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Planejamento e formação profissional em serviço social

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Academic year: 2021

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ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL

Ana Clara Oliveira Fontenelle

Planejamento e Formação Profissional em Serviço Social

Rio de Janeiro

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Ana Clara Oliveira Fontenelle

Planejamento e Formação Profissional em Serviço Social

Trabalho de Conclusão de Curso apre-sentado à Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção de grau de bacharel em Ser-viço Social.

Orientadora: Gabriela Lema Icasuriaga

Rio de Janeiro

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Ao seu Alberto que não pode esperar para ver até onde eu cheguei.

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A minha família que tanto me apoiou durante toda a minha vida, agradeço

especialmente pela paciência nos anos de graduação. Agradeço em especial

aos meus avós por terem me dado a oportunidade de crescer e retribuir tudo que

recebi.

Aos amigos que trouxe comigo ao longo dos anos, sem dúvidas todos o

carinho, abraços, broncas e lágrimas foram de total importância para que eu hoje

estivesse completando essa etapa. Àqueles que me deram todo o apoio

psico-lógico, emocional e até mesmo espiritual para que eu conseguisse chegar até

aqui sem “pirar”. Aos colegas e amigos que fiz na graduação ou que passaram por ela, por todo apoio, incentivo e atenção ao longo desses quase cinco anos

de faculdade; e também por toda a paciência que tiveram comigo – sei que a testei até o limite muitas vezes.

Agradeço a minha supervisora de estágio, Márcia Bogea, e a todos os

profissionais – em especial à Dirce, Sandra, Delma e Vilmara – que encontrei no estágio e com os quais dividi tanto tempo nos últimos dois anos, por toda a

co-laboração e aprendizado.

Agradeço em especial à Alyne, Beatriz, Danielle, Isabel, Laryssa, Yanka,

Simone, e a todas as pessoas que me ajudaram a recolher o material necessário

para a elaboração da monografia; e à Isabelle, Rayane, Luciana, Gabriel, Vania

e Vânia por estarem comigo até o final me encorajando.

Por fim e não menos importante, agradeço à minha orientadora Gabriela

Lema por ter concordado em embarcar nessa empreitada comigo.

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Serviço Social. Rio de Janeiro, 2016. Trabalho de Conclusão de Curso

(Bacha-relado em Serviço Social) - Escola de Serviço Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016

O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise sobre o lugar que

ocupa o “planejamento” na formação profissional. Apesar de constarmos a sua ênfase na legislação que rege e orienta o trabalho do Assistente Social,

princi-palmente no Código de Ética e na Lei de Regulamentação Profissional (lei nº

8.662/93), observamos que há pouca produção teórica e operacional que reflita

a apropriação do conjunto das técnicas e instrumentos próprios ao planejamento

e que contribuiriam para uma inserção mais significativa dos profissionais em

áreas que contribuam para a formulação de políticas e programas sociais, assim

como de um melhor acompanhamento e monitoramento da sua execução. Neste

trabalho nos deteremos sobre o planejamento como aspecto da formação

pro-fissional do Assistente Social em observância às diretrizes de formação

profissi-onal da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

(ABEPSS). Para tal fim, buscamos as orientações curriculares da ABEPSS e as

comparamos com o currículo vigente e os programas de planejamento

ministra-dos em 7 Escolas e Faculdades de Serviço Social do Rio de Janeiro. Da análise

desses documentos extraímos alguns resultados que serão analisados com

sub-sídios na literatura disponível sobre a temática.

Palavras-chave: formação profissional, planejamento, prática-profissional,

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vice. Rio de Janeiro, 2016. Ending graduation monograph (Social Work bachelor) -

Social Work School, Federal University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.

The hereby paper aims at presenting an analysis about the role taken by “plan-ning” on vocational training. Even though we account its emphasis on the legis-lation that rules and orients the job of the Social Worker, mainly on the Code of

Ethics and on the Professional Regulation Law (Law No. 8,662 / 93), we observe

that there is little operational and theoretical production that reflect the

appropri-ation of all the techniques and proper instruments to planning and that would

contribute to a more significant integration of professionals in areas that add to

the formulation of policies and social programs, as well as better tracking and

monitoring of its implementation. In this study, we will concentrate on planning as

an aspect of vocational training of the social worker in compliance with the

train-ing guidelines of the Brazilian Association for Education and Research in Social

Work (ABEPSS). For such purpose, we sought the curricular guidelines of

ABEPSS and compared with the current curriculum and planning programs

taught in 7 schools and Faculties of Social Service in Rio de Janeiro. From the

analysis of these documents, we extracted some results that will be analysed with

the subsidies in the available literature on the subject.

Keywords: vocational training, planning, professional practice, Social Service,

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Quadro 1. – Ementas segundo a Escola de Serviço Social Gráfico 1. – Prevalência dos Enfoques

Gráfico 2. – Prevalência dos Enfoques nas instituições públicas Gráfico 3. – Prevalência dos Enfoques nas instituições privadas

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ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (an-tiga ABESS)

ABESS – Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

CRESS-RJ – Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro ESS – Escola de Serviço Social

MEC – Ministério da Educação

ONGs – Organizações Não-Governamentais PEP – Projeto Ético-Político

PUC-Rio – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro UCB – Universidade Castelo Branco

UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro UFF – Universidade Federal Fluminense

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

Unirio – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UVA – Universidade Veiga de Almeida

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INTRODUÇÃO ... 10

1 – Dimensões na abordagem do planejamento ... 12

2 – Planejamento na formação do Assistente Social ... 17

3 – Resultados da Pesquisa ... 26

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 38

REFERÊNCIAS ... 40

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INTRODUÇÃO

Planejamento, apesar de aparecer como expressão há pouco tempo na história da humanidade, constitui uma atividade que acompanha o ser humano desde seus primórdios; configurando nos dias de hoje como parte de todo o universo da sociabili-dade humana, estando presente especialmente em todas as ciências sociais aplica-das.

