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SERGIO LUIZ DA CUNHA

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Academic year: 2019

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SERGIO LUIZ DA CUNHA

UM OLHAR SOBRE O ENSINO:

A Formação do Professor e o Ensino de Arte nos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental (1ª a 4ª séries)

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura.

Orientador: Prof. Dr. Norberto Stori

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SERGIO LUIZ DA CUNHA

UM OLHAR SOBRE O ENSINO:

A Formação do Professor e o Ensino de Arte nos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental (1ª a 4ª séries)

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura.

Orientador: Prof. Dr. Norberto Stori

BANCA EXAMINADORA

___________________________________

___________________________________

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Dedico este trabalho aos meus pais e irmãos, a meus amigos, aos

professores de Arte da Diretoria de Educação do Município de

Cajamar/SP. A todos os meus alunos e, sobretudo, aos professores

que fizeram muita diferença em minha trajetória escolar: Luiza dos

Santos, Ana Lúcia, Luiz Dalpério, Jandira, Carmem Cecília, Fátima

(4)

AGRADECIMENTOS

Meu primeiro agradecimento a Deus, pela vida.

Ao compreensivo orientador, Prof. Dr. Norberto Stori, pelas indicações seguras e precisas na busca da perfeição e consolidação deste trabalho.

À Professora Maria Terezinha Telles Guerra, por sua contagiante paixão à arte.

À Diretora de Educação de Cajamar, Professora Lúcia Maria de Carvalho, pelo apoio e viabilização dessa pesquisa.

Às Professoras Alfredina Nery e Yolanda Fogaça, pelo carinho e ensinamentos.

À amiga e companheira, Professora Patrícia da Silva Costa, por ser uma excelente ouvinte e primeira leitora de minhas idéias.

Ao amigo Claudinei Amado Makiama, pela paciência e compreensão.

Às queridas amigas, Andréa Ribas, Renata Olaia, Ângela Massagardi, Eliana Gonçalves, Marli Tavares, Gláucia Rodrigues e Cristiane Almeida, companheiras de trabalho, de risadas e muitas trocas e aprendizagens.

À Professora Andréa Dalcin, pelo encorajamento e satisfação ao participar e compartilhar momentos de muito trabalho, dicas e amizade.

À Professora e amiga, Kátia Margareth Castilho, pela presença e correção aos meus escritos.

À Professora Rosa Iavelberg, pela atenção na leitura de meu texto, pelas dicas sábias e certeiras.

À Professora Maria das Graças Nicoleti Mizukami, pela alegria, pelas excelentes aulas e por orientações necessárias.

Aos colegas de Mestrado, Francione Oliveira e Gilberto Garcia, hoje amigos de toda hora. À querida e sempre presente amiga Daniela Culpanni Paz, com quem pude tecer longas conversas e de fato comprovar que é possível ser um competente professor de Arte. A todos os professores e alunos da Rede Municipal de Ensino de Cajamar, onde foi possível a concretização deste trabalho.

(5)

À Professora Janice Muller, amiga e companheira de trabalho, pela tradução do abstract.

E ainda à tantas outras pessoas, que de uma forma ou de outra, acabaram participando deste trabalho:

(6)

RESUMO

A presente pesquisa de dissertação de mestrado relata a experiência da Implantação de Professores Especialistas na área de Arte nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1ª a 4ª Séries), desenvolvido pela Diretoria Municipal de Educação de Cajamar, em São Paulo, aplicada por meio de sua Oficina Pedagógica em dezesseis escolas da Rede Pública Municipal, coordenada por um Assistente Pedagógico de Arte. Trata-se de uma política pública que insere nos anos iniciais, o ensino de Arte, privilegiando as quatro linguagens: Artes Visuais, Música, Dança e Teatro. Cada uma das linguagens foi trabalhada em projetos com periodicidade semestral, todos articulados na concepção de arte enquanto conhecimento e linguagem, embasados nos momentos de fruição, produção e contextualização. Esta pesquisa centra o olhar em duas escolas da Rede Pública Municipal e, consequentemente, em seus professores e alunos. O maior objetivo deste trabalho foi de contribuir com o trabalho do professor e sua formação, para tanto, foram realizadas orientações, análises, discussões e reflexões em Oficinas de Arte que tocavam em concepções de ensino e de aprendizagem que estão por trás das aulas. Foram muitas as observações no que diz respeito à formação dos professores, como eles elaboram suas aulas, como pensam a arte para crianças, ou seja, o que de fato é relevante no ensino da Arte. Com isso, a pesquisa avalia como essas orientações foram recebidas pelos professores, como chegaram às escolas e aos alunos. Cada um dos capítulos aborda questões ligadas à arte e seu ensino, apresentando o documento de Implantação do Ensino de Arte na Rede Pública Municipal de Cajamar – SP, os caminhos já trilhados, os projetos desenvolvidos, o perfil dos professores, a arte e o letramento dos alunos, um breve resumo do Histórico do Ensino da Arte no Brasil. Faz-se necessário salientar que de forma alguma esta dissertação pretende criar novas metodologias para o ensino de Arte, muito menos esgotar o assunto, mas pretende revelar como foi o processo de implantação e formação de professores especialistas da área nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

(7)

ABSTRACT

The present dissertation research, reports the experience of the Implantation experts teachers in the Arts on the First Years of the Fundamental Teaching (1st to 4th grades). Developed by the Municipal Education of Cajamar city, in São Paulo painstaking by it’s Pedagogical Workshop in sixteen Municipal Public Nets, this coordinated by ass Art Pedagogical Assistant. This is a public politics that inserts on the Initials Years the Art Teaching, privileging the four languages: Visual Arts, Music, Dance and Theater. Each one of the Languages were worked in projects with semestral periodicity, all of them articulated in the art conception, while Knowledge and Language, embassy in the fruition, production and contextualized. This research is focused in two Municipal Public Schools and in addition in its teachers and students. The biggest objective of this job was to contribute with teacher’s work and his Formation, and for that, there were realized orientations, analysis, discussions and reflex in its Arts Workshops, which discuss conceptions in Arts workshops which discuss in conceptions of the knowledge instruction in that are behind the classes. There were a lot of observations in concern of the teacher’s formation, how do they prepared their classes, how do they think of the Art for the child. That means, what in base is relevant in the, art knowing. The research with this, evaluates how these orientations were received by the teachers, how did it come to the schools and to the students. Each one of the chapters aborts the questions connected to the art and its knowing in the Municipal Public Net of Cajamar – SP, the places which are already traked, the developed projects the teachers profile, the art and the teaching of the students. A short abstract, of the teaching historical of the Brazil Art. It’s necessary to project that in any way this dissertation intends to creates new methodology to the Art teaching, that intends to exposed how was the implantation and formation teachers experts process in the area in the first Teaching Fundamental Years.

(8)

SUMÁRIO

(9)

SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO...12

1.1 Justificativa ... 22

2. INTRODUÇÃO ... 33

3. CAMINHOS TRILHADOS ... 43

3.1. A Arte como Conhecimento...45

3.2. A Arte como Linguagem ...47

3.3. O Papel do Professor de Arte...48

3.4. O Porquê das Quatro Linguagens...52

4. A IMPLANTAÇÃO DO ESPECIALISTA DE ARTE ...55

4.1. Documento de Implantação...55

4.1. 1. Organização do ensino da Arte ...58

4.1. 2. Conteúdos...59

4.1. 3. Critérios para seleção de conteúdos ...61

4.1. 4. Conteúdos gerais de arte ...62

4.1. 5. Conteúdos de Artes Visuais ...63

4.1. 6. Conteúdos de Dança...65

4.1. 7. Conteúdos de Música ...67

4.1. 8. Conteúdos de Teatro ...70

4.1. 9. Conteúdos que envolvem normas, valores e atitudes ...72

4.1. 10. Estrutura das Oficinas ...74

4.1. 11. Oficinas ...74

5. O PROFESSOR E AS AULAS DE ARTE ...77

5.1. Projetos em Arte ...77

5.2. A Avaliação Diagnóstica Inicial...79

(10)

