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O futebol além das quatro linhas: uma proposta de intervenção sob a ótica do estágio supervisionado

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

JÚLIA MARIA ALVES DE MEDEIROS

O FUTEBOL ALÉM DAS QUATRO LINHAS:

Uma proposta de intervenção sob a ótica do estágio supervisionado

Natal - RN 2019

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JÚLIA MARIA ALVES DE MEDEIROS

O FUTEBOL ALÉM DAS QUATRO LINHAS:

Uma proposta de intervenção sob a ótica do estágio supervisionado

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como pré-requisito para obtenção do grau de Licenciatura em Educação Física.

Orientador: Prof. Dr. Márcio Romeu Ribas de Oliveira

Natal – RN 2019

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JULIA MARIA ALVES DE MEDEIROS

O FUTEBOL ALÉM DAS QUATRO LINHAS:

Uma proposta de intervenção sob a ótica do estágio supervisionado

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como pré-requisito para obtenção do grau de Licenciatura em Educação Física.

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________ Prof. Dr. (Orientador): Márcio Romeu Ribas de Oliveira

_______________________________________________ Prof. Ms. (Membro Interno): Antonio Fernandesde Souza Junior

_______________________________________________ Prof. Ms. (Membro Externo): Mayara Cristina Mendes Maia

Natal- RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Medeiros, Júlia Maria Alves de.

O futebol além das quatro linhas: uma proposta de intervenção sob a ótica do estágio supervisionado / Júlia Maria Alves de Medeiros. - 2019.

66f.: il.

Dissertação (Mestrado)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Graduação em Educação Física, Natal, 2019.

Orientador: Dr. Márcio Romeu Ribas de Oliveira.

1. Estágio Supervisionado - Dissertação. 2. Educação Física - Dissertação. 3. Futebol - Dissertação. I. Oliveira, Márcio Romeu Ribas de. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 796.332

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Dedico este trabalho aos meus pais que de tão forte que se fizeram, me transformaram em inquietude.

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AGRADECIMENTOS

É pouco espaço para a quantidade de gratidão.

A Deus por guiar cada passo dado, por abençoar cada conquista e fazer aprender com os momentos ruins.

Aos meus pais, Rejane e Romulo; irmãs Hanna, Livia e Kamila e;a todos os meus familiares por se fazerem presentes e mesmo que de longe, acompanharem um longo processo de transformação de vidas. Abro um parêntese para agradecer a tia Fátima por todo minuto de dedicação à minha vida.

Aos amigos que, diante de uma caminhada de impossibilidades, mostraram que a vida só vale a pena ser vivida se for para ser lembrada. Às coleguinhas de curso Anny e Jéssica que acompanharam todo o processo e torceram sempre para o meu sucesso.

A Tutu e toda sua energia emanada, confiança conquistada, paciência construída e principalmente, por ser responsável por inquietar-me da comodidade, de fazer-me enxergar com outros olhos o que não se fazia parte da minha rede de interesses.

Ao meu orientador Márcio e todos os membros do Laboratório de Estudos em Educação Física, Esporte e Mídia – LEFEM, que foram os caminhos de abertura para me fazer enxergar a Educação Física sob outra perspectiva.

Aos funcionários do Tia Margarida, do Santo Antônio, do CELM, do IFRN e da UFRN, por contribuírem com o processo educativo da minha vida.

A todos os professores que marcaram o meu percurso de vida: Celina, Núbia, Elaine, Vanessa, Corina, Zé, Bartolomeu, Alessandra, Alexandre, Yama, Janiere, Bartolomeu, Vinicius, Omar, Milton, Beta, Cida, e que, por causa deles, hoje possuo tanta energia dedicada ao que faço.

Aos alunos do Ferreira que abriram as portas para o estágio e me proporcionaram uma das melhores experiências da minha formação.

A todos aqueles que se fizeram presentes durante a caminhada e que torcem por mim de alguma forma.

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“A subjetividade humana é capaz de criar para si muitos mundos, conforme as perspectivas segundo as quais atua na realidade. Esses mundos possíveis se definem e se estruturam a partir do mundo real, que é o solo onde se apoiam nossas experiências. Assim, em todas as nossas experiências individuais estão presentes hábitos, costumes, ideias, formas de sentir, crenças e valores de uma sociedade, em uma determinada época, que, em cada caso concreto e particular, são vivenciados e expressos de forma singular, mas revelam este solo comum: o estofo do real com que são tecidos os nossos mundos.” Maria Augusta Salin Gonçalves

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RESUMO

A cultura está para o homem assim como a bola está para o esporte, não só faz parte do processo, mas ressignifica a essência da relação entre os sujeitos (homem e esporte) e os objetos (cultura e bola). Levando em consideração a cultura não como algo que existe no sujeito, mas que o significa em sua essência, faz-se necessário compreender as relações existentes entre a cultura, o momento e os sujeitos que fazem parte do processo.Compreender a importância que o futebol tem para o Brasil ultrapassa a noção do jogo em si. Diante disso, estre trabalho objetiva mostrar como o estágio supervisionado possibilitou experiências a uma turma de nono ano de uma escola estadual de Natal/RN, utilizando futebol como conteúdo, a mídia como tema transversal e, a presença da mulher no esporte debatido, como assunto complementar. Utilizou, para isso, uma metodologia qualitativa de cunho descritivo e registros por meio de diários de campo, fotos e filmagens para analisar e fazer parte do processo de intervenções. O trabalho consistiu na observação, planejamento e aplicação das aulas, além da avaliação do processo. Apesar do desinteresse pela temática, apresentado pela turma, as experiências mostraram que uma escola sem espaço e sem material, não é fator determinante para não trabalhar o futebol. A Educação Física e o nosso interesse no papel de ser educador, mostra que, além das quatro linhas, existem inúmeras realidades, possibilidades e vivências, com vários objetivos, dentre eles: considerar a subjetividade dos sujeitos e, a partir delas, ajudá-los a expandir a criticidade e compreender as relações por novos olhares, através da construção do conhecimento. Um desafio que, devido à inquietude, possibilitou a mudança no processo educativo da turma, mesmo diante do inconformismo da grande maioria.

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ABSTRACT

The culture is for man just as the ball is for the sport, not only is it part of the process, but it reaffirms the essence off the relationship between the subjects (man and sport) and the objects (culture and ball). Taking into consideration the culture not as something that exists in the subject, but which means it in its essence it is necessary to understand there relationships existing between culture the moment and the subjects that are part of the process. Understanding the importance that football has for Brazil exceeds the notion off the game itself. Therefore the work aims to show how the supervised internship allowed experiences to a ninth year class of a state school of Natal/RN using soccer as contente the media as a transversal theme and the presence of the woman in the sport discussed as a supplementary matter. It was used for this a descriptive qualitative methodology and register by means of notebook diary photos and filming to an analyze and be part of the interventions process. The work consisted of observing planning and applying the lessonsfor analyze and to be part of the process. Even though the lack of interest in the teme presented by the class the experiences showed that a school without space and without material is not a determinant fator for not work the football. Physical education and our interest in the role of being an educator shows that in addition to the four lines there are countless realities possibilities and experiences with many objectives among them: to consider the subjectivity os the subjects and from them to help them expand the criticality and understanding relationships by new views through the construction of knowledge. A challenge that due to the restlessness enabled the change in the educational process of the class evenin the face of the great majority’s inconformism.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

A escola como espaço de aprendizagem ... 14

A Educação Física e a possibilidade de papel transformador ...19

O futebol como fator de integração territorial ... 21

O espaço da mulher na sociedade e no futebol ... 22

A mídia como ferramenta do processo ensino-aprendizagem ... 24

1. CARACTERIZAÇÃO ... 26 1.1Caracterização da escola ... 26 1.2Caracterização da turma ... 27 1.3Caracterização do professor ... 28 2. INTERVENÇÕES ... 29 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 30 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 47 ANEXOS ... 50

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INTRODUÇÃO

A cultura está para o homem assim como a bola está para o esporte, não só faz parte do processo, mas ressignifica a essência da relação entre os sujeitos (homem e esporte) e os objetos (cultura e bola). Se mudarmos de cultura, mudamos os costumes, as crenças e as regras. Se mudarmos de bola, mudamos a forma de jogar, as filosofias do jogo e as regras. Daolio (2006, p. 30) coloca que: ―Não existe homem sem natureza, da mesma forma que não existe homem sem cultura. Podemos até afirmar que a natureza do homem é ser um ser cultural.‖Levando em consideração a cultura não como algo que existe no sujeito, mas que o significa em sua essência, faz-se necessário compreender as relações existentes entre a cultura, o momento e os sujeitos que fazem parte do processo.

