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Produtor rural, empresa agrícola ou Holding: qual a melhor modalidade jurídica para o agricultor?

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

LEANDRO RITTEL

PRODUTOR RURAL, EMPRESA AGRÍCOLA OU HOLDING: QUAL A MELHOR MODALIDADE JURÍDICA PARA O AGRICULTOR?

Ijuí (RS) 2020

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LEANDRO RITTEL

PRODUTOR RURAL, EMPRESA AGRÍCOLA OU HOLDING: QUAL A MELHOR MODALIDADE JURÍDICA PARA O AGRICULTOR?

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador (a): MSc Etiane da Silva Barbi Köhler

Ijuí (RS) 2020

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada, em especial ao meu pai Leomar Rittel (in memoriam) que me ensinou que somente

com persistência, trabalho duro e

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por estar sempre guiando meus passos, me dando forças para vencer todas as dificuldades da vida.

À Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI), pelo comprometimento com o ensino, a pesquisa e com o desenvolvimento regional.

Ao Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais, professores e funcionários, pelo apoio e disponibilidade, que se fizeram úteis e indispensáveis ao desenvolvimento das atividades realizadas durante o curso.

À professora MSc Etiane da Silva Barbi Köhler, pela paciência, clareza e dedicação em seus ensinamentos sempre disposta a atender minhas necessidades e dúvidas e por me orientar neste trabalho de conclusão de curso.

Aos demais professores que participaram do processo de minha formação acadêmica.

Aos meus pais, por terem me proporcionado cursar um ensino de nível superior pela segunda vez e por terem acreditado que seu filho alcançaria seus objetivos.

E a todos os meus colegas e amigos tanto do Direito, quanto de outros cursos, que de uma forma ou de outra me ajudaram no decorrer da faculdade.

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“Procure ser um homem de valor, não um homem de sucesso” Albert Einsten

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O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise das modalidades jurídicas passíveis de serem adotadas pelos agricultores na organização de sua atividade, quais sejam, produtor rural (CPF), empresa agrícola (CNPJ), ou holding familiar, a fim de propiciar uma investigação sobre os impactos tributários, previdenciários e patrimoniais de cada uma dessas modalidades. Analisa as vantagens e desvantagens de cada uma dessas alternativas e suas implicações. Aborda o planejamento tributário como forma de elisão fiscal e as consequências de cada opção. Estuda as implicações previdenciárias para o agricultor, em caso de deixar de ser segurado especial, como produtor rural. Investiga as consequências e possibilidades patrimoniais que envolvem essas modalidades jurídicas, tais como as implicações sucessórias e possibilidade de recuperação judicial. Faz uma análise da legislação vigente e tece considerações sobre as mesmas. Finaliza concluindo que a modalidade ideal para o agricultor depende de uma série de fatores, tais como, o faturamento anual, o patrimônio envolvido e o número de pessoas da família envolvidos na atividade.

Palavras-Chave: Agricultor, Organização da Atividade Agrícola, Produtor Rural, Empresa Agrícola, Holding Familiar.

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The present course conclusion paper analyzes the legal modalities that can be adopted by farmers, whether if they are, farmers without a registered company, agricultural company, or family holding company, in order to provide an investigation on tax impacts, social security and assets of each of these modalities. It analyzes the advantages and disadvantages of these alternatives and their implications. It addresses tax planning as a form of tax avoidance and the consequences of each option. It studies the social security implications for the farmer, in case he ceases to be a special insured, as a rural producer. It investigates the consequences and patrimonial possibilities that involve these legal modalities, such as the succession implications and possibility of judicial recovery. It makes an analysis of the current legislation and makes considerations about them. He concludes by concluding that the ideal modality for the farmer depends on a series of factors, such as the annual turnover, the equity involved and the number of family members involved in the activity.

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INTRODUÇÃO ... 8

1 ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA AGRICULTURA ... 10

1.1 Planejamento tributário na atividade rural ... 11

1.2 Tributação na agricultura ... 13

1.3 Tributação da Holding ... 17

2 HIPÓTESES DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA DO AGRICULTOR ... 25

2.1 Produtor rural segurado especial ... 25

2.1.1 Desenquadramento como segurado especial ... 26

2.1.2 Não descaracterização da condição de segurado especial ... 27

2.1.3 Deveres do segurado especial ... 28

2.2 Produtor rural pessoa física - Contribuinte individual ... 29

2.3 Produtor Rural Pessoa Jurídica ... 31

2.4 Cotista de holding ... 32

3 PROTEÇÃO E TRANSMISSÃO PATRIMONIAL DO AGRICULTOR ... 33

3.1 A separação patrimonial ... 33

3.1.1 Produtor rural pessoa física ou empresário individual ... 34

3.1.2 Empresa individual de responsabilidade limitada, sociedades empresárias e holdings ... 34

3.1.3 Da desconsideração da personalidade jurídica ... 36

3.2 A possibilidade de pleitear recuperação judicial ... 37

3.3 A sucessão nos negócios agrícolas ... 39

3.3.1 Planejamento sucessório ... 39

3.3.2 Regime de Casamento e direito dos cônjuges no divórcio e na sucessão ... 41

3.3.3 Sucessão legítima e testamentária ... 46

3.3.4 A holding familiar como estratégia sucessória ... 47

3.3.5 Cláusulas restritivas da doação ... 50

CONCLUSÃO ... 53

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca das modalidades jurídicas que podem ser adotadas pelo agricultor na organização da sua atividade, a fim de explicitar as vantagens e desvantagens de cada uma, visando prover subsídios na tomada de decisão por uma, ou outra modalidade. Essa busca é necessária face à ambiguidade do produtor rural, que apesar de ter estrutura física, de capital, pessoas, insumos, et cetera, como qualquer empresa, opera, em sua maioria, como uma pessoa física.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando também a legislação vigente, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo do produtor rural, empresa agrícola e holding familiar, em seus aspectos tributários, previdenciários e patrimoniais.

Inicialmente, no primeiro capítulo, foi feita uma abordagem das questões tributárias atinentes a cada uma das modalidades jurídicas apontadas, explicitando quais tributos incidem em cada uma dela, quais suas alíquotas e o regramento delas de acordo com o porte, faturamento, entre outros fatores

No segundo capítulo são analisados os aspectos previdenciários e as implicações de se manter como pessoa física segurado especial, o que deve ser feito caso perca essa qualidade ou se torne um contribuinte individual para a Previdência Social, e os requisitos para que o agricultor consiga se aposentar com sucesso ao final de sua carreira, independente do caminho escolhido.

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Por fim, no terceiro capítulo foi abordado sobre as questões patrimoniais relativas à atividade agrícola, desde a possibilidade de separação do patrimônio do sócio, empresário rural, do patrimônio da empresa, em caso de abertura da mesma, custos de transmissão sucessória em cada modalidade, até a distribuição e redistribuição de quotas de uma holding familiar em caso de falecimento de algum membro da família.

A partir desse estudo se verifica que a empresa agrícola e a holding familiar se apresentam como alternativas viáveis e seguras para a atividade agrícola, desde que observados critérios objetivos e mensuráveis, como faturamento, volume patrimonial e número de pessoas envolvidas, para que o agricultor tenha uma carga tributária mais leve possível, garantindo a sua sustentabilidade e renda familiar, enquanto protege o patrimônio adquirido com o suor do seu trabalho de sol a sol.

