez mais sem vez nesta sociedade desigual.

Vendo esta foto percebi que no futuro a doença que mais vai matar as pessoas cai ser a falta de água.

A obra que vi mostrou uma favela onde as pessoas caminhavam com latas de água na cabeça. Esta obra mostrava as pessoas com dificuldade para buscar água e em sua maioria são pessoas de cor.

As duas obras são parecidas pois o pobre está em destaque de desemprego e miséria e umilhaçao pelo rico.”

Texto de educando F

“Caixões

A idéia de fazer caixões veio da interpretação da foto de Sebastião Salgado: na fotografia, caixões com integrantes dos sem terra mortos pela polícia em uma disputa de fazenda.

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A montagem são caixas transparentes, envolvidas por papéis, em forma de caixões. Dá para ver dentro das caixas, arroz em uma e feijão em outra: arroz e feijão significa o alimento; o fruto do suor do lavrador; o caixão, a morte de quem planta o alimento.

Por que caixões com alimentos? Porque, morrendo o agricultor, a semente não é cultivada, alimentos deixam de chegar à mesa: é o mesmo que morrer com o agricultor e planta que ele poderia semear.

Pensando bem, um sem terra também pode ser comparado a uma semente dentro de uma caixa fechada. Mesmo que se enterre a semente a planta não vai nascer, pois está sufocada na caixa; assim também é o sem terra e qualquer outro colono: se dar-lhes terra, sem incentivo e crédito para plantar, ele não terá como colher.

A foto que eu escolhi mostra caixões do massacre ocorrido numa invasão do movimento sem terra.

Aparece na foto oito caixões na parte traseira de um caminhão – presume-se que o retrato tenha sido tirado da cabine, para trás. Há uma estrada, carros, motos, ônibus, bicicletas. Nos lados da pista há mato, postes. É noite, o céu escuro e pontos luminosos dos faróis. Os caixões estão cobertos com a bandeira do MST.

É uma foto gelada, trágica; até a noite foi bem aproveitada; joga no espectador a impressão da melancolia e tristeza.

Imagino os sem terra antes de invadir tal fazenda, dispostos a morrer para o êxito dos colegas do movimento. Lutaram, guerrearam por um pedaço de chão e conseguiram, conseguiram o chão onde foram enterrados. Depois de ser sem terra, em perspectiva, sem um monte de coisas, sem vida foi só um “sem” a mais.”

Texto de educando G

“A foto “Serra Pelada” de Sebastião Salgado mostra o sofrimento de pessoas, que lutão por uma miséria, para ter na mesa ao menos um pedaço de pão. É chamado Serra Pelada por causa de um garimpo onde buscavam ouro até chegar ao garimpo escalavam uma serra.

A obra de Portinari mostra um mestiço com mãos fortes e calejadas pelo trabalho. A semelhança entre as duas é o esforço e os traços de sofrimento, por uma vida sofrida e sem oportunidades.

Projeto: que materiais serão usados: papel picado, cola, folhas ofício. Tamanho: 2 folhas ofício juntas.

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“Sebastião Salgado

No nordeste a fome e a seca esta cada vez mais difícil, principalmente no nordeste, pessoas a procura de água, e o encontram um pouco de água nos cactos.

As pessoas descascam os cactos para tomar a água, os adultos estão com calçados e as crianças, descalsas, e até o cachorro passando fome e sede.

Se não é os cactos no nordeste, muitos morrem de sede, pos a procura de água. Pois mostra a fome e sede das pessoas no nordeste isso é muito triste.

Pintura a óleo sobre tela: Retirantes (Cândido Portinari)

Mostra sobre a seca, a pobreza do nordeste, muita criança passando fome, e pessoas sem trabalho.

(sobre sua criação)

Esta estátua significa uma pessoa que vive no nordeste e convive com a seca, ele trabalha, apesar de estar triste por que falta água para beber, poder sobreviver, eles bebem a água dos cactos. Com seu chapéu velho, magro ele tenta levar a vida como dá, vencer a fome e a sede não é fácil, apesar da pobreza, eles esperam pela chuva o único jeito de ter uma água para beber etc.”

