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Causas e tratamento de partos distócicos em bovinos leiteiros nas pastagens de S. Miguel-Açores

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Academic year: 2021

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Causas e tratamento de partos distócicos em bovinos

leiteiros nas pastagens de S. Miguel-Açores

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Ciências Agrárias e Veterinárias

Natacha Sofia Teles Faria

Orientador: Professor Doutor João Simões Co-orientador: Dr. João Manuel Raposo Vidal

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Causas e tratamento de partos distócicos em bovinos

leiteiros nas pastagens de S. Miguel-Açores

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Ciências Agrárias e Veterinárias

Natacha Sofia Teles Faria

Professor Doutor João Simões Dr. João Manuel Raposo Vidal

Composição do júri:

Doutora Maria da Conceição Castro Fontes Doutora Ana Celeste Carvalho Bessa Doutor João Simões

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“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da

traves-sia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”

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Começo por agradecer aos meus pais, Julie e António, pelos pais maravilhosos que são, sem vocês nada disto teria sido possível ou teria o mesmo valor. Muito obrigada por todo o apoio, paciência e amor que sempre me deram. Sou o que sou graças a vocês!

À minha avozinha, Madalena, por todas as orações e preocupação, mas principalmente por todo o amor que me deu desde que nasci. Considero-me uma sortuda por ter tido duas mães e ter-te na minha vida! Muito obrigada, meu amor!

Ao professor Dr. João Simões, por ter aceitado desde logo ser meu orientador e acompa-nhar-me nesta última etapa da minha vida académica. Obrigada por toda a disponibilidade, boa disposição e tempo despendido em prol deste trabalho.

Ao Dr. João Vidal, pela amizade, disponibilidade, momentos divertidos e incontáveis risadas que partilhamos. Obrigada por todos os conhecimentos que me transmitiu sempre com a maior paciência e dedicação, sei que me tornarão melhor pessoa e profissional.

A todos os veterinários da Associação Agrícola de S. Miguel, que me ajudaram e parti-lharam comigo os seus conhecimentos e dia-a-dia. Em especial à Dra. Patrícia Medeiros, pelo seu companheirismo e personalidade inigualável. Obrigada por tudo o que me ensinou e por cada momento da sua vida que me permitiu partilhar consigo. Trago-a no coração!

Aos meus maravilhosos companheiros de estágio, Pedro, Maria e Sofia, que tornaram os meus dias nos melhores possíveis. Obrigada pela amizade, apoio e por tudo o que partilharam comigo. Sem vocês não seria a mesma coisa!

À Filomena e à Daniela pela simpatia e boa disposição com que me brindavam, pela ma-nhã, a cada novo dia de estágio.

À Anocas e a toda a família Pacheco, que me acolheram como se fosse da família e me ajudaram durante toda a minha estadia em S. Miguel. Muito obrigada pelo carinho!

À Filá, por ser uma pessoa única e por me ter apoiado num dos momentos mais difíceis da minha vida. Nunca me vou esquecer! Muito obrigada por tudo!

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v

conhecemos. Obrigada pela paciência e pelo apoio que sempre me deste!

À Rita, por ter sido uma irmã mais velha e me ter apoiado quando precisei. Não me es-queço disso, obrigada!

À Joana e à Raquel, por serem excelentes companheiras de casa e por todas as nossas “paragens de cérebro”, momentos culinários e lágrimas trocadas. Obrigada por serem assim!

À Tatá e à Kanuca, por terem sido uma agradável surpresa no final deste percurso. Gosto muito de vocês!

À Eva, por tudo o que passamos juntas, bons e maus momentos. Obrigada por teres esta-do sempre esta-do meu laesta-do e por todas aquelas gargalhadas que nos faziam esta-doer a barriga. Foste mais do que uma amiga, foste uma irmã!

A todos os amigos, que não preciso enumerar porque eles sabem quem são, que tive o prazer de conhecer e partilhar inúmeros momentos durante esta etapa da minha vida.

A todos os meus amigos de infância, que apesar da distância, sempre me apoiaram e de-monstraram o seu carinho. Levo-vos sempre comigo para onde quer que vá!

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vi

Os principais objetivos do presente estudo visaram caracterizar a frequência das causas dos diferentes tipos de distócia em vacas leiteiras e a eficiência do tratamento em explorações de S. Miguel - Açores, durante a estação de Outono - Inverno de 2012-2013. Foram assistidas em diferentes explorações, 121 vacas com distócia, das raças Holstein-Frísia (119) e Jersey (2), por nove médicos veterinários. Recolheu-se, de forma prospetiva, e para além dos diferentes tipos de distócia, informação sobre a paridade, problemas em partos anteriores, estado geral da parturien-te, número de fetos, viabilidade do feto ao nascimento e tratamento (extração vaginal após mani-pulação, cesariana ou extração vaginal após fetotomia) para cada um dos animais. As causas de distócias encontradas, neste estudo, foram: (1) torção uterina (24%; 29/121); (2) má-postura (20,7%; 25/121); (3) apresentação posterior (13,2%; 16/121); (4) dilatação cervical e vaginal incompleta (11,6%; 14/121); (5) desproporção feto-materna (9,9%; 12/121); (6) morte fetal (5,0%; 6/121); (7) inércia uterina secundária (4,1%; 5/121); (8) ausência de forças expulsivas abdominais (33%; 4/121); (9) inércia uterina primária (3,3%; 4/121); (10) monstros fetais (2,4%; 3/121); (11) posição lateral (1,7%; 2/121); e (12) apresentação transversa (0,8%; 1/121). Não foram observadas diferenças significativas na frequência do tipo de distócia entre vacas da 1ª, 2ª, 3ª, 4ª ou mais parições (28,9%, 21,5%, 19%, 30,6%, respetivamente; P>0,05). O estado geral dos animais foi considerado normal em 63,6% (77/121), ligeiramente afetado em 16,5% (20/121), afetado em 5,8% (7/121), muito afetado em 5,8% (7/121) e animal em decúbito em 8,3% (10/121; P<0,01) dos casos. O tratamento mais usado foi a extração vaginal após manipulação (76,9%). Cerca de 50% (P>0,05) dos fetos extraídos foram nado-vivos. Em conclusão, os resul-tados sugerem que o maneio da vaca parturiente, quer por parte do proprietário quer por parte do veterinário, parece ser, em termos globais, o adequado à realidade produtiva atual. Foi observada uma elevada proporção de torções uterinas nestes animais em pastoreio cujas causas e fatores de risco importa apurar.

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vii

The main aims of this study were to characterize the frequency of different types of caus-es of dystocia in dairy cows, and the efficiency of the treatment, in S. Miguel Island - Azorcaus-es, during Autumn - Winter 2012-2013. Nine veterinarians assisted, in different farms, 121 cows with dystocia; 119 Holstein-Friesians and 2 Jerseys. In addition to the different type of dystocia, information about parity, problems in previous deliveries, general health of the parturient, num-ber of fetuses, fetal viability at birth and treatment (vaginal extraction after manipulation, C-section or vaginal extraction after fetotomy) was collected for each animal referred above. The causes of dystocia observed in this study were: (1) uterine torsion (24%, 29/121); (2) malposture (20.7%, 25/121); (3) posterior presentation (13.2%, 16/121); (4) incomplete cervical and vaginal dilatation (11.6, 14/121); (5) fetopelvic disproportion (9.9%, 12/121); (6) fetal death (5.0%, 6/121); (7) secondary uterine inertia (4.1% , 5/121); (8) failure of abdominal expulsive forces (33%, 4/121); (9) primary uterine inertia (3.3%, 4/121); (10) fetal monsters (2.4%, 3/121); (11) lateral position ( 1.7%, 2/121) and (12) transverse presentation (0.8%, 1/121). No significant differences were found in the frequency of types of dystocia between the 1st, 2nd, 3rd, 4th or more calvings (28.9%, 21.5%, 19%, 30.6%, respectively, P>0.05). The general health of the an-imals was normal in 63.6% (77/121), slightly affected in 16.5% (20/121), affected in 5.8% (7/121), severely affected in 5.8 % (7/121) and in 8.3% (10/121, P <0.01) of the cases the ani-mals were in recumbency. The vaginal extraction after manipulative treatment (76.9%) was the most used treatment in this study. Approximately 50% (P> 0.05) of the fetuses were born alive. In conclusion, the results suggest that the management of the parturient cow, either by the farmer or by the veterinarian, seems to be in general, adequate to reality of current dairy production. In this study we observed a high proportion of uterine torsion so it’s important to determine its causes and risk factors.

