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Hintze Ribeiro nas Cortes da Monarquia (1879-1886)

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MESTRADO

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Hintze Ribeiro nas Cortes da Monarquia

(1879–1886)

Fernando Miguel Pereira Maia

M

2019

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Fernando Miguel Pereira Maia

Hintze Ribeiro nas Cortes da Monarquia (1879–1886)

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em História Contemporânea, orientada pelo Professor Doutor Luís Alberto Marques Alves.

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

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Hintze Ribeiro nas Cortes da Monarquia (1879–1886)

Fernando Miguel Pereira Maia

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em História Contemporânea, orientada pelo Professor Doutor Luís Alberto Marques Alves.

Membros do Júri

Professor Doutora Maria da Conceição Meireles Pereira Faculdade de Letras — Universidade do Porto

Professor Doutor Jorge Fernandes Alves Faculdade de Letras — Universidade do Porto

Professor Doutor Luís Alberto Marques Alves Faculdade de Letras — Universidade do Porto

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Sumário

Declaração de honra ... 8 Agradecimentos ... 9 Resumo ... 10 Abstract ... 11 Introdução ... 13 1.Tema ... 13

2. Motivação e pertinência no panorama historiográfico ... 18

3. Hipóteses ... 19

4. Estado da Arte e fontes selecionadas ... 20

5. Metodologia ... 22

6. Justificação da cronologia ... 24

1 – Hintze Ribeiro e a Regeneração, “o nome português do capitalismo”: Melhoramentos materiais, Economia e Finanças ... 26

1.1. Melhoramentos materiais ... 26

1.2. Economia ... 35

1.2.1. Atividades económicas ... 35

1.2.2. Banca e sociedades comerciais ... 48

1.2.3. Tratados comerciais e mercados... 53

1.3. Finanças e Impostos ... 54

1.3.1. Estado da fazenda ... 72

1.3.2. Empréstimos ... 82

1.3.3. Orçamento da Casa Real ... 85

2. – Organização interna do Estado e do Governo ... 87

2.1. Política... 87 2.1.1. Governação... 87 2.1.2. Eleições ... 94 2.1.3. Manutenção da ordem ... 97 2.1.4. Inquéritos ... 98 2.1.5. Partidos políticos ... 99 2.1.6. Tratados internacionais ... 101

(7)

2.1.7. Ultramar ... 101

2.2. Educação ... 103

2.3. Saúde Pública ... 105

2.4. Administração central e local ... 108

2.5. Justiça ... 110

3. – Hintze Ribeiro na perspetiva dos seus contemporâneos ... 111

3.1. Elogios... 111 3.2. Críticas ... 115 Considerações finais ... 122 Fontes e bibliografia ... 127 Fontes ... 127 Eletrónicas ... 127 Impressas ... 127 Corpus Legislativo ... 127 Bibliografia ... 128 Webgrafia ... 130 Anexos... 131

Anexo 1 — Página inicial da Base de Dados ... 132

Anexo 2 — Base de Dados apenas com um tema selecionado ... 133

(8)

Declaração de honra

Declaro que a presente dissertação é de minha autoria e não foi utilizada previamente noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito académico.

Porto, 24 de setembro de 2019

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Agradecimentos

Quero agradecer ao Professor Luís Alberto Marques Alves pela afabilidade, auxílio e disponibilidade que sempre me prestou no decurso da investigação e redação desta dissertação.

Quero agradecer aos meus pais, aos meus irmãos, aos meus familiares e aos meus amigos pelo apoio, ajuda e paciência que tiveram para comigo durante este período.

(10)

Resumo

A presente dissertação pretende estudar o pensamento de Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro no início da sua carreira política (1879–1886) através da análise dos Diários da Câmara dos Deputados e da Câmara dos Pares.

Hintze Ribeiro, um jovem advogado açoriano de Ponta Delgada, iniciou a sua carreira política com a sua estreia como deputado em 1879. Dotado de uma boa argumentação, depressa se destacou com os seus elevados discursos e o seu combate ao governo progressista de Braamcamp. Em 1881, apenas dois anos após a sua estreia na política, tornou-se ministro das obras públicas, comércio e indústria, onde teve responsabilidades nos melhoramentos materiais e nas questões económicas. Em 1883 tornou-se ministro da fazenda, ficando assim responsável pela gestão financeira do país até à queda do último governo de Fontes de Pereira de Melo em 1886. Este trabalho procurou acompanhar as suas intervenções na Câmara dos Deputados e dos Pares, tanto na qualidade de deputado como de responsável político. Elegendo os principais assuntos abordados, a evolução do seu pensamento e a imagem que deixou nos seus contemporâneos.

Palavras-chave: Hintze Ribeiro; Monarquia Constitucional; Câmara dos Deputados; Câmara dos Pares; Regenerador.

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Abstract

This dissertation intends to study the political thoughts of Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro at the beginning of his political career (1879–1886) through the analysis of the Diaries of the Chamber of Deputies and the Chamber of Peers.

Hintze Ribeiro, a young Azorean lawyer from Ponta Delgada, began his political career with his debut as a deputy in 1879. With good rhetoric, he quickly stood out with his high quality speeches and his opposition to the progressive government of Braamcamp. In 1881, just two years after his debut in politics, he became minister of public works, commerce and industry, where he was responsible for infrastructure projects and economic affairs. In 1883 he became finance minister, thus being responsible for the financial management of the country until the fall of the last government of Fontes de Pereira de Melo in 1886. This work has sought to follow his speeches in the Chamber of Deputies and Peers, both as a deputy and as a minister. Choosing the main subjects covered, the evolution of his thinking and the image he left in his contemporaries.

Keywords: Hintze Ribeiro; Constitutional monarchy; Chamber of Deputies; Chamber of Peers; Regenerador.

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Introdução

1.Tema

O nosso objetivo para a dissertação de mestrado foi dar a conhecer o pensamento de Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro no início da sua carreia política através das suas participações nos debates no parlamento da Monarquia Constitucional.

Hintze Ribeiro nasceu em Ponta Delgada a 7 de novembro de 1849. Era filho de Manuel José Ribeiro Magalhães e de D. Emília Carolina Hintze. O seu pai era um homem de negócios oriundo de Guimarães; a sua mãe era de origem germânica. Passou a infância em S. Miguel, onde começou os estudos liceais, mas que acabaria por concluí-los em Coimbra. Em 1867 ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde, passados cinco anos, tonar-se-ia doutor em leis. Durante o tempo em que frequentou a universidade foi considerado um aluno “brilhantíssimo”1. Regressou a Ponta Delgada,

onde abriu banca de advogado. Rapidamente tornou-se um advogado bastante prestigiado e respeitado graças à defesa dos seus clientes no Tribunal de Ponta Delgada2. Foi casado com Joana Rebelo de Chaves (1854–1940), matrimónio do qual não resultou descendência3.

Em outubro de 1877, Hintze Ribeiro estabeleceu-se em Lisboa com o objetivo de se dedicar à advocacia. Filiou-se no Partido Regenerador e em 1878 foi eleito deputado com o apoio de Fontes Pereira de Melo4, que já notava algumas qualidades no jovem açoriano5.

1 FERNANDES, Paulo Jorge — “Hintze Ribeiro e o Liberalismo Conservador (1879–1887)” in. Colóquio

Hintze Ribeiro (1849–1907): da Regeneração ao crepúsculo da Monarquia, 2007 — Hintze Ribeiro (1849–

1907): da Regeneração ao crepúsculo da Monarquia. Presidência do Governo Regional dos Açores

(organização); Universidade dos Açores (colaboração). Angra do Heroísmo: Presidência do Governo Regional dos Açores, 2010. p. 86.

