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Fatores que influenciam a coordenação motora em crianças dos 5 aos 10 anos

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Fatores que influenciam a

coordenação motora em crianças dos

5 aos 10 anos

Dissertação de Mestrado em Educação Física e Desporto – Especialização em Desenvolvimento da Criança

Cindy Nascimento dos Santos

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Departamento de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde

Fatores que influenciam a coordenação

motora em crianças dos 5 aos 10 anos

Dissertação de Mestrado em Educação Física e Desporto – Especialização em Desenvolvimento da Criança

Cindy Nascimento dos Santos

Orientador(a): Prof. Dr.ª Maria Isabel Martins Mourão-Carvalhal

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Dissertação de Mestrado realizada com vista à obtenção do grau de Mestre em Educação Física e Desporto – Especialização em Desenvolvimento da Criança, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, sob orientação da Professora Doutora Maria Isabel Mourão-Carvalhal.

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AGRADECIMENTOS

Como não podia deixar de ser, quero agradecer a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta tese.

À professora Isabel Mourão pela orientação, profissionalismo, disponibilidade e por toda a ajuda ao longo desta trajetória.

À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e ao seu gabinete de promoção do desenvolvimento infantil combate à obesidade e ao insucesso escolar, pelo apoio e ajuda na recolha dos dados para a minha amostra.

À Filomena, Andreia, Marina e Diana, que para além de pertencerem à equipa que sempre me acompanhou em toda a recolha de dados, também me acompanharam e apoiaram ao longo do mestrado. Obrigada pela amizade, pela companhia e pelas horas de boa disposição e alegria que possibilitaram ao longo do meu percurso académico.

À Taciana e Glaucivânia, que muito mais que colegas de turma, se tornaram grandes amigas. Obrigada por toda a amizade, pelo apoio, motivação, companheirismo e boa disposição. Apesar da distância que nos separa, estiveram sempre ao meu lado.

Um grande obrigada também à Sairita, ao Daniel, à Amélia, à Larissa e ao Jidu, pela boa disposição e apoio.

À Ana, obrigada pela paciência, pela amizade, pelos “cafézitos”, pelo companheirismo e apoio, obrigada por estares sempre do meu lado quando preciso.

À Cristiana, que sempre acompanhou de perto todo o meu percurso académico. Obrigada pela amizade, pelo apoio, companheirismo, pelo ânimo e paciência.

Ao Pedro, pela amizade, apoio, paciência e companheirismo mesmo à distância.

Á Morais, que se tornou uma grande amiga, obrigada pelo apoio, pela amizade, pelo companheirismo e por toda a ajuda.

Ao Luís e à Beta, por toda a ajuda e paciência. Obrigada pela amizade, companheirismo e todo o apoio.

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Ao Leandro, que me acompanhou e apoiou. Pela amizade, confiança, paciência e por me animar sempre.

À Matilde, Catarina, Carina por todo o apoio e amizade.

E como não podia faltar, um agradecimento especial à minha família. Aos meus pais, que sempre me apoiaram. Obrigada pelo carinho, amizade e paciência. Obrigada pelo esforço, por acreditarem em mim e por sempre me darem força. À minha irmã, que apesar da distância sempre esteve por perto, obrigada pela amizade, pelo apoio, pela paciência, pela inspiração e por nunca duvidares. E por fim, aos meus avós, que estiveram sempre presentes na minha vida. Ao meu avô, que sempre me apoiou e que deixou muitas saudades. E à minha avó, que me dá motivação todos os dias.

Um grande obrigado por tudo, em especial por acreditarem em mim e pela paciência em me “aturarem”.

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RESUMO

Segundo Kiphard e Schilling (1976), coordenação motora é a “interação harmoniosa e económica do sistema músculo-esquelético do sistema nervoso e do sistema sensorial com o fim de produzir ações motoras precisas e equilibradas, e reações rápidas que exigem uma adequada medida de força que determina a amplitude e velocidade do movimento; uma adequada seleção dos músculos que influenciam a condução e orientação do movimento; a capacidade de alterar rapidamente entre tensão e relaxamento muscular.”. É a estrutura psicomotora básica, concretizada pela maturação motora e neurológica da criança e é desenvolvida através da sua estimulação psicomotora sendo assim de grande importância para a autonomia das crianças (Gorla, Duarte & Montagner, 2008).

Este estudo revela-se de grande importância uma vez que, demonstra a importância da coordenação motora e o quanto é importante que esta seja estimulada. A estimulação precoce é algo necessário para promover um bom desenvolvimento, uma vez que a coordenação motora (CM) depende da quantidade e qualidade de estímulos e vivências corporais, e assim, evitar atrasos na coordenação motora que podem vir a ter consequências a longo prazo, persistindo na vida adulta.

A presente dissertação está organizada em dois estudos que contemplam os seguintes objetivos, caracterizar e comparar a coordenação motora de crianças dos 5 aos 10 anos, em função do género e das dificuldades de aprendizagem e verificar a influência da obesidade e do estatuto sócio-económico na coordenação motora em crianças, respetivamente.

A amostra foi constituída por 110 crianças (52 meninos e 58 meninas) do 1º ciclo do ensino básico, de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 5 e os 10 anos (8,44 ± 1,10). Avaliou-se a CM através da bateria de testes KTK, (Kiphard & Schilling, 1974), as crianças com dificuldades de aprendizagem foram sinalizadas pelos professores e psicólogos, foi utilizado um questionário para recolha de dados individuais, incluindo o estatuto sócio-económico, a prevalência de obesidade foi estimada com base no IMC (P/ALT2) e nos valores de corte de Cole, (2000). Utilizou-se o teste t de Sudent, para comparar o quociente motor e o deUtilizou-sempenho nas tarefas do teste KTK, de acordo com o género e as dificuldades de aprendizagem. Para verificar a influência das variáveis independentes (prevalência de obesidade e estatuto sócio-económico) na coordenação motora foi aplicada a regressão linear, tendo entrado no modelo de regressão apenas as variáveis que se mostraram associadas.

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Para a análise dos dados recorremos ao programa Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 17.0 para Windows.

Os resultados do estudo 1 indicam que 42,31% dos meninos apresentam coordenação normal e 44,83% das meninas apresenta perturbação da coordenação e que 50% das crianças com Dificuldades de Aprendizagem (DA’s) apresenta perturbação da coordenação e 40,54% das crianças sem DA’s apresenta coordenação normal. Relativamente às comparações do QM total e tarefas do KTK por género, verificaram-se diferenças significativas na tarefa de saltos laterais (p=0.02), onde os meninos apresentaram melhores resultados; em relação às dificuldades de aprendizagem, verificaram diferenças significativas na tarefa de saltos monopedais (p=0.028), onde as crianças sem DA’s apresentam melhores resultados. Através dos resultados do estudo 2, verificou-se que 54,55% das crianças são normoponderais, 45,45% têm excesso de peso (29,09%) e obesidade (16,36%). Relativamente à correlação verificou-se uma associação significativa da idade e IMC com o quociente motor (p=.029 e p=.000); do IMC com o equilíbrio (p=.000); da idade e IMC com os saltos monopedais (p=.007 e p=.000); e da idade e IMC com a transferência de plataformas (p=.045 e p=.001).

Em conclusão, a maioria das crianças apresenta perturbação da coordenação, e os rapazes apresentam níveis de coordenação motora superiores comparativamente às raparigas. As crianças sem DA’s apresentam também coordenação superior comparativamente às crianças com DA’s. Foi possível concluir também que a obesidade influencia a coordenação motora, no entanto o estatuto sócio-económico não apresentou resultados significativos.

