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O lugar da infância no contexto familiar e social: percursos construídos no município de Três Passos/RS

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS MESTRADO

CARINE ISABEL BOTH PINTO

O LUGAR DA INFÂNCIA NO CONTEXTO FAMILIAR E SOCIAL: PERCURSOS CONSTRUÍDOS NO MUNICÍPIO DE TRÊS PASSOS/RS

Ijuí (RS) 2018

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CARINE ISABEL BOTH PINTO

O LUGAR DA INFÂNCIA NO CONTEXTO FAMILIAR E SOCIAL: PERCURSOS CONSTRUÍDOS NO MUNICÍPIO DE TRÊS PASSOS/RS

Dissertação apresentada à Banca do Curso de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação nas Ciências, do Departamento de Humanidades e Educação (DHE), da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), como requisito para obtenção do título de Mestre em Educação nas Ciências.

Orientadora: Maristela Borin Busnello

Ijuí (RS) 2018

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Catalogação na Publicação

Eunice Passos Flores Schwaste CRB10/2276

P659l Pinto, Carine Isabel Both.

O lugar da infância no contexto familiar e social: percursos construídos no município de Três Passos/RS / Carine Isabel Both Pinto. – Ijuí, 2018.

143 f; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Educação nas Ciências.

“Orientadora: Maristela Borin Busnello”.

1. Infância. 2. Escola. 3. Família. 4. Vagas. 5. Educação Infantil. I. Busnello, Maristela Borin. II. Título.

CDU: 372.2(816.5)

1. Infância. 2. Escola. 3. Família. 4. Vagas. 5. Educação Infantil.

I. Busnello, Maristela Borin. II. Título.

CDU: 372.2(816.5)

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DEDICATÓRIA

À Pedro Luciano... que me instiga a ser cada vez mais humana. Que me encoraja, que me encanta.

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AGRADECIMENTOS

O ato de agradecer é sublime, por isso tento fazê-lo com frequência. Mas neste momento é diferente... Utilizo-me da escrita para tornar minha gratidão visível.

Registro aqui com todo meu carinho e respeito o fato de nunca ter estado sozinha. Ao nascer fui agraciada com uma família maravilhosa, meu exemplo, minha fortaleza.

Ao meu pai exímio leitor, agradeço o estímulo e os bons exemplos, em especial a honestidade.

À minha mãe, a doçura, que vai além das tortas que produz e que tantas vezes financiaram meus estudos.

À minha irmã, o companheirismo, a amizade e a destreza com que “quebra meus galhos”.

Ao meu esposo Sergio, que ao acreditar em mim, fez dos meus sonhos os seus. Que ao secar minhas lágrimas lembrava-me o essencial.

Ao nosso filho Pedro, que ao afirmar que eu seria “Profes das Profes” me tornou forte.

À professora Noeli, minha orientadora, que ao não me dar respostas, tanto me respondeu. Muito obrigada por me encorajar a enxergar, a escrever e a acreditar nas minorias.

À professora Maristela, um presente inesperado e valioso.

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da UNIJUÍ, pelo acolhimento e a oportunidade de através de uma bolsa CAPES cursar o Mestrado.

Agradeço as minhas colegas mestrandas e doutorandas, que a cada conversa, a cada texto, a cada encontro me lembravam a beleza e o compromisso de sermos educadoras.

Às minhas queridas amigas, que acompanharam este processo de pesquisa, e torceram por mim, dando sentido à escuta sensível, que abraça, que acolhe, que encoraja para seguir em frente.

À Prefeitura Municipal de Três Passos na pessoa do Prefeito José Carlos Amaral que viabilizou minhas saídas e me permitiu constituir-me pesquisadora através do meu local de trabalho.

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Aos Secretários de Educação, Dalmiro Silva, Neiva Becker e Valdemar Bonatto, que em mim acreditaram e me possibilitaram o privilégio de coordenar a Educação Infantil de Três Passos nestes dez anos.

Às Diretoras das EMEIs, minhas companheiras de trajetória. Muito obrigada por tudo o que vivenciamos juntas ao nos aventurarmos na tarefa de tornar a escola um lugar qualificado para a infância.

Às colegas da SMEC que me deram forças, que “cobriram” minhas ausências e acreditaram que através do meu estudo, toda a rede poderia se qualificar. Às famílias, em especial as mulheres/mães que me moveram a pesquisar através da inquietante busca por vagas na educação infantil.

À Deus pela vida, pela saúde e pela oportunidade de transformar minhas angústias em questões de pesquisa!

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“Poderoso para mim não é aquele que descobre o ouro. Para mim poderoso é quem descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas) ”.

Manoel de Barros

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RESUMO

Este texto dissertativo tem como foco refletir sobre o lugar da infância no contexto familiar e social, considerando o nascimento das crianças como um acontecimento, um marco que as torna parte do mundo no qual vivemos e do qual somos como seres humanos, responsáveis. Na tarefa de cuidar e educar as crianças, a vida cotidiana revela suas necessidades, destacando a importância do trabalho para o sustento familiar e o lugar para as crianças recém-chegadas permanecerem enquanto os pais trabalham. Nesta pesquisa, seis famílias trabalhadoras, de classes populares compartilham com a escola a educação dos filhos e a ela confiam o cuidado e a educação das crianças pequenas como principal recurso disponível. A escola é descrita por elas como um lugar qualificado, onde compartilham valores, crenças e rotinas. A mesma relevância é dada por parte das famílias que aguardam na lista de espera e criam expectativas mediante a possibilidade da vaga. O referencial teórico e metodológico utilizado na escrita é a pesquisa qualitativa de cunho etnográfico. Os instrumentos da pesquisa são entrevistas semiestruturadas com as famílias participantes, assim como quatro narrativas familiares escolhidas junto a um caderno de memórias produzido no decorrer de dez anos de atuação na Secretaria Municipal de Educação de Três Passos, configurando um estudo de caso. A discussão dos dados considera os instrumentos utilizados dando voz aos sujeitos da pesquisa, na intenção de desvendar o lugar da infância em contextos onde existe o suporte da escola e onde a inexistência de vagas não o permite. O entendimento de que as crianças têm direito a educação e que esta deve ser de qualidade, com profissionais, espaços e propostas coerentes revelou-se na pesquisa na perspectiva micro social desde o ponto de vista das famílias. Vislumbra-se que a experiência de conviver em escolas da infância é um privilégio e que estar na escola possibilita vivências para as crianças de classes populares, possíveis apenas nestes espaços. Por outro lado, as famílias também percebem fragilidades como a falta de profissionais nas escolas, comunicação pouco clara, quando escola e família pensam diferente. Porém, mesmo sendo as relações estabelecidas na escola muito particulares e subjetivas, elas revelam que uma política municipal de educação infantil respeitosa contribui para que a vida e formação das crianças, e que através delas, em ambientes coletivos, podem revelar a vivências de muitos significados. Ao referir-se ao município de Três Passos, a escrita ganha uma perspectiva macro social, revelando as trajetórias construídas nos anos de 2009 a 2016 para a ampliação do acesso das crianças às escolas da infância, possibilitando a elas e suas famílias a oportunidade da convivência coletiva, do cuidado e da educação como um compromisso que respeita a infância e suas potencialidades. Ao analisar o CAQ e o CAQi discute-se a importância de que estes instrumentos para serem implementados demandam engajamento de toda a sociedade, colocando em prática as metas do PNE. O desfecho da pesquisa evidencia que a infância não tem um lugar, ela está em todos os lugares e encanta pela forma que os invade. Destaca-se ainda experiência de ampliação do acesso das crianças à escola infantil no Município de Três Passos apresentando-o como um lugar qualificado, de oportunidades para as crianças.