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viii

Agradecimentos... iv

Resumo……….. vi

Abstract………... vii

Índice geral……… viii

Índice de tabelas……… xi

Índice de figuras……… xii

Lista de siglas e abreviaturas………. xiv

I- Introdução: As distócias nos bovinos………...………. 1

1. Introdução……… 1

2. Parto eutócico……….. 1

2.1. Características……… 1

2.2. Estática fetal………... 4

3. Incidência e fatores de risco de distócia………..……… 4

4. Identificação de um parto distócico……… 9

5. Causas de distócia – Etiologia, diagnóstico e tratamento………... 11

5.1. Causas maternas………. 14

5.1.1. Falha nas forças de expulsão………. 14

5.1.1.1. Inércia uterina primária……… 14

5.1.1.2. Inércia uterina secundária……… 15

5.1.1.3. Parto prematuro……… 16

5.1.1.3. Rotura uterina……….. 16

5.1.1.4. Torsão uterina……….. 17

5.1.1.5. Ausência de forças expulsivas abdominais……….. 23

5.1.2. Constrição do canal de parto………. 24

5.1.2.1. Constrição pélvica……… 24

5.1.2.2. Dilatação incompleta da cérvix……… 25

5.1.2.3. Dilatação vaginal incompleta………... 26

5.1.2.4. Dilatação incompleta da vulva………. 27

5.1.2.5. Deslocamento do útero gravídico………. 27

(9)

ix

5.2.2. Má-disposição fetal………... 29

5.2.2.1. Má-apresentação………... 30

5.2.2.2. Má-posição………... 31

5.2.2.3. Má-postura………... 32

5.2.2.4. Apresentação simultânea – Gémeos e partos múltiplos………... 35

5.2.3. Morte fetal………. 36

6. Consequências da distócia……… 37

7. Prevenção………. 38

II – Frequência relativa das causas de distócia e sua resolução em vacas leiteiras em explorações Micaelenses ……… 41

1. Introdução……….. 41

2. Material e métodos………... 42

2.1. Caraterização edafoclimática da região……….. 42

2.2. Caracterização das explorações e dos animais em estudo………. 42

2.3. Natureza da amostra populacional………. 44

2.4. Variáveis analisadas………... 44

2.5. Análise estatística………... 46

3. Resultados………... 46

3.1. Características gerais das distocias……… 46

3.1.1. Chamadas recebidas……….. 46

3.1.2. Raça………... 47

3.1.3. Paridade………. 47

3.1.4. Problemas em partos anteriores………. 48

3.1.5. Estado geral dos animais………... 48

3.1.6. Tipo de partos……… 49

3.2. Causas de distócia ………. 49

3.2.1. Frequência relativa das diferentes distocias……….. 49

3.2.2. Comparação das frequências relativas das distocias em novilhas versus adultas……. 51

3.2.3. Apresentação posterior……….. 53

3.2.4. Torção uterina………... 54

(10)

x

3.2.7. Má-postura……… 56

3.3. Tipo de tratamento e viabilidade fetal……… 57

3.3.1. Tratamento escolhido……… 57

3.3.2. Viabilidade fetal……… 57

3.3.3. Sexo das crias……… 58

4. Discussão………...……… 58

III. Conclusões ……… 65

IV. Referências bibliográficas………... 66

ANEXOS………... 72

(11)

xi

Tabela 1– Prevalência internacional de distócia em novilhas e vacas de 2000 a 2011 (adaptado de

Mee, 2012)……….. 5

Tabela 2 – Descrição das escalas utilizadas na classificação do grau de distócia de acordo com o grau de assistência despendida durante o parto em vacas Holstein (adaptado de Schuenemann, 2012)………. 10

Tabela 3 – Causas de distócia (adaptado de Troedsson, 2009)……… 13

Tabela 4 - Causas primárias e secundárias de distócias múltiplas……… 51

Tabela 5 - Número de casos observados, em novilhas, durante o estudo………. 52

(12)

xii

Figura 1- Causas de distócia (adaptado de Noakes et al., 2001). ... 12

Figura 2- Vaca com hidropisia das membranas fetais. Esta vaca apresentava hidroalantóide e o diagnóstico foi realizado por observação dos sinais clínicos e palpação transretal. ... 14

Figura 3 – Resolução de uma TU no sentido dos ponteiros do relógio - Derrube da vaca por método de Reuff´s. ... 22

Figura 4 – Disposições fetais anormais. A – Apresentação anterior, posição dorsal com desvio da cabeça para baixo. B – Apresentação posterior, posição dorsal com flexão bilateral do jarrete. C – Apresentação posterior, posição dorsal com flexão do quadril. D – Apresentação dorsotransversa. E – Apresentação simultânea de gémeos: um em apresentação anterior, posição dorsal com flexão do ombro; outro em apresentação posterior (adaptado de Noakes et al., 2001). ... 33

Figura 5– Feto enfisematoso retirado por extração vaginal. Este animal estava crepitante à palpação, com formação de gás subcutâneo. ... 37

Figura 6 - Distribuição das chamadas para assistência ao parto e dos casos com registos, durante os meses de estágio. ... 46

Figura 7 - Distribuição percentual da informação documentada em relação aos partos assistidos pelo médico veterinário... 47

Figura 8 - Incidência de raças nos animais em estudo. ... 47

Figura 9 - Distribuição da frequência da paridade registada nos animais com distócia. ... 47

Figura 10 - Frequência percentual de problemas reprodutivos anteriores nos animais com distócia. ... 48

Figura 11 - Distribuição representativa do estado geral dos animais no momento do parto. ... 48

Figura 12 - Distribuição dos tipos de partos quanto à gemelaridade……….49

Figura 13 - Percentagens do tipo de distócias encontradas... 49

Figura 14 - Percentagem do tipo de distócias observadas, quanto à origem. ... 50

Figura 15 - Causas únicas ou múltiplas na origem das distócias observadas. ... 50

Figura 16 - Frequência dos diferentes tipos de distócia em novilhas. ... 52

(13)

xiii

Figura 19 - Frequência da viabilidade dos fetos encontrada após a resolução da distócia. ... 58 Figura 20 - Frequência do sexo das crias em 20 dos partos distócicos simples. ... 58

(14)

xiv

AASM - Associação Agrícola de S. Miguel μg - Micrograma

ACTH - Hormona Adrenocorticotrópica μg/Kg - Micrograma por quilograma AINE - Anti-Inflamatório Não Esteróide mg/Kg - Miligrama por quilograma BSE - Encefalopatia Espongiforme Bovina do

inglês “Bovine Spogiform Encephalopathy”

N.º - Número

PGF2alfa - Prostaglandina F2alfa BVD - Diarreia Viral Bovina do inglês “Bovine

Viral Diarrhoea” cm - Centímetros

PV - Peso vivo

SREA - Serviço Regional de Estatística dos Aço-res

DCI - Dilatação cervical incompleta º - Graus

DF – Distócia fetal ºC - Graus Celsius

DFM - Desproporção feto-Materna > - Maior DVI - Dilatação vaginal incompleta < - Menor

IA - Inseminação Artificial ® - Marca registada IBR - Rinotraqueíte Infecciosa Bovina do

acró-nimo inglês “ Infectious Bovine Rhinotracheitis”

% - Percentagem

Ig - Imunoglobulina IM – Intramuscular

IUP – Inércia uterina primária IUS – Inércia uterina secundária Kg - Quilograma

Kg/dia – Quilograma por dia m - Metro

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1

O parto é um dos processos biológicos mais fascinantes e consiste na passagem do feto e das suas membranas do interior materno para o exterior (Noakes et al., 2001; Norman e Youngquist, 2007).

O parto normal é definido como eutócico, em que não é necessária a sua assistência (parto assistido) ou resolução, seja através de manobras obstétricas (tocológicas) e eventual fetotomia para extração vaginal ou o recurso a cesariana. A etimologia do termo eutócia advém do grego eutokía, -as e opõe-se a eutócico ao conceito de distócia (do grego dustokía, -as).

Existem diferentes definições de distócia e os métodos de recolha de dados sobre esta altera-ção, também não são uniformes (Berger et al., 1992); mas tem vindo a ser definida como um parto ou nascimento difícil, resultando num prolongamento do tempo normal do parto ou na ne-cessidade de assistência, para remover o feto, através de extração forçada (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004; Mee, 2004; Norman e Youngquist, 2007; Mee, 2008; Troedsson, 2009).

É importante, ainda, distinguir a diferença entre um parto distócico e um parto assistido, uma vez que apesar de ambos necessitarem da intervenção Humana, um parto assistido não resulta necessariamente de uma distócia (Mee, 2004). Na prática, assim que a má-disposição seja corri-gida, a vaca pode completar o parto normalmente ou com o mínimo de assistência (Schuene-mann, 2012).