Palavras-chave: Coordenação motora; KTK; Dificuldades de aprendizagem; Obesidade; Estatuto sócio-económico.

ABSTRACT

According to Kiphard and Schilling (1976), motor coordination is the "harmonious and economic interaction of the musculoskeletal system of the nervous system and sensory system in order to produce accurate and balanced motor actions, and quick reactions that require an appropriate measure of strength determining the extent and speed of movement; an appropriate selection of the muscles that influence the conduct and direction of the movement; the ability to change rapidly between voltage and muscle relaxation. ". It is the basic psychomotor structure, implemented by

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motor and neurological maturity of the child and is developed through its psychomotor stimulation being of great importance for the autonomy of children (GGorla, Duarte & Montagner, 2008).

This study proves to be of great importance since it demonstrates the importance of coordination and how important it is to stimulate it. Early stimulation is something necessary to promote good development, since motor coordination (MC) depends on the quantity and quality of stimuli and bodily experiences, and thus avoid delays in motor skills that may have long-term consequences, persisting into adulthood

This thesis is organized in two studies covering the following objectives, characterize and compare the motor skills of children from 5 to 10 years, depending on gender and learning difficulties and the influence of obesity and socioeconomic status in motor coordination in children, respectively.

The sample consisted of 110 children (52 boys and 58 girls) 1st cycle of basic education, of both sexes, aged between 5 and 10 years (8.44 ± 1.10). We evaluated the CM through the KTK test battery, created by Kiphard and Schilling (1974), children with learning difficulties were flagged by some teachers and psychologists, we also used a questionnaire to collect individual data, including the status socio-economic and BMI was assessed using the cutoff values of Cole et al. (2000) to estimate the prevalence of obesity. We used Sudent t test to compare the quotient and motor performance in the KTK test tasks according to gender and learning difficulties. Descriptive statistics (frequency, mean and standard deviation) for the different variables was also used. To check the main effect and the interaction of the independent variables (prevalence of obesity and socio-economic status) on motor coordination was applied to ANOVA. For data analysis we used the Statistical Package for Social Science (SPSS) version 17.0 for Windows.

The results of study 1 indicate that 42.31% of boys have normal coordination and 44.83% girls presents coordination disorder and that 50% of children with Learning Disabilities (LD's) shows disturbance of coordination and 40.54% of children without LD's have normal coordination. For the comparisons of total QM and KTK tasks by gender, there were significant differences in the task of lateral jumps (p = .02), where boys performed better; in relation to learning difficulties, significant differences in the task of monopedal jumps (p = .028), where no LD's children have better results. It was also found that 54.55% of children are normal weight, 45.45% were overweight (29.09%) and obesity (16,36%). Regarding the correlation there was a significant association between age and BMI with the motor quotient (p = .029 and p = .000); BMI

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with the balance (p = .000); age and BMI with monopedal jumps (p = .007 and p = .000); and the age and BMI and transfer platforms (p = .045 and p = .001).

In conclusion, most children shows disturbance of coordination, and boys have higher levels of motor coordination compared to girls. Children without LD's also exhibit higher coordination compared to children with LD's. And it was also possible to conclude that obesity and socioeconomic status influence motor coordination. It was also possible to conclude that obesity affects motor coordination, however the socio-economic status did not show significant results.

Keywords: Motor coordination; obesity; KTK; Learning difficulties; Socio-economic status

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Índice

AGRADECIMENTOS ... iv

RESUMO ... vi

ABSTRACT ... vii

ÍNDICE DE TABELAS ... xii

ÍNDICE DE ABREVIATURAS ... xiii

I. INTRODUÇÃO GERAL ... 14

1. Apresentação do tema ... 15

2. Estrutura da dissertação ... 15

II. REVISÃO DA LITERATURA ... 17

1. Coordenação motora ... 18

2. KTK ... 21

3. Estudos que utilizaram o KTK ... 21

4. Obesidade ... 24

5. Nível sócio-económico ... 25

6. Dificuldades de aprendizagem ... 26

III. ESTUDO 1 - CARACTERIZAÇÃO DA COORDENAÇÃO MOTORA DAS CRIANÇAS DOS 5 AOS 10 ANOS (EM FUNÇÃO DO GÉNERO E DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM). ... 29 Resumo ... 30 Abstract ... 31 Introdução ... 31 Metodologia... 33 Amostra: ... 33 Instrumentos e procedimentos: ... 33 Análise estatística: ... 34 Resultados ... 34 Discussão ... 37 Conclusões ... 38

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Referências Bibliográficas ... 38

IV. ESTUDO 2 - A INFLUÊNCIA DA IDADE, OBESIDADE E DO ESTATUTO SÓCIO-ECONÓMICO NA COORDENAÇÃO MOTORA DAS CRIANÇAS DOS 5 AOS 10 ANOS ... 42 Resumo ... 43 Abstract ... 43 Introdução ... 44 Metodologia... 45 Amostra: ... 45 Instrumentos e procedimentos: ... 45 Análise estatística: ... 46 Resultados ... 47 Discussão ... 48 Conclusões ... 50 Referências Bibliográficas ... 50 V. CONCLUSÃO GERAL ... 54 VI. SUGESTÕES ... 56

VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 58

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1- Classificação do teste KTK por amostra total, género e dificuldades de aprendizagem

Tabela 2- Comparações do total do QM e das tarefas do teste KTK por género.

Tabela 3- Comparações do total do QM e das tarefas do teste KTK por dificuldades de aprendizagem

Tabela 4 – Classificação do teste KTK por amostra total Tabela 5 – Dados da prevalência da obesidade

Tabela 6 – Regressão entre as variáveis idade, altura, peso e o IMC e o QM total, equilíbrio, saltos monopedais, saltos laterais e transferência de plataformas.

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ÍNDICE DE ABREVIATURAS

DA- Dificuldades de Aprendizagem IMC – Índice de Massa Corporal IMC- Índice de Massa de Corporal LD – Learning difficulties

NSE – Nível sócio-económico ESE – Estatuto sócio-económico QM – Quociente Motor

SPSS- Statistical Package for the Social Sciences Teste KTK - Körperkoordinations-test für Kinder

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INTRODUÇÃO GERAL

1. Apresentação do tema

Nas últimas décadas tem vindo a estudar-se a coordenação motora, uma vez que se tem verificado um aumento da importância do domínio psicomotor para a autonomia do ser humano, particularmente durante as fases de crescimento e maturação (Gorla et al. 2008).

É reconhecida a importância pedagógica, epidemiológica e psicomotora da coordenação motora. O nível coordenativo determina não só o desenvolvimento escolar como também o desenvolvimento integral do aluno, mantendo assim uma relação próxima entre o que o indivíduo é capaz de realizar com o que é capaz de aprender (Neto, Santos, Xavier & Amaro, 2010).

Atrasos na coordenação motora vão refletir-se em baixas habilitações de executar tarefas mais complexas e para além disso pode também afetar os comportamentos afetivo-socais das crianças, vindo a ter um impacto negativo na auto-estima e prática de atividade física nas crianças e podem mesmo vir a ter consequências a longo prazo, persistindo na vida adulta (Ávila & Pérez, 2008).

O nível de insuficiência da coordenação irá depender das experiências motoras que as crianças vivenciam, sejam elas qualitativas ou quantitativas (Maia & Lopes, 2002).