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1 ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA AGRICULTURA

O agronegócio é um dos principais setores da economia brasileira, representando em torno de 23,5% do PIB do país em 2017 (MAPA, 2017). Dessa forma, estudar juridicamente as formas de viabilizar cada vez mais este setor, verificando as nuances de suas peculiaridades e as diferentes composições jurídicas a fim de facilitar a gestão estratégica do negócio agrícola e melhorar os seus resultados, se mostra de extrema importância.

O setor rural é composto pela agropecuária, extensão usada para designar de forma conjunta a agricultura e a pecuária. Na agricultura (comercial e subsistência), se destaca o plantio e na pecuária a criação de animais (pequeno, médio e grande porte).

Segundo Marion (2003, p. 22), “empresas rurais são aquelas que exploram a capacidade produtiva do solo através do cultivo da terra, da criação de animais e da transformação de determinados produtos agrícolas”.

Nesse sentido, é preciso unir direito e agronegócio, visando proporcionar segurança jurídica ao agricultor, tanto no âmbito das negociações como das relações interpessoais, da economia e tantas outras áreas que englobam o agronegócio.

De acordo com Alves e Colusso (2005, p. 3), a atividade rural possui duas formas jurídicas possíveis de exploração, sendo estas: através da pessoa física que é a pessoa natural, todo ser humano, indivíduo, cuja existência legal termina com a morte, sendo a mais comum; e, através da pessoa jurídica, que é o resultado da união de indivíduos que, por meio de um trato reconhecido por lei, formam uma nova pessoa, com personalidade distinta da de seus membros, podendo ter fins lucrativos, as empresas industriais, comerciais, entre outras, ou não, como as associações culturais, religiosas e outras.

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Neste primeiro capítulo, será analisada a questão tributária de cada uma dessas formas, perpassando a tradicional figura ambígua do produtor rural, que é, ao mesmo tempo, pessoa física, porém tem inscrição estadual e até emite nota fiscal.

1.1 Planejamento tributário na atividade rural

O tributo é uma obrigação do contribuinte para com o Estado na finalidade de financiar o ente público para o exercício de suas atribuições. De acordo com o artigo 3º do Código Tributário Nacional, “tributo é toda prestação pecuniária, compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.

Dessa forma, o tributo é uma obrigação para toda e qualquer pessoa, seja ela física, jurídica ou equiparada à jurídica. E, muitas vezes, o tributo é tido como o fator de maior onerosidade em um negócio. Por isso, é comum contribuintes querer pagar menos tributos. Para isso, há duas formas conhecidas: Elisão e Evasão Fiscal. Enquanto a Evasão Fiscal é o caminho ilegal para se diminuir o montante tributário a recolher, a Elisão Fiscal é realizada respeitando a legislação. O que deve ser buscado e incentivado é, assim, a elisão fiscal, ou seja, o contribuinte pode e deve buscar meios legais para reduzir a sua carga tributária.

Neste sentido, Elisão Fiscal é um procedimento utilizado pelo contribuinte antes da ocorrência do fato gerador, objetivando economia fiscal ou redução da carga tributária, pela escolha, entre diversos dispositivos e alternativas legais.

Para Gutirrez (2006, p. 73), a verdadeira elisão tributária é a que resulta de lacunas ou imperfeições da lei tributária. Por mais previdente que se demonstre o legislador, sempre existirão lacunas e fissuras no sistema tributário, das quais os contribuintes e seus assessores se aproveitam para, de forma criativa, escapar da tributação, moldando juridicamente os fatos com o intuito de serem tributados da forma mais benéfica possível, sem, no entanto, desnaturá-los a tal ponto que não mais

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produzam os efeitos econômicos ou possuam a utilidade negocial que incita à sua realização.

Segundo Lodi (2011, p. 86) a Elisão Fiscal representa uma economia de tributos lícita, permitida, e às vezes incentivada. Para tanto, seus atos devem ser anteriores ao fato gerador do tributo para não configurar fraude, devendo ser observada a lei, sem abusos, com amparo em provas indubitáveis.

A elisão fiscal não é muito conhecida, mas é um caminho legal para diminuir o peso da carga tributária para os contribuintes, principalmente na hora de se calcular o Imposto de Renda. Este cálculo geralmente é bastante complexo para a contribuinte pessoa física, que, na hora de juntar toda a documentação e preencher todos os formulários da declaração, pode, com frequência, ser tolhido por dúvidas, principalmente sobre o que deverá ou não, ser declarado. A fim de evitar erros e problemas futuros, na hora do preenchimento da Declaração do Imposto de Renda, os contribuintes optam pela contratação de contadores.

Uma maneira segura e eficiente de se estudar meios legais para reduzir a carga tributária que redunde em elisão fiscal é o planejamento tributário.

Dessa forma, o planejamento tributário é a ação ou omissão lícita, não simulada, anterior à ocorrência do fato gerador, que visa, direta ou indiretamente, à economia de tributos (CAMPOS, 1987, p. 25).

A empresa pode ser organizada de forma a evitar excesso de operações tributadas e, consequentemente, minimizar a ocorrência de fatos geradores para ela e perante a lei desnecessários, bem como funcionar por modalidades legais menos tributadas. Fica ao contribuinte a faculdade de escolha de seu planejamento tributário. Caron (apud Oliveira, 2015, p. 10).

Conforme ressalta Silva (2017, p. 126), o lucro contábil difere do lucro fiscal, pois para este último é necessário considerar os ajustes necessários a partir de adições, exclusões e compensações, levando-se em conta, por exemplo, as despesas

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relevantes que não são dedutíveis para a apuração do imposto de renda, por expressa vedação legal.

Dessa forma, todo estudo tributário merece uma avaliação minuciosa, levando em consideração todos os riscos, custos e benefícios envolvendo a adoção de alternativas que visem à redução da carga tributária da empresa. O principal ponto a ser observado é que o lucro contábil difere do lucro fiscal e, para encontrar este último, são necessários ajustes a partir de adições, exclusões e compensações. (SILVA, 2017, p. 126).

Através dessa ferramenta contábil, no âmbito do agronegócio, então, é possível definir até que ponto é viável desenvolver as atividades rurais como pessoa física e quando já é interessante constituir Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) para o exercício da atividade.

1.2 Tributação na agricultura

Muitas vezes, produtores rurais realizam suas atividades agropecuárias na pessoa física, acreditando que dessa forma terão uma menor carga tributária. Porém não há meios de se comprovar esta teoria, sem a realização de um planejamento tributário adequado. Talvez por ter as obrigações acessórias reduzidas ou pela menor dificuldade para a escrituração fiscal e cálculo dos tributos, a primeira opção para o desenvolvimento das atividades rurais é pela pessoa física, onde a maior parte da carga tributária recai no Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF).

A contribuição ao INSS pode ser feita por meio do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL), que é uma das contribuições feitas ao INSS que tem por fato gerador as vendas. Esta contribuição é recolhida mensal, única e exclusivamente para custear o sistema da seguridade social (saúde, amparo assistencial e previdência social).

