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Como já mencionado, os princípios estruturais do modelo proposto por Matveev serviram de base para diversos programas de treinamento nas décadas de 60 e 70 - e ainda hoje é utilizado em inúmeras modalidades esportivas (BOMPA, 2001; DANTAS, 2010; GOMES, 2002; SILVA, 2005; TSCHIENE, 1985; VALDIVIELSO, FEAL, 2001). Porém, na década de 80, a diversificação do calendário, o aumento do número de competições importantes e as crescentes críticas ao modelo de cargas distribuídas fizeram com que a montagem do programa de treinamento passasse a adotar modelos estruturais onde fosse necessária a obtenção de mais picos de rendimento ao longo da temporada.

A necessidade da manutenção da forma física ótima em diversos momentos da temporada anual não proporciona tempo disponível para o planejamento e execução de um vasto período de preparação geral, uma vez que as cargas de treino relativas a esse período não atendem às especificidades concretas do esporte no momento da competição (BOMPA, 2001; VALDIVIESO, FEAL, 2001). Com isso, alguns autores propuseram um modelo de treinamento que levasse em conta a importância de uma preparação individualizada e específica durante todo o processo de treinamento, considerando as particularidades de cada modalidade e suas exigências metabólicas (PLATONOV, FESSENKO, 2003). Dentre esses autores destacou-se o trabalho do russo Yuri Verkoshansky, tido por muitos como o maior crítico ao modelo de Matveev.

O modelo proposto por Verkoshansky propiciou, acima de tudo, a possibilidade de realização da forma física ótima em um espaço de tempo reduzido, possibilitando mais picos de desempenho em uma mesma temporada. Enquanto o modelo de Cargas Distribuídas preconizava a necessidade de uma vasta Preparação Geral composta por

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exercícios globais, o modelo de Verkoshansky tinha como sua maior ferramenta a concentração de cargas específicas de trabalho, mantendo o “estado competitivo” do atleta sempre próximo daquele requerido nas competições (BOMPA, 2001). A evolução dos métodos de treinamento ao longo dos anos, o crescimento do nível atlético e a necessidade da manutenção da forma física ótima fizeram entender que o atleta de alto nível precisava manter-se na maior parte do tempo em treinamento de cargas específicas, evitando qualquer desperdício de treino e intensificando sua melhora física (VERKOSHANSKY, 2001).

As mudanças na estruturação do treinamento propostas nesse modelo preconizaram, como ideia geral, os seguintes princípios: (1) individualidade das cargas de treinamento justificada pela capacidade individual de adaptação do organismo; (2) concentração das cargas de treinamento, aplicadas de modo intensificado na mesma orientação e em um curto espaço de tempo, visando o esgotamento da reserva atual de adaptação (RAA) do organismo; (3) desenvolvimento consecutivo das capacidades, utilizando o efeito residual daquelas já trabalhadas; e (4) ênfase no trabalho específico das cargas, tendo em vista a necessidade de antecipar a forma física ótima e possibilitar mais picos de desempenho ao longo da temporada (VERKOSHANSKY, 2001).

Esse modelo de periodização ficou conhecido como Modelo de Cargas Concentradas ou Periodização em Bloco, devido a natureza de seu método: cargas altamente específicas e concentradas organizadas em curtos períodos de tempo. Indicado a atletas de alto nível, as cargas intensas características desse modelo visavam promover melhora fisiológica a organismos que apresentassem treinabilidade muito escassa, devido à longevidade de suas carreiras esportivas (VERKOSHANSKY, 2001). Foi inicialmente fundamentado para desportos de força e potência realizados em terra, sendo com o tempo amplamente difundido e adaptado para os mais variados esportes, inclusive a natação (PLATONOV, FESSENKO, 2003).

Ao ser organizado em três períodos ou blocos (denominados “A”, “B” e “C”), o modelo de Verkoshansky apresenta as seguintes subdivisões: o Bloco A subdivide-se em Blocos A1, A2 e A3; o Bloco B em Blocos B1 e B2; e, por fim, o Bloco C é formado pelos Blocos C1 e C2. A Figura 4 exemplifica o modelo estrutural da Periodização de Cargas Concentradas, ressaltando sua respectiva divisão de Blocos:

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Figura 4 - Organização de blocos do Modelo de Cargas Concentradas (adaptado de VERKOSHANSKY, 2001)

Essa estruturação tem como objetivo o esgotamento das reservas fisiológicas do atleta em um primeiro momento (onde a forma física do atleta precisa obrigatoriamente ser diminuída) para então, em um segundo momento, adaptar-se e sobrepujar a forma física do início da programação. O Bloco A busca esse esgotamento, depletando e preparando o aparelho locomotor para as próximas etapas. É o momento de maior volume da Periodização, onde são utilizados exercícios que trabalhem tanto fibras lentas como fibras rápidas (VERKOSHANSKY, 2001).