O estudo da coordenação motora é de grande importância uma vez que nos permite entender como as ações motoras se processam em diversos níveis desde a execução até ao resultado final. Desta forma, surge a presente dissertação, como forma de aprofundar o estudo da coordenação motora.

A presente dissertação está organizada em dois estudos que contemplam os seguintes objetivos, caracterizar e comparar a coordenação motora de crianças dos 5 aos 10 anos, em função do género e das dificuldades de aprendizagem e verificar a influência da obesidade e do estatuto sócio-económico na coordenação motora em crianças, respetivamente.

2. Estrutura da dissertação

A presente dissertação encontra-se dividida em oito capítulos apresentando a seguinte estrutura: Introdução Geral, onde é apresentado o tema e estão definidos os objetivos; Revisão da Literatura, onde é abordado mais profundamente o tema coordenação motora, dificuldades de aprendizagem e estatuto sócio-económico; dois estudos integrados no terceiro e quarto capítulos, respetivamente, cada estudo

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composto por introdução com revisão da literatura e objetivos, metodologia, resultados, discussão, conclusões e referências bibliográficas; Conclusão Geral dos dois artigos em estudo, compondo o quinto capítulo; Sugestões; Referências Bibliográficas; e por último, os Anexos onde se apresentam os complementos desta dissertação.

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II. REVISÃO DA

LITERATURA

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II. REVISÃO DA LITERATURA

1. Coordenação motora

A motricidade da criança pode ser influenciada por diversas limitações gerando desequilíbrio entre os corpos. Desta forma, deve perceber-se a criança de uma maneira holística e satisfazer as carências apresentadas mediante a conduta motora de forma a melhorar a qualidade de vida da mesma. (Bessa & Pereira, 2002)

A base para aprendizagens em fases posteriores na vida da criança depende dos movimentos aprendidos durante os primeiros 6 anos da infância. As habilidades motoras adquiridas numa fase inicial vão sendo aperfeiçoadas na vida adulta. Desta forma as crianças devem ser estimuladas para que não ocorram atrasos no desenvolvimento motor, que serão refletidos na vida adulta. (Bessa & Pereira, 2002)

A coordenação motora é a estrutura psicomotora básica, concretizada pela maturação motora e neurológica da criança e é desenvolvida através da sua estimulação psicomotora. (Bessa & Pereira, 2002)

Kiphard e Schilling, foram os investigadores que mais avançaram nos estudos relativamente à coordenação motora e as suas insuficiências nas crianças com idade escolar. Eles criaram a bateria de testes KTK, constituída por quatro testes para identificar crianças com dificuldades de coordenação, com idades compreendidas entre os cinco e os catorze anos de idade e assim prevenir/melhorar problemas de coordenação motora.

A coordenação motora é um conceito muito complexo e interdisciplinar, que abrange estudos para várias áreas. Segundo Kiphard e Schilling (1976), coordenação motora é a “interação harmoniosa e económica do sistema músculo-esquelético do sistema nervoso e do sistema sensorial com o fim de produzir ações motoras precisas e equilibradas, e reações rápidas que exigem uma adequada medida de força que determina a amplitude e velocidade do movimento; uma adequada seleção dos músculos que influenciam a condução e orientação do movimento; a capacidade de alterar rapidamente entre tensão e relaxamento muscular.” (Aragão, 2010)

Para Kiphard (1976), Meinel (1984) e Schmidt (1991) a coordenação motora é uma base fundamental para a aprendizagem de habilidades motoras e também para a deteção de insuficiências coordenativas nas respostas motoras a situações originadas pelo ambiente (Vidal, 2008).

Segundo Lopes, Maia, Silva, Seabra & Morais, (2003), a coordenação motora pode ser analisada em três pontos de vista:

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Biomecânico- relativamente à ordenação de impulsos de força numa ação motora e ordenação de acontecimentos em relação a dois ou mais eixos perpendiculares;

Fisiológico- relacionado aos processos de contração muscular;

Pedagógico- relativo à ligação das fases de um movimento ou ações parciais e a aprendizagem de novas habilidades.

A Coordenação Motora (CM) pode assim ser entendida como a capacidade motora geral que permite à criança interagir com o meio. Esta manifesta-se pelo controlo dos grandes grupos musculares, que são responsáveis pela orientação do corpo no tempo e no espaço, assim como o controlo de objetos (Souza, 2011).

Segundo Gorla (2003), a coordenação motora global é formada pela coordenação visuo-motora e a coordenação motora fina. O domínio visual, associado à coordenação viso-motora, permite o ajustamento harmonioso entre os gestos executados. Por sua vez, a mão, é considerada um instrumento de ação ao serviço da inteligência. Esta encontra-se associada diretamente a uma boa coordenação motora fina, que permite ao individuo uma boa escolarização e auxilia a evitar danos no desenvolvimento psicológico e social da criança (Brandão, 1984 cit in Carminato, 2010).

Apesar da grande importância que a maturação tem para o desenvolvimento, este não deve ser visto como o único fator, uma vez que as habilidades específicas do ser humano também são influenciadas pela prática, motivação e pela instrução (Gorla et al., 2008).

Ao longo dos anos verifica-se que a vivência corporal é cada vez mais restrita, as crianças estão cada vez mais limitadas a um quarto ou apartamento, com jogos de computador ou a televisão. Poucas são as que saem de casa para ir a um parque correr, saltar ou fazer outras brincadeiras que as desenvolvam a nível motor, temporal, psicológico, neurológico, sensorial, entre outros.

Se as crianças tiverem envolvências limitadas em atividades físicas, se não correm, saltam, agarram, trepam, etc. de forma proficiente, não vão ter um reportório motor suficiente. A capacidade para movimentos de forma coordenada em diferentes situações é o suporte para que os sujeitos sejam ativos (Lopes, n.d).

O facto de haver pouca vivência corporal, ou devido a fatores genéticos ou problemas neurológicos, pode resultar em pouca habilidade e défice na coordenação motora (Aragão, 2010).

O défice de coordenação trata-se da instabilidade motora geral e abrange os defeitos qualitativos da condução do movimento atribuído a uma interação imperfeita das estruturas funcionais adjacentes (sensoriais, nervosas e musculares), que

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provocam uma moderada alteração da qualidade dos movimentos e produz uma diminuição leve e mediana do rendimento motor (Lopes, Maia, Silva, Seabra & Morais, 2003).

A insuficiência de coordenação vai depender da qualidade e quantidade de experiências motoras que a criança vivenciar.

A desordem do desenvolvimento da coordenação é o diagnóstico de deficiência de habilidades motoras, sem relação com outras situações físicas, como por exemplo a paralisia cerebral, ou intelectuais, como por exemplo o transtorno invasivo do desenvolvimento.

As manifestações específicas da doença são variadas e generalizadas, afetando tanto as capacidades motoras finas como grossas. Estes problemas podem tornar as atividades do dia-a-dia extremamente difíceis e algumas até mesmo impossíveis (Cairney, 2012).

As insuficiências de coordenação dinâmica conduzem a deformidades cinéticas parciais ou do corpo inteiro, sincinesias, movimentos arrítmicos, compulsivos ou abruptos, impulsos cinéticos repentinos e involuntários, falta de capacidade de equilíbrio do corpo em posição bípede e falta de agilidade ou capacidade para parar e inverter o movimento (Carminato,2010).

Essas insuficiências podem ser reveladas por:

- Insuficiência de CM grossa, neste caso os indivíduos estão qualitativamente afetados, perante movimentos amplos fortes e impetuosos.

