• Nenhum resultado encontrado

O sertão e o [infinito] (neutro) na cosmovisão de Riobaldo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O sertão e o [infinito] (neutro) na cosmovisão de Riobaldo"

Copied!
92
0
0

Texto

(1)

U N I V E R S I D A D E F E D E R A L DE SANTA C A T A R I N A P R O G R A M A DE P Í S - G R A D U A Ç Ã O EM L E T R A S 0 SERTÃO E 0

O O

(neutro) NA C O S M O U I S Ã O DE R I O B A L D O D i s s e r t a ç ã o s u b m e t i d a à U n i v e r s i d a d e F e d e r a l de Sant a C a t a r i n a pa ra a o b t e n ç ã o - d o grau de M e s t r e em L e t r a s - L i t e r a t u r a Br as il ei ra « TI S E K O YAMAGUC HI ab r i l de 1978

(2)

E s t a d i s s e r t a ç ã o foi ju lga da a d e q u a d a . para a o b t e n ç ã o do t í tu lo de

M E S T R E EM »LETRAS - E S P E C I A L I D A D E L I T E R A T U R A B R A S IL EI RA

e _ap__ro_ua_da-em sua forma-fi-nai p e l o ^ P r o g r a m a de ' P Ó s - G r a d u a ç a o ,

Prof, V i c e n t e A t a i d e - O r i e n t a d o r

Prof.- C e l e s t i n o Sach et - I n t e g r a d o r do Cur so

Ba nc a E x a m i n a d o r a ;

-Prof, V i c e n t e A t a i d e

Prof, Jo sé C a r l o s G a r b u g l i o

(3)

Ao meu m a r i d o OFERECIMENTO

(4)

A G R A D E C I M E N T O S

“— Ao" PT'o^gTa"ma de P o s - G r a d u a ç a o em Le tr as da U n i v e r s i d a d e F e d e r a l de Santa C a t a r i n a , ao seu C o o r d e n a d o r , a seus P r o f e s s o r e s a qu e m d e v e m o s g r a t i f i o a n t e s e x p e r i ê n c i a s no e s t u d o c o n d u z i d o com r e s p o n s á v e l s e r i e d a d e ; aos co le ga s»

- Ao P r o f y / i c e n t e A t a i de , o r i e n t a d o r desta d i s s e r t a ç ã o , pelo i n ­ c e n t i v o s e m p r e pr es e n t e , e pe lo d i s c e r n i m e n t o com que nos levou ao a p r i m o r a m e n t o da c o m p r e e n s ã o de nossa literatojra,

- À; F a c u l d a d e de Ed uc a ç ã o , C i ê n c i a s e Le tr as de C a s c a v e l , aos c o ­ lega s de m a g i s t é r i o e aos a l u n o s pelo ap oio dado a r e a l i z a ç a o do Curso,

- A todo s q u a n t o s com suas p a l a v r a s e gest os de es tí m u l o , com suas s u g e s t õ e s e e s c l a r e c i m e n t o s , sao p a r t i c i p a n t e s da e l a b o r a ç a o d e s t e t r a b a l h o «

(5)

P a g i n a R E S U M O ... o ... ... . 1 A B S T R A C T ... ... 2 I N T R O D U Ç Ã O ... ... 3 C A P Í T U L O I : Ss ma s do "S er tão " da N arrativ/a ... ... 6 C A P Í T U L O II ; A T r a j e t ória v i v e n c i a l e r e f l e x i v a de Ri ob a l d o ; 2.1o A n t e c e d e n t e s do Pac to ... ...12 2.2. Si tu aça o do P a c t á r i o ... ... .20 2.3. D u a l i d a d e de D i a d o r i m ... ... ...30 2.3.1. I m p l i c a ç õ e s e a b r a n g ê n c i a do E x p o s ­ to ... ...41 '2.4. 0 Ho m e m e o c o n f r o n t o Deus e - D i a b o ... 52 2.5. 0 O O (Neutro) na Obra '... ... . 57 C A P Í T U L O III ; C o n c l u s õ e s g e r a i s e SÍntese ... 72 N O T A S ... ... ... ... ... 76 B I B L I O G R A F I A ... ... . . . ... 81

(6)

R E S U M O

P e r c e b e - s e na c o n d u ç ã o do e n re do da G r a n d e Se r t a o : V e ­ re da s , a e x i s t ê n c i a da dois p l a n o s de açao i n t i m a m e n t e r e l a c i o n a ­ dos, d i z e n d o r e s p e i t o , um, à o b j e t i v i d a d e das ações , série de e p i ­ s ó d i o s c o n c a t e n a d o s , outro, ao subjetiv/o das i n d a g a ç õ e s do na rr a - dor com r e s p e i t o à v/ida»

N e s t a i n t e r p r e t a ç ã o da vida p r e s e n t e no relato, ehe ga- se a uma f o r m u l a ç ã o que, b a s i c a m e n t e , pode ser r e s u m i d a nas as-

s e r t i v a s s e g u i n t e s : a

a) 0 O O (Neut ro) como p r i n c í p i o e fim da h u m a n i d a d e ,

b) A vida ou o mund o da d u a l i d a d e como " t r a v e s s i a " rumo ao CXD a t r a v é s da co rá g e m .

c) A p e r c e p ç ã o do n a r r a d o r q u a n t o a sua at ua l c o n d i ç ã o de i g n o r a n - cia, e x t e n s i v a ao u n i v e r s o h u m a n o da p r e s e n t e n a r r a t i v a de f i c ­ ção.

Pelo c a r á t e r p r o g r e s s i v o de an ál i s e , com i n f o r m a ç o e s quB vão se a c u m u l a n d o i n t a r d e p e n d e n t e m e n t e ao long o dos c a p í t u l o s e s u b - c a p í t u l o s , as c o n c l u s õ e s , no s e n t id o e s p e c i f i c a d o , só p o d e ­ rão ser d e d u z i d a s ao fi nal da d i s s e r t a ç a o ,

0 O O h a ve rá de co nte r, em sí nt es e, to da s as p r o p o s - tas da c o s m o u i s ã o da obra.

(7)

A B S T R A C T

We pe^c^eive in the plot of G r an de 'Sertão; ' U e r e d a s _tui.o^ . l e v e l s “ o'f a c t i o n c l o s e l y re la te d: one re fe rs to o b j e c t i v e a c t i o n s and e p i s o d e s , the o t h e r , t o s u b j e c t i v e q u e s t i o n s ab o u t life.

Fr om the " wo r l d vision" of this n a r r a t i v e , u/e drau the thr ee folloiuing c o n c l u s i o n s :

a) The C O (Neu te r) as the b e g i n n i n g and the end of the hu man b e i n g s , .

b) The life (the luorld of du al it y) as " t r a v e s s i a " (walking) to O O t h r o u g h co ur ag e,

c) The p e r c e p t i o n of R i o b a l d o of his p r e s en t c o n d i t i o n of i g n o r a n c e e x t e n d i n g to the men of this n a r r a t i v e of fi ct io n.

i

The c o n c l u s i o n s in the s p e c ia l se ns e r e f e r r e d to ab o v e can be d e t e c t e d on ly in the end of this u/ork , sinc e uje have a p r o g r e s s i v e a n a l y s i s wi th a c c u m u l a t e d i n f o r m a t i o n t h r o u g h o u t the c h a p t e r s and s u b - c h a p t e r s .

The

OO

r e p r e s e n t s the s y n t h e s i s of all the po in ts of the "ujorldvision" we co u l d draw from this work.

(8)

I N T R O D U Ç Ã O

C o o r d e n a n d o as i n t í i n c a d a s e x p e r i ê n c i a s e r e f l e x b e s do n a r r a d o r - p e r s o n a g e m , R i o b a l d o , c h e g a m o s ’, b a s i c a m e n t e , a uma c o n c e p ­ ção de m u n d o ou c o s m o v i s ã o e s t r u t u r a d a sobre s í m b o l o s ^ que c o n d u z e m a uma i n t e r p r e t a ç a o m e t a f í s i c a do U n i v e r s o »

Por " m e t a f í s i c a " e n t e n d e m o s a a c e p ç a o de René G u é n o n ao termo, q u a n d o o consi dera d e nt ro do e n f o q u e o rienta 1 i z a n t e ,tenco nas d o u t r i n a s hi'ndus o, e x e m p l o de a b o r d a g e m m e t a f í s i c a do univer so, e x c l u i n d o ae le as r e l i g i õ e s , tais o. c r i s t i a n i s m o , o ju da ís mo , o- i s ­ la mi sm e, i m p r e g n a d a s que são de s e n t i m e n t o e c o n c e i t o s m o r a l i z a n - t s s o

E s s e n c i a l m e n t e o c o n h e c i m e n t o do u n i v e r s a l , a t e m p o r a l &, anespacia],mente c o n s i d e r a d o , t r a n s c e n d e a física, e n t e n d i d a ccmo c c o n j u n t o de todâs as c i ê n c i a s da n a t u r e z a ; t r a n s c e n d e , pois, o ■ m a t e r i a l e o c o n t i n g e n t e do mundo f e n o m ê ni co , ou o conheciment;.; do ser na a c e p ç a o a r i s t o t é l i c a do termo, nela i n c l u i n d o o i n e x p r i m í - u*9 l para o qu al as p a l a v r a s e sí mb o l o s s e r v e m ap en as de pont o de o p o i o a sua co n c e p ç ã o ,

í\io ca mpo r e s t r i t o da T e or ia Li t e r á r i a , fundamentii-jcs na c l a s s i f i c a ç ã o de T z v e t a n T o d o r o v em seu !Istrutura 1 i s mj _e Pciéti- '.ja, e v i d e n c i a m o s na ob ra um re la to que, com o i n t u i t o e x p l í c i t o de c o m p r e e n d e r , no ato me sm o em que é narr ada , a vida v i v e n c i a d a por ele, R i o b a l d o , li ga m - s e as aç o e s i n t e r d e p e n d e n t e m e n t e , e s t r u t u r a n - Qü -se num tipo de e n r e d o que se c a r a c t e r i z a pela " c a u s a l l o s d e M i o - so fi ca ", e x p r e s s ã o que d e s i g n a uma n a r r a t i v a em que "as aç::8s aao an t e s i l u s t r a ç õ e s , s í mb ol os , de ce rt as id éi as ou con.ceites" ,> il)

Faz- se mis te r, em d e c o r r ê n c i a oa a p a c i a a d e d'^ste ripo de e n r e do , p e r c o r r e r m o s a t.rajsoorxa co proc.stiso ci,aiecicc si-r.ja­ cente a e s t r u t u r a ç ã o da n a r r a t i v a , cu jo sirribolismo nao per;.j.í.3 a D o s i ç ã ü c ô mo da ae uma i n t e r p r e t a ç ã o que pe.rmanGce e a c a b a si mp le s-me nt s nos fatos,

"h riiarciP"-’ do s i g n i f i c a d o di^i o n a r i z a n t s , as p a l a v r a s ad-

Qu ir e m u m se r. oi ao p a r t x u u i ar so m e n t e ae ú o ■■ ível n o c o r t e >■' r: o Ja cbra-, o qi.e j o s t i f i c a o c o m p o r t a m e n t o d i s s e r t a t i u o deste tr ab a l h o , que p r o c u r a esclarecei' e s i s t e m a t i z a r os m u l t i f a c e t a d o s s e n t i d o s que- se c o n d e n s a m num voc á bu lo , numa si tu aç ao , numa imagem.

