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Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador

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Academic year: 2021

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(1)   . DISSERTAÇÃO DE MESTRADO   . Hélder Rodrigo Duarte Carriço  ÁREA: Ciências Jurídicas Forenses  Orientador: Professor Doutor José João Abrantes .    .   Denúncia do contrato de trabalho  pelo trabalhador            Fevereiro 2011 .

(2) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   .                    . Denúncia do contrato de trabalho  pelo trabalhador                        2   .

(3) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   .                                                                       Aos meus pais e aos meus avós, pessoas pelas quais nutro   um enorme orgulho.                                3   .

(4) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . NOTA PRÉVIA    O  trabalho  que  ora  apresento  corresponde  à  dissertação  de  Mestrado  em  Ciências  Jurídicas  Forenses,  elaborada  durante  o  segundo  ciclo  de  estudos,  na  Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa.   Uma  vez  terminado,  considero  ser  este  o  momento  oportuno  para  endereçar  os  meus  agradecimentos  àqueles  que,  de  diferentes  formas,  contribuíram  para  que  este projecto fosse possível.   Correndo o  ingrato risco de olvidar a referência a algumas pessoas, dirijo‐me,  primeiramente,  ao  Professor  Doutor  José  João  Abrantes,  que  aceitou  a  tarefa  de  me  orientar, reconhecendo‐lhe a disponibilidade e cooperação que sempre me dispensou  ao longo deste percurso.   Não  poderei  esquecer  o  contributo  de  todos  os  meus  amigos  que,  de  uma  forma ou de outra, contribuíram positivamente para que este trabalho fosse possível.  Transmito, em particular, o meu reconhecimento pelas correcções sempre oportunas  feitas pela Margarida, pelo carinho e presença constantes.  Termino por onde o meu coração me pedia que começasse. Pretendo, com este  estudo, fazer uma sentida homenagem ao meu querido avô, José Maria da Graça, que  nos  deixou,  inesperadamente,  no  passado  dia  de  Natal.  E  uma  palavra  de  eterno  agradecimento aos meus pais, pela ajuda e compreensão que sempre me dispensaram  ao longo do meu percurso académico.    .                    4   .

(5) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . MODO DE CITAR    As obras são citadas através da identificação do autor, título, edição (no caso de  não ser a primeira ou a única), editora, local de publicação, data e páginas.  Caso se trate de artigos de revistas e artigos incluídos em obras colectivas serão  citados,  respectivamente,  da  seguinte  forma:  nome,  título,  publicação,  ano,  número  e/ou data e página(s); nome, título, obra colectiva, organizadores ou coordenadores,  editora, local da publicação, data e página(s).  Nas  notas  de  rodapé,  a  primeira  citação  de  todos  os  artigos  e  obras  faz‐se  através de indicação bibliográfica completa, sendo que, nas vezes seguintes, há apenas  a  referência  ao  autor,  sendo  o  título  substituído  pela  sigla  op.  cit.  e  a  informação  completada pela página a que se refere cada citação em concreto.  Na bibliografia final, o critério de ordenação é o alfabético. São citadas todas as  obras consultadas.  As decisões jurisprudenciais são indicadas com a identificação do tribunal que  as proferiu, da data, do número do processo, do relator e da respectiva base de dados  onde se encontram.  As abreviaturas e siglas utilizadas, as quais anexo em forma de lista na página  seguinte, são as de uso corrente, nas diversas literaturas jurídicas da actualidade.                 . 5   .

(6) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . SIGLAS E ABREVIATURAS    AAFDL – Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa  AA. VV. – Autores vários  Ac. – Acórdão  Act. – Actualizada  al.(als.)  – Alínea(s)  art.(s) – artigo(s)  CEJ – Centro de Estudos Judiciários  cfr. – confrontar, conforme  cit. apud. – Citado em  CJ – Colectânea de Jurisprudência  Coord. – Coordenação  CRP – Constituição da República Portuguesa, de 02 de Abril de 1975   CT – Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 99/2003, de 27 de Agosto  DL – Decreto‐Lei  ed. – Edição  idem, ibidem – Mesmo autor, mesma obra  in. – Em  LCCT – Lei da Cessação do Contrato de Trabalho – Regime Jurídico aprovado pelo                Decreto‐Lei n.º 64‐A/89, de 27 de Fevereiro  op. cit. – Obra citada  OIT – Organização Internacional do Trabalho  pág. (pp.) – Página(s)   PLT – Prontuário da Legislação do Trabalho  polic. – Policopiado  6   .

(7) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . Proc. – Processo  Prof. – Professor  RC – Tribunal da Relação de Coimbra  reimp. – Reimpressão  rev. – Revista  RL – Tribunal da Relação de Lisboa  ROA – Revista da Ordem dos Advogados  RP – Tribunal da Relação do Porto  ss. – Seguintes  STJ – Supremo Tribunal de Justiça  TC – Tribunal Constitucional  UCP – Universidade Católica Portuguesa  vd. – Vide, veja  vol. – Volume                             7   .