Já a pessoa jurídica caracteriza-se como a unidade de pessoas naturais ou de patrimônio, que visa à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica

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como sujeito de direitos e obrigações; são três os seus requisitos: organização de pessoas ou de bens; licitude de seus propósitos ou fins; capacidade jurídica reconhecida por norma (DINIZ, 2007, p. 229).

O FUNRURAL incide diferentemente na pessoa física e jurídica. Para a primeira, a alíquota incidente é de 2,3% sobre o valor da venda, para a segunda, a alíquota é de 2,85% na venda e 2,3% na compra de pessoa física. Se a pessoa jurídica comprar de outra jurídica, não há incidência na entrada do FUNRURAL, pois recolhe a contribuição quem vende.

O Imposto Territorial Rural (ITR) é imposto que incide sobre a propriedade, o domínio útil ou a posse do imóvel localizado fora da zona urbana do município. É um imposto federal recolhido anualmente aos cofres públicos com base no valor de mercado da terra nua fornecido pelas prefeituras. Conforme esclarece a o Artigo 1º da Lei nº. 9.393, de 19 de Dezembro de 1996, “O ITR é de apuração anual, tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município, em 1º de janeiro de cada ano”.

Para as pessoas jurídicas que explorem atividade rural a tributação do imposto de renda obedece às mesmas regras de tributação do imposto de renda aplicáveis às demais pessoas jurídicas.

Conforme disposto pelo art. 406 do Regulamento do Imposto de Renda (RIR) de 1999, as pessoas jurídicas que explorem a atividade rural são tributadas de acordo com as mesmas regras que são aplicadas às demais pessoas jurídicas. Estas podem ser tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, sujeitando-se, inclusive, ao adicional do IR à alíquota de 10% (dez por cento) (SRF, 1998).

Por outro lado, para cumprir com o que determina a legislação federal, estadual e municipal as empresas (pessoas jurídicas) a partir do ano calendário de 1997, devem optar logo após a abertura (constituição) e a cada início do exercício fazer a devida opção da forma de tributação para o referido período. Algumas têm a

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obrigatoriedade, dependendo das situações descritas em leis federais, podendo por força de lei, mudar de um exercício para outro.

A escolha adequada do regime de tributação de uma empresa é fundamental para o sucesso da mesma. Uma empresa pode, na maioria das vezes, escolher qual o regime de tributação que melhor irá lhe atender, podendo ser: Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real.

A tributação feita pelo Simples Nacional, criado então pela Lei n° 9.317/96, é um sistema simplificado de recolhimento de tributos e contribuições federais que, mediante convênio, pode abranger os tributos devidos aos Estados e aos Municípios. Sua criação teve como objetivo a unificação da arrecadação dos tributos e contribuições devidos pelas micro e pequenas empresas brasileiras, nos âmbitos dos governos federal, estaduais e municipais.

Conforme o art. 3° da Lei Complementar n° 123/2006, que, atualmente, regula o instituto, as empresas devem:

a) Enquadrar-se na definição de microempresa ou de empresa de pequeno porte;

b) Honrar com os requisitos previstos na legislação; e c) Formalizar a opção pelo Simples Nacional.

Por outro lado, de acordo com o art. 13 da Lei n° 9.718, de novembro de 1998, para a empresa optar pelo lucro presumido é necessário cumprir os seguintes requisitos:

a) Tenha auferido no ano calendário anterior, uma receita total igual ou inferior ao limite de R$ 78.000.000,00 (setenta e oito milhões de reais) ou proporcional ao número de meses do período, quando inferior a 12 (doze) meses;

b) A escolha pela apuração no Lucro Presumido será definitiva no decorrer de todo ano calendário.

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c) A receita bruta auferida no ano anterior de acordo com o limite estabelecido será considerada segundo regime de competência ou caixa, observado o critério optado pela empresa.

No que diz respeito aos Impostos Federais no Lucro Presumido, o Decreto n° 3.000/99 dispõe:

a) Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ);

b) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); c) Programa de Integração Social (PIS);

d) Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS)

Estão obrigadas a optar pelo lucro real, conforme a Lei n° 9.718/98, art. 14, as empresas que se enquadrarem nas seguintes situações:

a) Tenha auferido no ano calendário anterior, uma receita total superior ao limite de R$ 78.000.000,00 (Setenta e oito milhões de reais) ou proporcional ao número de meses do período, quando inferior a 12 (doze) meses;

b) Aquelas empresas que estiverem obrigadas a se enquadrar no lucro Real; Que no decorrer do ano calendário, efetuarem pagamento mensal pelo regime de estimativa;

c) Caso as atividades sejam de instituições financeiras ou equiparadas;

d) Quando obtiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do exterior

e) As quais são beneficiárias de isenções ou reduções do Imposto de Renda; f) Aquelas que exercem atividades de factoring;

g) Que explorem as atividades de securitização de créditos imobiliários, financeiros e do agronegócio.

O Lucro Real é utilizado para grandes empresas com receitas totais acima de R$ 12.000.000,00 ou, sociedades por ações de capital aberto, atividades de bancos comerciais ou de investimentos e cooperativas de crédito e outras determinadas em lei. Com as Escriturações Contábeis, Regular e Deduções Legais (Balanços e

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Demonstrações) para a apuração dos Impostos devidos (por estimativa mensal, trimestral e a Apuração do Lucro ou Prejuízo anual). A Distribuição do Lucro aos sócios depende do resultado final.

1.3 Tributação da Holding

Uma holding pode ser definida, em linguagem simples, como uma empresa cuja finalidade básica é ter participação acionária – ações ou cotas – de outras empresas. A origem da expressão holding está no verbo do idioma inglês to hold, que significa manter, controlar ou guardar (OLIVEIRA, 2015, p. 7).

De maneira geral, os objetivos de uma empresa holding são:

• resguardar os interesses dos seus acionistas, através da atuação em várias empresas e negócios;

• agir como acionista principal das empresas afiliadas, podendo, inclusive, ter responsabilidade administrativa dos negócios;

• administrar o portfólio de investimentos do grupo empresarial;

• realizar serviços centralizados das empresas do grupo, atuando, nesse caso, como embrião de uma administração corporativa; e

• representar o grupo empresarial de forma estruturada e homogênea, principalmente com base na consolidação de um conjunto de políticas de atuação administrativa, as quais proporcionam uma personalidade para a empresa holding.

Segundo Lodi (2011, p. 1), o moderno conceito de holding é uma posição filosófica de uma atitude empresarial. Enquanto as empresas operadoras se preocupam com o mercado, tendências do cliente, concorrência, e outros problemas externos, a holding tem uma visão voltada para dentro. Seu interesse é a produtividade de suas empresas controladas ou coligadas, tendo como meta principal a rentabilidade. Os produtos das holdings são os investimentos, que podem ser em fábricas, prestações de serviços, grupos empresariais, aplicações financeiras, compra de ações, cadernetas de poupança, ou ainda, atividades rurais, o que é o objeto deste estudo.