- Insuficiência de CM fina, neste caso há uma afetação qualitativa de movimentos pequenos, ou seja todos os exercícios de habilidade manual, como a escrita, os exercícios pequenos de pontaria e equilíbrio (Carminato, 2010).

São diversas as designações utilizadas para a insuficiência no desempenho coordenativo, tais como, dispraxia, crianças com dificuldades motoras, disfunção percetivo-motora, défices de atenção de controlo motor e de perceção (Santos et al. 2004). Essas alterações foram definidas como uma deficiência qualitativa do movimento, que está associada a uma imperfeição do conjunto da função sensório-motora muscular. Estas crianças apresentam insegurança numa postura equilibrada, deficiência da fluidez do movimento e na precisão da direção, falta de agilidade, entre outras.

O uso de testes para avaliar a coordenação motora permite conhecer e posteriormente promover intervenções a fim de minimizar as dificuldades de aprendizagem escolares que são resultado dos atrasos motores.

Um dos testes que avalia a coordenação motora é a bateria de testes KTK, esta evoluiu do Teste de Proficiência Motora de Ozeretsky (uma verdadeira fonte de

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estudo da motricidade em crianças normais e deficientes mentais entre os 4 e16 anos de idade,) no que diz respeito à facilidade da aplicação (Aragão, 2010).

2. KTK

O teste de coordenação corporal para crianças (KTK), foi desenvolvido por Kiphard e Schilling (1974), com o objetivo de diagnosticar as deficiências motoras em crianças com lesões cerebrais e/ou com desvios comportamentais. Este teste envolve como componentes o equilíbrio, o ritmo, a força, a lateralidade, a velocidade e a agilidade. Essas componentes foram divididas em quatro tarefas.

Atualmente o teste tem vindo a ser utilizado em diversos grupos, com crianças com e sem deficiência, uma vez que avalia a coordenação motora global e assim permite identificar crianças com distúrbios coordenativos/motores. O KTK pode ser utilizado com crianças entre os 5 e os 14 e 11 meses e a sua aplicação dura cerca de 10-15 minutos por criança.

O teste é constituído por quatro tarefas, a trave de equilíbrio, saltos monopedais, saltos laterais e transferência sobre plataformas. Na primeira tarefa verifica-se o equilíbrio dinâmico; na segunda a força dos membros inferiores; na terceira a velocidade e na quarta a lateralidade e estruturação espácio-temporal.

Se os testes forem aplicados individualmente, a bateria apresenta uma confiabilidade de 0.65 a 0.87, mas se for aplicada por completo, há confiabilidade de 0.9, o que demonstra credibilidade para a sua aplicação (Gorla et al., 2009)

Para a avaliação das capacidades coordenativas utilizam-se as tabelas originais do estudo de Kiphard e Schilling (1974). Deve transformar-se o resultado final de cada tarefa (valores brutos) em quocientes motores (QM), através da verificação das tabelas de referência para cada teste de acordo com a idade e o sexo, para por fim, efetuar a soma e obter o QM total.

Este QM que é obtido permite classificar as crianças de acordo com o seu nível de coordenação: Perturbações da coordenação (QM inferior a 70); Insuficiência coordenativa (QM ≥71 e ≤85); Coordenação normal (QM ≥86 e ≤115); (4) Coordenação boa (QM ≥116 e ≤130) (5) Coordenação muito boa (QM ≥131 e ≤145) (Lopes et al. 2011).

3. Estudos que utilizaram o KTK

Diversos estudos realizados com o KTK tiveram reconhecimento internacional, destacando-se Portugal, Brasil, Alemanha, Peru e EUA com os principais resultados

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dessas pesquisas, que foram descritos no trabalho de dissertação de Ballestero (2008).

Em Portugal os estudos são maioritariamente de caracter transversal, caracterizando o desenvolvimento da coordenação motora grossa, expondo diferenças entre sexos e idades, identificando insuficiências de desenvolvimento coordenativo. Não se encontraram no entanto estudos com populações especiais.

Os investigadores que mais se destacaram foram:

Mota (1991), que fez um estudo interventivo com 216 crianças com idades entre 10 e 11 anos onde observou e aplicou atividades em aulas de ed. Física durante 1 ano e verificou melhorias na tarefa de equilíbrio à retaguarda no grupo experimental.

Andrade (1996), que realizou um estudo transversal com 315 crianças com idades entre os 8 e 10 anos, onde observou que apenas aos 9 anos se verificam diferenças entre sexos nos níveis de desempenho em apenas dois testes (equilíbrio à retaguarda e saltos laterais). Também verificou que quanto maior a idade, maior o desempenho nas tarefas.

Gomes (1996), fez um estudo transversal com 214 crianças com idade entre 8 e 10 anos, onde avaliou o nível de coordenação motora e verificou que a população estudada apresentou baixo desempenho comparado a resultados de outros trabalhos. Lopes (1997) fez intervenção nas aulas de educação física com 100 crianças com 9 anos de idade e verificou diferenças significativas no resultado dos programas pré estipulados de 2 ou 3 vezes por semana. Foi observado melhorias no nível de coordenação corporal na intervenção de 3 vezes semanais.

Maia e Lopes (2002), num estudo realizado em 250 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos verificaram que as crianças com excesso de peso e obesidade apresentaram resultados inferiores de desempenho motor comparativamente às crianças normoponderais; os rapazes apresentaram valores superiores às raparigas; e registaram um aumento significativo dos valores médios de coordenação à medida que a idade avança.

Lopes et al. (2003) realizaram um estudo em 3742 crianças dos 6 aos 10 anos de idade, de ambos os sexos. Este estudo teve com o objetivo de caracterizar o estado de desenvolvimento da coordenação motora grosseira das crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico e verificar as diferenças entre os dois sexos. Os resultados mostraram que os rapazes apresentavam valores médios de quociente motor significativamente superiores às raparigas. Ao longo da idade foi verificado um decréscimo significativo do quociente motor em ambos os sexos.

Graf et al. (2004) verificaram a associação entre o IMC, habilidades motoras e hábitos de lazer em 668 crianças entre os 6 e os 9 anos. Foram verificados resultados

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significativamente melhores nos rapazes que as raparigas e as crianças com excesso de peso e obesidade revelaram um pior quociente motor relativamente às crianças normopedais.

Maia et al (2007), efetuou um estudo longitudinal misto com 250 crianças para verificar as diferenças do desempenho motor em crianças de acordo com a sua idade e sexo, onde verificou um aumento do nível de coordenação ao longo da idade, não verificando diferenças significativas entre os sexos.

Gorla et al. (2008), realizaram um estudo com 283 crianças entre os 6 e os 8 anos e 11 meses, com o objetivo de avaliar a coordenação corporal de crianças da área urbana do Município de Umuarama-PR. Através deste estudo verificou-se que os valores médios das tarefas do teste KTK aumentam ao longo da idade.

No estudo de Valdivia et al. (2008) pretendeu-se verificar a influência da idade, sexo, nível socioeconómico e nível de adiposidade subcutânea na coordenação motora em 4007 crianças peruanas dos 6 aos 11 anos. Verificou-se um aumento dos valores médios ao longo da idade e em ambos os sexos nas quatro tarefas do teste KTK, verificando-se nos rapazes níveis de coordenação motora superiores ao das raparigas. Esta superioridade também se verificou nas crianças normoponderais em comparação às crianças com excesso de peso e obesidade. Porém estes autores não consideraram os pontos de corte e as tabelas normativas do teste original, somando as pontuações obtidas nas quatro tarefas do teste KTK.