(8) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . NOTA INTRODUTÓRIA    A  matéria  das  causas  de  cessação  do  contrato  de  trabalho  é  de  inegável  relevância e complexidade, tanto do ponto de vista teórico como prático, até porque  muitas das questões relacionadas com a situação jurídico‐laboral apenas são discutidas  no  momento  da  sua  extinção.  Compreende‐se  que  só  aí  o  trabalhador  se  sinta  em  condições  de  questionar  judicialmente  o  comportamento  do  empregador 1 ,  sendo  demais evidente a importância da sua regulamentação.  Ainda  que  estejamos  cientes  da  relação  profundamente  assimétrica  e  inigualitária que caracteriza a relação laboral, do seu desequilíbrio estrutural, que não  deve ser ignorado, a denúncia do contrato pelo trabalhador constitui  uma expressão  inequívoca da sua liberdade 2 .   Na  presente  dissertação  propomo‐nos  analisar  a  denúncia  do  contrato  de  trabalho  por  iniciativa  do  trabalhador  e  o  controverso  instituto  do  abandono  do  trabalho. Fá‐lo‐emos através da análise de algumas decisões jurisprudenciais recentes,  que colocam em causa a essência desta figura.   O  facto  de  existirem  muito  poucos  estudos  específicos  e  actualizados  sobre  estas matérias 3  e de serem figuras de frequente actuação prática e potenciadoras de  conflitos constantes foram motivos bastantes para a adopção deste tema.   Como  afirma  Monteiro  Fernandes 4 ,  «no  domínio  da  cessação  do  contrato  de  trabalho  é  particularmente  notória  a  inquietude  do  vocabulário»,  agravada  muitas                                                               1.   Atente‐se  ao  regime  de  prescrição  dos  créditos  laborais  (art.º  337º,n.º1  do  CT:  ”O  crédito  de  empregador  ou  de  trabalhador  emergente  de  contrato  de  trabalho,  da  sua  violação  ou  cessação  prescreve decorrido um ano a partir do dia seguinte àquele em que cessou o contrato de trabalho.”)    2  Como nota Joelle Dupuy, “La démission du Salarié”, Recueil Dalloz Sirey, 1980, Chroniques, XXXVII, pág.  254,  “…a  demissão,  ruptura  por  iniciativa  do  trabalhador,  é  apresentada  como  um  sinal  da  sua  liberdade, como uma partida de cabeça levantada sem conhecer a vergonha de um despedimento e os  seus efeitos traumatizantes.”  3   Ressalvam‐se  merecidas  excepções,  entre  elas  o  estudo  de  Jorge  Leite,  “A  extinção  do  contrato  de  trabalho por iniciativa do trabalhador”, Coimbra, polic.,1990 e “A figura do abandono do trabalho”, PLT,  CEJ,  n.º33,  1990.  Ainda,  Júlio  Gomes,  “Da  rescisão  do  contrato  de  trabalho  por  iniciativa  do  trabalhador”,  in  AA.  VV.,  V  Congresso  Nacional  de  Direito  do  Trabalho  –  Memórias,  Coord.  António  Moreira, Almedina, Coimbra, 2003, pp. 129‐166. Também, Raúl Ventura, “Extinção das relações jurídicas  de trabalho”, ROA, Ano 10, 1950, n.º 1 e 2, pp. 215‐364; Pedro Furtado Martins, Cessação do contrato  de  trabalho,  2.ª  ed.,  rev.  e  act.,  Principia,  2002;  Pedro  Romano  Martinez,  Da  cessação  do  contrato,  Almedina, Coimbra, 2005 e Ricardo Nascimento, Da cessação do contrato de trabalho, em especial por  iniciativa do trabalhador, Coimbra editora, 2008.   . 8   .