(9)

e nas d i g r e s s õ e s do na rr a d o r , e s t r u t u r a m - s e as i d é i a s que, a l e g o r i - zada s na obra, vão p a r t i c i p a r , em seus c o n c ei to s, d,a .metafísica o- r i e n t a i a c i m a m e n c i o n a d a , o que c o r r e s p o n d e , nas li nh as b á s i c a s em que sãó ,c o n s i d e r a d a s ne s t e tr ab al ho, a t e o r i a que f u n d a m e n t a i g u a l ­ me nt e a ca ba la , o p i t a g o r i s m o , a a l qu im ia .

Pre.tendemos, por meio de i n f o r m a ç õ e s c u m u l a t i v a s a t r a ­ vés dos c a p í t u l o s , e de s u a ' i n t e r d e p e n d ê n c i a , a t i n g i r a s í n t es e fi na l que se c o n c e n t r a no s í m b o l o f i g u r a t i v o do O O (Neutro), ana- logo aos s e n t i d o s que e n v o l v e m o "s er t ã o " da termin.ologia do n a r r a ­ dor. A p e n a s aqüi e s c l a r e c e r - s B - a o as ú l t i m a s c o l o c a ç õ e s p o s t u l a d a s no c a p í t u l o I, " S em as do "s er tã o" da n a r r a t i v a " , como t a m b é m na a- ná l i s e da p e r s o n a g e m D i a d o r i m , e- d e t e r m i n a r - s e - a o as propostas, f i ­ nais do d e s e n v o l v i m e n t o do trabalho,., B a s e a m o - n o s em obras e s o t e r i c a s para a e l u c i d a ç a o uo s í m b o l o a c i m a ( O O )? se ndo de alta va li a a l e i t ur a de e s t u d o s s o ­ bre a t e o r i a c a b a l í s t i c a (2)..

An te s, porém, da p e s q u i s a ne ss e campo, as c o n c l u soes g e r a i s do texto verbal, ou seja, da n a r r a t i v a de R i o b a l d o , ha vi am l e v a n t a d o a h i p ó t e s e da c o r r e l a ç ã o í n t i m a de sua m e n s a g e m com o sí mb o l o , d e r r a d e i r o si gn o do Gr an de S e r t ã o ;V e r e d a s ,p ar t i n d o da o b ­ s e r v a ç ã o do q u a d r o f i g u r a t i v o onde o O O p r o l i f e r a ao c o m p l e m e n t a r as n a r r a t i v a s de P r i m e i r a s E s t ó r i a s , t a m b é m em suas d e r r a d e i r a s p á ­ ginas. Se no c o n j u n t o , a s est ór i as , e s t r u t u r a d a s pelo A u t o r no q u a ­ dro m e n c i o n a d o , e v i d e n c i a m forma r um s i s t e m a t e ó r i c o c a b a l í s t i c o , r e v e l a r a m n.a ocasião^ a l g u n s q u a d r o s c o n s i d e r a d o s p a r t i c u l a r m e n t e , i d e n t i d a d e de s e n t i d o com o texto.

A p e s q u i s a c o n f i r m o u a hi pó t e s e , e veio e x p a n d i r os h o ­ r i z o n t e s da i n t e r p r e t a ç a o , e l u c i d a n d o a s p e c t o s que nos d e i x a r a m p e r ­ p l e x o s à l e i t u r a do romance-, tais o s i m b o l i s m o da cruz no e s pa ço d e c i s i v o das lutas, e o c a r á t e r a l t a m e n t e c o m p l e x o da p e r s o n a g e m D i a d o r i m , f o r m a n d o ao fina l um todo co er e n t e , onde e s t r e i t a m e n t e ' s e in ter--relacionam to da s as co l o c a ç o e s . A p e s q u i s a e x t r a t e x t u a l ou e x t r a l i t e r a r i a tem por es co - po tal o b je ti vo ; p r o c l a m a n d o ,a s o b e r a n i a do texto, e em f u n ç a o do m e s m o que ela se c o n s t i t u i , p o s s i b i l i t a n d o ao le it or m a i o r p l e n i t u ­ de no u s u f r u t o da obra. Te m hoje o i n t e r e s s e em to rn o do s i g n i f i c a d o subjace.nte ao O O a l g u m a s c o n s i d e r a ç õ e s (3), mas c a r e c e tal i n t e r e s s e de um e s t u d o s i s t e m a t i z a d o , co mo também, de i n t e r p r e t a ç õ e s da n a r r a t i v a

(10)

sob o e n f o q u e de s e n t i d o que lhe c o r r e s p o n d e .

l\lão p r e t e n d e m o s aqui e s g o t a r o a s s u n t o m e s m o porqu e o s í m b o l o em c o m e n t á r i o c o n d e n s a em si to da uma t e or ia da c i ê n c i a o- cu lt a op e s o t é r i c a , q u e ■c o n s i d e r a as e m a n a ç õ e s d i u i na s o p r i n c í p i o do C o s m o s e de sua u n i d a d e ,

D u lg am os , e n t r e t a n t o , s u f i c i e n t e s as i n f o r m a ç õ e s c o l h i ­ das pa ra o e n f o q u e e s p e c í f i c o deste tr ab al ho , para cuja e l a b o r a ç ã o c o n t a m o s , ta mb ém, com o a p o i o de b r i l h a n t e s e s t u d o s já e f e t u a d o s no c a m p o da i n t e r p r e t a ç a o da obra em foco,

ü C a p í t u l o Î s i s t e m a t i z a .os semas -do " s e r t ã o " , termo r e i t e r a d a m e n t e m e n c i o n a d o pe lo na rra d or , dando, já de início^ uma v/i~ sao p a n o r â m i c a das p o s i ç o e s t e m a t i c a s do liv/ro,

0 c a p í t u l o II a p r e s e n t a o c o n f l i t o da trajetória, e s p i r i ­ tual de Ri ob a l d o , p e r s o n a g e m e n a r r a d o r ao me smo tempo, a t r a v é s de ci n c o s u b c a p í t u l o s m u t u a m e n t e d e p e n d e n t e s . Por este c a r á t e r t é c n i ­ co de a p r e s e n t a ç ã o , não p o d e r ã o ser a v a l i a d a s as i d é i a s de um c a p í ­ tulo sem que se e s t a b e l e ç a c o n e x ã o com as p a r t e s a n t e r i o r m e n t e tra- tadaso A ú l t i m a parte de ste ca pí tul o, " O O O (Neutro) na Obra", sub- c a p í t u l o 2,5, terá um d e s e n v o l v i m e n t o d i s t i n t o das dem a is , em v i r ­ tude da i n t r o d u ç ã o de f o n t e s e x t r a l i t e r á r i a s de p e s q u i s a , com t e m ­ p o r á r i a s u s p e n s ã o da a n á l i s e i n t r í n s e c a da obra para i d e n t i f i c a ç ã o do s e n t i d o c o n c e n t r a d o n a q u e l a figu ra s i m b ó l i c a , So e n t a o v o l t a r e ­ mos à n a r r a t i v a para e s t a b e l e c e r m o s a c o n e x ã o s í m b o l o - t e x t o ,

0 c a p í t u l o l l l c o n c l u i a d i s s e r t a ç ã o , e n f a t i z a n d o as p r o ­ p o s t a s e s s e n c i a i s , v o l t a n d o à visao p a n o r â m i c a do iní c io , ag o r a nao f r a g m e n t á r i a , mas s i s t e m a t i z a d a pe lo que o c a p í t u l o II p o s s i b i l i t o u com 0 seu d e s e n v o l v i m e n t o .

P e lo c a r á t e r r e i t e r a t i v o dos c o n f l i t o s do n a r r a d o r - p e r - so na ge m, o b s e s s i v a m e n t e i m p r e g n a n d o os p o r m e n o r e s da n a r r a t i v a , p a ­ ra ca da c o n f l i t o ba st a uma frase e x e m p l i f i c a t i v a , sem a n e c e s s a r i a s u b m i s s ã o a c r o n o l o g i a , c o n f o r m e o b s e r v a José C a r l o s G a r b u g l i o e'm 0_ M u n d o M o v e n t e de G u i m a r ã e s R o s a . Sera este o c r i t é r i o s e ­ gui do pelo tra b al ho , r e s p e i t a n d o - s e a c r o n o l o g i a no que to ca aos e v e n t o s d e n t r o da li nha de ação' o b j e t i v a do en redo.