Bianchi (2009) teve como objetivo avaliar a coordenação motora corporal total em crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico em 799 crianças entre os 7 e os 10 anos de idade. Obteve, assim, como resultados: os rapazes apresentam melhores resultados de coordenação motora do que as raparigas; as crianças com 9-10 anos apresentam valores superiores relativamente às de 7-8 anos; e as crianças normoponderais revelam sempre resultados superiores de coordenação motora comparativamente às crianças com excesso de peso e obesidade.

Deus et al. (2010), realizaram um estudo com 285 crianças dos 6 aos 10 anos de idade. Neste estudo foi verificado um crescimento dos valores de coordenação motora ao longo da idade, verificando-se valores superiores nos rapazes relativamente às raparigas e valores superiores de coordenação nas crianças normoponderais relativamente às crianças com excesso de peso e obesidade.

Vandorpe et al. (2011) avaliou 2470 crianças entre os 6 e os 12 anos, com o objetivo de construir valores de referências atualizados quanto ao sexo e à idade. Neste estudo verificou-se que a coordenação motora aumenta ao longo da idade, no entanto, não é certo afirmar-se que os rapazes apresentam melhor coordenação que as raparigas, uma vez que, os rapazes revelam níveis superiores na tarefa saltos

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monopedais e as raparigas na tarefa equilíbrio à retaguarda, sendo os resultados semelhantes nos dois sexos nas tarefas saltos laterais e transferência sobre plataformas.

Lopes et al. (2012) analisaram a associação entre a coordenação motora e o IMC de 7175 crianças dos 6 aos 14 anos. Os resultados deste estudo revelaram que a o longo da idade os níveis de coordenação motora aumentam, apresentando o sexo masculino valores superiores de coordenação em relação ao sexo feminino. As crianças normoponderais apresentaram um desempenho significativamente superior de coordenação motora em relação às crianças com excesso de peso e obesidade, havendo uma correlação negativa entre a coordenação motora e o IMC em todas as idades.

Por fim, Melo e Lopes (2013) avaliaram 794 crianças dos 6 aos 9 anos com o objetivo de analisar a associação entre o IMC e a coordenação motora. Foi verificado em todas as idades que os rapazes apresentaram um melhor desempenho motor em relação às raparigas. Verificou-se também que em ambos os sexos existiam diferenças significativas relativamente à prevalência de obesidade, apresentando melhores resultados as crianças normoponderais em comparação com as crianças com excesso de peso e obesidade.

4. Obesidade

A obesidade pode ser considerada uma epidemia, uma vez que tem aumentado bastante nas últimas décadas. Considera-se que um individuo é obeso, quando este apresenta uma acumulação anormal ou excessiva de gordura corporal, de forma a causar prejuízo à saúde (Barbosa, 2004).

Segundo a Organização mundial de saúde (OMS), os fatores que contribuem para o aumento da obesidade são as mudanças inadequadas nos hábitos dietéticos e a automação das tarefas básicas. Relativamente à obesidade (infantil), existem três períodos críticos, o período pré-natal, o período de recuperação da adiposidade e a adolescência, para que esta que permaneça na idade adulta (Strauss, 1999; Cole & Cole, 2004).

Alguns dos estudos que analisam a influência da obesidade na coordenação motora demonstram que as crianças obesas apresentam uma coordenação inferior comparativamente às crianças normoponderais (Bianchi, 2009; Collet et al., 2008; Deus et al., 2010; Gomes, 2011; Graf et al., 2004; Graf et al., 2005; Lopes et al., 2012; Melo & Lopes, 2013; Monteiro et al. 2010; Poeta et al., 2010; Valdivia, 2008).

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Graf et al. (2004) quiseram verificar a associação entre o IMC, habilidades motoras e hábitos de lazer em 668 crianças entre os 6 e os 9 anos, verificando que as crianças com excesso de peso e obesidade apresentaram pior quociente motor do que as crianças normoponderais. Com o objetivo de analisar o nível de coordenação motora, considerando o sexo, a faixa etária, a prática desportiva extraescolar e o Índice de Massa Corporal (IMC), o estudo de Collet, Folle, Pelozin, Botti e Nascimento (2008), onde participaram 243 crianças dos 8 aos 14 anos de idade, verificou que as crianças com excesso de peso e obesidade revelam níveis elevados de baixa coordenação motora comparados às crianças normoponderais. Valdivia et al. (2008) pretenderam determinar a influência da idade, sexo, nível socioeconómico e nível de adiposidade subcutânea na coordenação motora em 4007 crianças peruanas dos 6 aos 11 anos e observaram que as crianças normoponderais apresentam melhores níveis de coordenação motora comparativamente às crianças com excesso de peso e obesidade. No estudo de Lopes et al. (2012), foi analisada a associação entre a coordenação motora e o IMC e verificou-se que as crianças normoponderais tinham um desempenho significativamente superior de coordenação motora relativamente às crianças com excesso de peso e obesidade, verificando-se, uma correlação negativa entre a coordenação motora e o IMC em todas as idades.

No entanto, no estudo de Catenassi et al. (2007) não se verificou a influência do IMC no desempenho de coordenação motora das crianças.

O caso da obesidade infantil é das mais preocupantes, esta está associada a uma maior probabilidade de obesidade, morte prematura e incapacidade na vida adulta. É de extrema importância prevenir a obesidade infantil, uma vez que esta irá prevalecer na vida adulta e trará fatores de risco para doenças crónico-degenerativas, estas experimentam dificuldades respiratórias, aumento do risco de fraturas, hipertensão, marcadores precoces de doenças cardiovasculares, resistência à insulina e efeitos psicológicos (WHO, 2013).

5. Nível sócio-económico

O nível sócio-económico (NSE) é um dos principais fatores que influencia os indicadores de crescimento e desenvolvimento das crianças (Cardoso, 2006).

A investigação epidemiológica e antropológica atual na área da saúde considera o estatuto socioeconómico (ESE) como forma de estratificar as populações humanas em grupos que expõem a saúde individual ao ambiente físico e social. Desta

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forma, vários investigadores têm vindo a quantificar a influência dos fatores sociais do ambiente, que vão afetar negativa ou positivamente a saúde humana. Esta quantificação é conseguida através de indicadores que fornecem informação acerca da posição relativa de um determinado indivíduo na hierarquia social. Assim, “estatuto socioeconómico refere-se à posição ou ordem relativa de um indivíduo numa hierarquia. Este baseia-se em atributos sociais e económicos, que se exprimem no acesso diferencial a recursos e comodidades valorizadas” (Cardoso, 2006).

Valdivia et al. (2008) pretenderam determinar a influência da idade, sexo, nível sócio-económico e nível de adiposidade subcutânea na coordenação motora em 4007 crianças peruanas dos 6 aos 11 anos e observaram que o nível sócio-económico apresentou um papel significativo nas tarefas de saltos laterais e saltos monopedais, verificando que crianças com baixo ESE apresentaram resultados inferiores às crianças com ESE mais elevado. Na tarefa de equilíbrio à retaguarda e transferência de plataformas, as crianças com menor ESSE apresentaram um melhor desempenho comparativamente às crianças com ESE mais elevado.

Diversos estudos referem que crianças com melhores situações sócio-económicas maturam mais cedo do que crianças com níveis sócio-económicos mais baixos, apresentando assim um crescimento superior (Malina, 1990; Petroski et al. 1995; Bergmann et al., 2009).

