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Efeito do treinamento e competição no bem estar subjetivo, autoestima, estado de humor, ansiedade físico social e busca pela musculatura em nadadores brasileiros de alto nível

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ULISSES GUIMARÃES MARTINHO

EFEITOS DO TREINAMENTO E COMPETIÇÃO NO BEM ESTAR SUBJETIVO, AUTOESTIMA, ESTADO DE HUMOR, ANSIEDADE FÍSICO SOCIAL E BUSCA

PELA MUSCULATURA EM NADADORES BRASILEIROS DE ALTO NÍVEL

CAMPINAS 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Educação Física

ULISSES GUIMARÃES MARTINHO

EFEITOS DO TREINAMENTO E COMPETIÇÃO NO BEM ESTAR SUBJETIVO, AUTOESTIMA, ESTADO DE HUMOR, ANSIEDADE FÍSICO SOCIAL E BUSCA

PELA MUSCULATURA EM NADADORES BRASILEIROS DE ALTO NÍVEL

Tese apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Doutor em Educação Física, na Área de Concentração Atividade Física Adaptada.

Orientadora: PROFª DRª MARIA DA CONSOLAÇÃO G. C. FERNANDES TAVARES ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO ULISSES GUIMARÃES MARTINHO E ORIENTADA PELA PROFª. DRª. MARIA DA CONSOLAÇÃO

GOMES CUNHA FERNANDES TAVARES

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_________________________________

Prof. Drª Maria da Consolação G. C. F. Tavares

CAMPINAS 2015

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MARTINHO, Ulisses Guimarães. Efeitos do treinamento e competição no bem estar

subjetivo, autoestima, estado de humor, satisfação com a vida, ansiedade físico social e busca pela musculatura em nadadores brasileiros de alto nível. 2015. 119fls. Tese

(Doutorado em Educação Física). Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2015.

RESUMO

A psicologia do esporte é o campo de estudo que analisa as bases e efeitos psíquicos das ações esportivas, considerando a análise de processos psíquicos básicos: a cognição, motivação e emoção. Essa área apresenta diversos temas, dentre os quais se destacam a busca por um possível perfil de personalidade do atleta de alto rendimento e sua influência no desempenho esportivo. A Imagem Corporal engloba todas as formas pelas quais uma pessoa experiencia e conceitua seu próprio corpo, e nessa perspectiva, os aspectos sociais, fisiológicos, psicológicos e ambientais se conectam de forma integrada em experiências de percepção desse corpo como um todo. O presente estudo avaliou traços da dimensão atitudinal da Imagem Corporal de treze nadadores de elite brasileiros do sexo masculino (21,23 ± 2,24 anos; 181,46 ± 6,62 cm de altura; 9,95 ±0,90 % gordura da massa corporal total; 11,46 ± 3,35 anos de carreira esportiva) em três momentos distintos de um macrociclo de treinamento: ao final do Período Preparatório Geral (PPG), ao final do Período Preparatório Específico (PPE) e logo após a competição alvo (PC). A satisfação com a vida, autoestima, busca pela musculatura, ansiedade físico social e estados de humor foram, através de questionários, avaliadas e relacionadas às variáveis antropométricas e informações pertinentes ao treinamento. Foi realizada estatística descritiva e inferencial para análise de variância e das associações das variáveis do estudo, bem como em relação ao desempenho na competição alvo. Os resultados indicaram tendência à estabilidade das variáveis antropométricas e alteração das variáveis atitudinais, principalmente em PPE. Observou-se um aumento significante da fadiga em PPE e da tensão ao longo das três avaliações, enquanto a variável vigor decresceu em PPE e aumentou em PC. Concluiu-se que as cargas de treinamento de PPE, caracterizadas majoritariamente pela intensidade, influenciaram os traços atitudinais da Imagem Corporal dos atletas, sendo esse um período importante do macrociclo que deve ser cuidadosamente acompanhado a fim de garantir o desempenho esperado dos atletas ao final da temporada.

Palavras-Chave: Imagem Corporal; natação; treinamento esportivo; atletas.

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MARTINHO, Ulisses Guimarães. Effects of training and competition in subjective

well-being, self-esteem, mood state, life satisfaction, social physique anxiety and drive for muscularity in Brazilian elite swimmers. 2015. 119fls. Thesis (Doctorate in Physical

Education). Faculty of Physical Education. State University of Campinas, Campinas, 2015.

ABSTRACT

The sport psychology is a field of study that examines the foundations and psychological effects of sports actions, considering the analysis of basic psychological processes: cognition, motivation and emotion. This area has several themes, among which stands out the search for a possible personality profile of the high performance athlete and its influence on sport performance. The Body Image encompasses all the ways in which a person experiences and conceptualizes his own body, and in this perspective, the social, physiological, psychological and environmental aspects connect seamlessly in perception experiments of that body as a whole. The present study evaluated attitudinal dimension traits of Body Image in Brazilian elite swimmers (21,23 ± 2,24 years; 181,46 ± 6,62 cm height; 9,95 ±0,90 % of total body fat mass; 11,46 ± 3,35 years of sport career) at three different times of a season: end of General Preparatory Period (GPP), end of Specified Preparatory Period (SPP) and just after the main competition (AC). The satisfaction, self-esteem, drive for muscularity, social physical anxiety and mood were evaluated and related to anthropometric variables and relevant training information. Descriptive statistical analysis and inferential statistics were performed for the variance and association of the variables of the study and compared to the performance in target competition. The results indicated a tendency toward stabilization of anthropometric variables while the attitudinal variables tended to variation, especially in SPP. There was a significant increase in fatigue in SPP and tension along the three evaluations, while vigor decreased in SPP and increased AC. It was concluded that the SPP training loads, characterized mainly by its intensity, influenced attitudinal traits of body image. SPP is, then, an important period of the training program that needs to be carefully monitored to ensure expected performance at the end of the season.

Keywords: Body Image; swimming; sports training; athletes.

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10 SUMÁRIO Apresentação ... 1 1 Introdução ... 3 2 Quadro Teórico ... 7 2.1 Modelos de Treinamento ... 7

2.1.1 Modelo de Cargas Distribuídas ... 8

2.1.2 Modelo Pendular de Treinamento ... 12

2.1.3 Modelo Estrutural de Tschiene ... 13

2.1.4 Modelo de Cargas Concentradas ... 15

2.1.5 Modelo ATR ... 19

2.1.6 Treinamento esportivo na natação contemporânea ... 22

2.2 Imagem Corporal e Esporte ... 26

2.2.1 Imagem corporal e esporte de alto rendimento ... 30

2.2.2 Imagem corporal em nadadores de alto rendimento ... 35

3 Objetivos ... 40 3.1 Objetivo Geral ... 40 3.2 Objetivos Específicos ... 40 4 Métodos ... 41 4.1 Amostra... 41 4.1.1 Critérios de Inclusão ... 43 4.1.2 Critérios de Exclusão ... 43

4.2 Constructos avaliados e instrumentos utilizados ... 44

4.3Variáveis ... 48

4.4 Hipóteses... 49

4.5 Procedimentos ... 49

4.6 Análise estatística ... 51

5 Resultados ... 53

5.1 Estatística descritiva da amostra ... 53

5.2 Variação dos escores ao longo da temporada ... 55

5.3 Associações entre as variáveis ... 59

5.4 Diferenças entre grupos: êxito x não êxito na competição alvo ... 63

6 Discussão ... 64

6.1 Variável “Ansiedade Físico Social” ... 64

6.2 Variável “Satisfação com a Vida” ... 67

6.3 Variáveis “Autoestima” e “Vigor” ... 69

6.4 Variável “Comportamentos para ficar forte” ... 73

6.5 Estados de Humor ... 75

7 Conclusões ... 85

Referências ... 87

A P Ê N D I C E S ... 101

Apêndice 1 - Termo de Consentimento livre e Esclarecido ... 102

Apêndice 2: Material de coleta de dados ... 103

Apêndice 3: Resultados estatísticos brutos ... 108

A N E X O S ... 118

Anexo 1: Autorização do Comitê de Ética em Pesquisa ... 119

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe, eterno exemplo de luta e inabalável perseverança. Sem seus puxões de orelha eu não seria a pessoa que sou, e não teria chegado até aqui.