(11)

CAPÍTULO' I ‘ - SE M A S DO "S ER T Ã O " DA N A R R A T I V A

Dos e n u n c i a d o s que a b ai xo t r a n s c r e v e m o s , a g r u p a n d o - o s pela a c e p ç ã o co.mum que se deduz da frase e c o n t e x t o da obra, o c o n ­ ce it o de s e r t ã o ne st a n a r r a t i v a a d q u i r e s e n t i d o s que se e s t r u t u r a m numa u n i d a d e es pa c i a l , c u lt ur al , moral, f i l o s ó fi ca , c o n j u n t o s i g n i ­ f i c a t i v o num s i s t e m a u n i v e r s a l , t o t a l i z a n t e , de i n t e r p r e t a ç ã o do •

mu n d o o , •

U l t r a p a s s a esse se rt ão o s e n t i d o p o p u l a r m e n t e c o n s a g r a ­ do, que SB opõe ao me io ur ba no, de p o p u l a ç ã o r a r e f e i t a e i n c u l t a ; ou o s e n t i d o dado "mai s pe la forma e c o n ô m i c a p r e d o m i n a n t e , que é^a p e c u á r i a e x t e n s i v a " , c h a m a n d o de se rt ão "a uma vasta e i n d e f i n i d a are.a do i n t e r i o r do Br asil, Sergipe, A l a g o a s , P a ra íb a, P e r n a m b u c o , Rio G r a n d e do Norte, Ce ar á, Piauí, M a r a n h ã o , Go iá s e M a t o Gr os s o , "

(4)

G r a n d e S e r t ã o ; Ver e da s cria um s e rt ão de m ú l t i p l a s co-n o t a ç o e s ; a) "0 s e n h o r ri ce rta s r i s a d a s , ,,^0 s e n h o r tolere, is t o è o sertão," (G r a n d e Sertão ; V e r e d a s - GSV,, . P« 9) " S er tã o: estes vazios, 0 s e nh or vá. A l g u m a c o i ­ sa , a i n d a e n c o n t r a , " (GSV,, 27) b) "0 s e r t ã o é do t a m a n h o do mun do, " (GSV,, 59) "0 s e rt ão está em toda par te, " (CSU,, 9)

c) " S e r t ã o é o sozi nho , C o m p a d r e ^ m e u Q u e l e m é m diz: que sou muit o do s e r t ã o ? Sertão; é d e nt ro da g e n t e, " (GSV,, 235)

d) " S e r t ã o é o penal, cr im i n a l . Sertã o é onde h o ­ mem tem a dura nuca e mao q u a d r a d a , " (GSV,, 86) Na g r an de dor pela m a t a n ç a dos c a v a l o s i n o c e n ­ tes a t i n g i d o s por H e r m ó g e n e s e seu bando, R i o b a l d o co me nt a;

"E ni st o que co nto ao senhor, se vê o sert ão do mu ndo ," (GSV,, 260)

A

e s p e r a do H e r m ó g e n e s a s s a s s i n o em T a m a n d u á - tão para o co nf ro nto ;

" A d o n d e es ta va o H e r m ó g e n e s ? (...) "0 Sertão vem?" Vin ha." (GSV,, 425)

(12)

e) R i o b a l d o evita, i n t u i t i v a m e n t e , m a t a r o Íno - c e n t e C o n s t â n c i a Alves;

"Ah^ um r e c a n t o tem, m i úd os rema.nsos, aon de o d e m o n i o não c o n s e g u e e s p a ç o de en tra r, entao, em me us gr an de s p a l á c i o s , l\)o c o r a g a o da gente, • é 0 que est ou f i g u r a n d o , Meu sertão, meu r e g o ­

zijo! Que isto era que a voz i nh a d i z i a ; - " T e n ­ to, caut ela , toma tento, R i ob al do : que o diabo f i n c o u pé de g o v e r n a r tua d e c i s ã o ! , , , " (GSU,,

3 5 5 - 3 5 6 ) - ' '

"0 s e r t ã o nao ch ama n i n g u é m as cl ara s, mais , poré m, se e s c o n d e e ace n a, " (GSU,, 395)

■ f) " S e r t ã o é isto, o .senhor sabe; tu do i n c e r t o , tu do cer to, " ( G S U , , 12l)

"í , e não é, 0 s e n h o r ache e não ache, Tu do é e nao é-,,, " (GSU» , 12)

g) G r a n d e Sertão; Ue re da s,

h) " R e b u l i r com o s e rt ão , como dono ? Mas o se rt ão era para_^aos p o uc os e po ucos, se ir o b e d e c e n d o a ele; nao era para a força se com p or o Tod os que m a l m o n t a m no s e r t ã o so a l c a n ç a m de r e g e r ^ e m r é d e a por uns trechos; que s o r r a t e i r o o sertã o vai v i r a n d o tigre d e b a i x o da sela ," (GSU,, 284) "0 s e n h o r es cu te meu co ra ça o, pe g u e no meu p u l ­ so, 0 s e nh or a v i s t a me us c a b e lo s b r a n c o s , . , Ui- ver - não é? - é m u i t o p e ri go so o P o r q u e ai nd a não se sabe, P o r q u e .a p r e n d e r - a - v i v e r e que e 0 viver, mesmo. 0 s e r t ã o . m e pro duz, d e p o i s me e n q u l i u , de po is me c u s p i u do q u e n t e da boca ,, ,"

(GSU,, 443)

üs e x e m p l o s a c i m a p o d e m ser c o n d u z i d o s aos g r u p o s s i g ­ n i f i c a t i v o s s e g u in te s, p e r m i t i n d o - n o s o b s e r v a r que e s t e s grupos, b a s e a d o s na i n t e r p r e t a ç a o dos e n u n c i a d o s t r a n s c r i t o s (ite ns a,b, c ,d ,e ,f ,g ,h) , ser ão d e s e n v o l v i d o s no cu r s o desta d i s s e r t a ç ã o , ■

M e n c i o n a r e m o s , pois, o p r i m e i r o grupo, gr up o A, b a s e ad o na e x e m p l i f i c a ç a o do i t e m "a"; a ) 0 e s p a ç o cu lt u r a l , s o c i a l e g e o g r a f i c a m e n t e d i s c r i m i n a d o : item "a"; no a m b i e n t e r e st ri to , a o p o s i ç ã o c o m u m e n t e a c e i t a en tre s e r t ã o e c i v i l i z a ç a o » B) E x p a n s ã o do e s p a ç o d i s c r i m i n a d o no gr up o p r e c e d e n t e , t o r n a n d o m u n d o o sertão; it e m "b"; - d e c o r r e n t e da e x pa ns ão , o b s e r v a m o s que 0 c o n j u n t o "A", p e r t e n c e n d o ao c o n j u n t o maio r "B", a n u l a - s e em fa v o r do c o n j u n t o que o contém; não s o m e nt e pelo a s p e c t o da p e r t i n ê n c i a , m a s . t a m b e m pelo p r e d o m í n i o das r e p e t i ç õ e s no livro.

(13)

mu i t o mais' uas'tas em t e r m o s de mund o que de local. A s s i m será e m ­ p r e g a d o no d e s é n v o l u i m e n t o do trabalh o,

C) 0 e s p a ç o hum ano : i t e m "o": suas q u a l i d a d e s e s p i r i t u a i s ,

D) 0 e s p a ç o v a l o r a d o , ou seja, i m p r e g n a d o de juízo s de valor, a. - q u i l a t a d o s e g u n d o p r i n c í p i o s morais:

D , l , - a a g r e s s a o , o crime, males c o m p o n e n t e s da n a t u r e z a o b j e t i ­ va e v i s í v e l do sertão': it em "d"

D , 2,- o bem, c o n t r a p o n d o - s e ao mal, d i ta do pela par te s u b j e t i v a do homem, a n a t u r e z a divi na e p e r s u a s i v a d.a i n t e r i o r i d a d e hu ma na, onde o . " d i a b o " não tem acesso:' it e m "e"

'Desejamos o b s e r v a r que ne st e m o m e n t o e s t a m o s a p e n a s a- g r u p a n d o os va ri os s e n t i d o s [Dresentes no "ser tã o" da n a r r a t i v a . V e ­

remos , mais ad ia nt e, que o"mal" ou o "bem", o.crime, a ag r e s s ã o ,

, A , • rs*

a o e n e v o l e n c i a ou a g e n e r o s i d a d e , sao frutos de uma causa, essa sim, a m e n t o r a do e s t a d o de co is as no mundo.

Assi m, nao há no G rande S e r t ã o : l/eredas a c o n s c i ê n c i a ^ do mal por par te dos j a gu nç os , nem a c o n d e n a ç a o ao cr im e em si ' po-r pa rt e do n a rr ad or , d e c o r r ê n c i a que ele é do e s ta do de i g n o r â n ­ cia em ,que vive a h u m a n i d a d e .

M e n c i o n a r e m o s ai nd a os g r u p o s se gu in te s: E) 0 e s p a ç o i n t e r p r e t a d o , ra ci on al, não v a lo ra do : it e n s "f", "g" , "h" , f o r m a n d o os três s u b g r u p o s seguintes': E , l , - a n a t u r e z a dual do sertão: it e m "f": - a d u a l i d a d e do mund o f e n o m ê n i c o : o a p a r e n t e , o o- ocultoj ~ e m p r e g a r e m o s o termo " p o l a r i d a d e " pa ra d e s i g n a r a c o n t r a d i ç a o e x p l í c i t a na e x p r e s s ã o " t u d o 0 e não é " , c a r a c t e r í s t i c a das duas faces do se rtã o. Q u e ­ re m o s com is to s i g n i f i c a r a u n i d ad e de um c o n j u n t o que c o m p o r t a dois pó lo s e x t r e m o s op os to s, mas c o m ­ p l e m e n t a r e s , (Esta p o s i ç ã o será e s c l a r e c i d a no ' s u b c a p í t u l o 2,5, , qu and o, junto com o u t r a s uni - ’ da de s s i g n i f i c a t i v a s , a d q u i r e o e n u n c i a d o acim a o s e n t i d o que e s p e c i f i c a m o s )

A d u a l i d a d e do mu nd o na visao de Ri ob a l d o , s e n s í v e l ao meio em que vive, vai t r a z e r c o n s e q ü ê n c i a s i m p o r t a n t e s no seu com- portsBmento; 0 e'stado a n g u s t i o s o de i n c e r t e z a di an te da i m p o t ê n c i a em d e f i n i r a l i g a ça o en tr e os cJois a s p e c t o s da r e a l i d a d e do mundo,

f ^

(14)

Para f u n d a m e n t a r m o s tal a f i r m a ç a o , an t e s da mais nada q u e r e m o s o b s e r v a r o fato e v i d e n t e n o . g r u p o "C", i d e n t i f i c a n d o o ho me m ao sertão.