2 Ibidem.

3 MÓNICA, Maria Filomena (coordenação) — Dicionário Biográfico Parlamentar Vol. III (N–Z). Lisboa:

Imprensa de Ciências Sociais, 2006. p. 448.

4 António Maria de Fontes Pereira de Melo (1819–1887) nasceu em Santa Isabel em Lisboa e morreu em

Lisboa. Foi engenheiro no Exército Português, deputado por Cabo Verde, ministro da Marinha e do Ultramar, da Fazenda, das Obras Públicas, Comércio e Indústria, e da Guerra. Foi conselheiro de Estado e par do Reino. Por último, foi chefe de governo por três vezes: 1871–1877; 1878–1879 e 1881–1886. Foi também presidente da Câmara dos Pares.

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Estreou-se a discursar na Câmara dos Deputados com uma defesa notável da sua eleição6. Rapidamente Hintze Ribeiro começou a projeção política dentro do próprio partido, tornando-se um crítico da atuação de António de Serpa Pimental7 na pasta da Fazenda. Durante o primeiro governo progressista, Hintze Ribeiro esteve na linha da frente do combate político ao novo executivo. Juntamente com Lopo Vaz8 e Júlio de Vilhena9,

apresentaram uma moção de censura ao governo que seria aprovada com 75 votos a favor e 29 contra10. Porém, foi na “Salamancada” que Hintze Ribeiro finalmente se destacou: a

grande capacidade intelectual e um discurso implacável garantiram-lhe o título de tribuno sem rival na Câmara11. Não esquecendo as suas raízes açorianas, chamou à atenção para uma reforma da circulação monetária, e também para os problemas económicos e sociais que se faziam sentir no arquipélago12.

No início do seu quinto ano como ministro, a 1 de janeiro de 1886 foi nomeado, por carta régia, par do reino13. Todavia, esta nomeação não foi fácil, chegando mesmo Hintze Ribeiro a ameaçar demitir-se do governo14. Apesar das dificuldades, tanto o rei como os ministros eram favoráveis à sua nomeação como par do reino15. Assim, com apenas 36 anos, tornou-se o único par oriundo da “classe média” a entrar no pariato com idade

6 PATRÍCIO, Francisco José — Rursum vivant: elogio fúnebre do conselheiro Ernesto Rodolpho Hintze

Ribeiro. Porto: Typ. A Vapor de Arthur José de Sousa & Irmão, 1907. p. 17.

7 António de Serpa Pimentel (1825–1900) nasceu em Coimbra e morreu em Lisboa. Além da carreira

militar, doutorou-se em Matemática, foi deputado, ministro da Obras Públicas, ministro da Guerra, ministro da Fazenda, ministro dos Negócios Estrangeiros. Foi ainda conselheiro de Estado e chefe de governo após o Ultimato Britânico. Liderou os regeneradores após a morte de Fontes Pereira de Melo.

8 Lopo Vaz de Sampaio e Melo (1848–1892) nasceu em Sabrosa, Gouvinhas e morreu em Lisboa. Foi

licenciado em direito, deputado, ministro da Fazenda, ministro da Justiça, ministro do Reino e ministro da Instrução Pública e Belas Artes. Foi também par do Reino.

9 Júlio Marques de Vilhena (1845–1928) foi um jurista, intelectual, magistrado e político português. Entre

os cargos que ocupou, destacam-se o de deputado, par do reino, ministro e governador do Banco de Portugal.

10 FERNANDES, Paulo Jorge, op. cit. p. 87.

11 BARREIROS, Maximiano — Non moriar, sed vivam. Porto: Typ. a vapor da Empreza Guedes, 1907. p.

24.

12 MÓNICA, Maria Filomena (coordenação) — Dicionário Biográfico Parlamentar Vol. III (N–Z), p. 450. 13 FERNANDES, Paulo Jorge, op. cit. p. 99.

14 Arquivo Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro: reflexões sobre o tratamento arquivístico em curso. Ponta

Delgada: Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, 2010. p. 31.

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inferior a 40 anos16. Nesta câmara, seria um enérgico opositor do Partido Progressista17. Hintze Ribeiro foi bastante ativo e influente tanto na Câmara dos Pares como na Câmara dos Deputados. Como disse Júlio Vilhena: “tinha grande prazer em fazer discursos […]. Pode dizer-se que vivia no Parlamento, sempre pronto a disparar a palavra sobre o seu adversário18. Depressa se tornou reconhecido pela qualidade da sua argumentação e das

suas intervenções19. O escritor Fialho de Almeida20, num artigo que escreveu a propósito

do infante D. Afonso tomar assento na Câmara dos Pares, disse que Hintze Ribeiro era um dos cultores da “tradição da oratória estilo D. João V”21.

Hintze Ribeiro ocupou as posições mais importantes do regime monárquico: deputado (1879–1881); ministro das obras públicas, comércio e indústria (1881–1883); ministro dos negócios estrageiros (1881; 1883; 1890)22; ministro da fazenda (1883–1886; par do reino (1886–1907); conselheiro de Estado (1891–1907); por fim, foi três vezes presidente do conselho de ministros (1893–1897; 1900–1904; 1906)23; enquanto chefiou o governo, acumulou a pasta da fazenda (1893–1897); a pasta dos negócios estrageiros por três vezes (1893; 1894; 1895); e foi responsável pelo ministério do reino (1900–1904; 1906)24. Podemos também referir que enquanto foi deputado, Hintze Ribeiro participou em quatro comissões parlamentares: Fazenda (1879), Resposta ao Discurso da Coroa (1879–1881), Negócios Eclesiásticos (1880–1881) e Verificação de Poderes (1879–1880 onde foi

16 ALMEIDA, Pedro Tavares — A construção do estado liberal. Elite política e burocracia na

"Regeneração" (1851–1890). Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de

Lisboa. 1995. Dissertação de doutoramento. p. 120.

17 FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES. Arquivo e Biblioteca. Bibliografias — Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro

(1849–1907) [Em linha]. Lisboa. [Consult. 28 jun. 2017]. Disponível em WWW: <URL:

http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/biografias?registo=Hintze%20Ribeiro>.

18 MÓNICA, Maria Filomena (coordenação) — Dicionário Biográfico Parlamentar Vol. III (N–Z), p. 450 19 FERNANDES, Paulo Jorge, op. cit. p. 85.

20José Valentim Fialho de Almeida (1857–1911) nasceu na Vidigueira, Vila de Frades e morreu em Cuba,

Beja. Foi jornalista, escritor e tradutor.

21 Cit. por BELO, Alberto José Grilo — A Câmara dos Pares na Época das Grandes Reformas Políticas

(1870–1895). Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 2012. Tese de doutoramento. p. 269

22 Em 1881 e 1883, Hintze Ribeiro teve esta pasta interinamente.

23 MÓNICA, Maria Filomena (coordenação) — Dicionário Biográfico Parlamentar Vol. III (N–Z), p. 448–

449.

24 JOSÉ ADELINO MALTEZ. Reportório Português de Ciência Política — Políticos Portugueses da

Monarquia Constitucional (1820–1910) Letra R. [Em linha] [Consul. 10 ago. 2019]. Disponível em

(16)

secretário)25. Durante o período em que foi par do reino, Hintze Ribeiro fez parte de várias comissões parlamentares: Obras Públicas (1886–1887; 1891), Fazenda (1887; 1890– 1891; 1900; 1904–1905; 1906–1907), Verificação de Poderes (1888), Negócios Externos (1891; 1897), Ultramar (1897–1900), Paz e Arbitragem (1898–1899), Instrução Pública (1900; 1904–1905), Resposta ao Discurso da Coroa (1899; 1900; 1905; 1906), Legislação (1904–1905), Administração Pública (1898–1899; 1904–1905; 1906–1907)26. Em 1892

participou numa comissão que tinha como objetivo reformular o Regimento da Câmara dos Pares27.

