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Gas natural no Brasil : elementos para uma nova etapa de desenvolvimento

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Academic year: 2021

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Para Erika, meu grande amor, pelo estímulo e afeto. Aos meus pais e minha família, pelo contínuo incentivo ao meu sucesso acadêmico.

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AGRADECIMENTOS

Esta dissertação foi desenvolvida sob um processo de intenso estudo e aprendizado sobre Economia da Energia. Diversas pessoas estiveram, direta ou indiretamente, apoiando, me dando forças e me orientando neste percurso. A estas pessoas gostaria de dedicar este espaço de agradecimentos:

Ao Prof. Dr. Luciano Coutinho, pelo exemplo acadêmico, pela orientação, atenção e estímulo à minha pesquisa.

Ao Célio Hiratuka, pela atenção, interesse, orientação e amizade.

Ao Mariano Laplane, Fernando Sarti, Marcos Barbieri, Adauto Ribeiro, Jorge Tápia, Rodrigo Sabbatini, André Correa, Fernanda de Negri, Paulo Trajano e Rogério Frediani, pelo ambiente de trabalho propício, estímulo e amizade.

Aos Profs. Sérgio Bajay e Cláudio Maciel, pela atenta revisão e valiosas contribuições para o conteúdo do texto.

À Luciana Rachid, Cláudia Prates e Ricardo Cunha da Costa, pelas opiniões, informações e grande contribuição na elaboração dos estudos sobre a Petrobrás e BNDES.

Aos demais funcionários, pesquisadores e estagiários do NEIT, pela convivência alegre e prestatividade.

Aos meus amigos, pela compreensão, companheirismo e suporte emocional em momentos difíceis.

Ao Alberto e à Cida, da Secretaria do Instituto de Economia, sempre prontos para me ajudar e socorrer.

À Giselle, pela contribuição decisiva na etapa final de minha pesquisa.

Ao Instituto de Economia da Unicamp e ao NEIT, pelo apoio institucional e financeiro durante meu curso de mestrado.

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ÍNDICE:

1.CAPÍTULO I: Introdução... 1

1.1 A importância do Gás Natural... 2

1.2 Crescimento da Indústria de GN no Brasil: justificativa e objetivos deste estudo... 3

1.3 Composição da dissertação e conteúdo dos capítulos... 5

2.CAPÍTULO II: Introdução à Indústria do Gás Natural... 7

2.1 Elementos Básicos da Indústria de GN... 7

2.1.1 Especificidades técnicas do produto e dos elos da cadeia... 7

2.1.2 Os usos do GN e suas vantagens em relação a outros combustíveis... 10

2.2 O gás natural no mundo... 13

2.2.1 Reservas... 13

2.2.2 Produção e consumo de GN no mundo... 16

2.2.3 Barreiras ao avanço da indústria do Gás Natural em países subdesenvolvidos... 23

3. CAPÍTULO III: Formação da indústria brasileira de Gás Natural... 29

3.1 O surgimento da indústria do gás natural no Brasil e a descoberta das principais reservas no século XX... 30

3.2 Infra-estrutura e produção de Gás Natural no Brasil... 38

3.3 A distribuição de GN no Brasil e as barreiras à difusão do consumo final. 46 3.4 Planos de utilização do gás natural no Brasil – acertos e equívocos... 51

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4. CAPÍTULO IV: Transformações recentes na indústria de GN brasileira... 57

4.1 Produção e Oferta de gás natural no Brasil atual... 57

4.1.1 O Gasbol e as transformações introduzidas pela oferta de gás importado... 57

4.1.2 Evolução recente na produção nacional e perspectivas pós-Santos. 63 4.2 Integração da rede de gás natural no Brasil e impactos sobre a oferta... 68

4.3 Concessionárias estaduais e investimentos em redes de distribuição... 75

5. CAPÍTULO V: Mercados consumidores de GN no Brasil: avanços recentes, substituição energética e perspectivas de consumo setorial... 87

5.1 Mercados de Gás Natural no Brasil: especificidades e perspectivas... 88

5.1.1 Mercado industrial... 88

5.1.2 O GN na indústria química e petroquímica (insumo e energético). 106 5.1.3 Mercado Residencial... 109

5.1.4 Mercado Comercial... 112

5.1.5 Mercado Automotivo... 114

5.2 Geração de eletricidade a gás no Brasil: mudanças recentes e perspectivas... 120

6. CAPÍTULO VI: Política energética e instituições na indústria de gás natural brasileira: questões centrais em uma indústria nascente... 129

6.1 Política Energética Recente no Brasil: questões pertinentes... 129

6.2 Regulação e investimento: avanços e entraves... 136

6.3 Preços, tarifas e regulação... 141

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7. CAPÍTULO VII: Petrobrás e gás natural no Brasil: estratégias e perspectivas.... 157

7.1 Cinqüenta anos de Petrobrás e sua estratégia para o Gás Natural... 157

7.2 Trajetória recente e linhas gerais do Plano Estratégico 2004 – 2010... 166

7.3 Investimentos planejados para o setor de gás natural... 172

8. Análises e Conclusões Finais... 177

8.1 Gás Natural no Brasil: Transformações Históricas e Surgimento de uma Nova Etapa de Desenvolvimento... 177

8.2 Bases para uma etapa de desenvolvimento equilibrado da indústria de GN no Brasil... 184

8.2.1 Mercados e Tecnologia... 184

8.2.2 Investimentos e Financiamento na indústria de GN... 192

8.2.3 Petrobrás... 193

8.2.4 Instituições: Regulação e Planejamento... 193

8.3 Conclusões Finais... 197

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RESUMO

A indústria de gás natural é um dos grandes vetores do atual desenvolvimento energético mundial. No Brasil, após passar por períodos de importância secundária, tem adquirido destaque nas estratégias empresariais e governamentais e ampliado sua participação na matriz energética nacional.

Este trabalho busca elucidar o movimento de ascensão da Indústria de Gás Natural no Brasil, descrevendo sua formação e componentes estruturais de desenvolvimento histórico. Valendo-se de análises sobre as condições de oferta, transporte, distribuição e consumo, traça as principais características e tendências no mercado nacional desse combustível. A análise das políticas, regulação em gás natural e estratégias da Petrobrás, por sua vez, é responsável pelo entorno institucional e complementação do cenário, subsidiando perspectivas em torno do avanço do energético no país.

A identificação de etapas de desenvolvimento históricas e das específicas inter-relações de suas dimensões, são ferramentas para sugestão de alguns caminhos a serem seguidos para a delimitação de uma nova etapa de desenvolvimento harmônico na indústria de gás natural no Brasil.

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ABSTRACT

The Natural Gas Industry (NGI) is one of the most important sectors in the recent growth of energy industry. In Brazil, after a long period playing a secondary role in national energy mix, natural gas (NG) became a important alternative in public and private strategies.

The aim of this work is to understand the historical path of NGI in Brazil, describing its formation and its structural characteristics. To attain this objective, NG production, transport, distribution and consumption analysis are the best way to explain national market characteristics and its main tendencies. The analisys of politics, regulation, and Petrobras strategies, the most important player in brazilian NGI, is the best way to understand institutional environment and its contribution to medium and long run growth.

The historical relationship of this diferent dimensions and its transformations during the last forty years can describe stages ind brazilian NGI and indicates some ways to attain harmonic delevolpment in the next decades.

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1. CAPÍTULO I: Introdução:

A discussão sobre infra-estrutura e política energética no Brasil ganhou intensidade ao longo dos últimos dez anos. A dificuldade de manutenção dos investimentos energéticos baseados em empresas estatais, explicitada ao longo dos anos oitenta e noventa, ensejou o desdobramento de um debate a respeito da criação de alternativas ao modelo histórico, calcado no monopólio público.

Apesar de grandes diferenças de desempenho entre os setores petrolífero e de energia elétrica, as medidas tomadas seguiram a mesma linha de liberalização, abertura ao capital transnacional e redução do papel do Estado na economia. A doutrina econômica dominante a partir do chamado “Consenso de Washington” atacava frontalmente as instituições herdadas do modelo de substituição de importações, atribuindo ao intervencionismo estatal a culpa pela estagnação econômica inaugurada pela “crise da dívida”.

