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Concessionárias estaduais e investimentos em redes de distribuição

4. CAPÍTULO IV: Transformações recentes na indústria de GN brasileira

4.3 Concessionárias estaduais e investimentos em redes de distribuição

A análise de investimentos em redes de distribuição envolve questões um pouco distintas daquelas relacionadas à infra-estrutura de transporte. Estas redes, que conectam o gás aos consumidores finais, são bastante heterogêneas em termos de capacidade de movimentação de gás, dependentes das estratégias e capacidade de investimento das concessionárias dos monopólios estaduais e podem limitar ou impulsionar o avanço de alguns setores consumidores.

Os consumidores residenciais e comerciais são exemplos deste problema: como consomem baixos volumes totais de gás por dia, a construção de redes para supri-los pode se mostrar custosa e de difícil viabilização econômica. As grandes cidades apresentam vantagens nesse processo, graças às concentrações de edifícios, geralmente já adaptados para a utilização de gás canalizado – GLP ou “gás de rua”. São Paulo e Rio de Janeiro são as únicas cidades onde o avanço das redes é significativo, e representam mais de 95% do consumo residencial do país. As vendas para o setor comercial são também concentradas nestas cidades, porém outras regiões do país e do interior dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo já apresentam alguma tendência embrionária de crescimento.

O avanço das redes de suprimento de postos de GNV pode ser uma âncora para fornecimento residencial/comercial quando atinge regiões com maior densidade de edifícios. Apesar do consumo unitário de um posto de GNV ser menor do que uma indústria de médio porte, pode estar localizado em regiões comuns às concentrações de consumidores urbanos. Em outras palavras, o forte avanço projetado para as redes de postos de GNV será outra forma de suporte para um avanço do consumo residencial/comercial no médio e longo prazo (Almeida & Freitas, 2003).

A grande hegemonia dos mercados residencial e comercial nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro é facilmente visualizada através da magnitude das redes de distribuição nestas regiões, como mostra a tabela 11. Como já ressaltado ao longo deste estudo, as capitais destes estados já possuíam, há muito tempo, canalização para movimentação e venda de gás. Esta existência prévia de redes formou um conjunto de ativos interessante

para as empresas participantes dos processos de privatização e acelerou a obtenção de resultados positivos por parte das concessionárias.

Tabela 11 - Redes de Distribuição em Áreas de Concessão Estaduais no Brasil*

Rede (km) Cegas 180 Potigás 140 PBGás 70 Copergás 211 Algas 106 Sergás 63 Bahiagás 300 Gasmig 185 MS Gás 58 BR 129 CEG 2560 CEG Rio 1500 GasNatural 150 Gas Brasiliano 190 Comgás 3400 Compagas 402 SCGás 409 Sulgás 370 * Segundo semestre de 2003 Fontes: Brasil Energia e Gasnet

As distribuidoras da Região Sul, supridas pelo gás boliviano – exceto Uruguaiana (RS), aguardam ansiosamente pela nova produção em Santos e pelo gasoduto Uruguaiana Porto-Alegre. Esta nova infra-estrutura de oferta viabilizaria investimentos ainda não realizados por inexistência de competitividade-preço do gás natural, como a ampliação de redes para localidades mais distantes, no interior dos estados.

Os planos de investimentos da Sulgás em 2004 previam ampliações da rede em torno de 50 km, com investimentos de mais de 35 milhões de reais (Correio do Povo, 01/06/04). Estes investimentos visavam a ampliação de mercados industriais em setores como o madeireiro, artefatos de cozinha, vinícola, alimentos e bebidas, além de postos de GNV. O mercado residencial também possuía um projeto piloto, mas não resultou em vendas para a distribuidora até o final do ano, ao contrário do setor comercial que consumiu mais de seis mil m3/dia em novembro de 2004. Até 2007 a empresa pretende viabilizar aquela modalidade de consumo e investir outros 80 milhões de reais em ampliações de sua rede de distribuição (Brasil Energia, nov/2003).