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ABSTRACT

This dissertation text has as focus to reflect about the infancy place in the social and familiar context, considering the children birth as an occasion, a mark that makes them part of the world where we live and the one where we are like human being, responsible. At the task of caring and educate the children, the daily life reveals its needs, underscoring the importance of working to support the family and the place for these newly children stay while their parents work. On this research six working families, of popular financial conditions share with the school the education of the children and they trust on it, their children caring and education as the principal resource available. The school is seen as a qualificator place, where they share values, belief and routines. The same relevance, it is given by the families that wait on the waiting list and create expectations about the possible vacancy. The theoretical and methodological referential used in writing is the qualitative research of ethnographic mark. The instruments of the research are semi-structured interviews with the families, such as four family narratives chosen joined to a memory notebook made during ten years of acting in the Municipal Education Secretary of Três Passos, configuring a case studying. The data discussion considers the instruments used giving voice to the research subjects, intending to learn the place of the infancy in contexts where there is support of the school and where the vacancy inexistence does not permit it. The attending that the children has the right of education and that it must be of quality, with professionals, space and coherent proposes revealed in the research on a micro social perspective since the families’ point of view. It foresees that the experience of hanging out at schools of children is a privilege and that being at school provides experience for the children of popular financial level, possible only at these places. On the other hand, the families also realize fragilities like the lack of professionals at the schools, communication little clear, when school and family think different. Besides, even being the relationships stablished at school very particular and subjective, they reveal that a municipal policy of respectful children education contributes for the life and formation of the children, and that through them, in collective environment, they can reveal very significant experiences. Refering to the city of Três Passos writing gets a macro social perspective, revealing trajectory built in the years of 2009 to 2016 to expand the children access to children schools, giving them and their families the opportunity of collective living, caring and education like a responsibility that respects the children and their potencialities. Analyzing the CAQ and the CAQI, it discusses the importance that these instruments to be implemented demand engagement of all the society, putting on practice the PNE goals. The endpoint of this research highlight that the infancy does not have a place; it is in all the places and it delights by the way that invade them. It points out expansion experience of the access of the children to the infant school in Três Passos city, presenting it as a qualified place, of opportunities for the children.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Imagem área do município de Três Passos ... 29

Figura 2 - Fachada da EMEI Cinderela – 2018 ... 31

Figura 3 - Momentos e espaços da EMEI Cinderela ... 33

Figura 4 - Fachada EMEI Elso Paulo Severnini – 2018 ... 34

Figura 5 - Momentos e espaços EMEI Elso Paulo Severnini ... 35

Figura 6 - Espaços EMEI Elso Paulo Severnini ... 37

Figura 7 - Fachada EMEI Lápis de Cor – 2018 ... 37

Figura 8 - Área externa EMEI Lápis de Cor ... 38

Figura 9 - Momentos EMEI Lápis de Cor ... 39

Figura 10 - Espaços EMEI Lápis de Cor ... 40

Figura 11 - Gestação ... 52

Figura 12 - Metáfora da Casa ... 54

Figura 13 - Mãe deixando bebê na escola de educação infantil... 66

Figura 14 - Crianças na escola de educação infantil ... 68

Figura 15 - Descanso das crianças da educaçao infantil ... 69

Figura 16 – Brincadeira ... 70

Figura 17 - Cuidados com a alimentação ... 75

Figura 18 - Quebra-cabeças... 79

Figura 19 - Metas do PNE - Lei nº13.005/2014 ... 82

Figura 20 - Painel do Observatório sobre a Meta 1 do PNE ... 84

Figura 21 - Simulador Custo Aluno Qualidade – CQAI ... 94

Figura 22 - Comparação de resultados ... 96

Figura 23 - Radiografia do Tribunal de Contas do Estado - Três Passos ... 118

Figura 24 - Taxa de aluno matriculado em creche - Três Passos ... 120

Figura 25 - Taxa de aluno matriculado em pré-escola - Três Passos ... 121

Figura 26 - Taxa de atendimento de 0 a 5 anos em relação aos demais municípios do Rio Grande do Sul ... 123

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Número de crianças matriculadas nas EMEIs ... 127 Gráfico 2 - Alunos matriculados nas EMEIs ... 129

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LISTA DE ABREVIATURAS

BNCC - Base Nacional Curricular Comum CME - Conselho Municipal de Educação CPM - Círculo de Pais e Mestres

CT- Conselho Tutelar

DCNEI - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

EI - Educação Infantil

EMEFs - Escolas Municipais de Ensino Fundamental EMEIs - Escolas Municipais de Educação Infantil

FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FUNDEB - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica

FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério

LE - Lista de Espera

LBA - Legião Brasileira de Assistência MEC - Ministério da Educação

MIEIB - Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil PREDUC - Promotoria Regional de Educação

PME - Plano Municipal de Educação

PNAE - Plano Nacional de Alimentação Escolar PNE - Plano Nacional de Educação

PNAIC - Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa PNE - Plano Nacional de Educação

PPP - Projeto Político Pedagógico

SMEC - Secretaria Municipal de Educação e Cultura SMP - Secretaria Municipal de Planejamento

SMS - Secretaria Municipal de Saúde TCE - Tribunal de Contas do Estado

UNDIME - União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação VAA - Valor aluno ano

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO --- 15

1 PERCURSOS NA TRAJETÓRIA DA PESQUISA --- 22

1.1 Questões metodológicas: escolhas no caminho! --- 22

1.2 Município de Três Passos como cenário da pesquisa --- 29

1.3 As Escolas de Educação Infantil: lócus da investigação --- 30

1.3.1 EMEI Cinderela --- 31

1.3.2 EMEI Elso Paulo Severnini --- 34

1.3.3 EMEI Lápis de Cor --- 37

1.4 Sujeitos da Pesquisa --- 40

1.5 Produção e Análise dos Dados --- 50

2 HISTÓRIAS QUE SE ENCONTRAM PELA INFÂNCIA: NECESSIDADES, DIREITOS E DESAFIOS --- 52

2.1 O nascimento como oportunidade de acolher as crianças no mundo! --- 52

2.2 Família: estrutura que acolhe os recém-chegados --- 56

2.3 Família e escola: quando esta relação passou a existir? --- 59

2.4 A escola da infância como um lugar aos que fazem chegada no mundo --- 64

2.5 A escola da infância: Direito de todos, lugar somente para alguns !? --- 73

2.5.1 A educação infantil e as metas do Plano Nacional de Educação --- 81

2.5.2 A Educação Infantil de Três Passos e as Metas do Plano Municipal de Educação --- 85

2.5.3 Vaga na educação infantil: Faz ou não diferença? --- 87

3 GESTÃO DA INFÂNCIA --- 90

3.1 Escolas de qualidade para a infância --- 90

3.2 O Financiamento da Educação Infantil Municipal --- 97

4 EDUCAÇÃO INFANTIL EM TRÊS PASSOS --- 100

4.1. Voltando ao início: tempo de infância --- 100

4.2 A escola como um lugar --- 103

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4.4 Conquistas suadas! --- 110

4.5 A gente é feliz assim! --- 113

4.6 Andanças... A Trajetória Construída no Município de Três Passos --- 117

4.7 A voz da comunidade três-passense --- 125

4.8 Desafios na Educação Infantil de Três Passos --- 128

CONSIDERAÇÕES FINAIS... --- 132

REFERÊNCIAS --- 135

APÊNDICE 1- QUESTÕES PARA AS ENTREVISTAS ABERTAS --- 139

APÊNDICE 2 - QUESTÕES PARA AS ENTREVISTAS ABERTAS --- 140

ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO --- 141

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INTRODUÇÃO

“...Era uma vez O dia em que todo dia era bom Delicioso gosto e o bom gosto das nuvens serem feitas de algodão Dava pra ser herói no mesmo dia em que escolhia ser vilão E acabava tudo em lanche Um banho quente e talvez um arranhão...” (Kell Smitt)

Filha de agricultores, moradores do Distrito de Lajeado Vieira, Santo Cristo/RS, cresci escutando meus pais afirmarem que estudar “é fundamental”. Na concepção deles, que concluíram seus estudos quando ainda cursavam os primeiros anos do ensino fundamental, é através da educação que se tem acesso ao conhecimento e este é transformador, pois a vida tende a ser dura com aqueles que sabem pouco.