O Brasil, por exemplo, apresenta um conjunto de eventos culturais que adjetivam o país mundialmente - terra do samba e futebol - e, que marcam a existência de costumes e crenças determinantes de alguns modos de ser dos brasileiros que, apesar de não restritivo, representa boa parcela da sociedade brasileira. Compreender a importância que o futebol tem para o Brasil ultrapassa a noção do jogo em si.Como prática social (DAOLIO, 2006), o futebol representa a preferência esportiva da maioria dos homens brasileiros e, traz consigo uma série de discussões relacionadas à sua compreensão. Muito mais do que uma bola, quatro cantos de um espaço e regras, as (re)construções diárias que a modalidade apresenta para a sociedade vem acompanhada de uma junção de resolução e problematização acerca do tema.

A percepção do significado do espetáculo que gira em torno da modalidade masculina, como por exemplo, nos últimos anos, com a copa do mundo e olímpiadas, cria um sentimento de inquietação diante da influência que esses eventos causaram no cotidiano das pessoas. Em relação às mulheres, esse número, apesar de não tão expressivo, vem crescendo aos poucos e tende a aumentar um pouco mais após a copa do mundo de futebol feminino que acontecerá no ano de 2019 na França.

Considerando a importância do esporte no cotidiano do brasileiro faz-se necessário compreendê-lo em seus mais diversos espaços de atuação, para assim compreender também parte da sociedade que o representa e por ele, é representada. Um espaço em que a há a presença marcante do futebol é a escola,

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11 que de preferência esportiva se mostra como modalidade mais trabalhada na educação física. A relação entre educação física, futebol, mídia, masculino/feminino e processo ensino-aprendizagem marcam um discurso que, apesar do conformismo, apresenta um leque de possibilidades em suas relações como agentes transformadores da cultura brasileira.

Como partes de um todo, o entendimento dos termos acima citados, de forma correlacionada, pode resultar em diferentes sentidos que, apesar de divergentes, convergem a um objetivo final comum:o futebol na sociedade e, em especial nas aulas de educação física, gera algumas correntes de relevânciaem relação ao interesse dos alunos - aqueles que sonham em ser jogadores, os que não se interessam pelo assunto, e os que estão no meio do caminho.

No primeiro caso, qualquer espaço serve, qualquer material serve. Meias juntas em formato de bola e quatro sandálias podem demarcar a afirmação de um espaço de jogo singular. No segundo caso, a falta de afeição pelo assunto leva boa parte dos alunos a não participarem das aulas. Conformados com um histórico da educação física dividida entre queimada para meninas e futebol para meninos, tanto meninas quanto meninos começam a mostrar apatia pela disciplina,justificando não estar dentro do seu círculo de interesse. Diante da realidadeobservada no segundo caso, podemos levantar alguns dos possíveis responsáveis: o processo histórico, o sistema atual, o professor ou os próprios alunos.

O processo histórico da educação física brasileira reflete uma realidade que ainda deixa vestígios nos dias atuais: a influência das instituições militares e da categoria de médicos, a busca por uma identidade moral e cívica que levava como princípio o higienismo, até no que diz respeito à eugenia da raça, e a própria compreensão do que é masculino ou feminino na nossa sociedade. Em relação às instituições militares Castellani Filho (1988, p.30) coloca:

Tendo suas srcens marcadas pela influência das instituições militares - contaminadas pelos princípios positivistas e uma das que chamaram para si a responsabilidade pelo estabelecimento e manutenção da ordem social, quesito básico à obtenção do almejado Progresso - a Educação Física no Brasil, desde o século XIX, foi entendida como um elemento de extrema importância para o forjar daquele indivíduo "forte", "saudável", indispensável à implementação do processo de desenvolvimento do país que, saindo de sua condição de colônia portuguesa, no início da segunda década daquele século, buscava construir seu próprio modo de vida.

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12 Já no que concerne à categoria dos médicos, sua característica higienista e de atuação junto aos militares, na responsabilidade da educação física o autor complementa:

A eles, nessa compreensão, juntavam-se os médicos que, mediante uma ação calcada nos princípios da medicina social de índole higiênica, imbuíram-se da tarefa de ditar à sociedade, através da instituição familiar, os fundamentos próprios ao processo de reorganização daquela célula social. (CASTELLANI FILHO, 1988, p.30)

Toda essa relação de poder e soberania que a educação física passou de ordem à reflexão nos revela padrões de comportamento observados entre alunos e professores atuantes no sistema atual de educação – de um lado o conformismo com o sistema que leva a reprodução das formas de aplicar o conhecimento, traduzido na educação bancária (FREIRE, 2002), e do outro o inconformismo com as relações entre a escola, o conhecimento, o professor e o aluno. De inconformado a disposto a mudar a realidade há uma linha tênue que, apesar de complicada é influenciada pelo inacabamento da história, como complementa Castellani Filho (1988, p.18): ―Se a História nunca está definitivamente acabada, se está subordinada a constantes reinterpretações, daí resulta apenas ser ela um processo e não uma imagem definitivamente acabada, não uma verdade absoluta.‖

Considerando a necessidade de reescrita dos capítulos da história da educação física brasileira devemosrepensar o ensino tradicional, atrelando o papel da disciplina à formação do cidadão emancipado (DARIDO, 2002). Dentre elas, a educação escolar surge como um meio de ação direta para mudança de padrões e/ou comportamentos. ―Na escola, as expectativas, opiniões, percepções e mesmo as impressões que os professores têm a respeito dos alunos também contribuem para trazer efeitos futuros sobre suas vidas.‖ (ROMERO, 1994, p.226)

O diálogo entre a universidade e as escolas, por exemplo, surge como uma boa alternativa de pensar o novo dentro da perspectiva do ensino-aprendizagem. Uma das formas de aproximação entre escola e universidade é o estágio supervisionado pois, procura interligar, na maioria das vezes, professores que tiveram a formação embasada no tradicionalismo e futuros professores que estão tendo a oportunidade de pensar a educação física sob uma nova ótica. Camargoe De Paula (2013; p.7732) colocam que ―Neste sentido, a ação profissional integrada

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13 entre professores e acadêmicos em formação inicial torna-se uma importante prática formativa.‖

Pensando o futebol como tema gerador, por ser um determinante fator de integração social e um dos elementos definidores da nacionalidade (MASCARENHAS, 2012), a mídia como tema auxiliar, por se tratar de um caminho que influencia diretamente no cotidiano atual, como cita Silverstone (1999, p. 21):―Ela filtra e molda realidades cotidianas, por meio de suas representações singulares e múltiplas, fornecendo critérios, referências para a condução da vida diária, para a produção e a manutenção do senso comum.‖e, a mulher no meio de todo esse processo, visto que a diferença entre homens e mulheres nos ambientes sociais ainda é marcante e que ainda é forte a organização da sociedade em torno do homem (ROMERO, 1994), o objetivo desse relato foi aproximar os alunos do nono ano de uma escola estadual de Natal/RN, com a temática futebol, ultrapassando o limite das quatro linhas que delimitam o campo,compreendendo suas relações de gênero e sexualidade, através do diálogo universidade-escola, por meio do estágio supervisionado.