A s s i m , ' 0 homem, t a mb ém sertão, não se ac ha m a r g i n a l i ­ zado no t í t u l o da obra. G r a n d e Sertão ; Ue redas,

l^as, pelo si n a l de p o n t u a ç a o do tí tu lo ( ; ), apr'oxif^ando os dois s e g m e n t o s s i g n i f i c a t i v o s , "Grand'-í Sertão" e "U e r e d a s " , tor- n a n d ó - o s s e m a n t i c a m e n t e e q u i v a l e n t e s , o "s er tão " a d q u i r e ag or a n o ­ vos se m a s a u f e r i d o s da i m a g e m das vered as»

0 p r i m e i r o e x e m p l o nada mais é que á c o n f i r m a ç ã o do e x ­ posto:

"Uou lhe f a l a r ^ Lhe____falo do sertão, Do q u e ^ n ã o sei, Um g r a n d e sertão« Mao sei. N i n g u é m a i n d a não sabe,

So um as r a r i s s i m a s p e s s o a s - e só e s s a s p o u c a s v e ­ redas, v e r e d a z i n h a s , " (GSU,, 79)

í b a s t a n t e cl a r a a i d e n t i d a d e entr e v e r e d a s e pessoas, sema que, ja c o m e nt ad o, nao mais c o n s t i t u i i n f o r m a ç a o .

Porém, a e x p a n s a o do c o n c e i t o de v e r e da s t o r n a - s e e l e ­ me n t o i m p o r t a n t e ,no c o n t e x t o da p r o p o s i ç ã o , q u a n d o r e l a c i o n a d o o termo c o m a s p e c t o s i n c ò m u n s do mesmo, c a r a c t e r í s t i c a s que não c o r ­ r e s p o n d e m ao. c o n c e i t o c o m u m e n t e a t r i b u í d o , o de um c a m i n h o es tr e i t o oü senda; a d e s c r i ç ã o que lhe faz o n a r r a d o r c o r r e s p o n d e à r e a l i d a ­ de de seu uso na r e g i ã o c e n t r a l do Brasil,

C o m p a r e m o s a m b a s as t r a n s c r i ç õ e s , a p r i m e i r a ^ ^ o p r 6 prio tex to l i t e r á r i o , a se gu nd a, do D i c i o n á r i o B r a s i l e i r o da L Í n q u a P o r ­ t u g u e s a , de i'^lacedo Soares, que a b o r d a v o c á b u l o s com g r a f i a ou s i g ­ n i f i c a d o d i f e r e n t e dos de d i c i o n á r i o s t r a d i c i o n a i s :

"0 s e n h o r estude: o bu rit i é das m a r g e n s , êle cai seus co c o s na vere da - as ág ua s m e s m a s ra pl ant am ; daí 0 bu r i t i z a l , de um lado e do o u t r o se a l i n h a n ­ do . a c o m p a n h a n d o , que nem por c á l c u l o . " (GSU., 2 85)

" v e r e d a ^ - sf», em Go iá s = arroio, "De C o u r o s a C o n c e i ç ã o gastei nove dias p a r a ^ a n d a r 50 léguas, que o u t r o s c a l c u l a m em 45; e até a se rr a de Santa A n a v i aj ei semp re nas t e rr as al ta s da ser ra geral, í uma c h a p a d a ime nsa, onde o vi aj a n t e tem sempre d i an te de si c a m p i n a s ex te n s a s , c o b e r t a s de a b u n ­ d a nt es pa stos, larg os h o r i z q n t e s , v a r z e a s se mp re ver des, b ú r i t i z a i s for m os os , d i s p e r s o s pe l a s m a r ­ ge ns das ve re da s, (que as s i m c h a m a m o s ^ a r r o i p s ) de l í m p i d a s e c r i s t a l i n a s águ as. " V i a g e m a C o m a r c a da Palma, 23,"

(15)

i . Ü

Q u e r e m o s c h a m a r a a t e n çã o para a r e f e r ê n c i a às v/eredas co mo c o r r e n t e s de agua, e aos bu ri ti s , p a l m e i r a s que m a r c a m sua p r e s e n ç a nas m a r g e n s d a q u e l a s aguas, a s p e c t o s c i t a d o s tant o na d e s ­ cr i ç ã o dp n a r r a d o r •q u a n t o no d i c i o n ár io ,

A i n d a r e f o r ç a n d o , a e x p l i c a ç ã o do termo é dada p e l o ’ p r ó p r i o G u i m a r ã e s Rosa ao seu t r a d u t o r i t a l i a n o , E d o a r d o Bizarri:

■4 '

"Uoc ê s a b e / desde gr an de parte de M i n a s G e ra is (Oeste e s o b r e t u d o No r o e s t e ) , a p a r e c e m os " c am po s g e r a i s " , ou "ger ai s" - p a i s a g e m geoçjráfica que se. estende^, pelo Oeste da Bahia, e Go ia s (,.,.), até a o . P i a u i e ao M a ra nh ão ,

( . . . )/írvores , a r b u s t o s e má relv/a^ são., .nas c h a p a d a s , de um verde comum, feio, mo no t o n o .

^" Ma s, por entre as ch apa d as , s e p a r a n d o - a s (ou, as vezes, me sm o^ no alto, em d e p r e s s õ e s no me io das cha p ad as ) ha as vere das , São vales de- ch ao a r g i l o s ü ou t u r f o - a r g i l o s o , onde a f l o r a a á- gua a b s o r v i d a , Nas v e r e d a s , há se mp re _o bu ri ti . De longe, a gente a v i s t a o s ^ b u r it is , e ja sabe: lá se e n c o n t r a agua, A__^vereda e um oasis. Em re la ça o as c h a p a d a s , ^elas sao, as ve re d a s j de be lo verde-, cl ar o, a p r a z í v e l , _^macio , 0 ca pi m e .verdinho-claro , bom. As v e r e d a s sao fé rt ei s. C h e i a s de an im a i s , de ■passar o s ,

(• o o ^ ^ ^

"Nas veredas, ha as vezes g r a n d e s ma ta s c o ­ muns, Mas, o centro, o í n t i m o v i v i n h o e c o l o r i d o da ve re da, é sempre o r n a d o de b u ri ti s, b u r i t i r a - mas, s a s s a f r á s e p i n d a í b a s , a be ira da água. As v e r e d a s s a o . s e m p r e bel a s! " (5)- gri fo n o s s o

Pe lo que foi c o n s i d e r a d o , um dos t r aç os d i s t i n t i v o s das v e r e d a s em c o m p a r a ç a o com o u t r o s l e x e ma s tais o riacho, o ri bei rã o, e a p r e s e n ç a dos bu ri t i s : bu ritis, p a l m e i r a s de todas as v e r e da s no di z e r do es cr i t o r , s u b m e t e m - s e no te xt o l i t e r á r i o às t r a n s f o r m a - çoes que i m p l i c a m num c o n t í n u o devir a t r a v é s da mor te e r e n a s c i m e n ­ to p e r p e t u a n d o a vida à beir a das águas; nao s i g n i f i c a r i a m eles, i m p r e s c i n d í v e i s que sao as veredas, co nj u n t o , p o rt an to , de água e b u ri ti s, mas t a m b é m s e r t ã o e pessoas, o flui r da vida e da e v o l u ç ã o h u m a n a a t r a v é s dos se us c i c l o s de mo rte e r e n a s c i m e n t o , ta is os b u ­ ri t i s de R i ob al do , um sí mb ol o, 3 0 que par ece ?

E , 3 , - a e x p e r i ê n c i a n e c e s s á r i a no s e r t ã o - m u n d o ; it e m "h": leal' a p r ó p r i a p e r s o n a l i d a d e ou no d o m í n i o pr óp ri o, a atuação' h u m a n a nas c o n t i n g ê n c i a s do mu n d o qua a cerc a, r e s u l t a n d o d i st o um no vo ho m e m a t r a vé s da e x p e r i ê n c i a .

(16)

es-miuc - I a s e x p l i c a - l a s e c o m p l e m e n t a - l a s , v e r i f i c a m o s as am pl as po o i l i d a d e s de i n t e r p r e t a ç a o do s e r t ã o nos seus d.etalhes de a- n á l i s e ,

, .0 m u l t i f a c e t a d o c a r á t e r dest e u n i v e r s o s i g n i f i c a t i v o h a v e r á de c o n f l u i r pa ra uma u n i d a d e e s t r u t u r a l já p e r c e p t í v e l , a s s i m a c r e d i t a m o s , no c o m e n t á r i o d i r i g i d o até o mo me n t o ; c o s m o v i ~ sao que u l t r a p a s s a a m i n i m i z é ç a o de um s e n t i d o i n d i v i d u a l , sua u - n i v e r s a l i d a d e dá ao G r a n d e S e r t ã o ; l/eredas a g r a n d e z a > e o folego que c a r a c t e r i z a m a n a r r a u i v a épica, . ,

(17)

CAPÍTULO II: A TRA3ETÚRIA VIl/ENCIAL E REFLEXIl/A DE RIOBALDO

2.1, A n t e c e d e n t e s do Pa ct o

t ■ '

Tr ês m o m e n t o s c a r a c t e r i z a m a t r a j e t ó r i a de R i o b a l do no que c o n c e r n e as e x p e r i e n c i a s vividas, te nd o como ponto de r e f e r ê n c i a o pa ct o nas U e r e d a s - M o r t a s : o antes, o du ra nt e, o d e ­

pois, . i

C o n f o r m e já m e n c i o n a d o pela cr ít ica , dois a s p e c t o s se c o n f l i t u a m em sua ação, um,, c o n c e r n e n t a aos e v e n to s p r ó p r i o s da vi- da de lapunçagem, e n v o l t o nas p e r i p e c i a s da luta a r m a d a j õlJtro , s u b j e t i v o , na a n g ú s t i a do q u e s t i o n a m e n t o de tal viver.