Texto de educando I

“Sebastião salgado – Movimento dos sem terra

Em primeira vista desta foto nos mostra um dos sem terra com seu braço direito erguido em posse de uma foice, com a expressão de um vencedor. Em seguida seus companheiros com muita ansiedade de chegar à tal terra tão sonhada por todos. Ao fundo da foto tem uma imensa faixa de mata, a cerca que vai para a esquerda da fora e a direita do 1º a pisar na terra está aparecendo apenas 4 palanques numa divisão + - de 5 metros. A porteira está completamente aberta para dentro da terra de posse dos ocupadores. A terra parece estar um pouco seca e sua vegetação é rasteira.

Café – Portinari

É uma obra onde as pessoas negras (escravos) trabalham em uma colheita de café. O canto esquerdo da obra à frente tem uma mulher com um lenço na cabeça e ao seu lado

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esquerdo uma pilha de sacos de café prontos para o comércio. Entre vários negros há montes de café no chão e os escravos estão muito inchados porque eles não ganham o que calçar. As mulheres trabalham na colheita do café, elas se vestem com vestidos longos. Eles estão trabalhando sobre comando do patrão.

Comentário:

Na foto e na obra contém pessoas com algumas diferenças sociais bem grave.

Na foto do MST as pessoas são trabalhadoras mas querem lutar para ganhar lucro com seu trabalho mas elas não tem como produzir pois elas não tem condições de comprar seu chão.

Na obra “café” nos mostra pessoas que trabalham sobre comando do patrão e são obrigadas a fazer qualquer tipo de serviço. Por serem negros muitos acham que não devem ter direito algum. Eles trabalham 24 hora por dia sem poder relaxar um minuto a não ser para comer alguma coisa de vez em quando. Ainda assim estão sobre o comando dos patrões. A diferença dessas pessoas não é grande pois são castigadas pelos que possuem o poder.”

Texto de educando J

“Sebastião Salgado: Índios

A calma em levar a vida na pobreza ou seja na maneira em que vivem pois eles gostão de levar a vida assim sem regalias.

O seio protetor de uma mãe que nunca abandonaria a cria por amá-la muito, a pesar de seu rosto expressar um leve ar de tristeza ela parece feliz.

O olhar inocente da criança esperando a esperança de melhores tempos, ao mesmo tempo sintindo o conforto e segurança que sua mãe o transmite.

O seu sustento tirado se suas próprias mãos com o artesanato, o plantiu, seus utencilios domésticos a maioria artesanal também. O respeito que existe na tribo por andar sem roupa só cobrindo seus órgãos genitais.

O mundo totalmente diferente deles do nosso eles vivem com tão pouco e não reclamam nós enquanto mais temos mais queremos.

Mãe Preta – Lasar Segall

Tem muitas coisas parecidas o relacionamento entre mãe e filho, a simplicidade da maneira de viver, a expressão dos rostos parecidas, tristes mais felizes a inocência da

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2.3.2 Considerações de duas educandas sobre o trabalho de campo

Texto de educanda A

“No sábado nós fomos fazer umas fotos nos bairros, para conhecer cada pessoa e como vivem e reagem ao nosso trabalho escolar que é montar um “Êxodo” não tão grande como o de Sebastião Salgado que são fotos de várias raças e estilos de vida diferente daquele que muitos ignoram e não querem ver.

As fotos foi para aprendermos mais sobre as condições de vida de cada um por isso que muitos dizem levamos a vida do jeito que dá.

Nossas fotos foi baseada nisto porque planejamos com a profe de artes que nos acompanhou e conseguiu trazer câmera fotográficas e não conseguiu filme preto e branco e tiramos fotos com o filme colorido. A profe “B” e a mãe da profe “A” nos acompanha nesse passeio de trabalho e nos ajudou e motivos e, no nosso ofício de retratista naquele dia.

Batemos fotos nos trilhos do trem, a “educanda A” tirou com crianças, bateu foto dum bueiro entre outra fotos que cada um que estava ali escolheu para bater.

Adorei ter ido, foi uma experiência muito boa para o meu aprendizado. Só batemos fotos daquelas pessoas que permitiram tirar.