(9) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . vezes pelo próprio legislador. É verdade que vários poderiam ser os termos utilizados,  mas falar em cessação, extinção ou dissolução, não mais quererá dizer do que a perda  do  emprego  para  o  trabalhador  e  a  consequente  extinção  das  obrigações  para  os  contratantes 5 .   Situamo‐nos perante um contrato de trabalho válido e eficaz em que uma das  partes, motivada ou não por um fundamento superveniente, toma a iniciativa de fazer  cessar os seus efeitos.   A verdade é que, mais cedo ou mais tarde, a relação jurídico‐laboral acaba por  se  extinguir,  produzindo‐se  uma  ruptura  definitiva  do  vínculo  contratual,  nela  se  entrecruzando  aspectos  sociais,  humanos  e  económicos  de  particular  sensibilidade.  Ocorrendo essa perda, sem ou contra a vontade do trabalhador, as suas consequências  poderão ser devastadoras.   Ainda  que  o  actual  contexto  de  flexisegurança 6   desdramatize  a  situação,  o  certo é que a lógica de uma economia volátil, imprevisível e ferozmente competitiva é  incompatível com a estabilidade do emprego e com o ideal do “emprego para toda a  vida”.   A  própria  expressão  «despedimento»  assusta,  e  assusta  não  só  o  trabalhador  pelas consequências dessa cessação, pois o vínculo que se mantinha ou que se tentava  manter era o suporte dum estatuto económico, social e profissional, assusta também o  legislador, lembre‐se a expressão deliciosa de Jean‐Jacques Dupeyroux afirmando que  toda a legislação do trabalho, como um grande pião bojudo, gira à volta do bico fino e  aguçado que são as normas do despedimento 7 .                                                                                                                                                                                  4.  “Causas de rescisão do contrato de trabalho pelo empregador”, in Temas Laborais, Almedina, Coimbra,  1984, pág. 100.   5  Luis Enrique de La Villa, La Extinción del Contrato de Trabajo, Junta de Estudios Económicos, Jurídicos y  Sociales, Madrid, 1960, pág. 50, define cessação como “…o feito ou negócio jurídico cuja virtude exime  as partes de prestar as obrigações recíprocas a que se encontravam vinculados”.   6  A flexisegurança ou flexicurity é uma ferramenta de combate ao desemprego proposta pela Comissão  Europeia  no  Livro  Verde  sobre  a  Modernização  da  Legislação  do  Trabalho.  Trata‐se  de  um  conceito  importado da Dinamarca, sendo encarada aos olhos de muitos, como a porção mágica para o gravíssimo  problema do desemprego europeu. A mensagem que pretende fazer passar é a de que um mercado de  trabalho mais flexível, isto é, desregulamentado ou totalmente liberalizado, funciona melhor, desde que  hajam  políticas  activas  de  emprego,  que  facilitem  e  ajudem  o  trabalhador  a  mudar  de  emprego,  bem  como apoios generosos aos desempregados.  7  Cit. apud Bernardo Xavier, “A Constituição Portuguesa como fonte do direito do trabalho e os Direitos  Fundamentais  dos  Trabalhadores”,  in  El  Trabajo  y  la  Constitución  –  Estudios  en  homenaje  al  Profesor  Alonso Olea, Coord. Alfredo Montoya Melgar, Academia Iberoamericana de Derecho del Trabajo y de la  Seguridad Social, Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales, Madrid, 2003, pág. 428. . 9   .

(10) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . Os reflexos que o acto de desvinculação tem na vida do trabalhador, quaisquer  que  sejam  os  fundamentos,  são  mais  que  sabidos.  É  precisamente  por  isso  que  o  Direito  do  Trabalho  é  particularmente  sensível  no  que  diz  respeito  à  protecção  do  trabalhador e onde essa tutela se apresenta na sua plenitude é no art. 53º da CRP, que  consagra o princípio constitucional da segurança no emprego.  Como  bem observamos,  neste  capítulo  os  interesses  divergem, empregador e  trabalhador  reclamam  para  si  a  possibilidade  de  desvinculação,  qualquer  um  deles  quererá livremente, em busca dos seus interesses, pôr termo ao contrato. Contudo, as  faculdades  de  desvinculação  unilateral  reconhecidas  pela  lei  ao  trabalhador  subordinado são notoriamente mais amplas do que as conferidas à entidade patronal 8 .  A liberdade daquele se poder desvincular é o corolário da sua liberdade de trabalho.   É óbvio que não é possível sujeitar um trabalhador à prestação de trabalho por  conta  de  outrem,  contra  a  sua  vontade.  Um  trabalhador  pode  fazer  extinguir  um  contrato de trabalho dentro de determinados limites, este é um ponto assente tanto  na  lei,  como  na  doutrina  e  na  jurisprudência.  Essa  possibilidade  de  desvinculação  acaba  por  ser  não  uma  liberdade  do  contratante,  mas  uma  liberdade  da  pessoa  humana, consequência da sua própria dignidade.   É certo que, por um lado, o conteúdo da relação laboral aconselha que assim  seja, em virtude da própria liberdade pessoal do trabalhador, porém, há que ponderar  essa liberdade que lhe é concedida com a estabilidade do vínculo e ao mesmo tempo  com a flexibilidade laboral.   Como  bem  afirma  Jorge  Leite,  a  liberdade  de  desvinculação  «é  um  direito  inerente ao status de trabalhador subordinado, é uma faculdade que não depende da  verificação  de  qualquer  outro  pressuposto  ou  facto  constitutivo,  antes  acompanha  o  trabalhador  desde  que  nasce  até  que  se  extingue  esta  especial  relação  de  poder» 9 .  Ressalve‐se,  contudo,  que,  ainda  que  se  trate  de  uma  vontade  discricionária,  a  liberdade de desvinculação do trabalhador pode ser limitada 10 .                                                                8.   Neste  sentido,  Júlio  Gomes,  op.  cit.,  “Da  rescisão  do  contrato  de  trabalho…”,  pág.  131;  e  Monteiro  Fernandes, Direito do Trabalho, 11.ª ed., Almedina, Coimbra, 1999, pág. 583.  9  Op. cit., A extinção do contrato de trabalho…, vol. 2, pág. 64.  10  Falamos do pacto de permanência, enquanto cláusula de limitação da liberdade de trabalho. A figura  encontra‐se consagrada no art.º 137.º do CT, admitindo a licitude de cláusulas de permanência. Através  desta  convenção  entre  as  partes,  o  trabalhador  obriga‐se  a  não  se  desvincular  durante  determinado  período de tempo não superior a três anos, como forma de compensar o empregador pelas despesas . 10   .