A SCGás, que conta uma significativa rede de distribuição - inferior apenas às do Rio de Janeiro e São Paulo, investiu pesado na ampliação de redes para seus maiores mercados, duplicando o consumo veicular e elevando em 50% o consumo industrial em 2004. A concessionária, que não vende gás para térmicas, cogeração e mercados residenciais, pretende ampliar as redes para distribuição urbana em cidades onde já existe fornecimento industrial ou de postos de combustíveis. As perspectivas para investimentos não foram divulgadas, mas deverão superar os R$ 10 milhões em 2005. Apesar destas propostas para os mercados comercial/residencial, a SCGás é a distribuidora da Região Sul com menores planos de vendas para estas modalidades (Brasil Energia, nov/2003).

A Compagas, que não projetava grandes investimentos por conta da baixa competitividade-preço do gás boliviano e ociosidade nos contratos com a Petrobrás, apostou na ampliação marginal de seus mercados, utilizando sua rede já existente . De fato, todos os seus mercados apresentaram crescimento, com destaque para os volumes do setor industrial e para o crescimento percentual do setor residencial (600%)43. O projeto construído nos últimos anos pela Compagas para atendimento do mercado urbano em Curitiba é um dos mais significativos do país, contando com redes de 92 km e perspectivas de suprimento de 900 edifícios e 400 estabelecimentos comerciais nos próximos anos. Além disso, a ausência de grandes investimentos em redes não inibiu o avanço da venda do gás em novas localidades: estas são atendidas por gasodutos virtuais (GNC), que abrem espaço para futuras redes (O Estado do Paraná, 02/01/2004).

Na região Sudeste encontram-se os maiores mercados consumidores de gás natural do país. As distribuidoras, como já mencionado, estão estruturadas há mais tempo e possuem grandes redes de distribuição. Os exemplos com menores redes se encontram nas distribuidoras do interior do estado de São Paulo44, Espírito Santo e Minas Gerais45. Excetuando-se a Gasmig, todas as distribuidoras têm mercados residenciais e comerciais. Os mercados da CEG e Comgás são incomparáveis: possuíam, no final de 2004, mercados residenciais de mais de mais de 250 mil m3/dia e comerciais com mais de 160 e 245 mil m3/dia, respectivamente. Outros destaques ficam por conta dos mercados urbanos da Gas

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Apesar disto o mercado residencial representa menos de 1% do total de GN vendido na área de concessão.

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Estas concessões foram outorgadas em 1999 (Gas Brasiliano) e 2000 (Gas Natural SPS) .

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Mesmo com redes mais modestas, estas concessões aproveitam-se de grandes mercados industriais e realizaram vendas acima de um milhão de m3/dia, excluindo o mercado térmico, no final de 2004.

Natural e do mercado comercial da Gasmig, que variaram entre 10 e 15 mil m3/dia, em novembro de 2004.

A Comgás, quando assumiu a concessão, em 1999, tinha uma rede de 2400 km. Quatro anos depois, esta rede já estava com mais de 3400 km de extensão. Este crescimento da rede e o avanço dos mercados de maior consumo unitário viabilizaram uma estratégia mais incisiva para atingir os mercados urbanos. Entre janeiro e novembro de 2004 a concessionária ampliou suas vendas para o mercado residencial em 60 mil m3/dia, volume seis vezes maior que o total vendido pelo terceiro maior mercado residencial no país - Gas Natural, SP. Para o mercado comercial, o incremento foi de 50 mil m3/dia, outra marca significativa. Esta trajetória ilustra uma possível rota para o desenvolvimento das redes de distribuição no país: um crescimento em torno de mercados âncora, capazes de sustentar grande rentabilidade, capacidade de investimento e endividamento das distribuidoras, além de viabilizar uma infra-estrutura a partir da qual serão conectadas as redes para mercados pulverizados. Mas para isso são necessários recursos: o plano de investimentos da Comgás é bastante superior ao das demais concessionárias do país: 1,1 bilhão de reais entre 2004 e 2008 (Gazeta Mercantil, 08/03/2004).