5.4. O Projeto de Música ...84

5.5. O Perfil dos Professores...85

5.6. O Papel do Formador ...86

6. DA ARTE AO LETRAMENTO ...89

6.1. Ler e Escrever nas Linguagens Artísticas...90

7. HISTÓRICO DO ENSINO DE ARTE NO BRASIL ...98

7.1. O que vem antes do ensino de Arte na Escola Tradicional ...101

7.2. A Arte na Escola Tradicional ...102

7.3. A Arte na Escola Nova...104

7.4. A Arte na Escola Tecnicista...107

7.5. A Arte na Escola Libertadora...109

7.6. A Arte na Escola Libertária ...109

7.7. A Arte na Escola Crítico-Social dos Conteúdos ...110

7.8. A Arte na Escola Construtivista ...111

CONCLUSÃO...114

1. UM OLHAR PANORÂMICO ...114

1.1. A formação do Professor e a Arte na Rede Pública...115

BIBLIOGRAFIA...123

APÊNDICE A: Projeto de Artes Visuais...131

APÊNDICE B: Projeto de Música ...199

ANEXO 1: Questionários...247

(11)

APRESENTAÇÃO

(12)

1. APRESENTAÇÃO

Tendo cantado a cigarra durante o Verão,

Apavorou-se com o frio da estação.

Sem mosca ou verme para se alimentar,

Com fome, foi ter com a formiga, sua vizinha,

Pediu-lhe alguns grãos para se saciar,

Até vir a época mais quentinha!

"Eu pagarei", disse ela,

"Antes do Verão, palavra de animal,

Com juros e o capital."

A formiga não gosta de emprestar,

É um dos seus defeitos.

"O que fazia amiga cigarra no calor de outrora?"

Perguntou-lhe com alguma esperteza.

"Noite e dia, eu cantava,

Sem querer dar-lhe desgosto."

"Cantava? Que beleza!

Pois, então, agora dance!"

(13)

A CIGARRA E A FORMIGA

Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé do formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.

Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos, arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.

A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.

Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu tique, tique, tique...

Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.

- Que quer? Perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir. - Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu...

A formiga olhou-a de alto a baixo.

- E que fez durante o bom tempo que não construiu a sua casa?

A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse. - Eu cantava, bem sabe...

- Ah!... Exclamou a formiga recordando-se.

Era você então que cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?

- Isso mesmo! Era eu...

- Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.

A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.

(14)

Começo este texto apresentando duas versões da fábula “A cigarra e a formiga”,

a primeira criada por Jean de La Fontaine1 no século XVII. Como era um membro da corte francesa La Fontaine criticava a sociedade por meio de suas fábulas. Em sua

versão o autor coloca o trabalho da formiga, seu esforço pessoal para armazenar

alimentos para o inverno que está próximo, em contraposição à descontração e à

preguiça da cigarra, que não faz outra coisa senão cantar.

Já a segunda versão, escrita pelo brasileiro Monteiro Lobato2 no início do século XX, traz um reconhecimento do ofício de cantar. Quando a cigarra bate à porta da

formiga pedindo lhe abrigo, esta a acolhe e reconhece que seu canto alegrou-lhe

durante seu trabalho no verão.

E o que isso tem a ver com este trabalho? Pode-se dizer que tudo. Na verdade,

pretendo destacar dois pontos: o primeiro é que hoje e há muito tempo, a arte está

distante da sociedade, a qual, por não ter acesso a ela, acaba por compreendê-la como

desnecessária, supérflua. Que arte é pra matar o tempo, não serve pra nada. Não é

profissão. O segundo é que quero contar um pouco da minha trajetória pelos caminhos

da arte, passando por entre todas as crenças que a envolvem e, consequentemente, a

arte-educação.

1

Jean de La Fontaine (Champagne, 8 de Julho de 1621 – Paris, 13 de Abril de 1695) foi um poeta francês. É conhecido pelas diversas fábulas com críticas de moral que escreveu. É considerado o pai da fábula moderna, sobre a qual declarou: "É uma pintura em que podemos encontrar nosso próprio retrato". Escreveu e reeditou muitas fábulas, entre elas, algumas de Esopo.

2 Monteiro Lobato. (Taubaté, 18 de abril de 1882 — São Paulo, 4 de julho de 1948) Contista, ensaísta e

(15)

Confesso que saber que a sociedade ainda considera, em muitos casos, a arte

supérflua, desnecessária e na escola como distração, lazer, descanso ou terapia é uma

grande contradição, pois como nos afirma Antonio Fernando Costella em seu livro:

“Para Apreciar a Arte”, (2002: 07), no século XX os bens tradicionais da cultura foram

incorporados à sociedade de consumo. É incrível a quantidade de reproduções de

obras de arte que são editadas a cada dia, quantos CDs, CDs Rom, DVDs e vídeos são

gravados, como a propaganda tem se utilizado cada vez mais da arte e de seus

produtos. Então, por que será que mesmo com esse turbilhão de informações, de

imagens de arte que nos rodeiam, que estão presentes na televisão, nas ruas,

outdoors, transportes coletivos, internet etc., muitos ainda não a compreendem, ainda

não param para apreciá-la e fruí-la? Por que será que depois de um rápido olhar ou

manuseio, desistimos de aprofundar nossos conhecimentos, nossa percepção e

interlocução com esses produtos?

De acordo com Costella:

É fácil massificar a informação a respeito desses bens, mas é difícil massificar o conteúdo que eles encerram [...]. A mera divulgação dos bens culturais, portanto, nem sempre enriquece culturalmente as pessoas. Se o simples contato físico com tais bens garantisse a apreensão plena da cultura, os maiores conhecedores de literatura seriam sempre recrutados dentre os balconistas das livrarias. (COSTELLA, 2002:11)

Garantir a fruição em arte, que os sujeitos possam usufruir desse vasto

(16)

necessário instrumentalizar o expectador para apreender a mensagem contida em uma

obra de arte e isso requer esforço por parte dele, para o aprimoramento de sua

capacidade de percepção.

A escola é fator preponderante para essa apreensão qualitativa e significativa da

arte, pois além de incentivar a criatividade, facilita o processo de aprendizagem e

prepara melhor o aluno para enfrentar o mundo. A arte desenvolve a cognição, a

capacidade de aprender. Nos leva a fazer comparações, a passar do estado das idéias,

do pensamento para o estado da comunicação, da expressão, nos ajuda a formular

conceitos e hipóteses e a descobrir como se comunicam esses conceitos. Contribui

para que o aluno seja capaz de compreender, ler e analisar o mundo em que vive e,

com isso formular respostas mais inventivas e criativas para as mais diversas situações.

Isso acontece com os artistas o tempo todo, seja para adequar suas idéias, para criticar

e/ou denunciar problemas, tentar resolvê-los, ou ainda, para nos encantar e até mesmo

nos sublimar, forma esta, de nos tirar das mazelas do dia-a-dia.

Com tudo isso me vem à mente o ensino de Arte pela qual passei, na verdade

as aulas de Educação Artística que tive durante o ginásio, no magistério até chegar à

faculdade. Mas antes disso tudo, lá no primário, recordo do que fazíamos nas aulas de

Educação Artística: presentes para o dia das mães, dia dos pais, desenhos

mimeografados, alguns jograis. No início de minha vida escolar tive a oportunidade de

ter uma professora que valorizava meus desenhos, pois desde muito cedo eu já

desenhava, antes mesmo de entrar na escola minha mãe havia me colocado para fazer

aula de pintura, omitindo do meu pai, é claro, pois menino na cabeça dele não podia

fazer estas coisas. Mas voltando à primeira professora, foi ela quem valorizou os

(17)

flores, árvores, gente, estrelas, lua, sol, planetas e personagens das histórias em

quadrinhos como a turma da Mônica, a Luluzinha, o Tio Patinhas. Quando não sabia

escrever alguma palavra ou frase ela sempre dizia com um sorriso largo no rosto:

- Não tem problema! Consigo entender se você desenhar!

