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Aspectos metassêmicos na língua portuguesa

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Academic year: 2021

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PROGRAMA DE POS GRADUAÇÃO EM LETRAS

-ASPECTOS METASSÊMICOS NA LÍNGUA PORTUGUESA

Dissertaçao submetida ã Universidade Federal de Santa Catarina

para a obtenção do Grau de Mestre em Letras, área de

Lingüística-SEBÆSTIAO GRABGKFHO NETO

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Esta d i s s e r t a ç ã o foi j u l g a d a a d e q u a d a para a o b t e n ç ã o do titulo de

Mestre em Letras - área de L i n g ü í s t i c a - e a p r o v a d a , e m sua forma f i n a l , p e l o P r o g r a m a de P õ s - G r a d u a ç ã o .

Prof. 0r. iTose

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coccrteo

P rof? Dra. Maria Marta F u r l a n e t t o C o o r d e n a d o r a do Curso

A p r e s e n t a d a p e r a n t e a banca ex p pro

f es sores

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Dr. Sebastião Prudente de Araújo Grangeiro3 cuja existência dedicara ã formação cultu­ ral da mocidade da Terra das Alagoas ;

ã memoria sentida de meus pais,

José Augusto Ferreira Costa e Elodia L í ­ via Grangeiro Cos£a,mãos ajudosas no meu caminhar ;

a

Alda3 compreensão e ternura

e

a meus diletos filhos,

Grangeirinho e Elodia, ofereço «este trabalho.

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Ao meu o r i e n t a d o r , Prof. Dr. José Cu t í, i n t e l i g e n c i a

p r i v i l e g i a d a a s e r v i ç o da cul t ur a s u p e r i o r , n e s t a Uni v e r - sidade Federal de Santa C a t a r i n a ,aos Professores do C ur­ so de Pós— Graduaçao em Letras e ao meu e x c e l e n t e m e s t r e

de Língua P o r t u g u e s a , Prof. Dr. Fernando lorio Rodrigues, na m i n h a Un iversidade Federal de A l a g o a s ,a h o m e n a g e m e o a g r a d e c i m e n t o do

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S U M A R I O

I N T R O D U Ç Ã O ...1

NOTAS DA I N T R O D U Ç Ã O ... 5

CAPITULO. I - METASS EMI A ... 6

1.1 - D e f i n i ç ã o E t i m o l ó g i c a e C o n c e p ç ã o ... 6 1.2 - S i n c r o n i a e Diacronia, no Uni v e r s o da S e m â n t i c a ... 9 1.3 - R e g i s t r o s M e t a s s ê m i c o s ... ..15 NOTAS DO C A P I T U L O I ... 17 CAPITULO. II - M E T A S S E M A S S I N C R Ó N I C O S ... 18 2.1 - A l t e r a ç õ e s S e m â n t i c a s , em n o s so s dias ...18 2.1.1 - A G T r i a ... 19 2.1.2 - T r o p o s ... 25 2.1.2.1 - A M et á f o r a ... 25 2 . 1 . 2 . 2 - A M e t o n i m i a ... 29 2 .1.2.3 - A S inédoque ... 32 NOTAS DO C A P I T U L O II ... . . .35 C A P I T U L O III - M E T A S S E M A S D I A C R 0 N I COS ... ‘... 36 3.1 - A l t e r a ç õ e s S e m â n t i c a s , no d e c u r s o do tempo ... 36 3.1.1 - A c e p ç õ e s C lássicas e a e v i d ê n c i a de M e t a s s e m a s D i a c r õ n i c o s , na L í n g u a ... 42 N OTAS DO C A P I T U L O III ... 69 C O N C L U S Õ E S ... 71 B I B L I O G R A F I A ... 73

A P Ê N D I C E I : Lista dos Nomes de A u tores Clá s s i c o s e Obras C i t a d a s ... 76

N OTAS DO A P Ê N D I C E I... 83

A P Ê N D I C E II : A b r e v i a t u r a s dos Nomes de Autores Clássicos, Obras e Revistas C i t a d a s ... 84

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SIMBOLOGIA

Igual ao sentido de.

+ Mais,usado na composição de palavras.

< Proveniente de.

* Indica uma forma não documentada

u Denota,no latim clássico,que é breve a vogal sobre a qual foi colocado

Denota,no latim clássico,que é longa a vogal sobre a qual foi colocado Denota,na composição de palavras,que é inicial o que lhe está ã es­ querda; e, final o que lhe vem ã direita. Assim : a- é um prefixo, -ar será um sufixo.

/ Indica, nas citações, mudança de século.

___ Indicam supressão de parte de um trecho citado, evitando-se,deste mo­ do, confundi-loScom as reticências.

c. Canto. e. Estrofe. intr. Introdução. 1. Livro. no Número. P- Página. pp. Páginas. supl. Suplemento. v. Verso. NOTA :

Na ausência de indicação especial nas citações, entende-se que o alga - rismo romano indica o volume, e o arábico, a página.

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Esta d i s s e r t a ç ã o se p ro p õ e e v i d e n c i a r aspectos raetassê m i - cos na lingua p o r t u g u e s a,a s s im no plano s i n c r ó n i c o , como no dia-

crónico. A i n t r o d u ç ã o d e l i n e i a as c o o r d e n a d a s d e st e trabalho. 0 C a p i t u l o I d e f i n e e t i m o l ó g i c a m e n t e M e t a s s e m i a,estabele- ce sua co nc e p ç ã o , e, por f i m , t r a t a da s i n c r o n i a e da d i a c r o n i a , no campo da Semántica. 0 C a p i t u l o II a p r e s e n t a a l t e r a ç õ e s s e m â n t i c a s que e x p e r i ­ m e n t a m as pal a vras*num.dado; estágio da língua, a s s i m a giria na lin - g u a g e m colo qu ia l po p ul a r , como os tropos,subí i n h a n d o ,de modo e s ­

pecial, a metafopcijá metonimia ea sxnédoque3 todos são Metassemas

S i n c r ó n i c o s .

0 C a p i t u l o III m e r g u l h a no t e m po e c o n s i d e r a a e v o l u ç ã o s em â n t i c a por que p a s s a m as p a l a v r a s , na língua, como Metassemas Diacrónicos.

F i n a l m e n t e , as C o n c l u s õ e s e n f e i x a m o r e s u l t a d o do que f o ­ ra alega do , r e s u m e m ca us a s d e t e r m i n a n t e s das m u d a n ç a s de sen ti do das p al av r as e r e a f i r m a m que estas a l t e r a ç õ e s s e m â n t i c a s c o n t r i ­ buem para o e n r i q u e c i m e n t o do léx ic o da língua po rt ug ue sa .

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vi i i

A B S T R A C T

This thesis is i n t e n d e d to p r e s e n t some M e t a s s e m i c A s p e c t s in the P o r t u g u e s e L a n g u a g e , both on the s y n c h r o n i c

level and on the d i a c h r o n i c one.

The i n t r o d u c t i o n p ro v i d e s the goal of the p r e s e n t resear c h.

C ha pt er I de fi n e s the e t y m o l o g y and the c o n c e p t of M e t a s s e m y a n d , f i n a l l y , c o n s i d e r s the s y n c h r o n i s m and the d i £ c h r o n i s m in the s e m a n t i c field.

Ch ap t e r II p re se nt s the s e m a n t i c t r a n s f o r m a t i o n s of s om e words in a given stage of the langu ag e , as well as slang in po pu l a r and coll oq u ia l speech, such as tropes, a n d , a b o v e all, m et ap ho r , m e t o n y m y and s y n e d o c h e , all of w hich are Syn - c h r o n i c M e ta ssemes.

Ch ap te r III a n a l y z e s the s e m a n t i c e v o l u t i o n of the w o r d s as D i a c h r o n i c M e t a s s e m e s .

Finally, the C o n c l u s i o n s u m m a r i z e s the a r g u m e n t and s t a te s some causes that d e t e r m i n e the cha ng es in the m e a n ­ ing of the words and also proves these s e m a n t i c a l t e r a t i o n s have e n ri c h e d the P o r t u g u e s e v o c a b u l a r y .

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Jã é fato u n i v e r s a l m e n t e a ceito, a p o s t e r i o r i , que a v e r d a d e c i e n t i f i c a é r e l a t i v a e que em coisa al gu m a do homem hã p e r f e i ç ã o a b s o l u t a , - dada sua c o n t i n g ê n c i a - , r azão por que este t r a b a l h o dará m a r g e m a p o l ê m i c a s e c o n t r o v é r s i a s , bem como ã p o s s i b i l i d a d e de ser a m p l i a d o e c o n t i n u a d o .

Com base nessa p r e m i s s a , hã de se a d m i t i r que nenhum e s t u d o exa ur e seu c a mp o de i n v e s t i g a ç ã o , por mais que se d e l i m i ­ tem os p ro b l e m a s c o n c e r n e n t e s a seu objeto, p r i n c i p a l m e n t e , em se t r a t a n d o de uma ci ên c i a social nova como a lingüística, l i d a n ­ do com os fatos da li n g u a g e m , que, sem dúv i da , foi o p ri me ir o c ó d i g o do homem para sua c o m u n i c a ç ã o no g ru po em que se propôs viver.

A l i n g u a g e m a r t i c u l a d a em s í m b o l o s ê i ne r e n t e ã espê - cie humana, d e s e n v o l v i d a pelas r e l a ç õ e s e n e c e s s i a d e s mútu as , que o est a do social e s t a b e l e c e e n t re os i n d i v í d u o s , e aperfei ç oada no p r o g r e s s o da c i v i l i z a ç ã o .