Ainda que considerado como uma ferramenta de grande potencial transforma-dor, o planejamento – dentro do Serviço Social – ainda configura um campo de pouca produção teórica, reduzindo-se a pouca bibliografia no geral, produzida, na sua maio-ria, nas últimas décadas do século XX.

A partir de uma reflexão no campo de estágio surge o questionamento acerca da demanda do planejamento para o assistente social e de que maneira este profissi-onal estaria preparado para respondê-la. A justificativa da proposta se realiza na pouca produção bibliográfica – como já apresentado – e até mesmo nas diferentes e divergentes formas de apreensão do Planejamento por parte dos profissionais do Ser-viço Social que, mesmo quando atuam em um âmbito privilegiado para a ação, muitas vezes não se sentem preparados para tal atividade.

Como fruto desta indagação, abordamos a temática da presente monografia, com o objetivo de discutir o papel que a formação em planejamento tem no Serviço Social enquanto categoria profissional. Para tal, nos remetemos à importância do pla-nejamento na formação profissional, através de uma pesquisa e análise dos currículos dos cursos de formação de assistentes sociais no Rio de Janeiro. Foram selecionadas sete dentre o universo de dezesseis escolas e faculdades de Serviço Social reconhe-cidas pelo conjunto do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e do Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro (CRESS-RJ), selecionadas segundo a facilidade de acesso ao material e a semelhança do momento em que trabalham a disciplina de planejamento dentro da grade; sendo quatro de origem pública: Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), UniverUniver-sidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio); e três de cunho privado: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Universidade Veiga de Almeida (UVA), e Universidade Castelo Branco (UCB).

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De acordo com o objetivo traçado para este trabalho, nossa pesquisa será de caráter descritivo e explicativo, buscando conhecer melhor os aspectos diretamente vinculados à formação acadêmica referentes à disciplina de planejamento que nos permitam entender algumas das razões da pouca apropriação do referencial e das técnicas de planejamento dos assistentes sociais em exercício. Para tal, recorremos a alguns procedimentos de pesquisa. Em primeiro lugar à pesquisa bibliográfica que nos ajudou a melhor compreender conceitualmente o nosso tema de estudo. Segui-damente fizemos uma pesquisa documental, sistematizando os principais documen-tos que orientam a formação dos assistentes sociais nos cursos de serviço social no Brasil e realizando um levantamento das ementas e programas desses cursos no Rio de Janeiro.

A partir do material coletado construímos um quadro comparativo das ementas que nos permitiu visualizar os pontos em comum e as diferencias entre elas e também sua proximidade com as orientações dos órgãos da categoria, principalmente com a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa do Serviço Social (ABEPSS) responsável pela elaboração de diretrizes curriculares básicas, e, também, com a Lei que regula-menta a profissão.

Por fim, tecemos considerações sobre o desenvolvimento da pesquisa, sobre as temáticas que surgiram durante a mesma e sobre os resultados encontrados.

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1 – Dimensões na abordagem do planejamento .

Apesar de configurar uma expressão permeada de significados mecânicos nos dicionários, planejamento traduz muito mais que apenas uma preparação ou o esta-belecimento de determinados procedimentos para a execução de objetivos. O plane-jamento, no seu conceito mais abrangente de atividade humana orientada a fins, é apropriado, utilizado e constantemente modificado por inúmeras disciplinas presentes na divisão sócio técnica do trabalho; e, dependendo da compreensão e utilidade para cada uma delas, seu significado e aplicação apresentam enormes variações.

Para além de seu conteúdo técnico e instrumental, e de maior divulgação e generalização, o planejamento corresponde a uma tecnologia social permeado de questões políticas, por estar presente em todo o universo da sociabilidade humana; em todas as ciências e nas mais diversas áreas laborais. Sendo atribuídas ao plane-jamento diferentes concepções que vão desde uma ferramenta de trabalho, até a me-diação entre a burocracia e as condições objetivas da efetivação de direitos.

Por se tratar de uma atividade racionalmente orientada, o planejamento pode ser abordado a partir de três grandes dimensões: a ontológica, a política e a técnica, como veremos a seguir.

Numa perspectiva ontológica podemos identificar que ainda nos primórdios da sociabilidade, quando o ser humano buscava sua sobrevivência na coleta de alimen-tos e sua sociabilidade se limitava à vivência nômade, refletir sobre suas ações e de-finir prioridades, apesar da prevalência dos instintos, já se fazia necessário.

Segundo Lessa (2001), a “gênese do ser social consubstanciou um salto onto-lógico para fora da natureza” (p. 12), o que possibilitou ao homem o seu desenvolvi-mento pelas relações sociais, no entanto, essa gênese só se torna possível na medida que o homem transforma a natureza, ou seja, que ele trabalha. É o trabalho que funda o ser social. O autor afirma que,

o desenvolvimento social tem por seu fundamento último o fato de que a cada processo de objetivação, o trabalho produz objetiva e subjetiva-mente algo ‘novo’, com o que a história humana se consubstancia com um longo e contraditório processo de acumulação que é o

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desenvolvi-mento das capacidades humanas para, de forma cada vez mais efici-ente, transformar o meio nos produtos materiais necessários à repro-dução social (p. 13).