Pretendemos, nesta parte do trabalho, descrever os conceitos necessários à compreensão dos eventos normais e anormais que ocorrem ou podem ocorrer na vaca parturiente, assim como os principais fatores que os influenciam.

Também a definição, caraterização e identificação dos diferentes tipos de distócias e conse-quente uniformização da sua nomenclatura aqui descrita possibilitou a obtenção de registos, objetivos e rigorosos, utilizados na parte de investigação minimizando o efeito operador, de um conjunto de 9 veterinários que para ele contribuíram.

2. O parto eutócico 2.1. Características

A duração da gestação nas vacas Holstein-frísia é de 283 dias, mas em algumas raças de aptidão de carne esta pode chegar aos 290 dias (Jackson, 2004).

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2

O início do parto é provocado por alterações endócrinas; ocorrendo um aumento da pro-dução de cortisol fetal, devido à alteração e maturação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, causado pelo stress fetal, uma vez que a placenta já não consegue satisfazer convenientemente as suas necessidades. Este período prodrómico tem uma duração de aproximadamente 24 a 48 ho-ras, embora com elevada variabilidade individual, e é acompanhada por alterações preparatórias na vaca, como (1) o relaxamento dos ligamentos pélvicos; (2) o aumento do tamanho e da tensão do úbere; (3) a presença de colostro na cisterna dos tetos que se torna de consistência mais espes-sa e amarelado com a proximidade do parto; (4) a observação de corrimento vaginal translúcido e mucoso (rolhão mucoso); (5) redução do tónus muscular da cauda nas 24 horas antes do início do trabalho de parto; (6) a vulva tornar-se ligeiramente edematosa em alguns animais (Barron, 1979; Jackson, 2004). É possível, através de palpação transrectal identificar os membros ou a cabeça do feto na pélvis materna. Decorrida esta etapa, o parto normal ocorre em três fases, não existindo uma demarcação clara entre cada uma delas (Jackson, 2004).

Primeira fase do parto (dilatação da cérvix): Tem uma duração média de aproxima-damente 6 horas, podendo durar até 24 horas em novilhas (Norman e Youngquist, 2007). A dila-tação dos tecidos moles do canal de parto, incluindo os ligamentos pélvicos, a cérvix (primeiro dilatando os anéis externos e só depois os internos) e a vulva, bem como a distensão desta última e da região perineal, o início da atividade uterina (contrações irregulares e pouco intensas) bem como as descargas vaginais são fenómenos característicos desta fase. É nesta etapa que o feto se torna mais ativo e que ocorre o alinhamento fetal.

Outros sinais evidentes são os relacionados com o comportamento dos animais, existindo uma variação entre novilhas (maiores alterações) e vacas adultas. Geralmente, nesta fase, os animais farejam repetitivamente o solo, lambem diferentes partes do corpo, mordiscam a erva, apresentam uma ruminação irregular, urinam e defecam frequentemente, vocalizam e mudam constantemente de posição (sinal típico de desconforto antes do parto), ora se encontram em de-cúbito, ora se encontram em estação com as costas arqueadas e a cauda levantada. Alguns destes sinais podem ser observados em qualquer uma das outras duas fases. Esta fase termina com a dilatação completa da cérvix e com o surgimento e rotura, no exterior da vulva, da membrana cório-alantóide (Noakes et al.,2001; Jackson, 2004; Norman e Youngquist, 2007).

Segunda fase do parto (expulsão do feto): Tem uma duração média de 70 minutos, mas pode durar até às 4 horas. Esta fase é mais longa no caso das novilhas e também quando se trata do nascimento de machos (Noakes et al., 2001). A fêmea encontra-se, normalmente, em decúbito

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3

no momento do parto. Ocorre o surgimento da membrana amniótica (avascular e acinzentada) no exterior da vulva, podendo ser visíveis partes do feto no interior desta. Quando a membrana am-niótica rotura, há uma intensificação das contrações uterinas. Para complementar este facto, as contrações abdominais também aumentam quer em intensidade quer em frequência, ocorrendo entre 3 e 9 contracções a cada 3 minutos, à medida que o processo avança (Jackson, 2004; Schu-enemann, 2011). A fêmea pode colocar-se em decúbito lateral de modo a facilitar a expulsão do feto. Um dos pontos críticos nesta fase é a passagem da cabeça pela vulva, uma vez que o tórax entra ao mesmo tempo no canal de parto. Durante a passagem pelo canal de parto, o feto pode efetuar rotações de aproximadamente 45º para a direita ou para a esquerda, de forma a aproveitar o diâmetro pélvico materno. De referir que 95% dos fetos encontram-se, durante o parto, em apresentação anterior, posição dorsal e com os membros anteriores e a cabeça em extensão (Jackson, 2004). A progressão do parto pode ser evidente a cada 15-20 minutos (Schuenemann et al., 2011). Normalmente, o cordão umbilical permanece intacto na fêmea em decúbito, após o nascimento do vitelo e só rotura quando esta se levanta. Exceto se tiver exausta, a vaca deverá levantar-se decorridos 10 minutos do término do parto.

Um feto saudável pode permanecer vivo 8 horas após o início da segunda fase, desde que o cordão umbilical esteja intacto, sendo a probabilidade de sobrevivência maior quando as con-trações são fracas e irregulares. A exaustão e a inércia uterina secundária resultam na interrupção das contrações uterinas e abdominais num período de 8 a 12 horas após o início do trabalho de parto (Jackson, 2004). No caso de gestações gemelares, Owens et al. (1984) citado por Noakes et al. (2001), observaram que ocorria um novo aumento das forças de contração, para a expulsão do segundo feto, dez minutos após o nascimento do primeiro.

Terceira fase do parto (expulsão placentária): Apresenta uma duração média de 6 ho-ras após o parto, mas ocasionalmente pode chegar às 12 hoho-ras. Quando o tempo de expulsão das membranas fetais é superior a 24 horas, considera-se uma retenção placentária (Noakes et al., 2001). Para que ocorra o despreendimento da placenta é necessário que ocorram contrações con-tínuas do miométrio e a contração da artéria uterina, que leva a uma diminuição do fluxo sanguí-neo, promovendo a separação das carúnculas maternas e dos cotilédones fetais.

Após o nascimento as contrações uterinas continuam durante algum tempo, podendo ocorrer também episódios ocasionais de contrações abdominais, para facilitar a expulsão da pla-centária. As fêmeas iniciam a limpeza do bezerro, lambendo-o começando normalmente pelos membros posteriores e depois pela cabeça e pescoço (Norman e Youngquist, 2007). Caso não

(18)

4

seja tomada nenhuma medida as vacas têm tendência a comer a própria placenta (Noakes et al., 2001).

2.2. Estática fetal

Os termos “apresentação”, “posição” e “postura” são classificações usadas para facilitar a descrição da orientação do feto quer num parto normal, quer num parto distócico.

A apresentação é definida como a relação entre o eixo longitudinal do feto e o canal de par-to. Podendo ser longitudinal anterior ou posterior (dependendo da extremidade que se encontrar na pélvis), transversa ventral ou dorsal (dependendo da porção do tronco, ventral ou dorsal, que se encontrar relacionada com o canal do parto) e muito raramente vertical (ventral ou dorsal). A apresentação anterior longitudinal é característica de um parto eutócico enquanto que a posterior longitudinal pode ou não dar origem a uma distócia. As apresentações transversa e vertical são sempre características de partos distócicos (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004).

A posição refere-se à relação entre a coluna vertebral do feto e a pélvis materna. Segundo Noakes et al. (2001) e Jackson (2004) esta pode ser dorsal, ventral ou lateral (esquerda ou direi-ta). E segundo Norman e Youngquist (2007) as posições possíveis numa apresentação anterior longitudinal são dorso-sacral (posição normal), dorso-ilíaca direita, dorso-púbica e dorso-ilíaca esquerda. Quando a apresentação é posterior, o termo “dorso é substituído pelo “lombo”.

A postura refere-se à disposição dos membros e cabeça do feto na altura do parto. Podendo encontrar-se em extensão, em flexão ou retidos (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004; Norman e Youngquist, 2007).

3. Incidência e fatores de risco da distócia

A incidência de distócia em bovinos tem vindo a ser amplamente estudada, devido aos seus efeitos na produtividade (Noakes et al., 2001). Esta encontra-se entre os 3 e os 10%, mas pode atingir valores bem mais elevados, uma vez que é muito variável e influenciada por vários fato-res (Jackson, 2004).