Latino Coelho, na sua t r a d u ç ã o da O r a ç ã o d a C o r o a , de D e m ó s t e n e s , ao f a ze r a a p o l o g i a da pa l av ra , a s s i m a ela se refe-riu* de t o d a s a s a r t e s a m a i s b e l a , a m a i s e x p r e s s i v a , a ♦ • » m a r s d i f í c i l é s e m d ú v i d a a a r t e d a p a l a v r a . (1).

D e b r u ç a d o , de sde o a d o l e s c e r , sobre os e n s i n a m e n t o s dos mais i ns i g n e s c u l t o r e s e mais p e r f e i t o s m e s t r e s da l i t e r a t u ­ ra 1u s o - b r a s i 1 eira , e n a m o r a m o - n o s , a p ouco e pouco, da op ul ê n c i a de nossa língua, da sua g e n u i n i d a d e e da beleza de seus r ec ursos de e x p r e s s ã o , m o t i v o por que, n esta d i s s e r t a ç ã o de M e st r ad o, nos p r o p u s e m o s adotar, como c r i t é r i o de t r ab a l h o , o uso que, de ge - r a ç ã o a g e ra çã o, nos foi t r a n s m i t i d o , seja a t r a v é s da pena cas - tiça e e s c o r r e i t a dos a u t or es c l ã s s i c o s , seja a tr a v é s da tradi - ção o r a l .

Neste tr ab a l h o , a d m i t i m o s , q u as e sempre, por norma, não o si mp le s t e s t e m u n h o de um c l á s s i c o , mas o uso dos clássicos.

A pa l a v r a C l á s s i c o é aqui toma da em um s e n t i d o mais a m p l o do que a q u e l e que lhe é dado, t r a d i c i o n a l m e n t e , como pró

(11)

-2

prio do c l a s s i c i s m o , m o v i m e n t o de r e n o v a ç ã o l i t e r á r i a em que, a p r i n c i p i o , duas linhas de i n s p i r a ç ã o a r t í s t i c a , - a do l i r i s m o pessoal e a do s e n t i m e n t o é pico - , pr e d o m i n a r a m .

C lássica, para nõs, é toda p r o d u ç ã o li te r á r i a que o b e ­ deça aos c ânones p r e e s t a b e l e c i d o s pelo c l a s s i c i s m o , mas e c l á s ­ sica t a m bé m aquela que o be d e ç a a tudo em que e s t e j a m a p u r e z a da l i n g u a g e m , a e l e g â n c i a e x p r e s s i o n a l , o e m p r e g o de p a l a v r a s a p r o ­ p r i a d a s e de sen ti d o c o m p r e e n s í v e l , ra zão por que há e s c r i t o r e s m o d e r n o s e c o n t e m p o r á n e o s que são v e r d a d e i r o s c l á s s i c o s da l í n ­ gua, a e x e mp lo de M a c h a d o de Assis, E uc li de s da Cunha, Rui B a r ­ bosa e, em nossos dias, Carlos D r u m m o n d de Andrade.

I n c e n t i v a d o pelo t r a b a l h o l a b o r i o s o dest es a r t i s t a s da p a l a v r a (os e s c r i t o r e s ) , desde os do séc ul o XVI até aos at u a i s , que aqui d e s f i l a r ã o , a b o r d a r e m o s A s p e c t o s M e t a s s ê m i c o s na L í n g u a P o r t u g u e s a , no des ej o de nos a d e n t r a r no c o n h e c i m e n t o de a l t e r a ­ ções s e m â n t i c a s que, fartas vezes, o c o r r e m no uso que de nossa líng ua fazemos.

Por outro lado, e n t e n d e m o s , como S i l v e i r a B u e n o , ser a língua não o pr od u t o da lógica e sim do u s o e contra este n ã o v a l e m a s d e d u ç õ e s t e ó r i c a s . ( 2 ) . Para J o a q u i m Ribeiro, h a p a l a v r a s q u e d e v e m a s u a b e l e ­ z a u n i c a m e n t e à s u a s i g n i f i c a ç ã o . A m a i s b e l a p a l a v r a d a l i n g u a , o v o c ã b u l o s a u d a d e 3 d e v e a s u a b e l e z a s i n g u l a r à a - c e p ç ã o 3 q u e ê a l g o i n d e f i n í v e l . ( . . . ) . A b e l e z a ê 3 i n e g a v e l - m e n t e 3 o f u r t a - c o r d o s e n t i d o . A s p a l a v r a s a m a r e a m o r s ã o s ã o b e l a s a n t e s p e l a a c e p ç ã o d o q u e p e l a f o r m a . {3). Excelem, em pág in a s v i n d o u r a s , não sõ as n u a nç a s da a c e p ­ ção atual das p al avras e as suas p o s s i b i l i d a d e s m e t a f ó r i c a s , no p r o c e s s o s i n c r ó n i c o - d o m i n i o e s p e c i f i c o da S e m â n t i c a D e s c r i t i v a - ( Si n c r ó n i c a ) - como os d i v e r s o s c a m b i a n t e s de sentido, que elas e x p e r i m e n t a m , no e s p aç o e no c ur so do tempo, c o n s t i t u i n d o - s e e s ­ copo da S e m á n t i c a H i s t ó r i c a ( D i a c r ó n i c a ) .

0 Padre Pedro Ad ri ão , a n t i g o p r o f e s s o r de p o r t u g u ê s no S e m i n á r i o de Olinda, em seu livro, T r a d i ç õ e s C l á s s i c a s da L í ng ua P o r t u g u e s a , a centuou:

E s t ã o s u j e i t a s a s p a l a v r a s 3 n a s l í n g u a s v i ­ v a s 3 â e v o l u ç ã o c o n t i n u a 3 n ã o s ó n o s e u e l e

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-m e n t o -m a t e r i a l o u s ô n i c o , -m a s t a -m b é -m n a s u a s i g n i f i c a ç ã o . A a s s o c i a ç ã o de i d é i a s , o g r a - c e j o , a i r o n i a , a i n f l u e n c i a e s t r a n g e i r a , o g o s t o d a s m e t á f o r a s , o s d i t o s q u e s e v ã o i n - t r o d u z i n d o n o s e i o d o p o v o , a c o n f u s ã o d e u m t e r m o c o m o u t r o p a r e c i d o , se v ã o e n c a r r e g a n d o d e g e r a r s e m e l h a n t e s a l t e r a ç õ e s s e m â n t i c a s . E a s s i m , o s e n t i d o d a s p a l a v r a s n ã o r a r o a l a r - g a - s e , r e s t r i n g e - s e , i n c l i n a - s e p a r a o l a d o b o m o u p a r a o l a d o m a u , ê e n c a r a d o s o b u m o u s o b o u t r o a s p e c t o e m d i v e r s a s r e g i õ e s o u e m v a r i a s é p o c a s d a h i s t ó r i a d a l í n g u a , e à s v e ­ z e s v a i s o f r e n d o m u d a n ç a s s u c e s s i v a s e p a u l a ­ t i n a s , a t é d a r e m s i g n i f i c a ç ã o v i s i v e l m e n t e d i v e r s a . (4). / _ £ , j u s t a m e n t e , acer ca d e s t e s câm bi os de s e n t i d o que nos o c u pa re m os , ne sta m o n o g r a f i a .

Nossoí; t r a b a l h o tem, p o r t a n t o , como o b j e t i v o , contri - buir para o m e l h o r c o n h e c i m e n t o de a l g u m a s m u d a n ç a s de s e n t i d o das palavras, na líng ua p o r t u g u e s a , e d e s t i n a - s e a q u a n t o s se i nt e r e s s e m pelo e s t u d o da Semâ nt ic a . A lé m d e s t a i n t r o d u ç ã o e das c o n c l u s õ e s , nossa d i s s e r - tação consta de três c a p í t u l o s e três a p ên di ce s: No c a p i t u l o I, a par da d e f i n i ç ã o e t i m o l ó g i c a de Me tassemia, f o r c e j a m o s por e s t a b e l e c e r sua c o n c e p ç ã o e, por fim , a bo r da mo s a s i n c r o n i a e a d i a c r o n i a , no ca mpo da S e m â n t i c a , e v i ­ d e nc i ad as a t r a v é s de al gu n s r e g i s t r o s m e t a s s ê m i c o s .

No c a p i t u l o II, sob o e n f o q u e de M e t a s s e m a s S i n c r ô n i - c o s , a c o s t a m o - n o s à e s p o n t â n e a p u j a n ç a do f alar q u o t i d i a n o do n osso povo e aos n o vo s t or n e i o s de e x p r e s s ã o de que se u t i l i z a m alguns dos nosso s bons p r o s a d o r e s que, na c o n t e m p o r a n e i d a d e , vêm e n r i q u e c e n d o a c o m u n i c a ç ã o e as let r as d a q u é m e d a l ê m - m a r .

No c a p i t u l o I I I , a o d i s c o r r e r m o s sobre os M e t a s s e m a s D i a c r Õ n i c o s , m e r g u l h a m o s no tempo e, d e sd e os a lb o r e s do s é cu l o

XVI, -época em que se c o n s o l i d o u o p r e s t i g i o da língua p o r t u g u e ­ sa, ini ci ando-se, a 1 i , o c h a m a d o p e r í o d o áureo-, até ao atual , a p r e s e n t a m o s , em r e s p a l d o do no sso p onto de vista, o t e s t e m u n h o dos que, até hoje, são os mai ores m o d e l o s da língua c l á s s i c a , que corre, l ím p i d a e sem t ro pe ço s , sob as folha s c a í d a s da g r a n ­ de arvore ne o l a t i n a .

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4

Os tris a p ê n d i c e s e n c e r r a m uma lista dos nomes de a u ­ tores c l á s s i c o s e obras citadas; a b r e v i a t u r a s dos nomes destes a u t o r e s , o br as e r ev i s t a s cit ad as e um c o r p u s com os e xt ra t os

1 i terãri os .