Tratando-se a capacidade teleológica1 de algo inerente ao ser humano que o

diferencia dos demais seres, torna-se possível desenvolver essa capacidade análoga ao planejamento. A prévia ideação é a prefiguração mental do resultado das nossas ações – orienta o processo –, e tem força material, ou seja, busca objetivar-se; e é também social porque tem a ver com a sociedade em que se insere. Sendo o homem um ser social – e por esse motivo, vivendo e se objetivando na cotidianidade em meio as relações sociais – capaz de, ao transformar a natureza também transformar a si mesmo (LESSA, 2012), planejar lhe é uma atividade fundamental e intrínseca à sua sociabilidade, pois é uma função da consciência que lhe permite executar o trabalho, transformar o meio no qual se encontra e transformar a si mesmo.

Desde os mais remotos tempos, o ser humano vem se apropriando dessa ca-pacidade para sobreviver; e no decorrer do tempo, a caca-pacidade de planejar foi sendo aperfeiçoada. Enquanto, no início da civilização humana, planejar era uma atividade voltada para o indivíduo inserido nos seus pequenos grupos, como a busca de alimen-tos e as mudanças territoriais (nomadismo), posteriormente, com o desenvolvimento das relações sociais e da própria capacidade de planejar, esta atividade foi alçando novos patamares, chegando a alcançar uma posição de destaque, como uma ativi-dade voltada especialmente para os que possuíam funções de liderança. Ou seja, aqueles indivíduos com maior capacidade para antever o resultado das ações e que conseguiam orientar os esforços próprios ou da coletividade com melhores resultados foram se destacando do resto dos homens, sendo inclusive considerados possuidores de um “dom” e até de uma divindade. Tornou-se, portanto, uma ação primordial à sociedade, sendo essencial nas conquistas por novas terras, nas guerras, e até mesmo nas construções das cidades ao longo do tempo.

Consequentemente o planejamento aparece na história da humanidade como uma atividade social de gestão e organização de recursos em busca de um fim, tendo

1 Entendemos aqui teleologia por: “projetar de forma ideal e prévia a finalidade de uma ação”. (LESSA, 2015, p. 28)

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sido apropriado nos diversos modos de produção e experiências societárias podendo ter diferentes níveis de abrangência, como veremos mais à frente.

Baptista (1979) vai expressar de maneira clara essa evolução do planejamento quando elenca que este “se refere ao processo permanente e metódico de abordagem racional e científica de problemas (...) supõe ação continuada sobre um conjunto di-nâmico de variáveis em um determinado momento histórico” e explicita sua definição quando afirma que:

Se refere, ao mesmo tempo, à definição das atividades necessárias para atender problemas determinados e à otimização de sua sequência e inter-relacionamento, levando em conta os condicionantes impostos a cada caso – recursos, prazos e outros –; diz respeito, também, às providências necessárias à sua adoção, ao acompanhamento da exe-cução, ao controle, à avaliação e à redefinição da ação (p.13)

Battini (2007) vai apresentar essa dimensão com a terminologia “sócio-histó-rica” e exprimir que ela se relaciona ao movimento do real, na mediação entre o real e o concreto. Captura a vida social (individual e coletiva) – sob os determinantes econômicos, sociais, políticos e culturais. Pinça e transforma em objetos de interven-ção as situações concretas de indivíduos históricos. Tais situações serão o objeto, a “matéria prima” da intervenção.

Durante o processo de escolha dos meios, isto é, entre a necessidade e suas respostas (entre a ideia e a objetivação) surgem as tomadas de decisões, as opções e alternativas de escolha, onde o indivíduo precisa olhar para o redor, para o ambiente em que está inserido e buscar as melhores alternativas para resolver satisfatoriamente suas questões. Esse momento configura a dimensão política do planejamento. Para Battini (2007), é essa prática do planejador que vai impulsionar a ação em defesa dos valores éticos universais que o regem.

É nesta dimensão em que aparece o embate da correlação de forças, as von-tades políticas, a necessidade da articulação de grupos, assim como as formulações de alianças e pactos. Essa dimensão tem como perspectiva estratégica: o equaciona-mento – a viabilidade das decisões com direção política; a operacionalização – deta-lhar para efetivar; a decisão – compõe problematizar as diferentes escolhas; e a ação – materialização.

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Essa apropriação da atividade de planejar é visível tanto no capitalismo quanto nas experiências de socialismo real2.

Baptista (1979) utiliza outra abordagem para distinguir as diferentes dimensões do planejamento, as quais correspondem às dimensões: racional, política, valorativa e técnico-administrativa.A compreensão do aspecto racional é expressão da prática que “norteia naturalmente as ações (...) é o hábito de pensar e agir dentro de uma sistemática própria” (p.14); a dimensão política coloca o planejamento como “processo contínuo de tomada de decisões” (p. 15); enquanto o conteúdo valorativo, para além do processo de decisão, corresponde às ideias e valores presentes no processo; e, por último, a autora distingue a abordagem técnico-administrativa, que representa a esfera da montagem ou formulação do plano de ação.

No sentido de organização dos recursos para atingir os resultados, precisamos dos elementos técnicos que vão nos permitir aperfeiçoar e gerir um conjunto de ins-trumentos e técnicas aplicadas ao planejamento – dimensão técnica. Esta é formada por teorias, metodologias, instrumentos, técnicas e habilidades a fim de realizar a ação; e apresenta as possibilidades de executar de modo instrumental sobre a reali-dade gerando resultados. É a compreensão lógica-racional do planejamento.

Destacamos nos enfoques e dimensões dados pelos autores aqui abordados a ênfase no desenvolvimento político e técnico que o Planejamento teve, e sua relevân-cia para a ação profissional do serviço sorelevân-cial.

Baptista (op. cit) apresenta que o planejamento vai se realizar

a partir de um processo de aproximações sucessivas, que tem como centro de interesse a situação definida como objeto de intervenção. Essas aproximações representam em diversas fases do método e ocorrem, de modo geral, em todos os tipos e níveis de planejamento. Ainda que essas fases sejam genéricas, o seu conteúdo específico irá depender da estrutura e das circunstâncias particulares de cada situa-ção (Baptista, 2007, p.19).