O estudo caracteriza-se por uma abordagem qualitativa, de cunho descritivo que buscou aproximar os alunos das temáticas e compreender as relações estabelecidas entre elas, o papel do professor e a importância do estágio supervisionado para a formação do aluno de graduação e para os alunos da formação inicial. Preocupada com a compreensão dos fatos e dos atores envolvidos no processo (GERHARDT; SILVEIRA, 2009), a abordagem qualitativa ―[...] preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais.‖ (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p.32).Além disso, os processos estabelecidos entre os sujeitos envolvidos buscaram também reformular as propostas de intervenções a partirdas respostas adaptativas dos mesmos.

O ciclo de planejamento se deu logo após o diagnóstico de observação da escola, da turma e do professor e acompanhou a seguinte sequência metodológica: elaboração da proposta a ser discutida; apresentação da proposta e abertura a sugestões; aplicação das aulas; avaliação continuada e discussão final sobre o percurso seguido.

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14 A análise diagnóstica da escola foi feita através de observação e entrevistas informais com alunos, professores e a direção da escola. A análise da turma e dos alunos por observação e registros em diário de campo. A escolha da temática já estava pré-determinada e partiu de uma inquietação com a falta de trabalho com o futebol para além das quatro linhas do espaço de jogo, considerando o seu lado espetáculo e a influência desse lado no cotidiano social. O planejamento das aulas se deu a partir da discussão inicial com a turma e foi reformulado conforme a necessidade. A escolha dos temas geradores das aulas foi acordada com os alunos e partiu do interesse da maioria. As avaliações foram feitas de forma continuada em cada aula e, ao final do processo, em um fechamento geral.

O registro para análise dos resultados foi feito através de um diário de campo elaborado a cada aula, fotografias e filmagens como parte do acompanhamento e resultado do processo.Os tópicos seguintes discorrerão sobre as temáticas recorrentes, odiagnóstico de realidade, de planejamento, de execução e de avaliação dos momentos planejados.

A escola como espaço de aprendizagem

O nascimento de uma criança é sempre marcado por pensamentos futuros. A previsão de como se formará aquela criança, onde ela vai brincar, onde vai estudar, com quem vai se relacionar, quem ela será, que profissão escolherá, qual a sua personalidade e tantos outros questionamentos marcam a importância do contexto no qual se está inserido. Imersos em um mundo em que a cultura é fator determinante das ações e que os corpos são construídos culturalmente (DAOLIO, 2006), os pais criavam os filhos da mesma forma que foram criados. Esse processo de participação na construção de identidades não é uma responsabilidade atribuída apenas ao ambiente familiar, as instituições de ensino em si objetivam a aprendizagem (BRENDLER, 2013) e, por isso, interferem diretamente no meio.

No início, a dependência da família se caracteriza como um fator determinante para estruturação da identidade daquele ser. Seguindo a linha cronológica, a escola entra com a responsabilidade conjunta de participação. De forma direta, a complementaridade de compromissos exige cautela. Tanto a escola quanto a família devem assumir seus papeis, acrescentando positivamente assim na vida dos filhos/alunos, assim:

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Nesse sentido, o que muitas vezes acontece é a família atribuir responsabilidades que sobrecarregam a escola e os professores, dificultando assim o processo de aprendizagem das crianças. As responsabilidades ao invés de ser transferidas devem ser compartilhadas, pois ambas devem ser parceiras, e a escola por mais esforços que faça nunca dará conta de substituir a família. (BRENDLER, 2013, p. 17)

Tendo em vista a importância do ambiente escolar no decorrer da vida das pessoas, se faz necessário compreender seus atores e ações. Por permanecer boa parte do dia no ambiente escolar, a contribuição desse espaço é importante para o desenvolvimento das crianças (ROMERO, 1994).

A escola é um espaço de aprendizagem marcado por características culturais que relacionam três elementos: os alunos, o professor e o conhecimento. A relação entre eles é pautada de acordo com a época em que se vive, ora a ênfase é no professor, como explica Freire (1987) sobre a educação bancária e a transferência de conhecimento; ora é no aluno, como quando Freire refuta essa ideia e coloca o aluno como centro do interesse e; ora no conhecimento, quando se estabelecesse uma hierarquia de importância em assuntos e disciplinas colocados e seguidos pelas escolas tradicionais. Sobre as relações sociais:

E o mundo social, repleto de múltiplas complexidades é construído por um conjunto de problemas criados pelo próprio homem, mediante as variadas e controversas relações sociais que o define, de entre elas, evidenciam-se as que se estabelecem no contexto escolar, as quais têm-se constituído nas mais variadas práticas pedagógicas por partedos docentes, destacando-se três aspectos importantes: a informação, o conhecimento e aprendizagem. (SILVA, p.84, 2012)

Colocando em ordem, não de importância, mas de lógica, o conhecimento vem como algo a ser ensinado e aprendido interferindo diretamente na vida dos sujeitos envolvidos. As ênfases em relação ao conhecimento giram em torno de duas situações, são elas: a reprodução de palavras que não fazem sentido e significado aos envolvidos no processo, tornando a relação hierárquica entre quem possui o conhecimento e quem está aprendendo, sem possibilidade de troca de experiências; e a construção desse conhecimento, entre os atores envolvidos no processo, de forma que faça sentido para quem está aprendendo e/ou ensinando e,

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16 ao mesmo tempo, possibilite uma relação de troca de experiências onde quem ensina, aprende ao ensinar e quem aprende, ensina ao aprender (FREIRE, 2002).

Um outro ponto importante em relação ao conhecimento diz respeito a precisão do fazer sentido e significado para quem está aprendendo e/ou ensinando. A construção das ideias deve ser compreendida como algo que não inicia do ―zero‖, mas que, por sermos agentes culturais (DAOLIO, 2006)e estarmos inseridos em espaços e realidades distintas, devem partir da vivência de cada indivíduo como um ser único.

Em segundo lugar temos o professor como um elemento de extrema importância no processo educativo. A postura, a forma de ver o mundo e como pensa a educação pode ser crucial para um diagnóstico de reflexos dos alunos. O papel do professor na formação do aluno é evidenciado por Romero (1994, p.231) quando coloca que:

No sistema escolar, o professor que mantém um contato direto com a criança, torna-se um elemento decisivo na sua formação. Neste contexto o professor é a figura de importância fundamental já que é a pessoa que vai veicular ideias, percepções e conceitos formados sobre a adequação ou não do comportamento de seus alunos.

A educação tradicional, por sua origem, envolve a ideia de reprodução de conhecimentos, a famosa educação bancária, em que o professor transfere o conhecimento aprendido e o aluno é considerado uma ―página em branco‖, desconsiderando assim suas vivências anteriores. Paulo Freire refuta a ideia da educação bancária trazendo o professor mediador como uma forma de levar em consideração o maior interessado no processo ensino-aprendizagem, o aluno. Sobre a educação bancária o autor coloca que:

Em lugar de comunicar-se, o educador faz ―comunicados‖ e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção ―bancária‖ da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guarda-los e arquivá-los. (FREIRE, 1987, p.33)

A responsabilidade ética do professor (FREIRE, 2002) aparece para conscientizá-los da característica de espelho na qual sua formação é subordinada.