Em meados da década de noventa, durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, foram implementadas mudanças radicais nas instituições que regulamentavam as atividades energéticas no país. Foram quebrados os monopólios estatais e instituídos processos de privatização que visavam elevar a concorrência e a eficiência produtiva.

Para as estatais, que haviam sido utilizadas por longo tempo como instrumentos macroeconômicos1, o resultado, em linhas gerais, foi ambíguo. A Petrobrás melhorou inequivocamente o seu desempenho, mas a volatilidade dos preços de petróleo tem gerado críticas por parte dos consumidores de combustíveis e derivados. A falta de uma política consistente para o setor de Gás Natural (GN) também pode ser apontada como uma falha relevante. Ainda merece crítica a desarticulação da política energética como um todo. Por

1

Primeiramente, no final dos anos setenta e início da década de oitenta, captaram divisas para auxiliar o balanço de pagamentos e, posteriormente, durante as duas décadas que antecederam as mudanças institucionais, como controladoras da inflação, através de tarifas desvalorizadas. Sustentaram setores exportadores, inclusive empresas privadas, com produtos e serviços de qualidade a preços defasados que compensavam parcialmente as dificuldades impostas pelo ambiente macroeconômico.

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sua vez, o setor elétrico, no início da década atual, enfrentou uma grave crise, talvez a pior já registrada pela história brasileira.

Em resposta a estas várias falhas, especialmente mais graves no setor elétrico, têm sido rediscutidos o papel do Estado, o planejamento e as formas institucionais de regulação capazes de induzir investimentos em escala adequada, com concorrência e eficiência econômica. Este trabalho pretende contribuir, ainda que de maneira modesta, para a reflexão e elaboração de novas políticas energéticas consistentes, selecionando elementos, identificando medidas e apontando tendências a serem consideradas no desenvolvimento do setor brasileiro de gás natural.

1.1 Importância do Gás Natural

O Gás Natural (GN) é o energético que mais tem elevado sua participação na matriz de energia mundial ao longo das últimas décadas. Seus benefícios energéticos foram comprovados ao longo do tempo em diversas aplicações econômicas e domésticas e foram ampliados com a permanente criação de novas tecnologias de utilização.

Com exploração ampliada logo após os choques do petróleo, a indústria do GN passou a crescer mais rapidamente, tornando tal combustível importante alternativa energética em países produtores. Graças à importância recente atribuída às questões ambientais na agenda de desenvolvimento mundial e a intensificação das medidas contra a poluição e a emissão de gases causadores do efeito estufa, o GN foi eleito como uma das opções mais limpas e aptas para a substituição dos derivados de petróleo mais poluentes e do carvão mineral.

A geração de energia elétrica em usinas movidas a gás natural foi alvo de importantes inovações tecnológicas e abriu um enorme campo para comercialização deste combustível em todo o mundo. Essas novas tecnologias permitiram a adoção de novas estratégias em um ambiente de concorrência na geração de energia elétrica: menores escalas de produção, menores prazos de construção das usinas e produtividade semelhante àquela obtida por energéticos concorrentes foram algumas características que

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possibilitaram o avanço desta modalidade de geração em países com mercado desregulado e com grande participação de usinas termoelétricas.

Essa nova tendência de consumo em larga escala foi responsável por grande parte da recente ampliação da infra-estrutura de comércio mundial deste energético que, mesmo sendo custosa, tem sido foco de estratégias de grandes economias, como a estadunidense, japonesa e de alguns países europeus.

A eficiência energética, a redução dos impactos ambientais, a possibilidade construção de um mix energético diversificado e menos dependente do petróleo e as novidades econômicas no campo da geração de energia elétrica fizeram do gás natural o “combustível do século XXI”, apontado virtualmente como a fonte mais importante de energia a partir de meados do século atual. Tal previsão, contudo, depende do avanço de pesquisas e estratégias para sua utilização no mundo todo.

1.2 Crescimento da Indústria de GN no Brasil: justificativa e objetivo deste estudo

No Brasil, a indústria de Gás Natural tem crescentemente se tornado objeto de estudos e investigações. Desde o acordo que levou à construção do Gasoduto Bolívia-Brasil, o Gasbol, as perspectivas de elevação da participação do GN na matriz energética nacional tornaram-se mais concretas. De fato, a existência de um horizonte estável de oferta deste novo combustível sempre foi tratada como condição indispensável para investimentos no consumo e construção de infra-estrutura de suporte a esta indústria.

Se a construção do Gasbol significou alguma estabilidade, o mesmo não pode ser dito das políticas de regulação na área, das expectativas de consumo e dos planos para inserção do gás.

Ao longo das últimas décadas, diversos planos foram elaborados com intuito de elevar a participação do GN na matriz energética nacional e falharam. O erro mais recente ficou evidente com a frustração das perspectivas de grande expansão do parque termoelétrico. As vendas de gás natural para estas usinas, que deveriam estar em patamar de mais de 60% do total comercializado, não superaram a faixa dos 30%. Tal fato conduziu

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as empresas distribuidoras e demais agentes do setor a discutirem novos mercados para o gás.

As grandes descobertas de reservas de gás natural no litoral sudeste do país trouxeram mais mudanças na referida indústria. De um país fadado a importar grandes quantidades do combustível, o Brasil se tornou relativamente auto-suficiente no atendimento da demanda incremental de médio prazo. Por outro lado, se o debate sobre gás natural no início da década de noventa era centrado na discussão acerca da viabilização de oferta do combustível, no início da década atual verificou-se sub utilização do Gasbol e um potencial excesso de oferta regional com a virtual operação dos novos campos produtores.

O desenvolvimento da indústria de GN no Brasil, que demanda um rápido crescimento da infra-estrutura associada e uma urgente integração das redes regionais de transporte, abre um leque de possibilidades para o país. O aproveitamento destes novos recursos energéticos disponíveis poderá trazer enormes ganhos de produtividade industrial e de eficiência energética para diversos segmentos da sociedade. Além disso, a utilização de GN permitirá a adoção de novas estratégias na produção de produtos petroquímicos e a construção de um mix de consumo de combustíveis menos poluente, através da substituição de derivados de petróleo como o óleo combustível.

A adoção de instrumentos regulatórios adequados a um mercado de gás natural em formação, e a criação de um ambiente de regras mais homogêneo entre os estados – responsáveis pela regulação das etapas de distribuição – é urgente e demanda um debate mais robusto para sua viabilização.

A discussão recente sobre a criação da lei do gás, sobre os rumos das questões descritas, suas ramificações e implicações sobre o futuro do energético no país foram as principais razões específicas que motivaram este estudo. A caracterização dos principais entraves nos diversos segmentos da cadeia de produção e venda de gás natural, nas instituições que dão suporte e regulamentam a atuação dos agentes desta indústria e uma avaliação das tendências de investimentos no setor são as formas utilizadas neste trabalho para identificar os principais sinais econômicos emitidos por esta indústria. Estes, por sua vez, são analisados em conjunto para obtenção de elementos-chave para a elaboração de estratégias de avanço da utilização e venda de gás natural no país.

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A ausência de trabalhos que tratassem com profundidade as estratégias para o gás natural após as novas descobertas de reservas e a disponibilidade de dados do Balanço Energético Nacional 2003 – que possibilitam uma análise dos impactos da entrada do gás boliviano – tornam a discussão dos temas abordados ao longo desta dissertação mais procedente e completa.

1.3 Composição da dissertação e conteúdo dos capítulos

Esta dissertação é dividida em seis capítulos, nos quais são tratados os principais fatores determinantes da formação histórica e desempenho atual da indústria de gás no país.

No capítulo II são apontadas as características do gás natural, apresentados os elos de sua cadeia produtiva, suas possibilidades de uso e vantagens em relação a outros combustíveis e matérias-primas.

Ainda neste capítulo são discutidos os movimentos tecnológicos e industriais que levaram ao crescimento da indústria de gás em países desenvolvidos, mostrando as principais características que determinaram a formação destes mercados. A partir de dados mais recentes é discutida a expansão do GN para mercados em desenvolvimento, o crescimento da produção e do consumo, bem como do comércio internacional. São apontadas as diferenças entre as etapas de crescimento e as dificuldades para introdução deste combustível na matriz energética de países subdesenvolvidos.