Na indústria leiteira de países com sistemas de exploração intensivos, como por exemplo os EUA, a Holanda ou o Canadá e com genótipos semelhantes (Holstein-frísia), as taxas de distócia têm tendência a ser elevadas (>5%), como é possível observar na tabela 1 (Mee, 2012). Segundo

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5

Garry (2004) as altas taxas de distócia em vacas leiteiras em comparação com vacas de aptidão de carne, nos EUA, deve-se ao facto de estes animais não serem rigorosamente selecionados para a facilidade de parto e em geral, os países com índices de seleção funcionais que incluem distó-cia (ex. Noruega), têm uma menor prevalêndistó-cia desta alteração.

Tabela 1- Prevalência internacional de distócia em novilhas e vacas de 2000 a 2011 (Adaptado de Mee,

2012).

País Raça Novilhas (%)

Novilhas e vacas (%)

Descrição da distócia Referências

Austrália Holstein-Frísia 9,5 4,1 Distócia severa – dificuldade elevada ou assistência cirúrgi-ca

McClintock (2004)

Canadá Holstein-Frísia NRa 6,9 Elevada tracção e cirurgia Sewalem et al. (2008) Dinamarca Holstein-Frísia 8,7 NRa Dificuldade de parto com ou

sem assistência veterinária

Hansen, et al. (2004) Irlanda Holstein-Frísia 9,3 6,8 Dificuldade de parto

conside-rável e assistência veterinária

Mee et al. (2011) França Holstein-Frísia

e Normande

NR 6,6 Elevada tracção e intervenção cirúrgica

Fourichon et al. (2001) Nova

Ze-lândia

Holstein-Frísia 6,5 3,8 Dificuldade de parto Xu e Burton (2003)

Noruega Norwegian Red

2,7 1,1 Dificuldade de parto B. Heringstad et al. (2007) Espanha Holstein-Frísia 3,1 2,5 Parto assistido e cesariana Lopez de

Matura-na et al. (2006) Suíça Swedish Red

and white

3,9 1,9b Dificuldade de parto; impossi-bilidade de parir sem

assis-tência

Steinbock (2006)

Holanda Holstein-Frísia NR 7,8c Difícil e parto muito difícil Eaglen e Bijma (2009) Reino

Uni-do

Holstein-Frísia 6,9 2,0b Séria dificuldade de parto Rumph e Faust (2006) USA Holstein-Frísia 22,6 13,7 Necessidade de assistência,

tração considerável e extrema dificuldade

Gevreckci et al. (2006)

a

NR:não registado, b apenas vacas, c apenas vacas de 2º parto

A incidência de distócia é influenciada por diversos fatores que podem ser divididos de dife-rente modo consoante os autores. Jackson (2004), por exemplo, divide-os em dois grupos, sendo que um corresponde aos fatores ambientais e o outro aos fatores intrínsecos, podendo por vezes haver uma correlação entre alguns deles.

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6 Factores ambientais:

Nutrição – Se por um lado os animais subnutridos apresentam níveis mais elevados de distó-cia e uma menor viabilidade fetal, por outro, os animais de maior condição corporal apresen-tam fetos mais pesados, maior depósito de gordura intrapélvica, maior probabilidade de dis-tócia e o risco de laceração vaginal. Uma redução drástica na alimentação nas semanas que antecedem o parto, de modo a diminuir o excesso de peso do animal, deve ser evitada já que o feto continua a se desenvolver e a vaca pode desenvolver uma toxemia de gestação, ficando demasiado fraca para parir (Jackson, 2004), ou pode conduzir a uma inércia uterina e a um inadequado relaxamento dos ligamentos pélvicos, ou mesmo à morte fetal (Boster, 1971 ci-tado por Mee (2008); Kroker e Cummins, 1979; Gearhar et al., 1990).

Observação (maneio) – A observação da fêmea, por parte de uma pessoa experiente, duran-te o decorrer do parto é importanduran-te, de forma a diminuir a incidência de distócia e de nado-mortos; mas deve ser efetuada com cuidado de modo a não induzir stress na fêmea ou atrasos no parto (Jackson, 2004).

Distúrbios – Alterações como a hipocalcemia (causa de inércia uterina primária) ou doenças como a salmonelose ou a brucelose podem aumentar a incidência de distócia em vacas (Jack-son, 2004).

Indução do parto – Embora seja uma forma de reduzir a probabilidade de distócia por des-proporção feto-materna (DFM), pode levar a um aumento da retenção placentária e da dilata-ção cervical incompleta (DCI) ou ausente (Jackson, 2004).

Estação do ano em que ocorre o parto e local – A maior incidência de distócia foi detetada durante o Inverno e a menor durante o Verão (Gaafar et al., 2010). Um clima muito frio está relacionado com a diminuição do estradiol plasmático, o aumento do consumo de matéria se-ca, da concentração de hormonas da tiróide, do fluxo de nutrientes e sangue para o útero e do tempo de gestação o que conduz a um aumento do peso do feto e do risco de distócia (Col-burn et al., 1997; McGuirk et al., 1999; Johanson e Berger, 2003; McClintock, 2004 citado por Mee, 2012); Este facto foi comprovado por Colburn et al. (1997), que concluiram que os fetos que nasciam após um Inverno mais ameno do que o normal, apresentavam menos 4,5 Kg ao nascimento do que os que nasciam após um Inverno rigoroso, e a dificuldade de parto era de 35% e 58%, respetivamente. Segundo Bendixen et al. (1986), o local onde ocorre o

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7

parto tem influência na incidência de distócia, uma vez que esta demonstrou ser menor em animais em pastoreio do que em animais estabulados, esta diferença deve estar relacionada com o genótipo, com a nutrição, com a condição corporal, com o exercício e com o maneio durante o parto.

Factores intrínsecos:

Idade, número de partos, peso e diâmetros pélvicos – Embora exista um maior risco de distócia em animais demasiado novos ou demasiado velhos, a idade ao primeiro parto não tem qualquer influência nesta questão (Meijering, 1984 citado por Mee, 2012; Manfredi et al., 1991; Ettema e Santos, 2004). Há sim, uma maior percentagem de distócia em novilhas, devido ao seu fraco desenvolvimento corporal, em comparação com as vacas adultas (dois ou mais partos). Consequentemente, no caso das novilhas de raça Holstein-frísia, se a insemina-ção for adiada até aos animais pesarem cerca de 400kg verifica-se uma diminuiinsemina-ção da taxa de distócia, porque embora o peso do feto aumente em animais mais pesados, uma boa condição corporal permite a estas novilhas um desenvolvimento adequado dos diâmetros pélvicos (Jackson, 2004). Atualmente não se utiliza a pelvimetria interna ou externa para prever o ris-co de distócia, em vacas leiteiras, devido a imprecisões na sua medição (Mee, 2012). Gaafar et al. (2010) observaram, num estudo, 5,3% de casos de distócia em vacas Holsteins-frísia com PV compreendido entre os 600 e os 650 Kg e 8,3% em vacas com PV entre 350 e 400 Kg, confirmando que a percentagem de distócia diminui com o aumento do PV da vaca; E também verificaram que esta percentagem diminui com o avançar da idade, obtendo uma ta-xa de 7,4% de distócia para vacas com 3-5 anos e de 4,6% em vacas com 11-13 anos. O nú-mero de partos também provou ser um fator significativo quando se trata de distócia, uma vez que a percentagem diminuiu de 7,7% (primíparas) para 4,6% com o avançar do número de parições (8 parições).

Raça (Genótipo) – Existem grandes diferenças nas percentagens de distócias entre as dife-rentes raças, sendo os valores mais elevados característicos de raças de aptidão de carne, uma vez que apresentam um período de gestação mais longo e fetos de maior tamanho em relação à pélvis materna (Jackson, 2004). Segundo McClintock (2004) citado por Mee (2012), o genótipo é responsável por 60% da variação do peso ao nascimento, mas a sua heritabilidade no que toca a distócia é muito baixa. O aumento do peso ao nascimento dos fetos associado ao aumento do tempo de gestação, como fatores de risco para a ocorrência de distócia e

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na-8

do-mortos têm sido atribuídos, em parte, à “Holsteinização” (aumento da proporção de genes Holstein provenientes da América do Norte numa manada – animais geneticamente selecio-nados para a produção de leite), facto que pode ser contrariado recorrendo ao cruzamento de Holstein com outras raças leiteiras (crossbred já bastante presente em explorações dos USA). Ainda existem poucas evidências que comprovem que as vacas altas produtoras apresentam um maior risco de distócia. Mee (2008) concluiu que existem touros de determinadas raças que contribuem para um aumento do número de distócias, uma vez que na indústria leiteira dá prioridade a outras características, não havendo uma rigorosa seleção dos animais no que concerne à facilidade de parto e ao maneio adequado para evitar esta alteração.