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17 Um professor de matemática pode ser o responsável por fazer um aluno de apaixonar pela matéria e seguir carreira, da mesma forma que pode fazer um outro aluno odiar a matemática e não querer nem contar o troco. É claro que não é apenas a postura do professor que causará isso, mas a forma como ele interage com os alunos pode ser determinante. As relações estabelecidas entre professor e aluno são tão importantes quanto entre pais e filhos e, muitas vezes, em falta com a família, os alunos buscam nos professores uma forma de inspiração. Não exclusivamente culpados, mas responsáveis, os homens atuam sobre uma realidade modificando-a e, o contrário também se torna verdade (GONÇALVES, 2005). Aplicando essa frase à responsabilidade atribuída ao papel do professor, podemos perceber que, ao mesmo tempo que ele atua sobre diferentes realidades, elas atuam sobre ele e, de forma simultânea, cada situação modifica-o e é, por ele modificada.

Por último, mais importante e o centro de toda essa discussão está o aluno que, na maioria das escolas tradicionais sente dificuldade de dialogar, criticar e acaba por apenas aceitar as imposições do professor, já que culturalmente, essa ideia vem desde o berçário. Um grande problema nesse exemplo está na inserção desse aluno no mundo real. Uma pessoa que não critica, não questiona, não pesquisa, muitas vezes se torna acomodada a aceitar a realidade a qual lhe foi imposta. O conformismo com a tradicionalidade se faz presente na maioria das escolas e tende a se fazer presente na vida de grande parte dos cidadãos. Inconformado com o bancarismo na educação, Paulo Freire coloca que:

O necessário é que, subordinado, embora, à prática ―bancária‖ o educando mantenha vivo em si o gosto da rebeldia que, aguçando sua curiosidade e estimulando sua capacidade de arriscar-se, de aventurar-se, de certa forma o ―imuniza‖ contra o poder apassivador do ―bancarismo‖. (FREIRE, 2002, p. 13)

A compreensão dos papeis desempenhados por cada um desses elementos deve partir, primeiramente, do centro de toda a discussão – o ser humano. Para entender a relação entre o professor, o aluno e o conhecimento, precisamos considerar a relação do ser humano para consigo mesmo, e só assim poderemos compreender a sua relação para com o mundo. Ninguém só age no mundo, mas pensa, sente e age e, por isso, ―[...] sendo, ao mesmo tempo, interioridade e

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18 exterioridade, sujeito e objeto, corpo e espírito, natureza e cultura [...]‖ (GONÇALVES, 2005, p.65), a sua natureza dupla deve ser levada em consideração, não permitindo a dissociação de sentidos entre o que se vive e o que já se viveu pois, ―Cada corpo expressa a história acumulada de uma sociedade que nele abarca seus valores, suas leis, suas crenças e seus sentimentos, que estão na base da vida social.‖ (GONÇALVES, 2005, p.14).

Entre os três elementos apresentados, o processo ensino-aprendizagem se dá com o objetivo e desafio de utilizar o conhecimento como meio facilitador da realidade, o professor como mediador desse processo e o aluno como o centro de atenção de toda a dinâmica. Na teoria, essa relação parece ser simples, mas na prática é bastante complexa.

A escola aparece como espaço de convivência entre diversas culturas, mentes, necessidades, realidades, opiniões e relações entre direção-professor, direção-aluno, professor-professor, professor-aluno, aluno-aluno. Seu papel fundamental está em formar o cidadão para a vida, independentemente de qualquer coisa. O maior problema disto é evidenciado nas escolas públicas do país, que sofrem com o sucateamento na educação, gerando uma série de problemas, dentre eles podemos citar: problemas estruturais, falta de salários, falta de material, ocasionando desmotivação na prática pedagógica e um consequente desinteresse dos alunos e dos próprios professores no processo educativo, além do desacreditar a possibilidade de mudança.

Sobre a sociedade brasileira, Darido (2002) afirma que é uma sociedade marcada pela diferença das relações entre categorias e privilégios demonstrando problemas sociais como a desigualdade e a exclusão. Apesar disso, a autora fala que a escola deve ser um espaço para discussão de assuntos como a igualdade, o combate à discriminação, a dignidade e tantos outros necessários. Adeptos ao conformismo do ―isso não vai mudar nunca‖, a maioria dos professores das escolas públicas deixam muitas vezes de cumprir os seus papeis por falta de algo que eles consideram extremamente necessário para sua prática docente.

A ideologia fatalista, imobilizante, que anima o discurso neoliberal anda solta no mundo. Com ares de pós-modernidade, insiste em convencer-nos de que nada podemos contra a realidade social que, de histórica e cultural, passa a ser ou a virar ―quase natural‖. Frases como ―a realidade é assim

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mesmo, que podemos fazer?‖ ou ―o desemprego no mundo é uma fatalidade do fim do século‖ expressam bem o fatalismo desta ideologia e sua indiscutível vontade imobilizadora. (FREIRE, 2002, p.11)

A Educação Física e a possibilidade de papel transformador

Educação física:

[...]prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.33)

Para compreender o significado de Educação Física é necessário primeiro entender o conceito de cultura corporal. Desmembrando o termo temos: cultura e corporal. Entendendo cultura por ―sistema de signos e significados criados pelos grupos sociais‖ (CANEDO, 2009, p.4) e corporal por aquilo que for relacionado ao corpo, podemos unir as significações e compreender a cultura corporal como sistema de signos e significados relacionados ao corpo criados pelos grupos sociais. A compreensão de ser humano sem diferenciar, para isso, corpo e mente e, compreendendo esse corpo imerso em uma sociedade, portanto constituído de cultura, permite compreender a Educação Física como estudo importante da sociedade. Segundo Daolio (2006, p.30), ―Não existe homem sem natureza, da mesma forma que não existe homem sem cultura. Podemos até afirmar que a natureza do homem é ser um ser cultural.‖

Como prática pedagógica que configura a cultura corporal e no dia a dia surge como campo de transformação no ambiente escolar, a Educação Física pode levar o aluno a encontrar uma maior liberdade subjetiva, ampliando suas experiências, conquistando a liberdade objetiva e desenvolvendo o pensamento crítico (GONÇALVES, 2005). A maioria dos alunos gostam das aulas de Educação Física, seja por, não ser no ambiente tradicional da sala de aula, fazê-los sair da rotina, realizar movimentos que estão inseridos no seu contexto de brincadeiras cotidianas em casa, participar de atividades esportivas, fato esse que inclui outros determinantes importantes, entre outros diversos motivos. Constituindo-se por uma vertente positiva de aceitação, a Educação Física é responsável por parte do

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20 processo formador das crianças e pode ser determinante na construção de indivíduos críticos.

A disciplina é marcada por vícios pontuais da existência de local específico e materiais necessários para realização de uma aula. A quadra e as bolas são os principais pedidos e, suas faltas, as principais desculpas dos professores para não realizarem seus papeis de formadores. Ademais à necessidade de bolas e espaços adequados, a Educação Física trabalha com o encontro de diversas possibilidades de atuação. Dentro desse universo, a compreensão dos processos culturais no qual estamos inseridos se torna de extrema importância para entender quem são os sujeitos envolvidos, quais os reflexos culturais que permeiam o transcurso e qual o momento atual da sociedade considerada, a fim de possibilitar experiências significativas para todos. Dessa forma:

[...] trabalhar com uma prática esportiva nas aulas de educação física é muito mais que o ensino das regras, técnicas e táticas próprias daquela modalidade. É necessário, acima de tudo, contextualizar esta prática na realidade sociocultural em que ela se encontra. (DAOLIO, p.33, 2006)

A medida que o tempo passa os costumes mudam, as necessidades são outras e as formas de ser, na maioria das vezes, são alteradas. Compreender esses processos sociais faz parte do papel de professor, para que sua prática venha a ser reflexo de sua busca constante pelo conhecimento, seja ele somativo ou de atualização, afinal ensinar exige pesquisa (FREIRE, 2002).O professor devepreocupar-se com a formação de um cidadão ético, com autonomia e liberdade para serem sujeitos de suas próprias histórias.(GONÇALVES, 2005)

O corpo aprende e é a sociedade que ensina (MAUSS, 1974 apud DAOLIO, 2006), em seus diversos momentos, ou seja, os costumes variam de acordo com os momentos vividos e as sociedades em que se vive o momento. Dessa forma, a essência cultural do homem varia de localidade para localidade. O Brasil, conhecido como país do futebol leva como lema a malandragem do drible, o entrega do torcedor e a luta dos jogadores por ascensão. A influência que o futebol tem na cultura brasileira é refletida em diversos âmbitos. Dentro da Educação Física, ele se mostra como preferência esportiva da maioria dos alunos, assim faz-se necessário compreender a influência que o futebol tem dentro do ambiente escolar partindo da

(22)

21 análise da sociedade como um todo e da sua aplicação primária (na escola) como parte.