No terceiro capítulo são introduzidas as questões históricas nacionais. É descrita a descoberta das primeiras reservas de gás no Brasil, bem como a dificuldade para o avanço do uso do GN, quando contraposto à outras prioridades de política energética do governo e da Petrobrás. São descritos as fases de crescimento de infra-estruturas regionais e os debates que levaram à estratégia de importação do combustível boliviano. Por fim, são apontados os principais entraves à difusão do uso no Brasil.

No Capítulo IV são introduzidas questões recentes no mercado de GN nacional. São mostradas as principais modificações acarretadas pela estratégia importadora, bem como o crescimento da importância do GN na matriz energética nacional. São discutidas as

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evoluções na rede de transportes e a perspectiva de oferta no médio prazo, bem como a estrutura atual de distribuição estadual no país. Neste último aspecto são destacadas as estratégias das distribuidoras como relevantes agentes para determinação do perfil de consumo do combustível no país.

O Capítulo V se dedica à análise dos mercados consumidores de GN, suas transformações recentes e perspectivas. Aproveitando-se dos dados do Balanço Energético Nacional publicado em 2003 e informações qualitativas à respeito dos respectivos setores, são apontados cenários plausíveis para o médio prazo. Neste capítulo é dedicada atenção especial às termelétricas e aos acontecimentos recentes no Setor Elétrico brasileiro, tendo em vista as modificações drásticas que um maior ou menor consumo neste setor poderia desencadear sobre a indústria de GN nacional e sul americana.

No sexto capítulo são apresentadas questões institucionais no Brasil e seus impactos sobre o desenvolvimento da indústria de GN. São apontados: mudanças de política energética; novos marcos regulatórios; condições de financiamento da indústria de GN e; instituições de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

No Capítulo VII são discutidas as estratégias da Petrobrás para o mercado de GN, os principais investimentos planejados e de que maneira estes elementos influem sobre a trajetória do combustível no país.

Por fim, são realizadas algumas análises e sínteses acerca do conteúdo estudado nesta dissertação. Estas, por sua vez, são subsídio para as conclusões gerais, ao apontar os principais obstáculos identificados em perspectiva histórica, bem como os desafios primordiais para a construção de uma nova etapa, caracterizada pela robustez econômica, social e institucional da indústria de GN e que seja adequada para um avanço sólido desta alternativa energética no país.

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2. CAPÍTULO II: Introdução à Industria do Gás Natural

2.1 Elementos Básicos da Indústria de GN

2.1.1 Especificidades técnicas do produto e dos elos da cadeia

O gás natural (GN) é um hidrocarboneto encontrado em reservatórios no subsolo e em condições de formação geológicas semelhantes às do petróleo. Estas semelhanças tornam a atividade exploratória e de produção (upstream) de ambos quase idênticas, acarretando em evidentes economias de escopo neste elo da cadeia e em uma proeminência das empresas de petróleo na exploração deste hidrocarboneto.

O gás natural pode ser encontrado em reserva “associada” ou “não associada” ao petróleo. Quando o gás é associado, sua produção é realizada em conjunto com a de óleo. Na maioria dos casos é dependente ou residual e não pode ser interrompida sem que a do petróleo o seja. Quando o gás é não associado, uma infra-estrutura tem que ser produzida unicamente para a exploração do GN, porém a produção pode ser interrompida de acordo com as exigências e/ou necessidades desta própria indústria.

Historicamente, a produção de óleo sempre foi prioritária. Além disso, ao contrário do petróleo, o desenvolvimento de sistemas de transporte de GN exige investimentos mais arriscados, de longo prazo de maturação e com elevada dependência bilateral entre os agentes produtores e distribuidores/consumidores. Por estes motivos, muitos reservatórios com presença de gás associado tiveram sua extração iniciada sem meios para comercializá-la – seja para viabilizar mais rapidamente a produção de óleo, seja por inviabilidade econômica dos sistemas de transporte. Estes fatos levaram a grandes queimas de gás em países caracterizados por elevada participação de gás associado no total das reservas, especialmente nos países em desenvolvimento – dadas suas infra-estruturas de transporte menores e/ou dificuldades econômicas para criá-las (Santos, 2002).

Quanto à composição química do GN, a presença do metano é substancialmente majoritária – na maioria dos casos variando entre 75% e 90% da composição total. O etano,

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o propano, o butano e o pentano também compõem o GN, porém raramente assumindo proporções conjuntas acima de 15% (Centeno, 1974). A associação ao petróleo em reservas também influi sobre sua composição. Geralmente os gases não associados são aqueles com maiores proporções de metano.

Até chegar ao consumidor o Gás Natural passa por diversas etapas. Dos locais de exploração e produção - onshore e offshore - o gás é transportado para Unidades de Processamento de Gás Natural (UPGNs), onde é processado para adequar-se ao consumo final. Na etapa de processamento são retirados as impurezas e alguns gases que podem ser aproveitados separadamente. Este é o caso do butano e do propano, que compõem o GLP2. O hélio e o hidrogênio também podem ser aproveitáveis em certas condições de processamento e de mercado. O etano, que pode ser utilizado em projetos gasquímicos, pode ser separado já na etapa do processamento, gerando o chamado “gás seco” – dada a presença isolada de metano. Entretanto isso também depende de logística para transporte e utilização deste novo insumo e, em grande parte das vezes, o gás processado segue com percentagens de etano próximas a 10%, valor acima daquelas do GN não processado. Ainda na etapa de processamento o gás é odorizado para poder ser distribuído ao consumidor final. Este processo deixa-o com cheiro característico, facilitando sua identificação, inclusive em caso de vazamentos.

O transporte do GN constitui etapa central na indústria do gás. Até a segunda metade do século XX não era possível encarar o gás como importante insumo porque não existiam tecnologias para a construção de gasodutos ligando os poços aos centros consumidores3. Os gasodutos são a forma mais barata e mais eficiente do ponto de vista energético de se transportar o GN. São, usualmente, as melhores alternativas para viabilizar integrações energéticas regionais, nacionais e internacionais e transportar grandes quantidades de gás diariamente. Porém é uma infra-estrutura de elevado custo de construção e, dada sua inflexibilidade em relação às fontes de oferta e demanda, bem como

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Em alguns casos, estes componentes mais “pesados” podem ser separados na própria etapa de produção. A pressão do transporte de GN, no próprio campo produtor, pode liqüefaze-los, separando-os do gás (Centeno, 1974).

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A tecnologia específica para soldagem dos gasodutos só apareceu no pós-guerra e viabilizou a pressurização adequada do gás. É relevante informar que a construção, nas cidades, de redes de distribuição de gás de coque ou de refinaria já era viável no século XIX e pode ser aproveitada para o GN quando os gasodutos de

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seus longos prazos de maturação - o que inclui, muitas vezes, etapas de amadurecimento dos mercados - seu empreendimento envolve riscos e incertezas. Esta característica cria importantes barreiras econômicas à construção de infra-estrutura dutoviária nos países em desenvolvimento - dada sua característica instabilidade macroeconômica e efeitos sobre crédito e mercados. Como se discute no Capítulo VI, ao pensar em políticas de livre acesso aos gasodutos, práticas comuns em mercados maduros, as especificidades do desenvolvimento e do grau de formação dos mercados devem ser levadas em conta - assim como em outras políticas do setor.

Além dos dutos, as tecnologias de Gás Natural Liquefeito (GNL) e Gás Natural Comprimido (GNC) são alternativas, de maneira geral, para transporte de GN para grandes distâncias ou em pequenas quantidades, respectivamente. O GNL é uma tecnologia relativamente antiga, de resfriamento do gás a baixíssimas temperaturas (-160oC), liquefazendo-o e tornando seu volume aproximadamente 600 vezes inferior ao estado original. O transporte por navios metaneiros tem sido ampliado e modernizado em grande medida nos últimos anos e aparece como importante meio de transporte da produção africana, sul-americana e asiática (incluindo Oriente Médio) para os mercados norte americanos, europeu e leste asiático (principalmente Japão), grandes importadores de GN. Os custos de construção de infra-estrutura de GNL, que incluem plantas de liquefação e regaseificação, além dos navios, também são bastante elevados. Em geral, as cadeias de GNL apresentam peculiaridades de custo de transporte e contratuais que oneram significativamente o preço do produto ao consumidor, inviabilizando mercados onde os substitutos sejam competitivos.