Sexo, peso, tamanho, conformação e número de fetos – Muitos estudos concluíram que a incidência de distócia aumenta com o aumento do peso fetal, uma vez que fetos pesados normalmente apresentam um maior tamanho do que os fetos mais leves. Os machos são mais pesados e apresentam frequentemente um maior tempo de gestação em relação às fêmeas. Estes factos associados à sua diferente morfologia aumentam a probabilidade de ocorrência de distócia. Se se tratar de um parto gemelar e apesar dos fetos serem mais pequenos (10-30% menos de peso) do que num parto simples, a incidência de distócia é maior não devido ao seu peso mas a outras alterações, como por ex. a má-postura (Jackson, 2004; Mee, 2008); este facto foi comprovado por Gaafar et al. (2010) que observaram uma percentagem de dis-tócia de 15,5% para partos gemelares e de 6,5% para partos simples. Apesar de apenas 1 a 2% dos partos serem de gémeos (Noakes et al., 2001), segundo Silva del Rio et al. (2007), a percentagem de gémeos está a aumentar internacionalmente. O mesmo sucede com os mons-tros fetais e outras alterações (ex. fetos siameses, schistosoma reflexus, anasarca e ascite fe-tais), em que apesar do peso fetal ser reduzido a sua conformação não permite a sua normal expulsão na altura do parto, sendo frequentemente necessário recorrer a cesariana; Segundo uma revisão bibliográfica, efetuada por Jackson (2004), os monstros fetais correspondem a aproximadamente 8% do total de distócias, em que 33,2% dos monstros fetais, são gémeos siameses, 31,8% schistosoma reflexus, 8,4%” vitelos bulldog” e 26,6% correspondem a ou-tras alterações congénitas. Os fetos com musculatura dupla – hipertrofia muscular (ex. Belgi-an Blue e Charolesa) têm um maior tamBelgi-anho do que os que não detém esta característica morfológica, levando a uma taxa mais elevada de distócia na altura do parto (Jackson, 2004).

Duração da gestação – Como já foi referido anteriormente, a duração média normal da ges-tação de uma vaca é de 283 dias, mas em certas raças de carne esta pode estender-se até aos

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290 dias. Uma gestação prolongada leva a uma maior incidência de distócia, uma vez que, o peso do feto aumenta aproximadamente 0,5 Kg/dia (e até 1Kg/dia após o tempo médio de gestação) e há também um aumento no tamanho dos seus ossos longos (Jackson, 2004). A presença de anomalias no desenvolvimento fetal, como por ex., a hipoplasia ou aplasia hipo-fisária, foi associada ao aumento do tempo de gestação (Noakes et al., 2001).

Apresentação fetal – Há uma maior incidência de distócia e uma menor viabilidade em fetos com apresentação posterior (Jackson, 2004). Os fetos com má-apresentação têm duas vezes mais probabilidade de provocar uma distócia e cinco vezes mais probabilidade de serem na-do-mortos (Mee, 1991) e é a principal causa de distócia em vacas mais velhas (Meijering, 1984 citado por Mee, 2012). Os partos múltiplos têm uma percentagem quatro vezes superior à ocorrência de distócia do que os partos simples, principalmente se se tratar de uma gravidez unicornual (Mee 1991). A posição anormal do feto tem uma heritabilidade e repetibilidade muito baixa, quase zero, sendo influenciada pela raça, género, paridade e mortalidade fetal (Holland et al., 1993).

4. Identificação de um parto distócico

O diagnóstico de distócia é frequentemente baseado num elevado grau de subjectividade, por isso muitas vezes, os dados existentes bem como as causas e a eficácia dos tratamentos aplicados nestes casos não são muito fidedignos, embora existam muitas situações em que a distinção entre uma distócia e um parto assistido seja bastante clara. Por isso, é importante uma boa compreen-são do parto normal, bem como o cuidado com o bem-estar dos animais envolvidos, e as compe-tências práticas adequadas para estas situações (Noakes et al., 2001).

Na tentativa de quantificar as distócias, foram formuladas algumas escalas numéricas (Tabela 2), usadas internacionalmente, que medem a “facilidade de parto”, em alguns países e a “dificul-dade de parto” noutros. Apesar da existência destas escalas, não existe uma consistência no que toca aos intervalos entre categorias (Mee, 2008). Estas escalas variam desde escalas com dois pontos (Bar-Anan et al., 1987) a escalas com sete pontos (McClintock, 2004 citado por Mee, 2012), mas as mais comumente usadas são as escalas com cinco pontos (Berger et al., 1992; Adamec et al., 2006).

Não existe uma demarcação exata entre uma distócia e uma eutócia (parto normal), mas é possível obter algumas directrizes sobre o progresso e a duração do parto, que permitem quer ao

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veterinário quer ao produtor decidir quando é o momento ideal para intervir neste processo (Norman e Youngquist, 2007).

Tabela 2 – Descrição das escalas utilizadas na classificação do grau de distócia de acordo com o grau de

assistência despendida durante o parto em vacas Holstein (adaptado de Schuenemann, 2012).

Escala Descrição da distócia Referências

Escala de 1 a 3 pontos 1 = Nenhuma assistência Meyer et al. (2001) 2 = Ligeira assistência 3 = Assistência necessária Escala de 1 a 5 pontos 1 = Nenhuma assistência Dematawewa e berger (1997) Lombard et al. (2007) Schuenemann et al. (2011b) 2 = Assistência por parte de uma pessoa,

sem recurso à tracção mecânica 3 = Assistência por parte de 2 ou mais pessoas

4 = Assistência com recurso a tração me-cânica

5 = Procedimento cirúrgico

Combinação das duas

Descrição baseada na dificuldade de parto

Mangurkar et al. (1984) Schuenemann et al. (2011b)

Determinar o exato momento em que um parto deixa de ser eutócico para se tornar distócico não é fácil, mas se compreendermos a dinâmica de um parto normal, podemos nos basear em alguns pontos-chave para o efeito.

A primeira coisa a fazer é monitorizar o melhor possível o início do trabalho de parto e o seu progresso. O ideal seria fazê-lo de duas em duas horas, uma vez que a observação cuidada é a base para uma boa identificação desta alteração (Schuenemann, 2012).

Alguns dos sinais ou momento-chave que permitem a identificação desta alteração são:  Primeira fase do parto prolongada e não progressiva, ou postura anormal da fêmea (ex. no

caso de torção uterina (TU) a vaca pode adotar uma posição de cavalete) durante esta fase são sinais de distócia (Jackson, 2004);

 Começar a assistência ao parto após decorridos sensivelmente 70 minutos do surgimento do saco amniótico no exterior da vulva, ou se após 65 minutos da observação dos membros, do focinho, ou da cauda no exterior desta, não ocorrerem progressos (Jackson, 2004);

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 Sempre que seja identificada uma má-postura fetal (ex. observação de apenas um membro no exterior da vulva) imediatamente após a exteriorização das membranas fetais, ou uma TU (não são observados nem o saco amniótico, nem qualquer um dos membros no exterior da vulva), deve-se intervir imediatamente, mesmo que não se tenha ultrapassado o tempo médio de duração do parto (Jackson, 2004);

 Falha na expulsão do feto até duas horas após a emergência da membrana amniótica na vulva (Schuenemann et al., 2011);

 Despreendimento da membrana cório-alantóide, presença de mecónio, ou manchas de sangue no fluido amniótico, são sinais que sugerem hipoxia fetal e uma possível morte fetal (Jack-son, 2004);

 Nas novilhas após duas horas de trabalho de parto intenso há uma redução da frequência e intensidade das contrações abdominais, sinal claro de fadiga que deve ser levado em conta na altura de decidir quando é o melhor momento para intervir (Schuenemann, 2012).

A intervenção precoce diminui as probabilidades do feto nascer morto, mas também potencia um maior risco de lesão da fêmea, devido a uma dilatação insuficiente dos tecidos moles.

O tempo desde o início das contrações até ao surgimento das membranas fetais, ou dos membros, bem como a avaliação da progressão do parto (a cada 15-20 minutos, como referido anteriormente nas características de um parto eutócico) devem ser usados como pontos de refe-rência para determinar a melhor altura para intervir (Schuenemann et al., 2011).

5. Causas de distócia – Etiologia, diagnóstico e tratamento

As distócias são normalmente classificadas, segundo a sua origem, em maternas ou fetais (Figura 1). No entanto, existem situações em que é difícil identificar a causa primária, ou que esta se altera com o decorrer do parto (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004; Norman e Youngquist, 2007). Mais objetivamente, a distócia ocorre quando uma ou mais das principais componentes envolvidas no parto falha; Sendo que estas componentes são: as forças de expul-são, a adequação do canal do parto, e o tamanho e disposição do feto (Noakes et al., 2001).