Em suas subdivisões, o Bloco A1 tem como função a preparação do aparelho locomotor para as próximas fases, e é caracterizado por trabalhos de resistência. Do ponto de vista motor, trabalham-se as mudanças técnicas e as mudanças biomecânicas mais relevantes. O Bloco A2 caracteriza-se pelo início efetivo do trabalho de cargas específicas, enquanto no Bloco A3 há o aumento da magnitude dessa carga. De modo geral, o Bloco A é visto como uma etapa preparatória para os blocos seguintes, tendo um papel de “acumulação” das cargas de trabalho para posterior desenvolvimento e aprimoramento das mesmas. Como já supracitado, busca-se o esgotamento das reservas fisiológicas do atleta, provocando adaptações profundas no seu organismo e criando condições apropriadas para a obtenção, nas próximas fases, do Efeito Póstumo Duradouro do Treinamento (EPDT), que é o aproveitamento do efeito residual de uma capacidade já trabalhada para desenvolvimento/aprimoramento de outra capacidade (VERKOSHANSKY, 2001).

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O Bloco B tem como função realizar a “lapidação” das capacidades brutas trabalhadas no Bloco A, através do EPDT acumulado no bloco anterior. Objetiva a transição dos trabalhos de força realizados nos Blocos A2 e A3 para o trabalho de potência (Bloco B1), enquanto no Bloco B2 há a intensificação dessa carga de trabalho. De modo geral o Bloco B é o momento onde se tem a maior aplicação de carga específica de trabalho considerando os aspectos fisiológicos, técnicos e táticos. Faz uma relação interdependente entre a etapa de preparação (Bloco A) e a etapa de competição (Bloco C), desenvolvendo um papel de suma importância no programa de treinamento. Com volume reduzido e altíssima intensidade (em um momento onde as mudanças técnicas já estão consolidadas), o Bloco B trabalha a execução exaustiva de estímulos próximos aos que serão enfrentados no momento competitivo, tendo, por isso, grande vínculo com a especificidade tática da prova objetivada (VERKOSHANSKY, 2001).

Por fim, o Bloco C remete à etapa competitiva da Periodização, onde se concentram as competições alvo programadas. Utiliza-se o EPDT acumulado do bloco A e desenvolvido no Bloco B. O Bloco C1 é a primeira etapa de descanso, tendo enfoque no trabalho de velocidade, e no Bloco C2 realiza-se a segunda etapa de descanso, buscando a manutenção dessa velocidade. Desse modo, o Bloco C caracteriza-se por uma diminuição gradativa da carga de trabalho, com os componentes técnicos e táticos já estabelecidos. Em relação ao trabalho emocional, os objetivos dos Blocos A, B e C remetem àqueles exemplificados nos Períodos Preparatório Geral, Preparatório Específico e no Período Competitivo da Periodização de Cargas Distribuídas: traçar metas claras possíveis de serem alcançadas, e tolerar as cargas de treino ao longo da periodização, para que, no momento da competição alvo, o atleta esteja confiante e ao mesmo tempo sereno em relação a seu possível resultado. Porém, visto que as características do Modelo de Blocos implicam em aplicação de cargas de trabalho altamente concentradas, pressupõe-se que o trabalho psicológico realizado na Periodização contemporânea se faz tão (senão mais) importante para o atleta (VERKOSHANSKY, 2001).

Uma das vantagens da Periodização de Cargas concentradas se dá na interdependência entre os blocos: dentro de uma mesma temporada, os ciclos não precisam necessariamente conter os três blocos de treinamento. Somente o bloco C está sempre presente em todos os ciclos, privilegiando assim as competições e integrando as mesmas aos

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treinamentos, mesmo que algumas delas não sejam objetivos relevantes na temporada (PLATONOV, FESSENKO, 2003; VERKOSHANSKY, 2001).

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