E assim, a cada desenho me ensinava a escrever a palavra que nomeava o

mesmo, e ao final do ano, além de desenhar eu já escrevia e lia muito bem.

Depois disso, não recordo mais de alguma experiência com o desenho na escola

durante o primário, a única coisa que sei é que jamais desisti de desenhar, e quando

estava na terceira série ganhei de presente de meu pai uma coleção de livros contando

a arte do mundo todo, inclusive a coleção se chamava “O Mundo da Arte”, eram dez

livros que relatavam, de forma difícil para um menino de nove anos, a arte desde a

pré-história até a modernidade. Tenho oito exemplares desta coleção até hoje, não sei o

que aconteceu com dois deles.

Ao ingressar na quinta série descobri que teria uma aula só de desenho,

chamada Educação Artística, logo nos primeiros dias já me frustrei, pois tínhamos um

“bendito” livro que nos dava pouco espaço para o desenho, as aulas eram mais de

leitura, teóricas e eu queria desenhar. Após uns dois meses de aula, surgiu na escola

um concurso de desenho, não lembro o tema, logo me inscrevi e acabei ganhando o

prêmio. E com todo mundo comentando que havia ganhado o tal prêmio, o professor de

Educação Artística começou a me notar e, então começou a propor que eu desenhasse

cada vez mais, ele trazia coisas para desenhar em casa, uma cópia de um vaso de

flores num dia, no outro a tarefa era desenhar um avião, e até mesmo me presenteava

com algumas imagens de artistas famosos, como a “Monalisa” de Leonardo da Vinci

(18)

sobre arte, nesta época, por causa de uma professora de Língua Portuguesa, que

iniciava suas aulas com música de boa qualidade, lembro de ter ouvido Chico Buarque

pela primeira vez em suas aulas. Ela sempre nos incentivou a gostar de coisas boas de

nossa música, garantia leituras de textos dramáticos, recitais de poesias, saraus,

dramatizações que envolviam a escola toda. Apaixonei-me por teatro nessa época, e

com isso passei a ser um leitor assíduo de Shakespeare, Molière, Guarnieri, Ionesco,

Suassuna e Maria Clara Machado, assim passaram-se mais alguns anos. Já na oitava

série troquei de escola e, consequentemente de professor, na nova escola conheci uma

professora de Educação Artística, que tratava a arte como trabalho manual, então em

sua aula construíamos coisas, pintávamos telas, fazíamos cestos, vasos em argila,

chegamos até a fazer uma escultura com isopor.

Durante o magistério tive duas professoras, estas sempre valorizavam a minha

habilidade para a arte e me incentivaram a fazer faculdade de Belas Artes, embora já

percebesse que arte podia ser muito mais do que aquilo que elas me ofereciam em

suas aulas, pois eram voltadas, ainda, para a questão do fazer, do produzir e não da

reflexão que nos pode causar uma obra de arte.

Com toda essa curiosidade, essa “alimentação” em arte é que decidi, então,

encarar uma faculdade de arte. Já com a matrícula em mãos, caí numa sala de aula e

comecei a reproduzir as aulas que havia tido durante o ginásio e o magistério, o que de

fato, não era suficiente para os alunos. Uma questão sempre me intrigava, como posso

ensinar arte se não sei “muito” sobre arte? Daí minha conclusão: para ser um bom

professor não basta ser excelente desenhista, pintor etc., é necessário saber arte,

saber fazer arte e também saber sobre metodologia de Ensino da Arte, saber planejar,

(19)

E por que estou contando toda esta história? Foi passando por todas essas

crenças e questões que cheguei à conclusão da importância da arte na escola. Como

seria se tivesse tido um contato mais sistemático com a arte, seus produtos e

produtores? Se pudesse ter refletido, apreciado, discutido obras de arte com mais

freqüência? Por isso concordo com Ana Mae Barbosa, quando nos diz:

A escola seria a instituição pública que pode tornar o acesso à arte possível para a vasta maioria dos estudantes em nossa nação. Isto não só é desejável, mas essencialmente civilizatório, porque o prazer da arte é a principal fonte de continuidade histórica, orgulho e senso de unidade para uma cidade, nação ou império, disse Stuart Hampshire alguma vez em algum de seus escritos. [...] A escola seria o lugar em que se poderia exercer o princípio democrático de acesso à informação e formação estética de todas as classes sociais, propiciando-se na multiculturalidade brasileira uma aproximação de códigos culturais de diferentes grupos. (BARBOSA, 1994:33)

Por isso se fez necessária esta pesquisa, a qual discute a formação do professor

e o trabalho com arte nos Anos iniciais do Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries).

A partir disso analisei, refleti, discuti e vivenciei aulas e oficinas de arte, tocando

em concepções de ensino e de aprendizagem que estão por trás das aulas. Foram

muitas as observações no que diz respeito à formação dos professores, como eles

elaboram suas aulas, como pensam a arte para crianças, o que de fato é relevante no

ensino da Arte. E, ainda, discuti e refleti sobre a implantação do ensino de Arte

(20)

2007, segundo o Projeto Oficinas de Arte – Implantação, nas escolas da Rede

Municipal de Cajamar / SP.

Diante disso, os principais questionamentos que permearam este trabalho foram: a

presença do Professor Especialista de Arte tem contribuído para maior envolvimento,

compreensão e formação dos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, na área

de arte? Como tem se dado essa presença? Sobre a formação desse professor: Como

foi ou tem se dado?

A pesquisa foi desenvolvida com base no seguinte pressuposto: a importância de

se trabalhar com o ensino da Arte nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1ª a 4ª

Séries) relacionado aos momentos de Apreciação Artística e Estética, da História da

Arte e seus contextos e também da Produção em Arte, configurando a alfabetização

estética dos alunos, suas relações com a arte elaborada pela sociedade, por si próprios

e por seus colegas. Observando e confrontando a formação do professor e seu trabalho

em sala de aula.

O objetivo maior dessa pesquisa sempre foi o de poder refletir e contribuir com a

Formação de professores de Arte nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1ª a 4ª

Séries).

Para tanto se fez necessário fundamentar teoricamente o estudo, tanto do

pesquisador quanto do público envolvido, por meio do histórico do ensino da Arte, suas

concepções e abordagens. Avaliar a implantação do ensino da Arte por professores

especialistas, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em duas escolas da Rede

Municipal de Cajamar/ SP. Observar, refletir, analisar e vivenciar aulas e oficinas de

arte, discutindo propostas para o ensino de Arte nos anos iniciais. Produzir aulas e

(21)

JUSTIFICATIVA

(22)

1.1. JUSTIFICATIVA

A formação do professor de arte e a construção de sua identidade fazem parte

de um longo e complexo processo histórico que ainda tem muito por desvelar para

garantir a autonomia e o reconhecimento desse profissional.

Por vários motivos, um grande contingente de professores, oriundos dos mais

diversos cursos de licenciatura em arte, lecionam nas escolas brasileiras sem a devida

formação que legitime suas experiências e conhecimentos. Isto tem reduzido a

utilização da arte apenas como instrumento didático. Faltam a estes professores

atualização permanente e os programas de formação dos quais fizeram ou fazem parte,

de uma maneira geral, não são adequados.

A competência do professor de arte passa obrigatoriamente pela experimentação

e exercício da linguagem artística, assim como do conhecimento dos referenciais

teóricos que embasam a arte e sua prática no contexto escolar. Além da bagagem

cultural como indivíduo, o professor deve deter uma cultura pedagógica e nunca

negligenciar o repertório cultural de sua clientela, presente nas mais diversas

linguagens (verbal, visual, musical, corporal etc.). De acordo com De Camillis:

(23)

Estamos num espaço de tempo em que a arte tem sido complementar à

formação humana. É muito comum, com isso, que o ensino de Arte, encontre-se

espremido entre as outras áreas do currículo. Seja utilizado como complemento dessas

outras disciplinas, para preencher espaços de tempo, para diminuir a agitação da

classe etc. Esses fatores levam à diminuição do espaço da arte na escola.