(11) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . Quanto  ao  empregador,  independentemente  do  seu  poder  de  direcção  e  dos  poderes que lhe são concedidos pelo direito de livre iniciativa económica privada e de  liberdade de organização empresarial 11 , a possibilidade de rescindir unilateralmente o  contrato sofre limitações. O que está frequentemente aqui em causa não é tanto um  interesse  pessoal,  mas  antes  um  interesse  organizatório  por  parte  da  empresa,  permitindo‐lhe  deitar  mão  de  modificações  económicas  e  tecnológicas,  de  modo  a  aumentar  a  sua  capacidade  concorrencial.  Há  que  ter  em  conta  que  a  liberdade  de  empresa deve funcionar numa lógica de economia de mercado. Como escreve Pedro  Romano  Martinez 12 ,  “…a  segurança  no  emprego,  de  que  goza  o  trabalhador,  está  muitas vezes em colisão com o direito de propriedade privada, principalmente na sua  vertente de liberdade empresarial (art.º 61.º, n.º1, da CRP)”.  O  problema  de  difícil  resolução  com  que  nos  deparamos  é  o  de  reajustar  a  perspectiva constitucional de organização empresarial, do seu fim concorrencial, com  os  direitos  do  trabalhador.  Neste  sentido,  já  havia  alertado  Bernardo  Xavier 13 :  «Um  dos  grandes  problemas  a  reequacionar  é  a  da  perspectiva  constitucional  sobre  empresa e empresário, e da sua relação implícita, necessária, mas tão complicada com  a ideia de trabalho e de trabalhador».  Quanto  a  nós,  atendendo  ao  desequilíbrio  estrutural  da  relação  laboral  e  à  diferença  existente  entre  as  implicações  da  cessação  do  contrato  de  trabalho  para  o  trabalhador  e  para  o  empregador,  não  estranhamos  que  seja  o  trabalhador  a  sair  beneficiado  quando  falamos  em  liberdade  versus  estabilidade.  E  a  ser  assim,  só  podemos ter em linha de conta que os poderes inerentes à liberdade de organização  empresarial  e  o  direito  à  livre  iniciativa  económica  privada,  constitucionalmente                                                                                                                                                                                 feitas com a sua formação profissional. Apesar da terminologia adoptada não ser porventura a correcta,  já que a expressão “pacto” é frequentemente utilizada para designar um negócio autónomo, somos de  crer  que  o  pacto  de  permanência  deve  ser  entendido  como  uma  cláusula  do  próprio  contrato  de  trabalho, pois está intimamente ligada a este, ao seu objecto. O trabalhador obriga‐se assim a renunciar  à denúncia (artigos 400.º e ss.), ficando salvaguardada a hipótese de resolução com justa causa, e ainda  a  hipótese  de  este  se  poder  desobrigar  do  cumprimento  daquele  acordo,  mediante  o  pagamento  do  montante correspondente às despesas nele referidas.    11  Ambos com acervo constitucional nos artigos 61.º, n.º1 e 80.º, al. c) da CRP, respectivamente.  12   “Trabalho  e  Direitos  Fundamentais:  compatibilização  entre  a  segurança  no  emprego  e  a  liberdade  empresarial, in Estudos em homenagem ao Prof. Sérvulo Correia, vol. III, Almedina, Coimbra, 2010, pp.  241 ‐ 288.   13   “A  Constituição  Portuguesa  como  fonte  do  direito  do  trabalho  e  os  direitos  fundamentais  dos  trabalhadores”,  in  Estudos  em  homenagem  ao  Prof.  Manuel  Alonso  Olea,  Coord.  António  Monteiro  Fernandes, Almedina, Coimbra, 2004, pág. 422. . 11   .