Foi uma beleza se pudéssemos continuar se nos dessem mais chance apezar daqueles receio de aproveitar a oportunidade oferecida. E que cada um vive a vida do jeito que dá.

Eu bati foto da casa do bairro novo, de crianças e todos teremos nos trilhos do trem entre outras.”

Texto de educanda B

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Em continuidade com o trabalho encima das fotos de Sebastião Salgado. Nos aluno da 3ª etapa do ensino médio EJA da Escola Emil Glitz fizemos um trabalho com a profe de Artes “B” fomos visitar alguns bairros de Ijuí.

Numa caminhada que fizemos vimos a realidade de pessoas que vivem em plena miséria. São casebres na beira dos trilhos. Ao mesmo tempo dessa nossa visitas aproveitamos para testas nossos conhecimentos em fotografia. Vamos fazer uma exposição na nossa escola.

Nos alunos e profe observamos que as pessoas estão preocupadas ao ver nos fotografando imaginaram que era político nesse momento houve um pequeno mal entendido pois foi fotografado uma criança brincando soltando pipa e o pai da criança nos chamou atenção pois não tinha autorização nos entendemos o erro e se desculpamos. Sentimos que a esclusão social não tem espectativa de vida não cuido da natureza jogam vários detritos de lixo em redor de suas casas virando um verdadeiro lixão.

Pois para mim foi importante esse nosso trabalho que realizamos apena que foram poucos alunos que participaram. Foram fotografado vários momento dessa caminhada. O que me chamou a atenção foi fotografar um senhor bem idoso, e uma vovozinha com 98 anos, e um criança inocente brincando com a natureza coma a terra fazendo bolo de barro.

Para mim e a segunda experiência que participo na escola conhecendo pessoas que moram em alguns bairro de Ijuí. Entendo que são pessoas humilde e talvez analfabetos.

Eu me imprecionei foi ver tantas crianças brincando alegres e contentes com o coração inocente.

Ao chegar em casa percebi com o perigo que ocorremos em ir naqueles arrebalde seu que sozinha não passo lá. Coitados daquelas crianças que acredita no futuro com melhor condições de vida.

Precisamos mudar essa sociedade que uns têm e os outros não tem nada.

Vamos colocar políticos que olhe por nos classe pobre excluída sem emprego e moradia.

Não somos um Sebastião Salgado para fazer aquelas fotos tão lindas mas esperamos que as nossas fotografia seja tão bem batida e que mostre a realidade a nossos colegas que eles consigam analizar a situação em que essas família estão vivendo na mais precarias pobresa”.

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2.4 Imagens fotográficas feitas pelos educandos

Fotografia 1 - No meio do Bairro Getúlio Vargas 2, uma propriedade rural com gado e cavalos. Uma casa grande e bonita de alvenaria contrasta com o restante do bairro.

Fotografia 2 - Duas senhoras idosas na porta de sua casa tomando chimarrão. Antes de serem fotografadas quiseram se arrumar primeiro: pentearam os cabelos e trocaram de blusa, e não

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permitiram que a fotografia fosse tirada da porta dos fundos (que aparece ao fundo na fotografia) onde estavam quando da solicitação, mas na porta da frente 16.

Fotografia 3 - Senhor na janela de casa, que dá para a ferrovia.

Fotografia 4 - Igreja Pentecostal Jesus Cristo é Senhor, no Bairro Getúlio Vargas17.

16

Arte, escola e cidadania: um prêmio e seus premiados/Instituto Arte na Escola. – São Paulo : Instituto Arte na Escola : Cultura acadêmica, 2006, p. 59.

17

Arte, escola e cidadania: um prêmio e seus premiados/Instituto Arte na Escola. – São Paulo : Instituto Arte na Escola : Cultura acadêmica, 2006, p. 59.

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Fotografia 5 - Filhos de um educando acharam uma boneca em bom estado em frente a uma casa em ruínas. Bairro Getúlio Vargas 218.

18

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Fotografia 6 - Crianças sentadas nos trilhos do Bairro Alvorada. Durante todo o tempo em que se permaneceu no bairro as duas crianças permaneceram neste local brincando.

Fotografia 7 - Vista parcial do Bairro Getúlio Vargas 3.