C o n s i d e r a n d o os m o m e n t o s que a n t e c e d e r a m o pacto , sao i m p o r t a n t e s duas o c o r r ê n c i a s que d e c i d i r a m o rumo de sua vida: a pr im e i r a , o e n c o n t r o que d i r í a m o s a p a r e n t e m e n t e cas ual , de R i o b a l d o com o M e n i n o que

"não dava m i n ú ci a de p e s s o a outra ne nh u m a . C o m p a ­ rá ve l um suave de ser, mas asseado, e f o r t e - a s s i m se fôss e um cheir o bom sem c h ei ro n e n h u m s e n s i v e l - o s e n h o r r e p r e s e n t e . " (CSV,, 8l)

A i n i c i a ç ã o que o Me nin o, como m e st re e s p i r i t u a l sub - mete a R i o b a l d o na id ad e c r í t i c a de a p r o x i m a d a m e n t e c a t o r z e anos , tem nas águas , o b je to s a c r a l i z a d o , c o n f o r m e v e r e m o s a d i a n t e , e em sua t r a v e s s i a , o r i tu al do n a s c i m e n t o para a c o n s c i ê n c i a de cora - qem, a t r i b u t o - m a t e r do ho me m das ág ua s b a r r e n t a s do São Fr a n c i s c o , F o i - no s de mu it a valia o s e n t i d o da i n i c i a ç a o nas a- guas co mo ritual da e m e r s a o do home m d i f e r e n c i a d o , indi vidualiz.ado, tr a z id o pe lo e s tu do de 0. M u n d o M o v e n t e ^ G u i m a r ã e s _R osa,Esclarece- nos G a r b u g l i o a r e sp ei to , f u n d a m e n t a d o em M i r c e a E l ia de , A p r o v e i t a - m o s - a q u i suas id áias, e x p l í c i t a e m i n u c i o s a m e n t e d e s e n v o l v i d a s no livro m e n c i o n a d o , sem que ne ste s e n t i d o nos a d e n t r e m o s em detalhes,' o b j e t i v a n d o n o ss as r e f e r ê n c i a s o n e c e s s á r i o liame com os e n f o q u e s s u b s e q ü e n t e s deste t r ab al ho .

Diz M i r c e a ém seu T r a t a d o de H i s t o r i a das Re 1 iQio.g_3 . " P r i n c í p i o do i n d i f e r e n c i a d o e do v i r t u a l ^ f u n ­ d a m e n t o de toda m a n i f e s t a ç a o c ó s m i c a ,^ r e c e p t á c u l o

de to d o s os gérmen es, as aguas s i m b o l i z a m a subs-.. t â n c i a p r i m o r d i a l de que n a s c e m toda s as formas

C o , ) "

(6)

(18)

Me st as ág u a s j " f u n d a m e n t o de toda a m a n i f e s t a ç a o cc3s- rnica", c o n t r a p o e - s e o d e - 3 a n 8 Í r o , rio verde b clar o ..da n a r r a t i v a de R i o b a l d o , e o São Fr a n c i s c o , água v e r m e l h a e b a r r e n t a na qual se pe rd e o .de-Daneiroj s u bj az n a q u e l a a id é i a ue im pu r e z a , mistura.,' pois que c o n t r á r i a à n o ç ã o de b e a t i t u d e a t r i b u í d a por R i o b a l d o as ág u a s c r i s t a l i n a s , como as de de - H a n e i r o , Ur uc ui a, o p o n d o - s e ao temor i n s p i r a d o em seu â n i m o ' p e l o São Fr a n c i s c o , (Ests a s s u n t o é t r a t a d o no s u b c a p í t u l o 2, 3,1,}

Sobre es ta s ág u a s i m p u ra s R i o b a l d o fo ra i n i c i a d o na liçao de c o r a g e m ,t r a n s m i t i d a pelo m e n i n o s i n g u l a r que do pai h e r ­ dara as ba se s do c o m p o r t a m e n t o já em si i n c o r p o r a d o , o de "ser d i ­ ferent e, mu i t o d i f e r e n t e , , , " (GSU,, 86), e o de ter medo ne nhum.

Se à p u re za e m a n s i d ã o de d e - D a n e i r o c o r r e s p o n d e R i o ­ bald o com seus c a t o rz e an os e seu mun do de i n o c ê n c i a i n d i f e r e n ­ ciada onde todos os m e n i n o s são iguais, o c a u d a l o s o e d e s c o n h e c i ­ do Sao F r a n c i s c o no qu a l é jogado o ba rc o que o c o nd uz na ex pe ri - ên cia da i n i c i a ç ã o , r e p r e s e n t a r i a , no s i m b o l i s m o d a q u e l a s águas^ a água b a r r e n t a da vida , info rm e, im pura, de onde há de emergir, m a n i f e s t a n d o , a forma i n d i v i d u a l i z a d a do homeui que se s o b r e s s a i pelo po d e r de sua co ra g e m . M e s t e r i tu al p e r m a n e c e m o gest o e as p a l a v r a s do l^enino D i a d o r i m ; "Ca r ec e de ter co ra ge m. C a r e c e de ter muit a c o r a g e m , " (GS\/,, 85)

To da i n i c i a ç ã o i m p l i c a a id é i a de r u p t ur a de nível, morte de um e s ta do para a r e s s u r r e i ç ã o de outro, G R i o b a l d o que se pôs a t r e m e r na f r ág il ca noa em d i r e ç ã o à outr a m a r g e m úo Sao Fr a n ci sc o, t e m e nd o i g u a l m e n t e a a g r e s s ã o do m u la to r e v i v i d a d a pelo M e n i n o i m p a s s í v e l , v o l t a com uma e x p e r i ê n c i a que nao o medo;

"SÓ uma t r a n s f o r m a ç a o ,pe sá ve l. M u i t a c o i s a i m p o r ­ tante fa lt a nome»" (GSl/,, 86) A lição i m a n e n t e no ri tu al i n i c i á t i c o , " C a r e c e de tet c o r a g e m , o o", p e r m a n e c e em R i ob al do , a c o m p a n h a n d o - o em to da sua t r a ­ jet ó ri a e x i s t e n c i a l . A s e g u n d a p e r i p é c i a m a r c a n t e diz r e s p e i t o a R i o b a l d o ja ^ A

i n t e g r a d o no bando sob as o r de ns de Ze Be be lo em suas a n d a n ç a s no-, ma de s na vida da j a g u n ç a g e m . Fruto do q u e s t i o n a m e n t o so bre a v a l i ­ dade d a q u e l e viver é o ato que segue;

(19)

14

gov/ernou um de sg ost o. l\lao sei se era p o r q u e eu, r e p r o v a v a aqu ilo : de se ir, com tant a m a i o r i a e la rg u e z a , m a t a n d o e p r e n d e n d o gente, na c o n s t a n t e b r u t a l i d a d e . " (GSU., 105)

3á se p e r c e b e aq ui uma s e n s i b i l i d a d e i n a d e q u a d a a o ' j a ­

gunço, 0 que pode j u s t i f i c a r seu i m p u l s o de fuga: R i o b a l d o se es - t a r r e c e d i a n t e do s o f r i m e n t o ■"hu'mano, p e n a l i z a - s e ao ver a leva " d a ­ q u e l e s p o b r es , c a n s a d o s , a z o m b a d o s , qu as e tod os suj os de sa ng ue s se co s- " (GSU,, 104), p r i s i o n e i r o s de Zé B e be lo c o n t r a o gr up o do H e r m ó g e n e s ,

Este s e n t i m e n t o que o i m p u l s i o n a ao ato d r á s t i c o da fuga, cr i m e na visã o d a q u e l e s homens, não fora s u f i c i e n t e para sus- t e n t á - l o na fuga d e f i n i t i v a , diant e do s e g u n d o e s i g n i f i c a t i v o e n ­ c o n t r o com 0 M e n i n o de ou tr or a, en tão Re i n a l d o . o jovem iagunco sob as o r d e n s s u p r e m a s de 3o ca Ramiro»

■ Des te e n c o n t r o , cuja força a t r a t i v a lhe i m p e d e a fuga, seguindo- Riobaldo^ o jo ve m c o m p a n h e i r o para as m e sm as lides da

guerra, n a s c e m as a n g ú s t i a s m a i o r e s do q u e s t i o n a m e n t o sobre o s e n ­ tido da vida e a v a l i d a d e de sua e x i s t ê n c i a em , me io a a g r e s s ã o sem o b j e t i v o ' e:'âo i m p u l s o c o n t i d o de seu a m o r pe lo a n t i g o M e n i n o , Di a- d o r i m ^ n a i n t i m i d a d e ,

Se a i n i c i a ç ã o aos c a t o rz e an o s t e v e por me t a a i n t r o ­ du çã o de R i o b a l d o no mu n d o d i f e r e n c i a d o a t r a v é s da c o r a g e m , q u a l i - ' dade n e c e s s á r i a à e m e r s ã o do hom em nas á g u a s da vida, e s p e r a - s e , e este é o i m p u l s o n a t u r a l do leit or d i a n t e de tais p r o p o s t a s (?), a r e a l i z a ç ã o das m e s m a s na vida de R i o b a l d o ,

U e j a m o S j n o . e n t r e t a n t o , a c o n d i ç ã o em que se encontra- R i o b a l d o na ja g u n ç a g e m , o b s e r v a n d o que a sua s i t u a ç ã o , r e v e l a d a no e n u n c i a d o a b a i x o , é i m p o r t a n t e pelo c a r á t e r r e i t e r a t i v o com que ,o n a r ­ rador 0 m e n c i o n a , a t i t u d e que prov a o d e l i b e r a d o dos p r o p ó s i t o s , d a n d o - l h e um s e n t i d o que u l t r a p a s s a a mera d e s c r i ç ã o ou a p r e s e n t a - çao de um fato. I n t e g r a n d o o ba nd o de Zé B e b e l o na .luta c o n t r a os her- m ó g e n e s (já, p o rt an to , ap ó s o cé le br e j u l g a m e n t o d a q u e l e ), c a m i ,- nham, em um dado mo me nt o, os três; " C o m

Be be lo da mi n h a mao di re it a, e D i a d o r i m da m i n h a ba nd a e s qu er da ; mas_-eu., ó que e que eu- er a? Eu a i n d a não era ainda, Se ia, se ia," .

(20)

D e s t a t r a n s c r i ç ã o e n f a t i z a m o s dois as pe c t o s :

- o fato de R i o b a l d o c a m i n h a r entre dois personagens, a qu em se c o m ­ para; " mas eu, o que e que eu e r a ? ”

- sua c o n d i ç ã o ; "Eu a i n d a não era ainda. Se ia, se ia".