2 Neste último, tendo como principal exemplo a Nova Política Econômica proposta por Lênin para o Estado Sovi-ético, para dar condições ao período de transição entre o capitalismo e o socialismo na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, e que tinha como objetivo um plano de cooperação para o desenvolvimento de suas forças produtivas.

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Esta autora resgata o papel fundamental da participação do Serviço Social - enquanto profissão – na esfera do planejamento, pois, por se tratar de profissionais que atuam diretamente com a população, seja na atenção às demandas, seja na oferta de serviços e benefícios sociais, conhecem todo o processo e, por isso, estariam me-lhor preparados para atuar no planejamento e na gestão de políticas, programas e serviços que melhor atendam aos sujeitos.

Battini (2007) vai ainda identificar a relevância do Planejamento para o serviço social a partir de quatro aspectos principais, a saber:

a) como ferramenta de trabalho que propicia uma prática metodologi-camente conduzida e etimetodologi-camente comprometida com a cidadania; b) como processo lógico, político e administrativo que, por meio de seu movimento, adensa formas de participação popular nos níveis decisó-rios e operativos; c) como instrumento que busca racionalizar e dar di-reção para redefinições futuras de organizações, políticas sociais, se-tores ou atividades, influenciando o nível técnico e político e d) como mediação entre burocracia e as condições objetivas para efetivação de direitos (2007, p.7).

Estes aspectos irão contribuir com a qualificação da intervenção profissional, impri-mindo “dinamicidade, organicidade e concretude à política, ao funcionamento institu-cional e à intervenção profissional” e de monitoramento e avaliação da mesma no “exercício profissional cotidiano” (BATTINI, 2007).

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2 – Planejamento na formação do Assistente Social

No prefácio de um dos livros clássicos sobre a temática do planejamento no Serviço Social – Planejamento e Serviço Social, de Mário da Costa Barbosa (1980) – Maria Lucia Carvalho da Silva apresenta o planejamento como algo que não é, por natureza, “nem todo poderoso, nem meio de dominação da sociedade, mas, ao con-trário, tem caráter eminentemente humanístico e é elemento importante e estratégico de uma práxis democrática (p. 11)”. Deste modo, já indica o seu sentido intrínseco junto à natureza da profissão que se constitui na ação da práxis democrática e da preocupação com a construção de uma nova ordem societária.

Segundo Barbosa (1980), “o planejamento sempre esteve presente no Serviço Social, desde sua primeira sistematização em 1917 por Mary Richmond3”, mas foi só

a partir da reconceituação4 que este ganhou maior visibilidade e credibilidade na

ca-tegoria profissional. Barbosa afirma que, nas primeiras literaturas este aparecia com a nomenclatura de “plano de tratamento” que retratava “o resultado da ação de plane-jar com o cliente o processo de solução de seus problemas” (1980, p.13) – num con-texto profissional sobre o qual a atuação se pautava num processo de intervenção individual e focalizada.

Este mesmo autor indica que em um segundo momento aparece o termo ‘pla-nejamento’, no entanto, ainda utilizado de forma generalizada e voltado para toda a “ordenação lógica do assistente social” (BARBOSA, 1980). É necessário que passe ainda mais tempo até que se desvincule o ‘plano de tratamento’ do sentido de terapia e seja utilizado no âmbito da intervenção, nas demandas do cotidiano dos usuários sobre a questão social.

A partir da década de 1960 (especialmente no Brasil), devido às mudanças “modernizadoras”, a profissão se encontra numa posição de “significativo alargamento

3 Mary Richmond: norte americana que, quando membro da Charity Organizacion Society, sugeriu a criação de um curso especial para preparar as pessoas para trabalhos sociais, que mais tarde viria a se tornar a primeira Escola de Serviço Social de New York; uma das precursoras do Serviço Social. Ver: SILVA, Ilda Lopes Rodrigues da. Mary Richmond: um olhar sobre os fundamentos do Serviço Social. Rio de Janeiro: CBCISS, 2004.

4 O Movimento de Reconceituação apresentou uma grande mudança no perfil da profissão a partir da década de 1960 na américa latina, ao que buscava se desvincular ao conservadorismo que permeava a mesma, assim como as técnicas ‘importadas’ do Serviço Social norte americano (NETTO, 2011, p. 145).

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das funções exercidas por assistentes sociais, em direção a tarefas, por exemplo, de coordenação e planejamento, que evidenciam uma evolução no status técnico da pro-fissão” (IAMAMOTO e CARVALHO, 2012. p.358), em meio à conjuntura desenvolvi-mentista5 em que se encontrava o país. Dando ao profissional uma “nova

caracteriza-ção das suas funções” e um novo campo de debate. Passam a compor essa pauta também a participação direta e indireta dos diferentes atores envolvidos na interven-ção. É nesse período que, no Brasil, a tendência a modernização conservadora ganha força no Serviço Social vinculada a dimensão técnico instrumental.

Nesta fase “desenvolvimentista” de ampla expansão capitalista, o planejamento social tem caráter “paliativo” às intervenções do Estado e na maioria das vezes era assumido por organizações da sociedade civil – ainda numa perspectiva desenvolvi-mentista. Este período corresponde ao de maior atividade do Desenvolvimento de Co-munidade (DC) – método que buscava “promover a melhoria de vida da população comunitária a partir de sua própria participação e iniciativa, quer seja espontanea-mente ou por meio do emprego de técnicas” (GUILHERME, 2012, p. 132). Neste pe-ríodo encontramos também outras propostas inovadoras no seio da profissão, como o método BH6 - processo metodológico que, segundo Netto (2011) se pautava “sobre

sete momentos: aproximação I, investigação significativa, interpretação diagnóstica, aproximação II, programação, execução de projetos, revisão e sistematização geral” (p.285), que ajudaram a imprimir uma atenção privilegiada nas técnicas de interven-ção.