O dedico também à Ana Paula, que experimentou, à dura pena, ter um “doutorando” como companheiro. Obrigado pela compreensão, paciência e por todo o suporte. Não poderia ter pessoa melhor ao meu lado.

Também o dedico aos amigos que partilharam das alegrias, tristezas, expectativas, tensões, prazos, derrotas e vitórias nestes INTENSOS dois anos. Obrigado pela convivência, e, principalmente, por não perderem a paciência comigo.

Dedico esta Tese também à “Educação Física” - mais especificamente aos Professores e Técnicos esportivos que têm a dádiva e a IMENSA responsabilidade de colaborar, através do esporte, com a formação do ser humano. Ainda temos MUITO que aprender, e espero que este trabalho venha a contribuir de alguma forma nesse sentido.

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AGRADECIMENTOS

“Ontem” (dois anos atrás), recebi três grandes bênçãos de minha orientadora: (1) a oportunidade; (2) sua paciência; (3) seu conhecimento. Hoje, agradeço a ela por outras três grandes conquistas: (1) entender qual o melhor caminho; (2) me formar um profissional (mais) perseverante e competente; (3): tornar-me uma pessoa melhor.

Agradeço de forma especial a Profª. Drª. Ângela Neves. Sua incrível inteligência e competência só não são maiores que sua sensibilidade e simplicidade. Como modelo indiscutível de profissional que é, sua presença e contribuições mistura-se às minhas conquistas e superações neste doutorado. A você, meu eterno obrigado.

Agradeço aos Professores Doutores Afonso Antônio Machado, Orival Andries Jr. e Vanessa Dalla Dea, também membros desta banca. Seus aportes para esta pesquisa somente a enriqueceram, elevando em muito sua qualidade e tornando-a especial.

Agradeço aos Professores do curso de pós-graduação da FEF, pelos ensinamentos nas disciplinas cursadas e consequente crescimento profissional; assim como aos demais funcionários da faculdade, por toda estrutura e ajuda fornecida.

Por fim, agradeço aos atletas, técnicos e Clubes que participaram deste trabalho - sem sua ajuda, a realização do mesmo não seria possível.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Organização das cargas de volume e intensidade no macrociclo (adaptado de

MATVEEV, 1981)...11

Figura 2 - Organização pendular das cargas de volume e intensidade (adaptado de SILVA,

1995)...12

Figura 3 - Organização estrutural das cargas de volume e intensidade (adaptado de

TSCHIENE, 1985)...14 Figura 4 - Organização de blocos do modelo de cargas concentradas (adaptado de VERKOSHANSKY, 2001)...17

Figura 5 - Relação entre mesociclos dentro do modelo ATR (adaptado de NAVARRO,

1998)...20

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Macrociclos dos clubes e programação das coletas de dados...50

Tabela 2 - Estatística descritiva e distribuição das variáveis em estudo...54

Tabela 3 - Associações entre variáveis ao final do Período Preparatório Geral...60

Tabela 4 - Associações entre variáveis ao final do Período Preparatório Específico.......61

Tabela 5 - Associações entre variáveis após a Competição Alvo...62

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEG Autoestima Global

AGFI Adjusted Goodness-of-fit (Índice de Ajuste de Qualidade Normalizado)

AIS Australian Institute of Sport

ATR Acumulação - Transformação - Realização

BRUMS Escala de Humor de Brunel

CBDA Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos

CFI Comparative Fit Index (Índice de Ajuste Comparativo)

cm Centímetros

COB Comitê Olímpico Brasileiro

CPF Competência Física Percebida

DM-CF Drive for Muscularity Scale: comportamentos para ficar forte

DM-OM Drive for Muscularity Scale: orientação à musculatura

DMS Drive for Muscularity Scale

DP Desvio Padrão

EBES Escala de Bem Estar Subjetivo

EDI Eating Disorder Inventory

EPDT Efeito Póstumo Duradouro do Treinamento

FINA Fédération Internationale Natation Amateur

GFI Goodness-of-Fit Index (Índice de Qualidade de Ajuste)

HEN Habilidades Específicas de Natação

IMC Índice de Massa Corporal

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INT. Intervalo

IPS Internacional Points Score

Kg Quilo(s)

m Metros

M Mediana

NFI Normed Fit Index (Índice de Ajuste Normalizado)

NNFI Non-normed Fit Index (Índice de Ajuste Não-normatizado)

OFF Descanso

PC Período Competitivo

PPE Período Preparatório Específico

PPG Período Preparatório Geral

PSDQ4 Physical Self Description Questionnaire

RAA Reserva Atual de Adaptação

RES. Resistência

RMSEA Root Mean Square Error of Approximation (Raíz do erro quadrático médio)

RSES Rosenberg Self-Esteem Scale

SDQIII Self Description Questionnaire

SPAS Social Physique Anxiety Scale

TAD Teoria da Autodeterminação

TEC / TAC Técnico / Tático

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LISTA DE SÍMBOLOS

α Alpha de Cronbach

ε Estimação de Esfericidade (Huynh-Feldtn; Greenhouse-Geisser)

% Percentual

M Mediana

p Coeficiente de Significância de Pearson

r Coeficiente de Correlação

t Teste T de student

U Teste U de Mann-Whitney

χ2 Qui Quadrado

χ2(2) Pressuposto de esfericidade (teste de Mauchly)

χ2/gl Chi-Weighted Square (Qui-quadrado ponderado)

Z Teste Z

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Apresentação

Tenho trabalhado e pesquisado em natação há aproximadamente doze anos. As questões relativas aos aspectos físicos e técnicos do treinamento, mais especificamente a força especial e os indicadores técnicos de desempenho (frequência e comprimento de braçadas) foram motes de minhas pesquisas neste período. Meus estudos e reflexões sobre o assunto muito ajudaram em minha atuação efetiva como técnico e vejo a pertinência desse tipo de pesquisa em minha atuação profissional.

Ao mesmo tempo em que considero essencial ao treinador de natação (o profissional graduado em Educação Física que trabalha com natação competitiva) o conhecimento dos aspectos biodinâmicos do treinamento, penso também ser de igual importância conhecer os efeitos de seu trabalho sobre as emoções e comportamentos de seus atletas. É inegável a necessidade de um equilíbrio emocional para um atleta que se dedica de 25 a 30 horas semanais ao lado de seu mentor e que tem o desporto como alicerce de seu mundo - essa atividade e esse profissional ocupam um espaço de destaque e relevância em sua vida e em suas experiências corporais. O profissional que se nega a refletir e a reconhecer a importância dos efeitos de seu trabalho na identidade corporal de seu atleta, nega também a sua existência como sujeito. O atleta fica reduzido a uma máquina, que executa árduas tarefas sem questionar e produz resultados satisfatórios. Mas um atleta, sabemos, é mais que isso.

Esta tese dirige-se a traços da imagem corporal que possam variar ao longo do período de treinamento. Nosso intuito é ver o efeito do treinamento sobre as mesmas e o efeito destas sobre o desempenho.

As conversas (não sistematizadas) de “beira de piscina” que tive com diversos atletas e técnicos ao longo dos anos motivaram essa abordagem, me mostrando que

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os campos de pesquisa fisiológico, técnico-tático e psicológico do esporte competitivo interagem entre si e se complementam - embora o viés acadêmico muitas vezes os desconecte, numa intenção de especializar o conhecimento em cada área. Agora, posso responder de forma melhor, mais segura e consciente questões que me foram feitas.

A abordagem feita ao treinamento em natação que aqui se apresenta agrega conhecimento aos temas de longa data que já pesquiso. Não tenho receio em afirmar que os resultados que aqui se apresentam são muito mais que os do processo de pesquisa em si. Refletem também meu amadurecimento profissional e acadêmico, que tive a oportunidade de vivenciar em meu doutorado.