(12) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . previstos,  não  poderão  ter  a  autonomia  desejada,  isto  é,  não  poderão  ser  afirmados  sem  mais,  estão  dependentes  da  relação  inigualitária  e  assimétrica  que  caracteriza  a  relação  laboral  trabalhador  versus  empregador.  Como  tal,  não  deverão  nunca  ser  considerados sem que se sublinhe que os mesmos não assumem um carácter absoluto.   Um  ponto  em  relação  a  esta  matéria,  que  carecerá  de  uma  reflexão  mais  aprofundada  pelas  divergências  provocadas  na  doutrina,  é  o  problema  da  vinculação  das entidades privadas aos direitos fundamentais 14 . Neste domínio, a nossa doutrina  tem‐se dividido, daí resultando interpretações diversas da norma do art.º 18.º da CRP.  Quanto a nós, inclinamo‐nos para a posição que advoga a eficácia directa e imediata  dos  direitos  fundamentais 15 ;  não  faria  sentido  julgar  de  maneira  diferente,  fazê‐lo  seria  “corromper”  o  conteúdo  do  art.º  18.º  da  CRP.  Quer  queiramos  quer  não,  os  direitos  fundamentais  configuram  um  sistema  de  valores  ao  qual  os  poderes  de  carácter  privado,  nomeadamente,  os  poderes  do  empregador,  se  deverão,  em  regra,  sujeitar.  Como  refere  José  João  Abrantes 16 ,  esses  poderes  deverão  estar  «sujeitos  à  relevância  dos  preceitos  constitucionais  –  só  assim  não  acontecendo  quando  tal  represente  um  prejuízo  desrazoável  e  injustificado  da  área  de  liberdade  que  lhes  é  reconhecida,  a  ponto  de  se  poder  afirmar  que  a  empresa  não  é  mais  um  domínio  privado  dos  seus  titulares,  em  que  a  Constituição  e  os  direitos  fundamentais  não  penetrem».  Compreende‐se  esta  posição,  até  por  uma  questão  de  dignidade  da  pessoa  humana,  do  seu  núcleo  essencial,  sob  pena  de  se  chegar  a  uma  “distorção  entre  duas  éticas  diferentes” 17   ‐  duas  concepções  opostas  de  Homem  ‐  uma  delas  válida nas relações de direito público, outra nas relações de direito privado.   Numa  perspectiva  oposta  à  nossa,  defendendo  genericamente  uma  mera  aplicação  mediata  dos  direitos  fundamentais  através  da  aplicação  de  mecanismos .                                                              14.  Trata‐se de um ponto interessante que carece de uma reflexão aprofundada, a qual não faremos, por  entendermos que não se trata do momento e contexto indicados.   15   Sustentada  por  José  João  Abrantes,  A  vinculação  das  entidades  privadas  aos  direitos  fundamentais,  AAFDL,  Lisboa,  1990,  pág.  94;  Ana  Prata,  A  tutela  constitucional  da  autonomia  privada,  Almedina,  Coimbra,  1982,  pág.  137  e  Gomes  Canotilho  e  Vital  Moreira,  Constituição  da  República  Portuguesa,  Anotada, 3.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra, 1993, pág. 147.  16 “O  direito  do  trabalho  e  a  Constituição”,  in  Direito  do  Trabalho  –  Ensaios,  Edições  Cosmos,  Lisboa,  1995, pág. 65.  17  Idem, ibidem . 12   .