É nesse contexto – da mudança no caráter técnico da profissão e com o início da discussão do planejamento – que, em 1967, interligado ao Encontro de Araxá7, que

5 Segundo IAMAMOTO e CARVALHO, “a ideologia desenvolvimentista em seu aspecto mais aparente e geral envolve a proposta de crescimento econômico acelerado, continuado, autossustentado. (...) se define, assim por meio da busca da expansão econômica, no sentido da prosperidade, riqueza, gran-deza material, soberania, em ambiente de paz política e social, e de segurança – quando todo o esforço da elaboração política (política econômica) e trabalho são requeridos para eliminar o pauperismo, a miséria, elevando-se o nível de vida do povo como consequência do crescimento econômico atingido”. (2012, p.360)

6 Método BH (Método Belo Horizonte) foi o método desenvolvido pela equipe de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais, que buscava romper com os métodos positivista que norteavam o Serviço Social tradicional e que propunha uma intervenção baseada na lógica dialética num processo de aproximação da realidade (NETTO, 2011).

7 I Seminário de Teorização do Serviço Social, em Minas Gerais (Araxá) de 19 a 26 de março de 1967 onde se definiu algumas características da profissão. Momento de grande importância ao período de Reconceituação do Serviço Social.

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se apresenta o planejamento relacionado à intervenção profissional, e começa a apa-recer no quadro de disciplinas do Serviço Social (BARBOSA, 1980). O Encontro de Araxá representou, nessa conjuntura, a culminância da superação do funcionalismo na busca pela renovação.

Dando continuidade às transformações no âmbito da profissão, em 1979 acon-tece o Congresso da Virada - III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em São Paulo – que significou a inserção do debate sobre a relação capital x trabalho na profissão. O Congresso teve como resultante a evidência de

novas possibilidades de análise da vida social, da profissão e dos indi-víduos com os quais o Serviço Social trabalha. Dali em diante, a reali-dade em sua dinamicireali-dade e dimensão contraditória torna-se o chão histórico prenhe de lições cotidianas por meio do protagonismo das lu-tas da classe trabalhadora e dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais vivenciadas pela população como de-mandas postas ao Serviço Social (CFESS Manifesta, 2009).

Essa nova análise vai alavancar as mudanças na profissão e na década de 1980 vai dar continuidade ao processo de politização das “necessidades sociais pelas classes trabalhadoras” (CFESS, Manifesta, 2009) e nas lutas pelas conquistas dos direitos sociais no Brasil; elementos que vão implicar diretamente na atuação e na formação profissional, uma vez que é nesse contexto que a graduação e a pós-gra-duação em Serviço Social vão alçar maior visibilidade na produção de conhecimento para a categoria.

É a partir do Congresso da Virada que o aspecto teórico do Serviço Social vai começar a incorporar algumas das transformações que vinham sendo cunhadas no interior da prática; onde puderam ser incorporadas a compreensão histórica da luta de classes – como visto anteriormente -, a análise a partir da tradição marxista e a aproximação com forças progressistas, num contexto de oposição à ditadura militar, que conferiram a profissão sua legitimação pública e acadêmica. Segundo Iamamoto (2009) essa legitimação se deu também em face da articulação da profissão dentro da América Latina que moldou a formação acadêmica com base na

teoria social crítica e atenta às particularidades da dependência latino-americana; e estimulou a leitura do Serviço Social no âmbito das rela-ções entre as classes e dessas com o Estado no enfrentamento das

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desigualdades sociais, pela via dos movimentos sociais e das políticas públicas.(IAMAMOTO, 2009 p. 117)

Avançando no histórico da profissão, no contexto dos anos 90, surgem a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei nº 8.662) de 7 de junho de 1993 e as Diretrizes Curriculares de 1999 (atuais), esta última como superação do proposto nos anos 60 e 80 – da atenção técnico instrumental da modernização conservadora, do funciona-lismo herdado do conservadorismo, e do primeiro impacto das transformações pro-postas pela Virada. Sendo fruto do currículo mínimo aprovado pelo Ministério da Edu-cação em 1982 e da revisão das diretrizes propostas pela ABESS em 1996.

Ratificando as transformações decorrentes: pós Congresso da Virada e com as funções do Estado já alteradas em face do neoliberalismo, é sancionada a Lei de Re-gulamentação da profissão que vem coroando o papel fundamental na prática profis-sional através dos traços descritos pela Reconceituação que levaram a alguns seg-mentos da categoria – nutridos por leituras e análises de tradição marxista – e seus principais órgãos, a ocupar um lugar de hegemonia na produção teórico metodológica da profissão.

No interior da Lei, os parágrafos 4º e 5º sinalizam como competências – isto é, atividades que podem ser desenvolvidas pelo assistente social – e atribuições privati-vas – atividades que devem ser desenvolvidas apenas por assistentes sociais - ações de planejamento no âmbito das políticas sociais, de planos, programas e projetos so-ciais, além de benefícios e serviços sociais.

Dentro da profissão, além de uma competência, o planejamento representa o lugar da prática profissional por se tratar de uma atividade humana de transformação, pois tem como pressupostos e alvo principal as relações sociais e, por conseguinte as relações de classe. Também por essa atuação junto à realidade social, o planeja-mento é muitas vezes utilizado como forma de controle e coerção, numa perspectiva conservadora, reafirmando um processo de intervenção burocrático/formal, e uma ra-cionalidade instrumental pautada em ações imediatas e não estruturantes. Por conse-guinte,

é importante assinalar que o planejamento, como instrumento, está condicionado politicamente, o que determina que seu direcionamento ocorra no interesse da maioria, quando democraticamente utilizado,

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ou, ao contrário, de alguns grupos dominantes que têm acesso ao Es-tado ou participam do controle de organismos e agentes econômicos internacionais (NOGUEIRA e MIOTO, 2011, p. 14).