Realizar esta pesquisa e escrever esta tese foi um desafio. E que fique claro que este desafio fez-me conhecer e refletir acerca do processo de treinamento de uma forma que eu não havia feito até então.

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1 Introdução

A natação brasileira mantém, no século XXI, o legado de ser um dos esportes pioneiros em nosso país, sendo uma das principais práticas esportivas tanto no âmbito recreacional quanto no de competição (NOLASCO, PÁVEL, MOURA, 2006). Em seu caráter competitivo, a natação demanda do atleta o desenvolvimento e destreza de suas capacidades biomotoras (PYNE, GOLDSMITH, 2005), porém não se deve ignorar que o desenvolvimento - e administração no momento competitivo - das qualidades técnica do nado, as escolhas táticas coerentes, além da adequação nutricional e conhecimento dos fatores psicológicos envolvidos no desempenho são fatores de extrema importância para o êxito esportivo (ADAMS et. al., 2010; GRECO, 2001; MANSO et. al., 1996; RAGLE, HALE, 2005).

As capacidades biomotoras são descritas como o grau de aptidão da capacidade de movimento de uma pessoa, e são diferenciadas em: velocidade, coordenação, resistência, flexibilidade e força (MANSO; VALDIVIELSO; CABALLERO, 1996). Dentre estas, a força tem recebido bastante atenção da comunidade científica por estar intimamente vinculada ao êxito esportivo (VERKOSHANSKY, 2001). Outros estudos procuram compreender os fatores relevantes à técnica e mecânica do nado, assim como sua relação com as propriedades da água (ALBERTY et. al., 2008; ALVES; BATISTA; GOMES-PEREIRA, 1999; ARELLANO et. al., 1994; COUNSILMAN, 1984; CRAIG et. al., 1985; SIDNEY et. al., 2001; TOUSSAINT, BEEK, 1992). Na mesma área, outros trabalhos levantam a importância de se utilizar indicadores técnicos (como frequência e comprimento médio de braçadas) na avaliação e controle do treinamento - uma vez que estes são de fácil mensuração - auxiliando o treinamento diário ao oferecerem medidores indiretos de desempenho (EAST, 1970; LERDAC, HRÉTIEN, 1996; MAGLISCHO, 2010; PELAYO et. al., 1998; SEIFERT et. al., 2005; SEIFERT, CHOLLET, CHATARD, 2007; SEIFERT, CHOLLET, 2008).

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Intimamente ligados aos aspectos técnicos estão os aspectos táticos, onde a determinação do ritmo ideal de prova junto à interpretação da tática adversária - assim como a frequência e o comprimento ideal da braçada na metragem disputada - são fatores fundamentais para o desempenho, tornando-se desse modo objetos de estudos nesse campo (MAGLISCHO, 2010; MAKARENKO, 2001). Permeando os fatores fisiológicos, técnicos e táticos estão os aspectos nutricionais e psicológicos. Quanto à nutrição esportiva para a natação competitiva, as pesquisas buscam determinar as necessidades de macro e micronutrientes, divisão ideal das refeições assim como a pertinência e eficiência do uso de suplementos alimentares (PLATONOV, FESSENKO, 2003). Já o estudo das questões afetivas, cognitivas e comportamentais na natação competitiva, em linhas gerais, tem contribuído para um melhor entendimento dos efeitos da iniciação e continuidade do treinamento sobre o bem estar dos atletas e seu rendimento em competições (WEINBERG, GOULD, 2011).

Reconhece-se que o estado psicológico do atleta influencia tanto o seu treinamento quanto seu momento da competição (ADAMS et. al., 2010). No entanto, tal como na contribuição dos fatores fisiológicos para o desempenho esportivo, a influência dos fatores psicológicos na natação não é algo simples de ser compreendido. Tem-se bem documentado um grande número de variáveis que podem interferir antes, durante e após a competição, incluindo fatores relativamente estáveis como características de personalidade assim como fatores mais transitórios, como por exemplo, o estado de ansiedade antes da prova (RAGLIN, HALE, 2005).

Uma das formas de compreender melhor esta dinâmica é através da reflexão e pesquisa acerca da imagem corporal, e da imagem corporal do atleta de natação. A Imagem Corporal é definida como a representação mental do corpo existencial. Engloba todas as formas pelas quais uma pessoa experiencia e conceitua seu próprio corpo e está ligada a uma organização cerebral integrada, influenciada por fatores sensoriais, processo de desenvolvimento e aspectos psicodinâmicos. Mas não se trata apenas de uma organização cerebral em funcionamento. Embora dependente de uma estrutura orgânica circunscrita, a Imagem Corporal deve ser compreendida como fenômeno singular, estruturado no contexto da experiência corporal de cada ser humano, em um universo de inter-relações entre Imagens Corporais. A Imagem Corporal inclui aspectos conscientes e inconscientes que estão

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relacionados e interagem com o mundo externo a todo o instante, conferindo à Imagem Corporal um caráter variável e dinâmico. Nessa perspectiva, os variados aspectos - sociais, fisiológicos, psicológicos e ambientais - se conectam de forma integrada em experiências de percepção de nosso corpo como um todo, ou seja, forma nossa Imagem Corporal (DOLTO, 2004; SCHILDER, 1980; TAVARES, 2003).

Poucas pesquisas exploraram traços da Imagem Corporal em atletas praticantes de esportes aquáticos. As que fizeram, utilizaram atletas de nado sincronizado, em consonância com a ênfase na busca pela magreza (característica comportamental dos atletas de alto rendimento dessa modalidade) exemplificada em pesquisas com amostras do sexo feminino (FERRAND, MAGNAN, PHILIPPE, 2005; FERRAND et. al., 2007, PERINI et. al., 2009, URDAPILLETA et. al., 2010). Vale ressaltar que outras atitudes relevantes relacionadas aos traços da representação mental do corpo do atleta de natação são pouco exploradas, sendo o foco predominante a insatisfação corporal (HUDDY, NIEMAN, JOHNSON, 1993; RAUDENBUSH, MEYER, 2003).

Em face dessas argumentações, esta pesquisa justifica-se pela escassez de estudos sobre os traços da dimensão atitudinal da Imagem Corporal em nadadores de elite brasileiros. Ainda, ponderando o contexto histórico-social que estamos vivendo, há de se registrar que no mês de agosto de 2012 iniciou-se um novo ciclo Olímpico visando as Olímpiadas de 2016, a serem realizadas no Rio de Janeiro. Espera-se que os atletas brasileiros – e em especial àqueles de modalidades individuais, como a natação – sofram uma grande pressão vindas da mídia, das empresas patrocinadoras públicas e privadas e dos órgãos públicos (além da pressão interna vinculada aos objetivos pessoais dos atletas) para obtenção do maior número possível de medalhas, uma vez que a expectativa anunciada pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) que o país fique entre os 10 primeiros colocados1.

Este contexto, associado (1) aos transtornos morfológicos e comportamentais acima citados ligados à Imagem Corporal e ao esporte de alto rendimento; (2) à escassez de estudos focados no mapeamento e desenvolvimento psicológico assim como na dimensão

1 Informação divulgada em: http://runnersworld.abril.com.br/noticias/olimpiada-meta-colocar-brasil-dez-rio-2016-326823_p.shtml

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atitudinal da Imagem Corporal do nadador de elite brasileiro e (3) os inexpressivos resultados gerados pela busca nas bases SciELO2, SCOPUS3, Web of Science3, PsychInfo3 e Sport

Discus3, levou a presente pesquisa a tentar suprir algumas lacunas existentes, gerando

informações acerca de traços relacionados a variáveis independentes que influenciem o rendimento em nadadores homens e que sejam ainda pouco explorados nas pesquisas. Assim, teve seu foco nos aspectos atitudinais da imagem corporal, estudando mais especificamente o componente afetivo (ansiedade físico social, estados de humor e autoestima), o componente comportamental (busca pela musculatura) e o componente cognitivo (atitudes relacionadas à musculatura) na natação masculina brasileira de alto nível. Ainda, considerando que esta tese buscou promover uma reflexão mais ampliada acerca da identidade do atleta, traços relacionados à satisfação com a vida e os estados de humor também foram investigados.