Todos nós que passamos por uma escola, tivemos a oportunidade (ou a obrigação) de freqüentar ‘aulas de arte’. De uma ou de outra forma, aquelas aulas estavam lá: espremidas entre disciplinas que em geral eram consideradas ‘mais sérias’, ou ‘mais importantes’, para nossa vida futura. (DUARTE JR, 2001:09)

Concordando com Duarte Jr, é muito possível que nos lembremos de nossas

aulas de arte como a aula da “bagunça”, da “curtição”, onde nada era chato, não era

necessário ler e muito menos escrever, somar, calcular etc. A partir dessas lembranças,

é muito fácil chegar à conclusão de que as aulas de arte eram para nos divertir, para

descansarmos das outras disciplinas mais importantes, nos serviam como relaxamento

e lazer. Nunca discutíamos para o que elas serviam. Qual a utilidade delas. Se seria

necessária para nossa vida futura. Nunca ligamos a arte ao conhecimento. Será que

essas aulas não poderiam nos ajudar a ser melhores? Será que a arte na vida do ser

humano, não é algo mais do que simples lazer? Qual será o papel da arte na

educação? Como a arte pode contribuir mais efetivamente para o nosso

(24)

A arte desenvolve a percepção, o pensamento, a capacidade de aprender e

muitas outras possibilidades. Ela propõe questionamentos, comparações, estabelece

relações, nos tira do campo das idéias e nos leva ao campo da comunicação. Tudo isso

faz com que sejamos capazes de analisar, ler e interpretar o mundo no qual vivemos,

que consigamos nos relacionar artística/estética e criadoramente com ele,

atribuindo-lhe significados. A arte não é apenas uma conseqüência de modificações culturais, é

também, o instrumento que pode provocar tais modificações e, portanto, é necessário

que o sujeito seja instrumentalizado para a arte.

O ensino de Arte precisa abordar o “ver”, o “fazer” e o “conhecer”, eixos de

aprendizagem que contextualizam a leitura (apreciação), a prática (produção) e a

história da arte (conhecimento). Essa teoria, adotada no Brasil pela arte-educadora Ana

Mae Barbosa, ficou conhecida como “Abordagem Triangular”. Para se aprender arte, é

necessário ver arte e atribuir significados a ela. Contextualizar as obras não só do ponto

de vista artístico, mas também do ponto de vista social, econômico, histórico etc., além

de experimentar procedimentos e técnicas, diferentes meios e suportes de produção

em arte.

Esta pesquisa parte de estudos e discussões que tocam os aspectos básicos da

área de arte, ou melhor, seu ensino: apreciar, conhecer, compreender e produzir arte,

analisando “aulas e oficinas de arte”. Ao estruturarem-se estas reflexões, procura-se

fundamentar, evidenciar e expor princípios e orientações, tanto no que se refere ao

ensino e à aprendizagem, como também à compreensão da arte como manifestação

humana.

O primeiro ponto desta reflexão esboça os caminhos já trilhados para o ensino

(25)

que fundamentam este trabalho. Num segundo momento apresenta o documento que

rege a implantação do professor especialista de arte nos anos iniciais do Ensino

Fundamental, elencando objetivos e conteúdos. Ainda, analisa o trabalho e a vivência

desse ensino em aulas e oficinas de arte e suas contribuições no desenvolvimento

perceptivo, estético, produtivo e cognitivo. Traz questões que envolvem a arte e o

letramento. Finalmente, faz uma análise da História do Ensino da Arte no Brasil e

realiza um olhar panorâmico sobre a formação dos professores e a arte na Rede

Pública Municipal.

É preciso que tenhamos a coragem de assumir que as possibilidades de o

homem vir a ser sujeito da história também dependem da presença da arte em nossas

escolas. Mais do que nunca, o homem necessita da arte e os novos tempos a exigem

na escola, incluída na formação do ser individual e social enquanto Educação Artística

e Estética.

Desse modo, partindo desses pressupostos: analisar, refletir, discutir e vivenciar

aulas de arte observou-se a contribuição da arte para a formação dos professores e seu

impacto nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries).

A sociedade contemporânea caracteriza-se por novas tecnologias associadas a

diferentes linguagens: a visual, a musical, a gestual/corporal, que nos é apresentada

por meio da dança e do teatro, as quais enfatizam a imagem, o som e o movimento,

estabelecendo diálogos, por meio de códigos específicos, com símbolos próprios que

expressam uma intenção e formas diferenciadas de ler, interpretar e manifestar-se

frente ao mundo.

Se educar é formar o sujeito crítico, criativo, a partir desta leitura de mundo,

(26)

Fazendo arte expressamos quem somos, como nos sentimos, como pensamos, nos tornamos mais críticos e sensíveis: nos damos a conhecer ao outro. Conhecendo e fruindo arte, ampliamos nossa percepção de mundo, nossa relação com o outro: com uma criança, uma cultura, uma época, enfim, é a humanidade que se dá a conhecer a nós. (GUERRA, 2001:55.)

Os dados para esta pesquisa foram coletados em duas escolas da Rede Pública

Municipal de Cajamar/SP, onde existem professores especialistas da área de arte,

ministrando aulas nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries). Como

recursos foram utilizadas observações e análise de aulas, entrevistas com educadores,

gestores, alunos e comunidade em geral, também por meio de questionários e na

própria produção de aulas e recursos educativos em arte.

Para atingir os objetivos do projeto, realizou-se um levantamento bibliográfico

referente ao tema pesquisado, observando: Aspectos históricos do ensino da Arte.

Propostas Curriculares para o ensino da Arte (Documentos Oficiais, Leis, Decretos

etc.). Obras que enfocassem a docência em arte. A relação entre a formação do

professor e o ofício de ensinar. Aspectos históricos da arte. E por fim a aplicação do

projeto de pesquisa.

E, ainda, práticas educativas para reflexão e construção de recursos educativos

em arte e proposições de oficinas de formação dos professores.

Para a realização deste trabalho foram realizadas a pesquisa qualitativa e a

(27)

pesquisador em contato direto com o ambiente e a situação que está sendo

investigada.

A pesquisa qualitativa ou naturalística, segundo Bogdan e Biklen (1982) envolve obtenção de dados descritivos obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. (LUDKE e ANDRÉ, 1986:13)

A pesquisa teve como público alvo os alunos dos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental (1ª a 4ª Séries), das escolas: EMEF Prof.ª Maria Elce Martins Bertelle e

EMEF Maria Gonçalves de Freitas Gonçalves e, consequentemente seus professores

de arte.

Caracterização das Unidades Escolares pesquisadas.

EMEF Prof.ª Maria Elce Martins Bertelle

A EMEF. Prof.ª Maria Elce Martins Bertelle situada à Rua das Cisalpinas, nº 250

no bairro do Parque São Roberto em Cajamar foi instalada a partir de 12/02/1977 e

criada pela RES. SE nº. 25 de 14/02/77 com o nome de Escola Estadual de Primeiro

Grau (Agrupada) do Parque São Roberto. O Prédio escolar contava apenas, com a

estrutura do primeiro bloco, ou seja, apenas três salas que ainda se encontravam em

fase final de acabamento.

A escola iniciou o seu funcionamento com seis classes do 1º ao 4º ano,

(28)

07h00min h às 11h30min h, com 03 classes de 2º, 3º e 4º Anos. No segundo período

funcionavam 03 classes de 1º Anos. As salas tinham em média 35 alunos.

Pelo decreto 11.168 de 15/02/78, com retroação a 01/02/78 foi criada a Escola

Estadual de Primeiro Grau do Parque São Roberto e instalada pela RES. SE de

11/04/78, com 10 classes do 1º ao 4º Ano.

Com a Lei 2.261 de 28/12/79 a escola recebe a denominação de Escola Estadual

de Primeiro Grau Prof.ª Maria Elce Martins Bertelle, por sugestão de alguns munícipes

e apresentada na Assembléia Legislativa pelo deputado Ricardo Izar, passando a

ministrar o ensino de primeiro grau com classes de 1ª a 8ª series, até sua

municipalização.