Por último, o GNC é uma tecnologia relativamente mais simples e exige menos investimentos, porém possui o inconveniente de transportar quantidades bastante inferiores de gás quando comparado ao GNL, elevando o custo do m3. Suas vantagens relativas são o baixo custo de implementação de infra-estruturas associadas e a possibilidade de suprimento de pequenos mercados e/ou consumidores sem os inconvenientes de escala mínima e tempo de construção de gasodutos. O GNC pode se tornar importante fonte de estímulo/atendimento inicial de novos mercados de GN no país, preparando-os para a chegada de gasodutos. Esta prática de suprimento de mercados via GNC tem sido comumente denominada "gasodutos virtuais".

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De maneira geral, as tecnologias de transporte de GN são custosas e envolvem riscos de diversas naturezas. Esta característica tornou a dinâmica dos mercados deste energético completamente distinta daquela associada ao petróleo. Na virada para o século XXI, 80% do consumo final de gás era efetuado no próprio país produtor. Dos 20% restantes, 15% são exportações realizadas por gasodutos e 5% por GNL (Santos, 2002). Ou seja, não há um grande mercado internacional de GN. As transações são efetuadas através de contratos bilaterais, acarretando diferentes formulações de preço, elevada dependência entre os agentes e fortes incentivos à verticalização das atividades.

A última etapa antes do consumo e/ou transformação do GN é a distribuição (downstream). No Brasil, as empresas distribuidoras atuam em monopólios estaduais/regionais e as concessões são para transporte de gás canalizado. Isso viabiliza a concorrência em outras formas de distribuição, como o GNC: uma "Empresa A" pode distribuir GNC, por exemplo, na área de concessão da "Empresa B". Os gasodutos de distribuição geralmente são de pequeno diâmetro e recebem um gás com pressão bastante inferior aos dos gasodutos de transporte supracitados. Os conjuntos destes gasodutos são geralmente denominados "redes" ou "ramais" de distribuição.

2.1.2 Os usos do GN e suas vantagens em relação a outros combustíveis

Os usos finais do gás natural são bastante amplos, viabilizando sua introdução em diversos setores produtivos ou em consumo doméstico. Entretanto, o GN carece de um mercado cativo: uma de suas principais características é atuar, basicamente, como substituto em diversos mercados energéticos e/ou como alternativa de suprimento de matéria prima em alguns setores específicos.

Os mercados energéticos são extremamente diversificados. A utilização do gás em residências é comum para calefação, cocção e aquecimento de água e possui uma tecnologia relativamente madura. Alguns desenvolvimentos novos como ar condicionado ainda não possuem competitividade de preço em relação aos elétricos convencionais, porém deverão evoluir bastante nos próximos anos. Na indústria é utilizado em aplicações diretas de calor (incineração, fusão, cozimento, secamento, dentre outros), geração de vapor,

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geração de calor e frio e autoprodução de energia. Diversos equipamentos tem sido inventados nos últimos anos para otimizar estas aplicações de GN e combiná-las com as especificidades setoriais4. A cogeração é um processo em que são aproveitadas, simultaneamente, algumas dessas utilidades do gás, a saber, geração elétrica, geração de vapor e resfriamento/aquecimento de ambientes. Possui um crescente mercado na indústria e no comércio, bem como em condomínios residenciais. Como é descreve o Capítulo V, a cogeração em mercados comerciais5 no Brasil apresenta grande potencial por conta da competitividade desta tecnologia em relação aos preços pagos pela energia elétrica nesta categoria de consumo6, além da possibilidade de geração de calor/frio. Outras aplicações do gás no segmento comercial de pequeno porte apresentam grandes similaridades às residenciais e industriais, dependendo das instalações e do consumo energético.

A geração elétrica também é uma importante forma de consumo de gás, geralmente apresentando os maiores volumes individuais de consumo. Encontra-se em franca expansão nos países desenvolvidos, principalmente em substituição de derivados de petróleo e carvão.

O consumo automotivo, por fim, apresenta-se como um substituto importante para os derivados de petróleo tanto em veículos leves quanto em transporte de passageiros e carga. Contudo, apesar de apresentar importantes vantagens ambientais, encontra-se em estágio bastante preliminar de desenvolvimento de infra-estrutura associada ao combustível, inclusive em países desenvolvidos.

Como matéria prima, o gás pode ser utilizado na indústria de fertilizantes, química, petroquímica, siderúrgica e farmacêutica. Como já citado, sua composição química permite, principalmente, a utilização do etano, propano e butano, além do metano, seu principal componente. Além das aplicações citadas para a geração de GLP, hélio, hidrogênio e etano para a petroquímica, são gerados a partir do GN o metanol, ácido acético e MTBE para combustíveis derivados de petróleo. Um composto com características semelhantes às da gasolina, a "Gasolina Natural" (C5+), também pode ser extraído diretamente na etapa de

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Detalhes sobre invenções na indústria de gás podem ser encontrados no site do U.S. Department of Energy.

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Shopping centers, aeroportos, hotéis e hospitais, dentre outros.

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A construção de unidades de geração distribuída tem sido importante em países como Holanda justamente por possibilitarem menores perdas de transmissão e confiabilidade de suprimento. Além disso, algumas unidades podem atuar na comercialização de seus excedentes de energia, quando interligados à rede.

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processamento nas UPGNs e alguns advogam sua adição em pequenas proporções à gasolina automotiva (Santos & Fernandes, 2004). A indústria siderúrgica o utiliza para o processo de redução de minério de ferro. Por fim, a indústria e de fertilizantes utiliza do GN para obtenção de uréia e amônia (Canton, 2000).

As vantagens do uso de Gás Natural são amplas e variam de acordo com as formas de uso, tecnologias disponíveis e seus concorrentes/substitutos imediatos em cada aplicação. De maneira geral, o gás natural apresenta vantagens ambientais sobre os outros combustíveis não renováveis: praticamente elimina a emissão de compostos de enxofre; não emite cinzas; dispensa manipulação de produtos químicos perigosos; elimina a necessidade de tratamento dos efluentes da queima; reduz emissão de gases poluentes – exceto NOx, incluindo os gases causadores do efeito estufa. Além das vantagens ambientais, o controle apurado da chama e da temperatura, as facilidades para o início e finalização de sua combustão, a sensível redução de resíduos e a conseqüente redução de custos de manutenção de equipamentos, a eliminação de custos de estocagem e a menor densidade em relação ao ar (maior segurança operacional no caso de vazamentos), dentre outros fatores, tornam o gás um combustível mais eficiente que seus substitutos na indústria, principalmente em tecnologias modernas e com rigores maiores no processo produtivo, além de ambientalmente correto em relação à maioria dos outros combustíveis fósseis.

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2.2 O gás natural no mundo

2.2.1 Reservas

As reservas de gás natural, como já mencionado, possuem semelhanças de diversas naturezas em relação às de petróleo. Neste sentido, se pode observar alguma correlação entre as distribuições geográficas destas reservas e as de GN, bem como sua trajetória histórica e aquela desempenhada pelas empresas petrolíferas.

Até a década de setenta, a grande parcela de empresas de capital estadunidense colocava os reservatórios da América do Norte entre os maiores do mundo, com percentagem acima de 20% do total e volumes pouco abaixo daqueles verificados na Rússia e Oriente Médio. Este panorama, como percebe-se na tabela 1, modificou-se ao longo dos últimos 30 anos. Esta transformação esteve associada ao surgimento da OPEP, aos choques de preço de petróleo e às reações em prol da auto-suficiência energética dos países em todo o mundo.

Atualmente7, verifica-se uma polarização das reservas provadas de gás natural. A Europa Oriental e o Oriente Médio possuem mais de 70% dos volumes no subsolo. Somente o Irã, Catar e Rússia possuem mais de 55% do total. Sozinha, a Rússia atinge a impressionante marca de um terço das reservas mundiais. Porém, como ressalta Santos (2002), esta concentração, sob uma ótica geopolítica, se diferencia daquela existente no caso das reservas de óleo: a OPEP possui, no caso do GN, pouco mais de 44% das reservas e, quanto ao petróleo, quase 80% do total.

Outro movimento importante a ser ressaltado foi o crescimento das reservas em todas as regiões do globo, exceto na América do Norte e Europa Ocidental. Nestas últimas duas regiões cabe lembrar, entretanto, que os elevados níveis de produção e consumo foram os principais motivos para a estagnação de suas reservas.