2 Usou-se tanto na base SciELO a palavra chave “Natação” combinada com cada uma destas palavras chaves: bem estar, auto-percepção, humor, imagem corporal, autoestima, ansiedade físico social, drive for muscularity. Foi usado operador booleano AND. Quatro artigos configuraram o resultado deste levantamento, sendo que apenas o já citado de Ferreira et al. (2012) aborda a natação competitiva de alto nível no Brasil.

3 A sistemática de busca nestas bases e os resultados destes levantamentos estão descritos no quadro teórico, mais especificamente na seção Imagem Corporal em nadadores masculinos de alto nível. Observou-se uma inexpressiva produção, mesmo no cenário internacional sobre o tema abordado nessa tese.

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2 Quadro Teórico

O quadro teórico que aqui se apresenta foi estruturado em duas partes. A primeira parte apresenta um resumo da evolução do modelo de treinamento esportivo, culminando na estrutura do treinamento da natação contemporânea - compreender como se dá o planejamento dos treinos será de valia para a compreensão dos dados que aqui se apresentam. A segunda parte apresenta dados de pesquisas prévias que analisaram traços da Imagem Corporal em populações de atletas e não atletas em diversos esportes, aproximando, sempre que possível, do cerne do presente estudo: nadadores do sexo masculino. Tais informações foram recuperadas em bases de dados (SciELO, Web of Science, Scopus,

PsychInfo e Sport Discus), de forma sistemática, com cruzamento de palavras chaves

(swimming, elite athletes, self-esteem, self-image, body image, self-perception, self-concept,

self-confidence, self-consciousness, well-being, drive for muscularity, social physique anxiety mood). Foram incluídos também livros clássicos da área (CASH, 2012; CASH, PRUZINSKY,

2002; CASH, SMOLAK, 2011; THOMPSON, CAFRI, 2007), para a elaboração desta última parte do quadro teórico.

2.1 Modelos de Treinamento

Não é de hoje que se tenta compreender e aperfeiçoar o desempenho do corpo humano, não importa o objetivo. A expectativa de se ter um corpo melhor preparado fisicamente vem desde a Grécia antiga, seja para fins militares ou para os jogos competitivos, e somente com os Jogos Olímpicos da Era Moderna, no final do século XIX, o treinamento passou a ter um caráter sistematizado (BARBANTI, 2004; DANTAS et. al., 2010). O treinamento que visa o desempenho esportivo é comumente chamado de treinamento

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esportivo, definido por Matveev (1981) como “um processo especializado e orientado que objetiva alcançar elevados resultados esportivos através do preparo corporal, técnico, tático, intelectual, psicológico e moral por meio de exercícios físicos”.

Esse processo, formado pelo treino e intercalado a descansos periódicos de forma organizada ao longo do tempo caracteriza uma programação de treinamento, ou, como comumente é denominada, uma periodização. Originada da palavra período - no sentido de porção ou divisão do tempo em segmentos passíveis de maior controle (BOMPA, 2001), o termo periodização busca, através da relação entre estímulo e pausa orientada pelos princípios do treinamento esportivo, provocar adaptações no organismo tornando-o mais apto a realizar determinada tarefa, cumprindo-a com o melhor desempenho possível. Pode ser definida como:

Planejamento geral e detalhado de todos os fatores envolvidos no processo de treinamento: tempo disponível; recursos utilizáveis; desenvolvimento e expectativa desportiva e pessoal do(s) indivíduos(s) de acordo com objetivos estabelecidos, respeitando-se os princípios científicos do treinamento desportivo (DANTAS, 1998, p. 61)

Os primeiros estudos sobre como organizar o treinamento são creditados ao russo Kotov, no começo do século XX. Segundo Fleck e Kraemer (1999), os estudos sobre periodização do treinamento foram inicialmente verificados entre levantadores de peso da Europa Oriental na década de 40, quando técnicos e cientistas notaram que o volume e a intensidade do treinamento de atletas bem-sucedidos seguiam um certo padrão durante o ano: no início, o volume de treino era alto e a intensidade, baixa; ao longo da temporada, havia um decréscimo no volume e aumento da intensidade, até pouco antes da competição, onde a intensidade era ligeiramente diminuída para promover a recuperação do atleta.

2.1.1 Modelo de Cargas Distribuídas

Porém, foi na década de 60 que o Professor e cientista russo Led Matveev idealizou um modelo de periodização que serviria de base organizacional para programas de treinamento esportivo até meados da década de 80, sendo ainda hoje utilizada em modelos de periodizações de diversos esportes (GOMES, 2002). Seu modelo é fundamentado na teoria da

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síndrome geral da adaptação de Selye, onde a sucessão consecutiva e organizada de estímulos e recuperação tende a quebrar a homeostase corporal vigente elevando o organismo a uma condição mais apta e preparada. Tais estímulos se valem de uma utilização dinâmica de variação da carga de trabalho, seja ela retilínea, escalonada ou ondulatória, onde a dinâmica ondulatória possibilita a melhor funcionalidade e adaptação do atleta. Tais oscilações devem abranger tanto as cargas de trabalho do volume quanto da intensidade, com a particularidade de que os valores máximos de cada uma não devam coincidir em um mesmo momento da periodização (MATVEEV, 1981).

Em sua divisão programática, o modelo de cargas distribuídas caracteriza a temporada como um macrociclo - a unidade maior de organização da periodização - com o objetivo de visualizar de forma clara e concisa os objetivos e as interdependências entre as fases menores de treino. Tendo duração semestral ou anual, cada macrociclo por sua vez é dividido em mesociclos - unidades menores com duração média de 3 a 8 semanas que visam organizar e homogeneizar as capacidades trabalhadas. Os diversos mesociclos são divididos em microciclos, caracterizados pela combinação entre estímulos e recuperação. Por fim, cada microciclo é composto por sessões de treino diárias, que podem ou não ser únicas de acordo com o planejamento proposto. Ainda, organizou a estrutura do macrociclo em três fases distintas: a primeira fase tem por objetivo a aquisição das capacidades físicas necessárias para a melhoria do desempenho e posterior consolidação das mesmas, sendo intitulada como Período Preparatório; a segunda fase, denominada Período Competitivo, busca a manutenção das capacidades adquiridas, culminando no momento planejado de pico de desempenho; por fim, a terceira fase se refere à perda da forma física ótima, em um período de transição entre o final de um macrociclo e o começo de outro - sendo por isso denominada Período de Transição (MATVEEV, 1981).

O Período Preparatório é dividido em Período Preparatório Geral (PPG) e Período Preparatório Específico ou Especial (PPE). O PPG tem como função criar as bases fisiológicas, técnicas e táticas para o PPE, visando o desenvolvimento das capacidades motoras de modo geral e, no âmbito técnico-tático, incidindo na restruturação das habilidades motoras já compreendidas e/ou o aprendizado de novas ações técnicas. Por pressuposto, as magnitudes das cargas são da ordem do volume predominando sobre a intensidade, e o

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treinamento aeróbio toma grande proporção dentro dos objetivos fisiológicos diários nos micros e mesociclos iniciais da temporada.

Por sua vez, o PPE dá continuidade ao PPG na elevação da magnitude de carga do treinamento, tendo um caráter de trabalho fisiológico focado nas zonas mistas e anaeróbias. Com isso muda-se o predomínio das curvas de volume e intensidade, tendo a prevalência da intensidade sobre o volume. Ao longo do PPE objetiva-se a qualidade do trabalho em relação à quantidade, e os estímulos passam a ser cada vez mais específicos e congruentes com as distâncias e intensidades das competições. Tem-se a consolidação das mudanças técnicas iniciadas no PPG, e de modo crescente experimentam-se possibilidades táticas que possam ser treinadas e consolidadas (FORTEZA, 1999; MATVEEV, 1981). Psicologicamente, o atleta deve se preparar para suportar níveis de treino crescentes de PPG para PPE, ao mesmo tempo em que deve traçar objetivos de curto, médio e longo prazo que o motivem. Força de vontade, autoestima e foco são alguns dos constructos de suma importância trabalhados nesses períodos (SAMULSKY, 2009).