Em 31/12/97 a escola foi municipalizada pela Lei Municipal 939/97, com a

denominação de Escola Municipal de Ensino Fundamental Prof.ª Maria Elce Martins

Bertelle, ministrando o Ensino Fundamental de Primeiro Grau para 18 classes de 1ª a

4ª series do primeiro ciclo, distribuídas em dois turnos: manhã e tarde.

A partir de 2001 a escola passou a ministrar o ensino Supletivo para Jovens e Adultos,

no período noturno. Atualmente conta com 232 alunos na EJA de 5ª a 8ª series e 571

alunos no ensino Regular.

A partir de sua instalação a escola vem atendendo a criança como um todo,

através de uma filosofia pedagógica objetiva e prática, onde o aluno é o centro das

atenções de todas as pessoas envolvidas no processo ensino/aprendizagem buscando

um ensino de melhor qualidade, uma adaptação social da criança à escola e o

comprometimento do corpo docente no desempenho de seu papel de educador,

(29)

Os alunos que freqüentam esta unidade residem nos bairros próximos. A grande

maioria mora com os pais em casa de alvenaria, próprias e/ou alugadas, mas existe

uma pequena porcentagem de crianças que habitam barracos. As famílias possuem em

média de dois a quatro filhos, sendo que os pais trabalham em atividades diversas

como funcionários de empresas da região, pequenos e médios comerciantes,

vendedores ambulantes, funcionários da prefeitura municipal, autônomos etc. Existe

também um grande número de pais desempregados.

O nível sócio econômico e cultural dos familiares é baixo, a faixa salarial varia entre

dois e três salários mínimos, sendo que apresentam o nível de escolaridade equivalente

ao de 5ª a 8ª série do ginásio.

As atividades de lazer dessa comunidade são bastante restritas, apenas se

utilizam de brincadeiras com a vizinhança, televisão e festividades locais. São raros os

que freqüentam cinemas, museus, teatro etc. Freqüentam este tipo de atividade

somente quando oferecida pela unidade escolar.

O corpo docente da unidade escolar é composto por 18 professores que

ministram aulas no Ensino Fundamental, regular ciclo I, sendo que destes 15 são

estatutários e os demais trabalham em regime CLT. A escola conta também com 02

professores de Arte e 02 de Educação Física. O quadro dos docentes de EJA

(Educação de Jovens e Adultos) é composto por 09 professores que possuem

habilitação para ministrar aulas em diferentes áreas, sendo que participam de formação

específica, oferecida pela Diretoria da Educação, a fim de que os alunos venham

desenvolver suas habilidades e criar motivação para transformarem a si mesmos,

buscando soluções para os problemas do contexto em que vivem, quer seja no mundo

(30)

EMEF Maria Gonçalves de Freitas Gonçalves

A EMEF. Maria Gonçalves de Freitas Gonçalves situada à Av. Itapeva , nº 367,

no bairro do Parque São Roberto II em Cajamar. O Prédio escolar ocupa 1.252, 52 m²

da área total do terreno, sendo que sua instalação física conta com 10 salas de aula, 01

biblioteca, quadra esportiva, laboratório de informática.

A U.E. atende atualmente 626 alunos, matriculados no Ensino Fundamental (1º

ao 4º Ano) e 33 matriculados na Educação de Jovens e Adultos, no período noturno,

numa classe multiseriada, também do 1º ao 4º Ano. Esta clientela é oriunda dos bairros

do entorno da escola e de alguns locais mais distantes, necessitando de transporte

escolar para chegarem até a escola.

De modo geral, estão, em sua maioria, na série (Ano) correspondente à sua

idade, entretanto, ainda existem alguns casos de alunos não alfabetizados, inclusive

nas séries finais do ciclo, o que demonstra a necessidade de um trabalho pedagógico

consistente no sentido de reverter essa situação.

A comunidade, de forma geral, reside no município a mais de dez anos e

apresenta um baixo grau de instrução. Um terço da clientela mora em casa própria com

uma renda em torno de R$ 500,00 (quinhentos reais/mês), sendo que, na maioria das

vezes, apenas uma pessoa é responsável pelo sustento da família. Há também um

número bastante expressivo de pais desempregados.

Geralmente são famílias numerosas, sem acesso a nenhum tipo de lazer e

cultura. A escola atende uma clientela bastante diversificada, com diferentes culturas e

rotinas diárias, além dessas diferenças se acentuarem também no que diz respeito ao

(31)

Esta escola conta com 24 professores de Ensino Fundamental (1º ao 4º Ano),

incluindo os profissionais do ENAL (Encontro de Alfabetizadores) e também 02

professores de Arte e 02 de Educação Física. Estes professores apresentam formação

bastante diversificada, alguns com curso superior concluído (Arte, Educação Física,

Pedagogia e História), outros com curso Normal Superior e outros ainda cursando

outros cursos universitários.

De forma geral, trata-se de um grupo preocupado com a qualidade do serviço

oferecido, mas existe a necessidade de desenvolver ações que articulem o trabalho

pedagógico com os objetivos da escola, além de promover estudos e formações

constantes, que possam oportunizar a todos o reconhecimento da importância de um

(32)

INTRODUÇÃO

(33)

2. INTRODUÇÃO

A criança enquanto desenha, canta, dança, conta histórias, teatraliza, imagina, ou até silencia... O ato de desenhar impulsiona outras manifestações, que acontecem juntas, numa unidade indissolúvel, possibilitando uma grande caminhada pelo quintal do imaginário. (DERDYK, 1989:19)

No século XX, já se acreditava que o ponto de partida para a instrução do povo

era a educação através da arte, esta expressão foi criada por Herbert Read (1893 -

1968) no ano de 1943 o que quer dizer, segundo Duarte Jr. (2001:12) uma educação

baseada, fundamentalmente, naquilo que sentimos, na verdade, uma educação que

partisse da expressão de sentimentos e emoções. Hoje, essa educação através da arte

foi abreviada para ensino da Arte3, mas o espírito é o mesmo. A arte possui um papel

primordial na formação dos indivíduos, sendo uma ferramenta extremamente eficaz

frente à multiplicidade de imagens, sons, gestos, cores, movimentos aos quais estão

submetidos. Com a rapidez das informações e o acesso desenfreado às tecnologias é

preciso ensinar nossos alunos a decodificarem símbolos e signos novos. Segundo Ana

Mae Barbosa, a educação não se trata apenas da transmissão de conteúdos, mas visa

ensinar a aprender. Por esse motivo, a arte é fundamental, pois leva pessoas a

aprender a aprender. (BARBOSA, 2000:9)

3

(34)

Para READ, (2001:12) a educação pode ser definida como o cultivo dos modos

de expressão, o que isso quer dizer é que é necessário ensinar a produção em arte, ou

seja, que os alunos consigam produzir e criar sons, imagens, movimentos etc.

READ, ainda afirma:

O homem que sabe fazer bem essas coisas é um homem bem educado. Se ele é capaz de produzir bons sons, é um bom falante, um bom músico, um bom poeta; se consegue produzir boas imagens, é um bom pintor ou escultor; se pode produzir bons movimentos, um bom dançarino ou trabalhador [...] (READ, 2001:12)

A educação em nosso país, de um modo geral, tem passado por grandes

transformações, a maior delas é a compreensão da diferenciação e da interação entre o

processo de ensino e o processo de aprendizagem. Como nos afirma Duarte Jr.:

Isto envolve a conceituação da educação de uma perspectiva mais abrangente que a simples transmissão de conhecimentos. Envolve a consideração da educação como um processo formativo do humano, como um processo pelo qual se auxilia o homem a desenvolver sentidos e significados que orientem a sua ação no mundo. (DUARTE JR, 1994:17)

Vale ressaltar que hoje a aprendizagem está voltada ao desenvolvimento de

competências e habilidades a fim de que, tanto o professor quanto os alunos

(35)

ensino e de aprendizagem o aluno é protagonista na construção do seu conhecimento e

o professor, um mediador que promove as aprendizagens, considerando as estratégias

de aprender, ou seja, os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e o conhecimento

prévio já acumulado. Hoje, a concepção que perpassa o ensino vai muito além daquela

que o compreende como apropriação de um conteúdo, de uma informação, um

conhecimento ou uma atitude. Ensinar implica desenvolvimento, construção, melhoria,

sair do senso comum, ir além do avanço cognitivo intelectual, garantir progressos nas

questões que envolvem a afetividade, a relação com o outro, o respeito às

diversidades, a busca contínua pelo conhecimento.