No início do ano de 2009, fruto de algumas escolhas feitas, recebi o convite para assumir a coordenação das Escolas Municipais de Educação Infantil. Junto ao meu sim, veio o desafio de contribuir na efetivação de uma educação municipal de qualidade às crianças de 0 a 5 anos. Diante desta tarefa, assumi um outro lugar, diferente daquele que ocupava até então, sendo professora de crianças em uma escola do interior de Três Passos.

O conto grego “Fátima, a fiandeira”, recontado por Regina Machado, ilustra este tempo, por isso utilizo-me dele para início de conversa...

Existia uma jovem que, depois de inúmeras aventuras, obstáculos e dificuldades, consegue fazer uma tenda para o imperador da China, empregando tudo que havia aprendido com muitas pessoas com as quais conviveu e com as situações que exigiram dela a busca de soluções. Assim, diante da inexistência, naquele país, dos vários materiais necessários, à confecção da tenda, acabou por fazê-los ela própria: colheu linho e fez as cordas, lembrando-se de seus tempos de fiandeira; produziu um tecido forte e resistente, utilizando sua experiência com os tecelões de Alexandria; fez

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estacas firmes para sustentar a tenda, lembrando-se do que lhe ensinara a fabricante de mastros, em Istambul. Finalmente, construiu a tenda puxando da memória todas as tendas que tinha visto em suas viagens. Satisfeito com a maravilhosa produção, o imperador se prontificou a realizar qualquer desejo que Fátima expressasse. Ela escolheu morar na China, onde se casou com um belo príncipe, teve filhos e viveu muito feliz até o fim de seus dias. Entre tantas aventuras, Fátima compreendeu que cada ocasião que lhe tinha parecido uma experiência difícil e trabalhosa acabou sendo essencial para suas conquistas (MACHADO, 2004, p.123).

Minha experiência como professora era recente, mas assim como Fátima, no ano de 2009, eu já havia vivido inúmeras aventuras, que me faziam acreditar na infância como um tempo único da vida, repleto de encantos e possibilidades. Trabalhar na Secretaria de Educação seria a oportunidade que eu precisava para “construir tendas”. Sim, construir tendas, como espaços educativos já existentes, mas que poderiam ser ampliados, ofertando um trabalho voltado ao respeito com a infância.

Eu tinha a clareza de que não disponibilizaria de todos os materiais necessários e teríamos que construir muitas coisas coletivamente, ouvindo as profissionais, os pais, as crianças, a comunidade. Sabia que assim como Fátima, cada ocasião que me surgisse como uma experiência difícil e trabalhosa seria fundamental para novas conquistas.

A escrita que passo a apresentar é resultado de uma pesquisa marcada por experiências de um tempo que compõem a minha própria história. Como coordenadora, deparei-me diversas vezes com situações onde mães precisavam retornar ao trabalho e não dispunham um lugar para deixar seus filhos. Cada uma delas, tomadas por histórias e narrativas diferentes, carregavam em comum o desejo de ofertar ao recém-nascido segurança e proteção. Passei a escutá-las na intenção de contribuir e com isso dei-me conta de fragilidades do sistema educacional que mereciam ser investigadas.

Escutar tornou-se um hábito para mim, tanto no trabalho como fora dele. Na intenção de conectar-me com as notícias locais, passei a sintonizar a emissora da cidade ao dirigir meu carro. Em meio a este hábito, diversas vezes escutei a música “Era uma vez”, interpretada por Kell Smith, que chamou-me atenção em razão de seu conteúdo voltar-se a infância. Com ritmos suaves a canção nos convida a revisitar este tempo, que para mim e para muitos já ficou para trás, dando espaço a vida adulta.

Passei a me perguntar o que caracteriza a infância. Seria um tempo que passa em nossas vidas? Teria a vida adulta lugar para a infância que foi vivenciada?

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A música afirma que “a gente quer crescer...e quando cresce quer voltar do início”, e por vezes concordo com ela, pois a metáfora revela saudades deste tempo, onde brincar firmava-se o compromisso mais importante e em meio a imaginação, as nuvens ganhavam formato, o pátio tinha o tamanho do mundo e no mesmo dia dava para ser herói e vilão.

Desejar a infância de volta, mesmo que na canção, constitui-se como apelo, como respeito a um tempo único da vida das pessoas. Um tempo que ao findar para alguns, recomeça para outros. Pensar as infâncias significa confirmar que elas são muitas, plurais. Cada um carrega consigo a infância que viveu e junto dela as possibilidades que desfrutou. Ao tornar-se adulto, não se apaga a criança que um dia foi. Ela permanece ali, mesmo que silenciosa. Ela acompanha o menino virar homem, a menina consagrar-se mulher. Ao ser tomada por mais responsabilidades, a criança dá espaço ao adulto que ela se transformou e este é convidado a acreditar que “dá pra viver mesmo depois de descobrir que o mundo ficou normal”.

Viver em sociedade, em um mundo aparentemente “normal”, significa conviver com a pressa, a competitividade, a ganância. A validade do ócio, da brincadeira, do encantamento são questionadas. Faz-se urgente acreditar na felicidade e como diz a música, que “ela mora no caminho e não no final”. As miudezas, as insignificâncias, os detalhes são peças fundamentais para quem acredita na efetivação de um mundo mais humano, onde a infância tem tarefa fundamental pois são elas que nos ensinam a impressionar-se com a simplicidade, questionar o óbvio e dar créditos a vida.

Em meio a barbárie instalada em nossa sociedade, onde diferentes manifestações de falta de respeito marcam a convivência humana, faz-se tempo de voltarmo-nos as crianças e confiar nelas. Isto porque,

Crianças pequenas são seres humanos portadores de todas as melhores potencialidades da espécie: inteligentes, curiosas, animadas, brincalhonas em busca de relacionamentos gratificantes, pois descobertas, entendimento, afeto, amor, brincadeira, bom humor e segurança trazem bem-estar e felicidade; tagarelas, desvendando todos os sentidos e significados das múltiplas linguagens de comunicação, por onde a vida se explica; inquietas, pois tudo deve ser descoberto e compreendido, num mundo que é sempre novo a cada manhã; encantadas e fascinadas, solidárias e cooperativas desde que o contexto a seu redor, e principalmente, nós adultos/educadores, saibamos responder, provocar e apoiar o encantamento, a fascinação que leva ao conhecimento, à generosidade e à participação (BRASIL 1998, p.6).

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As crianças são capazes de encantar com sua alegria, sua curiosidade e disposição, mas necessitam do outro para que as ajude, as incentive. O adulto tem papel fundamental, ao acreditar nelas e protegê-las. Na canção “Era uma vez” a autora apresenta a infância como um período em que “todo o dia era bom”, porém na vida real, as crianças não são imunes a dores e frustrações. Entre a magia e a realidade, a infância aparece marcada por inúmeras situações e é explicada por diferentes campos das ciências sociais, entre eles aAntropologia da criança1 e a Sociologia da infância2 que tem se dedicado a entender o ponto de vista daqueles sobre quem e com quem fala, sendo capaz de entender a criança e seu mundo a partir de seu próprio ponto de vista.

Conforme Manoel Sarmento (2015), a Sociologia da infância tem vindo a considerar a infância como uma construção social e a compreender as crianças como atores sociais plenos, competentes, ativos e com voz.

Para Cohn, C. (2005, p.08), precisamos nos desvencilhar das imagens preconcebidas das crianças, e abordar esse universo e essa realidade tentando entender o que há neles, e não o que esperamos que nos ofereçam. Para a autora,

[...] ao contrário de seres incompletos, treinando para a vida adulta, encenando papéis sociais, enquanto são socializados ou adquirindo competências e formando sua personalidade social, passam a ter um papel ativo na definição de sua própria condição (COHN, C. 2005, p. 21).