Os e x t r a t o s l i t e r á r i o s destas obras, nos s é cu l o s XVI, XVII, XVIII, XIX e XX, de onde r et i r a m o s a q u a s e - t o t a l i d a d e das a b o n a ç õ e s que e v i d e n c i a m , no p r oc e s s o d i a c r ô n i c o da língua, — e s p e c i f i c o do c a p i t u l o III — , a s p e c t o s m e t a s s ê m i c o s , f o ­ ram c o l e t a d a s pelo Pe. Pedro A d r i ã o e neles t r a b a l h a m o s .

F i n a l m e n t e , esta mo s em que u m a d a s c a u s a s , e t a l v e z a p r i n c i p a l , d a i m p e r f e i ç ã o d a s d e f i n i ç õ e s d o s t e r m o s e da f i x a ç ã o d o s s e u s s i g n i f i c a d o s , n o s e n t i d o p r ó p r i o e n o m e t a ­ f ó r i c o , é a i g n o r â n c i a d a s e t i m o l o g i a s a n a l i s a d a s , i s t o é, n ã o s ó d o s t e r m o s d a U n g u a - m ã e , m a s d a v e r d a d e i r a s i g n i f i - c a ç ã o d o s s e u s e l e m e n t o s r a d i c a i s e d a s d e s i n e n c i a s , s u f i - x o s e p r e f i x o s . ( b ) .

Eis r e s u m i d o , po rt a n t o , nesta m o n o g r a f i a , a s s u n t o para d e s e n v o l v i m e n t o s amplos.

(14)

Latino C o e l h o , a p u d Jesus Belo Ga 1 vão , 1 9 5 4 ,p .44 ;e ,em C a r n e i ­ ro Ri b e i ro , 1 9 1 5 ,p .67 0

S il v e i r a Bueno, 1 963 , 1 9 vol., p. XXII

J o a q u i m R ib e i r o , 1964, p. 60

Pe. P edro A d r iã o , 1945, p. 37

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C A P I T U L O I - K ETAS S E E I A 1.1 - D e f i n i ç ã o E t i m o l ó g i c a e C o n c e p ç ã o A p a l a v r a M e t a s s e m i a ê f o r m a d a do p r e f i x o gr ego "ME- TÁ-", a l é m 3 t r a n s - 3 d e n o t a n d o m u d a n ç a , a l t e r a ç ã o + o r a d i c a l g r e g o "SEM" do n e u t r o " S E M E I O N ", s i n a l 3 d e r i v a d o de "SEMA, SÊ- M A T O S " — c o m o b a s e ú l t i m a d e " S E M A I N O " , s i g n i f i c o 3 1- p. do sing, do p r e s e n t e do i n d i c a t i v o de " S E M A I N E I N " , s i g n i f i c a r — , + o s u f ix o g r e g o " — IA", c o m i d e i a de s i s t e m a . (1). E t i m o l ó g i c a m e n t e , M E T A S S E M I A s i g n i f i c a mu da n ç a , a l ­ teração, t r a n s f o r m a ç ã o do s e n t i d o de p a l a v r a s , na língua. J. M a r o u z e a u , em s e u l i v r o ' L e x i q u e de La Terminologie L i n g u i s t i q u e ’ , c o n s i d e r a a p a l a v r a M E T A S S E M I A como u m "termo p r o p o s t o p a r a d e s i g n a r , de u m a m a n e i r a geral, as m u d a n ç a s de s i g n i f i c a ç ã o " (2), S i l v e i r a Bueno, em s e u T r a t a d o de S e m â n t i c a B r a s i - leira' , o f e r e c e - n o s e s t e s e n s i n a m e n t o s : T o d a e q u a l q u e r a l t e r a ç ã o no s i g n i f i c a d o d a p a l a v r a 3 s e j a p a r a m a i s o u p a r a m e - n o s j s e j a p o r o p o s i ç ã o o u p o r s e m e l h a n - ç a 3 d a n d o - s e 3 p o r t a n t o 3 u m a s u b s t i t u i ç ã o e n t r e a s v ã r i a s s i g n i f i c a ç õ e s c o r r e l a t a s , d e n o m i n a - s e o f e n ô m e n o m e t a s s e m i a 3 q u e s i g n i f i c a a p e n a s : a l t e r a ç ã o do s i g n i f i ­ c a d o . M a i s a d i a n t e , a c r e s c e n t a o se ma n t i s t a : S e o v e l h o l a t i m R i p a r i a m i n d i c a v a a p e ­ n a s a s m a r g e n s d o r i o 3 s i g n i f i c a d o q u e a i n d a c o n s e r v o u o p o r t u g u ê s a r c a i c o e c l á s s i c o R i b e i r a e d e s i g n a h o j e a p r ó ­ p r i a c o r r e n t e d a g u a 3 h o u v e 3 e m s e u c o n ­ t e ú d o p s i c o l ó g i c o 3 g r a n d e m u d a n ç a 3 i s t o é 3 u m a m e t a s s e m i a . M a i o r a i n d a t i v e m o s e m T o r r e n t e q u e 3 p r o v i n d o d e T o r r e n t e m 3 p r e n d e n d o - s e a T o r r % d u s 3 q u e n t e 3 c o m o a i n d a v e m o s e m z o n a t o r r i d a 3 e m t o r r a r 3 p a s s o u h o j e a s i g n i f i c a r o o p o s t o 3 c a u ­ d a l d á g u a . (3 ).

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P a rt im os , n e s t e n o s s o t ra b a l h o , do p r i n c í p i o de que t od a p a l a v r a , f or a da frase, é um a a b s t r a ç ã o ; d aí d e c o r r e o p e ­ r i g o do sim pl es m a n u s e i o dos d i c i o n á r i o s . D i f e r e n t e n ã o nos p a r e c e o s e nt ir de P i e r r e Guiraud em s eu livro La S e m a n t i q u e ' , as fis. 31, ao af ir ma r: " Toda p a l a v r a e s tã l i g a d a ao se u c o n t e x t o , d o n d e ela t ir a o seu s e n t i d o . . . " E, m a i s a d i a n t e , ele co nc lu i: "... à p a l a v r a em se u c o n t e x t o c o r r e s p o n d e uma u n i c a i m a g e m c o n c e i t u a i " . (4). Ass im , ao a n a l i s a r m o s a p a l a v r a b e m, v e r i f i c a m o s que, fora do c o n t e x t o , isto é, a i n d a na m e n t e do fa l a n t e , ela a p r e ­ s e n t a u m feixe de t r a ç o s sê micos, a que c h a m a r e m o s , aqui, e l e ­ m e n t o s de s i g n i f i c a ç ã o ; porém, no m o m e n t o em que e st a m e s m a p a ­ l a v r a se c o n t e x t u a l i z a , a s e r v i ç o de uma i n t e n ç ã o d e c l a r a d a do f al ante, ela p a s s a a a d q u i r i r s e n t i d o . Exs. : a) 0 b e m c o n t r a s t a com o mal. b) O t o n i e l é u m h o m e m de b e m . c) E d u a r d o e s c r e v e b e m . d) -Aquele r a p a z p o r t o u - s e b e m. e) M e s m o d e v a g a r , c o n s e g u i u ir b e m longe. Na frase a, a p a l a v r a b e m p e r t e n c e à c l a s s e dos s u b s t a n t i v o s e a d q u i r i u , no c o n t e x t o , o s e n t i d o de o q u e é b o m 3 v i r t u d e . Na f rase b, a p a l a v r a b e m, p r e c e d i d a da p r e p o s i ç ã o d e , f u n c i o n a como u m a lo cu ç ã o a d j e t i v a e s i g n i f i c a h o n e s t o 3 p r o - b o . Na f r as e c, b e m p e r t e n c e à c la s s e dos a d v e r b i o s , d e ­ n o t a n d o ali uma c i r c u n s t â n c i a de modo, e s i n o n i m i z a c o m p e r f e i ­

ç ã o j c o r r e t a m e n t e .

Na fr ase d, b e m c o n t i n u a p e r t e n c e n d o a c l a s s e dos a dv é r b i o s , a c i r c u n s t â n c i a ali e x p r e s s a é t a m b é m de m o d o , c o n ­ tudo a dquiri u u m n o v o s en tido, o de c o n v e n i e n t e m e n t e .

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8

dos a d v e r b i o s , p o r é m a c i r c u n s t a n c i a e x p r e s s a é a de i n t e n s i d a d e e s i g n i f i c a , n a q u e l e c o n te xt o, m u i t o 3 b a s t a n t e .

P r o c e d e , p o r isso, a a d v e r t ê n c i a de M. S a i d A l i de que "por m u i t a s que s e j a m as s i g n i f i c a ç õ e s de u m v o c á b u l o , so uma d e l a s e n t r a de c a d a v e z em cena. De m o d o que p o d e m o s c o n s i ^ d e r a r c a d a a c e p ç ã o como u m v o c á b u l o i n d e p e n d e n t e " . (5).