Foi no período em que foi ministro no governo de Fontes Pereira de Melo (1881– 1886), que Hintze Ribeiro começou a ser apontado como o “herdeiro presuntivo da coroa do sr. Fontes”:

Começou até a imitar o «patrão» quando discursavam metendo a mão direita entre os botões da casaca. Tinha a aparência certa para o cargo. Alto, de ampla testa, míope, era a gravidade personificada. Parecia “ter nascido de sobrecasaca”. Trazia sempre um ar ocupado, com a pasta debaixo do braço. Mesmo em conversas privadas, falava no tom solene em que fazia discursos. Não sabia “contar uma anedota”. Faltava-lhe, segundo os contemporâneos, a “astúcia” de Lopo Vaz. Mas era inexcedível a expor um problema, muito metódico e claro28.

Para além destes cargos, Hintze Ribeiro liderou um dos principais partidos da Monarquia Constitucional — o Partido Regenerador. Com a morte de Fontes Pereira de Melo em 1887, Hintze Ribeiro tornou-se um dos pretendentes à liderança do partido, que só a conquistou definitivamente depois da morte de António de Serpa Pimentel em

25 MÓNICA, Maria Filomena (coordenação) — Dicionário Biográfico Parlamentar Vol. III (N–Z), p. 450. 26 MÓNICA, Maria Filomena (coordenação) — Dicionário Biográfico Parlamentar Vol. III (N–Z), p. 450. 27 SOUSA, Fernando de; PEREIRA, Conceição Meireles (coordenação) — Os presidentes do Parlamento

português — Vol. 1 — Monarquia Constitucional (1820–1910) — Tomo I. Lisboa: Assembleia da República

— Divisão de Edições, 2016. p. 51.

28 RAMOS, Rui — D. Carlos: 1863–1908. Mem Martins: Círculo de Leitores, 2006. (Reis de Portugal), p.

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190029, mas até lá, sempre foi um dos favoritos à chefia, suponha-se até que o rei D. Luís via com bons olhos Hintze Ribeiro liderar o partido30. Acabaria por chefiar os regeneradores até à sua morte, em 1907. Hintze Ribeiro era chamado de “o casaca de ferro” e de “delicadíssimo” por “não ser capaz de dizer não a ninguém”31.

Depois de se demitir de Presidente do Conselho de Ministros em 1906 após um curto governo de 59 dias, Hintze Ribeiro abandonou a vida política ativa. Depois de uma viagem pelo estrangeiro, voltou a participar em alguns debates parlamentares onde criticou o governo de João Franco32. Nos anos finais da Monarquia Constitucional, e já

durante o governo de João Franco, alertou os pares para o perigoso momento que o regime atravessava e aconselhou-os a estarem atentos se queriam que a Monarquia continuasse33. Leal ao seu partido e ao regime monárquico, durante a sua vida foi agraciado com bastantes decorações, destacando-se a “Ordem do Tosão de Ouro que lhe dava honras de príncipe”34. Hintze Ribeiro era “um dos pouquíssimos amigos com quem podia contar o

monarca [D. Carlos]”. Acabou mesmo por se tornar o único político a “despertar a estima” do rei pela “sua lealdade” 35.

Com a saúde debilitada36, acabaria por falecer com 58 anos a 1 de agosto de 1907, vítima de um ataque de insolação quando assistia ao funeral do seu amigo Conde Casal

29 RAMOS, Rui — “João Franco: uma educação liberal (1884–1897)”. Análise Social. Lisboa. 36:160

(2001), 735-766. p. 765.

30 RAMOS, Rui — D. Carlos: 1863–1908. Mem Martins: Círculo de Leitores, 2006. (Reis de Portugal), p.

134.

31 JOSÉ ADELINO MALTEZ. Reportório Português de Ciência Política — Políticos Portugueses da

Monarquia Constitucional (1820–1910) Letra R. [Em linha] [Consul. 18 abr. 2018]. Disponível em

WWW:< http://maltez.info/respublica/classe_politica/monarcon/monarconr.html>.

32 FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES. Arquivo e Biblioteca. Bibliografias — Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro

(1849–1907) [Em linha]. Lisboa. [Consult. 28 jun. 2017]. Disponível em WWW: <URL:

http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/biografias?registo=Hintze%20Ribeiro>; João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco (1855–1929) nasceu em Alcaide, Fundão e morreu em Lisboa. Formado em Direito, foi deputado, ministro da Fazenda, ministro das Obras Públicas, ministro da Instrução Pública e Belas Artes e ministro do Reino. Foi ainda conselheiro de Estado e chefe de governo. Liderou uma cisão no Partido Regenerador e fundou o seu próprio partido, o Regenerador-Liberal.

33 BARREIROS, Maximiliano, op. cit., p. 27.

34 PERES, Damião; CERDEIRA, Eleutério (direção) — História de Portugal, vol. 7. Barcelos:

Portucalense Editora, 1928–1937 p. 443.

35 Cit. por RAMOS, Rui — D. Carlos: 1863–1908, p. 135.

36 SOUSA, Fernando de; PEREIRA, Conceição Meireles (coordenação) — Os presidentes do Parlamento

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Ribeiro37.

2. Motivação e pertinência no panorama historiográfico

Como foi referido anteriormente, Hintze Ribeiro foi uma figura incontornável nos últimos trinta anos do regime monárquico: ocupou praticamente todos os cargos importantes, desde deputado até chegar a Presidente do Conselho de Ministros; foi ainda vogal do Supremo Tribunal Administrativo e governador da Companhia Geral do Crédito Predial Português38. A motivação para escolher o pensamento de Hintze Ribeiro como objeto de estudo para esta dissertação é uma escolha pessoal: o meu interesse pela Monarquia Constitucional e seus principais protagonistas. Humildemente, é nosso objetivo dar a conhecer ao público o pensamento político e económico de Hintze Ribeiro através da sua participação nos debates das Cortes.

Sendo Hintze Ribeiro uma das principais figuras da época final da Monarquia Constitucional, só por si é de todo o interesse conhecer um pouco mais sobre ele e as suas ações no espaço e tempo em que viveu. Quando o assunto “Hintze Ribeiro” é trazido ao debate público, imediatamente se associa, em primeiro lugar, ao governo “Hintze-Franco” de 1893–1897; e em segundo lugar ao que João Franco apelidou de “Rotativismo”. Ou seja, na historiografia Hintze Ribeiro é conhecido sobretudo por ter sido três vezes chefe de governo. No entanto, podemos encontrar na historiografia nacional trabalhos sobre Hintze Ribeiro que não se centram na ação governativa, mas nenhum deles aprofundou a sua participação nas Cortes. Só há uma pequena referência de como era Hintze Ribeiro nas Cortes e o que ele fez por lá. Mesmo a historiografia que o refere como um parlamentar notável, não aprofunda muito mais a questão, o que também é compreensível, visto que não eram propriamente os seus objetivos.

É por todas estas razões que, humildemente, acreditamos que é da máxima relevância contribuir para a historiografia do período em causa e para uma nova visão sobre o

37 PERES, Damião; CERDEIRA, Eleutério (direção), op. cit. p. 443; José Frederico do Casal Ribeiro, 2.º

Conde de Casal Ribeiro (1851–1907). Formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Foi par do Reino.

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pensamento de Hintze Ribeiro através das suas intervenções no Parlamento.

3. Hipóteses

Como já referimos anteriormente, Hintze Ribeiro passou pelas duas câmaras do Parlamento da Monarquia Constitucional — a Câmara dos Deputados e a Câmara dos Pares. Primeiro como deputado governamental (1879); com o governo progressista passa para a oposição (1879–1881); e por fim, quando os regeneradores regressam ao governo torna-se ministro das obras públicas, comércio e indústria (1881–1883); é responsável interinamente pelos negócios estrangeiros duas vezes (1881 e 1883); e depois assume o ministério da fazenda (1883–1886). No início de 1886 Hintze Ribeiro torna-se par do reino.