De acordo com Oliveira (2015, p. 18) existem quatro tipos clássicos de holding:

a. Holding pura: é a praticada por grandes grupos e caracteriza, simplesmente, a participação acionária, mesmo minoritária, em outras empresas;

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b. Holding operacional: è a que, basicamente, desenvolve atividades operacionais, tais como a produção e comercialização de produtos;

c. Holding mista é a que desenvolve atividades operacionais (industrial ou comercial) e também realiza serviços, de planejamento estratégico, marketing, informática, recursos humanos, relações públicas, assistência jurídica, organização e métodos.

d. Holding híbrida é a utilizada em casos específicos, tais como em situações de estruturação operacional ou fiscal

No que tange ao planejamento fiscal e tributário a holding deve ter os seguintes objetivos:

• Redução de gastos com tributos;

• Redução de gastos em atividades operacionais e de apoio administrativo; e

• Simplificação nas relações, tanto societárias quanto com órgãos públicos.

A partir dessas considerações passaremos a analisar as questões tributárias envolvidas no processo de constituição de uma holding familiar, tratando os aspectos críticos do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação - ITCMD, Imposto de Transmissão Inter Vivos de Bens Imóveis - ITBI e imposto de renda, relacionados à transmissão de propriedades. A principal diferença entre o ITCMD e ITBI é que o primeiro se caracteriza pela transmissão não onerosa, ao contrário do segundo. Dessa forma uma mesma operação não pode representar fato gerador de dois tributos. Se a operação não for onerosa aplica-se o ITCMD, caso contrário incidirá o ITBI.

O ITCMD é um tributo de competência estadual, cujo fato gerador consiste na transmissão não onerosa de bens ou direitos, seja por ato inter vivos ou causa mortis. Está previsto no art. 155, inciso I, da Constituição Federal, que dispõe:

Art 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: I. Transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos. ...

§1º O imposto previsto no inciso I:

I. relativamente a bens imóveis e respectivos direitos, compete ao Estado da situação do bem ou ao Distrito Federal

II. relativamente à bens móveis, títulos e créditos, compete ao Estado onde se processar o inventário ou arrolamento, ou tiver domicílio o doador , ou ao Distrito Federal

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a) se o doador tiver domicílio ou residência no exterior;

b) se o de cujus possuía bens, era residente ou domiciliado ou teve o seu inventário processado no exterior.

É comum no planejamento patrimonial que os pais, após constituírem a sociedade holding optem pela doação de suas quotas aos herdeiros. Sobre esse ato incide o ITCMD, que pode representar elevados custos.

As alíquotas do ITCMD variam de 1 a 8% dependendo do estado. Para encontrar a alíquota aplicável ao caso particular, deve-se identificar o sujeito ativo do tributo, ou seja, qual é o Estado competente para instituir e cobrar imposto na hipótese específica.

Dessa forma a doação representa custo tributário de forma que caso realizada a transferência não onerosa das quotas da holding familiar como forma de adiantamento de herança legítima, o tributo será devido. Porém se for doada apenas a nua-propriedade, com manutenção do usufruto aos doadores, a base de cálculo será reduzida, representando dois terços do valor venal dos bens.

Por outro lado, o ITBI é um tributo de competência municipal, que tem como fato gerador a transmissão, inter vivos, por ato oneroso, de propriedade ou domínio útil de bens imóveis, estando previsto no art. 156, inciso II da Constituição Federal, que dispõe:

Art 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I. [...]

II. transmissão “intervivos”, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição. ...

§2º O imposto previsto no inciso II:

I. não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrentes de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil.

Dessa forma conclui-se que, na constituição de uma sociedade holding, a integralização do capital com bens imóveis constituirá ou não um fato gerador do ITBI,

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dependendo de sua atividade preponderante. Sendo ela de compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis, ou arrendamento mercantil, o ITBI é devido, caso contrário, não.

O conceito de atividade preponderante para os fins tributários está expressamente descrito no art. 37 do Código Tributário Nacional, conforme segue:

Art 37. O disposto no artigo anterior não se aplica quando a pessoa jurídica adquirente tenha como atividade preponderante a venda ou locação de propriedade imobiliária ou a cessão de direitos relativos à sua aquisição; §1º Considera-se caracterizada a atividade preponderante referida neste artigo quando mais de 50% (cinquenta por cento) da receita operacional da pessoa jurídica adquirente, nos 2 (dois) anos anteriores e nos 2 (dois anos) subsequentes à aquisição, decorrer de transações mencionadas neste artigo; §2º Se a pessoa jurídica adquirente iniciar suas atividades após à aquisição, ou menos de 2 (dois) anos antes dela, apurar-se-á a preponderância referida no parágrafo anterior levando em conta os 3 (três) primeiros anos seguintes à data da aquisição.

§3º Verificada a preponderância referida neste artigo, tornar-se-á devido o imposto, nos termos da lei vigente à data da aquisição, sobre o valor do bem ou direito nessa data.

Portanto a integralização de bens é imune ao ITBI, por expressa previsão constitucional, exceto se a atividade preponderante da empresa adquirente consistir na compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil. Porém o entendimento de que a imunidade estaria limitada ao valor de conferência dos bens, é controvérsia que pende de solução por parte do STF.

No planejamento patrimonial da holding é comum a ocorrência tanto do ITBI quanto do ITCMD. Na transmissão onerosa de patrimônio no momento da integralização de bens na sociedade, o fato é gerador de ITBI, ressalvada a imunidade constitucional supracitada. Caso posteriormente as quotas ou ações sejam doadas para os herdeiros, configura fato gerador de ITCMD.

Segundo Silva (2017, p. 144) ao contrário do que ocorre com o ITCMD e o ITBI, em que uma mesma ocorrência não pode constituir fato gerador para ambos, para o Imposto de Renda (IR) uma mesma operação pode representar a incidência de um desses dois tributos conjuntamente com o IR, adicionando custo e complexidade ao planejamento tributário.

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O IR tem como fato gerador a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica de renda. A condição primordial para a incidência desse imposto é que o bem seja transferido por valor superior ao que constar como custo de aquisição na declaração de IR do proprietário original, seja ele transmitente, doador, ou falecido, conforme Longo (2011).

Por outro lado, caso o bem seja transferido pelo mesmo valor que conste da declaração do IR original, não se cogita na incidência do imposto de renda, pois nesse caso não há qualquer aumento patrimonial verificado que justifique a tributação. Nas doações ou integralização de bens o contribuinte pode optar pelo valor constante da declaração ou pelo valor de mercado, devendo neste último caso pagar o IR incidente sobre essa diferença, conforme dispõe a Lei n° 9.249, de 1995:

Art 23. As pessoas físicas poderão transferir a pessoas jurídicas, a título de integralização de capital, bens e direitos pelo valor constante da respectiva declaração de bens ou pelo valor de mercado.

§1º Se a entrega for feita pelo valor constante da declaração de bens, as pessoas físicas deverão lançar nesta declaração as ações ou quotas subscritas pelo mesmo valor dos bens ou direitos transferidos, não se aplicando o disposto no art. 60 do Decreto-lei n. 1.598 de 26 de dezembro de 1977, e no art. 20, II, do Decreto-lei n. 2.065 de 26 de outubro de 1983. §2º Se a transferência não se fizer pelo valor constante da declaração de bens, a diferença maior será tributável como ganho de capital.

Portanto, somente haverá tributação de IR caso a transferência seja procedida por valor superior ao que consta na declaração de imposto de renda. Caso contrário, basta proceder a baixa do bem na declaração seguinte, lançando-se, em substituição e pelo mesmo valor, as ações ou quotas da pessoa jurídica em que o bem foi integralizado.