A CEG e a CEG Rio também têm planos significativos de expansão: até 2007, devem investir, em conjunto, por volta de 1,5 bilhões de reais (Setorial News, 07/2004). Somente em 2004 foram investidos R$ 150 milhões, por conta de exigências de expansão das redes após as modificações patrimoniais que deram à Gas Natural o controle acionário de ambas distribuidoras46. A trajetória do perfil dos mercados do Rio de Janeiro deverá assemelhar-se à da Comgás no médio prazo, com um adensamento dos mercados urbanos no médio e longo prazos.

A Gasmig também passou por recente modificação em sua estrutura patrimonial. A Gaspetro comprou da 40% das ações da empresa, que ainda é controlada pela Cemig. Esta transação possibilitou a formulação de planos audaciosos de investimentos para a segunda metade da década atual: 1,4 bilhão de reais, com uma captação de R$ 520 milhões (Gazeta Mercantil, 12/08/2004). Com estes investimentos, deverão ser atingidas novas regiões do estado, ampliando o leque de grandes consumidores. Por exemplo, o mercado automotivo

de Minas Gerais ainda é bastante inferior aos do Rio de Janeiro e São Paulo e deverá apresentar substancial incremento nos próximos anos. As expectativas para volumes comercializados são da ordem de 3,6 milhões de m3/dia em 2006 e 7,6 milhões de m3/dia em 2010. Além disso, há expectativa de construção de novos gasodutos de transporte interestaduais, aumentando as regiões atendidas47.

No Espírito Santo, os planos apresentados pela Petrobrás Distribuidora (BR) no início de 2004 não foram atingidos. As metas de consumo para os diversos mercados não se verificaram e o consumo de 1,4 milhões de m3/dia projetado para o final de 2004 não pode ser atingido48. Os planos de investimentos para o período 2003-2007 são de R$ 40 milhões de reais e objetivam grandes consumidores individuais, que aguardam a produção dos campos do próprio estado.

As duas concessões mais recentes do estado de São Paulo foram áreas de grande avanço do gás natural nos últimos anos. Em 2004, as empresas Gás Brasiliano e Gas Natural cresceram muito acima da média nacional, de cerca de 28%. A Gas Brasiliano, que elevou as vendas de gás natural em 134,21% entre novembro de 2003 e 2004, vem superando suas próprias previsões de crescimento. A empresa, que vem ampliando as redes de fornecimento, atingiu novos mercados industriais no interior do estado e alguns postos de GNV. Além disso, implementa projetos piloto para suprimento residencial e já atinge mercados comerciais. Com investimentos projetados de R$ 48 milhões entre 2004 e 2006, a Gás Brasiliano, mantidas as taxas de crescimento atuais, deverá superar suas estimativas de vendas em 2007, de 850 mil m3/dia (Brasil Energia, nov/2003). Esta trajetória pode ser facilitada pelos descontos nas tarifas obtidos junto à Petrobrás, exatamente por ter superado em mais de 100% suas vendas no início do ano49. Por fim, a Gas Natural, que elevou em 107,72% suas vendas entre novembro de 2003 e 2004, desenvolveu um mercado industrial significativo e, simultaneamente, avançou em mercados urbanos e GNV. Os investimentos planejados para serem executados até 2008 são de R$ 241 milhões, e devem proporcionar

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A Gas Natural comprou a participação da Enron em ambas as distribuidoras por R$ 480 milhões, ficando com percentagens de 54,16% da CEG e 72% da CEG Rio.

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Existem projetos para construção de gasodutos de transporte entre Lorena e Itajubá (174 km) e entre São Carlos e Uberlândia (290 km). Para estes projetos serão necessários outros R$ 880 milhões (Gazeta Mercantil, 12/08/04).