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Tabela 1 - Evolução das reservas provadas de gás natural por região geográfica (trilhões de m3) 1970 1980 1990 2000 África 5,42 5,90 8,21 11,16 Argélia 3,99 3,72 3,25 4,52 Nigéria 0,17 1,16 2,48 3,51 Líbia 0,85 0,67 1,22 1,31 Participação % 12,06 7,90 6,88 7,47 América do Norte 9,50 9,71 9,53 7,33 Estados Unidos 7,50 5,41 4,71 4,74 Canadá 1,71 2,47 2,76 1,73 México 0,28 1,83 2,06 0,86 Participação % 21,12 13,00 7,98 4,90 América S&C 1,79 2,70 4,80 6,93 Venezuela 0,76 1,19 2,99 4,16 Argentina 0,25 0,62 0,76 0,75 Trindad e Tobago 0,10 0,34 0,25 0,60 Bolívia 0,14 0,12 0,12 0,52 Brasil 0,17 0,04 0,11 0,23 Participação % 3,97 3,61 4,02 4,63 Ásia 1,71 4,27 8,55 10,34 Malásia 0,17 0,42 1,61 2,31 Indonésia 0,08 0,66 2,59 2,05 China 0,11 0,69 1,00 1,37 Participação % 3,80 5,72 7,16 6,92 Europa Ocidental 4,18 4,51 4,96 4,50 Holanda 2,35 1,76 1,72 1,44 Noruega 0,08 1,21 1,72 1,25 Reino Unido 1,02 0,70 0,56 0,76 Participação % 9,30 6,04 4,16 3,01 Europa Oriental 12,35 26,32 45,84 56,69 Rússia 12,06 26,05 45,31 48,14 Turcomenistão 2,86 Usbequistão 1,87 Participação % 27,45 35,22 38,40 37,93 Oriente Médio 10,03 21,31 37,50 52,52 Irã 6,06 13,73 17,00 23,00 Catar 0,23 1,70 4,62 11,15 Arábia Saudita 1,40 3,12 5,11 6,04 Participação % 22,3 18,52 31,40 35,14 Total Mundo 44,65 74,71 119,40 149,47 Part. % OPEP 36,03 38,53 41,37 44,40 Part. % G7 24,30 12,09 7,35 5,24 Part. % Gás/Óleo 48,86 76,50 102,47 96,57

Fonte: Oil & Gas Journal - Annual Worldwide Production - apud Santos (2002)

Quase todos os autores que discutem o gás natural chamam a atenção para o grande crescimento das reservas de gás natural na segunda metade do século XX e principalmente nos últimos trinta anos. Dentro deste crescimento, alguns ressaltam as pressões da sociedade e governos contra a queima e o desperdício de gás. Outros enfatizam o fato de o

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crescimento das reservas e da proporção entre reservas e consumo8 ter chamado a atenção de empresas e Estados para a possibilidade de maior inserção do gás nas matrizes energéticas e ter viabilizado a elaboração de estratégias de longo prazo para este energético.

De fato, como pode ser observado na última linha da tabela 1, a relação reservas gás natural/óleo mostra um importante crescimento da parcela de gás natural no total de reservas de hidrocarbonetos ao longo dos últimos 30 anos. As novas mudanças tecnológicas, especialmente na geração de eletricidade em ciclos combinados a gás, as novas exigências ambientais e o citado vigoroso crescimento das reservas de GN fizeram com que o gás passasse a ser tratado, desde a década de oitenta, como o "combustível do futuro" ou "combustível do século XXI".

Quanto ao posicionamento das reservas brasileiras, fica patente a sua marginalidade, mesmo em relação ao total da América do Sul e Central. Destaca-se, nitidamente, o volume de reservas venezuelanas tanto pelo volume quanto pelo crescimento ao longo dos últimos 30 anos. As reservas argentinas representam importante fonte de hidrocarbonetos para sua economia, porém permanecem com crescimento pouco acelerado desde a década de oitenta. Trindad e Tobago e Bolívia destacam-se pelo grande crescimento de reservas na década de noventa. Estes volumes, entretanto, referem-se às reservas provadas e economicamente recuperáveis. As reservas prováveis, principalmente nos países cujos investimentos estão em fase inicial e as perspectivas de novas descobertas são grandes, elevam o potencial de produção na região, seja para o consumo próprio – principalmente brasileiro – seja para exportação via GNL, já em fase adiantada em Trindad e Tobago, por exemplo (Real, Gutierrez & Almeida, 2002; Lourenço, 2003; Gonzáles, Nebra & Bajay, 2004).

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2.2.2 Produção e consumo de GN no mundo

Como mencionado anteriormente, a produção para o consumo em escala comercial do gás natural tem seu marco inicial no após-guerra9. Este período é a referência para os primeiros gasodutos de longas distâncias, quando se tornou possível transportar grandes quantidades de GN sob elevada pressão.

Os EUA, Canadá e antiga União Soviética foram os primeiros consumidores do energético. A descoberta de reservas (EUA e, principalmente, antiga URSS) e o baixo preço relativo do energético foram fatores essenciais na substituição e viabilização de escala mínima inicial10. A preexistência de redes de distribuição e a cultura de utilização de gás canalizado nas residências e a descoberta de reservas no Mar do Norte foram os principais "motores" para a elevação inicial do consumo europeu, cujo surgimento remonta à década de sessenta. Esta mesma década marca, ademais, o início do desenvolvimento de técnicas criogênicas para liquefação e transporte de GNL, muito importantes para o suprimento europeu e, principalmente, japonês (Centeno, 1974).

Nos EUA, já em 1950, o gás respondia por volta de 20% das necessidades primárias de energia. Os principais campos de produção eram no Texas, Novo México, Oklahoma e Kansas, donde cresciam as primeiras redes de transporte estaduais e interestaduais. A fixação de preços por parte da Federal Power Comission fez com que os preços chegassem extremamente competitivos ao consumidor final, especialmente para os industriais e geradores de energia, cujos contratos de volume superior e de longo prazo permitiam a aquisição aos melhores preços possíveis junto aos produtores. A substituição de outras fontes de energia caminhou a passos largos, bem acima do avanço da produção e descoberta de reservas. Em meados da década de setenta, graças aos preços baixos e os crescentes custos de produção e exploração, a relação reservas/produção reduzia-se à marca de 10 anos, forçando a ampliação das redes de importação do Canadá e a elaboração de

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Algumas experiências são relatadas no período entre-guerras nos EUA, porém a maioria dos autores prefere ressaltar o pós-guerra, quando a tecnologia se mostrou eficaz e houve possibilidade de crescimento contínuo para os mercados.

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Os EUA iniciaram a comercialização do GN associado texano já nos anos 30. Em 1945 o GN já representava 13% do consumo primária de energia, porém restrito aos locais ou reigiões de produção. Somente após 1945 o crescimento do consumo foi acelerado, atingindo 31% da matriz energética em 72 (Centeno, 1974).

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projetos de GNL a partir da Argélia e Venezuela. O Canadá, que em meados da década de setenta era o terceiro produtor mundial – superado pela Holanda entre as décadas de setenta e oitenta – possuía grande volumes de reservas nas mãos de filiais estadunidenses. Aos poucos foi tornando-se um grande exportador para o país vizinho, em detrimento de seu próprio mercado. Temeroso em relação a este fato e visualizando problemas no desenvolvimento de sua indústria gasífera, o governo canadense centralizou a concessão de permissões para exportar, fixando, concomitantemente, regras de exportação máxima em função dos volumes de reservas, perspectivas de produção e demanda nacional para os anos subseqüentes11. Ainda em relação à formação da indústria de GN na América do Norte, cabe ressaltar que a predominância de capitais privados esteve sempre associada a um forte controle estatal, moldando as características institucionais durante o crescimento destes mercados (Centeno,1974).