Conforme visto no item 1.2 deste capítulo, a pessoa jurídica pode optar por três tipos de regime: lucro real, lucro presumido e Simples Nacional. Entretanto, as sociedades holdings não podem optar pelo Simples Nacional, devido à vedação expressa contida na Lei Complementar n° 123/2006, especificamente no inc. VII, do § 4°, do art. 3°, que dispõe que não podem se beneficiar do tratamento jurídico diferenciado da lei as pessoas jurídicas que participem do capital de outra pessoa

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jurídica. Dessa forma para uma holding pura ou mista esse regime de tributação não é permitido, restando apenas optar entre o lucro real ou lucro presumido.

A tributação de IRPJ pelo lucro real considera o lucro contábil da empresa ajustado pelas adições, exclusões e compensações requeridas pela legislação fiscal. Entretanto, para a apuração do lucro real é necessária uma contabilidade completa, detalhada e atualizada por parte da empresa, acarretando custos de conformidade adicionais, sendo muitas vezes inviável para empresas de pequeno porte.

Por outro lado há empresas que são obrigadas pela legislação a aderir a esta forma de apuração, conforme visto anteriormente, as que tenham auferido no ano calendário anterior, uma receita total superior ao limite de R$ 78.000.000,00 (Setenta e oito milhões de reais) ou proporcional ao número de meses do período, quando inferior a 12 (doze) meses, caso as atividades sejam de instituições financeiras ou equiparadas, que explorem as atividades de securitização de créditos imobiliários, financeiros e do agronegócio, por exemplo.

Em relação às alíquotas, o IRPJ com base no lucro real conta com uma alíquota básica e uma adicional. A alíquota básica é de 15% a ser calculada sobre o Lucro Real (Lucro Contábil + Adições – Exclusões – Compensação). Porém, caso o lucro real ultrapasse a quantia de 240 mil reais no ano, 60 mil no trimestre ou 20 mil reais ao mês, conforme a forma de apuração, incidirá uma alíquota adicional de 10% sobre o montante que superar esses patamares.

Não estando obrigada à forma de apuração pelo lucro real, a empresa pode optar pelo lucro presumido, cujo cálculo é simplificado e as exigências contábeis não são tão formais. Para fins tributários a escrituração de livro-caixa é o suficiente para o cumprimento das exigências legais.

Basicamente o lucro presumido é calculado pela aplicação de um percentual definido em lei sobre o total de receitas relacionadas às atividades da empresa. Caso a empresa aufira receitas não relacionadas às suas atividades operacionais contidas no seu objeto social, como ganhos de capital, rendimentos de aplicações financeiras,

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aluguéis de bens imóveis, e isso não for objeto social da empresa, os valores devem ser adicionados ao lucro presumido, para que somente então, o imposto devido seja calculado (SILVA, 2017, p. 157).

As alíquotas básica e adicional são as mesmas do lucro real (10 e 15%, respectivamente). O que difere é que para auferir a base de cálculo do IRPJ, é presumido um percentual de lucro de acordo com as atividades exercidas pela empresa. Por exemplo, para as atividades em geral este percentual é de 8% e para os serviços em geral, de 32% aplicado sobre a receita bruta da atividade em questão. Dessa forma, tem-se: Lucro Presumido = Receita Bruta X Percentual de Presunção + Ganhos de Capital + Demais receitas e rendimentos. Sobre esta base que são aplicadas as alíquotas básica e adicional.

Outro tributo que incide nas atividades da holding é a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Ela possui uma sistemática bastante semelhante ao IR, inclusive quanto às suas formas de apuração. Assim como o IR, a base de cálculo da CSLL é o valor do resultado do exercício antes da provisão para o IR, o resultado presumido ou arbitrado da pessoa jurídica no período de apuração.

Dessa forma, a sistemática de apuração depende da opção em relação ao IR, pois caso a empresa opte ou esteja obrigada à apuração pelo lucro real, a CSLL é calculada com base no resultado ajustado de adições, exclusões e compensações. Caso escolha o lucro presumido, a apuração será realizada considerando a base presumida. No caso de uma empresa holding a alíquota será 9%, independente da atividade desenvolvida pela mesma.

Por fim, incide ainda sobre a holding PIS e Cofins. Existem dois regimes de tributação dos mesmos: o regime cumulativo e o regime não cumulativo. O primeiro é aplicado às empresas tributadas pelo lucro presumido, e o segundo para aquelas tributadas pelo lucro real.

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No regime cumulativo, a alíquota do PIS é 0,65% e da Cofins 3%. Já no regime não cumulativo a alíquota do PIS é 1,65% e a Cofins 7,6%, com uma série de inclusões e exclusões determinadas em lei.

Diante do exposto, em relação aos aspectos tributários das modalidades jurídicas para a atividade rural, cabe destacar que no caso concreto é indispensável uma avaliação criteriosa quanto ao nível de faturamento, capacidade operacional, e os custos envolvidos, tanto para a apuração dos resultados e escriturações necessárias, quanto tributários propriamente ditos.

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2 HIPÓTESES DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA DO AGRICULTOR

Outro importante aspecto a respeito da atividade agrícola, seja com relação a produtores rurais pessoas físicas, empresas agrícolas ou holdings, diz respeito à aposentadoria pela Previdência Social.

O senso comum entre a maioria dos produtores rurais pessoa física é de que, para poder se aposentar, é necessário apenas comprovar a sua atividade agrícola, através de pelo menos uma nota de produtor rural com operação de venda ao ano.

Entretanto, essa regra não se aplica a todos os casos, pois existem fatores que podem fazer com que o agricultor perca sua condição de segurado especial, necessitando contribuir mensalmente com a Previdência, caso deseje no futuro, se aposentar.

Neste segundo capítulo serão analisadas as modalidades previdenciárias às quais o agricultor está sujeito, devido sua opção própria, ou as circunstâncias de sua propriedade e natureza da atividade desenvolvida.

2.1 Produtor rural segurado especial

Segundo a Secretaria da Receita Federal do Brasil (2014, p. 23), Segurado Especial é a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de:

a. Produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade:

1. Agropecuária em área de até 4 módulos fiscais;

2. De seringueiro ou extrativista vegetal que, de modo sustentável, atua na coleta e extração de recursos naturais renováveis, e faça dessas atividades o principal meio de vida;

b. Pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual ou principal meio de vida;

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c. Cônjuge, companheiro, filho maior de 16 anos de idade ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo.

Conforme visto acima, um dos requisitos para que o produtor rural seja considerado segurado especial é de que sua área não exceda quatro módulos fiscais. A determinação do tamanho do módulo fiscal é de competência municipal, variando no estado do Rio Grande do Sul, em média, de vinte a trinta e cinco hectares.

Tomando por exemplo um município onde o módulo fiscal seja de vinte hectares, caso a propriedade rural exceda oitenta hectares (quatro módulos fiscais) de área, o agricultor, por consequência, não se enquadrará como segurado especial.

Não obstante essa restrição de área, o grupo familiar também poderá utilizar-se de empregados contratados por prazo determinado ou de trabalhadores eventuais, em épocas de safra, à razão de, no máximo, 120 pessoas/dia no ano civil, em períodos corridos ou intercalados ou, ainda por tempo equivalente em horas de trabalho. Esta relação pessoas/dia significa que o segurado poderá contratar um empregado por até 120 dias dentro de um mesmo ano civil. Se contratar dois empregados, poderá mantê-los por até 60 dias. Se forem 4 empregados, por 30 dias, e assim por diante.