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O consumo em novembro de 2004 foi de 1,249 milhões de m3/dia.

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um crescimento da rede bastante acima das metas estipuladas pelo contrato de concessão. A meta da empresa de atingir 1179 km de rede em 2007, viabilizando uma diversificação dos mercados consumidores, é a principal estratégia para atingir um mercado superior aos 2 milhões de m3/dia no final do período. Assim como a Gas Brasiliano, a elevação das vendas possibilitou um desconto nos preços do gás boliviano. Entretanto, como as vendas no ano de 2004 não cresceram 100%, estes descontos ainda podem ser ampliados.

As concessionárias dos estados da região Sudeste serão as maiores beneficiadas pelas novas descobertas de gás no país. A entrada do gás da bacia de Santos e um possível avanço nos critérios locacionais das tarifas de transporte poderão viabilizar investimentos significativos a partir do final da década. Além disso, a densidade da malha de distribuição e a envergadura econômica das distribuidoras permitirão desenvolvimento modelo nos mercados urbanos.

Outra empresa que contrata o gás boliviano é a MSGás. Com crescimento pouco expressivo de seus mercados, a concessionária é dependente das vendas para geração térmica. A única modalidade de vendas que apresentou um crescimento um pouco maior foi a de GNV, mas ainda representando menos de 1% das receitas da empresa. Investimentos de R$ 60 milhões para atingir mercados em Campo Grande, Três Lagoas e Corumbá e ampliar a rede em 100 km são o principal instrumento para diversificação dos mercados da empresa nos próximos anos (MS Notícias, 02/09/2004; Brasil Energia, nov/2003). Cabe lembrar que o estado pode ser local de uma planta gásquímica binacional que vem sendo planejada pelos governos de Brasil e Bolívia.

As distribuidoras do Nordeste foram as que apresentaram menores taxas de crescimento ao longo de 2004. Com as restrições de oferta de gás natural na região, as concessionárias aguardam a construção de nova infra-estrutura de transporte e produção para poderem ampliar seus mercados consumidores.

A Bahiagás, que completou dez anos de atividade, é a empresa com maiores volumes de vendas da região. Apesar de ter atingido a marca de 4 milhões de m3/dia vendidos em junho do mesmo ano, as vendas da empresa recuaram para o patamar dos 3,8 milhões nos meses subseqüentes, em função da queda do consumo em cogeração e na indústria local. A ampliação das redes se deu de maneira tímida, incorporando pouco mais

de 20 km até o início do segundo semestre. O crescimento projetado para investimentos em redes na região visa o atendimento de cidades como Alagoinhas, Feira de Santana e Santo Amaro, porém o desenvolvimento do campo de Manati é a condição necessária para a alavancagem de novas vendas no estado.

A Sergás, menor distribuidora do Nordeste, teve um crescimento bastante baixo em suas vendas. A pequena rede de dutos também não sofreu ampliações significativas e a distribuidora avançou em direção aos mercados próximos à rede existente. Foram criados mercados urbanos embrionários em Aracaju e a empresa pretende ampliar as vendas para cidades como Estância, Nossa Senhora do Socorro, Itaporanga e Rosário do Catete (Sergás, 05/08/2004).

Com um patamar de vendas um pouco acima da Sergás, a Potigás também se encontra em um estágio de formação inicial de seus mercados e redes de distribuição. Entretanto, ao contrário da concessionária do Sergipe, a distribuidora potiguar tem como principal consumidor o segmento automotivo e apresentou um crescimento superior ao das demais distribuidoras do Nordeste entre janeiro e novembro de 2004 - cerca de 18%. Este crescimento teve grande impulso pela ampliação de gasodutos virtuais, que impulsionaram a construção de postos de GNV no estado. Mais recentemente foram liberados R$ 25 milhões de reais para a ampliação das redes em Natal e Mossoró. Esta medida tem por objetivo a duplicação do mercado da empresa até 2006 e o maior aproveitamento do gás produzido na Bacia Potiguar.