O futebol como fator de integração e exclusão territorial

A cultura de uma sociedade reflete, de maneira significativa, nas narrativas presentes no cotidiano das pessoas. Mais que uma modalidade esportiva, o futebol tornou-se um ―elemento central na cultura brasileira‖. (MASCARENHAS, 2012, p.71)

O futebolmasculino acaba por mover boa parte da população brasileira de maneira global: milhares e milhares de torcedores1, jogadores2, mídia, dinheiro e muita paixão envolvida. Além de ser o esporte mais televisionado, influenciando diretamente em grande parte das preferências esportivas (escolares ou não), o futebol também está incluso como conteúdo (esporte de invasão) a ser trabalhado na escola, segundo a Base Nacional Comum Curricular de Educação Física. A compreensão desse fenômeno envolve diretamente a sociedade brasileira que, no campo esportivo consegue movimentar todo um país e interferir nos processos socioeconômicos e culturais do Brasil.

Como manifestação da sociedade brasileira (DAOLIO, 2006) o futebol chega ao Brasil através de Charles Miller em 1894 e se configurava, inicialmente, como um esporte elitizado, praticado apenas por homens. Adaptado ao país e com características culturais que se aproximavam à realidade do brasileiro, tornou-se um fenômeno nacional. Jogado com os pés, como a batida do samba; permitido dribles, como a malandragem do brasileiro; alcança o gol em poucas oportunidades, como a ascensão de pequena parte da população; lota estádio com o povão, envolve o empresário, o vendedor de água e o jogador, como na sociedade brasileira, uns ganham para divertir outros, que por sua vez, pagam para quem não tem condições

1

O Flamengo lidera o ranking FIFA das 50 maiores torcidas do mundo com mais de 33 milhões de torcedores. (JAKURA, Tiago. Qual a maior torcida do mundo? Disponível em:

<https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-e-a-maior-torcida-do-mundo/>. Acesso em: 03 nov. 2018.)

2

Mais de 28.000 jogadores profissionais (sem contar os amadores e as mulheres). (ESPN. Brasil tem 23.238 jogadores que ganham até R$ 1.000, e um que fatura mais de R$ 500 mil. Disponível

em: <http://www.espn.com.br/noticia/579836_brasil-tem-23238-jogadores-que-ganham-ate-r-1000-e-um-que-fatura-mais-de-r-500-mil>. Acesso em: 03 nov. 2018.)

(23)

22 suprir suas necessidades de consumo, conformados a essa realidade, estes aceitam o que lhe foi imposto.

―A sociedade brasileira – não é exagero dizer – está impregnada de futebol, e o maior exemplo disso pode ser visto no nascimento de uma criança – homem, de preferência -, quando ela recebe um nome, uma religião e um time de futebol.‖ (DAOLIO, 2006, p.108). Vejamos, por exemplo, a percepção de um dos alunos sobre o que é futebol:

Figura 1 – Imagem digitalizada como resultado de uma intervenção que questionava aos alunos: ―Para você, o que é futebol?

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Unindo os extremos territoriais do país, os times de futebol masculino são responsáveis por inspirar paixões no povo brasileiro. Os clubes mais antigos levam torcedores de todas as partes do Brasil que, por vezes, chegam a acompanhar os jogos fielmente, seja pessoalmente ou por meios das transmissões de TV. Uma máquina de fazer dinheiro, que motivatoda uma nação, responsável por parar a quarta-feira e o domingo, e tantos outros dias ―sagrados‖ de futebol; responsável por fazer acordar às 5h da manhã pra bater uma ―bolinha‖; responsável por colorir as ruas com os mantos sagrados; responsável por levantar os sentimentos mais fieis do homem: chorar quando seu time perde, xingar quando se sente injustiçado, brigar quando se sente na razão e comemorar quando vence uma partida, exatamente como na vida cotidiana. Tudo que foi transcorrido nessa parte do texto e evidenciado em alguns trechos corresponde à realidade vivida e mostrada pelo futebol jogado

(24)

23 por homens. Quando se fala em futebol feminino há um contexto histórico por trás marcado por discriminação, proibição, preconceito e luta.

O espaço da mulher na sociedade e no futebol

O futebol feminino tem registros no Brasil por volta dos anos de 1920 em uma partida na cidade de São Paulo entre as senhoritas ―tremembenses‖ contra as senhoritas ―catarinenses‖ (GOELLNER, 2005). Apesar desses registros datarem o início do século XX, a participação das mulheres na prática futebolística foi significativamente menor do que a dos homens. Marcada por atrasos, somente entre a década de 70 e 80 que se começa a pensar na institucionalização do futebol feminino (GOELLNER, 2005; DARIDO, 2002). Tal fato atravessa e é refletida na escola de forma marcante, visto que é nela que se inicia o trabalho com os esportes através da prática da Educação Física.

Apesar de ser preferência, a escolha do ―esporte favorito do brasileiro‖ a prática do futebol nem sempre atinge a escola de forma igualitária. A prática por mulheres é dificultada em um espaço eminentemente masculino (GOELLNER, 2005); nas aulas, os alunos que não gostam do futebol são meros espectadores dos que gostam e; o conteúdo é trabalhado, na maioria das vezes, de forma exclusivamente prática. Tais fatos acabam por excluir aqueles que não se encaixam nos padrões de escolhas ―normais‖ das crianças e jovens brasileiras.

A divisão entre as práticas destinadas para homens e mulheres se diferencia desde o nascimento:

Aosprimeiros são permitidas e incentivadas brincadeiras maisagressivas e livres, eles jogam bola nas ruas, soltam pipas,andam de bicicleta, rolam no chão em brigas intermináveis,escalam muros e realizam muitas outras atividades queenvolvem riscos e desafios. As meninas, por outro lado, sãodesencorajadas, e até mesmo proibidas, de praticarem essasbrincadeiras e atividades e, em função desse tratamentodiferenciado,tem-se um quadro de desempenho motorigualmente diferenciado.(DARIDO, 2002, p. 2)

Imersos em uma cultura machista, a prática do futebol destinada aos homens constrói, por vezes, a obrigatoriedade da participação deles e a repulsa na participação delas. Levados a caminhos opostos dentro da sociedade a prática do

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24 futebol por mulheres ainda passa por bastante resistência (VIANA, 2008). Daolio (2006, p.23) coloca que ―Há algumas décadas, o voleibol só era praticado por mulheres e, portanto, só a elas ensinado, sendo reservados aos homens outros esportes como o futebol e o handebol.‖. Uma questão cultural, e não da incapacidade dos homens de jogarem voleibol ou das mulheres futebol.