No entanto, crianças com um alto NSE estão inseridas num ambiente pobre em experiências motoras, tendo assim pouca experiência motora, o que poderá levar a um alto risco de desenvolverem doenças cardíacas, obesidade, diabetes, entre outras, colocando assim a sua saúde em risco. (Guedes, 2002; Gallahue & Ozmun, 2005; Pangrazi et al., 2003). Enquanto que, crianças com um baixo NSE, têm mais liberdade de movimentar-se nas zonas em que habitam e de terem brincadeiras mais vigorosas, tendo assim, maiores experiências motoras (Malina, 1990). Em contrapartida, estas crianças têm poucas oportunidades de práticas direcionadas e formais de atividade física e alguns fatores do ambiente, como a desnutrição, podem prejudicar o seu crescimento e desenvolvimento motor (Guedes & Guedes, 1997); (Malina, 1990; Goodway & Branta, 2003; Ishe & Hoffman, 2003).

6. Dificuldades de aprendizagem

Relativamente às dificuldade de aprendizagem, para Nielsen (1999), estas referem-se a “uma perturbação que interfere com a capacidade para guardar, reter, processar ou produzir informação”. Desta forma, as dificuldades de aprendizagem podem ser vistas como uma desordem neurológica que interfere com a receção,

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27

integração ou expressão da informação, caracterizando-se por uma acentuada discrepância entre o potencial e a prestação escolar da criança (Correia & Martins, 1999, cit in Melo et al. 2007).

De acordo com Correia (n.d), Cruz (1999) e Fonseca (2004), indivíduos com Dificuldades de Aprendizagem (DA) apresentam como características genéricas, a discrepância acentuada entre o seu potencial estimado e a sua realização escolar. (Ramalho, n.d)

De acordo com o DSM-IV (APA, 1996), nas perturbações da aprendizagem, o rendimento individual é inferior ao esperado para a idade, nível de escolaridade e nível intelectual, em provas de leitura, escrita ou aritmética. Estes problemas afetam o rendimento escolar e atividades do quotidiano em que as mesmas competências estejam envolvidas (Vilar, 2010).

As crianças com dificuldades de aprendizagem podem apresentar dificuldades em diferentes tipos de aprendizagem:

 Simbólica ou verbal, em competências escolares ou académicas, como ler, escrever e contar;

 Não simbólica ou não verbal, em competências psicossociais ou psicomotoras, como orientar-se no espaço, desenhar ou interagir socialmente com o outro (Fonseca, 2005 cit in Vilar, 2010).

Bannatyne (1971) e Clements (1966) referem que as características específicas das crianças com DA podem ocorrer devido a diversos fatores emocionais, visuo-espaciais, auditivos, motores e fatores conceptuais, apresentando assim problemas de atenção, problemas percetivos, problemas emocionais, problemas cognitivos, problemas psicolinguísticos e problemas psicomotores (Vilar, 2010; Ramalho, n.d).

De acordo com a National Joint Committee on Learning Disabilities (NJCLD), a definição de DA tem alguns aspectos essenciais como a heterogeneidade das DA; as dificuldades na aquisição e uso da compreensão auditiva, fala, escrita, leitura, escrita e/ou habilidades matemáticas resultantes das DA; a existência concomitante de outras dificuldades, não constituintes de DA’s, e o facto de serem intrínsecas aos indivíduos. (Ramalho, n.d)

Existem três tipos de dificuldades de aprendizagem:

-Dificuldades na aprendizagem da leitura – onde existe deficiências na descodificação (isto é, no reconhecimento e identificação das palavras), pobreza de vocabulário, escassos conhecimentos prévios, problemas de memória, falta de estratégias de compreensão (ou seja, o entendimento da informação escrita) e confusão nas exigências da tarefa ou pouco interesse pela tarefa (Vilar, 2010).

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- Dificuldades na aprendizagem da escrita- que pode conduzir a sequelas na comunicação, adaptação, criatividade e auto-estima, uma vez que a escrita implica várias operações cognitivas, tais como a intenção, a formulação de ideias, a chamada das palavras à consciência, a colocação das palavras seguindo as regras gramaticais, a codificação com base na sequência das unidades linguísticas, a mobilização dos símbolos gráficos e fonéticos equivalentes, a chamada de padrões motores e a praxia manual e escrita (Vilar, 2010).

-Dificuldades na aprendizagem da matemática- que reduzem a capacidade de resolução de problemas da criança e de definir estratégias, comprometendo assim o desenvolvimento do seu raciocínio (Vilar, 2010).

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29

III.

ESTUDO 1 -

CARACTERIZAÇÃO DA

COORDENAÇÃO

MOTORA

DAS

CRIANÇAS DOS 5 AOS 10 ANOS (EM

FUNÇÃO

DO

GÉNERO

E

DAS

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM).

(30)

30

Estudo 1- Caracterização da coordenação motora das crianças dos 5 aos 10 anos

(em função do género e das dificuldades de aprendizagem).

Resumo

O presente estudo tem como objetivo caracterizar e comparar a coordenação motora de crianças dos 5 aos 10 anos, em função do género e das dificuldades de aprendizagem. A amostra foi constituída por 110 crianças (52 rapazes e 58 raparigas; 36 com dificuldades de aprendizagem e 74 sem dificuldades de aprendizagem), com idades compreendidas entre os 5 e os 10 anos (8,44 ± 1,10). Para a avaliação da coordenação motora foi utilizado o teste KTK (Körperkoordinations-test für Kinder). Para comparar o quociente motor e o desempenho nas tarefas do teste KTK, de acordo com o género e as dificuldades de aprendizagem, utilizou-se o teste t de Sudent.

Os resultados revelam que 42,31% dos meninos apresenta coordenação normal e 44,83% das meninas perturbação na coordenação.

Relativamente ao grupo das crianças com e sem dificuldades, 50% das crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam perturbação da coordenação e 33,33% coordenação normal e 40,54% das crianças sem dificuldades de aprendizagem apresenta coordenação normal e 39,19% apresenta perturbação da coordenação.

Os meninos apresentam um quociente motor superior, quando comparados com as meninas, verificando-se diferenças significativas na tarefa dos saltos laterais (p=.002). Quando comparamos os grupos das crianças com e sem dificuldades de aprendizagem verificou-se que as crianças sem dificuldades de aprendizagem apresentaram melhores resultados de coordenação motora que as crianças com dificuldades de aprendizagem, verificando-se diferenças significativas na tarefa de saltos monopedais (p=.028).

Concluindo, os meninos e as crianças sem dificuldades de aprendizagem apresentam níveis de coordenação motora superiores, no quociente motor e na tarefa saltos monopedais e saltos laterais do teste KTK. Verificou-se também que a maioria das crianças sem dificuldades de aprendizagem apresentavam coordenação normal e as crianças com dificuldades de aprendizagem, maioritariamente, apresentavam perturbação da coordenação.

(31)

31

Abstract

The present study aims to characterize and compare the motor coordination of children aged 5 to 10 years, by gender and learning difficulties. The sample consisted of 110 children (52 boys and 58 girls), aged between 5 and 10 years (8.44 ± 1.10). For the assessment of motor coordination the KTK test (Körperkoordinations für Kinder-test) was used. To compare the quotient and motor performance in the KTK test tasks according to gender and learning difficulties, it was used Sudent t test.

The results show that 42.31% of boys have normal coordination and 44.83% girls disturbance in coordination.

As regards the group of children with and without difficulties, 50% of children with learning disabilities have trouble coordinating and 33.33% normal coordination and 40.54% of children without learning disabilities have normal coordination and 39.19% presents disturbance coordination.