Ne ste ú l t i m o a s p e c t o d e d u z - s e do e n u n c i a d o acima, que nas á g u a s b a r r e n t a s do São F r a n c i s c o não se d e r a at é o m o m e n t o , a c r i a ç ã o da fo rm a i n d i v i d u a l i z a d a de R i ob al do : i m er so nas vagas , i n d i f e r e n c i a d o , c a m i n h a o h e r o i. a me rc e das c o r r en te s. A c o n s c i ê n ­ cia de sua s i t u a ç ã o a m o r f a é r e f o r ç a d a no que segue^:

' "De s e gu ir assim, sem a dura decisão,, feito c a ­ c h o r r o m a g r o que e s pe ra v i a j a n t e s em p o n t o de ren- c h o , o s e n h o r queiri sabe va achar que eu seja homem sem ca rá te r. (...) Tudo, n a q u el e tempo, e de cada ba nd a que eu fosse^ er a m p e ss oa s m a t a n d o e m o r r e n ­ do, v i v e n d o numa furia firme, numa ce rt e z a , e^ eu não p e r t e n c i a a razao nenhuma, nao g u a r d a v a fe e nem fa zi a pa rte." (GSV/., IIO)

"Zé Be be lo da mão d i r e it a de R i ob al do " era o home m de i n c r í v e l ação e p r e c i s ã o no c o n d u z i r a luta, a i n t e l i g e n c i a pra t ic a 0 a s t u t a t a l h a d a pa ra l i d e ra nç a, na a r r o j a d a c o n s c i ê n c i a d e st es a- tri b ut os ,

" D i a d o r i m da banda e s qu er da " era, na vi sã o do na rra dor , "o ú n i c o ho me m que a c o r a g e m dele nu nca pi sc av a; e q u e , poi i s s o , foi o ú n ic o" cu ja c o r a g e m as vezes in ve j o u » ( G S Uo, 324)

P r e z a n d o a c h e f i a de Ze Bebelo, e n a l t e c e n d o D i a d o r i m "'péTa^ c a r a c t e r í s t i c a de c o r a g e m sempre pr es e n t e , a c e r t e z a das d e c i ­

sões e at os de st as duas p e r s o n a g e n s é o que r e ve la o c a r á t e r a d m i ­ rado por R i o b a l d o «

"C a r e c e de ter c o ra ge m" , c a r e c e de se d i f e r e n c i a r , ser dos p r ó p r i o s at os o se nh or , c o n d u z i r a t i v a m e n t e o p r ó p r i o de stino, fora entã o, pe la f a l ê n c i a que suas p a l a v r a s d e m o n s t r a m , a lição da t r a v e s s i a ai n d a não a b s o r v i d a por R i ob al do »

P e r m a n e c e na m e m ó r i a da velh ic e,

" A f i r m o ao senhor, do que vivi; o ma i s d i f í ci l não é um ser bom e p r o c e d e r honesto; d i f i c u l t o s o ,

i r d U ü U l l i í l í C J U u c j m o w i-. w w

---mesm o, é um saber d e f i n i d o o que quer, e ter o po d e r de ir ate nú rabo da pal a vr a, " (GSU.,

C o n s t a t e m o s aqui, por ora, a p e n a s o fato de que Rio - ba ldo a n s i a r a pela po sse da q u a l i d a d e do ser r e so lu to , d i r e c i o n a

(21)

-dor, tarito'quanto Zé B e b e l o e Dia d or im , l\la t r a j e t ó r i a pe la rnani - f e s t a ç ã o de st a q u a l i d a d e vi rt ua l, p e r m a n e ç a m o s ainda, no pl an o da c o n s t a t a ç a o , c i t a n d o dois m o m e n t o s d e c i s i v o s na e x p e r i ê n c i a do h e ­ rói, o b a e í v a ç õ e s ja a n o t a d a s pela cr ít ic a;

- no j u l g a m e n t o de Zé Bebelo, q u an do sua p a l a v r a a r r o j a d a ^ a o mes mo t e m p o que c o n c i l i a d o r a das p o s i ç õ e s e x t r e m a s em que se h a v i a m c o l o ­ ca do os c h e f e s (morte e l i b e r d a d e c o n d i c i o n a l ) , d e t e r m i n a as d e c i ­ sões j u s t a s de Doca Ra mir o;

- na F a z e n d a dos Tu ca n o s , p r e s s i o n a n d o Zé Be bel o com sua r e s o l u t a a t i t u d e de lhe i m p e d i r a t r a i ç a o (enco.berta, c o n f o r m e julga), p r o n ­ to a a s s u m i r o c o m a n d o pa ra a sa lv a ç a o do gr upo após o ato e x t r em o da e l i m i n a ç a o do ch ef e pe la morte, caso se c o m p r o v e a traiçao-,

A s e n s a ç a o que e x p e r i m e n t a é i m p o r t a n t e , po is que r e v e ­ la, i n t r í n s e c o no na rr a d o r , a p l e n i t u d e s o me nt e p o s s í v e l na e x p r e s ­ são p a r t i c i p a n t e da v o n t a d e d i r e c i o n a d o r a . P e r a n t e sua a t i t u d e na F a z e n d a dos. Tu ca no s, R i o b a l d o exclama;

"E eu me sm o senti, a v e r d a d e duma coisa, forte , com a a l e g r i a que me s u p r i u : - e a ^ e r a ^ R i o b a l d o , R i o b a l d o ! A quase que gr it ei aq ue le es te nome , meu c o r a ç a o alto gr itou, Arre entao, q u a n d o eu e x p e r i m e n t e i os gumes dos meus den tes, e t e rm in ei de e s c r e v e r o d e r r a d e i r o bilh et e, eu e s t i v e todo t r a n q ü i l i z a d o e um so, e i n s e n s a t o r e s o l v i d o tarí- to, que mesm o acho que a q u ê l e , na m i n h a vida, foi o po n t o e ponto e ponto , E e n t r e g u e i o e s c r i ­ to a Ze B e be lo - min ha mão e s p a r g i u n e n h u m tre - mor, 0 que regeu em mim foi uma c o r a g e m p r e c i s a ­ da, um d e s p r e z o de dizer; o que disse':

"0 sen hor, chefe, o s e n h o r é am i g o dos s o l d a ­ dos do G o v e r n o , , , " (GSl/,, 254)

E n t r e t a n t o , a p e s a r da c a p a c i d a d e de aç ao a u t o n o m a e- v i d e n c i a d a n e st es m o m e n t o s c r u c i a i s que bem d e m o n s t r a m a p o t e n c i a ­ l i da de l a t e nt e de co ma n d o , R i o b a l d o f o ge à^^j^g's^.Qsabilidade do a s - s u mi rs R e c u s a o ca rg o de c h e f i a , i n d i c a ç ã o de Fle d ei ro \/az e m suá a g o n i a de morte, q u a n d o o f a t o ' h o n r a r i a a um jag u nç o ma i s afoito. Ate aqui, p o rt an to , a c o n d i ç ã o de i n d i f e r e n c i a d o e a conseqlientê"

, --- -i ■ ■ —

---a n g u s t i ---a :

---"M es mo co m a minha vo nt ad e tôda de paz e d e s c a n ­ so, eu es t a v a trazido ali no extrato, no meio d a ­ qu e l a d i v e r s id ad e, d e s p r o p ó s i t o s , co m^ a morte da banda d a ’ mão e s qu er da e ^ banda da mao d i r e i t a , com a mort e nova em mi n h a frente, eu s e n h o r de c e r t e z a nenh um a. " (GSV., 268) - grifo nosso

(22)

1 7

Ch a m a m o s a a t e n ç a o para o paralt?lismo já reitiaratiuo aqui, p-=la i m p o r t â n c i a qu9 vai a s s u m i r no p r ó x i m o s u b c a p í t u l o de anális-^; a s i t u a ç ã o de R i o b a l d o <=ntr'= duas forças, d i s c r i m i n a n d o pela s e g u n d a \?ez as p o s i ç õ e s la te ra is e c o n t í g u a s em que tais f o r ­ ças se e n c o n t r a m ; a direita,_ à esq u er da . C o m e n t a m o s l i nh as atrá s a p o s i ç ã o em que R i o b a l d o se e n c o n t r a ^ e n t r e Zé Bebelo e Di ad o r i m , d u ­ as p e r s o n a g e n s - f o r ç a s i g n i f i c a t i v a s no j u l g a m e n t o de si, c o l o c a n d o - se a m a r g e m da a t u a ç ã o b r i l h a n t e dos dois c o m p a n h e i r o s .

Perguntamos' das razões da i n c e r t e z a do herói, tendo e- le as p o t e n c i a l i d a d e s de c h e f i a e d i s c e r n i m e n t o v i s l u m b r a d a s pelo chef e M e d e i r o \Iaz, e r e v e l a d a s na a t u a ç ã o c o n t u n d e n t e em fav or de

Be be lo no ju l g a m e n t o .

A c r e d i t a m o s que a pá gi na 142 nos traz uma r e s p o s t a e x ­ pre ss i va ; não só e x p r i m e o j u l g a m e n t o d i r e t o do n a r r a d o r i n t e r p r e ­ tando as c a u s a s deste seu p r o c e d i m e n t o , mas é ela, c o n f o r m e a a n á ­ lise i n t e r - r e l a c i o n a n d o suas u n i d a d e s s i g n i f i c a t i v a s h a v e r á de d e ­ m o ns tr ar , a raz ão c a p i t a l do seu c o m p o r t a m e n t o e das lut as i n t e r n a s que se t o r n a m a f o r ç a - m o t r i z da na r r a t i v a , o que, c o n s e q u e n t e m e n t e , p r o v oc a a a n g ú s t i a da incerteza;:

"Ach o que eu não tinha c o n c i s o mêdo dos perigos: o que eu d e s c o s t u r a v a era mê do de e r r a r - de ir cair na b o c a ' d o s p e r i g o s pór m i n h a . c u l p a , Hóje sei: me do m e d i t a d o - foi isto. Medo de errar» Semp re tive. M e d o , d e er r a r é que é m i n h a p a c i ê n - ' cia. Mal, "

E s se ap eg o ao ce rt o ou ao " n ã o - e r r o " é um c a r á t e r b a s ­ tante e n f a t i z a d o pelo n a rr ad or , tanto por meios d i r e t o s ,q u a n t o por mei os i n d i r e t o s de a f i r m a ç ã o .