A c o r d e , ainda, com es ta l i n h a de p e n s a m e n t o , está G a l i c h e t , e m s e u E s s a i de Maroma ire;: P s y c h o l o g i q u e ' , às pp. 16, q u a n d o n o s diz:

"A p a l a v r a n ã o t e m o m e s m o v a l o r na língua; sua n a ­ t u r e z a e f u n ç ã o v a r i a m s e g u n d o o c o n t e x t o s i n t á t i c o " . (6), T e m v a r i a d o , ate hoje, o e m p r e g o da t e r m i n o l o g i a s e ­ m â n t i c a , n o t o c a n t e as p a l a v r a s s i g n i f i c a ç ã o e s e n t i d o . Ha a u t o r e s , como S i l v e i r a B u e n o ( 7 ) ¿ q u e f a l a m de s i g ­ n i f i c a ç ã o e s i g n i f i c a d o , o u t r o s j c o m o P i e r r e G u i r a u d ( 8 ) , p r e f e ­ r e m os t e r m o s s e n t i d o de ba se e s e n t i d o c o n t e x t u a l , e há a i n d a a q u e l e s que n ã o f a z e m tal d i s t i n ç ã o , c om o os p r i m e i r o s e s t u d i o ­ sos da S e m â n t i c a . N o e n t a n t o , como a c o n t e c e f r e q ü e n t e m e n t e nos e st u d o s l i n g ü í s t i c o s a t u a i s , — e, também, n o u t r o s r a m o s do c o n h e c i m e n ­ to h u m a n o — , a d i f e r e n ç a e nt r e os a u t o r e s é a p e n a s t e r m i n o l ó ­ gica, p ois, p a r a a m e s m a n o ç ã o o u c o n c e i t o , c a d a q ua l a p r e s e n t a n o m i n a ç ã o d i v e r s i f i c a d a . A q u i , p r e f e r i m o s os t e r m o s s i g n i f i c a ç ã o e s e n t i d o . A t í t u l o de m e l h o r c o m p r e e n s ã o de n o s s o t ra ba lh o, c o n v é m f r i s a r m o s que a d o t a m o s o p o s i c i o n a m e n t o l i n g ü í s t i c o de J. M a t t o s o C â m a r a Jr. a r e s p e i t o da d i s t i n ç ã o , que ele e s t a b e ­ lece, e n t r e s i g n i f i c a ç ã o e s e n t i d o da s p a l a v r a s . C o n c e b e m o s a s i g n i f i c a ç ã o como s e nd o a p e n a s a " r e ­ p r e s e n t a ç ã o m e n t a l que uma f o r m a l i n g ü í s t i c a e v o c a " ; é, p o r t a n ­ to, u m p r o c e s s o p s í q u i c o , o c o r r e n o e s p í r i t o do f al a n t e ; e, por o u t r o lado, e n t e n d e m o s , como s e n t i d q 3 esta s i g n i f i c a ç ã o c o n t e x - t u a l i z a d a , i s t o é, a p a l a v r a e v o c a n d o um a ú n i c a i m a g e m c o n c e i ­ tuai, e "a s e r v i ç o de uma i n t e n ç ã o d e f i n i d a do f a l a n t e em sua c o m u n i c a ç ã o " . (9).

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uge-r e m a p e n a s e l e m e n t o s de s i g n i f i c a ç ã o , pouge-rem, c o n t e x t u a l i z a d a s t ê m s e n t i d o .

A s s i m , o s e n t i d o de base, de que no s fala P i e r r e G u i r a u d , e s t á p a r a a n o s s a s i g n i f i c a ç ã o como o seu s e n t i d o c o n ­ t e x t u a i esta p a r a o s e n t i d o de que no s o c u p a m o s n e s t a m o n o g r a ­ fia.

Por . isso, p a r a nÕs, a S e m â n t i c a trata, e s p e c i f i c a ­ m e n t e , do e s t u d o do s e n t i d o das p a l a v r a s . D e f i n i d a , n e s t e s termos, a n o s s a p o s i ç ã o l i n g ü í s t i ­ ca, no c a m p o s e m â n t i c o , v o l t e m o s a M e t a s s e m i a , que c o n c e b e m o s - c om o a m u d a n ç a de s e n t i d o que as p a l a v r a s s o f r e m na língua. A M e t a s s e m i a c o n s t i t u i p a r t e r e l e v a n t e do e s t u d o s e ­ m â n t i c o das l ín g u a s e jã ao c r i a d o r do n e o l o g i s m o s e m â n t i c a p a ­ ra d e s i g n a r a " c i ê n c i a l i n g ü í s t i c a que e s t u d a a s i g n i f i c a ç ã o das palavras", ( 1 0 ) ,M i c h e l Bréal, f i l ó l o g o fr an c ê s , nã o lhe p a s ­ s a r a m d e s p e r c e b i d o s os p r o c e s s o s m e t a s s ê m i c o s .

T a n t o ê v e r d a d e que, e m se u livro 'E s s a i de S é m a n t i ­ q u e ' , c u j a 1- e d i ç ã o d at a de 1897, a r g u m e n t a :

"... T a m b é m a s i g n i f i c a ç ã o das p a l a v r a s se t r a n s f o r ­ m a i n c e s s a n t e m e n t e sob a a ç ã o dos s u ce ss os , d e s c o b e r t a s novas , r e v o l u ç õ e s nas i d e ia s e c o s t u m e s " . ( 11 ). A M e t a s s e m i a o c o r r e n ão só no p l a n o s i n c r ó n i c o da língua, que t a m b é m no d i a c r ô n i c o . 1.2 - S i n c r o n i a e D i a c r o n i a , no U n i v e r s o da S e m â n t i c a E ss a d i c o t o m i a s a u s s u r i a n a tem, c o m o a n d a r do t e m ­ po, p r e o c u p a d o a a t e n ç ã o de v a r i o s e s t u d i o s o s da l i n g ü í s t i c a e, p r i n c i p a l m e n t e , em n o s s o s dias, ensejaxko a n a l i s e s e c r í t i c a s - a c u r a d a s . A p a l a v r a S i n c r o n i a p r o m a n a do p r e f i x o g r e g o "SY N- ", j u n t a m e n t e s c o m 3 + o r a d i c a l g r e g o " K H R Õ N O S " , t e m p o} + o s u f i x o t a m b é m g re go "-IA", c o m id éia de q u a l i d a d e . ( 1 2 ) . E t i m o l ó g i c a m e n t e , a p a l a v r a S i n c r o n i a s i g n i f i c a c a

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-10 r ã t e r o u q u a l i d a d e d o s f e n ô m e n o s q u e o c o r r e m a o m e s m o t e m p o 3 e, por e x te ns ão , s i m u l t a n e i d a d e . A o p a s s o que D i a o r o n i a p r o v ê m do p r e f i x o g r e g o " DIÁ-", a t r a v é s3 + o r a d i c a l g r e g o " K H R Õ N O S " , t e m p o3 + o s u f ix o i g u a l m e n t e g r eg o "-IA", c o m i d e i a de q u a l i d a d e . ( 1 3 ) . P o r t a n t o , a p a l a v r a D i a o r o n i a s i g n i f i c a , e t i m o l ó g i ­ c a m e n t e , c a r á t e r o u q u a l i d a d e d o q u e o c o r r e a t r a v é s d o t e m p o 3 e, em seu s e n t i d o lato, s u c e s s ã o 3 e v o l u ç ã o . É a F e r d i n a n d de S a u s s u r e que se d ev e a i n t r o d u ç ã o d e s t e s termo s S i n c r o n i a e D i a o r o n i a na t e r m i n o l o g i a l i n g ü í s t i c a u s u ã ! r . No n o s s o e n t e n d e r , a S i n c r o n i a se r e f e r e aos f e n ô m e ­ nos l i n g ü í s t i c o s que, n u m d a d o m o m e n t o , p e r t e n c e m a u m ú n i c o e s t a d o de língua; e a D i a o r o n i a i n d i c a o e s t u d o e v o l u t i v o dos f e n ô m e n o s l i n g ü í s t i c o s , d i z r e s p e i t o às d i v e r s a s t r a n s f o r m a ç õ e s p o r que, no tempo, v ã o p a s s a n d o e s t e s f e n ô m e n o s de u m a língua;

isto e, p e r t e n c e m el es a d i f e r e n t e s e s t a d o s do d e s e n v o l v i m e n t o d e s t a m e s m a língua. F e r d i n a n d de S a u s s u r e , em seu C u r s o de L i n g ü í s t i c a G er al \ a s s i m se ex p r e s s a : Ê sincrôn.ico t u d o q u a n t o se r e l a c i o n e c o m o a s p e c t o e s t á t i c o d e n o s s a c i e n c i a 3 d i a - c r o n i c o t u d o q u e d i z r e s p e i t o à s e v o l u ­ ç õ e s . D o m e s m o m o d o 3 s i n c r o n i a e d i a c r o - n i a d e s i g n a r ã o r e s p e c t i v a m e n t e u m e s t a d o d e l í n g u a e u m a f a s e d e e v o l u ç ã o ( 1 4 ) t Em n o s s o t r a b a l h o , e s p o s a m o s esta tese s a u s s u r i a n a . P o r t a n t o , de a c o r d o c o m esta l inha de p e n s a m e n t o , a n o s s a c h a m a d a g r a m á t i c a t r a d i c i o n a l , d e sd e P o r t - R o y a l , s i t u a - s e no p l a n o s i n c r ó n i c o , q u a n d o t e n t a d e s c r e v e r f e n ô m e n o s c o e x i s ­ tentes da ling u ag em , p e r t e n c e n t e s a u m e s t a d o da l ín g u a , n u m d e t e r m i n a d o tempo, e, no p l a n o d i a c r ô n i c o , s i t u a - s e a n o s s a g r a m á t i c a h i s t ó r i c a uma v e z que e s t u d a os f e n ô m e n o s l i n g ü í s t i ­ cos que o c o r r e m em d i v e r s o s e s t a d o s de d e s e n v o l v i m e n t o de uma m e s m a língua.