Dessa forma, a aprendizagem é centrada no aluno. Quando se transfere o foco

de atenção do professor para o aluno, há grandes chances de que ocorra uma

aprendizagem com maior sentido e abrangência. Sabe-se que a educação sempre será

produto da relação entre professor e aluno, porém, nesta concepção, os papéis de cada

um são diferentes em relação à construção do conhecimento. É claro que o professor é

aquele que ensina, e o aluno quem aprende, mas nada impede que também o

professor é aquele que aprende, que divide, que descobre junto, que elabora e produz

conhecimento junto com seus alunos.

Outro fator fundamental nesta concepção é a funcionalidade dos conteúdos

(fatos, princípios, valores e atitudes), ou seja, o quanto esses conteúdos são

significativos e podem ser utilizados nas situações de prática social. A escola, dentro

dessa nova concepção, deve proporcionar aos alunos conteúdos e experiências que

desequilibrem o que já sabem, (conteúdos previamente organizados ou aqueles que

emergem das aulas e projetos) e os instiguem a buscar o que ainda não sabem

(36)

habilidades e competências e também dos conhecimentos necessários a diversas

áreas de estudos.

Já no ensino da Arte, uma das transformações está, em muitos casos, no

abandono da concepção da arte como descanso, distração, lazer, ou seja, como mera

pausa dos conteúdos tidos como mais importantes.

Hoje já temos a consciência que a arte tem funções muito importantes a cumprir

e que favorece ao aluno, relacionar-se criativamente com as outras disciplinas do

currículo. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN:

O aluno que conhece arte pode estabelecer relações mais amplas quando estuda um determinado período histórico. Um aluno que exercita continuamente sua imaginação estará mais habilitado a construir um texto, a desenvolver estratégias pessoais para resolver um problema matemático. (PCN-Arte, 1998:19).

A arte só tem significado na escola se tratada enquanto conhecimento.

(37)

A arte é também construção de conhecimento, é produto da cultura de

determinados contextos históricos, de grupos de pessoas. Pela arte se expressam os

sentimentos de um povo, suas visões de mundo, como se organizam, como vivem em

seu ambiente e em sua época. É na arte que o homem encontra sentidos, àqueles que

não se podem dar de outra forma senão pela própria arte. Portanto, não é lazer, terapia,

nem descanso das outras “matérias” do currículo escolar.

A arte tem objetivos, conteúdos e saberes próprios, sendo assim, pode e deve

ser uma ferramenta para o trabalho interdisciplinar, pois a interdisciplinaridade garante

a interação de duas ou mais disciplinas, ou seja, que os alunos possam utilizar os

conteúdos de arte, associados aos de outras disciplinas para resolver um problema

concreto, compreender um determinado fenômeno ou período histórico sob diferentes

pontos de vista. Tratar os conteúdos de forma interdisciplinar é estabelecer conexões e

passagens entre um conhecimento e outro.

É criar condições para que a aprendizagem ocorra de forma motivadora, sem

conteúdos estanques e fechados, onde tanto alunos quanto professores tenham

liberdade para a seleção de conteúdos que tenham relações mais próximas às suas

vidas. A aprendizagem significativa passa por essas questões, onde em cada conteúdo,

os alunos se identificam e podem identificar as suas próprias convicções, seus

pensamentos e seus conhecimentos. Isso não quer dizer ficar no senso comum, mas

sim gerar a capacidade de construir conhecimentos, compreender e intervir na

realidade. Propor um trabalho interdisciplinar é partir do pressuposto de que o ensino e

a aprendizagem partem de relações dos sujeitos consigo mesmos, com os outros e com

(38)

Arte não é apenas básico, mas fundamental na educação de um país que se desenvolve. Arte não é enfeite. Arte é cognição, é profissão, é uma forma diferente da palavra para interpretar o mundo, a realidade, o imaginário, e é conteúdo. Como conteúdo, arte representa o melhor trabalho do ser humano. (BARBOSA, 1994:04)

A arte é uma área do conhecimento humano. Tal como a ciência é um conjunto

de manifestações simbólicas de uma determinada cultura; é criação e inovação. O ato

criador estrutura e organiza o mundo. Contudo podemos afirmar que não existe ciência

sem imaginação, nem arte sem conhecimento. Tanto a arte como a ciência são repletas

do espírito imaginativo, assim como nos diz o matemático Bronowski:

[...] a arte (e também a ciência) é uma atividade normal da vida humana. O pintor das cavernas não fez nada mais extraordinário quando pintou, do que quando ele ou outro inventou a lança; e as duas proezas do espírito são tão naturais e tão necessárias ao aperfeiçoamento do homem como são queridas e consideráveis [...] Aquilo que o inventor e o pintor estavam a fazer na caverna, era desenrolar o dom do ato inteligente. (BRONOWSKI, 1983:49-50)

Sabemos que a arte é tão antiga quanto a humanidade, sua evolução e sua

história estão contextualizadas com a própria história da civilização.

Se o mundo se modifica e se transforma, a arte segue o mesmo processo e

(39)

sociedades e manifestações culturais. O homem pré-histórico, do período Paleolítico

Superior4, que desenhou bisões nas cavernas, teve que construir conhecimentos e aprender sobre as técnicas e materiais que utilizou, para comunicar sua idéia. Da

mesma forma o ensino da Arte também vem se construindo ao longo da história. São

muitos conceitos, crenças e concepções presentes neste ensino. Um deles é que a

educação está centralizada nas ciências, ou seja, nas aulas “ditas” mais sérias, como a

Matemática, a Língua Portuguesa, e com isso nossos alunos estão com grandes

dificuldades de sentir, perceber, refletir, expor e criar idéias, sentimentos e emoções.

Tanto a razão quanto a emoção são fatores importantes na leitura sensível do mundo.

O trabalho com arte privilegia momentos que envolvem os sentidos, a imaginação, os

sentimentos, as idéias e o pensamento humano.

A Educação pode ser o caminho mais eficiente para estimular a consciência

cultural de cada indivíduo. Mas, não é só incluindo arte no currículo que se irá favorecer

o crescimento individual e transformar o cidadão como construtor de sua própria nação.

A questão que nos é colocada hoje, como diz Rubem Alves, é repensar a educação sob

a perspectiva da arte. Educação como atividade estética... (ALVES apud DUARTE JR,

1994:12) Além da presença da arte no currículo escolar é muito importante também

refletir e analisar quais as concepções estão por trás desse ensino, ou melhor, como a

arte vem sendo ensinada. É necessário refletir sobre a arte como elemento educativo,

4 Paleolítico Superior - a principal característica dos desenhos da Idade da Pedra Lascada é o

(40)

como ela pode contribuir com a formação da sensibilidade humana de forma

significadora.

É muito comum observarmos, ainda nos dias de hoje, no espaço das aulas de

arte o ensino do desenho geométrico e também o uso da disciplina para a

comemoração das festas escolares (juninas, pais, mães, páscoa, natal) ou como livre

expressão5.

Uma das funções da arte-educação é fazer a mediação entre a arte e o público.

Aqui é preciso abrir um parêntese, de acordo com Duarte Jr.:

arte-educação não significa o treino para alguém se tornar um artista, não significa a aprendizagem de uma técnica, num dado ramo das artes. Antes, quer significar uma educação que tenha a arte como uma de suas principais aliadas. Uma educação que permita uma maior sensibilidade para com o mundo que cerca cada um de nós. (DUARTE JR, 2001:12)

A arte faz parte da vida do ser humano, e seja da forma que for, através dos

museus, galerias, exposições, concertos de música, espetáculos, shows, e até mesmo

do dia-a-dia de cada indivíduo ou das aulas de arte, é preciso promover a mediação da

produção artística e seu público.