1 Conforme Cohn (2005), os estudos mais famosos na antropologia que têm as crianças como foco principal são, ainda hoje, os realizados em 1920 e 30, especialmente por Margaret Mead. Estes estudos preocupavam-se em entender o que significa ser criança e adolescente em outras realidades socioculturais, definindo a cultura como aquilo que é transmitido entre as gerações e aprendido pelos membros da sociedade.

A antropologia trata da importância de ouvir, observar e pesquisar crianças e grupos infantis, já que possuem linguagens e culturas próprias; conhecer os diversos contextos, sua multiculturalidade e reconhecê-las como atores sociais e autores e protagonistas das suas vidas.

2 A Sociologia da Infância constituiu-se, em larga medida, nas denúncias daquilo que era um discurso hegemônico sobre crianças, um discurso referencial, que é o discurso da Psicologia do Desenvolvimento, em particular o discurso da Psicologia piagetiana. A visão proposta nesse discurso é teleológica, com a definição das etapas do desenvolvimento muito marcadas e com uma ideia de que tudo isso ocorre, digamos, numa espécie de código genético que se transporta para o comportamento humano através das capacidades e competências que são ou não suscetíveis do desenvolvimento (Cadernos de Formação RBCE, p. 11-37, set. 2015). Neste sentido Sarmento (2004), pesquisador, dedicado a temas como a condição social da infância e culturas infantis, destaca que nas últimas três décadas vem ocorrendo uma ruptura com um retrato da infância em negativo – que não fala, que não pode, que não sabe. Assim, a criança começa a ser cada vez mais pensada a partir do que é, do que sabe, do que pode, das suas competências, das suas formas de construir cultura, do modo como elabora sistemas ideológicos não necessariamente coincidentes com os dos adultos.

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Aquino e Gonçalves (2018, p. 24), reforçam que “a infância é uma construção social3, que vem sendo elaborada tendo a criança não mais como um objeto passivo, algo relativo ao vir a ser, mas como um sujeito íntegro e pleno, um sujeito histórico, social, político e cultural, que sofre mudanças e transformações”. Para as autoras a criança não vem ao mundo como uma folha em branco, mas desde que nasce carrega consigo os signos de sua classe, de sua cor, de sua comunidade. Assim, sua família e seu entorno interferem em sua história e nos modos como faz presença no mundo. O conceito de infância vai além da idade cronológica do ser humano. Ela vai ao encontro a características cujos adultos também podem desfrutar.

A experiência da infância não está vinculada unicamente à idade, à cronologia, a uma etapa psicológica ou a uma temporalidade linear, cumulativa e gradativa, já que ligada ao acontecimento; vincula-se à arte, à inventividade, ao intempestivo, ao ocasional, vinculando-se, portanto a uma des-idade. Dessa forma, como experiência, pode também atravessar ou não os adultos (ABRAMOWICZ, 2011, p.34).

O mundo que o adulto vive é o mesmo mundo que a criança vive, embora possa ser percebido e sentido de maneiras diferentes. Às crianças é reservado o direito de brincar, sonhar, fantasiar, enquanto os adultos nem sempre permitem-se esse direito, colocando-se no lugar de quem cuida, de quem sabe, de quem controla e hierarquicamente mantém a “ordem”, caracterizando as crianças como sujeitos frágeis e incompletos, que precisam ser cuidados. Essa condição vulnerável se mantém ainda sustentada pela sociedade atual.

Mesmo a criança sendo reconhecida como um ser de direitos, expressos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), seu papel como agente político permanece frágil. Aquino e Gonçalves (2018, p. 29), afirmam que “a participação das crianças com plenitude nas lutas de seu cotidiano ainda é vista de forma romântica, depositando nelas o crédito de ao crescer constituir-se um agente transformador do futuro, com a tarefa de corrigir, os erros do presente, ao qual tem sido negado

3Kramer (2008) corrobora ao explicar que as crianças são seres sociais, têm uma história, pertencem

a uma classe social, estabelecem relações segundo seu contexto de origem, têm uma linguagem, ocupam um espaço geográfico e são valorizadas de acordo com os padrões do seu contexto familiar e com a sua própria inserção nesse contexto. Elas são pessoas, enraizadas num todo social que as envolve e que nelas imprime padrões de autoridade, linguagem, costumes. Essa visão de quem são as crianças - cidadãos de pouca idade, sujeitos sociais e históricos, criadores de cultura - é condição para que se atue no sentido de favorecer seu crescimento e constituição.

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continuamente o reconhecimento de sua capacidade e o direito de sua participação na vida política da sociedade”. Volta-se para o futuro com a expectativa de que as crianças serão e se esquece no presente o fato das crianças já serem.

Assim,

[...] é um erro muito grave, que ofende o direito de ser, conceber a criança como apenas um projeto de pessoa, como alguma coisa que no futuro poderá adquirir a dignidade de um ser humano. É preciso reconhecer e não esquecer em momento algum, que, pelo simples fato de existir, a criança já é uma pessoa e por essa razão merecedora do respeito que é devido exatamente na mesma medida a todas as pessoas (DALLARI, 1986, p.21).

As crianças merecem reconhecimento no momento em que se encontram, pelas coisas que fazem, comunicam, desejam, lutam. É uma questão de respeito pensar com responsabilidade os espaços que habitam e as oportunidades que tem acesso. A infância tem elementos diversos para ser lembrada com saudades, mas ela convoca para a realidade, na intenção de potencializar este tempo no aqui e no agora. Kramer (2007), ao compreender as crianças como sujeitos sociais e históricos, defende a criança como um ser que sabe o que quer e recusa a percepção infantilizadora do ser humano.

[...] tenho defendido uma concepção que reconhece o que é específico da infância –seu poder de imaginação, fantasia, criação -, mas entende as crianças como cidadãs, pessoas que produzem cultura e são nela produzidas, que possuem um olhar crítico que vira pelo avesso a ordem das coisas, subvertendo essa ordem. Esse modo de ver as crianças pode ensinar não só a compreender as crianças, mas também a ver o mundo do ponto de vista da criança. Pode nos ajudar a aprender com elas (KRAMER, 2007, p. 272.

Na intenção de aprender com as crianças fica o convite de ouvi-las, de considera-las. Neste sentido tenho perguntado: Qual é o lugar da infância nos tempos atuais?

Apresento, a pesquisa intitulada como “O lugar da infância no contexto familiar e social: percursos construídos no município de Três Passos/RS na intenção de encontrar esta resposta e compreender as relações que se estabelecem entre a infância, a vida cotidiana das famílias e as escolas de educação infantil”.

Nessa perspectiva, faço o convite para que o leitor conheça as trajetórias construídas no município de Três Passos em relação à educação infantil, considerando seis entrevistas realizadas com famílias trabalhadoras que tem a escola

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como suporte na educação dos filhos pequenos e a análise de quatro narrativas, com as quais busco dar sentido a pesquisa.

No primeiro capítulo da dissertação, apresento a metodologia utilizada para a escrita, o cenário da pesquisa, o lócus da investigação e os sujeitos da pesquisa.

No segundo capítulo, intitulado como “Histórias que se encontram pela Infância: necessidades, direitos e desafios” apresento o nascimento dos bebês como uma oportunidade. Destaco o lugar da família como referência aos que chegam ao mundo, no compromisso de acolhê-los e lhes apresentar a vida em sociedade. Neste mesmo capítulo, a escola de educação infantil aparece como uma parceira das famílias na tarefa de educar as crianças pequenas, apontando o Plano Nacional e Municipal de Educação como documentos que apresentam propostas concretas de garantia do direito das crianças brasileiras e três-passenses a este serviço.

O terceiro capítulo é o momento em que apresento aos leitores reflexões acerca da “Gestão da Infância”, destacando o financiamento da educação municipal e apontando seu avanço através do CAQ e do CAQI.