(13) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . próprios  de  direito  privado,  situam‐se  Menezes  Cordeiro 18 ,  Mota  Pinto 19 ,  Carvalho  Fernandes 20  e José Lamego 21 .    Como  facilmente  se  denota,  no  regime  jurídico  da  cessação  do  contrato  de  trabalho há uma tensão permanente entre dois princípios antinómicos: de um lado o  princípio  da  liberdade  de  desvinculação,  do  outro  o  princípio  da  estabilidade  do  vínculo laboral.   A  par  da  liberdade  de  escolha  de  profissão,  no  art.  47.º  da  CRP,  surge  o  art.  53.º, estabelecendo a garantia constitucional da segurança no emprego 22 , que não se  restringe  apenas  à  proibição  dos  despedimentos  sem  justa  causa  ou  por  motivos  políticos ou ideológicos. Visa abranger a estabilidade da relação de trabalho conferida  ao trabalhador, tanto na execução como na manutenção do contrato de trabalho 23,24 ,  denotando  um  dos  mais  importantes  desenvolvimentos  do  direito  do  trabalho  pela  ideia conformadora de dignidade que lhe está associada.   Assim,  este  preceito  pressupõe,  nas  palavras  de  Gomes  Canotilho  e  Vital  Moreira,  «que,  em  princípio,  a  relação  de  trabalho  é  temporalmente  indeterminada,  só podendo ficar sujeita a prazo quando houver razões que o exijam, designadamente .                                                              18.  Tratado de Direito Civil Português I – Parte Geral, Tomo I, 2.ª ed., Almedina, Coimbra, 2000, pp. 204 e  ss.; Manual de Direito do Trabalho, Almedina, Coimbra, 1991, pág. 151; “A Liberdade de expressão do  trabalhador”,  in  AA.  VV.,  II  Congresso  Nacional  de  Direito  do  Trabalho  –  Memórias,  Coord.  António  Moreira, Almedina, Coimbra, 1999, pág. 31.    19  Teoria Geral do Direito Civil, Vol. I, 3.ª ed., reimp., Coimbra Editora, Coimbra, 1999, pp. 73 e ss..  20  Teoria Geral do Direito Civil, Vol. I, 3.ª ed. Revista e actualizada, UCP Editora, Lisboa, 2001, pág. 32.   21  “Sociedade Aberta” e Liberdade de Consciência, AAFDL, Lisboa, 1985, pág. 102.  22  Em relação aos princípios que caracterizam a relação laboral, veja‐se José Manuel Lastra, “Princípios  Ordenadores de las Relaciones de Trabajo”, in Revista Española de Derecho del Trabajo, n.º 104, Civitas,  Madrid, pp. 165 e ss..  23  Cfr. Ac. do TC, n.º 372/91, de 17‐10‐1991. Segundo o acórdão, (…) “O conteúdo normativo do art.º 52º  (actual art.º 53.º) da Constituição não se esgota na proibição de despedimentos sem justa causa ou por  motivos  políticos  ou  ideológicos,  pois  o  direito  à  segurança  no  emprego  não  garante  apenas  a  permanência da relação de trabalho, mas também o exercício do emprego. (…) A garantia de segurança  no emprego e o direito ao trabalho possuem, no plano da Constituição, âmbitos diversos: se a primeira  respeita  a  trabalhadores  subordinados,  pressupondo  a  existência  de  uma  situação  jurídica  laboral  e  visando assegurar a sua subsistência e o seu normal desenvolvimento, o segundo refere‐se genérica e  previamente,  aos  cidadãos  e  efectiva‐se  contra  o  Estado,  incentivando  este  a  prosseguir  políticas  de  pleno emprego e a proteger os desempregados. (…)”  24  Como referem Jorge Miranda e Rui Medeiros, in Constituição Portuguesa Anotada, Tomo I, Coimbra,  2005,  «…a  garantia  da  segurança  no  emprego  concretiza‐se,  antes  de  mais,  na  proibição  dos  despedimentos (…)» (pág. 505), mas «…o conteúdo normativo do art.º 53.º não se esgota na proibição  de  despedimentos  injustificados,  intervindo  (…)  (pág.510),  por  exemplo  na  proibição  de  «…introduzir  uma modificação substancial no próprio regime da relação de emprego» (pág.514). . 13   .

(14) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . para ocorrer a necessidades temporárias das entidades empregadoras e pelo período  estritamente necessário à satisfação dessas necessidades» 25 .  Ora,  sendo  a  “estabilidade”  concebida  como  o  direito  do  trabalhador  a  conservar  o  seu  emprego,  deste  princípio  retiramos  que  a  nossa  Constituição  optou  pelo  chamado  sistema  de  despedimento  causal,  justificado  ou  motivado 26 ,  por  oposição ao sistema de despedimento livre ou ad nutum, onde o empregador poderia  pôr  fim  ao  contrato  de  trabalho  sem  ter  de  fundamentar  a  razão  para  a  ruptura  do  mesmo.   Como  afirma  Jorge  Leite 27 :  «…a  norma  da  CRP  que  erigiu  a  estabilidade  no  emprego  em  direito  fundamental  dos  trabalhadores  e  proibiu  o  despedimento  sem  justa  causa,  quis  apenas,  o  que  não  quer  dizer  que  tenha  querido  pouco,  extinguir  a  figura do despedimento por motivo atendível, mas, manifestamente, não quis reduzir  os  fundamentos  do  despedimento  à  justa  causa.»  O  mesmo  quererá  dizer  que  a  estabilidade,  enquanto  direito  do  trabalhador  a  conservar  o  seu  posto  de  trabalho,  parte do pressuposto de que o empregador só terá direito a resolver o contrato desde  que exista uma justa causa.  Os  supracitados  princípios  apontam,  assim,  para  uma  nítida  diferenciação  de  regimes,  consoante  a  iniciativa  de  ruptura  provenha  do  empregador,  através  do  despedimento,  ou  do  trabalhador,  pela  denúncia.  Deste  modo,  verificamos  que  não  existe  paridade  na  posição  das  partes.  Dos  mecanismos  jurídicos  conferidos  ao  empregador e ao trabalhador com vista à cessação do contrato, apenas em relação ao  primeiro  se  estabeleceram  condicionantes  à  liberdade  de  livre  desvinculação.  Esta  diferença  de  regimes  tem  o  seu  fundamento  no  princípio  da  segurança  no  emprego  (art.º 53.º da CRP).  Independentemente  da  garantia  constitucional  da  segurança  no  emprego  constituir  uma  importante  referência  jurídico‐política,  “estabilidade”  não  significa  inamovibilidade e o trabalhador pode perder o emprego mesmo contra a sua vontade.  .                                                              25.  In Constituição da República Portuguesa Anotada, vol.I, 4.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra, 2007, pág.  711.  26  Esta opção encontra suporte na Convenção n.º 158 da OIT, de 1982, sobre a cessação do contrato por  iniciativa  do  trabalhador,  aprovada  para  ratificação  pela  Resolução  da  Assembleia  da  República  n.º  55/94, de 27 de Agosto.  27  Op. cit., A extinção do contrato de trabalho…, vol. 1, pág. 37. . 14   .