Essas relações são evidenciadas dentro do ambiente escolar de forma mais significativa. A constante luta por um espaço na sociedade inicia dentro da família e logo em seguida, no espaço escolar, evidenciando a importância deste à formação expressiva do cidadão. A luta pela participação ativa da mulher não acontece apenas no esporte, mas no trabalho quando se direcionam as carreiras que elas ―devem‖ seguir; no padrão de vida de bela, frágil e do lar (MOURÃO, MOREL, 2005); e até no estilo de roupa, veja:

Como peça específica dos uniformes escolares destinados às meninas e moças, as saias recobriam os corpos femininos com uma camada a mais de tecido sobre os calções e shorts, e foram moda até mais ou menos a década de 1960.(SOARES, 2010, p.80)

Como fenômeno cultural, o futebol deve ser compreendido não apenas para justificar processos históricos de preferência, mas também para reconstruir concepções históricas de exclusão. A sua presença no ambiente escolar ―torna-se essencial para a formação cultural, motora e cognitiva dos alunos‖ (VIANA, p.644, 2008). Aliado a discussão da temática do futebol, a construção de uma mentalidade aberta à participação e luta das mulheres nesse esporte, passa por desafios que vão desde a aceitação dentro do ambiente familiar à aceitação por parte dos participantes do processo de formação escolar que,atualmente, ainda se mostram resistentes.

A mídia como ferramenta do processo ensino-aprendizagem

Além do futebol, um outro fenômeno cultural vem atravessando a sociedade de forma significativa. As cartas não são mais comuns, as ligações não mais frequentes, os encontros passam a ser marcados por Whatsapp, as relações se constroem ou se destroem mais facilmente através de uma pequena tela. A

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25 tecnologia começa a tomar conta dos novos padrões de comportamentos e ações, fazendo com que surjam novas discussões acerca da influência da mídia e seus aparatos nos processos sociais.

Os produtos da moderna tecnologia abrem ao homem inúmeras formas de locomoção e comunicação, que lhe permitem ultrapassar os limites de sua corporalidade, criando novas concepções de espaço e tempo e abrindo também novas possibilidades de realização de atividades corporais. Por outro lado, além do fato de que essas possibilidades só atingem uma minoria, o homem moderno sofre as consequências do stress, padecendo grande parte da humanidade de doenças psicossomáticas e de doenças causadas pela falta de movimentos. (GONÇALVES, 2005, p. 27)

A mídia atualmente interfere no decurso social não apenas como movimento uníssono, mas sim como fruto de uma sociedade tecnológica que está em constante transformação, ―ocupando muito tempo na vida das crianças e dos adultos‖ (Tufte, Christensen, 2009, p. 98). As transformações que vem acontecendo na sociedade vem demonstrando a necessidade de mudanças de paradigmas (ARAÚJO; BATISTA; OLIVEIRA, 2016) e o acompanhamento dos avanços tecnológicos, necessários à rápida evolução das tecnologias e de todo o processo de globalização.Como cita Silva (2012, p.85):

Uma sociedade marcada pelas suas múltiplas complexidades que a vivencia e dentre elas, destaca-se, a avalanche de informações que são despejadas através das tecnologias mais diversas e que as tornam viver-se numa sociedade da informação e do conhecimento.

Essas transformações atravessam o nosso cotidiano e estão, cada vez mais cedo, presentes na vida dos seres humanos. Por ser parte integral do dia a dia das crianças e adolescentes torna-se um desafio para a escola relacioná-la ao processo de ensino aprendizagem. Responsável pela criação de padrões e estereótipos, a mídia passa a ser parte da vida das pessoas, convencionando formas de ser:

É uma quantidade enorme de informações acerca da cultura corporal influenciando a construção do imaginário social. São estabelecidos padrões

(27)

26

de corpos, convenciona-se o esporte como a única manifestação da cultura corporal, instiga-se o consumo de materiais e equipamentos esportivos cada vez mais modernos e produzidos por tecnologias avançadas. (DARIDO, 2002, p. 5)

Vejamos a percepção de um dos alunos dessa experiência acerca do que é mídia:

Figura 2 – Imagem digitalizada da percepção de um aluno sobre: ―O que é mídia?‖

Fonte: Arquivo pessoal da autora

A busca pela compreensão da relação entre futebol e mídia gera muitos questionamentos. No âmbito escolar, um grande desafio consiste em contextualizar o futebol para além da sua parte prática, para que ele possa englobar a parcela de alunos que diverge dos ―padrões‖ de preferência, a escola que não tem estrutura de espaço nem de material, os professores desmotivados, utilizando para isso o todo em partes e não apenas a parte de um todo.―Não se trata de ensinar o futebol em si, mas de, a partir dele, praticar, pensar, criticar, organizar, apitar, enfim, participar com autonomia da cultura corporal.‖ (DAOLIO, p.61, 2006)

CARACTERIZAÇÃO

2.1 Caracterização da escola

A escola escolhida para realização do estágio supervisionado 3 foi a Escola Estadual Ferreira Itajubá, localizada no bairro de Neopólis, Natal-RN. A escolha da escola se deu devido a disponibilidade de horários oferecidos por ela, além da

(28)

27 proximidade do local. Com a oferta de ensino médio e ensino fundamental (anos finais), a escola conta com 6 salas de aula, além de dependências como: sala de diretoria, sala de professores, biblioteca, laboratório de informática, cozinha, banheiros, sala de secretaria, despensa, almoxarifado, auditório e pátio coberto. Em relação à quantidade de professores e alunos são, 15 e 224, respectivamente, sendo que estes últimos não são sempre frequentes.

Com um espaço consideravelmente pequeno e, em sua maioria, não funcionais, os funcionários buscam o fazer acontecer do processo pedagógico. A sala de informática, por exemplo, existe, mas a maioria dos computadores não funcionam. A biblioteca não é muito utilizada. Além disso, estava passando por uma série de reformas o que, momentaneamente, torna o ambiente desagradável pela quantidade de máquinas e poeira espalhadas por todos os lados, mas, quando finalizadas, resultará na entrega de uma quadra poliesportiva. O espaço utilizado para a Educação Física era o pátio, um espaço bem pequeno, mas que com a reforma está sendo utilizado para outros fins. Por esse motivo, as aulas do professor de campo da turma escolhida, estavam sendo teóricas, dentro da sala de aula convencional. Segundo o presidente do grêmio não há nenhum projeto ou programa de vinculação da comunidade com a escola, apesar das diversas tentativas por parte do mesmo.

2.2 Caracterização da turma

A turma escolhida para observação foi o 9° ano do ensino fundamental II. A escolha dessa turma se deu pela necessidade do estágio supervisionado III em acontecer em uma turma de ensino fundamental II. Uma turma com 35 alunos matriculados e uma frequência de 24 alunos em média, sendo eles 12 meninas e 23 meninos. As aulas acontecem nas segundas às 7h da manhã, em que a presença é de menos de 50% dos alunos e, nas terças às 07:50h da manhã com uma presença de mais de 70% do total.

No que diz respeito à turma, no primeiro contato, os alunos se mostraram desinteressados com o que o professor falava. Questionamentos acerca do comportamento do professor surgiram na execução das atividades propostas (Figura 3).

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28 Figura 3 – Imagem digitalizada da atividade de iniciação à temática reportagem

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Todos sentados, uns mexendo no celular, outros virados de costas e conversando, outros dormindo. Em um segundo contato, o professor pareceu ser conformado com a situação posta pelas condições oferecidas justificando assim sua decisão de aulas teóricas e conformação da postura da turma. Ao ser discutida a ideia de propostas diferentes, foi bem adepto e passou logo a ―bola‖ para as intervenções, o que não foi interessante por não ter sido o planejado. Apesar disso, alguns alunos se mostraram interessados, mas poucos participaram das primeiras propostas.