Segundo Troedsson (2009), a distócia em ruminantes é mais provável que ocorra devido a causas fetais (má-apresentação, má-posição e/ou má-postura) do que devido a condições mater-nas (Tabela 3). Mee (2008) observou que a DFM e a estenose vulvar são as causas mais comuns

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de distócia em primíparas, e as distócias de origem materna, são as causas mais comuns de distó-cia em vacas multíparas.

Figura 1- Causas de distócia (adaptado de Noakes et al., 2001).

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Tabela 3 – Causas de distócia (adaptado de Troedsson, 2009).

Causas de distócia em ruminantes

Causas comuns

Desproporção feto-materna (B, comum; C, O, incomum) Má-apresentação Má-posição Má-postura Gémeos, trigémeos (B) Torção uterina Hipocalcemia periparto (B)

Falha na dilatação da cérvix (B,O; rara em C) Linfedema

Causas menos comuns

Parto prematuro Aborto

Defeitos congénitos (monstros fetais) Hidropisia das membranas fetais (B, O)

Feto enfisematoso

Hidrocéfalo (mais comum em B do que O,C) Anquilose (mais comum em B do que O,C)

Imaturidade da fêmea Obesidade (B) Toxemia de gestação (O, C)

Inércia uterina Mumificação, maceração fetal Obstrução uterina, vaginal, cervical

Retenção fetal Fratura pélvica Prolapso vaginal

Causas incomuns

Constrição rectovaginal da raça Jersey Rotura uterina

Hérnia abdominal, inguinal Lipomatose Artrogripose (B) Rotura do tendão pré-púbico (B)

Gestação prolongada (B, O) Tumores fetais (B)

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14 5.1. Causas maternas

As distócias, que ocorrem devido a causas maternas, são provocadas pela constrição do ca-nal de parto ou por uma falha nas forças expulsivas (Noakes et al., 2001; Norman e Youngquist, 2007).

5.1.1. Falha nas forças de expulsão

5.1.1.1. Inércia uterina primária

A inércia uterina primária é caracterizada pela incapacidade do miométrio contrair normal-mente e conduzir o feto para o canal de parto. É uma alteração relativanormal-mente frequentenormal-mente em vacas (Noakes et al., 2001; Norman e Youngquist, 2007). A causa mais comum é a hipocalcemia do periparto, mas também pode ser causada por uma distensão uterina (ex. hidropisia uterina; figura 2), um distúrbio ambiental ou por uma debilidade geral com redução do tónus e da respon-sividade do miométrio. A presença de gémeos pode provocar uma distensão grave do miométrio, impedindo as contrações produtivas. Esta alteração também foi observada em vacas de aptidão de carne obesas que não conseguiam entrar em trabalho de parto (Jackson, 2004).

Figura 2- Vaca com hidropisia das membranas fetais. Esta vaca apresentava hidroalantóide e

o diagnóstico foi realizado por observação dos sinais clínicos e palpação transretal.

O diagnóstico é feito com base na história clinica, no exame do canal de parto e na estática fetal (Noakes et al., 2001). O animal pode apresentar algumas contrações abdominais fracas, mas o parto não progride para a segunda fase (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004; Norman e Youngquist, 2007). O feto é normal e encontra-se habitualmente numa apresentação, posição e postura corretas (Jackson, 2004). A cérvix está dilatada (Jackson, 2004; Norman e Youngquist,

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2007) ou é facilmente dilatável manualmente, mas não há qualquer evidência da existência de contrações uterinas (Jackson, 2004). As membranas fetais, principalmente o âmnio, estão geral-mente intactas (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004; Norman e Youngquist, 2007).

No caso de hipocalcemia a vaca encontra-se relutante ou incapaz de se levantar, apresenta uma temperatura corporal baixa, pupilas dilatadas e atividade ruminal reduzida; a cabeça está voltada para o flanco e se não for tratada, a vaca pode entrar num estado comatoso que a condu-zirá certamente à morte. No caso de hidropisia uterina, deve haver um historial, com o decorrer da gravidez, de aumento do volume abdominal e debilidade. Se for possível aceder à parede ute-rina, esta encontrar-se-á estirada com o tónus diminuído à palpação (Jackson, 2004).

É importante iniciar o tratamento o mais rapidamente possível, sendo que este é relativa-mente simples em grandes animais. Deve proceder-se à rotura, através de manipulação vaginal, das membranas fetais (no caso de ainda se encontrarem intactas) e se o feto se encontrar numa disposição normal, deve ser retirado imediatamente recorrendo a uma tração moderada (Noakes et al., 2001). No caso do feto não se encontrar na disposição normal, esta deve ser corrigida, ma-nualmente, efetuando-se posteriormente a tração (Norman e Youngquist, 2007). Nas vacas, é aconselhável administrar borogluconato de cálcio, mesmo que não existam sinais evidentes de hipocalcemia (Noakes et al., 2001, Jackson, 2004). Depois da remoção do feto deve-se adminis-trar ocitocina (intramuscular) para promover a involução uterina e a expulsão da placenta (Jack-son, 2004).

5.1.1.2. Inércia uterina secundária

A inércia uterina secundária resulta da exaustão do miométrio, após esforço prolongado para efetuar o parto (Norman e Youngquist, 2007). Esta é o resultado de outra causa de distócia (No-akes et al., 2001; Jackson, 2004), frequentemente de natureza obstrutiva. Após esta alteração ocorre normalmente retenção placentária e atrasos na involução uterina (Noakes et al., 2001; Norman e Youngquist, 2007), fatores predisponentes para uma metrite puerperal (Noakes et al., 2001); também o prolapso uterino é uma sequela desta condição (Norman e Youngquist, 2007). A parede uterina perde o tónus e fica flácida (Jackson, 2004).

É essencial tratar o problema base que conduziu a esta situação. Se se tratar de um caso de disposição anormal do feto, esta deve ser corrigida e o feto removido, através de tração modera-da, o mais prontamente possível. Como sucede para a inércia uterina primária, também neste caso se deve administrar borogluconato de cálcio e ocitocina, independentemente da causa que

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provocou a inércia; isto porque podem existir outros fatores envolvidos dos quais não temos consciência (Noakes et al., 2001).

5.1.1.3. Parto prematuro

Num parto prematuro pode ocorrer falha das contrações uterinas normais e se este não for diagnosticado a tempo ou ocorrer no início da gestação, pode levar à morte fetal. Esta alteração pode ocorrer devido a inúmeros fatores que comprometem a viabilidade fetal e/ou o funciona-mento da placenta. Podem ocorrer descargas vaginais inesperadas durante a gestação. Pode ser observada a placenta com aspeto anormal e por vezes com um odor bastante desagradável e in-tenso. No caso da vaca ainda não ter parido, é possível palpar-se o feto, frequentemente pequeno e sem pelo, no interior da vagina ou do útero; caso o parto já tenha ocorrido, o normal é apenas identificar os restos placentários, no útero.

Quanto ao tratamento, quer o feto, quer o canal de parto devem encontrar-se muito secos, por isso deve proceder-se à lubrificação, antes de recorrer à tração ligeira, para remover o feto, através da vagina (Jackson, 2004).

5.1.1.4. Rotura uterina

Esta condição raramente é observada em partos não assistidos, ocorrendo normalmente após tração forçada do feto, TU, fetotomia ou extração de fetos enfisematosos (Hillman e Gilbert, 2008). A rotura uterina, como causa de distócia pode ocorrer devido a um acidente traumático (ex. atropelamento), ou surgir espontaneamente devido a uma fragilidade da parede uterina. Nes-te caso, a viabilidade fetal depende da sua passagem, ou não para a cavidade peritoneal e do grau de comprometimento das membranas fetais.

Pequenas roturas podem ser assintomáticas e o feto permanece no útero, onde se desenvolve normalmente e nasce sem dificuldade (Jackson, 2004). Grandes roturas podem permitir a passa-gem do feto para o peritoneu (Jackson, 2004; Hillman e Gilbert, 2008).

Nas peritonites estéreis o feto pode aderir ao mesentério ou a outro órgão abdominal. A mor-te da progenitora pode ocorrer após rotura umor-terina, apresentando-se uma hemorragia grave. Nos casos em que ocorre compressão placentária, a circulação pode ficar comprometida, levando à morte fetal. Se este comprometimento não acontecer, o feto pode sobreviver até ao término da gestação, mas a sua localização extrauterina impossibilita um parto vaginal (Jackson, 2004).