Sua p e r s o n a l i d a d e que ex ige a c e r t o s j a ma is c o n t e s t a d o s pelo erro, se mp re d e s g o s t o u de " c r i a t u r a s que com pouc o e fá cil se c o n t e n t a m " (GSU,, 115); ca re ce da c e r t e z a de pa st os b e m d e m a r c a - d o s , onde

"o bom seja bom e o rú i m ruim, que dum lado e s ­ teja 0 pret o e do ou tr o o branco, que o feio fi - que bem a p a r t a d o do b o n i t o e a a l e g r i a longe da ", tr ist e za ! (»..) Co mo é que posso com êste mundo?

(o,») Ao que êste mund o é mu ito m i s t u r a d o , " (GSU., 169),

(23)

" T i v e s s e iriedo? 0 rnedo da c o n f u s ã o das coisas, no m o v e r d e ss es fut u ro s , que tudo é d e s o r d e m » "

(GSU., 298)

Do e x p o s t o a c i m a p o d e mo s co nc lu ir ; o me do de erra r p r o ­ vém da i n c a p a c i d a d e de d i s c e r n i r a r e a l id ad e: c o n c l u s ã o não apena s o r i u n d a d a q u e l e e n u n c i a d o , mas i g u a l m e n t e das p e r i p é c i a s que e n v o l ­ vem R i o b a l d o , fato que v e r e m o s no p r ó x i m o s e g m e n t o de a n ál is e; t a m ­ bém o u t r a s r e f l e x õ e s que se e n g l o b a m e n f a t i c a m e n t e na u n i d a d e das m e s m a s p r o p o s t a s c o n f i r m a m no ssa po si ção : a t e n t e m o s pa ra a im por - tâ nc ia da a f i r m a ç ã o que segue:

L i b e r d a d e , ele diz, " a i n d a é só a l e g r i a de um p o ­ bre c a m i n h o z i n h o , no d e n t r o do ferro de gra n de s p r i s õ e s . T e m uma v e rd ad e que se c a r e c e àe apren der, do e n c o be rt o, e que n i n g u é m não en si na: o b e ­ co pa ra a l i b e r d a d e se fazer, Sou um ho m e m igno - rant e, Mas me diga o senhor: a vida não é cousa t e r r í v e l ? " (GSl/., 233)

A f i r m a r a e x i s t ê n c i a do e n c o b e r t o é a f i r m a r t a m b é m a' e x i s t ê n c i a do ap ar e n t e . Ao ob se r v a r a o b j e t i v i d a d e do mu nd o que se a p r e s e n t a in co mp re en sí ve l ^ e ^ ^ ^ c a ó t i c a d e so rd em , R i o b a l d o preoci^pa - se com 0 c o n h e c i m e n t o da v e r d a d e en c o b e r t a , e n e r g i a o c u l t a que a h u m a n i d a d e d e s c o n h e c e , e m b o r a intuída, c o n f o r m e o te xto nos i n f o r ­ ma. (O bs e r v a r o it e m E,l, do c a p í t u l o " S em as do "S er t ã o " da i\iar- ra ti v a " )

Es ta v e r d a d e a l i j a d o r a do erro e da i n c e r t e z a não pode es ta r f u n d a m e n t a d a no acaso ; se as si m o fosse, não teri a o c o n h e c i ­ me nt o da mesma, razão de se r: - anelad-o pelo na rr ad or , ("Tem uma' v e r ­ dade que se ca re ce de a p r e n d e r , do en c o b e r t o , e que n i n g u é m nao e n ­ sina: 0 beco para a l i b e r d a d e se fa ze r," ), deve ter a f i n a l i d a d e de o r d e n a r o mu nd o o b j e t i v o r e g i d o por a q u e l a lei. Diz R i o b a l d o que seu d e s v e l a m e n t o trará l i b e rd ad e; p o d e r i a haver s e g u r a n ç a e d i s c e r ­ n i m e n t o em me io ao caos do U n i v e r s o d e s p r o v i d o de i n t e l i g ê n c i a , sem leis que po ss ib ili tem tal c o n h e c i m e n t o ?

C o n s i d e r a n d o os ob je t i v o s b u s c a d o s pelo herói, d e t e r m i ­ nar n i t i d a m e n t e a d u a l i d a d e da e x i s t ê n c i a com sua tela de c o m p l e x o s f i l a m e n t o s e n t r e l a ç a d o s , a g r a v a n d o este e s f o r ç o de s e p a r a ç a o a n a ­ t u re za vaio-rativa dos o b j e t o s sobre os qu ai s R i o b a l d o ex ig e seu d i sc er ni man -to , é ousar en tã o c o n h e c e r a alta s a b e d o r i a das leis que r e g e m o U n i v e r s o nas s u t i l í s s i m a s r e l a ç õ e s de ca u s a e efeito, ou da lei do e n c o b e r t o que subja z ao a p ar en te , " v e r d a d e que se c a ­ rece de a p r e n d e r " , c o n f o r m e as pa la v r a s do p r ó p ri o n a r r a d o r .

(24)

Tal c o n c e i t o a u f e r i d o do t e x t o ' e n c o n t r a c o r r e s p o n d ê n ­ cia as s a z s e m e l h a n t e na d e f i n i ç ã o do te rm o " c o n h e c e r " da da pelo liur o c a b a l í s t i c o de pr ed i ç ã o :

" C o n h e c e r es av/eriguar por medio' de Ias f a c u l ­ da de s la n a t u r a l e z a y c u a l i d a d e s de Ias cosas, p e r c i c i e n d o cada una co mo algo d i s t i n t o de lo que no es ella, a d v i r t i e n d o y e n t e n d i e n d o lo que la d i s t i n g u e y se pa ra de Ias demas, en lo que respec- ta a Ias leyes n a t u r a l e s , c o n o c i e n d o su a c c i o n , ^ - la p r o g r e s i ó n que s i g u e n los p r o c e s o s a que esta v i n c u l a d a y te ni en do una id ea cl ar a de los efec - tos a que cond uce , por donde se ve que a d em as de ser esas leyes p r i n c i p i o s de c o n o c i m i e n t o inva - r i a b l e s , todo lo gue p o d a m o s c o n o c e r tiene, for- z o s a m e n t e , su razon de ser en ellas, s a b i e n d o O' no s a b i e n d o lo c o n c e r n i e n t e a c i er to a s u n t o en la m e d i d a que nos i d e n t i f i c a m o s o no con la ley y los p r o c e s o s de que es f u n d a m e n t o , " (s)

C o n c l u i m o s esta fase da t r a j e t ó r i a . de Rio -baldo, fase que a n t e c e d e a e x p e r i e n c i a do pacto, pe la s í n t e s e que segue: a n s i a n d o pelo c o m p o r t a m e n t o sem d e s l is e de erro, R i o b a l d o , pelo me do de a s s u m i r e errar, li mi t a r a sua de cisão, e c o n s t i t u í r a junto à massa , a m i s t u r a i n d i f e r e n c i a d a , i m e r s a nas ág u a s b a r r e n t a s da vida.

"Um a i n d a não é um; q u a n d o ai n d a faz pa r t e com todo s, Eu nem sabia" (CSV/,, 142), .

é a a f i r m a ç ã o do he rói na ve lh ice , v i s l u m b r a n d o esta fase de in - c e r t e z a s , ele, " s e n h o r de c e r t e z a n e n h u m a " , d i f e r e n t e de D i ad or im , de qu e m co me n t a :

"Fias, um , era D i a d o r i m - (...) D i a d o r i m , que e- ra 0 j^enino, que era o R e i n a l d o , t eu, Eu?"

(CSV.., 341) - grifo nos so

• Es t a fras e r e f o r ç a o c o m e n t á r i o b a s e a d o no símbolo, da s u b s t â n c i a p r i m o r d i a l i n d i f e r e n c i a d a , de onde e m e r g e m to da s as f o r ­

mas; as águas, e na s i t u a ç ã o e s p e c í f i c a do roma nce , as á g u a s b a r ­ re nt as do são F r a n c i s c o e a i n i c i a ç ã o do herói,

A c o r a g e m e n f o r m a d o r a do ser i n d i v i d u a l i z a d o que c a p a c i ­ ta 0 h o m e m t o r n a r - s e "um" d i f e r e n c i a d o , não se m a n i f e s t a r a em R i o ­ baldo, que b u s c a n d o a p e r f e i ç ã o do " c o n h e c e r " an te s do ato, e a

(25)

2 0 c o n s e q ü e n t e p l e n i t u d e da " l i b e r d a d e " , . c o n s t i t u í r a p ser f r u s t r a d o que se n o m e i a " s e n h o r da i n c e r t e z a " » M a i s c o n c i s a e o b j e t i v a m e n t e , temos até aq u i as i n f o r ­ m a ç õ e s s e g u i n t e s ; ■ • - a f a l ê n c i a dos p r o p ó s i t o s da i n i c i a ç a o , pela f a l ê n c i a de R i o b a l d o em a s s u m i r a r e s p o n s a b i l i d a d e dos seus atos;,

- r a z õ e s de sua fuga: o me do de errar, sa ná ve l, na c o n c e p ç ã o do h e ­ rói, pe lo c o n h e c i m e n t o da lei u n i v e r s a l de ca us a e e f e i t o que r e ­ ge o mund o; a n s e i o que e q ü i v a l e ao C o n h e c i m e n t o ou a Li b e r d a d e , 2,2, Si tu a ç ã o do P a c t á r i o A s e g u n d a fase da t r a j e t ó r i a de R i o b a l d o c o n c e n t r a - s e no s e g u n d o m o m e n t o d e c i s i v o de t r a n s f o r m a ç ã o i n t e r i o r ; "o pacto com o di abo", ■ 0 c o n t e x t o ag o r a é bem d i v e r s o do pr im e i r o , mas é i - n e g á v e l que se c o n s t i t u i no seu p r o l o n g a m e n t o , 0 ei xo so br e o qual

i n c i d e m as a t e n ç õ e s - d o n a r r a d o r nesta nova experiência, é ai nd a o l e i t m o t i v da co ra ge m, a t r i b u t o e n f o r m a d o r do ser d i f e r e n c i a d o ,

. As i n d a g a ç õ e s de R i o b a l d o face ao p r o b l e m a e s p i r i t u a l que o faz b u s c a r o pa ct o e n c o n t r a m r e s p o s t a no s e gu in te ;

"E, o que era que eu q u e r i a ? Ah, acho qua não q u e ­ ria nada, de tanto qua eu q u e r i a só tudo , Uma c o i ­ sa, es t a coisa: eu s o m e n t e q u e r i a era - fic ar s e n ­ do!" (GSV,, 318)