A s s i m , q u a n d o d i z e m o s que, no p r o c e s s o de f o r m a ç ã o de p a l a v r a s , na l í n g u a p o r t u g u e s a , p e d r a r i a 3 p e d r e i r o 3 p e d r e n t o d e r i v a m do s u b s t a n t i v o p e d r a , e s t a m o s d i a n t e de u m f a t o s i n c r o

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-n i c o da língua; ao p a s s o que, ao a f i r m a r m o s q u e p e d r a p r o c e d e - do l a t i m petr!f} a e 3 a t r a v é s do a c u s a t i v o s i n g u l a r p ê t r a m e que, na su a e v o l u ç ã o , h o u v e a a p o c o p e do m e a l e n i z a ç ã o ou a b r a n d a ­ m e n t o do t e m d, e s t a m o s d i a n t e de u m f e n ô m e n o e m i n e n t e m e n t e d i a c r o n i c o . C on tu do , n o u n i v e r s o s e m â n t i c o , i n t e r e s s a m - n o s , p a r ­ t i c u l a r m e n t e , os c â m b i o s de sentid o. Temos, c om o e n f o q u e , a s p e c t o s m e t a s s ê m i c o s . O c o r r e a M e t a s s e m i a S i n c r ó n i c a q u a n d o a m u d a n ç a de s e n t i d o das p a l a v r a s jàe e f e t i v a n u m d e t e r m i n a d o e s t a g i o da l í n ­ gua. A esse r e s p e i t o , J o a q u i m R i b e i r o n o s a c r e s c e n t a : C o m o a s l í n g u a s n ã o s ã o r i c a s d e v o c á b u ­ l o s j r e m e d e i a m a s u a p o b r e z a 3 p r e e n c h e n ­ d o o t e r m o l a c u n o s o c o m u m t e r m o t r a n s - l a t o . . . ( l b ) % Co mo p o n t o de p a r t i d a , p o d e m o s a f i r m a r que a m e t á f o ­ r a j a m e t o n i m i a e a s i n é d o q u e como t a m b é m a g í r i a 3 f u n c i o n a m c om o c m e t a s s e m a s s i n c r ó n i c o s na n o s s a lin gu a ge m.

Por isso, p o d e m o s d e t e c t a r o fenômeno: da m e t a s s e - m i a s i n c r ó n i c a n ã o so na e x p r e s s ã o p o l i d a dos 'escritores -, ma s t a m ­ bém, de m o d o e s p e c i a l , nos r e g i s t r o s do f a la r e s p o n t â n e o do n o s s o p o v o , a s s i m n o u s o de gír ia s, que e n r i q u e c e m a c o m u n i c a ­ ção, c o m o no e m p r e g o da l i n g u a g e m f i g u r a d a o u t r o p o l ô g i c a , o n ­ de a b u n d a m as m e t á f o r a s , m e t o n i m i a s e s i n ê d o q u e s , de que t r a t a ­ mos, e s p e c i f i c a m e n t e , no C a p í t u l o II d e s t a n o s s a d i s s e r t a ç ã o . A M e t a s s e m i a D i a c r Ô n i c a , no e n t a n t o , se c o n c r e t i z a n a e v o l u ç ã o s e m â n t i c a d a s p a l a v r a s na língua. P ar a c o r r o b o r a r o n o s s o p o n t o de v i s t a , t r a n s c r e v e ­ m os , aqui, o e n s i n a m e n t o de M. Said Ali:

0 q u e p o r é m p o u c o s s a b e r ã o é q u e a t é o t e m p o d o n o s s o V I E I R A t a m b é m se a f o g a v a m o s h o m e n s e m s e c o . J u d a s a f o g o u - s e c o m u m l a ç o e t o d o s q u a n t o s i a m ã f o r c a m o r - r r i a m a f o g a d o s . 0 t e r m o t i n h a a a c e p ç ã o - g e r a l d e a s f i x i a r . S ó d e p o i s d e e n t r a r e m u s o o v o c á b u l o s u f o c a r é q u e a f o g a r f i c o u a l i v i a d o d e t a o a l t o s e n c a r g o s . Na lingualgem h o d i e r n a , q u a s e se r e s t r i n g i u o seu

(21)

12 se nt id o ao de m a t a r por s u b m e r s ã o . A f o g a r g u a n d o p r o n o m i na 1 izado , s i n o n i m i z a m a t a r - s e ou m o r r e r por s u b m e r s ã o .

Indi c a n d o , por o r d e m c r o n o l õ g i c a ,as m u d a n ç a s s e m â n t i c a s que o tempo t ro u x e a varios t e r m o s ,c o n t i nua M . S a i d Al i :

E n t r e os q u i n h e n t i s t a s e m p r e g a v a - s e o t e r m o viração como oposto a vento terrenho. Era somente o vento que a certa h o v a d a ma n h ã virava, soprando do m a r para a

terra. Os seiscentistas perderam esta noção e começaram a aplicar a palavra ao vento brando em g eral.

Ribeira usava-se na acepção de praia e m a r g e m :<ter - ra> tão alagadiça e cuberta de arvoredo,que quasi com essa es- pessura queria fechar com a RIBEIRA DO MAR( Barros, Dec.,

2,6,1 ) 2 Quero passar hum rio caudeloso de RIBEIRA A RIBEY- RA ( B e m a r d e s , N . Flor., 1, 310.{16).

Causas de natureza diversa ditam essa evolução semântica,nas lTn -guas.

Para STlvio El ia,Brêal ocupou-se principalmente com as causas p si ­ cológicas; MEILLET com as históricas e sociais; TRIER, entre outros, com as estruturais." ( 17 ).

J. M a t t o s o Câmara Jr., c i t a n d o UI 1m an n , 1 957 ,1 71 . e n u m e ­ ra estas: a) h i s t ó r i c o - c ul tu ra l; b) p s i c o l ó g i c a ; c) ló gi c a; d) formal; e) s i n t a g m á t i c a ; f) s o c i a l . ( 18 ).

Na r e a l i d a d e , a M e t a s s e m i a d e c o r r e das caus as de que tra­ ta ULLMANN, em seu novo livro S e m á n t i c a , i n t r o d u c c i ó n a la c i e n c i a d e l s i g n i f i c a d o, 2 a ediçao, 1 972. ( 1 9 ).

E U L L M A N N quem nos diz:

os c â m b i o s d e s i g n i f i c a d o p o d e m s e r p r o d u z i d o s p o r u m a i n f i n i t a m u l t i p l i c i d a d e d e c a u s a s ( . . . ) N a ­ d a o b s t a n t e , a d e s p e i t o d a c o m p l e x i d a d e d e s t e s p r o c e s s o s , è p o s s í ­ v e l d i s t i n g u i r v á r i a s c a u s a s p r i n c i p a i s q u e d ã o c o n t a , e m s e u c o n ­ j u n t o , d a m a i o r p a r t e d o s c â m b i o s s e m â n t i c o s . ( 2 0 ).

Assim , U LL M A N N a p r e s e n t a três caasas jã i denti fi cadas ,ante- riorme n t, por M E I L L E T , causas l i n g ü í s t i c a s ,h i s t ó r i c a s e s o c i a i s , e e a c r e s c e n t a outr a s três cau sa s : p s i c o l ó g i c a s , a i n f l u e n c i a es - t r a n g e i r a e e x i g ê n c i a d e u m n o v o n o m e .

Em sí nt e se , temos como caus as l i n g ü í s t i c a s as m u d a n ç a s de s e n t i d o que são devi d a s ,s o b r e t u d o , a um p r o c e s s o ,c onheci do d e s ­ de Brêal como " c o n t ã g i o " , isto ê,as p a l a v r a s , p o r a p a r e c e r e m j u nt as em vários c o n t e x t o s ,têm o s e n t i d o de uma t r a n s f e r i d o para outra.

(22)

A este r e s p e i t o , José Curi , em r e c e n t e trabalho, sob o t i ­ t ul o de "A M u d a n ç a do S i g n i f i c a d o das P a l a v r a s " , p u b l i c a d o na R e v i £ ta FURB, n9 7, 1979, a s s i m se expres sa : E s t e c o n t á g i o l e v a n t a d o p o r B r é a l e e x e m p l i f i c a d o p o r S i l v e i r a B u e n o 3 p a r e c e - m e n ã o se_ j a l i n g ü í s t i c o e s i m e x t r a - l i n g ü i s t i c o . A g o r a , o q u e B r é a l q u e r i a e r a d e m o n s t r a r q u e o s e n t i d o de u m a p a l a v r a p o d e r i a s e r t r a n s f e r i d o p a r a o u t r a d e s d e q u e p o s - s a m e l a s a p a r e c e r e m v á r i o s c o n t e x t o s . U L M A N N ( 197 0 , p. 4 1 1 - 4 1 2 ) d i z - n o s :

o zxempZo ma¿¿ n o tã v ít dzòta £e.ndznc¿a

é

t a t v z z

a h¿&ÍQtu¡a.

.

da ne.gat¿va um {¡fiancíò. Um ce.Ato núme.Ao dz paZavtiaò,

quz ti.nkam oA.¿g¿nan.¿amzntí um ¿e.nt¿do p o ¿ ¿ t¿ v o , adqu¿h.¿fiam um valo A