Uma característica marcante dessa turma era que quase todos os alunos possuíam celular e acesso à internet dentro da sala, o que dificultava o diálogo de certa forma, mas poderia facilitar a proposta caso a utilização da mídia fizesse parte da ideia.

A apresentação da proposta de conteúdo a ser abordado não agradou muito a turma, mas por estarem acostumados a aceitarem imposições, os alunos não questionaram. A ideia inicial era trabalhar o futebol feminino, mas diante da negativa de 95% da turma com o tema futebol, tematizar o futebol feminino em específico não seria uma boa ideia de início.

Uma turma dividida em grupos específicos, com características distintas que tinham algo em comum: não gostavam de futebol. As questões maioresa serem enfrentadas eram: como tematizar o futebol diante da realidade dessa turma e da falta de espaço e escassez de materiais da escola?Como elaborar uma sequência de aulas que houvesse a participação de todos os alunos presentes na aula? Como utilizar a mídia a favor do processo de ensino-aprendizagem na turma?

(30)

29 O contato inicial com o professor foi marcado por um choque de opiniões e inconformismo. A aula começava às 07h da manhã e o professor chegou às 07:30h. A ideia do estágio foi bem recebida por parte do professor, ficando claro desde o início que ele aceitaria tudo. A turma só tinha aulas teóricas devido à falta de espaço e materiais necessários às práticas. O professor se intitulou como tecnicista e voltado para o treinamento, mais especificamente na área do atletismo, mesmo não trabalhando esse conteúdo na escola em questão.

Os assuntos que estavam sendo trabalhados por ele eram pirâmide alimentar e noções de primeiros socorros. A discussão sobre o assunto a ser abordado não foi muito extensa, já que o professor se dispôs a aceitar a ideia de trabalhar o futebol e a mídia logo de cara, apesar de que pareceu não concordar muito com a ideia de tematizar o futebol feminino. Argumentos como: ―a universidade mudou desde a época que eu me formei, na minha época não trabalhavam isso‖, surgiram.

O segundo momento que deveria ser de observação da turma e das aulas, foi o início das intervenções. A partir daí surgiram algumas questões sobre a atuação desse professor dentro de sala de aula e a postura da turma em relação às aulas, dentre elas: o atraso faz com que o professor tenha apenas de 20 e 25 minutos de contato com a turma; o conformismo com a realidade da escola pública justifica a mesmice das aulas teóricas; a falta de respeito dos alunos com o professor são combatidas com a ameaça nas notas; a turma não possuía poder de discussão.

2. INTERVENÇÕES

O desinteresse por parte dos alunos foi um grande desafio para dar início às intervenções. Nas primeiras discussões a ideia de trabalhar o futebol não foi bem aceita. De 25 alunos presentes, apenas 3 se interessavam pelo tema. A proposta inicial era trabalhar o futebol feminino mostrando suas possibilidades dentro do espaço escolar. Diante da negativa recepção e visando continuar o trabalho com a temática do futebol, a inserção da mídia – diante da realidade dos alunos - se mostrou como alternativa válida para a continuidade da proposta. Darido (2002, p. 5) pontua que ―A Educação Física na escola não pode ignorar a mídia e as práticas corporais que ela retrata, bem como o imaginário que ela ajuda a criar.‖

A utilização do celular durante as aulas por alguns alunos levou a pensar em como agregar a utilização dele de alguma forma durante as aulas ou como chamar

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30 atenção dos alunos nas aulas de forma que o celular não atrapalhasse. Dessa forma, mexer com aparelhos que envolvesse tecnologia (Figura 4) se mostrou uma alternativa para resolução desse problema. Tematizando o futebol e utilizando a mídia como ferramenta de auxílio no processo de ensino-aprendizagem, a proposta de intervenção foi acordada com os alunos após os primeiros encontros e o diagnóstico da turma.

Figura 4 – Imagem capturada pelos alunos da turma

Fonte: Arquivo pessoal da autora

A divisão dos momentos foram as seguintes:

 Dinâmicas de grupo para aproximação da turma;

 Elaboração de um torneio com a participação de todos os alunos;

 Estabelecimento da relação entre mídia e futebol partindo do Brainstorming;

 Reconhecimento e diferenciação dos espaços e atores do futebol;

 Vivência dos espaços do futebol: narração;

 Vivência dos espaços do futebol: imprensa;

(32)

31

 Vivência dos espaços do futebol: torcida;

 Vivência dos espaços do futebol: comissão técnica;

 Vivência dos espaços do futebol: jogadores;

Mini-curso de canva para criação de revista digital;

 Apreciação das produções e fechamento das intervenções.

3.RESULTADOS E DISCUSSÕES

O contato inicial com o professor evidenciou seu trabalho com conteúdos teóricos, justificado pela a falta de material e ambiente adequado na escola, a pirâmide alimentar e as noções de primeiros socorros foram os assuntos citados para a discussão com os alunos. A conversa com o professor se deu nos 25 minutos restantes de aula (a partir do horário que o professor chegou) e criou uma curiosidade sobre a forma de relacionamento entre professor-aluno da turma.

O segundo momento que objetivava cumprir a dinâmica do estágio, tinha como proposta inicial, fazer a observação de algumas aulas e, a partir disso, discutir a temática a ser trabalhada e a sistematização do conteúdo, o que não foi possível. Já no segundo momento o professor apresentou a turma e já pediu para que as aulas fossem assumidas na perspectiva do estágio. Por não ter sido esperado e planejado, foi feita a improvisação discutindo sobre a ideia de trabalhar o futebol feminino através de algumas perguntas aos alunos, o que resultou em quase nenhuma participação e desinteresse por parte dos alunos.

A terceira tentativa de abordagem da proposição se deu através de um júri simulado que levantava como discussão a temática apresentada anteriormente e obteve, da mesma forma, resultados negativos. Um grupo deveria defender a prática do futebol por mulheres e outro deveria ser contra. Mesmo diante da realidade vivenciada no cotidiano, os alunos que ficaram no grupo contra não conseguiram argumentar que a mulher não podia jogar o futebol. ―Professora, o que você quer que eu fale?‖; ―Mulher pode fazer o que quiser.‖; ―Todo mundo é igual.‖.

Observando as respostas que, apesar de poucas, mostravam um pensamento a favor da prática do futebol por mulheres e, diante da pouca aceitação dos alunos com a temática proposta, o desafio foi pensar em como tematizar o futebol em uma turma que não possuía interesse no conteúdo, sofria com falta de material e espaço. Perceber que o esporte vai além das quatro linhas do campo mostrou uma

(33)

32 alternativa viável para sistematização, mas, para que sua execução funcionasse de alguma forma, havia a necessidade da aproximação dos alunos com a dinâmica. Dessa forma, os momentos iniciais de descontração foram determinantes para a aplicação da proposta.