2.1.1 Desenquadramento como segurado especial

Para além das restrições de área e de mão de obra contratada, citados no item anterior, não se considera segurado especial (SRFB, 2014, p. 25):

1. O membro do grupo familiar que possui outra fonte de rendimento, qualquer que seja sua natureza, ressalvados os rendimentos provenientes de: a. Benefício de Pensão por morte, auxílio-acidente, auxílio-reclusão e pensão por morte, cujo valor não supere o menor benefício de prestação continuada;

b. Benefício previdenciário pela participação em plano de previdência complementar instituído por entidade classista a que seja associado, em razão da condição de trabalhador rural ou de produtor rural em regime de economia familiar;

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c. Exercício de atividade remunerada em período não superior a 120 (cento e vinte) dias, corridos ou intercalados, no ano civil, observado o disposto no § 13 do art. 12 da Lei nº 8.212/1991;

d. Exercício de mandato eletivo de dirigente sindical de organização da categoria de trabalhadores rurais;

e. Exercício de mandato de vereador do Município em que desenvolve a atividade rural ou de dirigente de cooperativa rural constituída, exclusivamente, por segurados especiais, observado o disposto no § 13 do art. 12 da Lei nº 8.212/1991;

f. Parceria ou meação outorgada na forma e condições estabelecidas no inciso I do § 9º do art 12 da Lei nº 8.212/1991;

g. Atividade artesanal desenvolvida com matéria prima produzida pelo respectivo grupo familiar, podendo ser utilizada matéria prima de outra origem, desde que a renda mensal obtida na atividade não exceda ao menor benefício de prestação continuada da Previdência Social;

h. Atividade artística, desde que em valor mensal inferior ao menor benefício de prestação continuada Previdência Social;

i. Contratos de arrendamentos, com registro ou reconhecimento de firma efetuados até 29/11/1999, data anterior à da publicação do Decreto nº 3.265, de 30/11/99, até o final do prazo estipulado em cláusula, exceto nos casos em que ficar comprovada a relação de emprego;

j. Contratos de parceria e meação efetuados até 22/11/2000, data anterior à publicação do Decreto nº 3.668, de 23/11/2000;

Dessa forma, caso qualquer membro do grupo familiar possuir outra fonte de rendimentos, que não as excetuadas acima, ele irá perder a condição de segurado especial, devendo contribuir para a Previdência, caso deseje obter benefícios relacionados a esta no futuro.

O exemplo mais comum é o caso da alínea “c”, supracitada. Muitas vezes, por opção própria, necessidade de renda complementar, ou mesmo imposição dos patriarcas da família, o agricultor acaba exercendo atividade remunerada por mais de cento e vinte dias no ano, o que ensejaria o seu desenquadramento como segurado especial.

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Algumas atividades são permitidas na pequena propriedade rural, sem que reste desconfigurada a condição de segurado especial do agricultor, conforme listado a seguir (SRFB, 2014, p. 27):

a) A outorga, por meio de contrato escrito de parceria, meação ou comodato, de até 50% (cinquenta por cento) de imóvel rural cuja área total não seja superior a 4 (quatro) módulos fiscais, desde que outorgante e outorgado continuem a exercer a respectiva atividade, individualmente ou em regime de economia familiar;

b) A exploração da atividade turística da propriedade rural, inclusive com hospedagem, por não mais de 120 (cento e vinte) dias no ano.

c) A participação em plano de previdência complementar instituído por entidade classista a que seja associado em razão da condição de trabalhador rural ou de produtor rural em regime de economia familiar;

d) Ser beneficiário ou fazer parte de grupo familiar que tem algum componente que seja beneficiário de programa assistencial oficial do governo;

e) A utilização pelo próprio grupo familiar, na exploração da atividade, de processo de beneficiamento ou industrialização artesanal, na forma do § 11 do art. 25 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991;

f) A associação em cooperativa agropecuária.

O descrito na alínea “b” por exemplo, permite que a propriedade rural tenha renda extra com atividade turística, desde que esta, não seja feita por mais de cento e vinte dias ao ano.

Temos vários exemplos aqui no Rio Grande do Sul onde isto ocorre, seja na Serra Gaúcha, ou mesmo aqui próximo, na Região das Missões, onde o turismo rural se apresenta como alternativa de geração de renda para as propriedades rurais.

2.1.3 Deveres do segurado especial

De acordo com a Secretaria da Receita Federal do Brasil (2014, p. 29) o segurado especial:

1. Deve fazer sua inscrição e a de seu respectivo grupo familiar nas Agências da Previdência Social, nas Unidades de Atendimento da Previdenciária Social ou nos serviços disponibilizados aos usuários.

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2. Guardar os documentos que comprovem o exercício da atividade rural para apresentá-los por ocasião do requerimento de benefício.

3. Efetuar sua matrícula no Cadastro Específico do INSS – CEI.

Apenas tomando as providências elencadas acima e se atendo as restrições de área, mão de obra contratada, e fontes de renda alternativa, é que o produtor rural pessoa física conseguirá manter a sua condição de segurado especial, dispensando-o da necessidade de cdispensando-ontribuições individuais para a cdispensando-oncessãdispensando-o ddispensando-o benefícidispensando-o de aposentadoria, no futuro.

2.2 Produtor rural pessoa física - Contribuinte individual

O produtor rural pessoa física – contribuinte individual é aquele, proprietário ou não, que desenvolve em área urbana ou rural a atividade agropecuária (agrícola, pastoril ou hortifrutigranjeira), a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4 (quatro) módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 (quatro) módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos.

Assim, filia-se ao Regime Geral de Previdência Social – RGPS, na qualidade de contribuinte individual (SRFB, 2014, p. 37):

a. Quando exerce atividade rural diretamente ou por intermédio de prepostos, com auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua;

b. Quando exerce a atividade rural através de prepostos, com ou sem empregados ou em área superior a quatro módulos fiscais, ainda que sem empregados;

c. Quando, como pescador, exerce atividade pesqueira trabalhando em regime de parceria, meação ou arrendamento, em embarcação com mais de 6 (seis) toneladas de arqueação bruta, na condição, exclusivamente, de parceiro outorgante;

d. Quando, como marisqueiro, sem utilizar embarcação pesqueira, exerce atividade de captura dos elementos animais ou vegetais com auxílio de empregados;

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Conforme visto acima, também se enquadram nessa modalidade os produtores rurais que se desenquadraram como segurados especiais, por quaisquer das razões expostas no item anterior.

O produtor rural contribuinte individual deve fazer sua inscrição nas Agências da Previdência Social, nas Unidades de Atendimento da Previdenciária Social ou nos serviços disponibilizados aos usuários, ou recolher sua contribuição pessoal através do número do PIS/PASEP, o que formalizará automaticamente a inscrição. Deve também efetuar a matrícula no Cadastro Específico do INSS – CEI.

Outro aspecto extremamente importante é o período de carência. Conforme disposto na Lei n° 8.213, de 1991, em seus artigos 24 e 25:

Art. 24. Período de carência é o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências.

Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:

I - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: 12 (doze) contribuições mensais;

II - aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial: 180 contribuições mensais. (Redação dada pela Lei nº 8.870, de 1994)

III - salário-maternidade para as seguradas de que tratam os incisos V e VII do caput do art. 11 e o art. 13 desta Lei: 10 (dez) contribuições mensais, respeitado o disposto no parágrafo único do art. 39 desta Lei; e (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)

IV - auxílio-reclusão: 24 (vinte e quatro) contribuições mensais. (Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019)

Parágrafo único. Em caso de parto antecipado, o período de carência a que se refere o inciso III será reduzido em número de contribuições equivalente ao número de meses em que o parto foi antecipado. (Incluído pela Lei nº 9.876, de 26.11.99)

Quem se filiou antes de 24 de julho de 1991, data da Lei n° 8.213, que trata dos benefícios previdenciários, deve obedecer a uma tabela progressiva de carência, que, a cada ano, aumenta seis meses. Para as pessoas que se inscreveram a partir de 24 de julho de 1991, a legislação exige 180 contribuições (15 anos), ininterruptas ou não, desde que não tenha havido perda da qualidade de segurado da Previdência Social.

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Qualidade de segurado é o período em que o trabalhador, mesmo sem contribuir para a Previdência Social, mantém o direito aos benefícios previdenciários. Esse período, entretanto, varia de acordo com as contribuições já pagas. Caso o segurado já tenha contribuído durante 10 anos, ele pode ficar sem recolher durante 12 meses. Se pagou por mais de 10 anos, o prazo aumenta para 24 meses, podendo ser prorrogado por mais 12, se o segurado desempregado comprovar essa situação por registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e Emprego.

Entretanto, se o trabalhador perdeu a qualidade de segurado, pode recuperá-la contribuindo durante mais cinco anos (60 contribuições), no mínimo. Na hora de solicitar o benefício, seja uma aposentadoria por tempo de contribuição, especial, de professor ou por idade, o segurado deve ter um número mínimo de contribuições para garantir o direito. No caso de aposentadoria por idade, essas contribuições (60 recolhimentos), somadas às anteriores (antes da perda da qualidade), devem totalizar, no mínimo, 180. Por exemplo, um segurado que trabalhou 8 anos (96 contribuições) antes de perder a qualidade de segurado, para ter direito ao benefício, deve contribuir por mais sete anos (os cinco anos mínimos para recuperar a qualidade de segurado, mais os dois anos necessários para completar as 180 contribuições).

2.3 Produtor Rural Pessoa Jurídica

O produtor rural pessoa jurídica deriva da empresa legalmente constituída que se dedica à atividade agropecuária ou pesqueira, em área urbana ou rural. O registro da pessoa jurídica é feito na Junta Comercial e a identificação perante o INSS é o número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ.

Quanto a seus contribuintes individuais (sócios e administradores, com remuneração), a inscrição deve ser efetuada nas Agências da Previdência Social, nas Unidades de Atendimento da Previdenciária Social, ou um de seus canais remotos de atendimento.

Se, além da atividade rural, a empresa agrícola explorar também outra atividade econômica autônoma, quer seja comercial, industrial ou de serviços, no

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mesmo ou em estabelecimento distinto, independentemente de qual seja a atividade preponderante, a pessoa jurídica deve contribuir com base na folha de pagamento dos segurados a seu serviço, para todas as suas atividades. A atividade econômica autônoma é a que não constitui parte de atividade econômica mais abrangente ou fase de processo produtivo mais complexo, e que seja exercida mediante estrutura operacional definida, em um ou mais estabelecimentos (SRFB, 2014, p. 51).

Quando o produtor rural pessoa jurídica, além da atividade rural, prestar serviços à terceiros em condições que não caracterizem atividade econômica autônoma, devem contribuir com base na folha de pagamento em relação aos segurados envolvidos nas prestações desses serviços.

2.4 Cotista de holding

Da mesma forma que o produtor rural pessoa jurídica, o cotista de holding, para assegurar o seu direito à Previdência Social deverá contribuir como contribuinte individual.

O pró-labore é obrigatório para sócios administradores, definido no Decreto n° 3.048/99 – Regulamento da Previdência Social.

O sócio administrador ou cotista, titular de empresa individual ou EIRELI, que trabalhar na sociedade, é classificado como “contribuinte obrigatório” da Previdência Social (Lei n° 8.212/91).

Sobre esta remuneração deve ser recolhido a contribuição previdenciária, de acordo com o regime fiscal adotado pela empresa.

Segundo o Decreto n° 3.048/99:

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:

a. o titular de firma individual urbana ou rural;

b. o diretor não empregado e o membro de conselho de administração na sociedade anônima;

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c. todos os sócios, nas sociedades em nome coletivo e de capital e indústria;

d. o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho e o administrador não empregado na sociedade por cotas de responsabilidade limitada, urbana ou rural.

Dessa forma, o cotista de holding, caso receba pró-labore, deve contribuir para a Previdência sobre o valor percebido, a fim de atender as exigências legais e assegurar a sua futura aposentadoria.

3 PROTEÇÃO E TRANSMISSÃO PATRIMONIAL DO AGRICULTOR

O patrimônio do agricultor, tanto pessoal, quanto da sua atividade, tradicionalmente, está sujeito aos riscos inerentes à agricultura. Isso faz com que, muitas vezes, os bens da unidade familiar tenham que responder por obrigações que foram contraídas visando a produção.

Isso traz enorme insegurança, tanto patrimonial, quanto jurídica, e, inclusive, de relacionamento entre as pessoas da família, quanto ao cumprimento dessas obrigações, colocando em risco tanto os bens particulares das pessoas físicas envolvidas nas atividades, quanto o próprio nome limpo na praça, sujeitando, por vezes, à inclusão de seu CPF em cadastros de inadimplentes, por falta de pagamento devido à frustrações de safra.

Os potenciais problemas acima citados vão além da questão patrimonial. Acarretam também desentendimentos familiares que podem se estender por toda uma vida, ou até mesmo, gerações.

Dessa forma, neste terceiro capítulo, passaremos a analisar os aspectos patrimoniais da atividade agrícola, em cada uma das modalidades jurídicas estudadas, a fim de poder indicar as vantagens e desvantagens de cada uma.

3.1 A separação patrimonial

Um aspecto importante a considerar na escolha da modalidade jurídica a ser adotada, é a limitação da responsabilidade dos sócios, a fim de proteger o seu patrimônio pessoal dos riscos envolvidos na atividade agrícola.

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De acordo com a modalidade jurídica adotada, essa limitação de responsabilidade sobre as obrigações advindas da atividade rural pode ocorrer. Porém, mesmo assim, essa separação patrimonial não é inviolável, podendo ser levantada em alguns casos, conforme veremos a seguir.

3.1.1 Produtor rural pessoa física ou empresário individual

O produtor rural, segurado especial ou não, na condição de pessoa física, apenas com inscrição estadual, não é considerado uma empresa constituída. Dessa forma, os bens particulares do agricultor se confundem com os do negócio agrícola, estando sujeitos aos riscos da atividade. O mesmo ocorre com o Empresário Individual, ou Microempresário Individual- MEI.