Fotografia 8 - Senhora de 98 anos, surda, comendo feijão e arroz no meio da tarde. Ela ainda varre o pátio todos os dias. Não tem dentes, e sorri sem parar, gritando e fazendo gestos demonstrando estar feliz com nossa presença. A pessoa que cuida dela, uma sobrinha, quis tirar a touca para a fotografia, solicitou-se que a deixasse como estava para não descaracterizá-la.

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Fotografia 9 - Pessoas jogando baralho e rindo. Disseram que “durante a semana nóis trabáia, final de semana é só alegria e deversão”.

Fotografia 10 - Mãe do menino que estava sentado nos trilhos. Ela estava lavando roupas quando pedimos para fotografá-la. Consentiu, desde que o filho estivesse junto, e não quis ser fotografada lavando as roupas, mas fazendo pose.

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Fotografia 11 - Bueiro no Bairro Alvorada.

Fotografia 12 - Casa queimada no Bairro Getúlio Vargas 3. O morador ao lado disse que a casa queimou pela quantidade de cachaça que nela havia. O fogão a lenha permaneceu no mesmo lugar, intacto.

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Fotografia 13- Casas populares de alvenaria construídas pelo governo estadual com verba federal. As casas medem 3m x 4m e se constituem de uma peça com banheiro.

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Fotografia 15 - Galpão com entulhos, um cachorro e muitos gansos que fugiram na hora da fotografia. Um garoto alimentava as galinhas e carregava esterco neste local, mas não quis ser fotografado. Bairro Alvorada.

Fotografia 16 - Casa do Bairro Getúlio 2, com a roupa na cerca. Os homens que estão na carroça pediram para serem fotografados com seu instrumento de trabalho: a carroça de fretes19.

Fotografia 17 - Casa em construção no Bairro Getúlio Vargas 3.

19

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Para os educandos que participaram deste projeto a Arte foi mediadora de conhecimento, gerou reflexão sobre o cotidiano de cada educando e apontou possibilidades de mudança. Eles foram buscar na comunidade onde vivem uma realidade que, apesar de ser a deles, não era observada com outro olhar que não o do cotidiano. Ver-se, ver o outro, ver sua casa, seu bairro por meio de uma lente fotográfica os fez perceber que, mesmo “feia”, esta realidade poderia ter beleza. Demonstraram o quanto haviam evoluído na sensibilidade estética e no conhecimento de sua realidade, vista por outro ângulo. E nas obras de arte que apreciaram, nas fotografias do Sebastião Salgado, eles puderam reconhecer-se.

Várias imagens diziam daquilo que se vê todos os dias, como a pobreza, o desemprego e as pessoas sem perspectivas de uma vida melhor. Comentários como “esse parece meu vizinho”, ou “essa casa parece a minha”, ou “meu pai também faz isto” indicaram a semelhança entre o cotidiano dos educandos e a realidade que ora se apresentava. Foi um olhar diferente, pois mesmo nas dificuldades cotidianas, que são muitas, foi possível perceber que há beleza e possibilidades de luta.

2.5 A arte contemporânea – uma ponte com a comunidade local

Este projeto originou-se na 4ª etapa do Ensino Médio, cujo foco também foi criado a partir das falas da pesquisa participante, já citada anteriormente. O foco foi “Reflexão e ação com inclusão”, e a fala que o desencadeou foi “Só tem conversa, só projeto”. Os educandos que participaram do projeto estavam se encaminhando para o final do Ensino Médio. Construíram conhecimento também em Arte, mesmo com a dificuldade de acesso ao mundo formal da mesma.

A opção pela Arte Contemporânea nesta etapa aconteceu porque os educandos vivem em um mundo contemporâneo e têm não só o direito como também o dever de conhecer o processo criador de seu tempo, as manifestações da Arte que existem, bem como, os

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artistas e os espaços. Isto para que possam tornar-se sujeitos sensíveis e de apurado senso estético. No primeiro momento o projeto foi exposto à turma para apreciação e concordância ou não da realização do mesmo. Uma vez aprovado, iniciou-se com os educandos a leitura de diversos textos sobre o assunto. Na semana seguinte os mesmos vieram “armados” de argumentos para desistirem do projeto, pois acreditavam ser muito difícil. Ao explicar novamente como este funcionaria houve o entendimento da proposta e com ela o consentimento para sua realização.