A distribuidora do estado do Ceará - Cegás - no início do ano de 2004 apresentava um perfil de mercados não-térmicos parecido com o da Potigás. Excluídas as vendas para termoeletricidade, a empresa vendia mais gás natural para o mercado de GNV do que para a indústria do estado. O volume de vendas da distribuidora, que tem variado bastante ao longo do tempo em função da demanda das geradoras de termoeletricidade do estado, tem sido elevado por um crescimento da demanda industrial e dos investimentos na rede de GNV. Assim como as empresas de outros estados vizinhos, a Cegás tem planejado a inauguração de novos mercados a partir de gasodutos virtuais. Além disso, em 2004 foram iniciados investimentos da ordem de R$ 19 milhões para ampliação das redes próximas à

Fortaleza, possibilitando a ampliação dos mercados urbano e industrial (Gazeta Mercantil, 31/05/2004).

A Algás, apesar de não contar com rede de distribuição extensa, possui um dos maiores mercados de GN no Nordeste. Com consumidores de peso como Braskem e empresas do Distrito Industrial de Maceió, a concessionária atende ao terceiro maior mercado industrial da região. Mas a maior característica da Algás é a sua diversificação. Dona dos maiores mercados residencial e comercial do Nordeste, a empresa possui um projeto significativo de atendimento a hotéis, lavanderias e condomínios residenciais. Apesar de ter investido pouco mais de 10 milhões de reais nos últimos anos, a distribuidora têm um planejamento de ampliação sólido, com projetos para construção de "linhas azuis" no estado (O Jornal, 28/01/2004). Estas linhas poderão dar impulso às conversões de GNV e auxiliar na interiorização de suas redes no médio prazo.

A Copergás é uma das empresas com maiores planos de investimentos em redes de distribuição do Nordeste. Com investimentos planejados de mais de 43 milhões de reais para os próximos anos, a concessionária deverá ampliar ainda mais seu mercado industrial, segundo maior da região nordeste com 679 mil m3/dia vendidos em novembro de 2004. Tendo investido mais de 13 milhões nos primeiros anos da década atual, a empresa viabilizou quase 4 km de gasodutos para atendimento urbano na cidade de Recife, tendo resultado em um mercado embrionário no ano de 2004. O mencionado planejamento de investimentos será importante para a interiorização das vendas de GN e deverá possibilitar um crescimento das vendas da empresa nos próximos anos.

A PBGás, por último, tem investido na ampliação de sua rede de distribuição que, no início de 2004 possuía apenas 70 km de extensão. O planejamento da empresa era iniciar 2005 com mais de 200 km de rede, atendendo o Distrito Industrial, novos postos de GNV e criando as bases para o consumo urbano em João Pessoa. Além disso, investimentos de R$ 50 milhões em gasodutos para ampliação das cidades atendidas estão sendo realizados, com destaque para o gasoduto Campina Grande que, com 80% dos investimentos planejados, deverá levar o gás àquela cidade, onde está localizado um pólo ceramista (Jornal da Paraíba, 19/04/2004; PBGás, 18/08/2004).

As distribuidoras do Nordeste encontram-se em estágios bastante diferenciados de desenvolvimento. Entretanto, os projetos de expansão estaduais e as perspectivas de construção do Nordestão II deverão gerar interiorização da rede e atendimento de novos consumidores nos estados. No médio prazo, com a construção do Gasene, haverá confiabilidade no suprimento de GN e poderão ser atendidas as térmicas localizadas na região. Além disso, as propostas de criação de um mercado secundário poderão gerar oferta mais barata de GN interruptível, viabilizando competitividade para o combustível e novos investimentos.

Outra questão importante que atinge a capacidade de investimentos das distribuidoras diz respeito à sua estrutura patrimonial. A tabela 12 mostra o perfil destas estruturas, mostrando as participações dos diversos grupos que atuam neste segmento da cadeia no país.