A Europa, relativamente atrasada em relação a outras regiões desenvolvidas, iniciou os primeiros passos na indústria de gás natural na década de sessenta. Entretanto, somente na década subseqüente verificou-se importante crescimento do consumo em seus maiores mercados nacionais. Os principais produtores de gás no Velho Continente eram a Inglaterra e a Holanda. A França, a Alemanha e a Itália também possuíam alguns campos nacionais de produção de GN, porém tornaram-se importadores do produto, originário principalmente da Rússia e Argélia, quando seu consumo viu-se ampliado. Na infância desta indústria, ao contrário dos EUA e Canadá, os países europeus tiveram uma forte participação estatal nas empresas de produção, transporte e distribuição de gás. Na maioria dos casos o Estado participou como sócio dos empreendimentos, além de organizar e planejar o consumo doméstico e o comércio exterior. Como já mencionado, a Europa possuía uma relevante rede de distribuição de gases nas suas maiores cidades, podendo utilizá-las e dar uma escala inicial para o consumo. Além disso e como em quase todos os mercados mundiais neste período, o gás natural na Europa teve seu preço bastante baixo até os choques do petróleo. Se por um lado estes preços impunham severos condicionamentos econômicos12 aos projetos de transporte de longas distâncias, possibilitou um avanço rápido sobre a indústria

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Relação reservas/produção de 25 anos era o patamar mínimo para a permissão em determinados campos de produção.

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e, em alguns países, sobre a geração termelétrica – veja-se, por exemplo, os casos de Alemanha e Holanda (Centeno, 1974).

A evolução das matrizes energéticas européias, bem como as norte americanas, foi particularizada pelo grande avanço do petróleo em relação aos combustíveis sólidos, notadamente o carvão. Em alguns países o petróleo chegaria assumir entre 60 e 75% das necessidades primárias de energia. Na segunda metade da década de setenta, os EUA e Canadá teriam por volta de 23% de suas matrizes ligadas ao gás. Os maiores mercados da Europa, neste período inicial, variavam entre 10 e 18%. A exceção ficou por conta da Holanda, grande produtora, que atingiu notáveis parcelas de quase 60%, bastante superiores às do petróleo. Recentemente também se destaca a Noruega, grande produtora no Mar do Norte.

O Japão, que no início da década de oitenta figurava entre os 10 maiores consumidores de GN ao lado de países como França e Itália, caracteriza-se pela elevada dependência de importação de fontes primárias de energia. O MITI13, desde aquele período, convencido a dirigir a matriz energética para fontes mais limpas de geração de energia, tratou de viabilizar estratégias de GNL, bem como viabilizar a sua conexão com a indústria – tanto no consumo final, quanto no fornecimento de equipamentos. Apesar do crescente volume de importações de GN na década de setenta, o grande desenvolvimento econômico e a elevação sem precedentes das necessidades energéticas no Japão, fez com que o petróleo, de logística mais barata e de rápida implementação, tivesse um salto muito superior, relegando o gás a uma posição inferior à 5% na matriz energética.

Por fim, a antiga União Soviética, outra importante região de desenvolvimento precoce da indústria de GN, teve um desenvolvimento bastante peculiar. A descoberta de grandes reservas e o planejamento estatal possibilitaram uma forte elevação do consumo nacional em conjunto com a elevação das exportações, principalmente para a Europa. Em meados da década de setenta, a matriz energética soviética já contava com uma participação de mais de 15% de GN, sendo a indústria e as centrais elétricas as principais consumidoras. A construção de gasodutos que ligavam vários pontos de seu extenso território possibilitou

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Os preços baixos não eram capazes de remunerar importações a partir das reservas do Oriente Médio, por exemplo. Grande parte dos contratos deste período era realizada por mais de um país importador, única maneira de viabilizar as escalas mínimas em mercados em formação.

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conjugar também estratégias de importação de gás iraniano, viabilizando um planejamento geográfico do consumo interno e liberando suas reservas ocidentais para exportação – a preços superiores aos do gás importado – para a Europa Ocidental. As reservas do oriente soviético também passaram a ser objeto de cobiça e propostas comerciais do Japão, dada sua já citada dependência de fontes externas de energia.

A década de oitenta é marcada pelos resultados do avanço estratégico sobre as atividades exploratórias e de produção de hidrocarbonetos, tanto por empresas de países de terceiro mundo - em grande medida estatais - quanto pelas majors e outras empresas de países desenvolvidos. A busca pela auto-suficiência energética e exploração de potencial produção/exportação das reservas nacionais foi conseqüência da elevação de preços da década de setenta e dos impactos nos balanços de pagamentos nacionais. A inexistência de um mercado mundial de GN e os mecanismos de formação de preço neste energético14 fizeram com que os impactos de preços no GN pudessem ser de menor magnitude, estimulando a substituição no consumo. O revés “natural” destes mecanismos de defasagem de preços, o desestímulo no upstream, pode ser atenuado, dado a existência de economias de escopo em relação às atividades de pesquisa e exploração de petróleo. Assim, como se vê nas figuras 1 e 2, a produção e o consumo mundial de GN tiveram um crescimento contínuo ao longo das últimas duas décadas do século XX.

As figuras 1, 2 e os dados apresentados na tabela 2 retratam algumas importantes tendências e transformações processadas na indústria mundial de GN. O crescimento da produção e do consumo se manteve firme neste período, inclusive durante a década de oitenta, quando a produção de petróleo esteve estagnada15. Este crescimento percentualmente bastante superior ao do petróleo possibilitou um grande movimento de substituição, especialmente das frações mais pesadas16, em diversos mercados e usos finais.

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Ministério da Indústria e Comércio Internacional

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Em grande medida formados por contratos bilaterais de médio e longo prazos. O capítulo subseqüente trará uma discussão sobre os mercados de GN e a formação de preços.

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O consumo e produção de petróleo reduziram-se durante década de oitenta e só retornou aos níveis de 1979 entre 1988 e 1989, respectivamente.

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O óleo combustível é um exemplo de combustível que perdeu bastante mercado na indústria e geração termelétrica.

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Figura 1 - Consumo de GN em regiões selecionadas (1980 - 2000) 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 1980 1985 1990 1995 2000 Ano Bilhões de m3 Ásia e Oceania África Oriente Médio Europa Oriental Europa Ocidental América S&C América do Norte Fonte: EIA

Figura 2 - Produção de GN em regiões selecionadas (1980 - 2000)

-500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 1980 1985 1990 1995 2000 Ano Bilhões de m3 Ásia e Oceania África Oriente Médio Europa Oriental Europa Ocidental América S&C América do Norte Fonte: EIA

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Tabela 2 – Parcelas do consumo e produção mundial em regiões selecionadas (1980-2000)

1980 1985 1990 1995 2000

Produção Consumo Produção Consumo Produção Consumo Produção Consumo Produção Consumo

América do Norte 43,23% 42,65% 32,85% 32,83% 30,67% 30,61% 32,27% 33,10% 30,39% 31,70% América S&C 2,30% 2,35% 2,81% 2,82% 2,74% 2,76% 3,31% 3,28% 3,89% 3,73% Europa Ocidental 13,98% 16,38% 11,82% 15,22% 9,84% 14,31% 11,29% 16,22% 11,56% 17,18% Europa Oriental 31,97% 29,98% 39,30% 37,13% 40,96% 37,92% 33,27% 29,29% 29,76% 25,71% Oriente Médio 2,67% 2,48% 3,81% 3,65% 5,05% 4,90% 6,40% 6,02% 8,59% 7,69% África 1,29% 1,39% 2,98% 1,72% 3,34% 1,84% 3,86% 2,15% 5,04% 2,30% Ásia e Oceania 4,57% 4,77% 6,42% 6,62% 7,40% 7,66% 9,61% 9,93% 10,76% 11,69% TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da EIA

As modificações na produção mundial de GN caminharam na direção de uma maior participação de regiões relativamente excluídas da indústria antes dos choques do petróleo, porém com elevados volumes de reservas. A elevação dos preços viabilizou economicamente a construção de infra-estrutura de produção e transporte de longas distâncias, concomitantemente a uma evolução da demanda na América do Norte e na Europa Ocidental acima da sua capacidade de produção. Países com elevados volumes de reservas e com baixo desenvolvimento de mercados internos de GN passaram a adotar estratégias exportadoras e abocanhar parcelas maiores na produção mundial. Os casos mais notáveis são os do Oriente Médio, Ásia/Oceania e África, com destaques para Irã, Arábia Saudita, Argélia, Malásia e Paquistão, além de outros casos de grande crescimento percentual, mas com volumes menos significativos.