A segunda fase da organização do macrociclo recebe o nome de Período Competitivo, pois nessa fase a forma física máxima é alcançada e exigida mediante as competições alvo, situadas nesse período. Com relação às características do treino, tem-se uma grande diminuição tanto das cargas de volume como de intensidade, alternando de acordo com a modalidade esportiva, a especificidade do atleta e sua dinâmica de desempenho. Tática e tecnicamente o atleta atinge sua maestria esportiva, uma vez que as correções com relação à estratégia de prova ou grandes modificações nos movimentos técnicos já foram realizadas (FLECK, KRAEMER, 1999; FORTEZA, 1999). Psicologicamente o atleta deve encontrar-se motivado e confiante, com objetivos de desempenho conscientes e factíveis de serem exigidos. Por fim, a terceira e última fase da periodização é chamada de Período Transitório ou Período de Transição, e caracteriza-se pelo término de um macrociclo e o início do próximo (MATVEEV, 1981). Cargas de volume e intensidade são drasticamente reduzidas - senão supridas, e o atleta tem um breve período de férias. Seu organismo deve entender que este é o momento de relaxamento e recuperação, um período de destreino. O estado mental do atleta deve remetê-lo à sensação de “dever cumprido”, com uma condição emocional positiva frente às possibilidades de sucesso ou fracasso decorridas na competição alvo (WEINECK, 1999).

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Esse modelo de planificação esportiva ficou conhecido como modelo de Cargas Distribuídas, caracterizando-se pela aplicação de diferentes intensidades e estímulos durante todo o macrociclo, organizados e agrupados em determinados períodos de acordo com as necessidades da modalidade e o calendário planejado. A Figura 1 exemplifica a relação de alternância entre as cargas de volume e intensidade ao longo da temporada, uma das principais características desse modelo estrutural de Periodização.

Figura 1 - Organização das cargas de volume e intensidade no Macrociclo (adaptado de MATVEEV, 1981).

Ainda que o modelo de cargas distribuídas tenha atendido com primazia às exigências do desporto competitivo, sua estruturação também foi alvo de críticas. Especialistas da época alertaram que a fase de preparação geral preconizada por Matveev teria sentido apenas para elevar o estado global de preparação do atleta, e uma vez que o mesmo apresente anos de carreira esportiva, este estado geral já estaria elevado o suficiente a ponto de não desencadear novos processos adaptativos relevantes (WEINECK, 1999). Além disso, condenava-se a generalização das cargas de treino, o desrespeito pelas particularidades metabólicas das diferentes modalidades esportivas e principalmente a escassa possibilidade de mais picos de rendimento durante a temporada - exigência cada vez mais presente no calendário esportivo devido aos crescentes compromissos programados pelas confederações, mídia especializada e patrocinadores (GOMES, 2002; PLATONOV, FESSENKO, 2003).

volume intensidade

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2.1.2 Modelo Pendular de Treinamento

Com o intuito de aperfeiçoar o sistema proposto por Matveev, Arosiev e Kalinin propuseram, na década de 70, um modelo de treinamento onde as cargas de treinamento seguissem uma estrutura semelhante a um pêndulo (FORTEZA, 2006; SILVA, 1995). Sendo uma espécie de “reforma” do modelo de cargas distribuídas (uma vez que a tradicional subdivisão dos períodos não é descartada), o chamado Treinamento Pendular teve como proposta básica a obtenção de mais momentos de pico de rendimento, fundamentando-se na alternância sistemática entre cargas gerais e específicas. Desfundamentando-se modo, neste modelo as cargas gerais decrescem ao longo do programa até praticamente desaparecerem por ocasião das competições mais importantes, ao passo que as cargas de natureza específica crescem a cada ciclo de treino (SILVA, 1995). Essa alternância é responsável pela formação do chamado pêndulo. A Figura 2 exemplifica a relação entre as cargas gerais e especiais ao longo do tempo neste modelo:

Figura 2 - Organização pendular das cargas de volume e intensidade (adaptado de SILVA, 1995). CARGAS GERAIS CARGAS ESPECIAIS AMPLITUDE DO PÊNDULO TEMPO % CARGAS

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Com a possibilidade de ser adaptado a atletas de baixa, moderada ou alta excelência, o modelo pendular apresentou a vantagem de apoiar sua evolução nas cargas específicas, utilizando e modificando a quantidade de cargas gerais de acordo com a necessidade de adaptação e treinabilidade do atleta. É possível quantificar a especificidade dessa periodização através da estrutura do pêndulo: quanto maior a angulação formada, maior a diferença entre cargas gerais e específicas, sendo maior a predominância do trabalho específico. Desse modo, mais apto deve ser o atleta para suportar grandes quantidades desse tipo de trabalho (FORTEZA, 2006).

Ainda assim, vale frisar que essa forma de organização teve como base o modelo proposto por Matveev, e por isso manteve em seu conceito e estrutura a importância das cargas gerais de treinamento - ainda que as mesmas desapareçam ao longo da Periodização (FORTEZA, 2006; SILVA, 1995). O modelo pendular é comumente utilizado em esportes coletivos e individuais, como em algumas modalidades de força de ginástica, atletismo, e mesmo no futsal (SILVA, 1995).

2.1.3 Modelo Estrutural de Tschiene

Desenvolvido no final da década de 1970, o modelo de periodização proposto por Peter Tschiene volta-se para o treinamento de alto nível, sobretudo aos esportes no campo da força. Sua estrutura baseia-se na distribuição da carga de treinamento da temporada de forma ondulatória, alternando o volume e a intensidade sem baixar os níveis de 80% de seus potenciais máximos de carga (TSCHIENE, 1985). Segundo o autor, o trabalho em alta intensidade das cargas em unidades de treinamento relativamente breves e com um caráter predominantemente específico são pontos relevantes desta forma de organizar o treinamento de alto nível. A Figura 3 exemplifica a relação entre volume e intensidade ao longo da temporada para este modelo:

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Figura 3 - Organização estrutural das cargas de volume e intensidade (adaptado de TSCHIENE, 1985).

É possível destacarmos no modelo de Tschiene duas principais características (TSCHIENE, 1985): (1) dinâmica das cargas em forma de pequenas ondas, com uma permanente e destacada alternância entre volume e intensidade; e (2) predominância da intensidade em unidades de treino relativamente curtas, nas quais se destacam as cargas de competição.

Sendo esta forma de organização altamente desgastante, há a necessidade de se introduzir intervalos profiláticos entre as cargas de trabalho durante todo o processo de treinamento, como meio de recuperação ativa e manutenção da capacidade de rendimento (TSCHIENE, 1985). O modelo estrutural não se diferencia completamente da ideia tradicional de periodização proposta por Matveev, uma vez que a relação entre volume e intensidade constrói-se através de uma dinâmica ondulatória. Porém, a manutenção dos altos níveis de volume e intensidade por toda a temporada com relativa predominância de cargas específicas e sucessivos intervalos entre os curtos períodos de treino definitivamente distanciou o modelo

INT. PREVENTIVO INT. PREVENTIVO

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estrutural do modelo pendular de Arosiev (e, consecutivamente, da utilização do modelo estrutural em atletas que não fossem de alto nível), aproximando-o do modelo “blocado” de periodização.

2.1.4 Modelo de Cargas Concentradas

Como já mencionado, os princípios estruturais do modelo proposto por Matveev serviram de base para diversos programas de treinamento nas décadas de 60 e 70 - e ainda hoje é utilizado em inúmeras modalidades esportivas (BOMPA, 2001; DANTAS, 2010; GOMES, 2002; SILVA, 2005; TSCHIENE, 1985; VALDIVIELSO, FEAL, 2001). Porém, na década de 80, a diversificação do calendário, o aumento do número de competições importantes e as crescentes críticas ao modelo de cargas distribuídas fizeram com que a montagem do programa de treinamento passasse a adotar modelos estruturais onde fosse necessária a obtenção de mais picos de rendimento ao longo da temporada.