Hintze Ribeiro foi um parlamentar bastante ativo e influente no Parlamento39.

Enquanto fez parte da oposição na Câmara dos Deputados, por mais que uma vez fez duras críticas ao governo progressista. Sendo natural dos Açores, também defendeu os interesses da sua terra40. Depois, na Câmara dos Pares, além de ter integrado várias

comissões parlamentares, fez importantes discursos sobre os caminhos-de-ferro, fazenda pública, Código Comercial e também sobre a governação do Partido Progressista.

Em síntese, as nossas questões de investigação são as seguintes:

I) Qual o pensamento de Hintze Ribeiro sobre as questões económico-financeiras do seu tempo?

II) Que pensa sobre as questões políticas e sociais, em particular de Portugal? III) Como é visto Hintze Ribeiro pelos seus contemporâneos?

O ponto I corresponde ao primeiro capítulo da nossa dissertação. Aqui pretendemos analisar e mostrar como o pensamento de Hintze Ribeiro nestas questões evoluiu ao longo do período que nos comprometemos a estudar — desde os seus primeiros passos como deputado até chegar a ministro. Estudaremos o seu pensamento em relação às atividades económicas, às questões da fazenda e aos melhoramentos materiais.

39 MÓNICA, Maria Filomena (coordenação) — Dicionário Biográfico Parlamentar Vol. III (N–Z), p. 450. 40

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O ponto II corresponde ao segundo capítulo desta dissertação. Aqui será o lugar onde analisaremos como evoluiu o pensamento de Hintze Ribeiro em relação a questões relacionadas com a política, com o ultramar, com a educação, com a saúde pública, com a administração central e local, e por fim, com a justiça.

Por último, o ponto III corresponde ao terceiro capítulo da dissertação. É lá que mostraremos como Hintze Ribeiro era visto pelos seus contemporâneos. Apresentaremos as opiniões favoráveis que tinham sobre ele, mas também as críticas que lhe fizeram enquanto ele foi deputado e depois quando foi ministro.

4. Estado da Arte e fontes selecionadas

A historiografia sobre Hintze Ribeiro não é muito longa. É certo que, dada a dimensão e o protagonismo que teve durante os últimos vinte anos do regime monárquico, é um nome obrigatório nas histórias gerais contemporâneas portuguesas. Dito isto, as principais obras que dão maior destaque a Hintze Ribeiro são o Dicionário Biográfico Parlamentar Vol. III (N–Z) coordenado por Maria Filomena Mónica41; e o Hintze Ribeiro (1849–

1907): da regeneração ao crepúsculo da Monarquia do Colóquio Hintze Ribeiro (1849– 1907) organizado pela Presidência do Governo Regional dos Açores42.

A primeira obra dá-nos uma visão geral de Hintze Ribeiro sobretudo a partir do momento em que entra na política. Desde os primórdios na Câmara dos Deputados, passando pela Câmara dos Pares, mas também da sua carreira como governante. Apresenta-nos detalhadamente os marcos mais importantes da sua atividade política. Quanto à segunda obra, que tinha Hintze Ribeiro como objeto de estudo, estamos perante uma obra que aborda várias questões que se passaram ao longo da vida de Hintze Ribeiro. Podemos destacar a comunicação de Paulo Jorge Fernandes intitulada “Hintze Ribeiro e

41 MÓNICA, Maria Filomena (coordenação) — Dicionário Biográfico Parlamentar Vol. III (N–Z). Lisboa:

Imprensa de Ciências Sociais, 2006.

42 COLÓQUIO HINTZE RIBEIRO (1849–1907): DA REGENERAÇÃO AO CREPÚSCULO DA

MONARQUIA. 2007 — Hintze Ribeiro (1849-1907): da Regeneração ao crepúsculo da Monarquia:

actas. Colab. Universidade dos Açores. Angra do Heroísmo: Presidência do Governo Regional dos Açores,

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o Liberalismo Conservador (1879–1887)”43, onde são tratados os oito primeiros anos da carreira da carreira política de Hintze Ribeiro, desde a sua eleição como deputado, passando pela sua atuação como ministro até à morte de Fontes Pereira de Melo, a orfandade do Partido Regenerador e sua sucessão na liderança dos regeneradores.

As fontes selecionadas para esta dissertação teriam que passar obrigatoriamente pela leitura dos Diários da Câmara dos Senhores Deputados da Nação Portugueza (daqui para a frente referidos como Diários da Câmara dos Deputados), e dos Diários da Câmara dos Dignos Pares do Reino (daqui para a frente referidos como Diários da Câmara dos Pares). Para o Diário da Câmara dos Deputados escolhemos o período que vai de 1879 a 1886 — desde que Hintze fez o juramento depois de ter sido eleito até a deixar de ser ministro. Convém relembrar que Hintze Ribeiro ao ser nomeado par do reino perdeu o lugar de deputado, já que a Carta Constitucional de 1826 previa que nenhum par podia ser deputado, nem vice-versa. Para a Câmara dos Pares escolhemos o período entre 1881 e 1886 — quando Hintze torna-se ministro das obras públicas e passa a ter intervenções na câmara alta, até Hintze deixar de ser ministro (nesta altura, da fazenda).

Como o nosso objeto de estudo é o pensamento de Hintze Ribeiro através das suas participações no Parlamento, naturalmente que a escolha mais indicada que selecionamos para o corpus documental teriam que ser os Diários da Câmara dos Deputados e os Diários da Câmara dos Pares. São nesses documentos que estão descritas as atas das sessões das câmaras, e onde podemos analisar o discurso de que cada deputado ou par. Dessa forma, ao analisar os vários diários, podemos analisar as participações de Hintze Ribeiro.

A obra Arquivo Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro: reflexões sobre o tratamento arquivístico em curso, dá-nos informações sobre o tratamento do Arquivo Ernesto Hintze Ribeiro (AERHR); mas também inclui correspondência de várias personalidades ilustres com Hintze Ribeiro44. Aqui foi possível observar através da correspondência entre Fontes

43 FERNANDES, Paulo Jorge — Hintze Ribeiro e o Liberalismo Conservador (1879–1887) in. Colóquio

Hintze Ribeiro (1849̵–1907): da Regeneração ao crepúsculo da Monarquia. 2007 — Hintze Ribeiro (1849–

1907): da Regeneração ao crepúsculo da Monarquia. Presidência do Governo Regional dos Açores (org.);

Universidade dos Açores (colaboração). Angra do Heroísmo: Presidência do Governo Regional dos Açores, 2010.

44 Arquivo Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro: reflexões sobre o tratamento arquivístico em curso. Ponta

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Pereira de Melo e Hintze Ribeiro, as dificuldades na nomeação de Hintze Ribeiro como par do reino.

Não menos importante, existem dois elogios fúnebres a Hintze Ribeiro: Non moriar sed vivam de Maximiliano Barreiros45; e Rursum vivant: elogio fúnebre do conselheiro Ernesto Rodolpho Hintze Ribeiro de Francisco José Patrício46. Ambos destacam as suas

qualidades como parlamentar e também como governante.