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Os sinais clínicos dependem da gravidade dos danos e da viabilidade fetal. Sinais indicado-res da iminência do parto e dilatação cervical podem estar pindicado-resentes, mas não ocorre progindicado-ressão do parto. Podem ocorrer cólicas transitórias. Ao exame vaginal pode verificar-se um útero vazio de pequenas dimensões e a placenta desaparecendo através de um defeito na parede uterina. O local da rotura, normalmente situado na curvatura maior ou ventralmente ao bordo pélvico, pode ou não ser palpável. Ocasionalmente é possível palpar-se ansas intestinais maternas (não devem ser confundidas com as ansas intestinais de um schistosoma reflexus). À palpação transrectal o útero parece mais pequeno do que o normal e ocasionalmente é possível palpar o feto que se en-contra em posição extraperitoneal.

O feto deve ser retirado através de laparotomia. Caso a presença de rotura seja identificada antecipadamente uma laparotomia/cesariana devem ser tidas em consideração imediatamente antes do término da gestação, uma vez que podem aumentar as hipóteses do feto nascer vivo. Deve procurar-se qualquer evidência de peritonite. Se a rotura for grave, ou se envolver os ová-rios ou ovidutos, futuras gestações estarão comprometidas (Jackson, 2004).

A laceração, quando possível, deve ser reduzida cirurgicamente (caso não seja possível al-cançar a rotura através do canal de parto deve recorrer-se à laparotomia) e deve ser administrada uma terapia antibiótica intensiva, de forma a prevenir peritonites.

A lavagem intraperitoneal (solução salina e antibióticos, ou iodopovidona diluída) está indi-cada no caso da laparotomia. Na presença de pequenas lacerações, situadas dorsalmente, pode ser efetuado um tratamento conservativo, que consiste na aplicação de antibióticos e na adminis-tração repetida de ocitocina; embora este tratamento normalmente não seja eficaz devido à exis-tência de contaminação bacteriana quer no útero quer no abdómen. No caso de o animal apresen-tar sinais iniciais de choque, fluidoterapia, AINES e corticosteroides de curta ação podem ser necessários. O prognóstico é reservado a mau em vacas com esta afeção (Hillman e Gilbert, 2008).

5.1.1.5. Torção uterina

Em vários estudos, a TU constitui mais de 7% dos casos de distócia, em bovinos (Jack-son, 2004). Segundo Aubry et al. (2008), as vacas adultas têm uma maior probabilidade de sofrer de TU do que as novilhas (78% vs. 47%, respetivamente). No entanto, estes investigadores ob-servaram uma frequência de 20% de TU.

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Numa TU, o útero gravídico efetua movimentos de rotação em torno do seu eixo longitu-dinal tendo o seu ponto de torção na vagina, na zona imediatamente caudal à cérvix (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004) sendo raras as torções em que o ponto de torção se situa cranialmente a esta. Na maioria dos casos, a rotação ocorre no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio (Jackson, 2004; Hillman e Gilbert, 2008) e o grau de torção pode variar de 45º a 360º.

As TU são pouco comuns durante a gestação e embora a sua etiologia não esteja comple-tamente esclarecida, pensa-se que a instabilidade uterina e o exercício violento contribuem de forma significativa para esta alteração (Jackson, 2004). A TU ocorre normalmente, no final da primeira fase do parto, ou no início da segunda (Noakes et al., 2001; Hillman e Gilbert, 2008; Blowey e Weaver, 2011). Esta conclusão baseia-se no facto de em muitos dos estudos efetuados, se verificar um certo grau de dilatação cervical, antes ou imediatamente depois da resolução da torção; e no caso de a cérvix estar totalmente dilatada e existir rotura das membranas fetais, é provável que esta tenha ocorrido na etapa inicial da segunda fase do parto (Noakes et al., 2001).

Calcula-se que a TU ocorra devido à instabilidade do útero em bovinos, uma vez que a sua curvatura maior se encontra numa posição dorsal e a sua porção caudal se encontra unida à pélvis pelos ligamentos largos. Provavelmente, o fator desencadeante deste problema é a violenta movimentação fetal para assumir a disposição normal, durante a primeira fase do parto (Noakes et al., 2001); embora existam fatores adicionais que contribuem para que a torção ocorra (Noa-kes et al., 2001; Jackson, 2004; Aubry et al., 2008).

O útero grávido adquire uma instabilidade anatómica, devido à fraca elasticidade dos li-gamentos largos, comparativamente ao crescimento do corno uterino gravídico (gestação sim-ples), o que pode provocar um enrolamento do útero em torno do ponto de fixação (Jackson, 2004; Aubry et al., 2008); para além disso, com o avançar da gestação, as porções craniais dos cornos uterinos, encontram-se no solo da cavidade abdominal, sem nenhum ligamento que lhes confira estabilidade (Jackson, 2004).

O facto da inserção do ligamento largo, em animais Bos indicus, se localizar numa posi-ção mais dorsal, ao longo do corpo uterino, não permitindo uma liberdade de movimentos tão acentuados por parte do útero, provavelmente é o motivo pelo qual estes animais possuem um menor risco de sofrer desta condição, do que os animais Bos taurus (Hillman e Gilbert, 2008). Uma gestação unicornual (principalmente gemelar) pode conduzir a uma TU, uma vez que o corno uterino gravídico é mais pesado e volumoso do que o não gravídico, provocando uma

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grande instabilidade devido à assimetria entre os dois (Jackson, 2004; Aubry et al., 2008; Hill-man e Gilbert, 2008).

O excesso de peso do feto é uma das causas que pode também influenciar a ocorrência desta alteração uterina (Noakes et al., 2001; Aubry et al., 2008). Por outro lado, uma gestação gemelar bicornual, tal como uma DFM, parecem estabilizar o útero, sendo rara a ocorrência de TU nestes casos (Noakes et al., 2001; Aubry et al., 2008).

A forma como as vacas se levantam e deitam, particularmente em espaços confinados, é de grande importância. O facto de a vaca para se levantar, flexionar os membros anteriores, apoiando o seu peso nos joelhos, e movimentar a cabeça para a frente, de forma a obter o balan-ço necessário para que o corpo e ambos os membros posteriores possam ser estendidos, bem como o facto de esta poder permanecer numa posição de descanso durante algum tempo, até se levantar definitivamente, provoca uma suspensão do útero gravídico na cavidade abdominal, em que o eixo longitudinal adota uma posição quase vertical, permitindo-lhe desta forma uma fácil rotação, caso ocorram movimentos fetais nesse momento (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004; Aubry et al., 2008).

A diminuição acentuada do volume ruminal, ou devido a escassez de alimento e água, ou porque os animais ingerem demasiado concentrado e pouco pasto, provoca um maior espaço na cavidade abdominal, aumentando a instabilidade uterina (Aubry et al., 2008). A estabulação permanente também predispõe à ocorrência de TU, devido à redução do exercício físico por par-te dos animais (Jackson, 2004; Aubry et al., 2008; Hillman e Gilbert, 2008), ao aumento da pro-babilidade de ocorrerem quedas súbitas e à flacidez da musculatura abdominal (Hillman e Gil-bert, 2008),

Quanto aos sinais clínicos, normalmente, a única alteração que se observa é um período de inquietação anormalmente prolongado ou uma diminuição deste período sem progressão para a segunda fase do parto (Noakes et al., 2001). O animal poderá adotar uma posição de “Rocking-horse”, ou seja, os membros anteriores posicionam-se mais à frente e os membros posteriores mais atrás do que o normal, o que faz com que o animal apresente lordose (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004). A torção das estruturas do canal de parto pode puxar um ou ambos os lábios vul-vares, para o interior da vagina (Jackson, 2004).

Se a TU não for resolvida, ocorrerá separação placentária e morte fetal; o que levará o animal a apresentar dor abdominal subaguda, anorexia progressiva e copróstase. Uma vez que as

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membranas fetais permanecem, na maioria das vezes intactas, as infeções bacterianas secundá-rias do feto desenvolvem-se mais tarde do que noutras formas de distócia (Noakes et al. 2001).

De realçar que dependentemente do grau de TU, existem importantes alterações vascula-res da parede do útero que podem condicionar a evolução do caso, mesmo após tratamento (Ghuman, 2010).

O diagnóstico é efetuado através da palpação vaginal. Quando existe TU não é possível alcançar imediatamente a cérvix, uma vez que há um estreitamento progressivo da vagina em direção a esta, uma espécie de espiral oblíqua (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004), na qual po-demos identificar a existência de pregas na mucosa vaginal.