0 o b j e t i v o c o n c e n t r a - s e , pois, so bre si me sm o: to rn ar - se d i f e r e n c i a d o , au to r dos saus atos, na c e r t e z a de suas opções,

Mas, no m u n d o c o n t i n g e n t e e h i s t ó r i c o dos ev en to s, no caso a ja g u n ç a g e m , a p e n a s a ch ef ia tem c o n d i ç õ e s de dar o d i r e c i o ­ n a m e n t o do d e st in o p a r t i c u l a r s e g u nd o v o n t a d e pr óp ri a, e n v o l v e n d o nos a c o n t e c i m e n t o s p r o v o c a d o s pela d e c i s ã o do chefe o d e s t i n o da, ma ss a i n f o r m e que a p e n a s cu mp re d e t e r m i n a ç õ e s ,

Este c a r á t e r da n e c e s s i d a d e do ca rg o para R i o b a l d o a s ­ su mi r sua c o n d i ç ã o de p e s s o a i n d i v i d u a l i z a d a , e p a t e n t e no c o n t e x ­ to da obra desd e o m o m e n t o em que M a d e i r o Vaz lhe o u t o r g a sua su - c e s s a õ , a t é o ponto c u l m i n a n t e do e n re do sob es te en fo q u e , q u an do

(26)

21

R i o b a l d o o ass ume , u n i c o meio ta mb em de sua p l e n i t u d e e m o c i o n a l , c o n f o r m e ui st o em 2,1,

E n c o n t r a - s e t a m b é m nos at o s da p e r s o n a g e m D i a d o r i m , c o n s c i e n t i z a d o T da c o r a g e m nas ág ua s do Sao Fr an cis co, e e s ti mu - l a d o r - d e R i o b a l d o para a chefia, tanto por o c a s iã o da mo rt e de Fle- de ir o \Jaz, q u a n t o nas p r o x i m i d a d e s do dia do pacto ("R iob al do , põe te nt o no que es tou pe di nd o: tu fica! E tem ,o que eu .ainda, não te disse, mas que, de uns tempos, é meu p r e s s e n t i r ; que uoce pode -■ mas e n c o b r e ; que, q u a n d o você mesmo q u i s e r ca lc ar fi rme as estri - beiras, a g u er ra va ri a de fi g u r a , , , " (GSV., 284), a r e v e l a ç ã o do liame en tr e c o r a g e m e ch ef ia, des t in o de R i o b a l d o na mo r t e de Her- m o ge ne s, em vi st a de toda uma e n g r e n a g e m de e v e n to s que c o n d u z e m para tal fim,

A p r o c u r a do i n s ó l i t o é, pois, a e x p r e s s ã o de sua p e r ­ s o n a l i d a d e que a n s e i a a c o n d i ç ã o de d i f e r e n c i a d o , mas, importante' a r e f e r ê n c i a , sob _a ég id e da p e r f e i ç ã o , do a c er to ou do n a o - e r r o ,. c o n c l u s ã o do s u b c a p í t u l o a n t e r i o r de an ál i s e , c a r a c t e r í s t i c a dos a n s e i o s de sua n a t u r e z a i n c a p a z de a d m i t i r a c ô mo da a t i t u d e d a q u e ­ les que com po uc o ou na da se s a t i s f a z e m ; na bus ca da c o r a g e m n e c e s ­ sár ia à r e s p o n s a b i l i d a d e da a ç ao ,a c o r a g e m maior; o â n i m o in vu l -

gar de e n f r e n t a r face a face o m i s t é r i o em si

-"ato que só raro mas raro um ho me m ac h a o quére r p a ra ex e c u t a r , n e ss es s e r t õ e s todos, " (GSU,, 305)

As si m, 0 ato não se d i s s o l v e na s i m p le s b u s c a das f o r ­ ças que c a p a c i t he ró i ao des a fi o da luta ■, mas das fo rç as como tais, no p e r f e i t o '-nhecimento do c a m i n h o Gem erro (S ab ed or ia ) para e n f r e n t a r a H e r m ó g e n e s , e n c a r n a ç ã o do Flal,

E m b o r a H e r m ó g e n e s tiv e ss e sido a p e r s o n a g e m o p o s i t o r a c o n t r a q u e m D i a d o r i m e R i o b a l d o h a vi am sido " d e s t i n a d o s para dar cabo" (GSU,, 310), na ve rd ad e, não ha vi a ódio no n a r r a d o r que p u ­ desse j u s t i f i c a r ou i n c e n t i v a r sua p e r s e g u i ç ã o ; as r a zõ es são e x ­ p l í c i t a s no qua segue;

"Mas., no e x i s t i r de ss a gente do s e r t ã o en ta o não ho uv e s s e , por bem dizer, um homem ma is ho me m ? . Os outros, 0 resto, es s a s cr i a t u r a s , So o He rm o- genes, ar r e n e g a d o , s e n h o r a ç o , d e s t e m i d o . Ruim,

(27)

2 2

mas i n t e i r a d o , le gít im o, pa ra toda c e rt ez a, a m a l ­ dade pu ra. Éle, de tudo tinha sido capaz, até de a c a b a r com 3oca Ramiro, em tanta s a l t u r a s (...) Em tudo re co nhe ci: que o H e r m ó g e n e s era grande d e s ­ t a c a d o d a q u e l e porte, ig u a l ao p i c o ' d o seri'o do^I- tamb é, q u a n d o se uê q u a n d o se vem da b a n d a da l^ãe- d o s - H o m e n s - sur g id o alto nas n u ve ns nos h o r i z o n ­ tes. Até am i g o meu p u d e s s e ser; um homem, que h a ­ via." (GSU., 309)

0 text o r e v e l a a d m i r a ç ã o por a q u i l o que se c o ns ti - tui a bu sca de R i o b a l d o : - a c a p a c i d a d e de aç ao con -victa, i m p o s s í v e l a ele , pela ag ud a c o n s c i ê n c i a da dú vid a p r o v e n i e n t e da f a l t a de d i s c e r n i m e n t o em meio ao caos do mundo, c o n s c i ê n c i a i n e x i s t e n t e em He rm óg en es , " m a l d a d e pura".

L e m b r a m o s que a açao em G r a n d e Sertão ; U e r e d a s nao se acha d i s s o c i a d a das r e f l e x õ e s do n a rr ad or .

Este todo, c o n j u n t o de ação e ref l ex ão , v a i c o n v e r g i r

pa ra o p r i m o r d i a l m o t i v o do c o n f l i t o de R i ob al do : e n f a t i z a m o s ; a- i n c a p a c i d a d e de ação pe lo c h oq ue entre o saber, o ac er t a r , e o nao- saber, o errar; e m p r e g a n d o a t e r m i n o l o g i a já usada, en tr e o c o n h e ­ cer e 0 n ã o - c o n h e c e r , c o n c e i t o s v i st os no s u b c a p í t u l o an t e r i o r ; e n ­ tre a l i b e r d a d e que só o " c o n h e c i m e n t o " p o s s i b i l i t a , e a "prisão" do d e s c o n h e c i d o ; - tal é o c o n f l i t o em f u nç ão do qual se acha a p r o b l e m á t i c a da c o r a g e m e do ato r e s p o n s á v e l que lhe diz r e sp ei to .

S i m b ó l i c o co mo tudo em G r a n d e Sertão ; U e r e d a s onde h o ­ mens, águas , bu ri ti s, se rt ão, a d q u i r e m s i g n i f i c a d o p a r t i c u l a r , e a t i t u d e e x i g i d a pelo te xt o a p e n e t r a ç ã o deste se nt ido , e s t r u t u r a n ­ do-o num s i s t e m a c o e r e n t e de i n t e r p r e t a ç ã o , f u n d a m e n t a d o nas pos - s i b i l i d a d e s que o text o of er ec e,

~Ã s u t i l e z a do n a r r a d o r faz i n s i n u a r nos d e t a l h e s apa - r e n t e m e n t e i n s i g n i f i c a n t e s , a chave da i n t e r p r e t a ç a o .

Em bu sc a d e s t a chave, nossa a t e n ç a o c o n c e n t r o u - s e na frase que nos p a r e c g u a l t a m e n t e e x p r e s s i v a d e nt ro do c o n t e x t o s i m ­ b ó l i c o em que a n a r r a t i v a es tá montada: após o " p ac to ", d e p o s t o Zé Bebelo, e ha l i d e r a n ç a do bando, com a mor te de R i c a r d a o e a mu - lher de H e r m ó g e n e s fe it a pr i s i o n e i r a , c a m i n h a m rumo ao Pa re da o, po nt o culmi-nante da luta, a c o m p a n h a d o s pelo m o l e q u e G u i r i g o e o c e ­ go Borromeu', t r a z i d o s do lugar a g o u r e n t o do Su cruiu por e x c l u s i v o c a p r i c h o de R i ob al do ;

Referências

Documentos relacionados

O Botulismo alimentar é uma doença neuroparalítica grave causada pela ingestão de neurotoxinas presentes em alimentos contaminados com a bactéria Clostridium

QUANDO TIVER BANHEIRA LIGADA À CAIXA SIFONADA É CONVENIENTE ADOTAR A SAÍDA DA CAIXA SIFONADA COM DIÂMTRO DE 75 mm, PARA EVITAR O TRANSBORDAMENTO DA ESPUMA FORMADA DENTRO DA

O emprego de um estimador robusto em variável que apresente valores discrepantes produz resultados adequados à avaliação e medição da variabilidade espacial de atributos de uma

Para o controle da salivação, gosto muito de usar metáforas, como pedir para o paciente imaginar um ralo dentro de sua boca, por onde a saliva escorre, ou uma torneirinha que vai

Trata-se de um laboratório situado no prédio AT/LAB, no piso térreo, possuindo paredes de alvenaria de blocos rebocadas, paredes divisórias em madeira, forro de laje reta, piso

E ele funciona como um elo entre o time e os torcedores, com calçada da fama, uma série de brincadeiras para crianças e até área para pegar autógrafos dos jogadores.. O local

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

Urna s~ao do mesmo almanaque parece ter sido inserida por Booker com a finalidade de responder a essa pergunta (Booker, 1642, pp. Nessa se~ao urna descri~i!o relaciona