5. Metodologia

A metodologia utilizada para fazer esta dissertação foi a análise dos Diários da Câmara dos Deputados e da Câmara dos Pares. A partir da leitura construímos uma base de dados utilizando o programa informático Microsoft Excel47. À medida que fomos progredindo na análise, conseguimos dividir as intervenções por diversos temas. Mas isso não se afigurou suficiente: é que apesar de termos conteúdo que poderia pertencer a um determinado tema, por vezes esse conteúdo pertencia a diferentes contextos. Desta forma, tivemos de adicionar à base de dados a entrada “Categoria”. E qual era a sua função? A sua função era responder à dificuldade de separar dentro do mesmo tema, o contexto em que a intervenção de Hintze Ribeiro tivera lugar. Por exemplo, para o tema “Finanças”, poderíamos ter vários contextos, tais como: “Discursos; Votações na câmara” e “Respostas” (neste caso, quando ele já era ministro). Mas à medida que fomos acumulando cada vez mais informação, e em que na base de dados os campos “Tema” e “Categoria” não eram suficientes para ordenar a informação e facilitar o acesso à mesma, tivemos que introduzir um campo novo chamado “Subtema”. Este “subtema”, como o nome indica, serviu para dentro de um tema, ordenar a informação nos vários subtemas. Por exemplo: para o tema “Melhoramentos materiais”, tivemos vários subtemas, como “Porto de Leixões” ou “Salamancada”, entre outros.

45 Barreiros, Maximiano — Non moriar, sed vivam. Porto: Typ. a vapor da Empreza Guedes, 1907. 46 Patrício, Francisco José — Rursum vivant: elogio fúnebre do conselheiro Ernesto Rodolpho Hintze

Ribeiro. Porto: Typ. A Vapor de Arthur José de Sousa & Irmão, 1907.

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Para além destes campos de introdução de dados, ainda tivemos outros campos para melhor organizar a informação: a data, número e página que serviram para identificar o dia, o número, e a página onde está localizada a intervenção de Hintze Ribeiro. Depois tivemos uma entrada designada por “Texto” que foi onde transcrevemos o texto diretamente dos diários das câmaras. Como complemento a esta entrada, tivemos outra designada por “Resumo” que, tal como o nome indica, serviu como uma síntese do texto transcrito. E por fim, a partir do momento em que Hintze Ribeiro é nomeado ministro, tivemos que adicionar mais dois campos: um para a posição de Hintze Ribeiro — se ele era deputado ou ministro. E outro, mais importante, que é o da localização da intervenção: se o discurso foi feito na Câmara dos Deputados ou na dos Pares.

Para que as entradas da base funcionassem e desse para selecionar informação, tivemos que utilizar a funcionalidade “formatar como tabela”, onde as entradas da base de dados passaram a cabeçalhos da tabela. Por fim, a base de dados está separada por anos. Utilizamos a funcionalidade dos livros do próprio Microsoft Excel, assim, cada livro correspondia a um ano.

Estando esta dissertação próxima do género biográfico, não seguimos o modus operandi das biografias tradicionais, que oscilavam entre o elogio e a denigração do indivíduo, já que as biografias atuais não podem “mitificar” o indivíduo, que é neste caso uma figura ilustre48. Desta forma, esta dissertação aproxima-se da terceira categoria de biografias definida por François Dosse49 — “idade hermenêutica” — que é a que está mais próxima nos dias de hoje da perspetiva sobre o lugar da biografia na investigação histórica. Nesta categoria, o objetivo é reescrever uma vida, reinterpretar o sentido da existência, tendo a noção que ela tem vários sentidos que lhe são atribuídos pelo biografado, pelos que com ele conviveram e por todos aqueles que pretendem conhecer essa vida. Existe a necessidade de não deixar escapar nenhum pormenor, por mais

48 PINTASSILGO, Joaquim; TEIXEIRA, Anabela — Novos olhares sobre as abordagens biográficas:

balanço de produção portuguesa (2005–2014). In. ALVES, Luís Alberto Marques; PINTASSILGO, Joaquim (coordenação) — História da Educação. Fundamentos Teóricos e Metodologias de Pesquisa:

Balanço da Investigação Portuguesa (2005–2014). Porto: CITCEM, 2015, p. 59.

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insignificante que possa parecer. A biografia tem obrigatoriamente de incluir os grupos de pertença e as relações pessoais e de sociabilidade do indivíduo50.

Contudo, temos que ter em atenção para o perigo de “ilusão biográfica”, como alertava Pierre Bourdieu num artigo de 198651. Pierre Bourdieu defende que a compreensão da vida como uma série de acontecimentos sequenciados, associados apenas a um indivíduo era “tão absurdo quanto tentar explicar a razão de um trajeto de um metro sem levar em conta a estrutura da rede”52. Assim, os acontecimentos de um indivíduo não

são mais que “colocações e deslocamentos no espaço social”.53 Não se pode compreender

o percurso de vida de um indivíduo, sem que conheçamos o meio social onde ele se desenrolou, mas também as relações do indivíduo com outros atores que fazem parte desse mesmo meio social. Ou seja, é imperativo que se recrie o contexto em que o indivíduo atua54.

6. Justificação da cronologia

A delimitação temporal estabelecida para a nossa dissertação compreende o intervalo entre 1879 e 1886. A razão da escolha destes dois marcos cronológicos justifica-se na medida em que o primeiro é quando Hintze Ribeiro torna-se deputado55 e o segundo é quando ele deixa de ser ministro (20 de fevereiro de 1886). Como nos propusemos a estudar o pensamento através das suas intervenções no Parlamento, a primeira data parece-nos natural, já que é quando ele inicia a sua atividade no Parlamento. Decidimos continuar sem interrupções até 1886, porque depois de ser deputado governamental e deputado da oposição (onde foi crítico do governo de Braamcamp), Hintze Ribeiro viria a ocupar dois cargos importantes nos anos finais da Regeneração: primeiro foi ministro das obras públicas e depois foi ministro da fazenda. É nestes anos que Hintze Ribeiro tem

50 PINTASSILGO, Joaquim; TEIXEIRA, Anabela, op. cit., p. 63–64.

51 BOURDIEU, Pierre — A ilusão biográfica; traduzido por Luís Alberto Monjardim [et. al] In.

FERREIRA, Marieta de Morais; AMADO, Janaína — Usos e abusos da história oral. 8ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2006.

52 BOURDIEU, Pierre, op. cit., p. 189. 53 BOURDIEU, Pierre, op. cit., p. 190. 54 BOURDIEU, Pierre, op. cit., p. 190.

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grandes responsabilidades, apesar da sua curtíssima carreira na política. Por isso achámos que devíamos continuar a analisar o seu pensamento e as suas ações até ele sair do governo em fevereiro de 1886.

Tendo em consideração que Hintze Ribeiro ainda vai desempenhar um papel importante nas últimas duas décadas da Monarquia Constitucional, sugerimos como proposta de investigação futura, a análise do pensamento político, económico e social nas duas décadas seguintes para se poder fazer uma comparação com os resultados obtidos na nossa dissertação. Seria de todo interessante compreender como as ideias de um dos políticos mais importantes do final do regime monárquico evoluíram ao longo da sua carreira política.

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1 – Hintze Ribeiro e a Regeneração, “o nome português do

capitalismo”

56

: Melhoramentos materiais, Economia e

Finanças

1.1. Melhoramentos materiais

O pensamento de Hintze Ribeiro em relação aos melhoramentos materiais manteve-se constante para o período que estamos a analisar. Os melhoramentos materiais, apesar dos custos que implicavam, serviam para impulsionar a economia e desenvolver o país, como podemos observar nesta afirmação de Hintze Ribeiro:

As estradas, os caminhos-de-ferro e outras obras públicas, quando realizados em condições vantajosas, não podem ser um argumento contra o equilíbrio das finanças. Para extinguir o défice não bastava criar receita orçamental; era necessário criá-la também para o país, desenvolvendo as suas forças produtivas57.

A construção de portos artificiais levaria ao desenvolvimento do comércio, o que por sua vez criaria as condições ideais para que a agricultura e indústria florescessem e, dessa forma, permitiria criar postos de trabalho que abrandariam a emigração. Estas foram as razões que Hintze Ribeiro e alguns dos seus colegas argumentaram quando propuseram a construção de um porto artificial na ilha das Flores nos inícios de 187958.