Finalizando a escrita, no quarto capítulo, “Educação Infantil em Três Passos”, apresento a discussão e a análise dos dados obtidos nesta trajetória de pesquisa, mostrando através das vozes familiares a importância da política municipal de educação infantil.

Essa escrita se torna uma pesquisa com relevância social e pedagógica, oferecendo contribuições para o Curso de Mestrado, assim como para os Estudos da Infância à medida que considera o cotidiano das famílias participantes e das crianças, em uma relação com as políticas públicas municipais e nacionais de oferta e atendimento à educação infantil. Ao refletir sobre o lugar da infância em um contexto de trabalho, renda e sobrevivência, a escola potencializa-se para famílias de classes populares como um lugar qualificado para o cuidado e a educação das crianças pequenas e carrega o desafio de repensar seus fazeres reconhecendo-as como sujeitos sociais.

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1 PERCURSOS NA TRAJETÓRIA DA PESQUISA

1.1 Questões metodológicas: escolhas no caminho!

Tomada pelo compromisso de pesquisar o lugar da infância na vida cotidiana das famílias e entender que diferença faz a criança frequentar uma escola ou não, recorro à metáfora de Rubens Alves (2013) para pensar as questões metodológicas:

Um escoteiro, tendo ido com seus companheiros para um passeio na floresta, ficou sozinho quando eles voltaram, sem aviso, para o acampamento. Perdido, poderia ter começado a chorar ou, o que seria mais comum, a andar sem rumo para cá e para lá, na esperança de encontrar uma saída. Mas, inteligentemente, organiza sua mente e sua ação (p. 48).

Com o desejo de organizar minha ação e minha escrita, busquei referenciais teóricos. Deparei-me com a tese de Doutoramento de Simone Santos de Albuquerque

4Para além do ou “isto” ou “aquilo”: os sentidos da educação das crianças pequenas a partir das lógicas de seus contextos familiares (Porto Alegre, 2009), a qual foi uma

inspiração. Junto ao Google Acadêmico e ao Banco de Teses e Dissertações da Capes busquei mais elementos referentes à temática pesquisada, partindo das palavras-chave: Educação Infantil - Crianças – Famílias- Políticas Públicas- Creche - Vagas.

Os artigos, as dissertações e as teses encontradas me instigaram a buscar mais leituras, para compor um repertório de encontro com as minhas questões de pesquisa. Nas obras da filósofa Hannah Arendt5 busquei conceitos referentes a chegada dos bebês ao mundo e a responsabilidade de apresentar um mundo velho aos que nele chegam novos

4 Doutora em Educação e professora adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal do

Rio Grande do Sul (UFGRS).

5 Filósofa alemã, uma das raras vozes femininas de destaque na filosofia do século XX. Doutora em

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Aldo Fortunati6, Loris Malaguzzi7 e Carla Rinaldi8 são inspirações italianas que reforçam a ideia de uma “infância potente” em uma relação onde escola e família se complementam na tarefa de educar, considerando suas culturas e a comunidade da qual a criança é parte. Para estes autores as crianças mostram suas potencialidades à medida em que tem espaço para isso, amparados por um trabalho pedagógico que se constitui a partir da perspectiva da escuta e do respeito, compreendendo seus direitos, estimulando-os a participar e expressar-se como indivíduos.

Manuel Jacinto Sarmento9, estudioso português, ao tratar da participação das crianças provoca-me a pensar as relações que se estabelecem na escola infantil e o quanto este serviço têm as representado ou não. Maria Carmen Barbosa10 me instiga pensar a educação infantil com as crianças, referendando o tempo da infância como oportunidade.

Busco estudos e concepções de Moisés Kuhlmann Jr.11, Sônia Kramer12 e Fulvia Rosemberg13 para revisitar construções históricas referente à infância em

6Presidente do Centro de Pesquisa e Documentação sobre a infância La Bottega di Geppetto di San Miniato e Diretor da Área Educativa do Instituto degli Innocenti di Firenze.

7 Fundador da filosofia educacional de Reggio Emilia, formado em Pedagogia. Psicólogo educacional e fundador do Centro Médico Psicopedagógico Municipal de Reggio Emilia, onde trabalhou por mais de vinte anos.

8 Presidente da Reggio Children, professora da Universidade de Módena e Reggio Emilia, conselheira da municipalidade de Reggio Emilia e colaboradora das Universidades de Harvard, New Hampshire e Milão. 9Possui graduação em Estudos Portugueses pela Universidade do Porto (1980), Mestrado em Administração Escolar - Universidade do Minho (1993) e Doutorado em Educação da Criança - Universidade do Minho (1997). 10Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1983), especialista em Alfabetização em Classes Populares pelo GEEMPA (1984) e em Problemas no Desenvolvimento Infantil pelo Centro Lidia Coriat (1995), Mestre em Planejamento em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1987), Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2000) e Pós-doutora pela Universitat de Vic,Catalunya, Espanha (2013).

11 Pedagogo pela Faculdade de Educação da USP, Mestre em educação: História e Filosofia da

educação pela PUC-SP e Doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

12 Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Educação Jacobina (1975), Mestre em Educação pela

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/PUC-Rio (1981), Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1992), Pós-doutorado na New York University.

13Possui graduação em Psicologia pela Universidade de São Paulo (1965) e Doutorado em

Psychobiologie de lEnfant - Ecole Pratique des Hautes Etudes /Université de Paris (1969). Pesquisadora consultora da Fundação Carlos Chagas, professora titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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nosso país, bem como a efetivação deste serviço como uma política social, que demanda lutas para sua garantia e efetivação.

Estabelecendo “pontes” com a teoria, elejo estes autores como referência para a escrita, na intenção de responder ao problema da pesquisa: Que lugar a infância ocupa no cotidiano das famílias e da comunidade de Três Passos? Desse modo, busco responder por qual razão o direito das crianças à educação infantil não vem sendo assegurado na prática, já que o reconhecimento da educação enquanto direito que se estabelece ao nascer tem se mantido no texto da Constituição Federal/88, expresso nos artigos:

Art. 7.º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: […].

XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 53, de 2006). [...]

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009). […]

IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).

Busco ainda saber quais foram e são os desafios do município de Três Passos na garantia de vagas para todas as crianças, quais os motivos que impedem o acesso de bebês e crianças pequenas as escolas da infância e de que forma a falta da vaga influencia no cotidiano familiar. Na dimensão existente em torno da vaga, reside a experiência e segundo Larrosa (2002):

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (p. 24).

Ao permitir-me o tempo de pensar, de olhar e de escutar, me proponho a escrever, perseguindo o saber da experiência, da relação entre o conhecimento, a vida humana e suas necessidades. Larossa (2002, p. 25) define que “é experiência

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aquilo que ‘nos passa’, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos transforma”. Considerando minha experiência profissional, na escrita decidi por um referencial teórico metodológico da pesquisa qualitativa de cunho etnográfico, o qual para André (2014 p.618) destaca-se pelo papel da teoria na construção de categorias e a necessidade de respeitar princípios da etnografia, como a relativização (centrar-se na perspectiva do outro), o estranhamento (esforço deliberado do familiar como se fosse estranho) e o desenvolvimento do campo com uma escuta planejada.

Para Schefer e Knijnik (2015) as pesquisas qualitativas utilizam metodologias que vêm ao encontro dos objetivos educacionais contemporâneos, sem a pretensão de homogeneização, as diferenças culturais. A prática da “etnografia educacional” é uma dessas metodologias, que, para além de observar uma cultura, utiliza a descrição do outro (a partir de uma visão interna/êmica) como forma de reconhecimento.

Segundo André (2007), o pesquisador que conhece um lugar, a partir do ponto de vista do grupo, dando volume às vozes locais, parte para uma pesquisa “do tipo etnográfica”.