Ainda em relação aos movimentos na atividade de produção de GN, cabe citar o crescimento dos volumes produzidos na América do Sul e Central, especialmente na Argentina e na Venezuela. Trinidad e Tobago também observou um crescimento na segunda metade da década de noventa, grande parte associado à exportação de GNL para os EUA. Na América do Norte, o Canadá e, mais recentemente, o México foram responsáveis pelo crescimento da oferta regional, enquanto na Europa a Noruega e o Reino Unido foram

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os países com maiores elevações na produção. Os países do Leste Europeu, arrastados pela crise econômica, tiveram sua produção reduzida a níveis inferiores aos de 1990, perdendo uma parcela expressiva da produção total mundial.

Quanto ao consumo, verificou-se um avanço significativo de países em desenvolvimento e áreas com grandes volumes de reservas – os “novos produtores”. Nesse rol novamente se destacam países asiáticos e do Oriente Médio, que ocuparam uma percentagem de quase 20% do consumo global em 2000, contrastando com pouco mais de 7% no início da década de oitenta. Ainda neste quesito, áreas como América do Sul e América Central, bem como os países africanos, tiveram um crescimento moderado do consumo entre 1980 e 2000, elevando modestamente sua parcela do consumo no total mundial – e esta elevação do consumo foi inferior à elevação na produção regional.

Comparados com as regiões anteriores – especialmente a Ásia – estes países tiveram um crescimento econômico muito baixo, dificuldades na ampliação de suas estruturas energéticas e, na maioria dos casos, as dificuldades no balanço de pagamentos tornaram a internacionalização de sua estrutura petrolífera e a exportação de sua produção uma estratégia de curto prazo para obtenção de divisas. A Argentina foi exceção neste conjunto de países. As suas restrições em relação ao petróleo fizeram com que sua estratégia quanto ao GN fosse diferenciada desde a década de setenta. Tendo amadurecido sua infra-estrutura de distribuição em quase todos os mercados relevantes existentes no país, a Argentina pode ampliar seu consumo de acordo com suas necessidades e não optou pela adoção de uma estratégia exportadora. Entretanto, a desnacionalização de sua indústria petrolífera surtiu efeitos negativos após a crise vivenciada desde a virada do século. A desvalorização cambial e a desvalorização real das tarifas de energia desencadearam em uma crise de oferta de GN em 2004, acarretando em uma crise energética e em quebra de contratos de exportação (Repar, 2004; Lapeña, 2004).

O consumo de GN nas regiões tradicionalmente “mais importantes” nesta indústria – América do Norte e Europa Oriental – teve uma queda percentual na participação total bastante significativa. Em primeiro lugar, cabe ressaltar as dificuldades econômicas no leste europeu, principalmente nos países do antigo bloco soviético. A retração destas economias fica evidente inclusive nos dados de consumo, quando se observa o volume do ano de 2000,

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inferior ao de 1985 e bastante inferior ao grande consumo de meados de 1990. A América do Norte apresentou um crescimento no total consumido, porém abaixo da média mundial. Esta queda percentual é razoável na medida que o desenvolvimento anterior aos anos oitenta foi bastante elevado e a dependência energética em relação ao exterior fez o maior mercado do mundo, os EUA, adotar uma série de medidas para economizar e racionalizar o uso das fontes de energia desde a década de oitenta.

Por fim, a Europa apresentou um crescimento percentual no consumo de GN no período todo, mesmo já tendo uma parcela significativa em 1980. Este processo esteve associado ao amadurecimento da União Européia, a uma planejada integração energética dos países membros e à conseqüente elevação do consumo de energéticos mais nobres em países como a Espanha, Itália e Turquia. Além disso, a descoberta de reservas no Mar do Norte avançou bastante na década de noventa, possibilitando a manutenção de um crescimento contínuo do consumo em mercados já tradicionais como o do Reino Unido, França e Alemanha.

2.2.3 Barreiras ao avanço da indústria do Gás Natural em países subdesenvolvidos

A abordagem do tema das barreiras ao avanço da indústria de GN em países subdesenvolvidos ou “em desenvolvimento” como preferem alguns, nos parece altamente procedente para um trabalho que pretende apontar para o avanço do GN no Brasil. A discussão destes problemas foi encaminhada em alguns trabalhos brasileiros, especialmente em Santos (2002) e Moraes (2003) e propiciou uma avaliação dos diversos planos de ampliação da produção e do consumo de gás natural no Brasil, habilitando sugestões de novas políticas capazes de enfrentar tais barreiras de uma perspectiva de desenvolvimento nacional e de racionalidade e eficiência energética.

As primeiras fontes de barreiras comumente apontadas estão associadas ao desenvolvimento tardio de grande parte das economias em questão. Grande parcela do desenvolvimento energético toma lugar, nestes países, principalmente no século XX, quando outras fontes de energia apresentam grau de desenvolvimento superior ao da indústria do gás canalizado. Sob estas condições verificou-se, nestes desenvolvimentos

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tardios, um avanço da industrialização e da urbanização sem um avanço de redes de distribuição e transporte de gás.

Nos países desenvolvidos a indústria do gás canalizado teve seu auge no século XIX, antes do avanço do querosene para iluminação pública. Como relata Moraes (2003), Londres iniciou sua distribuição de gás em 1807, Dublin em 1818 e Paris em 1819. Na infra-estrutura construída nos mercados centrais foram utilizados o gás de carvão, substituído, com o passar do tempo, pelo gás de coqueria, posteriormente pelo gás de nafta e, no pós guerra, finalmente, pelo gás natural.

Associado a este desenvolvimento de infra-estrutura está a cultura de utilização do gás canalizado. Em grande parte dos países centrais, a utilização de aquecedores de ambientes e de água para diversos usos domésticos já é um costume secular. Esta cultura domiciliar também se alastra para segmentos comerciais e a opção do gás se torna rotineira nas áreas urbanas destes países. Para atender a esses anseios cotidianos é que as infra-estruturas foram sendo ampliadas e planejadas de acordo com o crescimento das cidades, especialmente as grandes cidades européias.

Em grande parte dos países em desenvolvimento o gás canalizado foi muito pouco utilizado ou sequer teve espaço. No Brasil, apenas São Paulo e Rio de Janeiro tiveram sistemas de iluminação pública a gás no século XIX, porém foram logo substituídos por outras formas de energia e não tiveram avanços significativos se comparados às grandes cidades dos países desenvolvidos. Este atraso infra-estrutural tornou-se uma importante barreira para um avanço da indústria do gás nestes países, nos últimos anos. O avanço sobre os consumos mais nobres, quais sejam, aqueles que possibilitam o uso direto da energia térmica, substituindo a eletrotermia17 e agregando maior valor ao gás, torna-se bastante difícil pois, além das infra-estruturas com elevados custos de construção e prazos de maturação, a modificação de aspectos culturais para a formação dos mercados consumidores envolve a superação de hábitos em relação a combustíveis como o GLP e a eletricidade cujas cadeias de suprimento, no caso brasileiro, encontram-se bastante desenvolvidas e confiáveis aos olhos do consumidor. Observe que esta mudança cultural envolve conhecimento sobre procedimentos de segurança, aquisição de equipamentos para

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a utilização do gás e substituição de outros equipamentos, construção de infra-estrutura domiciliar mínima, dentre outros entraves cuja superação envolve esforços organizados e planejados por governos, empresas de distribuição, empresas de equipamentos, bem como as próprias empresas produtoras no país, beneficiadas pela monetização de suas reservas.

A despeito destas barreiras, como é visto na descrição anterior sobre os movimentos recentes da produção e consumo mundiais, alguns países em desenvolvimento têm avançado significativamente sobre a indústria do gás.

Entretanto, como descreve Santos (2002), esta inserção se dá de forma parcial e subaproveita as diversas vantagens oferecidas pelo gás natural em relação a outras fontes primárias de energia. Em alguns países foram introduzidos usos do gás que são os de menor agregação de valor e que induzem a uma racionalidade energética duvidosa.

Como já demonstrado em diversos trechos anteriores, a formação de uma indústria de gás em determinado país exige escalas mínimas de consumo capazes de tornar economicamente viáveis os empreendimentos de produção e a construção de infra-estrutura de processamento e transporte do combustível. O ingresso de países subdesenvolvidos nesta indústria, durante as décadas de 1980 e 1990, não seguiu o mesmo “caminho” traçado nas economias centrais, onde o gás foi introduzido em consumo urbano e industrial e aos poucos foi adentrando pela geração termelétrica.