A necessidade da manutenção da forma física ótima em diversos momentos da temporada anual não proporciona tempo disponível para o planejamento e execução de um vasto período de preparação geral, uma vez que as cargas de treino relativas a esse período não atendem às especificidades concretas do esporte no momento da competição (BOMPA, 2001; VALDIVIESO, FEAL, 2001). Com isso, alguns autores propuseram um modelo de treinamento que levasse em conta a importância de uma preparação individualizada e específica durante todo o processo de treinamento, considerando as particularidades de cada modalidade e suas exigências metabólicas (PLATONOV, FESSENKO, 2003). Dentre esses autores destacou-se o trabalho do russo Yuri Verkoshansky, tido por muitos como o maior crítico ao modelo de Matveev.

O modelo proposto por Verkoshansky propiciou, acima de tudo, a possibilidade de realização da forma física ótima em um espaço de tempo reduzido, possibilitando mais picos de desempenho em uma mesma temporada. Enquanto o modelo de Cargas Distribuídas preconizava a necessidade de uma vasta Preparação Geral composta por

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exercícios globais, o modelo de Verkoshansky tinha como sua maior ferramenta a concentração de cargas específicas de trabalho, mantendo o “estado competitivo” do atleta sempre próximo daquele requerido nas competições (BOMPA, 2001). A evolução dos métodos de treinamento ao longo dos anos, o crescimento do nível atlético e a necessidade da manutenção da forma física ótima fizeram entender que o atleta de alto nível precisava manter-se na maior parte do tempo em treinamento de cargas específicas, evitando qualquer desperdício de treino e intensificando sua melhora física (VERKOSHANSKY, 2001).

As mudanças na estruturação do treinamento propostas nesse modelo preconizaram, como ideia geral, os seguintes princípios: (1) individualidade das cargas de treinamento justificada pela capacidade individual de adaptação do organismo; (2) concentração das cargas de treinamento, aplicadas de modo intensificado na mesma orientação e em um curto espaço de tempo, visando o esgotamento da reserva atual de adaptação (RAA) do organismo; (3) desenvolvimento consecutivo das capacidades, utilizando o efeito residual daquelas já trabalhadas; e (4) ênfase no trabalho específico das cargas, tendo em vista a necessidade de antecipar a forma física ótima e possibilitar mais picos de desempenho ao longo da temporada (VERKOSHANSKY, 2001).

Esse modelo de periodização ficou conhecido como Modelo de Cargas Concentradas ou Periodização em Bloco, devido a natureza de seu método: cargas altamente específicas e concentradas organizadas em curtos períodos de tempo. Indicado a atletas de alto nível, as cargas intensas características desse modelo visavam promover melhora fisiológica a organismos que apresentassem treinabilidade muito escassa, devido à longevidade de suas carreiras esportivas (VERKOSHANSKY, 2001). Foi inicialmente fundamentado para desportos de força e potência realizados em terra, sendo com o tempo amplamente difundido e adaptado para os mais variados esportes, inclusive a natação (PLATONOV, FESSENKO, 2003).

Ao ser organizado em três períodos ou blocos (denominados “A”, “B” e “C”), o modelo de Verkoshansky apresenta as seguintes subdivisões: o Bloco A subdivide-se em Blocos A1, A2 e A3; o Bloco B em Blocos B1 e B2; e, por fim, o Bloco C é formado pelos Blocos C1 e C2. A Figura 4 exemplifica o modelo estrutural da Periodização de Cargas Concentradas, ressaltando sua respectiva divisão de Blocos:

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Figura 4 - Organização de blocos do Modelo de Cargas Concentradas (adaptado de VERKOSHANSKY, 2001)

Essa estruturação tem como objetivo o esgotamento das reservas fisiológicas do atleta em um primeiro momento (onde a forma física do atleta precisa obrigatoriamente ser diminuída) para então, em um segundo momento, adaptar-se e sobrepujar a forma física do início da programação. O Bloco A busca esse esgotamento, depletando e preparando o aparelho locomotor para as próximas etapas. É o momento de maior volume da Periodização, onde são utilizados exercícios que trabalhem tanto fibras lentas como fibras rápidas (VERKOSHANSKY, 2001).

Em suas subdivisões, o Bloco A1 tem como função a preparação do aparelho locomotor para as próximas fases, e é caracterizado por trabalhos de resistência. Do ponto de vista motor, trabalham-se as mudanças técnicas e as mudanças biomecânicas mais relevantes. O Bloco A2 caracteriza-se pelo início efetivo do trabalho de cargas específicas, enquanto no Bloco A3 há o aumento da magnitude dessa carga. De modo geral, o Bloco A é visto como uma etapa preparatória para os blocos seguintes, tendo um papel de “acumulação” das cargas de trabalho para posterior desenvolvimento e aprimoramento das mesmas. Como já supracitado, busca-se o esgotamento das reservas fisiológicas do atleta, provocando adaptações profundas no seu organismo e criando condições apropriadas para a obtenção, nas próximas fases, do Efeito Póstumo Duradouro do Treinamento (EPDT), que é o aproveitamento do efeito residual de uma capacidade já trabalhada para desenvolvimento/aprimoramento de outra capacidade (VERKOSHANSKY, 2001).

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O Bloco B tem como função realizar a “lapidação” das capacidades brutas trabalhadas no Bloco A, através do EPDT acumulado no bloco anterior. Objetiva a transição dos trabalhos de força realizados nos Blocos A2 e A3 para o trabalho de potência (Bloco B1), enquanto no Bloco B2 há a intensificação dessa carga de trabalho. De modo geral o Bloco B é o momento onde se tem a maior aplicação de carga específica de trabalho considerando os aspectos fisiológicos, técnicos e táticos. Faz uma relação interdependente entre a etapa de preparação (Bloco A) e a etapa de competição (Bloco C), desenvolvendo um papel de suma importância no programa de treinamento. Com volume reduzido e altíssima intensidade (em um momento onde as mudanças técnicas já estão consolidadas), o Bloco B trabalha a execução exaustiva de estímulos próximos aos que serão enfrentados no momento competitivo, tendo, por isso, grande vínculo com a especificidade tática da prova objetivada (VERKOSHANSKY, 2001).

Por fim, o Bloco C remete à etapa competitiva da Periodização, onde se concentram as competições alvo programadas. Utiliza-se o EPDT acumulado do bloco A e desenvolvido no Bloco B. O Bloco C1 é a primeira etapa de descanso, tendo enfoque no trabalho de velocidade, e no Bloco C2 realiza-se a segunda etapa de descanso, buscando a manutenção dessa velocidade. Desse modo, o Bloco C caracteriza-se por uma diminuição gradativa da carga de trabalho, com os componentes técnicos e táticos já estabelecidos. Em relação ao trabalho emocional, os objetivos dos Blocos A, B e C remetem àqueles exemplificados nos Períodos Preparatório Geral, Preparatório Específico e no Período Competitivo da Periodização de Cargas Distribuídas: traçar metas claras possíveis de serem alcançadas, e tolerar as cargas de treino ao longo da periodização, para que, no momento da competição alvo, o atleta esteja confiante e ao mesmo tempo sereno em relação a seu possível resultado. Porém, visto que as características do Modelo de Blocos implicam em aplicação de cargas de trabalho altamente concentradas, pressupõe-se que o trabalho psicológico realizado na Periodização contemporânea se faz tão (senão mais) importante para o atleta (VERKOSHANSKY, 2001).

Uma das vantagens da Periodização de Cargas concentradas se dá na interdependência entre os blocos: dentro de uma mesma temporada, os ciclos não precisam necessariamente conter os três blocos de treinamento. Somente o bloco C está sempre presente em todos os ciclos, privilegiando assim as competições e integrando as mesmas aos

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treinamentos, mesmo que algumas delas não sejam objetivos relevantes na temporada (PLATONOV, FESSENKO, 2003; VERKOSHANSKY, 2001).