É a direção dessas mesmas pregas que nos indica o sentido da torção, que pode ser quer no sentido dos ponteiros do relógio, quer no sentido contrário a estes. Se a torção for menor que 180º, pode ser possível ultrapassar a constrição e palpar o feto, podendo apurar a viabilidade fetal (Jackson, 2004). Devemos ter cuidado, nestes casos de TU parcial (menos de 180º), para não confundir uma TU com uma posição fetal anormal (lateral ou ventral), uma vez que neste tipo de torções é possível que algumas partes do feto se encontrem na vagina (Noakes, et al., 2001).

Quando a torção é maior que 180º o canal de parto encontra-se totalmente obstruído, sen-do impossível palpar a cérvix. A palpação transrectal permite confirmar a presença desta altera-ção, uma vez que os ligamentos largos, no caso de uma TU, se encontram anormalmente fáceis de palpar na porção caudal do abdómen (Jackson, 2004).

Apesar de existirem registos de alguns casos de TU, que se resolveram espontaneamente, a maioria requer intervenção obstétrica (Noakes et al., 2001). Existem vários métodos disponí-veis para a resolução desta condição (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004):

Correção manual – Rotação do feto através da vagina: Este método só é possível em TU parciais em que os líquidos fetais permanecem no útero e em que a mão do obstetra conse-guir atingir-lo de modo a palpar o feto (Jackson, 2004). Para que seja eficaz é importante que o feto esteja vivo e que a dilatação cervical seja suficiente para efetuar a manipulação (Noa-kes et al., 2001). O feto é agarrado, através da vagina, por uma das suas proeminências, co-mo por ex. o cotovelo, o esterno, o ombro ou a coxa, e é balançado de um lado para o outro, antes de ser rodado no sentido oposto ao da torção (Noakes et al., 2001, Jackson, 2004).

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O posicionamento da vaca com a traseira mais elevada do que a dianteira, bem como o recur-so à anestesia epidural é benéfica neste carecur-so (Noakes et al., 2001). Segundo Ménard (1994), o uso do clembuterol (a sua aplicação em animais de produção está atualmente proibida em Portugal), um potente relaxante da musculatura lisa, facilita a resolução deste problema em bovinos. Este investigador ao aplicar, por via endovenosa, uma dose de 0,6 a 0,8 μg/Kg PV em 70 casos de TU, verificou que a correção era muito mais fácil e 77% dos fetos nasceram por via vaginal. Segundo Noakes et al. (2001), as TU superiores a 270º e as TU anteriores à cérvix, não podem ser resolvidas por este método.

Correção por rolamento: É um dos métodos mais utilizados na correção de TU. No entan-to, devido ao facto de requerer assistência de pelo menos três pessoas, esta técnica pode ser substituída pela anterior (Noakes et al., 2001). O objetivo deste método é rolar a vaca, na di-reção da torção, enquanto o seu útero permanece o mais imóvel possível (Jackson, 2004; No-akes et al., 2001).

O mecanismo deste método apresenta uma elevada taxa de sucesso. O animal é derrubado pelo método de Reuff´s (Noakes et al., 2001) e colocado em decúbito lateral direito ou es-querdo, consoante o sentido da torção (Figura 3). Por exemplo, se a torção ocorrer no senti-do contrário ao senti-dos ponteiros senti-do relógio, o animal é deitasenti-do em decúbito lateral esquersenti-do (Jackson, 2004; Noakes et al., 2001).

Segundo Jackson (2004), após o derrube do animal, os quatro membros são amarrados jun-tos e a cabeça contida antes de efetuar o rolamento. Já Noakes et al. (2001) defende que os membros dianteiros são atados juntos por uma corda e os traseiros por outra. Após a realiza-ção do procedimento, efetua-se um novo exame vaginal, para verificar o resultado da técnica (Jackson, 2004; Noakes et al., 2001), que quando bem-sucedida permite o acesso manual à cérvix e ao feto e as pregas vaginais desaparecem (Noakes et al., 2001).

Pode ser necessário rolar a vaca mais duas ou três vezes até a torção ficar corrigida. A efici-ência do rolamento pode ser melhorada, efetuando pressão externa no abdómen da vaca, ten-tando com isso, fixar o útero enquanto o corpo do animal é rodado (Jackson, 2004).

Uma variação desta técnica, inventada por Schäfer (1946), consiste na utilização de uma tá-bua, ou uma escada, com 3 a 4 m de comprimento e 20 a 30 cm de largura, para auxiliar no rolamento e um dos assistentes fica em cima da tábua enquanto a vaca é rolada, puxando gentilmente a corda atada às patas traseiras. As vantagens desta técnica são: (1) a fixação do

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útero por parte da tábua; (2) o rolamento ao ser efetuado mais lentamente necessita de me-nos assistência para a sua execução; e (3) é mais fácil para o veterinário verificar a direção correta do rolamento por palpação vaginal. Se a cérvix não estiver dilatada suficientemente, procede-se à sua dilatação mecânica. Se não se conseguir na primeira meia hora recorre-se à cesariana (Noakes et al., 2001).

Figura 3 – Resolução de uma TU no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio - Derrube da vaca

por método de Reuff´s.

Correção cirúrgica – Laparotomia e/ou Cesariana: Esta técnica é necessária quando ne-nhuma das outras descritas anteriormente é bem-sucedida ou possível (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004). É efetuada uma laparotomia, com anestesia regional, com a vaca em estação, podendo esta ser realizada no flanco esquerdo (preferível) ou direito, de forma a possibilitar a rotação do útero no interior do abdómen (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004).

A localização do útero e confirmação da torção é possível através da palpação da cérvix. Para colocar o útero na posição anatómica correta, a parede uterina ou um dos membros do feto são fixados firmemente para ser efetuada a rotação.

Após esta etapa estar concluída com sucesso, o feto pode ser extraído ou através da vagina ou recorrendo à cesariana (Jackson, 2004). No caso de não ser possível efetuar a rotação do úte-ro, ou de não existir suficiente dilatação cervical a cesariana deve ser a técnica de eleição (Noakes et al., 2001; Jackson, 2004), e uma vez extraído o feto o útero é suturado e colocado na sua posição anatómica normal.

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A integridade da parede uterina deve ser observada cuidadosamente antes da parede abdomi-nal ser suturada; se o útero apresentar uma coloração anormal, que não é corrigida após a re-solução da TU o prognóstico de sobrevivência da vaca não é bom. Deve ser sempre adminis-trado um antibiótico e um AINE (ex. flunixin meglumine), de modo a proporcionar conforto ao animal (Jackson, 2004).

Se for aplicado o tratamento adequado para a resolução da TU, o prognóstico é favorável quer para a mãe (desde que as lesões vasculares e da parede não sejam intensas), quer para o feto (Jackson, 2004).

5.1.1.6. Ausência de forças expulsivas abdominais

Ocorre quando a musculatura abdominal, estrutura de apoio importante durante a segunda fase do parto, é incapaz de se contrair ou é demasiado doloroso para o animal fazê-lo. Em ani-mais idosos ou com hidropisia, os músculos podem sofrer um estiramento demasiado elevado para a sua elasticidade natural. Rompimentos musculares ocorrem no caso de hérnias ventrais como resultado do comprometimento das fibras musculares às tentativas de estiramento (ex. rompimento do tendão pré-púbico).

Condições dolorosas envolvendo o abdómen, o diafragma ou o tórax, como a reticuli-te/pericardite podem levar a uma inibição voluntária das contrações. Danos na laringe e no dia-fragma são raros em vacas adultas, mas qualquer alteração que comprometa o fecho da glote, inibindo a contração, como é o caso da ferida provocada pela traqueotomia, pode comprometer o parto.

Ao exame vaginal observa-se dilatação cervical, com o feto em apresentação normal à en-trada da cavidade pélvica. Nos casos de existir hérnia ventral o feto é palpado dificilmente ou pode encontrar-se fora de alcance.

Quando ocorre distensão abdominal o feto é normalmente retirado através de tração manual. Para ter acesso ao feto quando este se encontrar fora de alcance (à palpação), pode proceder-se à elevação do abdómen, por parte de um assistente, ou então deitar-se o animal, de modo a facilitar o acesso. No caso de ser diagnosticada uma reticulite ou pericardite em que a saúde materna está comprometida, ou uma doença laríngea ou diafragmática deve considerar-se o recurso à cesaria-na (Jackson, 2004).

Imagem

Tabela 1- Prevalência internacional de distócia em novilhas e vacas de 2000 a 2011 (Adaptado de Mee,  2012)
Tabela 2 – Descrição das escalas utilizadas na classificação do grau de distócia de acordo com o grau de  assistência despendida durante o parto em vacas Holstein (adaptado de Schuenemann, 2012)
Figura 1- Causas de distócia (adaptado de Noakes et al., 2001).
Tabela 3 – Causas de distócia (adaptado de Troedsson, 2009).
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