Esta trajetória recente em direção às térmicas responde a uma evolução tecnológica recente nos sistemas de geração à gás, seja em ciclo aberto ou fechado, as quais possibilitaram uma modificação na escala mínima das plantas. Ao contrário da tecnologia tradicional de geração à carvão, as usinas à gás podem ser construídas em unidades modulares independentes e produzir em escalas menores, com maior flexibilidade de implementação e operação, sem elevar os custos finais da energia gerada. Essa possibilidade levou a uma nova configuração na geração de eletricidade nos países centrais, quebrando um pressuposto de setores de infra-estrutura: o de que a escala ótima leva ao monopólio natural. Neste sentido, as térmicas caminharam paralelamente à criação de mecanismos para a introdução da concorrência nos mercados e as empresas petrolíferas passaram a se caracterizar pela presença tanto em segmentos de petróleo quanto de geração, desencadeando intensas modificações na indústria de petróleo e gás natural em torno de

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novas concepções de “empresas de energia”. Como relatam estudos contemporâneos, todas as grandes empresas transnacionais do setor de óleo criaram suas próprias divisões de gás e energia e, em grande parte dos casos, passaram a atuar em alguma medida na geração à gás (CEPAL, 2001).

Estas transformações, processadas em conjunto a um intenso movimento de concentração de capitais e ampliação do posicionamento global das grandes empresas de petróleo, ocorreram simultaneamente à abertura externa e às políticas de atração de investimento direto estrangeiro (IDE) dos países em desenvolvimento. Este ambiente de profundas modificações nos padrões de concorrência nos mercados nacionais e a elevação dos fluxos de investimento direto moldaram, em grande medida, o desenvolvimento das cadeias de GN nestes países de acordo com as estratégias globais das empresas transnacionais (CEPAL, 2001).

Do conjunto de eventos relatados até agora originam-se as demais barreiras ao gás nestes países. A inexistência de cultura do gás canalizado e uma infra-estrutura básica para consumo urbano fez com que a viabilização dos investimentos, que em grande parte dos países foi levado à cabo por empresas estrangeiras, fosse realizada sob projetos de suprimento dos mercados centrais (GNL) ou grandes consumidores, especialmente industriais e termelétricas. Estas características variam bastante de acordo com o grau de desenvolvimento industrial, dos sistemas elétricos dos países, bem como do grau de abertura, desregulamentação e desnacionalização da indústria nacional de petróleo e energia. Porém o padrão não se descaracteriza e a maioria destes países possui uma concentração do consumo de larga escala18 ou na produção para a exportação. Nos países onde a desregulamentação avançou em direção à estratégia exportadora e a internacionalização foi mais profunda as barreiras podem tornar-se mais complexas. O preço do médio do GNL comercializado em rotas internacionais é elevado, bastante remuneradores em relação aos custos de produção, porém impeditivos para a substituição de outros combustíveis em uma parcela significativa dos mercados.

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Observe que o consumo industrial pode ser considerado um consumo nobre. Em grande parte das vezes há uma agregação de valor relevante na cadeia e podem ser desencadeados importantes processos de

desenvolvimento setorial em razão da elevação da qualidade e da eficiência produtiva. Porém, tendo a densidade do consumo como fator determinante, em alguns setores onde a aplicação poderia ser efetuada com benefícios esta pode se tornar inviável.

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Por último, cabe citar o enfraquecimento dos Estados nacionais, a elevação das dívidas públicas a perda de poder de intervenção econômica e atuação setorial nas economias em desenvolvimento. Cabe lembrar que a atuação do Estado ou de empresas estatais foi essencial nas etapas infantes da indústria nos países desenvolvidos e o seu enfraquecimento exige soluções diferenciadas para o avanço da infra-estrutura nos novos mercados mundiais.

As barreiras descritas são observadas em relação ao caso brasileiro ainda neste capítulo e discutidas mais amplamente no capítulo V, de maneira a serem apontadas algumas sugestões para cada setor específico. A existência de uma empresa estatal com capacidade de investimento e com atuação de peso nos diversos elos da indústria de petróleo e gás natural abre alternativas ao país, as quais são analisadas também no capítulo VII, voltado especificamente para a análise desta empresa.

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3. CAPÍTULO III: Formação da indústria brasileira de Gás Natural

A compreensão dos elementos estruturais da indústria brasileira do gás natural (GN) e suas principais transformações e tendências atuais exige uma análise de seu desenvolvimento histórico - determinante sobre a trajetória de sua construção geográfica, bem como de sua interdependência em relação à indústria do petróleo e de energia, com as políticas nacionais para combustíveis e o desenvolvimento dos principais mercados consumidores.

Esta seção possui o objetivo de explicitar algumas dimensões estruturais da formação da indústria do GN no país, mostrando de que maneira foram descobertas as principais reservas nacionais do energético e de que maneira foram elaborados programas de utilização do GN, sejam do ponto de vista puro da produção e transporte (upstream), sejam do ponto de vista do estímulo aos diferentes consumidores, produtores de equipamentos da indústria e empresas de distribuidoras (downstream). Estas descrições, por sua vez, pavimentarão o caminho para a análise das grandes transformações atuais, bem como dos novos objetivos e potencialidades desencadeados na referida indústria.

A seqüência pretendida para a aquisição de tal objetivo segue a própria linha histórica de descoberta das reservas. Num primeiro momento discutem-se, sucintamente, as origens e condicionantes históricos e tecnológicos das descobertas da Bahia - iniciadas logo após a metade do século passado; das descobertas de Campos nas décadas de 70 e 80 - inaugurando a era das grandes reservas de petróleo em águas marinhas; das descobertas de gás na bacia do Solimões no Amazonas e; posteriormente, as descobertas do século XXI, com destaque para as da Bacia de Santos.

A localização destas reservas e seu porte, a disponibilidade e os custos de infra-estrutura de processamento e transporte e o tipo de consumo nestas regiões foram as principais variáveis utilizadas para a elaboração de planos para a evolução do GN no país após a segunda metade da década de oitenta. Na esteira destas análises foram construídos o gasoduto Brasil-Bolívia e o gasoduto para importação do gás da Argentina. Estes projetos de importação, por seu turno, passaram a ser os principais elementos impulsionadores da indústria de gás natural no Brasil e canalizaram esforços das empresas e do Estado para a

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viabilização de um consumo em larga escala no Sudeste e Sul do país. A retomada destas principais medidas implementadas e análises que determinaram as características tecnológicas e geográficas do desenvolvimento do GN no país são o segundo elemento discutido neste capítulo.

Em suma, este capítulo é a base para a posterior discussão do processo atual de modificação estrutural desta cadeia de produção no país, tendo em vista a alteração brusca da disponibilidade de gás. A descoberta da maior reserva de GN do país (Bacia de Santos), que espera-se que vá quadruplicar o volume de reservas nacionais, sua localização – ao lado do mercado onde há uma atual sobrecapacidade de oferta, bem como os retrocessos do Programa Prioritário de Termelétricas, explicitaram mais uma face dos desajustes conjunturais do setor energético nacional dos últimos anos: o desbalanceamento regional da oferta de gás e os equívocos nas análises sobre a dinâmica do consumo. Estas falhas trazem de volta o debate, assim como no setor elétrico, o tema da necessidade de reorganização de um planejamento central capaz de orientar os investimentos em infra-estrutura sem perder os incentivos - não distorcidos - de eficiência de mercado.

Colocam-se, portanto, os elementos para se pensar os problemas de curto e longo prazos, as falhas prévias e os principais gargalos conjunturais, as potencialidades e principais metas gerais a serem debatidas pelos diversos agentes do setor, seja para o próprio desenvolvimento setorial, seja para o desenvolvimento das inúmeras e heterogêneas conexões industriais.

3.1 O surgimento da indústria do gás natural no Brasil e a descoberta das principais reservas no século XX

A história do gás natural no Brasil iniciou-se timidamente na Bahia em meados da década de cinqüenta. O produto por vezes encontrado de forma associada nas perfurações de poços de petróleo, dadas as exigências tecnológicas para comercialização e ausência de mercados, era tratado com desprezo. Alguns relatos do período informam que a expressão "deu gás" significava fracasso na perfuração de um poço (Brasil Energia, out/2003).

Referências

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