A partir dessa leitura, compreendemos que o planejamento é hoje intrínseco à prática profissional e a toda a sociabilidade humana, ainda que possa ser utilizado de formas opostas e tendo efeitos diversos de acordo com as situações e contextos, e com as diferentes visões de mundo e o lugar na divisão sócio técnica do trabalho.

Segundo seu lugar na divisão sócio técnica do trabalho. A prática do assistente social vai situar

o objeto da profissão – como efetivação da síntese dos direitos de ci-dadania, por meio da realização desse nexo – se traduz em objeto da intervenção como problematização construída a partir da especifici-dade dos espaços institucionais, nos quais a questão social se materi-aliza sob a forma da relação entre serviços que devem ser prestados e a busca pelo acesso a estes pelos usuários como sujeitos de direitos de cidadania. A problematização desse objeto de intervenção, no con-texto da especificidade dos espaços institucionais, passa pela proble-matização da forma de prestação dos serviços sociais relativos ao campo das políticas sociais setoriais (REZENDE, 2009, p.40).

Para tanto, compreender o planejamento na prática profissional pressupõe a compreensão de que os sujeitos políticos constituintes de relações sociais de classes vão dar o sentido das ações da prática social a partir das mediações das políticas sociais – que representam a intervenção do Estado e a materialização das lutas e reivindicações sociais – legitimadas pela ação do Estado na agenda pública. Por esse ângulo, o assistente social vai atuar na intervenção junto aos sujeitos (usuários) atra-vés das políticas sociais numa ação planejada de acordo com sua inserção nos espa-ços sócio ocupacionais.

Já nesse sentido o Código de Ética do/a Assistente Social de 1993 em seu artigo 2º (Constituem direitos do assistente social) vai legitimar essa atuação ao apre-sentar a “c) participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formulação e implementação de programas sociais”. O que significa sua capacidade teórico-prática para tal exercício.

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Esse novo “lugar” alçado agora ao Serviço Social vai demandar do profissional não apenas sua capacidade crítica, mas da instrumentalidade que é cara à profissão. Segundo Guerra (2007),

É por meio desta capacidade, adquirida no exercício profissional, que os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano. (...) Na medida em que os profissionais utilizam, criam, adequam às condi-ções existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a ob-jetivação das intencionalidades, suas ações são portadoras de instru-mentalidade (GUERRA, 2007, p.2).

Importante frisar que para esta autora não devemos confundir instrumentali-dade com instrumentação:

(...) a instrumentalidade no exercício profissional refere-se, não ao con-junto de instrumentos e técnicas (neste caso, a instrumentação téc-nica), mas a uma determinada capacidade ou propriedade constitutiva da profissão, construída e reconstruída no processo sócio histórico. (GUERRA, 2007, p.1)

Dá-se então que o papel profissional junto ao planejamento é de processar teó-rica, política e eticamente as demandas sociais e traduzir em objetos de planejamento e gestão. Nessa linha, Nogueira e Mioto (op cit) indicam as questões em relação a essa problemática:

Como inscrever essas exigências no planejamento cotidiano é o desa-fio colocado ao assistente social. Inscrever não de forma utópica, for-mal, abstrata, mas sim de maneira operacional, possibilitando imprimir alterações concretas e visíveis na realidade, dando um contorno defi-nido e identificável à ação profissional” (2006, p. 16)

Tal desafio implica na apreensão do planejamento como atribuição e compe-tência profissional desde a esfera da formação do assistente social, como veremos adiante nas formulações da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) para a temática.

Segundo a ABEPSS, e em concordância com o que estabelece o Código de Ética da profissão e a Lei de Regulamentação da mesma – já mencionada anteriormente, são apresentadas habilidades e competências técnico-operativas para o assistente

(23)

social na disposição das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Serviço Social. A saber:

- Formular e executar políticas sociais em órgãos da administração pú-blica, empresas e organizações da sociedade civil;

- Elaborar, executar e avaliar planos, programas e projetos na área so-cial;

- Contribuir para a viabilizar a participação dos usuários nas decisões institucionais;

- Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais; - Realizar pesquisas que subsidiem formulação de políticas e ações profissionais;

- Prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública, empresas privadas e movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais e à garantia dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;

- Orientar a população na identificação de recursos para atendimento e defesa de seus direitos;

- Realizar estudos socioeconômicos para identificação de demandas e necessidades sociais;

- Realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre matéria de Serviço Social;

- Exercer funções de direção em organizações públicas e privadas na área de serviço social;

- Assumir o magistério de Serviço Social e coordenar cursos e unida-des de ensino;

- Supervisionar diretamente estagiários de Serviço Social.

De todos os itens supracitados, podemos perceber em pelo menos cinco deles, a influência direta que o planejamento exerce sobre as habilidades e competências requeridas ao assistente social. Sendo assim, e ancorados pelos princípios ético-po-líticos profissionais, foi indicado o planejamento como disciplina obrigatória8 dentro da

grade dos cursos de Serviço Social no Brasil – através da determinação das mesmas diretrizes curriculares da ABEPSS de 1999.