Segundo o Sebrae (2020) no caso do empresário individual, as dívidas contraídas podem ser garantidas também pelo patrimônio pessoal, sendo que o faturamento anual do MEI não pode ultrapassar R$ 81 mil por ano.

Dessa forma, o produtor rural pessoa física, ou mesmo com empresa constituída como Microempreendedor Individual – MEI, que contraia obrigações a fim de investir ou financiar os insumos para a produção, caso tenha frustrações de safra ou quebras de produtividade e não consiga honrar com seus compromissos, os seus bens particulares estarão sujeitos à penhora e às consequências delas advindas, tais como busca e apreensão de bens móveis, e leilão de seus bens imóveis.

Essa foi a motivação principal para a escrita do presente trabalho. Analisar as alternativas ao tradicional produtor rural pessoa física e as suas implicações práticas, visando mitigar a insegurança jurídica que assola a maioria dos agricultores.

3.1.2 Empresa individual de responsabilidade limitada, sociedades empresárias e holdings

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Uma das principais vantagens da EIRELI, das sociedades empresárias e da holding, é, justamente, a separação dos bens do instituidor/sócio(s), dos da empresa, estando uns resguardados dos riscos inerentes aos outros. Ou seja, com a constituição dessas entidades jurídicas, os bens da pessoa jurídica estão resguardados contra débitos do seu instituidor/sócio(s), e os bens do instituidor/sócio(s), protegidos contra os riscos da atividade empresarial.

Segundo o Sebrae (2020), EIRELI é a sigla de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, um modelo de empreendimento criado em 2011 com o objetivo de permitir a criação de pessoa jurídica a partir da iniciativa de uma única pessoa, eliminando a figura do sócio “fantasma” em sociedades limitadas criadas somente de fachada. Antes da criação deste tipo de empresa, uma prática comum entre os empresários era constituir uma sociedade empresária com um sócio fictício, apenas para garantir a separação do patrimônio do empresário e da empresa, e obter os demais benefícios de ter um CNPJ, como linhas de crédito e preços diferenciados etc.

A transformação da Sociedade Limitada em EIRELI é possível, sem que seja necessária sua dissolução, desde que apenas um dos sócios se torne titular da empresa e as regras sejam adequadas (incluindo o valor do capital social, alteração do nome e modificação dos documentos para o formato de ato constitutivo).

Nas sociedades empresárias e nas holdings, evidentemente, essa separação patrimonial também ocorre, para que os passivos de um sócio ou cotista não afetem o patrimônio da empresa, e vice-versa.

A limitação da responsabilidade é preceito destinado ao estímulo de atividades econômicas, e não pode servir para viabilizar ou acobertar práticas irregulares. A regra limitativa existe, por outras palavras, para socializar, entre agentes econômicos, os riscos de insucesso das empresas. Com efeito, qualquer negócio, por mais bem planejado e estruturado que seja, pode não dar certo. O desenvolvimento da empresa é fato humano, depende de escolhas de homens e mulheres, não inteiramente controláveis de modo racional. Depende da conjuntura econômica regional, nacional

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e planetária – esta última cada vez mais atuante, em vista da globalização em curso. Depende, em suma, de fatores que o empreendedor não pode antecipar com absoluta precisão (COELHO, 2015, p. 157).

Entretanto, em alguns casos, o patrimônio do instituidor/sócio(s) pode responder pelas obrigações da pessoa jurídica, como veremos a seguir.

3.1.3 Da desconsideração da personalidade jurídica

Apesar da EIRELI, sociedade empresarial e holding separarem o patrimônio particular do empresário rural do patrimônio da pessoa jurídica, essa condição não é absolutamente inviolável.

Segundo o Código Civil, a pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, instituidores ou administradores:

Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, instituidores ou administradores. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de estimular empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)

Por outro lado, o Código Civil Brasileiro, em seu art. 50, estabelece que em caso de abuso de personalidade jurídica caracterizado por desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, o juiz pode decidir, a requerimento de parte de demanda judicial ou do Ministério Público, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica:

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Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)

Ainda, o juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da pessoa jurídica quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

Através da desconsideração, o juiz pode deixar de aplicar as regras de separação patrimonial entre pessoa jurídica e instituidor/sócio(s), ignorando a existência da pessoa jurídica num caso concreto. Essa decisão judicial não desfaz o seu ato constitutivo, não o invalida, nem importa a dissolução dela, tratando-se apenas de uma suspensão episódica dos efeitos da personificação, produzindo consequências apenas no caso em julgamento.

Segundo Coelho (2015, p. 67), admite-se a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empresária para coibir atos aparentemente lícitos. A ilicitude se configura somente quando o ato deixa de ser imputado à pessoa jurídica da sociedade e passa a ser imputado à pessoa física responsável pela manipulação fraudulenta ou abusiva do princípio da autonomia patrimonial.

Dessa forma, para que a empresa agrícola ou holding não enseje a desconsideração da personalidade jurídica, o empresário rural ou cotista deve realizar uma gestão eficiente de seu negócio, sem dilapidar o patrimônio deste, transferindo-o para pesstransferindo-oa física. Esta última, aliás, é uma estratégia ilegal adtransferindo-otada ptransferindo-or empresários, ao perceber a iminente ruína de sua empresa. Essa transferência de patrimônio, em caso de insolvência da empresa pode configurar fraude contra credores, ou fraude de execução, se o processo já tiver instaurado.

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A recuperação judicial, instituída pela Lei n° 11.101, de 2005, objetiva viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira da empresa, mantendo o emprego dos trabalhadores e suprindo os interesses dos credores, conforme disposto no seu art. 47:

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

As EIRELIS, sociedades empresárias e holdings podem utilizar-se deste instituto, para garantir a sobrevivência do seu negócio, em caso de uma crise severa em sua atividade econômica.

Por outro lado, o produtor rural pessoa física, por não constituir empresa, não tem direito a esse benefício. Em caso de frustrações de safra e dificuldade de honrar seus compromissos, resta ao produtor, apenas, tentar renegociar suas dívidas com seus credores. Em casos extremos, resta ao produtor apenas pleitear a insolvência civil, segundo procedimento previsto no Código de Processo Civil.

Nesse sentido, está em tramitação o projeto de Lei n° 6.279/2013 que visa possibilitar ao produtor rural pessoa física a utilização do instituto da recuperação judicial, mesmo sem ter optado pelo regime empresarial, com inscrição na Junta Comercial.1

Caso aprovado, será um avanço significativo, pois a maioria dos produtores rurais não tem acesso à informação qualificada e estudos de viabilidade de constituição de empresas rurais holdings. Para outros, inclusive, essa opção nem é viável, devido aos registros e custos legais e administrativos inerentes.

1 A inscrição do produtor rural no registro civil de pessoas jurídicas deve ser anterior ao pedido de sua

recuperação judicial. Se o registro tiver caráter declaratório, não haverá problema nessa conduta, bastando que o produtor comprove que vinha exercendo sua atividade há pelo menos dois anos – ainda que na maior parte desse lapso temporal não estivesse inscrito como empresário. Por outro lado, se o registro ostentar caráter constitutivo, o produtor somente poderá lançar mão do pedido de recuperação judicial após dois anos contados do registro. O assunto é bastante controvertido e o STJ ainda não se pronunciou definitivamente sobre o tema.

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