Como ministro das obras públicas, a sua opinião sobre os portos manteve-se. Hintze Ribeiro foi favorável à construção do porto de Leixões em vez de melhoramentos na barra do Douro59. Na sua opinião, a questão do porto de Leixões era de todo o interesse do país.

56 Cit. por CABRAL, Manuel Villaverde — “Sobre o século XIX português: a transição para o capitalismo”.

Análise Social. Lisboa 12:45 (1976), 106–126, p. 113.

57 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 11 de abril de 1882, p. 337. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

58 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 4 de fevereiro de 1879, p. 307–309. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

59 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 24 de fevereiro de 1882, p. 162–163. Disponível on-line em

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Além de beneficiar o comércio e a agricultura, também ia aumentar o fluxo das comunicações dentro do país60. Mas o porto de Leixões serviria propósitos internacionais: com a extensão da linha de caminho-de-ferro do Douro de Vilar de Formoso a Salamanca, o porto de Leixões ia também servir a rede geral do caminhos-de-ferro de Espanha61, já que a nova linha pretendia desviar o movimento mercantil e económico da província de Salamanca para Portugal e animar e dar movimento aos portos portugueses62. Hintze

Ribeiro considerou o projeto do porto de Leixões um dos mais importantes da sua pasta63

e que satisfazia uma necessidade que era “dar largas a um comércio importante como era o da cidade do Porto”64.

Além de se construírem novas infraestruturas, era necessário assegurar a integridade das antigas, o que implicava fazer reparações, como no caso do porto de Lisboa. Este porto precisava de melhoramentos para “facilitar as transações comerciais e atrair a navegação”65, mas também para que os navios não o evitassem66. E para que os navios

viessem aos portos portugueses, era necessário ter uma rede de faróis para garantir a segurança das embarcações na aproximação aos portos nacionais. Logo no início do seu mandato como deputado em 1879, foi coautor de um projeto de lei que tinha como objetivo construir seis faróis nos Açores. Para se justificar a construção de tal obra, argumentaram que a posição geográfica estratégica dos Açores traria vantagens que para a navegação67. Mais tarde, e já como responsável pela pasta das obras públicas, em 1883 propôs uma lei que autorizava o governo a executar as obras e melhoramentos para alumiamento e balizagem dos portos e costas marítimas do continente e das ilhas

60 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 9 de maio de 1883, p. 1471–1472. Disponível on-line em

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61 Ibidem.

62 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 19 de julho de 1882, p. 2233. Disponível on-line em

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63 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 6 de junho de 1883, p. 463. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

64 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 9 de maio de 1883, p. 1475. Disponível on-line em

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65 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 10 de março de 1883, p. 171. Disponível on-line em

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66 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 15 de junho de 1883, p. 540. Disponível on-line em

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67 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 4 de fevereiro de 1879, p. 306–307. Disponível on-line em

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adjacentes68. A iluminação do litoral era essencial porque tornaria a navegação mais segura, evitando, assim, problemas graves69.

Mas os melhoramentos materiais não eram só os portos. Hintze Ribeiro procurou melhorar o serviço telégrafo-postal70 para que as necessidades do país fossem satisfeitas e para que a “comunicação do pensamento” se fizesse com “máxima rapidez”71. Outro

melhoramento material que era sinónimo de “comunicação” e “rapidez” eram os caminhos-de-ferro, que foram um dos pilares do desenvolvimento económico do Portugal oitocentista. Hintze Ribeiro acreditava que o país prosperaria desde que fosse dotado com caminhos-de-ferro72. Contudo, não achou que era preciso um plano geral para os caminhos-de-ferro: por um lado, argumentou que esses planos não eram exequíveis porque os caminhos-de-ferro eram construídos conforme as condições o permitiam; por outro lado, rapidamente um plano tornava-se um projeto sem aplicação prática73. A construção dos caminhos-de-ferro eram melhoramentos benéficos para o país por causa dos retornos económicos que estes investimentos trariam74. Os caminhos-de-ferro desenvolveriam o tráfego e o movimento e, dessa forma, facilitariam as comunicações tanto dentro do país como para o estrangeiro75. Assim, o resultado seria o aumento da riqueza pública e, como consequência, o Estado saía beneficiado76.

O Estado financiava os melhoramentos materiais e, como no caso do porto de Leixões, por exemplo, aplicava um imposto ad valorem. O aumento comercial e industrial trazido

68 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 15 de janeiro de 1883, p. 47. Disponível on-line em

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69 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 10 de fevereiro de 1883, p. 293. Disponível on-line em

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70 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 18 de abril de 1882, p. 412. Disponível on-line em

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71 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 6 de junho de 1883, p. 462. Disponível on-line em

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72 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 30 de janeiro de 1883, p. 205. Disponível on-line em

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73 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 12 de fevereiro de 1883, p. 315. Disponível on-line em

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74 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 20 de fevereiro de 1883, p. 103. Disponível on-line em

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75 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 21 de fevereiro de 1883, p. 111. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

76 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 20 de fevereiro de 1883, p. 103. Disponível on-line em

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pelo porto compensaria o imposto. O imposto era dirigido ao comércio e à indústria, mas também eram eles os beneficiados pela construção do porto77. Hintze Ribeiro afirmou que os melhoramentos materiais, quando realizados em “condições vantajosas” para o Estado, não podiam ser um argumento contra o equilíbrio financeiro. A extinção do défice não se fazia só com a criação de “receita orçamental”: era preciso criá-la também para o país, e que, dessa forma, levava ao desenvolvimento das suas forças produtivas78. No caso dos

caminhos-de-ferro, não se devia deixar de construir linhas férreas por causa do prejuízo; o Estado recuperaria sempre o dinheiro investido através do desenvolvimento dos rendimentos do país, já que iriam aumentar as receitas do Tesouro79.

Quanto a quem devia construir os caminhos-de-ferro, Hintze Ribeiro não se opunha à construção ser por conta do Estado; contudo, idealmente devia-se relegar para as empresas particulares a construção destes melhoramentos80. Notou que os caminhos-de-ferro feitos pelo Estado acabavam por ser mais caros que os construídos pelos particulares. Mas a par da construção, a exploração dos caminhos-de-ferro feita por empresas particulares era mais económica do que a realizada pelo Estado81, o que levou Hintze Ribeiro a considerar que “em geral o Estado é mau administrador no que toca à exploração dos caminhos-de-ferro”. Só quando nenhuma empresa mostrava interesse na construção dos caminhos-de-ferro é que o Estado devia avançar por sua conta82.

Como deputado da oposição, criticou a concessão que o governo progressista fez do caminho-de-ferro de Torres Vedras. Acusou o governo de ter feito a concessão “pela calada” à Companhia de Norte e Leste83. Criticou o ministro por não ter aberto um

concurso para a concessão e por considerar que o governo estava de “pés atados à

77 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 9 de maio de 1883, p. 1474–1475. Disponível on-line em

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78 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 11 de abril de 1882, p. 337. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

79 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 13 de fevereiro de 1883, p. 338. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

80 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 30 de janeiro de 1883, p. 205. Disponível on-line em

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81 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 21 de fevereiro de 1883, p. 112. Disponível on-line em

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82 Ibidem.

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discrição da companhia”84. Mas também notou que a proposta para a concessão

contradizia os relatórios da comissão de obras públicas, da comissão de fazenda e do próprio governo85. Afirmou que se o governo tivesse mais em conta os interesses do país teria feito um concurso para a concessão do caminho-de-ferro86. Em 1882, já como ministro das obras públicas, aceitou uma proposta da Companhia para a construção desse caminho-de-ferro87. Mas tal como Saraiva de Carvalho88, seu antecessor, Hintze Ribeiro

não abriu concurso para a concessão. A sua justificação foi que era preferível ter uma concessão sem encargos e para isso aceitou um compromisso para o prolongamento da linha de Torres Vedras a S. Martinho do Porto. Esta opção, segundo ele, era mais adequada aos interesses do Estado e dos povos daquelas regiões89. Hintze Ribeiro disse que não podia recusar uma proposta que garantia a construção gratuita desse caminho-de-ferro, o que não aconteceria se se tivesse aberto um concurso90.