2.1.5 Modelo ATR

O Modelo ATR, proposto inicialmente por Issurin e Kaverin em 1986 e posteriormente desenvolvido por Navarro (1998) aplica um conceito alternativo de classificação de mesociclos, diferenciando-os em três tipos: Acumulação, Transformação e Realização. A ideia geral da composição do modelo ATR baseia-se no desenvolvimento consecutivo das competências fisiológicas em blocos/mesociclos de treinamento especializados, através da supercompensação dos efeitos residuais do treinamento. O sequenciamento das competências trabalhadas em cada fase deve obedecer a capacidade residual das mesmas: primeiro desenvolve-se as competências de maior efeito residual, como força máxima e a capacidade aeróbia (Acumulação); em seguida treina-se as competências de efeito residual médio como potência/resistência de força e a capacidade anaeróbia (Transformação); por fim, o mesociclo final desenvolve as capacidades de treino com menor efeito residual, como a capacidade anaeróbia alática (Realização) (NAVARRO, 1998).

Desse modo, a fase de Acumulação tem como objetivo a elevação do potencial técnico e motor do atleta; a fase de Transformação busca a lapidação das capacidades anteriormente aprimoradas, através de uma preparação altamente específica; por fim, é na fase de Realização que o atleta compete e conquista seus melhores resultados (NAVARRO, 1998). Para o autor, o desenvolvimento do atleta se dá na periodicidade e troca da orientação das capacidades treinadas ao longo das fases, forçando o organismo a adaptar-se constantemente. A Figura 6 exemplifica a relação entre os mesociclos e as competências trabalhadas em cada um:

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Figura 5 - relação entre mesociclos dentro do modelo ATR (adaptado de NAVARRO, 1998).

O Modelo ATR, assim como o modelo proposto por Verkoshansky, busca concentrar as capacidades trabalhadas, valendo-se do efeito residual do treinamento. Contudo, temos em um mesmo mesociclo capacidades de cunho cardiopulmonar e neuromuscular sendo trabalhadas concomitantemente, característica presente no modelo de cargas distribuídas de Matveev. Podemos dizer que o modelo ATR em sua concepção é uma mescla dos modelos clássico e contemporâneo (NAVARRO, 1998).

* * *

As mudanças propostas por Verkoshansky em sua periodização de cargas concentradas e as particularidades das diversas modalidades esportivas incentivaram outros autores, ao longo dos anos, a adaptarem e proporem variações para esse modelo, se valendo tanto de características vindas da periodização em bloco quanto da periodização clássica de Matveev. Dentre essas variações, vale a pena destacar: o Modelo de Campanas Estruturais proposto por Forteza (1999), que segue o princípio do modelo estrutural pendular de Tschiene,

REALIZAÇÃO

TRANSFORMAÇÃO

ACUMULAÇÃO

VELOCIDADE - PREPARAÇÃO INTEGRADA - TEC/TAC COMPETITIVO

FORÇA ESPECÍFICA - RES. ESPECÍFICA - TEC/TAC ESPECÍFICO

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mas onde em nenhum momento as cargas de treino gerais são maiores que as específicas; o modelo desenvolvido por Bompa (2001), que adapta o modelo de Matveev para modalidades que tem como foco a resistência; por fim, o modelo de Cargas Seletivas proposto por Antônio Carlos Gomes (2002), voltado para os esportes coletivos, em especial para o futebol onde o volume de treinamento permanece praticamente o mesmo durante a temporada anual de competições, enquanto as capacidades de treinamento alternam-se a cada mês durante o ciclo competitivo.

O modelo de periodização em Bloco contribuiu e influenciou, tanto quanto o modelo de cargas distribuídas, para a disseminação e conhecimento dos modelos organizacionais de treinamento esportivo. A periodização clássica de Matveev e os modelos derivados dela colaboraram de forma positiva para a fomentação do interesse de pesquisadores da linha contemporânea em criticar o modelo tradicional e elaborar novos modelos de periodização. Por sua vez, os modelos contemporâneos evoluíram e continuam se aperfeiçoando ao longo dos anos, possibilitando melhores desempenhos por parte dos atletas (BOMPA, 2001; DANTAS, 2010; GOMES, 2002).

Definitivamente, o caráter científico da periodização do treinamento desportivo precisa respeitar os desportos em suas dimensões especificas no que se refere ao sistema de competição. No início, os planos de treinamento exigiam uma metodologia diferenciada para os desportos individuais e para os coletivos. Posteriormente, surge o respeito aos sistemas energéticos predominantes ao desempenho de cada esporte no momento da competição. A biomecânica, responsável pela qualidade do gesto motor, e a psicologia, preparando mentalmente o atleta, posteriormente se encaixaram nos modelos de periodização, trabalhando de acordo com a fase do treinamento (GOMES, 2002, p. 145). Ainda assim, cientistas e técnicos se esmeram em aperfeiçoar, adequar e inovar os modelos de periodização existentes, a fim de se ultrapassar barreiras e extrair o melhor desempenho dos atletas.

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2.1.6 Treinamento esportivo na natação contemporânea

Assim como em outros esportes, na natação também se notou um evidente crescimento do número de competições a partir da década de 80, tanto pela maior atenção dada pela mídia a esse esporte como pelo crescimento das confederações. O calendário da natação de alto rendimento se expandiu ao longo dos anos, e foi preciso que atletas se adequassem cada vez mais à crescente necessidade de se prover resultados satisfatórios em competições classificatórias, meetings e compromissos com patrocinadores - situação que se estende até os dias de hoje.

Uma temporada atual exige do nadador de alto rendimento dois a três picos de desempenho - ou seja, de dois a três macrociclos por ano (MAGLISCHO, 2010; PLATONOV, FESSENKO, 2003). Como explicado no início do dessa seção, cada macrociclo é constituído por dois períodos distintos: o primeiro, objetivando aquisição das capacidades, denominado Período Preparatório, e o segundo, objetivando o desempenho das capacidades almejadas, denominado Período Competitivo. Tal divisão também se aplica para o macrociclo da natação (MAGLISCHO, 2010, VALDIVIELSO, FEAL, 2001), assim como as subdivisões dessas fases: o Período Preparatório Geral, alocado no começo da temporada, caracteriza-se por cargas gerais e mais volumosas, expressas na natação por tarefas contínuas de intensidades baixas e moderadas, com grande variação de estilos nadados. Por sua vez, o Período Preparatório Específico, alocado no macrociclo após o Período Preparatório Geral, caracteriza-se por cargas específicas e menos volumosas, expressas na natação por tarefas em sua grande maioria intervaladas em intensidades moderadas e altas, com grande ênfase na prova específica dos atletas (AGLISCHO, 2010; PLATONOV, FESSENKO, 2003).

Uma vez que velocistas (nadadores especialistas em distâncias de 50m e 100m, com duração de prova entre 22 e 55 segundos aproximadamente), nadadores de meio-fundo (especialistas em distâncias de 200m e 400m, duração de prova entre 1’45” e 5 minutos aproximadamente) e fundistas (especialistas em distâncias de 800m e 1500m, com duração de prova entre oito e 14 minutos aproximadamente) necessitam desenvolver características

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metabólicas específicas de acordo com suas provas, faz-se necessário uma grande individualização das cargas diárias de treinamento, seja ela em volume como em intensidade. Essa diferenciação é vista já na estrutura geral do macrociclo (de acordo com a divisão temporal dos períodos básicos e específicos de treino), passando pelos mesociclos (através da escolha das capacidades físicas objetivadas), microciclos (por meio da escolha da zona-alvo de treino em cada dia) chegando até as sessões de treino, onde diferenciam-se, basicamente, a quantidade de sessões e o volume de treino de cada sessão entre velocistas, fundistas e nadadores de meio-fundo (PLATONOV, FESSENKO, 2003; VALDIVIELSO, FEAL, 2001).