Começou-se a estudar as mais diversas manifestações da Arte Contemporânea e seus significados: assemblages, ready-made, object trouvé, performance, happenings, instalações, interferência urbana, land art, body art, dentre outros. Para cada conceito uma imagem de um artista: performance de Joseph Beys; instalações de Tunga; móbiles de Alexandre Calder; assemblages de Arthur Bispo do Rosário; esculturas de Lygia Clark; bólides de Hélio Oiticicae outros. Buscou-se enfatizar as produções da Arte Brasileira. As imagens acessíveis foram vistas e revistas, discutidas e refletidas. À medida que aconteciam as apreciações, os educandos questionavam algumas obras quanto à sua validade artística ou não.

Para refletir sobre os questionamentos, estudou-se um texto de Ferreira Gullar no qual o autor afirma que “a arte não nasceu pronta, não foi presente dos deuses aos homens. Ela é produto do trabalho humano, da imaginação e do fazer, da mente e da mão”20. As respostas aos questionamentos foram sendo construídas ao longo de todo o processo de criação. Os educandos pesquisaram as especificidades da Arte Contemporânea. Descobriram a efemeridade, a diversidade de materiais, de linguagens, os diferentes suportes ou a ausência destes, o uso de objetos industriais e muito mais. Não foi fácil despir-se do conceito de Arte que se conhecia até então e reorganizá-lo. Após reflexões e discussões sobre Arte, seguiu-se pensando sobre o contexto dos próprios educandos, no sentido de como incluí-los socialmente a partir da Arte. Em grupos, os educandos escolheram assuntos polêmicos relacionados ao seu cotidiano, discutiram e escreveram sobre os mesmos. Dentre os temas escolhidos pôde destacar-se a “Prostituição”, o “Casamento”, “A evolução tecnológica da Internet”, “Drogas”, ”A natureza pede socorro”, “Pornografia na Televisão”, “A nossa versão de sociedade”, “Uma bomba social”. Em seguida cada grupo elaborou um projeto de criação a partir do assunto escolhido, no qual

20

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serviu-lhes de instrumento para que pudessem externar suas preocupações, medos e inseguranças. Ou seja, a partir da linguagem visual, ao mesmo tempo em que conheciam e compreendiam a Arte de seu tempo, utilizavam sua capacidade criativa e criadora. Foram várias semanas de trabalho e a maioria dos educandos envolveu-se. Na informalidade, durante o processo criativo, as discussões sobre Arte tomaram corpo e enriqueceram e, na interação de educandos e educador, construiu-se o conhecimento que se almejava.

O projeto como um todo foi muito compensador, pois houve envolvimento por parte de todos e a produção de conhecimento foi satisfatória. Por fim discutiu-se Arte Contemporânea com os educandos que construíram argumentos sólidos para sustentar a discussão. Assim, a Arte tornou-se parte integrante de suas vidas.

2.5.1 Documentação: textos escritos pelos educandos sobre o projeto e respectivas fotografias

Para os educandos do Ensino Médio noturno tornou-se natural escrever sobre sua prática e explorar, na forma de textos, os assuntos tratados em sala de aula. Surgiram novas possibilidades de abordagem de outros assuntos por parte dos educandos, e isto se deu através das reflexões e discussões geradas a partir do trabalho.

Abaixo serão transcritos alguns textos escritos pelos educandos durante o processo do projeto acima citado, bem como as fotografias relacionadas aos mesmos. Por vezes, cada um do grupo escreveu um texto individual. Colocou-se primeiro o nome dos componentes do grupo, e, posteriormente, os textos individuais. Os textos estão transcritos, mais uma vez, sem alterações.

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Fotografias 18 e 19 - A “Bomba Social” se constitui de uma caixa fechada com a inscrição “abra” em cima. Ao abri-la, uma caixa com recortes de cenas de violência e espelhos em volta para que todos pudessem se ver refletidos nas situações de violência.

Criação 1:

- Componentes: 4 educandos - Título do Projeto: Bomba Social

- Intenção: fabricar uma bomba que represente um dos maiores problemas da sociedade, a violência que começa dentro de casa e vai para as ruas e se transforma numa bola de neve sem fim.