The boys have a higher motor quotient compared with girls, checking for significant differences in the task of lateral jumps (p = .002). When groups of children with learning disabilities were found compared to children without learning disabilities, children without learning disabilities performed better motor coordination than children with learning difficulties, verifying significant differences in task hopping on one leg (p =. 028).

In conclusion, boys and children without learning disabilities have higher levels of coordination, in the motor quotient and monopedal jumps and lateral jumps task of the KTK test. It was also found that most children without learning disabilities had normal coordination and children with learning difficulties, mostly showed disturbance of coordination.

Keywords: motor coordination; learning difficulties; gender; KTK.

Introdução

A coordenação motora (CM) é um conceito muito complexo e interdisciplinar, que abrange estudos para várias áreas.

A CM pode ser entendida como a capacidade motora geral que permite que a criança interaja com o meio, sendo a base fundamental para aprendizagem de habilidades motoras. A CM permite também a deteção de insuficiências coordenativas nas respostas motoras a situações geradas pelo ambiente.

De acordo com Kiphard (1976), Meinel (1984) e Schmidt (1991), a CM manifesta-se pelo controlo dos grandes grupos musculares, que são responsáveis

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32

pela orientação do corpo no tempo e no espaço, assim como o controlo de objetos. (Vidal, 2008; Souza, 2011). Relativamente à influência do sexo na coordenação motora, é possível verificar diferenças a nível de desenvolvimento que podem levar a diferentes níveis de coordenação motora.

Diversos estudos comprovam essas mesmas diferenças entre padrões de desenvolvimento da capacidade de coordenação corporal, verificando-se que esta aumenta linearmente com a idade e de forma paralela em ambos os sexos, apesar de apresentarem diferenças entre eles. (Deus et al. 2010; Bianchi, 2009; Maia & Lopes, 2002; Gorla et al. 2008; Valdivia et al. 2008; Lopes et al. 2012; Vandorpe et al.2011).

Através dos estudos verifica-se então que os meninos apresentam maiores níveis de CM que as meninas (Lopes et al., 2003; Lopes, 1997 cit in Souza, 2011; Valdívia et al., 2008; Deus et al., 2010; Bianchi, 2009; Maia & Lopes, 2002; Collet et al., 2008; Lopes et al., 2012; Graf et al., 2004; Melo & Lopes, 2013). No entanto Silva, 1989 cit in Souza, 2011 e Vandorpe et al., 2011, constataram que os meninos apresentam melhores níveis de coordenação motora na tarefa saltos monopedais, mas as meninas tiveram melhores resultados na tarefa de equilíbrio à retaguarda. sendo os resultados semelhantes nos dois sexos relativamente às tarefas saltos laterais e transferência sobre plataformas.

Cunha (1990) cit in Fávero & Calsa, 2004; Ferreira, Nascimento, Apolinário, & Freudenheim, 2006), defendem a relação entre o desenvolvimento motor e a aprendizagem escolar, considerando que se as crianças não possuem o domínio das suas habilidades motoras básicas, o seu desempenho será abaixo do esperado. As dificuldades na escrita e na leitura são aquelas que mais se associam a problemas motores, uma vez que no início da escolarização, devido ao comportamento motor é possível identificar crianças com dificuldades na escrita (Smits-Engelsman et al., 2001; Fávero & Calsa, 2004).

Diversos estudos demonstram a ligação entre as dificuldades de aprendizagem e a execução das habilidades motoras e defendem que as crianças sem dificuldades de aprendizagem apresentam um melhor desempenho a nível motor (Dewey et al. 2002; Fonseca, 1995; Jongmans et al. 2003; Kourtessis et al., 2008; Moreira et al.2000; Ramus et al., 2003; Visser, 2003; Silva & Beltrame, 2011).

O presente estudo tem como objetivo caracterizar e comparar a coordenação motora de crianças dos 5 aos 10 anos, em função do género e das dificuldades de aprendizagem.

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33

Metodologia

Amostra:

A amostra foi constituída por 110 crianças do 1º ciclo do ensino básico, de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 5 e os 10 anos (8,44 ± 1,10), onde 36 tinham dificuldades de aprendizagem (DA’s) e 74 não apresentavam DA’s. Neste estudo participaram 52 rapazes (47,3%) e 58 raparigas (52,7%).

Instrumentos e procedimentos:

As crianças com dificuldades de aprendizagem foram sinalizadas pelos professores e algumas pelos psicólogos.

O teste utilizado para avaliar a CM foi a bateria de testes KTK, criada por Kiphard e Schilling (1974).

Este teste tem com o objetivo de diagnosticar as deficiências motoras em crianças com lesões cerebrais e/ou com desvios comportamentais. Este teste envolve como componentes o equilíbrio, o ritmo, a força, a lateralidade, a velocidade e a agilidade. Essas componentes foram divididas em quatro tarefas.

Atualmente o teste tem vindo a ser utilizado em diversos grupos, com crianças com e sem deficiência, uma vez que avalia a coordenação motora global e assim permite identificar crianças com distúrbios coordenativos/motores. O KTK pode ser utilizado com crianças entre os 5 e os 14 e 11 meses e a sua aplicação dura cerca de 10-15 minutos por criança.

O teste é constituído por quatro tarefas, a trave de equilíbrio, saltos monopedais, saltos laterais e transferência sobre plataformas. Na primeira tarefa verifica-se o equilíbrio dinâmico; na segunda a força dos membros inferiores; na terceira a velocidade e na quarta a lateralidade e estruturação espácio-temporal.

Se os testes forem aplicados individualmente, a bateria apresenta uma confiabilidade de 0.65 a 0.87, mas se for aplicada por completo, há confiabilidade de 0.9, o que demonstra credibilidade para a sua aplicação (Gorla et al., 2009)

Para a avaliação das capacidades coordenativas utilizam-se as tabelas originais do estudo de Kiphard e Schilling (1974). Deve transformar-se o resultado final de cada tarefa (valores brutos) em quocientes motores (QM), através da verificação das tabelas de referência para cada teste de acordo com a idade e o sexo, para por fim, efetuar a soma e obter o QM total (Ribeiro et al., 2012).

Este QM que é obtido permite classificar as crianças de acordo com o seu nível de coordenação: Perturbações da coordenação (QM inferior a 70); Insuficiência

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34

coordenativa (QM ≥71 e ≤85); Coordenação normal (QM ≥86 e ≤115); (4) Coordenação boa (QM ≥116 e ≤130) (5) Coordenação muito boa (QM ≥131 e ≤145) (Lopes et al. 2011).

Análise estatística:

Utilizou-se o teste t de Sudent, para comparar o quociente motor e o desempenho nas tarefas do teste KTK, de acordo com o género e as dificuldades de aprendizagem.

Todos os dados foram analisados através do programa Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 17.0 para Windows.

Resultados

Através da tabela 1, verificamos que a maioria (42,7%) da amostra total apresenta uma perturbação na coordenação, 38,2% coordenação normal, 17,3% insuficiência da coordenação e apenas 1,8% boa coordenação, não havendo nenhuma criança com uma coordenação muito boa.

Relativamente ao género, 42,31% dos meninos apresenta coordenação normal e 40,39% perturbação na coordenação. Enquanto que 44,83% das meninas apresenta perturbação na coordenação e 38,2% apresenta coordenação normal.

Quanto às dificuldades de aprendizagem, 50% das crianças com DA’s apresentam perturbação da coordenação e 33,3% apresentam coordenação normal. Das crianças sem DA’s 40,54% apresentam coordenação normal e 39,19% apresentam perturbação da coordenação.