A mediação entre arte e público é uma tarefa que, quando criadora, pode ampliar a potencialidade de atribuição de sentido à obra, por um fruidor tornado mais

5 “O método da livre expressão, por exemplo, que a maioria dos nossos professores tidos como

(41)

sensível. Como facilitadora do encontro entre arte e fruidor, a mediação precisa ser pensada como uma ação específica. Percebê-la como canal de comunicação permite estudar seu processo, atentando para os ruídos perturbadores, para ênfases desnecessárias ou para a exclusão de aspectos que poderiam tornar esse encontro mais significativo. Não se pode esquecer que mediar implica a presença do sujeito fruidor como um todo. Isso significa não apenas provocar o seu olhar cognitivo, como também conscientizá-lo de todas as nuances presentes na obra ou em sua relação com ela; acima de tudo, promover um contato que deixe canais abertos para os sentidos, sensações e sentimentos despertados, para a imaginação e a percepção, pois a linguagem da arte fala e é lida por sua própria língua. (MARTINS, 1998:76)

Neste sentido, não dá mais para ignorar a importância da arte na vida do ser

humano. Assim, a escola tem como função primordial, despertar em nossas crianças

interesse e compreensão pela arte, enriquecendo seu entendimento sobre a mesma

como objeto de conhecimento. A escola deve tratar a arte de forma equivalente às

outras disciplinas do currículo, como trata a língua portuguesa, a matemática, à ciência,

pois, segundo Bronowski:

(42)
(43)
(44)

3. CAMINHOS TRILHADOS

Para concretizar e garantir um trabalho eficaz para o ensino de Arte foi que a

Diretoria de Educação do Município de Cajamar – SP, tornou público o Edital 04/2006

para provimento de cargos de Professor de Educação Básica II – Artes, para ministrar

oficinas de arte nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1ª à 4ª Séries). Foram

oferecidos 20 cargos, distribuídos entre as 16 escolas de Ensino Fundamental do

município, cada professor tem uma carga horária de 30 horas semanais, sendo 25

horas com alunos e 5 horas de trabalho pedagógico.

A formação mínima exigida, para os inscritos, era de nível superior com

licenciatura plena em Educação Artística, no âmbito das linguagens da Arte.

Cada um desses profissionais tem como função: participar da elaboração da

proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; elaborar e cumprir plano de

trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino e as diretrizes

da educação no município; zelar pela aprendizagem e inclusão dos alunos; estabelecer

estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento e menor participação;

ministrar as horas-aula estabelecidas, além de participar integralmente dos períodos

dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; participar

das Horas de Trabalho Pedagógico, para integrar-se qualitativamente no coletivo da

escola com vistas ao crescente aperfeiçoamento do projeto político-pedagógico da

Unidade Escolar; integrar os projetos, oficinas e atividades específicas da área de arte

ao conjunto de atividades de cada uma das classes e da escola; colaborar com as

atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade (Artigo 13 da LDB);

(45)

A partir desse concurso, foram contratados 20 professores para ministrarem

aulas e oficinas de arte nos anos iniciais do Ensino Fundamental na rede pública

municipal de Cajamar/SP.

Para garantir a qualidade destas aulas e oficinas os professores têm recebido

formações mensais que envolvem a área de arte e suas linguagens, onde podem

refletir e discutir conceitos, concepções e teorias, projetar, planejar e organizar

atividades, aulas e projetos.

Nosso primeiro trabalho tinha como função diagnosticar o que nossas crianças já

conheciam sobre arte, que relações estabeleciam com as suas linguagens, quais

compreensões têm deste vasto universo.

Os caminhos que nos nortearam para esse trabalho são aqueles que

compreendem a arte enquanto conhecimento e linguagem, por isso nossa opção pela

“abordagem triangular”, ou seja, pelo conhecer, apreciar e produzir arte. E ainda

privilegiando as quatro linguagens da arte: música, dança, teatro e artes visuais.

Compreendemos que é necessário nortear o trabalho nas escolas para garantir

uma possibilidade concreta de ensinar/aprender arte de forma significativa e

competente. É sempre importante termos em mente que o maior objetivo de nosso

trabalho enquanto arte-educadores é possibilitar aos alunos, além da leitura e produção

de códigos não-verbais, o contato e acesso ao patrimônio histórico-artístico-cultural

produzido pela humanidade ao longo dos anos.

A proposta para o ensino de Arte na rede municipal perpassa as quatro

linguagens da arte, divididas em quatro projetos: o primeiro tem como eixo as artes

visuais. O segundo abordará a linguagem musical. O terceiro envolverá a área de teatro

(46)

Com isso, a Diretoria de Educação, vem discutindo com os professores

especialistas, propostas e metodologias para o ensino de Arte e suas linguagens, e

ainda, garantindo um processo de formação continuada em dois encontros mensais de

quatro horas cada, fundamentado em uma proposta que privilegia o ver, o fazer e o

conhecer arte, ou seja, em uma proposta de educação estética e artística permeada por

uma concepção de mundo que se desdobra e que se amplia com questões que

integram arte, educação e cultura.

3.1. Arte como Conhecimento

Entendo a arte como um caminho maior de conhecimento: é caminho, a um só tempo,de conscientização do indivíduo, pois, ao realizar suas potencialidades, ele também realiza sua individualidade e, ainda, do modo mais abrangente, é caminho de crescente humanização da vida. Na mesma visão, partindo do reconhecimento de que potencialidades criativas existem em todos os seres humanos – embora combinando-se em cada pessoa em graus diferentes e em áreas diversas -, entendo a realização de tais potencialidades como uma necessidade de vida. Não posso conceber nem aceitar a arte como mero enfeite, passatempo ou terapia, muito menos uma mercadoria, seja de luxo ou descartável, como querem colocá-la para nós hoje em dia. (OSTROWER, 1986:3)

Com toda certeza, em algum momento de nossas vidas, já nos fizemos a

(47)

conhecimento. Conhecimento, este, que esclarece, que ressignifica o mundo que nos

rodeia – ajuda a compreender o que já passou, o que é e o que ainda está por vir. A

arte está na escola, por que também está fora dela. Por ser conhecimento construído

pela humanidade através dos tempos. Arte é patrimônio cultural da humanidade e,

portanto, todo ser humano deve ter acesso a ele.

Tratar a arte enquanto conhecimento é condição essencial para o ensino da

Arte. Ela está intimamente ligada à formação integral e sensibilização do indivíduo,

colabora para o crescimento do nível cognitivo, pois, implica em construção, ampliação

e aprofundamento de conhecimentos.

Por ser um conhecimento humano articulado no âmbito sensível-cognitivo, por meio da arte manifestamos significados, sensibilidades, modos de criação e comunicação sobre o mundo da natureza e da cultura. (PCN – Ensino Médio, 1999:171)

Sendo assim, a arte é fundamental numa escola que visa a formação de

indivíduos críticos e criativos, ou seja, que pretende formar um ser integral, com

participação ativa na vida em sociedade.

Dessa forma, é possível perceber a relevância que tem o ensino da Arte, que é

proporcionar a sensibilização e a formação artística e estética dos alunos nas áreas de

música, teatro, dança e artes visuais. Todas essas linguagens são saberes construídos

ao longo do tempo, gêneros do conhecimento humano que envolvem tanto a

(48)

da Arte não se separa da linguagem artística, ele atua na construção do conhecimento

e enfatiza a idéia de que arte se ensina e arte se aprende.

3.2. Arte como Linguagem

Muito antes de saber escrever, o homem interpretou, significou, representou,

comunicou e expressou o mundo em que vivia por meio de gestos, cores, formas, ou

seja, pela linguagem da arte. Portanto, na escola, a arte deve ser tratada também como

linguagem. Linguagem que nos possibilita infinitas interpretações e leituras, que nos

permite observar e apreciar o mundo de formas diferentes, que auxilia-nos a lidar com

os signos6 e códigos artísticos construídos historicamente, o que também possibilita a significação do mundo.