ne.ga£¿vo pon. ¿e.A&m u¿>ada¿, mu¿ta&

ueze.4, em

conjunção com a pa/LtZcu-

Za n egativa

ne: l a t i m p a s s u s ( p a s s o ) - n e . . . p a s (n a o ) l a t i m p u n t u m ( p o n t o ) - n e . . . p o i n t ( n ã o , d e m o d o n e n h u m ) l a t i m p e r s o n a ( p e s s o a ) - n e . . . p e r s o n n e ( n i n g u é m ) l a t i m r e m ( a c u s a t i v o d e r e s , c o i s a ) - n e . . . r i e n ( n a ­ da) l a t i m j a m ( a g o r a , j á ) - m a g i s , ( m a i s ) - n e . . . j a m a i s ( n u n c a , j a m a i s ) . 0 c o n t á g i o f o i t ã o e f i c a z q u e e s t e s t e r m o s t e m a - g o r a u m s e n t i d o n e g a t i v o , m e s m o q u a n d o e x i s t e m p o r s i s o s , n ã o s u s t e n t a d o s p o r ne. I s t o o c o n d u z i u ã s i t u a ç ã o p a r a d o x a l d e a p a l a v r a p e r s o n n e t e r d o i s e m p r e g o s d i a m e t r a l m e n t e o p o s t o s : c o ­ m o s u b s t a n t i v o s i g n i f i c a a i n d a ( p e s s o a ) ; u s a d o c o m o p a r t í c u l a , p o r e x e m p l o e m r e s p o s t a a u m a p e r g u n t a , s i g n i f i c a ( n i n g u é m ) : J ’a i v u u n e p e r s o n n e . Vi u m a p e s s o a . Q u i a d i t c e l a ? - p e r s o n n e . Q u e m d i s s e i s s o ? - N i n ­ g u é m . O s e x e m p l o s v i s t o s a t r á s , c o m o o s q u e v e r e m o s a g o ­ r a , a c h a m o s q u e a n t e s de s e r l i n g u i s t i c o s b u s c a m s u a m u d a n ç a de s e n t i d o p e r i s s e m i c a m e n t e , i s t o é, b u s c a m a n o v a s i g n i f i c a ç a o a o r e d o r d o t e r m o r e f e r i d o . S o f r e m , e m ú l t i m a a n á l i s e , u m c o n t á g i o : ÁLBUM,c o l e ç ã o d e f o l h a s e m b r a n c o f o r m a n d o u m l i v r o p a r a a n o t a ­ ç õ e s , t r a n s c r i ç õ e s d e p e n s a m e n t o s , p o e m a s , o u e n t ã o , f o l h a s p a ­ r a r e c o l h e r a n t i g u i d a d e s , a u t ó g r a f o s , f o t o s , d e s e n h o s , e t c . , t e m s u a o r i g e m n o l a t i m " a l b u m " q u e s i g n i f i c a v a e s i g n i f i c a b r a n co. A c o n t e c e q u e o s P o n t í f i c e s a n o t a v a m o s f a t o s i m p o r ­ t a n t e s e m p e q u e n a s f o l h a s d e m a d e i r a p i n t a d a s d e a l v a i a d e . T a i s t a b u i n h a s b r a n c a s c o n t a g i a r a m a p a l a v r a q u e s u b s t i t u i u o l i v r o . ALGARISMO v e i o d o s o b r e n o m e d o g r a n d e m a t e m á t i c o á r a b e M u s a AL- KARISM. ALGOZ t o m a s e u s i g n i f i c a d o d a t r i b o á r a b e ALGOS, r a ç a d e s a n g u i n á r i o s e i n e s c r u p u l o s o s . ALMANAQUE e s t á a n o s l e m b r a r o l u g a r o n d e o s c a m e l o s e d r o m e d á r i o s á r a b e s e r a m a l i m e n t a d o s , i s t o é, o A L - M A N A B.N o e n t a n t o , e r a n e s s e s l u g a r e s q u e s e l i a m o s a n u á r i o s . ( 2 1 ) .

(23)

14

As caus as h i s t ó r i c a s , bem como a c e n t u a U L L M A N N . d e c o r ­ rem do fato de a lingua ser s e m p r e mais c o n s e r v a d o r a que a civi - 1 i z a ç â o ,tanto m a t e r i a l como m o ra l , r azão por que as m u d a n ç a s nas ciênci a s, nas i n s t i t u i ç õ e s , nas idëias e co st u m e s , a c a r r e t a m uma m u d a n ç a •''i de' 1 : coásacoi :..i sem m u d a n ç a do nome, são cau s as que sõ

i n d i r e t a m e n t e a t i n g e m o s i s t e m a da língua.

Assim, p e n a , "para e s c r e v e r " , que é hoje uma peça de me tal e era a n t i g a m e n t e uma pena de ganso.

As c a us as s o c i a i s sao v e r d a d e i r o s " e m p r é s t i m o s s o c i a i s " , hã, na ve r da de , d e s l o c a m e n t o da área social da pa la vr a ; na e s p e c i ­ a l i z a ç ã o e na g e n e r a l i z a ç ã o da pa l av ra , o seu s e n t i d o s o fr e res - trição ou e x te n sã o. Para um a d v o g a d o , c o n f o r m e ac e n t u a U L L M A N N (22), ação s i g n i f i c a r á , n a t u r a l m e n t e , "ação l e g a l ", para o s o l d a d o s i n o n i m i - zarã uma o p e r a ç ã o mili t a r , sem que seja n e c e s s á r i o n e n h u m a d j e t i ­ vo para e xp li ca r . Hã, p o r t a n t o , na e s p e c i a l i z a ç ã o , r e s t r i ç ã o do se nt id o da p a l a v r a , ao p a s so que, na g e n e r a l i z a ç ã o , hã e x t e n s ã o do sentido, assim, o v o c á b u l o m o l é s t i a u s o u - s e a p r i n c í p i o j u n t o d o t e r m o d o e n ç a ; d o e n ç a c o m m o l é s t i a s i g n i f i c a v a q u e a e n ­ f e r m i d a d e i n c o m o d a v a o u e r a a c o m p a n h a d a d e d o r e s . M a i s t a r d e 3 a p l i c o u - s e o t e r m o a q u a l ­ q u e r e n f e r m i d a d e.( 23 ). As c a u sa s p s i c o l ó g i c a s , como m u d a n ç a s de s e n t i d o das p alav ra s, são d i t a d a s pela f or ç a e mo t i v a da m a ss a de f a l a n t e s de uma língua, pelo r e s p e i t o aos tabus e c o n s e q ü e n t e e m p r e g o de e u ­ fe mi s m o s ; d e c o r r e m , enfim, do e s t a d o de animo de quem fala.

Q u a n d o e s t a m o s d i a n t e de uma s en h o r a i d o s a ,v e l h a ,e d i ­ zemos t r a t a r - s e de uma s e n h o r a r e s p e i t á v e l , por c o r t e s i a social, e u f e m i z a m o s a c ru e z a da r e a l i d a d e da vida.

A i n f l u ê n c i a e s t r a n g e i r a , ou m e l h o r , a i n f l u ê n c i a do m o ­ delo e s t r a n g e i r o p o d e , t a m b é m , o c a s i o n a r uma m u d a n ç a s e m â n t i c a da

(24)

palavra na lingua, é o caso da p a l av ra f r a n c e s a "p a r ! e m e n t " ,que o r i g i n a r i a m e n t e s i g n i f i c a v a "fala d i s c u r s o 11 (do v erbo "parle r ", falar) e que logo passou a s i n o n i m i z a r um "Tribunal J u d i c i a l " , por i n f l u e n c i a do inglês "p a r i i a m e n t " ,onde pari a m e n t o , m o d e r n a ­ mente, s i g n i f i c a " a s s em bl éi a l e g i s l a t i v a . "

A e x i g e n c i a de um novo nome pode t a m b é m a l t e r a r o s e n ­ tido de uma p a l a v r a velha, i n c o r p o r a n d o - a ao léxico, como um t e r ­ mo c o m p l e t a m e n t e i n d e p e nd en te .

São, p or ta n to , as m u d a n ç a s de s en t i d o das p a l a v r a s , na lïngua, que p e r m i t e m que esta a c o m p a n h e o p r o g r e s s o c r e s c e n t e da civili z a ç ã o .

1.3 - R e g i s t r o s M e t a s s ê m i c o s

0 homem, como ser p e n s a n t e e s e mp re a t u a n t e , vi.vendo em grupo ou em s o c i e d a d e , na u t i l i z a ç ã o das p a l a v r a s ,s ente a n e c e s ­ sidade de, de vez por outra, a l t e r a r - l h e o s en t i d o ou d e s l o c a - l o , através de r e c u r s o s da l i n g u a g e m f i g u r a d a , para a t e n d e r ãs n o ­ vas e x i g ê n c i a s , dit a da s pela p r ó p r i a e v o l u ç ã o das idéias e c o s ­ tumes.

Os r e g i s t r o s m e t a s s ê m i c o s , aqui a p r e s e n t a d o s , nos dois planos da língua, s e rv em de a m o st ra das m u d a n ç a s de s e n t i d o das pa lavras e c o n s t i t u i r ã o , para nos, m e t a s s e m a s s i n c r ó n i c o s e dia- crÔnicos de que nos oc up a r e m o s , e s p e c i f i c a m e n t e , nos dois c a p í t u ­ los s e g u i n t e s de ste trabalho.

Como c o m p r o v a ç ã o do que a f i r m a m o s , temos estas passa -gens :

a) No p lano s i n c r ó n i c o da língua:

"0 G e r a l d o não PINTOU por aqui hoje". ( Apud A u r é l i o Bu- a r q u e ? Novo D i c i o n á r i o da Língua P o r t u g u e s a , p. 1098 ).

Temos, assim, o verbo PI NT AR , u sado na gíria b r a s i l e i ­ ra, s i g n i f i c a n d o c o m p a r e c e r a a l g u m lugar: a p a r e c e r .

(25)

16

"NOIT E - d o s s e l do amor abert o no Infini to ,

Para f e c u n d a ç ã o dos seres e das coi sas . ..'( Lui s Carlos, apud Rocha Lima, G ra m á t i c a N o r m a t i v a da LTngua P o r t u g u e s a , p. 490).

A qui, o poeta, v a l e n d o - s e da m e t á f o r a , j u s t i f i c a d a pe - la a s s o c i a ç ã o de idéias, atribui a p alavra n oi te uma nova acepção, a de dossel , s o b r e c é u , arm aç ã o o r n am e nt al que e n c i ma a l t a r ,trono ,

l e i t o , t ã l a m o . 1

"Lemos M A C H A D O DE A S S I S com p ra z er ." (Apud Rocha Lima , op. cit., p. 492). Nesta p a s s a g e m vemos a m e t o n i m i a , em que o n o ­ me do a u t o r foi e m p r e g a d o pela obra.