(15) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . Sendo essa segurança o factor primordial de estabilidade, a ela contrapõem‐se  a flexibilidade e a mobilidade 28 , agregadas à necessidade de formação profissional e à  introdução  de  novos  métodos  de  produção  e  novas  tecnologias,  que  são  factores  de  competitividade entre empresas.   A ser assim, na inexistência de uma hierarquia entre os referidos princípios, à  segurança no emprego deverá conciliar‐se o direito de propriedade privada e, na sua  vertente, a liberdade de iniciativa empresarial. Só desta forma se permitirá estabelecer  um equilíbrio entre ambos os direitos, admitindo‐se limitações recíprocas.  Tenhamos  presente  que  a  segurança  no  emprego  deve  ser  ponderada  atendendo  à  prossecução  da  finalidade  da  empresa,  designadamente  à  sua  competitividade. O mesmo acontece com a liberdade de desvinculação do trabalhador,  que não deverá permitir uma ruptura contratual sem mais.                                                                                              28.  Sobre as relações entre evolução tecnológica e introdução de mecanismos jurídicos que assegurem o  enriquecimento da categoria profissional, vd. Bernardo Xavier, “Flexibilidade e Mobilidade”, in AA. VV., I  Congresso  Nacional  de  Direito  do  Trabalho  –  Memórias,  Coord.  António  Moreira,  Almedina,  Coimbra,  1998, pp. 115 e ss.. Também sobre este tema, José João Abrantes, “Direito do Trabalho e Cidadania”, in  Trabalho e Relações Laborais, Cadernos Sociedade e Trabalho, I, Celta Editora, Oeiras, 2001, pág. 97, e  “O Direito Laboral face aos novos modelos de prestação de trabalho”, in AA. VV., IV Congresso Nacional  de Direito do Trabalho – Memórias, Coord. António Moreira, Almedina, Coimbra, 2002, pp. 83 ‐ 94. . 15   .

(16) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . 1. A EXTINÇÃO DO CONTRATO POR INICIATIVA DO TRABALHADOR  1.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA    O Direito Privado, nomeadamente o Direito Civil, encontra raízes históricas no  Direito  Romano.  Também  o  juslaboralismo  actual  está  marcado  pelas  recepções  sucessivas  da  tradição  romanística 29 .  O  fenómeno  do  trabalho  subordinado  não  lhes  era  estranho,  muitas  das  regras  que  o  compreendiam  sobreviveram,  sobretudo,  através da pandectística, chegando até aos dias de hoje.  A  Roma  antiga  era  uma  sociedade esclavagista,  onde  o  trabalho  prestado  por  conta  de  outrem,  fora  do  quadro  da  família,  era  o  trabalho  servil,  prestado  por  escravos e servos. Não se tratando de trabalho autónomo, isto é, das chamadas artes  liberais,  trabalhar  por  conta  de  outrem  seria  pouco  dignificante,  era  um  preconceito  existente 30 , ainda que as ideias cristãs de dignificação da pessoa viessem a atenuar o  desprezo pelo trabalhador por conta de outrem.   O surgimento da estruturação corporativa das profissões e a incessante busca  pela  defesa  dos  direitos  e  interesses  da  classe  profissional  trouxeram  importantes  contributos  que  influenciaram  o  regime  vigente 31 .  No  entanto,  a  relação  hierárquica  característica destas corporações (aprendizes, companheiros e mestres) não era bem  aceite por alguns e, com o crescente de conflitos, o sistema corporativo foi dado como  inadaptado às exigências das novas condições económicas, levando, em finais do séc.  XVIII, à sua extinção. Com a luta de classes então gerada facilmente se denotaram as  consequências.  Estava  em  vista  a  revolução  industrial  e  capitalista  a  que  muitos  autores fazem retroceder as origens do Direito do Trabalho.  A degradação do estatuto do trabalhador subordinado 32  levou a condições de  vida  demasiado  precárias  para  um  mínimo  de  dignidade.  Surgiram,  assim,  os  problemas  sociais,  comummente  denominados  pela  Questão  Social,  entendida  esta                                                               29.  Sobre este ponto, vd. Menezes Cordeiro, op. cit., Manual de Direito do Trabalho…, pp. 35 ‐ 36.   Pedro Romano Martinez, Direito do Trabalho, Almedina, Coimbra, 2002, pág. 69.  31   Tratava‐se  de  um  associativismo  profissional,  com  importante  influência  nas  normas  do  trabalho  subordinado, cujo  objectivo primordial  era  o  da  defesa dos  direitos  e  interesses  da  classe  profissional  perante terceiros. Apesar da regulamentação das corporações não ser semelhante ao moderno Direito  do  Trabalho,  cumpre  referir  que  nesse  período  se  fixaram  as  regras  percursoras  do  actual  regime  de  acidentes de trabalho e de segurança social.  32   Baixos  salários,  falta  de  condições  de  higiene  e  segurança,  falta  de  protecção  na  doença,  nos  acidentes e na velhice...   30. 16   .