A ambientação com a turma com foi realizada através de dinâmicas para que os alunos interagissem entre si e com a professora. Essa aproximação mostrou uma turma bem dividida em grupos específicos, que não interagia entre si e não era acostumada a desenvolver atividades fora da posição sentada nas cadeiras. Partindo dessaobservação inicial, a maioria das atividades foram desenvolvidas com os alunos em pé e fazendo algum tipo de movimentação com o corpo. Segundo Gonçalves (2005, p.62), ―É no, como e por meio do corpo que ele pode aprender, agir e transformar seu mundo, pode construir e recriar, pode planejar e sonhar.‖. Já nessas aulas iniciais os alunos tiveram contato com a câmera fotográfica para registrar os momentos a partir de seus olhares. Sobre a importância da utilização desses registros (Figura 5), Bordieu (2007, p. 11) coloca: ―[...] trata-se de passar de uma arte que imita a natureza para uma arte que imita a arte, encontrando, em sua história própria, o princípio exclusivo de suas experimentações e de suas rupturas, inclusive, com a tradição.‖

Figura 5 – Imagem registrada pelos alunos da turma na aula de organização do torneio proposto

(34)

33 Após as aulas iniciais foi combinadocom alunos a execução de um mini-torneio de futebol de 3, que envolvesse os possíveis atores do futebol. O mini-torneio possuía apenas uma regra: todos deveriam participar de alguma forma (Figura 6) e, para isso, foram levados tablets, câmera fotográfica, notebook e dividido papeis para que os alunos ocupassem durante os jogos. O objetivo desse torneio era que os alunos vivenciassem experiências corporais, formando e compreendendo os seus próprios significados de movimento, atribuindo a eles a sua subjetividade (GONÇALVES, 2005), estabelecendo relações entre o que foi vivenciado e a realidade da modalidade. Sobre essa alternativa de utilização da mídia, é necessário compreender que ―[...] a inclusão das tecnologias de informação e comunicação nas aulas de Educação Física poderia aproximar este componente curricular do entorno cultural das crianças e adolescentes [...] (ARAÚJO; BATISTA; OLIVEIRA, 2016, p. 8).

Figura 6 – Imagem capturada pelos alunos da responsável pela organização do torneio

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Posterior ao torneio discutiu-se a relação do futebol com a mídia, a partir dos pontos considerados no dia do torneio e das concepções dos alunos em relação ao esporte. A partir desse momento, os participantes pontuaram os espaços e os atores que fazem parte do futebol como espetáculo, dentro deles: jogadores, comissão técnica, arbitragem, narradores, imprensa e torcida. A proposta inicial era que eles experimentassem cada espaço desse e, se possível, tivessem contato com alguém que trabalhasse profissionalmente na área (o que foi possível em um momento apenas).

(35)

34 O primeiro espaço vivenciado foi o da narração,―[...] narrativas são formas inerentes emnosso modo de alcançar conhecimentos que estruturam a experiência do mundo e de nós mesmos.‖ (BROCKMEIER; HARRÉ, 2003, p. 531).Logo em seguida veio a reportagem que tomou um maior tempo, foi dividida em três aulas e, possibilitou o contato dos alunos com membros de uma equipe de futebol feminino do Estado, o Cruzeiro de Macaíba pois, ―Interagindo com o meio, o homem faz uma leitura de mundo, compreende tudo que está ao seu redor, estabelecendo uma relação de criticidade diante das suas ações.‖ (VIEIRA; ABRANCHES, 2016, p.3)

Apesar da proposta inicial abranger o contato com a torcida, a arbitragem e a produção de uma revista digital através da ferramenta Canva, o curto intervalo de tempo de aula e as aulas da segunda-feira contarem com menos da metade da turma presentee durarem apenas 25 minutos, impossibilitaram a sequência da proposta. Mesmo diante dos contratempos, as vivências foram singulares e, a participação da turma cresceu gradualmente, até chegar o dia em que todos os alunos participaram de alguma forma das atividades desenvolvidas.

Em anexo segue os planos de aula propostos a partir da aproximação com a turma. Logo abaixo, os resultados e as considerações por cada momento vivenciado após a reconstrução do planejamento diante da resposta inicial negativa dos alunos.

AULA 1:

A observação da inércia dos alunos nas aulas de Educação Física fez perceber a necessidade de atividades que os movimentassem (Figura 7). A turma se mostrou bastante dividida em grupos específicos e já dava para notar os alunos participantes e os não-participantes. Um ponto importante observado nos contatos anteriores, foi a quantidade de alunos que possuíam e utilizavam o celular durante as aulas. A aproximação da mídia com essa turma parecia funcionar para chamar atenção dos alunos, portanto nesse primeiro momento, a presença da câmera fotográfica fez parte do desenvolvimento. Alguns alunos manusearam o aparelho e registraram seus olhares enquanto as atividades iam sendo desenvolvidas.

Cerca de oitenta por cento da turma participou das atividades e demonstrou satisfação no decorrer da aula, apesar de ainda ter existido resistência por parte de alguns deles. A introdução da temática a ser desenvolvida nas próximas aulas veio no final da aula, em que ficou combinado um torneio que tinha apenas uma regra: todos deveriam participar. Os alunos discutiram o que podiam ser, além de

(36)

35 jogadores, e dividiram em: organização do torneio, arbitragem, jogadores, torcida, criadores de memes, fotógrafos, narradores e câmera-man.

Figura 7 – Imagem capturada pelos alunos na aula dinâmica de aproximação

Fonte: Arquivo pessoal da autora AULA 2:

O início da segunda aula se deu com uma roda inicial (Figura 8) para explicação das regras do torneio, seguindo da inscrição dos alunos e formação das equipes – responsabilidade dos organizadores - além da divisão das outras tarefas (Figura 9) entre a turma. Os estudantes foram bastante participativos durante o torneio. As produções por meio da mídia foram de percepções diversas, desde ângulos diferentes nas fotos, formas de narrar o jogo, criação de memes, percepções corporais no jogo em si e fora dele.O objetivo da aula foi atingido, pois eles conseguiram citar funções que envolvem a prática do futebol que, não obrigatoriamente, estão relacionadas com o jogar o futebol, mas que são importantes para o espetáculo.

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36

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Figura 9 – Imagem capturada pelos alunos em relação aos diferentes papeis desempenhados durante o torneio

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Ao final da aula foi feita uma roda final (Figura 10) pedido aos alunos que descrevessem a experiência em uma palavra e o resultado foi: ―panelinha‖, ―bagunça‖, ―brincadeira‖, ―técnica‖, ―união‖, ―show‖, ―inesquecível‖, ―sensacional‖, ―desestrutura‖, ―experiência‖, ―pressa‖, ―vitória‖, ―legal‖.

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37

Fonte: Arquivo pessoal da autora

AULA 3:

A terceira aula teve uma participação de quase toda a turma do início ao fim e aconteceu dentro da sala. Dentro dos três momentos pensados na parte principal do plano, só deu para realizar dois deles, o que se repetiu em algumas aulas, devido ao curto tempo de aula e a demora para chegada dos alunos.

Durante a aula houve relatos, de algumas alunas, relacionadas a postura do professor em relação às mulheres: ―Ele não deixa a gente jogar futebol porque é feio mulher que joga‖; ―A gente pede a bola e ele não dá‖; ―Ele é machista‖, foram algumas das frases que apareceram durante a conversa.

Uma das atividades propostas buscava descobrir o que era, para os alunos, o futebol (Figura 11) em um primeiro momento e, no segundo, o que era mídia (Figura 12). Em relação ao futebol e, em seguida, sobre a mídia:

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38

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Figura 12 – Imagem digitalizada sobre a percepção dos alunos do que é mídia

Fonte: Arquivo pessoal da autora

AULA 4 e 5:

O desenvolvimento dessa aula foi prejudicado devido ao horário da aula da segunda-feira. Em primeiro lugar tocou apenas 07:25h, quando a aula era para estar começando 07:00h. Em segundo lugar, a aula iniciou com apenas 6 alunos em sala, fato que normalmente acontece nas aulas da segunda. Apesar dos problemas, o restante dos alunos foram chegando aos poucos e participando da aula.

Um ponto interessante observado nas aulas anteriores era a não participação de um grupo de 3 alunas em todas as aulas. Apesar de não participarem (mesmo diante das inúmeras tentativas), sempre observavam as atividades. A adaptação das atividades buscando a participação delas se deu assumindo a atividade junto com a professora. Um pouco mais de atenção e cobrança se mostrou necessário para que elas fizessem parte dos momentos.

Referências

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