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Tabela 1 - Classificação do teste KTK por amostra total, género e dificuldades de aprendizagem.

Freq. % Masculino Insuficiência da coordenação 8 15,38% Perturbação da coordenação 21 40,39% Coordenação normal 22 42.31% Boa coordenação 1 1,92% Feminino Insuficiência da coordenação 11 18,97% Perturbação da coordenação 26 44,83% Coordenação normal 20 34,48% Boa coordenação 1 1,72% Com DA's Insuficiência da coordenação 6 16,67% Perturbação da coordenação 18 50% Coordenação normal 12 33,33% Boa coordenação 0 0% Sem DA's Insuficiência da coordenação 13 17,57% Perturbação da coordenação 29 39,19% Coordenação normal 30 40,54% Boa coordenação 2 2,70% Total Insuficiência da coordenação 19 17,30% Perturbação da coordenação 47 42,70% Coordenação normal 42 38,20% Boa coordenação 2 1,80%

As tabelas 2 e 3 apresentam os resultados das comparações do total do quociente motor e das quatros tarefas do KTK por género (tabela 2) e dificuldades de aprendizagem (tabela 3). Os resultados do QM revelaram que os meninos apresentam melhor coordenação motora comparando com as meninas, havendo diferenças significativas na tarefa dos saltos laterais (p=.002). Quando se compararam os grupos com e sem dificuldades de aprendizagem, apesar dos melhores resultados do grupo de crianças sem DA, apenas se registaram diferenças significativas na tarefa saltos monopedais (p= .028).

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Tabela 2- Comparações do total do QM e das tarefas do teste KTK por género.

Feminino

Masculino

t

p

média

Desvio-padrão

média

Desvio-padrão

Equilíbrio

88,155

11,9939

85,981

11,1593

0,981

.329

Saltos

Monopedais

86,466

14,0428

89,423

14,3832

-1,090

.278

Saltos

Laterais

92,569

16,4915

102,923 17,4635

-3,197

.002*

Transferência

sob

plataformas

74,672

15,7228

79,019

14,0622

-1,521

.131

Total QM

81,172

14,6457

86,077

15,4702

-1,707

.091

*p<.05

Tabela 3- Comparações do total do QM e das tarefas do teste KTK por dificuldades de aprendizagem.

Com DA’s

Sem DA’s

t

p

média

Desvio-padrão

Média

Desvio-padrão

Equilíbrio

84,27

10,1041

88,514

12,0913

-1,815

.072

Saltos

Monopedais

83,611

11,3749

89,932

15,05

-2,228

.028*

Saltos Laterais

93,611

16,1445

99,338

18,1616

-1,607

.111

Transferência

sob

plataformas

77,306

12,5898

76,446

16,1874

0,280

.780

Total QM

80,139

13,0606

85,122

15,9279

-1,628

.106

(37)

37

Discussão

O objetivo do presente estudo foi caracterizar e comparar a coordenação motora de crianças entre os 5 e os 10 anos, de acordo com o género e as dificuldades de aprendizagem.

Os resultados revelaram que 42,7% das crianças apresenta perturbações na coordenação motora, 38,2% coordenação normal, 17,3% insuficiência na coordenação e apenas 1,8% boa coordenação, não se verificando nenhuma criança com muito boa coordenação.

Estes resultados vão de encontro aos estudos de Lopes et al. (2003), Maia e Lopes (2002) e Monteiro et al. (2010), que também evidenciaram a reduzida coordenação motora das crianças. Esta pode ser devido a uma pouca vivência corporal, ou devido a fatores genéticos ou problemas neurológicos (Aragão, (2010)), ou também devido a estilos de vida sedentários das crianças, que é um dos preditores de uma reduzida coordenação motora como verificado também nos estudos de Lopes, Rodrigues & Maia, (n.d). e Lopes, Santos, Pereira & Lopes (2012).

Verificou-se também, através dos resultados, que os meninos apresentam melhor coordenação motora, tendo a maioria coordenação normal (42,31%). As meninas apresentaram, maioritariamente, perturbação na coordenação (44,83%). Estes resultados revelam que os rapazes possuem valores superiores do total do quociente motor, assim como, nas tarefas do KTK, apesar de não existirem diferenças significativas à exceção da tarefa de saltos laterais.

As diferenças reveladas entre os dois sexos, nomeadamente na tarefa de saltos laterais, pode dever-se a questões culturais e às oportunidades de atividade física proporcionadas a cada, uma vez que os meninos desde cedo são incentivados à prática de desporto, vindo assim a apresentar maiores níveis de atividade física, enquanto que as meninas são direcionadas a brincadeiras realizadas dentro de casa, realizando assim menos atividade física que os meninos e consequentemente um menor desenvolvimento das capacidades que envolvem a atividade física. (Collet et al. (2008); Lopes (1998); Lopes et al. (2003) e Valdivia et al. (2008)). Estes resultados foram também verificados nos estudos de Collet et al. (2008); Deus et al. (2010); Graf et al. (2004); Lopes et al. (2003), V. P. Lopes et al. (2012); Maia e Lopes (2002); Melo e Lopes (2013); Monteiro et al. (2010) e Valdivia et al. (2008).

Analisando os resultados referentes às dificuldades de aprendizagem, a maioria das crianças com dificuldades de aprendizagem apresenta perturbação da coordenação (50%), enquanto que as crianças sem dificuldades (39,19%) apresentam, na sua maioria, perturbação na coordenação. Foram verificadas diferenças

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38

significativas na tarefa de saltos monopedais. Estes resultados mostram que as crianças com DA’s têm maiores dificuldades a nível da coordenação motora e consequentemente resultados do total do quociente motor inferiores aos das crianças sem DA’s.

Estes resultados vão de encontro aos estudos de Dewey, Kaplan, Crawford, & Wilson (2002); Fonseca (1995); Jongmans, Smits-Engelsman, & Schoemaker (2003); Kourtessis et al. (2008); Moreira, Fonseca, & Diniz, 2000; Ramus et al. (2003); Visser (2003); Silva & Beltrame (2011); Silva et al. (2012), que defendem que as crianças sem dificuldades de aprendizagem apresentam um melhor desempenho a nível motor. Relativamente às diferenças encontradas nos saltos monopedais, estes resultados podem dever-se ao facto das crianças com dificuldades de aprendizagem apresentarem dificuldade em competências psicossociais ou psicomotoras, como orientar-se no espaço, desenhar ou interagir socialmente com o outro (Fonseca (2005) cit in Vilar (2010)). Este resultado vai também de acordo com os estudos de Fawcett & Nicolson (2007); White et al. (2006), que referem que as crianças com dificuldades de aprendizagem em escrita e leitura apresentaram piores resultados no equilíbrio.

Conclusões

De acordo com o objetivo delineado, verificou-se que os meninos apresentam níveis de coordenação motora superiores ao das meninas, assim como as crianças sem dificuldades de aprendizagem apresentam níveis de coordenação motora superiores ao das crianças com dificuldades de aprendizagem, tanto no quociente motor como nas quatro tarefas do teste KTK.

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Tabela 1 - Classificação do teste KTK por amostra total, género e dificuldades de aprendizagem
Tabela 2- Comparações do total do QM e das tarefas do teste KTK por género.
Tabela 4 - Classificação do teste KTK por amostra total
Tabela 6 – Regressão entre as variáveis idade, altura, peso e IMC e o QM total, Equilíbrio, saltos  monopedais, saltos laterais e transferência de plataformas
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