Gerhardt e Silveira (2009) corroboram afirmando que a pesquisa etnográfica pode ser entendida como o estudo de um grupo ou povo. As características específicas da pesquisa etnográfica são:

- o uso da observação participante, da entrevista intensiva e da análise de documentos;

- a interação entre pesquisador e objeto pesquisado; - a flexibilidade para modificar os rumos da pesquisa; - a ênfase no processo, e não nos resultados finais;

- a visão dos sujeitos pesquisados sobre suas experiências;

- a não intervenção do pesquisador sobre o ambiente pesquisado;

- a variação do período, que pode ser de semanas, de meses e até de anos;

- a coleta dos dados descritivos, transcritos literalmente para a utilização no relatório. Considerando dimensões humanas, culturais e sociais, escolho o estudo de caso como método de pesquisa, levando em consideração elementos do cotidiano, elaborando uma pesquisa de viés etnográfico. Com enfoques qualitativos, proporciono o encontro entre as narrativas familiares e o estudo de caso referente a ampliação da oferta de vagas às crianças de 0 a 5 anos na educação infantil no período de 2009 a 2016 em Três Passos.

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O estudo de caso exige a preocupação de se perceber o que o caso sugere a respeito do todo e não o estudo apenas daquele caso. Portanto, pesquisar significa fazer uma escolha e no caso desta pesquisa escolho o município de Três Passos para conforme Ventura (2007), realizar a investigação.

Yin (2001), afirma que o estudo de caso representa uma investigação empírica e compreende um método abrangente, com a lógica do planejamento, da coleta e da análise de dados. Ele pode incluir tanto estudos de caso único quanto múltiplos, assim como abordagens quantitativas e qualitativas.

O estudo de caso associa-se a imagem de um funil. O início do estudo é representado pela extremidade mais larga, pois as perguntas são mais amplas. À medida que vai a campo, o pesquisador segue especificando seu objeto de estudo e transformando os planos que possuía no princípio. Após a análise dos dados, o estudo é caracterizado pela abertura mais fina do funil, de onde saem concentrados os resultados da pesquisa (BOGDAN E BIKLEN 2012 p.27).

O estudo de caso contribui para a compreensão que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos. Ele é uma investigação empírica que permite aproximação de características significativas da vida real, do cotidiano. A valorização deste como ferramenta de investigação, que tem a ver com a dimensão “do lugar”, “do habitado”, “do praticado”, “do vivido”, “do usado” (FERRAÇO, 2007, p.81). Conforme Alves (2010)

Nos tantos cotidianos em que vivemos, formamos redes de conhecimentos e significações e é dentro delas que criamos novas formas de compreender e agir no mundo. Com isso, entendemos que estudá-las é uma necessidade para conhecer nossos problemas e criar modos de superá-los (p.06).

Para Ventura (2007), a investigação de um caso específico, bem delimitado, contextualizado em tempo e lugar possibilita a circunstanciada de informações. Ao voltar-me a política municipal de educação infantil, a necessidade das famílias e o direito das crianças, reporto-me a um tempo específico, que refere-se aos anos de 2009 à 2016, utilizando-me de instrumentos como entrevistas, fotografias, documentos das escolas e da SMEC para compor a pesquisa através do estudo de caso e assim não tornar-me uma “escoteira perdida”,

Junto à Secretaria Municipal de Educação obtive acesso a dados de matrículas das crianças, lista de espera por vagas na educação infantil, Plano Municipal de Educação, Proposta Curricular da rede, assim como informações

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referente a gastos e investimentos na educação da primeira infância. Ainda junto a SMEC acessei um caderno de memórias, o qual eu mesma elaborei no decorrer dos dez anos de atuação como coordenadora da educação infantil. Neste, existem diversos registros de falas, desabafos e indignações de famílias que procuram pelo serviço de educação infantil na rede municipal aos filhos pequenos e a ele não tem acesso. Estes registros nomeio como narrativas familiares, das quais escolho quatro para analisar durante a trajetória da pesquisa.

Ao aproximar-me das escolas pesquisadas as Diretoras me forneceram documentos da escola para que eu pudesse analisar. Entre eles, PPPs (Projeto Político Pedagógico), atas e decretos de criação e fotografias que contam a história das escolas.

As páginas eletrônicas do Tribunal de Contas do Estado (www.tce.rs.gov.br), da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (www.campanhaeducacao.org.br), do PNE em Movimento (pne.mec.gov.br) e da Prefeitura Municipal de Três Passos (www.trepassos-rs.com.br) foram por mim acessados na busca de dados referente a oferta de educação infantil no município.

Estes instrumentos se tornaram fundamentais para a produção dos dados da pesquisa, os quais revisitei por várias vezes, fazendo uma leitura cuidadosa, na busca de interpretá-los com ética e responsabilidade.

Trago a “escuta sensível” como uma das dimensões da pesquisa. Atenta aos olhares, as falas, aos sentimentos do “outro”, na tentativa de compreender a sua perspectiva, saindo de um lugar de alteridade para, a partir da reciprocidade, entender as lógicas construídas pelo outro (ALBUQUERQUE, 2014, p. 620).

Com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIJUI, mediante parecer número 2.679.606, apresento as entrevistas que aconteceram com os pais de seis crianças da rede municipal de educação infantil, tanto na escola dos filhos como em alguns casos, na própria casa dos familiares, o que proporcionou uma aproximação e um maior entendimento das formas de organização da família.

Todos os participantes estavam cientes e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –TCLE (anexo I). Ao explicar aos participantes a intenção da minha pesquisa, mostravam prazer em participar, tornando os encontros momentos de cumplicidade e troca.

Os pais já possuíam certo vínculo comigo por me reconhecer coordenadora da educação infantil, o que facilitou a aproximação. As questões da entrevista foram

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surgindo em meio a conversas abertas, baseada em questões semiestruturadas por mim elaboradas anteriormente (anexo II).

Os sentimentos mais variados acompanharam as entrevistas. Em especial as mães entrevistadas, que ao lembrarem de episódios como a gravidez, o nascimento dos filhos, os primeiros dias na escola, emocionavam-se e foram me auxiliando a tecer uma escrita carinhosa. O registro de todas as entrevistas aconteceram por meio da escrita, onde à medida em que a família se manifestava eu anotava na íntegra em um caderno. Mensagens trocadas via a rede social whatsapp também contribuíram, pois em determinados casos algumas mães me escreviam dizendo que gostariam de me contar algum detalhe que haviam esquecido. Estas mensagens foram imediatamente transcritas para o mesmo caderno de anotações, o qual continha todas as informações referente a cada família, assim como a data e o local onde ocorreu a entrevista.

As famílias participantes da pesquisa compõem um grupo distinto por apresentarem profissões, rendas, escolaridade e concepções diferentes e ao mesmo tempo um grupo com afinidades, por caracterizarem-se como famílias trabalhadoras, assalariados de classe média e média baixa.

Nesta direção, a pesquisa busca como afirmam Barbosa e Filho (2010) considerar elementos sociais, culturais, que levem em consideração a etnia, a religião, o gênero, o espaço geográfico e as gerações, pois tais dimensões vão construir diferentes jeitos de ser criança e viver a infância em cada momento histórico.

Os contextos ocupados pelas crianças e suas famílias revelam histórias, crenças, modos de vida. Ao considerá-los na pesquisa acredito estar mais próxima de entender como a organização e as escolhas familiares, mediadas por aquilo que lhes é de direito, refletem no cotidiano das crianças, que passam a ocupar e construir história em espaços escolares.

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1.2 Município de Três Passos como cenário da pesquisa

Figura 1- Imagem área do município de Três Passos

Fonte: Google, acesso em maio de 2018.

De costumes interioranos, situado na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, distante 470 km da capital, Porto Alegre, o município de Três Passos/RS apresenta uma área territorial de 268,396km² com uma população de 23.965 habitantes, sendo destes 19.054 da área urbana e 4.911 da área rural (IBGE 2010).