" T r a n s p u s e r a m a barra treze VELAS (em vez de NAVIOS). (Apud Rocha Lima, op. cit., p. 493). Eis a s i n e d o q u e , em que a parte foi u s ad a para d e s i g n a r o todo.

b) No plano d i a c r ô n i c o da língua :

" .... A P E L I D A N D O em seu favor a terra toda. (B.Brito, M. L . , I , p. 4 9)."

0 v e r b o AP E L I D A R , n este r e g i s t r o c l á s s i c o , sinon i miza CONVO CA R, a c e p ç ã o não mais c o n s a g r a d a na l i n g u a g e m de nossos d i ­ as.

".... n eg óc i o s gr an de s do rei no, q ue DEUS o r d e n a r i a que n aq ue la C O N J U N Ç Ã O se a c u m u l a s s e m ( T. de Jesus, T. de J.,I, p. 112)."

0 s u b s t a n t i v o C O N J U N Ç Ã O , nesta p a s s a g e m , s i g n i f i c a C I R ­ C U N S T Â N C I A , C O N J U N T U R A , O CA SIÃO, ENSEJO, O P O R T U N I D A D E , se nt id o e s q u e c i d o , de todo, na l i n g u a g e m hodierna.

Nes t as pa l avras f o c a l i z a d a s , a c r e d i t a m o s ter evidenci - ado as a l t e r a ç õ e s s e m â n t i c a s por que p a s s a r a m e que, sob o titulo de m e t a s s e m a s s i n c r ó n i c o s e d i a c r õ n i c o s , serão a n a l i s a d a s , p a r t i ­ c u l a r m e n t e , em cada ca pi t u l o seguinte.

(26)

NOTAS DO CAPÍTULO I

1 - Carlos Gois, 1945^)p:ilB7'.e31LConsi.tancio, 1859, pp. 691 e 881; Silveira Bueno, 1965, p. 102; e,em Sousa da Silveira, 1934, pp.112 e 118.

2 - "Métasémie. Terme propose pour designer d'une maniere générale les change­ ments de signification." Marouzeau, 1951, p. 144.

3 - Silveira Bueno, 1965, p. 101.

4 - "tout mot est lié a son context dont il tire son sens..."

"... au mot dans son context correspond une seule image conceptuelle.” Pi - erre Guiraud, 1975, p. 31.

5 - Said Ali, 1930, p. 89.

6 - Calichet, apud Wálmírio Macedo, 1959, cap. IV, p. 1. 7 - Silveira Bueno, 1965, pp. 101-102.

8 - Pierre Guiraud, 1975, pp. 30 - 31. 9 - Mattoso Câmara, s.d., pp. 347 - 348. 10 - Silvio Elia, 1962, p. 170.

11 - Michel Brial, apud José Oiticica, 1949, p. 31.

12 - Silveira Bueno, 1967, 79 vol., p. 3758; Antenor Nascentes, 1 9 55 ,pp.4 7 1 - 4 7 2 : e,em Sousa da Silveira, 1934,pp. 112 e 118.

13 - Silveira Bueno, 1964, 29 vol., p. 1001; Antenor Nascentes, 1955, p. 156; e, em Sousa Silveira, 1934, pp. Ill e 118.

14 - Saussure, 1974, p. 96.

15 - Joaquim Ribeiro, 1964, p. 140. 16 - Said Ali, 1959, p. 194.

17 - Silvio Elia, 1962, p. 171.

18 - "a) histórico - cultural,quando a coisa nomeada muda de natureza e a denomi-naçao permanece (ex. : pena, 11 para escrever ",que é hoje uma peça de metal e era antigamente uma pena de ganso); b) psicológica, quando a significaçao muda em virtude da conceituaçao ( ex. : vilao "camponês",que designa hoje , mais comumente, "indigno", em virtude da conceituaçao do " camponês ", do ponto de vista dos nobres); c) lógica, quando a significaçao de uma palavra se transfere a outra por força de associaçoes objetivas ou subjetivas (ex. :

tela "pintura", por metonimia, ou serra " cadeia de montanhas," por m e t á ­

fora); d) formal, quando a forma da palavra acarreta numa nova significaçao (ex. : emérito " notável ", por causa da forma da palavra,que faz lembrar

mérito);e) sintagmática, quando as significações das palavras se contaminam

em virtude de figurarem comumente lado a lado em certas expressões ou locu­ ções ( ex.: o brasileirismo levado " travesso ", decorrente da expressão

levado da breca " arrebatado por uma fúria demoníaca "); f) s o c i a l ,quando a

palavra muda de significaçao porque passa de uma língua especial para a lín­ gua comum ou vice-versa (ex.: éter " certa substancia volátil ", em virtude da transferência,para a língua especial da química,da palavra significando " puro ar superior "). Ullmann, 1957, p. 171, apud Mattoso Camara, s.d., p. 344.

19 - Ullmann, 1972, pp. 222-238.

20 - Los cambios de significado pueden ser producidos por una infinita multipli­ cidad de causas... No obstante, a despecho de la complejidad de estos pro­ cessos, es posible discernir varias causas principales que dan cuenta en su conjunto de una gran proporción de cambios semánticos." Ullmann,1972, pp. 222-223.

21 - José Curi, 1979, pp. 56-57. 22 - Ullmann, 1972, p. 182. 23 - Said Ali, 1930, p. 86.

(27)

C a p i t u l o II - METASSEMAS SINCRONICOS

2.1 - A l t e r a ç õ e s S e m â n t i c a s em nossos d i a s .

£ por d e m a i s v a r i á v e l , na língua, o s e n t i d o que a t r i ­ buimos âs p alavras.

Haja v i s t a os vá ri o s s en t id os da palavra c a b e ç a , n e s ­ tas fra se s c o l e t a d a s por Rocha Lima:

A c a b e ç a é u m a d a s p a r t e s do c o r p o . E s s a v i l a é a c a b e ç a d a c o m a r c a . P a g a r a m d e z c r u z e i r o s p o r cabeça'. F o i p r e s o o c a b e ç a d o m o t i m . F a z i a v e r s o s q u a n d o l h e d a v a n a c a b e ç a . C a d a c a b e ç a 3 c a d a s e n t e n ç a . R u i B a r b o s a f o i a m a i o r c a b e ç a d o B r a s i l . E l e s a b e d e c a b e ç a t o d o s os p o n t o s d o p r o g r a m a . 0 q u e d i s s e s t e n a o t e m p ê s n e m c a b e ç a . Um d i a p e r c o a c a b e ç a e lhe d i r e i u m a s v e r d a d e s . (1) Do m e s m o modo, pod em os a s s e r i r que não temos duas p a ­ lavras com o m e s m o v al o r s e m â n t i c o ; c o n s i d e r a n d o - s e , s ob r e t u d o , que a p a l a v r a e x i s t e c o m o p a r t e d u m t o d o } i n c o r p o r a d a n o c o n t e x t o , e a i a d q u i r e o s e u s i g n i f i c a d o e s p e c i a l . (2).

Na a r q u i t e t u r a da frase, onde as p al av r as c o n s t a n t e - m e nt e se t r a n s m u d a m e se e n r i q u e c e m de novos c o l o r i d o s s e m â n t i ­ cos, p e r c e b e m o s o p r o c e s s o d i n â m i c o da língua para a c o m p a n h a r a e v o l u ç ã o do p e n s a m e n t o da g r a n d e m a i o r i a de seus falant es .

C o n f o r m e d e c l a r a P i e rr e Guiraud, os p r i m e i r o s seman - ticist a s, como D a r m e s t e t e r e Brêal , vêem na si ne d o q u e , na m eto- m ínia e na m e t á f o r a os tipos bá si c os das m u d a n ç a s de s e n t i d o 1 (3), a que a c r e s c e n t a m o s ^ n o plano da s i nc ro ni a da língua, a g í ­ ria que, de início, c on s ti tu i a l i n g u a g e m de um d e t e r m i n a d o 1 g ru p o social, - onde as p a l a v r a s a p a r e c e m fora de seu s e n ti d o própri o -, mas, por sua e x p r e s s i v i d a d e , sempre termina in co rp o - r a n d o - s e ã l i n g u a g e m c ol oq ui a l popular.

C o n c e b e m o s , p o r t a n t o , como m e t a s s e m a s , do ponto de vista s i n c r ó n i c o , não sq as f i g u r a s de p al avras ou tropos, r e s ­ p on s á v e i s pelos ma is belos c a m b i a n t e s de s entido e e x p r e s s i v o '

(28)

v a lo r e s t é t i c o , que também a gíria in ov a d o r a do n o s s o v o c a b u l á - ri o.

A r e s p e i t o dessa c o n s t a n t e r e n o v a ç ã o s e m â n t i c a no l é ­ xico das línguas, S il v e i r a Bueno a j u n t a r a que c o m o e l e m e n t o ' f u n d a m e n t a l d e t o d a s a s a l t e r a ç õ e s s e m â n t i c a s e n c o n t r a m o s a c o n t r i b u i ç ã o )p s i c o l ó g i c a d e c a d a i n d i v i d u o , a p e r c e p ç ã o e a a s ­ s o c i a ç ã o d e i d é i a s . N a i m p o s s i b i l i d a d e d e c r i a r p a r a c a d a idéia, p a r a c a d a e m o ç ã o , p a r a c a d a o b j e t o , u m a p a l a v r a e s p e c i a l , q u e lhe f o s s e o adequado s í m b o l o , o h o m e m , a p r o x i m a n d o e n t r e s i os f a t o s s e m e l h a n t e s , c o s t u m a r e f e r i - l o s , p s i q u i c a m e n t e , a u m m e s ­ m o s i n a l s o n o r o . (4). Ao lado destas c o n s i d e r a ç õ e s , p a s s a r e m o s a e n f o c a r a gíria e a l i n g u a g e m fi g ur ad a ou t r o p o l õ g i c a , s u b l i n h a n d o , de mo­ do p a r t i c u l a r , a m e t á f o r a , a m e to n í m i a e a s i n é d o q u e , como nve - t as s e m a s s i n c r ó n i c o s .