(17) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . como o motor do Direito do Trabalho, levando a um intenso debate ideológico sobre  as condições laborais.   Para  além  do  surgimento  de  sindicatos,  surgiu,  por  parte  dos  estados,  um  empenhamento  nas  reformas  sociais,  inspiradas  em  doutrinas  sociais  diversas:  socialismo,  marxismo,  cooperativismo,  doutrina  social  da  Igreja.  Assistiu‐se  a  uma  crescente intervenção estadual e a relação laboral não estava apenas dependente da  vontade das partes. O moderno Direito do Trabalho ameaçava instalar‐se.   Regressando  ao  tema  em  questão,  um  dos  fundamentos  historicamente  utilizados  para  justificar  o  reconhecimento  ao  trabalhador  da  faculdade  de  extinguir  por sua vontade o contrato de trabalho, para além da liberdade da pessoa, é também  a necessidade de assegurar o vínculo contratual 33 . Só a prestação de trabalho feita por  um homem livre que tenha liberdade na prestação do serviço interessa ao Direito do  Trabalho.   Não  só  no  Code  Civil  como  em  tantos  outros  códigos  oitocentistas  por  ele  inspirados, o contrato de trabalho figuraria, sem autonomia própria, ao lado de vários  outros contratos 34 . De acordo com os princípios informadores desses códigos, a força  obrigatória  dos  contratos  tinha,  como  seu  corolário,  a  impossibilidade  de  desvinculação  unilateral,  sendo  a  vontade  das  partes  o  fundamento  do  vínculo  obrigacional e o contrato tido, quase exclusivamente, como a única fonte normativa.  Apenas  o  acordo  de  ambas  poderia  pôr  termo  ao  mesmo.  Deste  modo,  não  era  permitida a desvinculação unilateral ad nutum 35 .  Como  afirma  Jorge  Leite 36 ,  não  obstante  o  Code  Civil  ser  uma  síntese  de  racionalização  jurídica  com  um  importantíssimo  papel  na  divulgação  das  ideias  das  revoluções liberais, “na verdade, não era nem o código do trabalho nem o código dos  trabalhadores”.  O Código Civil de 1867 foi o primeiro texto legislativo a abordar os problemas  do trabalho subordinado. As relações de trabalho por conta de outrem, predominantes                                                               33.   Esta  garantia  de  temporalidade  foi  considerada  imprescindível  na  Codificação  Liberal,  que  excluía  a  possibilidade de contratação para toda a vida.   34  José João Abrantes, “Do Direito Civil ao Direito do Trabalho. Do Liberalismo aos nossos dias”, in Direito  do Trabalho – Ensaios, Edições Cosmos, Lisboa, 1995, pp. 17 ‐ 38.  35  Sobre a figura da cessação no Code Civil, vd. Jorge Leite, op. cit., A extinção do contrato de trabalho…,  vol. 1, pp. 43 ‐ 53.    36  Op. cit., A extinção do contrato de trabalho…, vol. 1, pp. 44 ‐ 45. . 17   .

(18) Denúncia do contrato de trabalho pelo trabalhador   . na  época,  como  sejam  o  serviço  doméstico,  o  serviço  salariado  e  a  aprendizagem,  manifestam bem a preocupação do legislador quanto à limitação da temporalidade do  vínculo laboral.   Contudo, como nota Jorge Leite 37 : «no mundo da indústria ia‐se fazendo uso,  reiterada  e  sistematicamente,  do  expediente  da  desvinculação  unilateral  e  extrajudicial que o direito codificado não só não previa, como implicitamente proibia.»   Certas práticas e praxes industriais levaram à emergência da rescisão ad nutum,  ainda  que,  só  em  1989,  com  a  LCCT,  se  tenha  entendido  que  a  rescisão  pelo  trabalhador  deveria  ser  inteiramente  livre,  caso  o  contrato  não  fosse  mais  do  seu  interesse.  É  então  reconhecido  o  direito  de  livre  desvinculação  como  corolário  da  liberdade de trabalho.   Ainda que a ruptura antecipada por iniciativa do trabalhador fosse configurada  pelo  nosso  ordenamento  como  um  incumprimento  contratual,  sujeitando  aquele  à  consequente  responsabilidade,  o  trabalhador  é  hoje  livre  de  denunciar  o  contrato  antes  do  seu  termo;  é  livre  de  o  rescindir  sem  justa  causa,  encontrando‐se  apenas  adstrito a pré‐avisar a entidade empregadora.                                                                                           37.  Op. cit., A extinção do contrato de trabalho…, vol. 1, pág. 51. .  . 18   .

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