O nome do município tem origem na história que se iniciou, efetivamente, a partir da criação da Colônia Militar do Alto Uruguai, em 1879, com o objetivo de garantir a predominância do Império Brasileiro, terras sempre disputadas com a vizinha nação Argentina. Distante 35 km da Colônia Militar, foi construída, em 1882, uma casa de guarda avançada, que tinha como incumbência vigiar a precária Picada Geral, estrada que ligava o Alto Uruguai à cidade de Palmeira das Missões, município mãe da dita colônia.

Este local fora escolhido por contar com três córregos de água potável, que serviam a homens e animais, recebendo a todos os viajantes com a generosidade de uma natureza ainda intocada. Inicialmente, o local foi chamado de “Pouso dos Três Passos” e logo começou a atrair os colonos, dada a sua localização, terra fértil e excelente oferta de água (Lei nº 5080 de 23 de junho de 2015- PME).

O nome do município de Três Passos originou-se então destes três córregos. A colonização do município aconteceu em 1919, com a chegada dos primeiros colonos descendentes de alemães, vindos de Chapada e Tapera. Hoje as três vertentes localizam-se no centro da cidade.

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O município possui um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 383.475.000,00. A base da economia é a agricultura, seguida do comércio, indústria e serviços. Tendo como principais produtos agropecuários a suinocultura intensiva, avicultura, produção leiteira, produção de grãos e tabaco (lei nº 5080 de 23 de junho de 2015- PME). Os setores do comércio, indústria e serviços, atendem a população local e regional, sendo a JBS a indústria de maior porte no município. No setor do vestuário, destaca-se a fabricação de jeans e facções. E nos demais setores, destaca-se o setor moveleiro e o alimentício.

O município de Três Passos possui sistema próprio de ensino, instituído pela Lei Municipal N° 3.657/01. O Sistema é formado pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura e pelo Conselho Municipal de Educação, que é um órgão normativo, consultivo, deliberativo e fiscalizador na área da educação, atuante desde o ano de 2001 (Três Passos, 2001).

A Rede Municipal de Ensino conta com dezessete escolas, sendo oito de Educação Infantil e nove de Ensino Fundamental, atendendo aproximadamente 2.200 alunos, com um quadro de 230 professores. Existem também no município cinco escolas da rede Estadual e duas privadas (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA, 2018).

1.3 As Escolas de Educação Infantil: lócus da investigação

Para compor este estudo, foram sorteadas três escolas municipais de educação infantil, que são: EMEI Cinderela, EMEI Elso Paulo Severnini e EMEI Lápis de Cor. O sorteio foi necessário em razão de serem oito escolas de educação infantil no município e cada uma possuir suas particularidades. A escolha das escolas estaria representando uma determinada comunidade, desse modo o sorteio possibilitou a surpresa, a descoberta e deu a pesquisa o perfil daquele lugar, com suas marcas e características.

As escolas pesquisadas trazem como marca a comunidade onde estão inseridas. Cada uma delas é única e se constitui por histórias de vida diferentes. O local de trabalho das famílias, o grau de instrução dos pais entre outros tantos fatores, interferem diretamente nas concepções e no entendimento de seu papel como instituição de ensino. As três escolas têm como documentos norteadores para suas práticas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – MEC, a BNCC,

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assim como os Projetos Políticos Pedagógicos, os Regimentos e a Proposta Pedagógica da Rede Municipal de Ensino, que vem sendo construída pelos professores municipais.

1.3.1 EMEI Cinderela

Figura 2 - Fachada da EMEI Cinderela – 2018

Fonte: Secretaria Municipal de Educação

A EMEI Cinderela está localizada no bairro Operário. Foi criada em 13 de dezembro de 1994 e suas atividades iniciaram em 01 de fevereiro de 1995. Seu Decreto de criação é de número 041/2008. O nome da escola foi inspirado nos clássicos literários admirados e contados às crianças. Seu surgimento deu-se devida a uma demanda considerável de funcionários do Frigorífico Sadia, que na época precisavam trabalhar e não tinham com quem deixar seus filhos. Organizados em grupo, estes pais trabalhadores procuraram a Prefeitura Municipal. Os pais que deram início a obra, erguendo através de mutirão tijolo por tijolo cada parede (PPP EMEI Cinderela, 2015).

No início de seu funcionamento a escola atendia cerca de 60 crianças. Em 1998 o nome “Creche Cinderela” altera para Escola Municipal de Educação Infantil Cinderela. Em agosto de 2003 foi inaugurada uma ampliação com mais duas salas e no ano de 2011 foi feita uma reforma geral, com o objetivo de qualificar os espaços.

Atualmente, passados mais de vinte e três anos de trabalho e acolhimento na EMEI Cinderela, muitas coisas continuam semelhantes em relação à escola, a empresa e seu entorno, pois a demanda por atendimento segue presente, especialmente para que as mães possam trabalhar, bem como, o calendário da escola adapta-se as necessidades das pessoas que trabalham na empresa. Cerca de cento

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e três crianças frequentam a escola hoje e destas, cinquenta e duas são filhos de funcionários da empresa JBS Foods (antiga Sadia). As marcas de sua criação continuam vivas e em razão disso, seu horário de atendimento é especial, tem início às seis horas da manhã e término às dezoito horas. Seu funcionamento difere das demais EMEIs do município, sendo ininterrupto, acontecendo doze meses no ano. Por isso, constitui-se sede para crianças de outros bairros durante o mês de janeiro. As crianças em sua maioria frequentam a escola em tempo integral e algumas vezes, por influência e pedido da empresa JBS Foods, em sábados e feriados. Algumas crianças são privadas de férias e frequentam o ano todo. Embora a mesma não negue o atendimento, tem levado para a pauta das reuniões a importância deste momento junto a rotina familiar, pois julga importante refletir este assunto com as famílias.

Os pais mostram-se bem participativos nas reuniões, nos encontros da Família na Escola, nas entregas de pareceres, nos mutirões. Muitos deles contribuem mensalmente com uma doação espontânea em dinheiro e mostram-se dispostos à colaborar fazendo pequenos reparos na estrutura física do prédio.

A equipe de profissionais é composta por vinte e uma pessoas, destas, sete são professoras, sete estagiários, quatro serventes e duas merendeiras. A gestora é formada em Educação do Campo voltada para Pedagogia e cursa Pós-Graduação em Supervisão e Orientação Escolar. Sua experiência como professora de crianças ultrapassa vinte anos.

A estrutura física da EMEI Cinderela é formada basicamente por recepção, duas salas grandes e três pequenas, refeitório, cozinha, sete banheiros, dois trocadores e solário, conforme pode ser observado nas imagens abaixo. No ano de 2017 com o apoio do CPM foi construída uma brinquedoteca, que possibilita às crianças um espaço para brincadeiras, especialmente em períodos de chuva e frio. O espaço externo é pequeno, porém bem aproveitado. A pracinha possui gramado, areia, casinhas, mesinhas e cadeiras, árvores e bastante sombra.

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Figura 3 - Momentos e espaços da EMEI Cinderela

Fonte: Arquivo da escola, 2019

Próximo à escola fica o Mercado O.S., um verdadeiro ponto turístico para as crianças, que sempre ao saírem fazer suas caminhadas, encontram conhecidos, em especial o dono do estabelecimento, com o qual já tem amizade. No caminho também conhecido das crianças da EMEI Cinderela existe um pequeno bosque, onde além de passarinhos e borboletas, possui galinhas soltas, com as quais conversam e se divertem.

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1.3.2 EMEI Elso Paulo Severnini

Figura 4 - Fachada EMEI Elso Paulo Severini – 2018

Fonte: Secretaria Municipal de Educação

A EMEI Elso Paulo Severnini foi criada no ano de 2015, através do Decreto número 083/2014. Está localizada junto ao bairro Érico Veríssimo e é considerada a “filha” mais nova da rede municipal de ensino. Seu nome é uma homenagem ao Vice-Prefeito, Senhor Elso Paulo Severnini, que veio a falecer no dia vinte de agosto de 2010, durante a Gestão 2009/2013.