A arte é uma forma de representação e criação de linguagens. Temos a

linguagem visual, onde cabem a pintura, o desenho, o cinema, o design, a propaganda,

a escultura, a modelagem, a instalação, o vídeo etc. Temos a linguagem musical, a

linguagem cênica, a linguagem da dança, entre outras.

Todas essas linguagens são formas muito particulares de o homem se

comunicar e se expressar, ou seja, estar no mundo e fazer parte dele. A arte, por meio

de suas linguagens, se faz representar na conjunção de idéias, pensamentos e

sentimentos. O artista materializa essas idéias, pensamentos e sentimentos em arte, o

6 “Segundo a noção de Peirce, um signo é alguma coisa que representa uma outra coisa: seu

objeto

(49)

que isso quer dizer: ele concretiza em obra, por meio de símbolos, signos isso que lhe

vai na mente e na alma.

O que faz o modo de produzir do artista e que caracteriza a criação de signos artísticos é a sua exploração e originalidade da organização em relação ao uso dos códigos da linguagem com a qual trabalha. (MARTINS, 1998:45)

Toda linguagem possui sistemas simbólicos de representação, ou seja, possui

códigos, então não poderia ser diferente com a linguagem da arte, isto é, a arte também

é um sistema estruturado de signos.

3.3. O papel do Professor de Arte

A Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional, de número 9.394, aprovada

em dezembro de 1996, estabelece em seu artigo 26, parágrafo 2º: O ensino da arte

constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica,

de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.

É papel da escola, e também dos professores de arte, acompanhar o

crescimento, a evolução, o pleno desenvolvimento de seus alunos. Partilhando a

certeza de que eles estão a cada dia que passa mais preparados, que estão adquirindo

as habilidades e as informações necessárias para conhecer seus direitos, escolher as

(50)

Hoje, a escola tem por objetivo a formação de cidadãos, respeitando as

diversidades regionais, políticas e culturais, dando aos alunos acesso ao conjunto de

conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como fundamentais ao

exercício pleno da cidadania, entre estes conhecimentos estão os da arte.

A escola, e, sobretudo o professor de arte, deve garantir uma oportunidade para

que o trabalho com arte seja realizado com muita reflexão, conhecimento e qualidade,

pois como afirma Rosa Iavelberg:

A arte constitui uma forma ancestral de manifestação, e sua apreciação pode ser cultivada por intermédio de oportunidades educativas. Quem conhece arte amplia sua participação como cidadão, pois pode compartilhar de um modo de interação único no meio cultural. Privar o aluno em formação desse conhecimento é negar-lhe o que negar-lhe é de direito. (IAVELBERG, 2003:9)

Na escola, além de ser tratada como área de conhecimento, a arte deve visar à

sensibilização e formação artística e estética dos alunos, o que levará a criação de

repertórios essenciais para a criação, a apreciação e a percepção, garantindo assim a

apropriação de conteúdos que são imprescindíveis ao cidadão contemporâneo.

O trabalho com arte mobiliza a expressão, a criação e a comunicação, ampliando

horizontes e intensificando as relações dos indivíduos consigo mesmos, com os outros

e com o mundo.

Desse modo, é preciso garantir que nas aulas de arte, os alunos tomem gosto

pela arte, que consigam operar com seus materiais expressivos, com seus suportes e

(51)

tempo, seus produtores. Que aprendam a apreciá-la de forma crítica, curiosa e

questionadora. Ensina se arte com a própria arte.

O professor é o mediador entre a arte e seus alunos, e, com toda certeza, é essa

mediação que fará nascer no aluno o gosto pela arte, esta ação envolve aspectos

cognitivos e afetivos que perpassam a relação professor/aluno e aluno/aluno.

Para saber ensinar arte é preciso saber fazer arte. Ninguém ensina arte se não

souber operar com seus símbolos e signos, lidar com seus códigos. Nenhum professor

pode ensinar a escrever se não souber escrever. Então, para um trabalho competente

em arte é necessário que o professor experimente fazer arte, que saiba sobre arte,

seus produtos e produtores, que consiga apreciá-la, que reflita sobre suas linguagens.

Com isso, é preciso que o professor saiba sobre arte e também saiba ser professor de

arte.

Um professor competente para ensinar arte é um professor com sensibilidade e

aguda observação sobre a qualidade do vínculo de cada um de seus alunos nos atos

de aprendizagem em arte. (IAVELBERG, 2003:10). É um professor atento, investigador,

curioso, proponente de situações desafiadoras, que consegue despertar no aluno, além

do gosto pela arte, a atribuição de significados a ela. Que forme um aluno que consiga

resolver problemas na experimentação de procedimentos, técnicas e materiais

artísticos, que consiga propor resoluções e soluções aos seus pensamentos, sua

poética pessoal, concretizando-os em produções próprias e, ainda, que esse aluno

possa desenvolver critérios de gosto e valor em relação à sua própria produção em

arte, como à de seus colegas.

Portanto, o profissional do ensino da Arte deve ter incorporado em sua prática o

(52)

seja por meio de gestos, sons, brincadeiras, danças, rodas e cirandas, representações,

fantasias e imaginações, linhas, cores, sombras ou por histórias, muitas histórias.

Com isso, o papel do professor de arte é muito maior e mais amplo do que

simplesmente conduzir atividades artísticas, mas sim propor reflexões, intervenções,

olhares diversos, pensamentos e idéias, na verdade que possa revelar e desvelar a arte

aos seus alunos. É necessário que o professor de arte tenha sólidos conhecimentos

teóricos sobre arte-educação, e também um modo de pensar, planejar e organizar suas

aulas e atividades artísticas na escola, e, ainda, compreender a arte na sociedade, seus

usos e funções, suas novas abordagens, sua praticalidade. Isto torna o professor capaz

de perceber de que forma abordar a arte em sua aula, que conteúdos priorizar.

Para ensinar arte às crianças, o fato de maior importância é o próprio professor [...] O professor tem a importante tarefa de proporcionar uma atmosfera conducente às expressões de inventividade, de exploração e de realização.[...] (LOWENFELD, 1970:78)

O professor de Arte é a peça fundamental na busca esclarecedora a respeito da

arte e sua função, e para tanto precisa ir muito além dos muros da escola para buscar

tal saber. Ele deve ser um eterno aprendiz de arte, um profissional apto a uma

aprendizagem contínua. É o professor de Arte que tem como função garantir o acesso

dos alunos ao mundo da arte, de seus artistas e representantes, construindo caminhos

para o ver, o fazer e o conhecer arte, e, ainda articular a arte com o projeto e o

planejamento da escola. Para que isto aconteça, é crucial que o próprio professor não

(53)

Poucos são os professores de arte que freqüentam museus, shows, concertos,

espetáculos etc. Muitos só pisam em um museu quando estão levando seus alunos a

uma visita.

Um professor que respira arte, que se transforma ao ser tocado por uma obra,

que curte por a mão na massa, cantar e interpretar com toda certeza terá um trabalho

diferenciado com seus alunos, poderá compartilhar com eles o universo da arte em

seus aspectos mais amplos.

Construir conhecimento em arte requer estudo, pesquisa e reflexão além de

sensibilidade e autonomia por parte dos aprendizes. É no acompanhamento e na

orientação do processo de ensinar e aprender arte, que o professor promove a

aprendizagem numa perspectiva crítica e reflexiva.

3.4. O porquê das quatro linguagens (Artes Visuais, Música, Dança e Teatro)

Pensar um ensino de Arte que garanta a formação integral do aluno é propor,

pensar e realizar um trabalho que enfoque as linguagens da arte como a música, a

dança, o teatro e as artes visuais. É preciso variar as formas artísticas ao longo da

escolaridade. (PCN Arte, 1998:57)

Portanto é importante que cada uma das linguagens seja tratada com seus

conteúdos específicos, sem uma ter um peso maior que a outra. Privilegiar somente

uma ou duas das linguagens da arte no trabalho com os alunos é deixar de

proporcionar uma visão totalizante desse ensino e formar alunos com deficiência nessa

ou naquela linguagem. O ensino competente em arte abre diálogos de uma linguagem

Referências

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