- Argumento: de fazer as pessoas pararem e pensarem nesta realidade, de se chocarem e notarem que a situação é grave mesmo. Será que ainda poderemos mudar esta realidade?

Texto 1

“Um dos problemas que mais afligem os seres humanos na atualidade sem dúvida alguma é a violência, esta por sua vez abrange vários aspectos de nossa sociedade, indo desde a família até os mais váriados segmentos da vida. Podemos enfocar a violência verbal, física e também moral.

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chamados brigas.

A violência em si origina-se no seio da família, onde os filhos crescem debaixo de agressões físicas e verbais de modo que seu crescimento e conduta são afetados por todo esse clima negativo, gerando na criança a revolta, a inferioridade, que na adolescência começa a ser e muitas vezes sem limite, aí começa a violência.

O bairro onde moro é formado por uma boa parte de pessoas cristãs que receberam e passam para os filhos os ensinamentos de Deus entre os quais cito o amor e o perdão o que anula a violência.”

Texto 2

“A violência é um dos maiores problemas sociais que existe na sociedade como um todo.

Ela está presente em todos os lugares, dentro de casa, na rua, na escola, no bairro e assim por diante.

No bairro onde moro a violência não é muito forte como alguns anos atrás foi, está que acabou dando a fama de bairro violento.

Mas atualmente é mais calmo, lógico que há brigas, assaltos, mas não muito freqüentes. É bom de se conviver, mas como em todo o lugar há violência, o Alvorada não é diferente.

Acabamos nos acustumando e não tomamos atitudes para melhorar, acomodamos-nos muito e a violência só aumenta.

Na luta contra a violência Você faz a sua parte

Faço a minha, assim poderá ser possível passioná-la.”

Texto 3

“A violência esta cada veis mais presente em nossa sociedade, e não adianta mais tentar esconder, por que a cada dia que passa ela aumenta mais nas escolas, nas ruas, nos bairros.

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No meu bairro havia muita violência até um tempo atráz, hoje não é muito mas tem, roubos, assaltos, briga nas ruas quase sempre pessoas alcoólicas.

Eu acho que a principal causa dos roubos e assaltos é a falta de emprego na nossa cidade, tem famílias com vários filhos o pai e a mãe desempregado passando fome, o últi alternativo é roubar, assaltar. Tem os vadios que roubam para comprar drogas, bebidas, etc...”

Criação 2: - Componentes: 4

- Título do Projeto: Casamento

- Intenção: Nossa intenção é mostrar que o casamento hoje não é mais tradicional, já não tem mais o objetivo de união para se ter filhos. O casamento hoje não é mais aquele onde o pai sustenta sua família, mãe que cuida do marido, da casa e da educação das crianças. A mudança de costume permitiu que à crianças educadas só pelo pai, só pela mãe (mãe e pai solteiros). Sendo comum a união (casamento) entre homossexuais e que seus filhos tenham direito a casa, educação, alimentação, valores comuns em qualquer outra união.

- Argumento: Hoje em dia a gente houve muito falar e viver o casamento.

Um olhar uma paixão, nasce o amor apartir daí, começa o namoro e, juntos decidem unir-se, casam, juntos partilharão as alegrais, as dificuldades do dia a-dia, compreender a pessoa amada.

Fotografias 20 e 21 - Dois lados da instalação “Casamento”, uma armação de madeira com colagens de fotografias de casamentos.

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mais é o mesmo. E também há os casamentos que com um certo tempo vão perdendo o seu brilho, mas a um dos dois que é persistente e faz com que esse mesmo se renove, mas na verdade o que permaneci são os filhos.

Talvez algum dia, pessoas mais experientes, venham nós dizer que há casamentos perfeitos.

Hoje a maioria das pessoas não tem mais aquela compreensão com a outra, por qualquer coisa faz crítica, só encherga os defeitos, sem o mínimo respeito, deixa que o orgulho a falta de humanidade e dão um fim aquilo que começou tão bonito sem defeito e com tanto amor, ficando, restando dessa união que foi um dia, os filhos.”