(24)

Tendo como base as discussões e resoluções da categoria profissional, acima citadas, e respondendo à necessidade de fortalecimento das orientações ídeo-políti-cas na formação e no exercício profissional dos assistentes sociais, o Projeto Ético-Político (PEP), hegemônico no seio da profissão, ocupará grande destaque no âmbito acadêmico, incentivando a produção intelectual numa perspectiva crítica, como dis-corre Battini:

Formação profissional – mediante as Diretrizes Curriculares Gerais para os cursos de Serviço Social, discutidas e aprovadas pela ABEPSS/1996, e posteriormente pelo MEC/CNE, pelo parecer nº 492/2001, na garantia da unificação dos níveis de formação, superando a coexistência de um nível técnico e outro universitário; do estabeleci-mento de planos de estudo básicos que, respeitando as particularida-des regionais, mantenham perfil do profissional em um eixo básico co-mum; do incentivo a cursos de pós-graduação strito e lato sensu; da promoção das condições para a produção bibliográfica e teórica de qualidade, em espaços acadêmicos apropriados e veículos de difusão e publicação (revistas profissionais universitárias e livros. (2006)

O destaque dado a formação profissional vai se concretizar nas diretrizes curricu-lares que, segundo Werner (2011),

deixam claro que o Serviço Social é uma profissão interventiva e atua nas expressões da questão social, sendo que a profissão se insere nas relações sociais de produção e reprodução da vida social. A formação universitária não tem como se eximir de formar profissionais para o mercado de trabalho, pois é uma das fontes de produção de conheci-mento e os profissionais que saem das universidades de forma geral estarão ávidos a adentrar no mundo do trabalho ou de conseguir novos e melhores postos profissionais. O mercado de trabalho enfatiza o dis-curso de habilidades e competências necessárias para o trabalhador atual estar inserido no mundo do trabalho globalizado. Esta situação torna-se necessária na discussão de agências formadoras de profissi-onais e no Serviço Social, para que não se distancie do projeto de for-mação profissional

Nesse sentido, é importante salientar que assim como na prática profissional, tam-bém a formação do assistente social é fruto histórico de uma série de requisições e acúmulos teóricos que foram se modificando ao longo dos anos, contemplando ainda

(25)

as propostas e ideais da profissão e as demandas colocadas pelo mercado no modo de produção capitalista. Segundo Iamamoto (2014),

o currículo mínimo expressa um processo de transição, parte da resis-tência acadêmica e política tanto à ditadura militar implantada no país (1964-85) quanto ao Social Work, em sua difundida trilogia, composta por Serviço Social de caso, de grupo e de comunidade.

E Werner completa,

as diretrizes curriculares propostas pela ABEPSS não mencionam as competências genéricas ou transversais, que são as competências compartilhadas por um grupo de profissionais, mas não especificas de um determinado posto de trabalho ou profissão. São conhecimentos que atravessam diferentes profissões e/ou atividades profissionais. São capacidades genéricas que possibilitam a um profissional sucesso em uma gama variada de ocupações, tais como: domínio das tecnolo-gias de comunicação e informação, comunicação escrita e oral, atuar em equipe e adaptabilidade às mudanças. (2011)

Tanto Iamamoto quanto Werner, ao se debruçarem sobre o currículo, identifi-cam a importância de aspectos determinantes para a construção profissional e a con-solidação para uma prática hegemônica. Nesse sentido, a ABEPSS, ao elencar as diretrizes para os cursos de Serviço Social apresenta uma disciplina específica para o Planejamento que será melhor analisado no próximo tópico. De todo modo, a ementa base por ela proposta coloca como exigências a absorção de conteúdos que possibilitem e capacitem o profissional para a elaboração, gestão e coordenação das técnicas referentes ao planejamento, pois “trata-se de demandas sócio-ocupacionais diárias com as quais os profissionais são convocados a intervir sobre as refrações da questão social e que requer atenção para a construção de alternativas” (LIMA, 2014, p. 181).

(26)

3 – Resultados da Pesquisa

A ABEPSS, em suas diretrizes para os cursos de Serviço Social, estabelece tópicos de estudo e determina uma ementa base para estes, como dito anteriormente. Em relação ao Planejamento as diretrizes o listam como um dos conteúdos necessá-rios para a formação de bacharéis em Serviço Social, como também mencionamos antes, mas que agora passaremos a abordar mais detidamente.

Como “ementa base” promovida pela ABEPSS sobre a temática temos:

Administração e Planejamento em Serviço Social: as teorias organiza-cionais e os modelos gerenciais na organização do trabalho e nas po-líticas sociais. Planejamento e gestão de serviços nas diversas áreas sociais. Elaboração, coordenação e execução de programas e projetos na área de Serviço Social. Funções de administração e planejamento em órgãos da administração pública, empresas e organizações da so-ciedade civil. (ABEPSS, 1999)

A pesquisa dedicou-se então a ir de encontro com as ementas e programas das dis-ciplinas de planejamento das Escolas e Faculdades de Serviço Social do Rio de Ja-neiro, selecionando para este trabalho sete delas, sendo quatro referentes a universi-dades públicas e três de uniuniversi-dades particulares. Essa escolha foi feita a partir do fácil acesso às unidades e ao momento da formação em que se encontram – referindo-se entre o quinto e o oitavo período.

A partir dessa investigação, procuramos analisar e comparar as mesmas de acordo com o currículo estabelecido pela ABEPSS, e identificar a presença dos enfo-ques administrativos, técnicas do planejamento, desenvolvimento de políticas e na metodologia do Serviço Social.

Esses enfoques foram definidos a partir das reflexões de Barbosa9 (1980) sobre

a pesquisa de Sposati (1976)10 – um dos primeiros estudos feitos sobre a inserção do

planejamento na formação; e pela autoria do presente trabalho a partir da orientação da ementa base da ABEPSS.