A característica que mais chama a atenção é a presença maciça da Gaspetro e dos Governos Estaduais nas distribuidoras. A Petrobrás, através de sua subsidiária Gaspetro, só não está presente nas concessionárias do estado de São Paulo e na CEG. Os governos estaduais só não estão presentes no Espírito Santo, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. A presença destes dois agentes (governos e Petrobrás) marcou a formação das empresas distribuidoras mais recentes, onde predominam composições tripartites, com o acréscimo de um parceiro privado. Nesse modelo destaca-se a presença da Gaspart, subsidiária da Enron, com pesada participação nas distribuidoras do Nordeste, além de 41% das ações da SCGás. Finalmente, mostra-se importante a presença de grupos europeus nas principais distribuidoras do país: BG na Comgás, Gas Natural na CEG, CEG Rio e Gas Natural SPS e as italianas SNAM e Italgas na Gás Brasiliano.

Tabela 12 - Estrutura Patrimonial das Distribuidoras de Gás Natural no Brasil - 2004 (em %) ESTADO DISTRIBUIDORA G O V E R N O D O E S T A D O

GASPETRO BRASILIAGÁS BRITISH GAS

CEB CPFL

BNDS PART.

CEMIG COPEL DUTOPAR EM

P R E S A INDUSTRIAL T É C N IC A GASPART GÁS GOIANO G A S INSDUSTRIAL P A R T IC IP A Ç Õ E S G A S N A T U R A L S D G

INFRAGÁS ITALGAS MG PART. OUTROS PLUSPETROL

SHELL SNAM TERMOGÁS TEXTÍLIA AL ALGÁS 17 41,5 - - - 41,5 - - - - - - - - - BA BAHIAGÁS 51 24,5 - - - 24,5 - - - - CE CEGÁS 51 24,5 - - - 24,5 DF CEBGAS - 32 51 - 17 - - - - ES BR/ES - 100 - - - - GO GOIASGÁS 51 19,5 - - - 29,50 - - - - MA GASMAR 25,5 23,5 - - - 51 - MG GASMIG 0,4 40 - - - 55,2 - - - 4,4 - - - - MS MSGÁS 51 49 - - - - PB PBGÁS 17 41,5 - - - 41,5 - - - - PE COPERGÁS 51 24,5 - - - 24,5 - - - - PI GASPISA 25,5 37,25 - - - 37,25 - PR COMPAGAS - 24,5 - - - 51 24,5 - - - - RJ CEG - - - 34,53 - - - 54,15 - - - 11,32 - - - - - RJ CEG RIO - 25 - - - 72 - - - - 3 - - - - RN POTIGÁS 17 41,5 - - - 20,75 - - 20,75 - - - - RO RONGÁS 51 24,5 - - - 24,5 - RS SULGÁS 51 49 - - - - SC SCGÁS 17 41 - - - 41 - - - 1 - - - - SE SERGAS 17 41,5 - - - 41,5 - - - - SP COMGÁS - - - 72,74 - 3,93 - - - 0,11 - 23,22 - - - SP GÁS BRASILIANO - - - 49 - - - - 51 - - SP GAS NATURAL - - - 100 - - - -

Almeida & Bueno (2004) ressaltam que o programa de massificação do uso do gás natural pode ser atrasado pela falta redes de distribuição. Argumentam que a maioria das concessionárias vive problemas para fazer captações e investir recursos próprios em função de suas reduzidas receitas e participação de governos estaduais. Além disso, os empréstimos do BNDES para governos são limitados, inviabilizando grandes captações por parte destas empresas. Algumas soluções apontadas são a federalização progressiva - com capitalização via BNDES ou Petrobrás, criação de um fundo de investimentos para o setor - com redução das exigências de contrapartida dos sócios controladores - ou privatização.

No sentido da redução do peso do estado configurou-se a aquisição de 40% das