- Montagem: comesarmos montando os casamentos tradicionais, depois as novas formas de união de hoje e as conseqüências dessas uniões, através da montagem de um labirinto. Com recortes, de vários veículos de comunicação.

Com jornais, madeira, papelão, etc.

- Manifestações da arte contempladas na criação: arte pôvera, assemblages e ready mades.

Texto 1

“O casamento deixou de ser uma união duradoura, onde um homem e uma mulher se uniam por amor, para terem filhos e formarem uma família.

Hoje o casamento é apenas um contrato, sem amor, sem objetivo. E os casais que ainda se unem não se esforçam par preservar o casamento, não respeitam mais o juramento feito na frente o padre e do juiz, não respeitam mais a palavra ‘família’. E na primeira dificuldade a única saída que procuram é a separação.

São poucos os casais que realmente levam a sério o casamento. Que procuram se espelhar nos avós, pais e realmente se unem com o objetivo de constituírem uma família.”

Texto 2

“Entre um casal homem e mulher, depois do casamento não é mais o mesmo relacionamento de quando eram noivos ou namorados, um tem que respeitar o espaço do

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outro pasam a dividir praticamente tudo, ai que começa alguns atritos, no casamento há momentos bons, e momentos ruins, momentos em que o casal enfrenta dificuldades muitos não percistem e acabam separando como nos tempos atuais.

Hoje o casamento está muito mudado não pe mais como antigamente, não há mais o respeito e a fidelidade em muitos casais, o casamento é uma coisa tão bonita acho que devia ser uma coisa zelada e muito respeitada e vivida com muito respeito e entendimento e principalmente com muito amor, amor em 1º lugar sem amor nem um casamento vai bem.”

Texto 3

“Conceito sobre casamento

Podemos notar que com o passar do tempo o casamento se torna cada vez mais natural entre as pessoas, e com ele também o divórcio. Antigamente a união era feita através de anos de noivado com namoro em cãs e após isso ocorria o matrimônio onde seria para toda a vida.

Nos dias de hoje o casamento não é levado tão a sério, existe a união entre dosai homens, e também duas mulheres.

Devíamos rever o conceito sobre casamento pois ele está acontecendo sem amor, respeito sendo uma união somente por interesse onde os maiores prejudicados são os filhos.”

Texto 4

“Quando duas pessoas se conhecem, apaixonam-se, começa a curtição, o namoro, a sair, ... num determinado tempo, à entre elas um diálogo, como à coisas em comum, daí vem a decisão de conviverem juntos, de formarem uma família, que assem chamamos de casamento.

Mas não é só trabalhar para manter o seu dia-a-dia. No meu ponto de vista, o casamento tem que haver uma estrutura para se manter, como numa construção se começa pelo alicerse. No casamento é preciso de uma base para erguelo, que é formado de respeito, carinho, compreensão, entendimento, diálogo, amor, e em todas as horas, de alegrias e de dificuldades.

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Quando decidem ter frutos dessa união, é por que já estão prontos à ter uma responsabilidade maior do que o compromisso que os uniu, ‘filhos não é só para os momentos e sim para o resto da vida’.

Então o casamento é bom, mas você tem que estar preparado para vivelo, não será mais só você, e sim você e ele, mais tarde serão uma família. É muito gratificante poder dizer: -Eu estou feliz, pó que tenho ao meu lado uma pessoa que amo e que me ama, me compreende... Claro que não há só momentos bons, há momentos de dificuldades também, mas faz parte, você cresce, aprende, e principalmente que tenha claro em você, que quer viver em família, vão haver momentos que tem que tomar decisões, e não mais dependerá só de você, mas também de seu companheiro.”

Criação 3: - Componentes: 3

- Título do Projeto: Pornografia na Televisão

- Intenção: É mostrar que a pornografia esta muito solto na televisão, você pode mudar de canal e sempre vai ter uma cena de pornografia. É que tempos atráz não tinha cenas de pornografia, ter tinha, mas não era tanto assim como agora pois tudo tinha limite hoje não tem limite nos programas, não existe moderação pois os programas não tem horário para ser exibido pois nem ligam se tem criança assistindo e o exibem no horário nobre.

Referências

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