“Fruto” do Projeto Proinfância, do Governo Federal e da Administração Municipal, a EMEI Elso (assim conhecida no bairro), foi sonhada e idealizada, por ser uma demanda viva da comunidade. O período de construção do prédio foi delicado. Com atrasos consideráveis no prazo de entrega da obra, a estrutura foi quebrada por vândalos, pichada e queimada. A empresa licitada abandonou a obra e foi necessário um novo processo licitatório para no final do ano de 2014 a obra ser concluída, vindo a ser inaugurada no dia trinta de janeiro de 2015.

A chegada das crianças no prédio deu-lhe vida e alegria. As mochilas, as conversas, o barulho, os chorinhos, caracterizaram o prédio como uma escola de educação infantil, porém, em pouco tempo as carências na estrutura física conquistada começaram a dar sinais. Com estrutura fragilizada (instalações hidráulicas, calhas...) e diferenciada das demais EMEIs, seus espaços grandes e abertos, suas salas bem pequenas, refeitório no saguão, exigiram uma nova postura das profissionais que vinham de outras escolas e estranhavam. O inverno trouxe desafios e a necessidade de planejamento se fez presente.

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Figura 5 - Momentos e espaços EMEI Elso Paulo Severnini

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Fonte: Arquivo da escola 2019

Na ocasião da inauguração estavam matriculadas cento e quarenta e seis crianças e no ano de 2018, cento e noventa. A equipe de profissionais é a maior da rede, sendo composta por quarenta e uma pessoas. Destas, dezenove são professoras, oito estagiárias, onze serventes e duas merendeiras. A atual Gestora é formada em Pedagogia e Pós-Graduada em Psicopedagogia e Gestão Educacional. Sua experiência no município tem 17 anos. A coordenadora pedagógica atua vinte horas neste cargo. É professora há 43 anos. Tem licenciatura em Pedagogia e cursa Pós-Graduação em Educação Infantil. Sua experiência é vasta, tendo atuado como Secretária Municipal de Educação em um município vizinho nos anos de 2009 a 2012. A participação dos pais na escola é visível. Estão em todos os espaços entregando e buscando seus filhos e até mesmo curtindo com as crianças a cama elástica ou a piscina de areia que se encontra no saguão. São grandes parceiros e mostram-se dispostos a contribuir no “término” da escola com ações para incrementar o pátio, a pracinha e outros espaços importantes para as crianças.

A EMEI Elso Paulo Severnini desafia a Gestão por ser a maior instituição de educação infantil da rede em muitos sentidos. Ela acolhe o maior número de crianças e familiares, tem o maior grupo de profissionais e um espaço dividido de forma que é preciso caminhar muito para chegar em todas as salas.

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Figura 6 - Espaços EMEI Elso Paulo Severnini

Fonte – Arquivo da escola

São onze salas, dezenove banheiros, seis trocadores, recepção, sala da direção, biblioteca, sala dos professores, cozinha, copa e saguão.

1.3.3 EMEI Lápis de Cor

Figura 7 - Fachada EMEI Lápis de Cor – 2018

Fonte: Secretaria Municipal de Educação

Surgiu como anexo da EMEI Primeiros Passos, que já não possuía espaço para acolher todos os bebês. Com sede em um prédio alugado durante um ano, mudou de endereço em 2013 quando as Irmãs Servas do Espírito Santo encerraram suas atividades junto a Escola de Educação Infantil Lar do Amor e repassaram o prédio para a Prefeitura Municipal de Três Passos/RS.

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Com a infraestrutura já existente, a mudança de endereço foi possível. No ano de 2013 ainda anexo da EMEI Primeiros Passos, iniciaram as atividades. No ano seguinte, inspirados no portão em formato de Lápis, a escola se emancipou e através do Decreto Municipal número 117/2014 foi nominada EMEI Lápis de Cor, que já era batizada pelas crianças como “escola dos lápis”.

De trinta e três crianças que eram atendidas pelas Irmãs, passou-se a atender noventa e nove, com apenas pequenas reformas na estrutura. No ano de 2018 recebeu a reforma merecida. Para tanto, as crianças foram deslocadas e atendidas em outras duas escolas, uma estadual e outra privada em regime de parceria.

A diretora tem formação em Letras e é Pós-Graduada em Educação Especial, com vinte e quatro anos de experiência em sala de aula. O quadro profissional é composto por cinco professoras em nível de graduação e especialização, duas merendeiras, nove serventes e duas estagiárias.

A Escola Infantil é muito bem localizada, o que faz sua procura sempre estar em alta, superando o limite de vagas ofertadas. Localiza-se próxima do 7º Batalhão da Brigada Militar, com frequência as crianças lhe fazem uma visita. Adoram brincar no “Quartel” que possui um campo de futebol enorme, onde jogam e brincam, além de muitos outros atrativos, como a pista da Escolinha de trânsito, onde andam com suas motocas e uma mesa de xadrez gigante construída rente ao chão, que as crianças podem ser peças e tentar o xeque mate.

Figura 8 - Área externa EMEI Lápis de Cor

Fonte: Arquivo da escola

O pátio é amplo e frequentemente as crianças vão para fora, a começar pelos bebês, que adoram brincar na grama e já esperam por este momento. A calçada em frente é tomada por desenhos feitos com giz, que surpreendentemente desaparecem após uma chuva.

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Figura 9 - Momentos EMEI Lápis de Cor

Fonte: Arquivo da escola

A maioria das crianças frequentam a escola em tempo integral e a comunidade de pais se mostra parceira e envolvida nos projetos desenvolvidos. O movimento, a curiosidade e o barulho são suas marcas registradas.

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Figura 10 - Espaços EMEI Lápis de Cor

Fonte: Arquivo da escola, 2019

As escolas que compõem esse estudo, no ano de 2018, participam pela primeira vez do PNAIC, Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa, desenvolvido pelo MEC e acompanhado pela Secretaria Municipal de Educação.

1.4 Sujeitos da Pesquisa

Aliando-se ao campo empírico, apresento agora os sujeitos da pesquisa, que são as famílias de Murilo, Leonardo, Ana Cláudia, Felipe, Kaik e Emanuely.

As famílias foram sorteadas entre todas as demais famílias de cada uma das três escolas participantes da pesquisa e as crianças representam turmas de Berçário I e Maternal II, as quais marcam a entrada na educação infantil, assim como a despedida desta etapa de ensino nas EMEIs.

Os sujeitos da pesquisa receberam nomes fictícios e suas falas, seus posicionamentos e expressões, foram por mim registrados de forma a manter a riqueza presente no cotidiano, onde a vida acontece cheia de perspectivas.

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Família do Murilo: (BI)

Casal Profissão Grau de instrução Número de filhos

Débora Confeiteira Ensino Médio 02

Paulo Eletricista Ensino Médio

Débora é a mãe de Murilo, com quem realizei a entrevista e passei a conversar durante nossos encontros, que se deram tanto em sua casa como na EMEI Elso Paulo Severnini. Débora é uma mulher muito bonita e alegre. Tem 36 anos, é dona de um riso fácil e encara a vida com ânimo, mostrando-se disposta a enfrentar os desafios. Concluiu o ensino médio e trabalha a cerca de dez anos como confeiteira em uma padaria. Sempre desejou formar uma família. Conheceu Paulo no ano de 2011 e com ele tornou seu sonho realidade.

Quando Débora e Paulo começaram a namorar, ele logo a informou de que vinha de um outro relacionamento, do qual teve seu primeiro filho, Augusto. Para Débora o amor falou mais alto e por isso decidiu assumir o compromisso com os dois. A partir dali o trabalho passou a fazer mais sentido, pois com o retorno financeiro poderiam adquirir uma casa e passariam a morar juntos.

Débora e Paulo são trabalhadores assalariados, de classes populares. Possuem carteira assinada e todo dinheiro que ganham economizam em nome da

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