Comumente, a natação apresenta uma organização e distribuição de microciclos que os agrupam em períodos de sete dias onde, independentemente do número de sessões diárias, habitualmente treinam-se seis dias consecutivos e descansa-se um (MAGLISCHO, 2010; PLATONOV, FESSENKO, 2003). Tais especificidades determinam particularidades da periodização como as características fisiológicas trabalhadas em cada sessão, o número de sessões de treino por microciclo, a duração e objetivo dos mesociclos, e, em grande escala, o próprio modelo de periodização escolhido. Ainda, e mesmo que óbvio, vale lembrar que a natação acontece no meio líquido, com características e particularidades que remetem a estratégias e métodos únicos de quantificação das cargas de trabalho e das zonas-alvo almejadas do treino, assim como a duração dos intervalos entre os estímulos propostos (MAGLISCHO, 2010; PLATONOV, FESSENKO, 2003; VALDIVIELSO, FEAL, 2001).

Ainda assim não há, na literatura, estudos que façam um diagnóstico extenso da organização das fases de treino assim como modelo preferencial de periodização entre treinadores. Tem-se documentado volumes de nado semanais que variam entre 30.000 e 60.000 metros para o Período Preparatório Geral, e entre 15.000 e 40.000 metros para o Período Preparatório Específico (BARROSO et. al., 2012; MAGLISCHO, 2010; STEWART, HOPKINS, 2000; WALLASSE et. al., 2013), mas de modo pouco preciso sobre como esse volume é dividido nas fases da periodização ou qual a intensidade de nado para esses volumes. Stewart e Hopkins (2000), através de questionário, estudaram as preferências de volume e intensidade da carga de trabalho assim como a duração dos micros, mesos e macrociclos de 24 técnicos australianos de grande expressão, mostrando que suas escolhas caracterizavam, de modo geral, um modelo adaptado de cargas distribuídas. Provavelmente esse é um dos poucos

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trabalhos que trazem tais informações, e o único encontrado em nossa pesquisa para o desporto natação.

Ainda que não haja registros acadêmicos que apontem com veracidade tal informação, especula-se que no Brasil o modelo comumente empregado por técnicos de pequenos e grandes clubes seja o de Matveev, seguido pelo uso do modelo ATR e, em menor escala, pelo modelo de cargas concentradas - novamente, vale frisar que se trata da opinião do presente pesquisador, calcada em sua experiência prática no meio da natação competitiva brasileira. Marinho (2008), em tese de doutorado, mostra a aplicação do modelo de cargas concentradas de Verkoshansky em três nadadores velocistas de alto nível nacional. Trabalhos semelhantes ao de Marinho não foram encontrados em nossa pesquisa, especulando-se que este talvez seja o único documento acadêmico brasileiro existente a ter registrado de modo detalhado as cargas de treino utilizadas por um grande clube nacional de natação. Mais estudos nesse campo são necessários para termos informações sobre os métodos escolhidos e utilizados pelo treinador de natação brasileiro para a montagem do seu programa de treinamento.

De todo modo, a organização de cargas de treino sempre é prescrita de acordo com o programa de provas participadas pelo atleta (FLECK, KRAEMER, 1999; MAGLISCHO, 2010; MATVEEV, 1981; NAVARRO, 1998; VERKOSHANSKY, 2001). O calendário brasileiro da natação abrange competições de cunho municipal à nacional ao longo da temporada. Os principais torneios são organizados pelas Federações estaduais - responsáveis pelos torneios regionais e campeonatos estaduais - enquanto a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) fica responsável por reger os campeonatos nacionais absolutos e de categoria, e, eventualmente, fomenta a ida das seleções às competições internacionais (www.cbda.org.br).

Dentro desse cronograma, a temporada anual do nadador de alto nível brasileiro comumente é organizada e dividida em três macrociclos, tendo os campeonatos nacionais absolutos (Troféu Maria Lenk, comumente realizado entre Abril e Maio; Troféu José Finkel, comumente realizado entre Agosto e Setembro; Taça Correios / Open de Natação, realizada aproximadamente entre Novembro e Dezembro) como objetivos principais. Por serem os campeonatos mais fortes do país, têm seus resultados utilizados como seletiva para

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competições internacionais (Jogos Olímpicos, Campeonatos Intercontinentais / Mundiais e Copas do Mundo), além de serem competições de grande visibilidade para a mídia e patrocinadores, fazendo com que clubes e atletas objetivem sua participação apresentando o melhor desempenho possível.

Nesse ponto, vale situar onde se encontra o nadador de alto nível brasileiro dentro do escopo competitivo do país. De acordo com CBDA - entidade responsável pela gestão da natação competitiva no Brasil - o país beira a marca de 8000 atletas federados em todas as categorias - ou seja, devidamente cadastrados e aptos a participar de campeonatos estaduais e nacionais de categoria ou absolutos. Porém, a participação nessas competições só acontece mediante a obtenção de índice, o que estreita essa amostra: o número de participantes em campeonatos estaduais no ano de 2013 (ano da realização da coleta deste trabalho) em todas as categorias foi de 7813 atletas, contra 1658 participantes nos campeonatos nacionais. Considerando que os índices necessários para a participação de competições nacionais de categoria são diferentes dos índices necessários para a participação em campeonatos absolutos, temos um número ainda menor: a média de participação dos três campeonatos absolutos foi de 327 atletas. A enorme quantidade de nadadores competitivos do país, o grau crescente de dificuldade para obtenção de índices nas competições (estaduais, nacionais de categoria e absolutas), somado aos resultados observados nessas competições - onde vemos as melhores marcas acontecerem nos campeonatos absolutos já citados (Troféu Maria Lenk / Troféu José Finkel / Torneio Open de Natação) - nos leva a crer que os atletas de alto nível nacional sejam àqueles aptos a participar destes campeonatos.

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26 2.2 Imagem Corporal e Esporte

A pesquisa em imagem corporal pode ser feita sob variadas vertentes teóricas, como por exemplo, a perspectiva cognitivo-comportamental, social, do processamento de informações, neurológica e psicodinâmica (CAMPANA, TAVARES, 2009). Por haver essa diversidade, é recomendado àquele que investiga nessa área definir a forma como conceitua imagem corporal, para que o leitor conheça seu posicionamento teórico e consiga acompanhar a discussão dos dados. Aqui, adotou-se a perspectiva psicossomática como a vertente de pesquisa.

Define-se, então, Imagem Corporal como a representação mental do corpo existencial. É dinâmica, singular e multifacetada, sendo influenciada por fatores emocionais, fisiológicos e sociais. O meio que cerca o sujeito, o olhar do outro, suas emoções, a integridade e a própria fragilidade do corpo são elementos próprios desta representação. No corpo se inscrevem nossos afetos, nossas experiências, nossas vulnerabilidades, potencialidades e limitações. (SCHILDER, 1980; TAVARES, 2003). Sendo dinâmica, a representação do corpo destrói-se e reconstrói-se continuamente, sob um cerne mais estável dado pelas experiências corporais precoces. É no cerne deste ir e vir, vinculados às experiências corporais do ser humano em movimento, que se incorporam mudanças na Imagem Corporal. Dessa forma, o desenvolvimento da Imagem Corporal é constante, e não ocorre de uma forma linear. O corpo que vive responde a essa demanda recompondo continuamente sua representação mental (CAMPANA, TAVARES, 2009; SCHILDER, 1980; TAVARES, 2003).

Nossa reflexão acerca da relação entre imagem corporal, atividade física/exercício e esporte começa ao afirmarmos que as experiências corporais vivenciadas na prática de atividade física podem ser elementos potencialmente promotores do desenvolvimento da Imagem Corporal, não apenas nos estágios iniciais da vida do indivíduo (KRUEGER, 2002), mas ao longo de toda a sua vida (SCHILDER, 1980), pois o processo de se ter experiências e de explorar o corpo é contínuo (TAVARES, 2003). As experiências corporais diversas que o sujeito tem, ao longo da vida, são recursos essenciais para a contínua estruturação da identidade corporal. A vivência das sensações corporais advindas de tais

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