Hintze Ribeiro teve um papel importante na construção do caminho-de-ferro para Salamanca, construção que ficou conhecida por “Salamancada”91. Na sua opinião, esta

linha era a que mais interessava ao país92 e, como a linha do Douro era uma das principais em Portugal, o seu prolongamento não podia terminar na fronteira93. Além disso, este

84 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 23 de abril de 1880, p. 1578–1580. Disponível on-line em

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85 Idem, p. 1581. 86 Idem, p. 1659–1660.

87 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 11 de março de 1882, p. 686–687. Disponível on-line em

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88 Augusto Saraiva de Carvalho (1839–1882) nasceu e morreu em Lisboa. Formado em Direito, foi

advogado, deputado, ministro da Fazenda, ministro da Justiça e ministro e das Obras Públicas.

89 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 11 de março de 1882, p. 688. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

90 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 11 de março de 1882, p. 342. Disponível on-line em

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91 SOUSA, Fernando — A Salamancada e a crise bancária do Porto. Nummus: Boletim da Sociedade

Portuguesa de Numismática. Porto. I (1978), 131–160; “A partir de 1881, um conjunto importante de bancos do Porto cria o Sindicato Portuense, para assegurar a construção e exploração da Linha Férrea de Barca de Alva a Salamanca, um projecto que não cumpriu as expectativas e ficou conhecido por "Salamancada". É na sequência da Salamancada, e da profunda crise financeira das maiores instituições da cidade, que os bancos do Porto perdem, em 1891, o direito de função fiduciária.”: Público [Em linha]. 11 mai. 2009 [Consult. 29 jul. 2019]. Disponível em https://www.publico.pt/2009/05/11/jornal/ainda-nascem-bancos-no-porto-305960

92 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 30 de maio de 1881, p. 1167. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

93 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 19 de julho de 1882, p. 1291. Disponível on-line em

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caminho-de-ferro iria beneficiar bastante a cidade do Porto e o Norte do país94. Assim, em 1882 propôs uma lei que autorizava o governo a garantir a um sindicato portuense95 a construção e exploração do caminho-de-ferro de Salamanca a Barca de Alva e a Vilar Formoso96. A organização de um sindicato foi alvo de alguma polémica. A sua justificação para organizar um sindicato em vez de abrir um concurso, era que o concurso, segundo ele, não teria licitantes97. O governo acreditava que o prolongamento da linha do

Douro até Salamanca traria rendimentos bastantes elevados, e que como essa linha dava garantia de um retorno favorável, uma empresa se prontificava a tomar sobre si os encargos98. Hintze Ribeiro disse ainda que quando as Cortes abriram e se soubera que o projeto se tinha malogrado, todos pediram ao governo que interviesse e até ele era acusado de deixar morrer o projeto; quando finalmente se assegurou a ligação das linhas a Salamanca, então aí a obra já era desnecessária e que os interesses da cidade do Porto e das províncias do Norte já não estavam em risco:

Quando entrou para o ministério encontrou pendente a questão da ligação dos caminhos de ferro do Douro e da Beira Alta com as linhas de Salamanca; então eram todos unânimes em confessar as vantagens que para a cidade do Porto e províncias do norte haveria na ligação da linha do Douro com a de Salamanca; e quando se abriu o parlamento e correu a notícia de que se tinham malogrado as negociações para tal fim, todos se levantavam pedindo que o governo português empenhasse os seus esforços para que se conseguisse aquele desiderato, então era ele orador acusado de ter deixado morrer a questão nas suas mãos, e não se duvidava que ainda se pudesse alcançar os resultados desejados por todos.

94 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 24 de fevereiro de 1882, p. 165. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

95 O Sindicato Portuense era constituído pelos principais capitalistas e casas bancárias portuenses. Este

empreendimento foi promovido pelo banqueiro Henrique Burnay e sugerido pelo governo. SOUSA, Fernando — A Salamancada e a crise bancária do Porto, p. 131

96 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 7 de fevereiro de 1882, p. 227–228. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

97 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 24 de fevereiro de 1882, p. 161–162. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

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Agora, porém, que esses resultados se alcançaram, que se tratava de assegurar a ligação das linhas de Salamanca com as de Portugal, que era naquela época uma viva aspiração de todos, incluindo os que combatiam hoje o projeto; agora que o governo, tendo apelado para os capitais portugueses, indistintamente conseguira que se chegasse a uma situação que conduzia à realização de um melhoramento, que de tanto interesse era para o país em geral, e em especial para as províncias do norte, interesses que naquela época ninguém deixava de julgar comprometidos, se se não efetuasse a citada ligação das linhas portuguesas com as de Salamanca; agora já não havia prejuízo em deixar-se de fazer essa obra, já os interesses do Porto e das províncias do norte não ficavam comprometidos por ela não se fazer, já tudo quanto o governo fizera nesse sentido era mau, e merecia a reprovação de todo o país99100.

Hintze Ribeiro defendia que o projeto era “patriótico, legal e benéfico para o país” e especialmente para o Norte101. Era também o reconhecimento à cidade do Porto pelo que

ela tinha feito pelo país:

Outrora era o Porto que se batia com denodo para arreigar em Portugal as franquias de uma nação civilizadora e livre; hoje é país inteiro que reconhecido lhe estende a mão para lhe alentar as forças na luta pelo progresso.

Outrora era o Porto que afrontava as baças para hastear bem alto a bandeira da nossa redempção política; hoje é Portugal que lhe rasga os horizontes de uma nova era de engrandecimento pelo trabalho.

Outrora era o Porto que firmava a liberdade em Portugal; hoje é o todo o país que lhe vai assegurar a prosperidade do seu comércio, o incremento da sua indústria, a felicidade do seu porvir (Apoiados.) 102.

99 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 1 de julho de 1882, p. 1005. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

100 Este citação está na terceira pessoa porque o discurso de Hintze Ribeiro ainda não tinha sido devolvido

aos taquígrafos à altura da publicação do número deste diário.

101 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 1 de julho de 1882, p. 1005. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

102 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 19 de julho de 1882, p. 2239. Disponível on-line em

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Mas os melhoramentos materiais para Hintze Ribeiro não se limitavam apenas ao progresso económico, também serviam um propósito social. Como deputado, defendeu que para atenuar a emigração nos Açores, devia-se utilizar as obras públicas como método para manter a população103. Em 1881, Hintze Ribeiro e outros deputados, propuseram uma lei que tinha como objetivo gastar até 40.000$000 réis em obras públicas no distrito de Ponta Delgada104. A sua posição como ministro das obras públicas manteve-se

inalterada: em 1882, respondendo a um pedido de um deputado onde este apresentava as reclamações de operários queixando-se da falta de trabalho, Hintze Ribeiro prometeu tomar providências para desenvolver as obras públicas no Algarve105. Aliás, disse que se aumentou a verba do ministério das obras públicas para se fazerem obras em edifícios públicos e para a construção de estradas com o propósito de empregar desempregados106. No início de 1883, Hintze Ribeiro apresentou uma proposta de lei que pretendia conceder à empresa em Lisboa que construísse casas baratas, com uma renda não superior a 50$000 réis por ano, isenções fiscais e a possibilidade de escolher nas matas nacionais as madeiras que precisassem107. Contudo, referiu que havia aversão neste tipo investimentos: foi essa a razão por que ofereceu vantagens às empresas que construíssem as casas. Hintze Ribeiro achou que este empreendimento era de “grande utilidade” e melhoraria as condições das classes desfavorecidas108.