C o m e ç a m o s este c a p í t u l o com o estu do da g í r i a , por nós c o n s i d e r a d a como mais um m e t a s s e m a s i n c r ó n i c o , em face de , ate hoje, s e g u n d o a t e s t a m nossas lei turas, n e n h u m s e m a n t i c i s t a b r a s i l e i r o dela se ter ocupado, sob este a s p e c t o aborda d o.

2.1.1 - A Gíria

A c e r c a do é t i mo de g í r i a , i n f e l i z m e n t e , até hoje, só hã hi pó t e s e s em que, mais e m ais, f i c am a s s i n a l a d o s os d«sen c ontros nas lições dos e t i m o l o g i s t a s .

No sé cu l o passado, C o n s t ã n c i o e n s i n o u - n o s : G Í R I A , s . f . , l i n g u a g e m p a r t i c u l a r d o s c i g a n o s e la d r õ e s , q u e s ó e l e s e n t e n d e m , g e r i n g o n ç a . C r e i o q u e v e m d e Z i n - g a r i , c i g a n o s , d o P e r s a Z a n g u i , o u do g r e g o G h e r i õ , p r o n u n c i a d o p e l o s g r e g o s m o d e r n o s G h i r i ô , f a l a r ; o q u e n a o d e v e a d m i r a r , ' p o r q u e n a g í r i a d o s c i g a n o s , e n o a r g o t d o s f r a n c e s e s q u e é o m e s m o , s e e n c o n t r a m m u i t o s t e r m o s g r e g o s o u s á n s c r i t o s c o m u n s a o g r e g o . (5 ) .

Como vimos, C o n s t a n c i o não se de fi ni u, l e v a n t o u , a p e ­ nas, hi p õ t e s e s .

Mais p ró x i m o de nossos dias, A n t e n o r N a s c e n t e s não emitiu s e q u e r a sua o pi nião, a c o s t o u - s e a A d o l f o Co el ho , seu p r e d e c e s s o r em es tu d o s e t i m o l ó g i c o s , aqui no Brasil:

G í r i a - P a r a A. C o e l h o p a r e c e l i g a r - s e a g e r i n g o n ç a , q.v • ( 6 ) .

(29)

20 Como p o d e m o s o b se rv ar , A d o l f o C o el ho ta m b é m não fugiu ã hipótese. A t u a l m e n t e , Si lv e i r a Bueno, a i nd a p a l m i l h a n d o o ter - reno do h i p o t é t i c o , a c r e s c e n t a - n o s : G-ír-ia - s. f. E x p r e s s ã o l i n g ü i s t i c a d a s c l a s s e s s o e i - a i s , e s p e c i a l m e n t e , a l i n g u a g e m p r ó p r i a d o s m a l f e i t o r e s , d o s m e n d i g o s . M a s a l i n g u a g e m p r ó p r i a d o s m é d i c o s , d o s a d v o g a d o s , d o s p r o f e s s o r e s , d o s c o l e g i a i s , e s t u d a n t e s , m o t o r i s t a s , p e s c a d o ­ res., etc. é t a m b é m g i r i a . P a r e c e - n o s q u e g í r i a se p r e n d a a o v e r b o g i r a r ; o c o n j u n t o de p a l a v r a s , e x p r e s s õ e s , e t c . , q u e c o r ­ re n e s s a s c l a s s e s d a s o c i e d a d e . S e r i a o t e m a de g i r de g i r a r e o s u f i x o á t o n o i a . (7)

Para A u r é l i o Buarque, gíria p r o c e d e d e u m a f o r m a r e - g r e s s i v a * g i r i g a < g e r i n g o n ç a . ( 8 ) .

S e nd o v á l i d a a forma l i n g ü í s t i c a g i r i g a , embora não d o c u m e n t a d a , como i n t e r m e d i ã r i a , na p a s s a g e m para g í r i a , fica - remos com a o p i n i ã o do m e s t r e A u r é l i o , v i s t o que se e xp li c a, no p lano d i a c r ó n i c o da língua, a s u p r e s s ã o do £ m ed i a i , pelo m et a- pla s mo da síncope.

S í l v i o Elia e nt e n d e que o f e n o m e n o d a g í r i a é t i p i c a ­ m e n t e u r b a n o , n ã o e x i s t e , p o i s , n a s c o m u n i d a d e s r u r a i s , o n d e o q u e o c o r r e s ã o o s f a l a r e s l o c a i s . (9).

Para M a r o u z e a u , a gíria é uma l i n g u a g e m e s p e c i a l p r o ­ v i d a de u m v o c a b u l á r i o p a r a s i t a q u e e m p r e g a m o s m e m b r o s d e u m g r u p o o u d e u m a c a t e g o r i a s o c i a l c o m a p r e o c u p a ç ã o de se d i s -

t i n g u i r e m d a m a s s a d o s s u j e i t o s f a l a n t e s . (10 ).

Vale a c r e s c e n t a r que, neste t r a b a l h o , não nos oc upa - remos da g íria como um códi go p a r t i c u l a r em que os e l e m e n t o s de uma dada c l a s s e social cifra m suas m e n s a g e n s , p r o c u r a n d o e v i ta r s erem c o m p r e e n d i d o s por estranhos.

Com este s e n t i r não nos i n t e r e s s a a l i n g u a g e m das c a ­ m a d a s i n f e r i o r e s da so ci e d a d e , a que p e r t e n c e m os m a l f e i t o r e s e m a l a n d r o s , r o t u l a d a corvo c a l ã o .

Esse tipo de l i n g u a g e m se m a r g i n a l i z o u , r a z ã o por que p r o ce de a o b s e r v a ç ã o de Ducrot, q u a n d o r e g i s t r a que e m t e r m o s h j e l m s l e v i a n o s o r e c u r s o a o c a l a o p r o v o c a u m a c o n o t a ç a o " a s s o - c i a i ”. ( 11).

T a m p o u c o iremos c o n f u n d i r a g í r i a , que, para nós, se c a r a c t e r i z a pela e x p r e s s i v i d a d e , com a l i n g u a g e m técnica, c o n h e ­ cida por al gu n s como j a r g ã o p r o f i s s i o n a l .

(30)

Os m é dicos, a d v o g a d o s , p r o f e s s o r e s , etc. u sa m um v o c a ­ b u l á r i o técnico, onde as p a l a v r a s têm um c ar á t e r d e n o t a t i v o , por isso, m o n o s s ê m i c a s e d e s t i t u í d a s de qu al q u e r p r e t e n s ã o es ti 1í s - tica.

Não procede, p o rt an t o, a c o n c e i t u a ç ã o que de gíria faz S i l v e i r a Bueno (1965, p. 1578), de que já falamos.

A gíria profiss i on al é pr ó pr ia dos a r t i s t a s e de ou tras classes sociais.

0 nosso o bjetivo, n e s te item da d i s s e r t a ç ã o , é outro , t e n c i o n a m o s , aqui, a p r e s e n t a r a g íria como a l i n g u a g e m q u e , n a s ­ c i d a n u m d e t e r m i n a d o g r u p o s o c i a l , t e r m i n a e s t e n d e n d o - s e , p o r s u a e x p r e s s i v i d a d e , à l i n g u a g e m f a m i l i a r d e t o d a s a s c a m a d a s s o ­ c i a i s . (12)

0 s u r g i m e n t o dessa l i n g u a g e m , e n r i q u e c e d o r a do léxico, nun dado e s t ã g i o de língua, d e c o r r e , as mais das vezes, de um p r o c e s s o de d e r i v a ç ã o impr ó pr ia , em que há a m u d a n ç a no sent i do usua 1 das p a l avras .

As gírias são de r e c o n h e c i d a t r a n s i t o r i e d a d e .

Haja vista o uso do v e r b o m o ra r s i n o ni m i z a n d o entender, c o m p r e e n d e r que, até bem pouco tempo, era a c o q u e l u c h e das novas ge ra ç õ e s , hoje não mais e n c o n t r a a c o l h i d a na c o m u n i c a ç ã o infor - mal dos nossos falantes.

Excelem, aqui, r e g i s t r o s do uso da nossa gíria, cole - tados não só na l i n g u a g e m c ol o q u i a l de nossos dias, como também em a rtigos de aut or ia de Carlos D r u m m o n d de A n d r a d e e V a l d e m a r 1 C a v a l c a n t e , p u b l i c a d o s no Jornal do Brasil e Jornal l i t e rá r io , e ai nda em obras de outros au to r es c o n t e m p o r â n e o s como Nels on Ro - d r i g u e s , Cora Rõnai Vieira, Paulo Rõnai e M a r is a Raja Gabaglia:

1- A n t e s de v i a j a r , t e v e v á r i o s a b a c a x i s p a r a r e s o l v e r . (Apud Aur él io Buarque, op. cit., p. 1).

Como vemos, acima, a p a l a v r a abacaxi , d i c i o n a r i z a d a 1 co mo i n f r u t e s c e n c i a carnosa m u i t o a p r e c i a d a como a l i m e n t o , s i n ô ­ nima de a n a n á s , adquiriu, n este r e g i s t r o da gíria b r a s i l e i r a , um novo sentido, o de coisa t r a b a l h o s a , compli c a d a , i n t r i n c a d a .

Ainda, na gíria b r a s i l e i r a , abacaxi s i n o n i m i z a coisa ou pessoa d e s a g r a d á v e l , m a ç a n t e , c hata :

A q u e l e r o m a n c e é u m a b a c a x i .

D o i s m e s e s d e p o i s , e l a t e l e f o n a , e m p â n i c o : " V o u s e r mãe'." Do o u t r o l a d o d a l i n h a , S a n d o v a l e x p l o d e :

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