Quanto ao aumento das despesas no ministério das obras públicas anteriormente mencionadas, justificou-se com o crescimento progressivo do ministério109. Era o

103 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 8 de março de 1880, p. 770. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

104 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 21 de fevereiro de 1881, p. 658. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

105 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 3 de maio de 1882, p. 1328. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

106 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 18 de julho de 1882, p. 1251. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

107 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 15 de janeiro de 1883, p. 55. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

108 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 7 de abril de 1883, p. 227. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

109 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 23 de abril de 1883, p. 1201–1202. Disponível on-line em

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resultado das “conquistas do progresso moderno”110. Hintze Ribeiro afirmou que os

trabalhos feitos pelos regeneradores eram mais caros que os feitos pelos progressistas porque os primeiros davam “maior desenvolvimento aos trabalhos públicos”. Eram por isso que eles eram mais caros, ao contrário das acusações de má gerência111.

No início de 1885, Hintze Ribeiro (agora ministro da fazenda) viu-se envolvido na demissão do seu colega das obras públicas por causa do porto de Lisboa. Defendeu que a responsabilidade da sua pasta o levava a que julgasse se era oportuna ou não a realização de certos melhoramentos. Ele reconheceu a importância do projeto do porto de Lisboa, mas como tinha havido uma baixa na cotação dos fundos, julgou que era melhor esperar algum tempo até que a situação melhorasse, para depois ele e o ministro pugnarem pelo projeto nas comissões. O ministro das obras públicas não aceitou e demitiu-se112. Argumentou que como ministro da fazenda tinha que ter em conta as circunstâncias do crédito, que era preciso mantê-lo em condições favoráveis e que não trouxesse problemas para a fazenda. Sem essa manutenção, enão não valia a pena sequer “pensar em melhoramentos”113. Era de opinião que não se deviam fazer obras que, embora

necessárias, implicariam gastar largas quantias. Era mais razoável caminhar lentamente, mas seguros do “desenvolvimento material”114. Como a solução da questão do Zaire115

implicou um aumento das despesas coloniais — Portugal teve que ocupar efetivamente os territórios que reivindicava—116, Hintze Ribeiro apresentou assim mais um motivo

110 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 6 de junho de 1883, p. 467. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

111 Diário da Câmara dos Pares, sessão de 6 de junho de 1883, p. 460. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt. A322

112 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 4 de fevereiro de 1885, p. 363. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

113 Ibidem. 114 Idem, p. 364.

115 O tratado do Zaire foi um tratado entre Portugal e o Reino Unido em que a último reconhecia a Portugal

“a soberania sobre o troço final do rio [Congo]”. Apesar disso, a soberania portuguesa era limitada. Inicialmente oposta às pretensões portuguesas sobre aquela região, o Reino Unido acabou por ceder às reivindicações portuguesas já que assim era ima forma de “opor-se indiretamente à instalação da França no território em causa”: ALEXANDRE, Valentim — “O império português (1825–1890): ideologia e economia”. Análise Social. Lisboa. 38:169 (2004), 959–979, p. 973–974.

116 TEIXEIRA, Nuno Severiano — “Política externa e política interna no Portugal de 1890: O Ultimatum

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para serem cautelosos nos melhoramentos materiais117. Não deviam reduzir a liberdade necessária ao desenvolvimento dos melhoramentos materiais, mas também não deviam atuar de maneira a pôr em causa a sua própria construção118.

Recusou as comparações a Freycinet119 porque nunca reclamara as glórias de ter apresentado um vasto projeto de melhoramentos. O que reclamou para si era ter procurado dotar o país de melhoramentos que julgava necessários120. Os melhoramentos materiais

ainda não eram os ideais, mas assim que eles estivessem todos concluídos, Hintze Ribeiro acreditava que eles abririam as portas da riqueza e das atividades económicas121.

1.2. Economia

1.2.1. Atividades económicas

Para o período que estamos a analisar, a ação de Hintze Ribeiro no campo das atividades económicas prendeu-se, sobretudo, com as crises nos Açores; com o problema da filoxera, que ameaçava a produção vinícola na região do Douro; e por fim, com a questão da cultura do tabaco, que estava interligada com as duas anteriores. Ainda como ministro das obras públicas, propôs uma lei que protegia das contrafações as marcas do comércio e da indústria.

Durante o governo progressista de Braamcamp122, Hintze Ribeiro chamou à atenção para a crise económica que se vivia nos Açores, mais especificamente em Ponta Delgada, sua terra natal. Aquele lugar que, nas suas palavras, tinha sido umas das “possessões mais

117 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 28 de fevereiro de 1885, p. 568. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt. A77

118 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 11 de fevereiro de 1884, p. 270. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

119 Estadista francês que entre outras coisas, lançou um ambicioso programa de obras públicas em 1878 que

visava principalmente a construção de caminhos-de-ferro, mas também de canais e portos marítimos.

120 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 4 de fevereiro de 1885, p. 364. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

121 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 28 de fevereiro de 1885, p. 554–555. Disponível on-line

em http://debates.parlamento.pt. A56

122 Anselmo José Braamcamp (1817–1885), nasceu em S. Mamede e morreu em Lisboa. Bacharel em

direito pela Universidade de Coimbra. Foi deputado, ministro do reino, da fazenda, dos negócios estrangeiros, presidente do conselho de ministros e líder do Partido Progressista.

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ricas, mais férteis e mais abundantes em capitais”, estava a braços com uma crise económica que estava a prejudicar bastante a ilha123. A crise estava a levar à “decadência todas as forças produtivas” e Hintze Ribeiro previa que se os poderes públicos não os protegessem, só se poderia esperar por um estado de miséria para todos. A cultura das vinhas quase que desaparecera; a exportação de fruta enfrentava a concorrência espanhola, o que causava prejuízo e revezes para os proprietários. A cultura dos cereais enfrentava uma grande concorrência dos cereais estrangeiros até nos mercados de Portugal, já que os preços de venda não chegava para cobrir a produção e o transporte para o continente. Havia também escassez de cereais nos mercados em S. Miguel que, por vezes, obrigava a fechar os portos à exportação e, nos momentos mais complicados, importar cereais do continente e do estrangeiro124.

Apesar de tentarem culturas alternativas, tais como o chá, o açúcar, a cana de algodão, etc., cuja viabilidade ainda não era bem conhecida, a cultura do tabaco era a única que restava. E para que ela se desenvolvesse, era necessário que governo e parlamento dessem atenção a um projeto que já tinha sido apresentado no ano anterior por deputados das ilhas adjacentes de vários partidos125.

Os efeitos daquela crise tinham-se feito notar no comércio, na indústria e na propriedade de S. Miguel. O comércio que chegara a contabilizar os 2.000.000$000 réis, em 1879 ficara-se pelos 700.000$000 réis. E quanto à indústria, dificilmente ela poderia prosperar numa época de muita adversidade126. Os proprietários tinham sido obrigados a recorrer ao crédito a fim de suprimirem a falta rendimentos dos seus prédios. Só que no momento em que estes proprietários precisavam mais de créditos, os bancos tinham começado a reduzir as suas operações, dessa forma restringindo quanto possível novas operações de crédito127. Com a depreciação das propriedades, o seu valor não

correspondia ao que se descrevia como coletável na matriz predial. Assim, nestas

123 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 8 de março de 1880, p. 769. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

124 Diário da Câmara dos Deputados, sessão de 8 de março de 1880, p. 769. Disponível on-line em

http://debates.parlamento.pt.

125 Ibidem 126 Idem, p. 770 127 Idem, p. 769.

Referências

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