9 BARBOSA apud SPOSATI, 1980.

10 Em 1976, Aldaiza de Oliveira Sposati analisou a temática na sua dissertação de mestrado: “Estudo do Ensino de Planejamento na Formação do Assistente Social”

(27)

A partir dessas contribuições classificamos a ênfase dada nas ementas pesqui-sadas da seguinte maneira:

a) enfoque administrativo: a perspectiva sobre as principais teorias organizaci-onais e modelos gerenciais, em aspectos de ordenação e gerência; ênfase em asses-soria e consultoria (espaços ocupacionais do Serviço Social que vem ganhando des-taque na atual conjuntura).

b) enfoque nas técnicas do planejamento: perspectiva sobre as técnicas do pla-nejamento; planejamento participativo e estratégico, elaboração de planos, programas e projetos – em especial o de intervenção.

A presença do projeto de intervenção se coloca como relevante na formação porque

o cotidiano oferece ao profissional um conteúdo rico para análise e in-tervenção, dado sua natureza ambivalente: ao mesmo tempo escamo-teia e oferece pistas sobre as contradições em curso no movimento real; sendo, também, o solo concreto das práticas profissionais dos as-sistentes sociais. (LIMA, 2014, p. 187)

E ainda porque desenvolve a dimensão investigativa e interpretativa do profissional a ser formado.

Sobre a ênfase na formulação de planos, programas e projetos, Carvalho (1978 apud Teixeira, 2009) salienta que são aspectos que facilmente se confundem com o planejamento enquanto processo:

O planejamento é muitas vezes confundido com o plano, programa ou projeto, os quais são apenas meios pelos quais o planejamento se ex-pressa. Carvalho (1978) torna claro o lugar de cada um no interior do processo geral que pretende concretizar nas políticas públicas (p.557).

Teixeira (2009) ainda salienta que esses componentes do planejamento correspon-dem a cada um dos meios pelos quais se expressa o planejamento de acordo com seu grau de abrangência, e contribui na sua compreensão a partir da definição de cada um deles da seguinte forma:

Plano – é o documento mais abrangente e em geral, que contém estu-dos, análises situacionais ou diagnósticos necessários à identificação dos pontos a serem atacados, dos programas e projetos necessários,

(28)

dos objetivos, estratégias e metas de um governo, de um Ministério, de uma Secretaria ou de uma Unidade.

Programa – é o documento que indica um conjunto de projetos cujos resultados permitem alcançar o objetivo maior de uma política pública. Projeto – é a menor unidade do processo de planejamento. Trata-se de um instrumento técnico-administrativo de execução de empreendimen-tos específicos, direcionados para as mais variadas atividades inter-ventivas e de pesquisa no espaço público e no espaço privado (p. 557).

Ou seja, a principal diferença entre eles se dá no âmbito da abrangência e do grau de agregação, levando-se em consideração o detalhamento dado em cada um, sendo o Plano o mais abrangente, e o projeto a menor unidade.

c) enfoque no desenvolvimento de políticas: perspectiva sobre a elaboração, coordenação, gestão, execução e avaliação de políticas.

Discorrendo sobre a importância deste enfoque, Teixeira (2009) legitima que, “o Serviço Social vem alçando funções de comando e liderança em vários espaços do Poder Judiciário, Executivo e Legislativo, precisando estar preparado para os traba-lhos de gestão e planejamento que lhe atribuem” (p.555), uma vez que sua atuação direta com a população lhes dá uma compreensão maior sobre o todo. Essa atuação no desenvolvimento de políticas deu aos assistentes sociais ainda uma maior impor-tância nesses espaços sócio-ocupacionais com os processos de descentralização das políticas públicas nas três instâncias governamentais (federal, estadual e municipal) pós Constituição Federal de 1988.

d) enfoque nas metodologias do Serviço Social: perspectiva sobre o propósito do planejamento para o Serviço Social e sua operacionalização dentro da prática pro-fissional preocupada com seus princípios éticos e com suas especificidades dentro da divisão sócio-técnica do trabalho.

3.1 - Análise das ementas

Segundo Barbosa, “na formação do assistente social o planejamento deve ser refletido a partir do referencial que orienta o curso, ou seja, da indagação acerca de que tipo de profissional o curso está pretendendo formar” (1980, p. 124); deste modo,

(29)

optamos por analisar as ementas porque são nelas que as unidades buscam apre-sentar os objetivos pretendidos na disciplina e sua contribuição com o restante do currículo.

No quadro abaixo, podemos observar as ementas referidas, discriminando-as segundo a instituição a que se referem11.

Quadro 1. Ementas segundo as Escolas e Faculdades de Serviço Social.

Escolas e Faculdades de Serviço Social Nome da Disciplina Ementa Pontifícia Universi-dade Católica (PUC – Rio)

Planeja-mento Social

Concepção de planejamento em Serviço Social. O conhecimento da realidade como fundamento do planejamento social. Plane-jamento participativo em programas de Ser-viço Social. Instrumentos e técnicas. Universidade Castelo Branco (UCB) Planeja-mento e Ad-ministração de Organiza-ções, Pro-gramas e Projetos So-ciais

Serviço Social e Gestão Social. O debate teórico-metodológico no campo do Planeja-mento e Administração. Concepções, ní-veis, dimensões e enfoques. Planejamento e administração de Planos, Programas e Projetos Sociais. O Serviço Social na ges-tão de Programas e Projetos Sociais.

Universidade do Es-tado do Rio de Ja-neiro (UERJ)

Planeja-mento Social

Planejamento e capitalismo. Característi-cas da intervenção do Estado e planeja-mento no Brasil. Teorias e modalidades de planejamento. Estratégias participativas e as tendências de descentralização e muni-cipalização. O trato com indicadores econô-micos e sociais e o orçamento público. Ge-rência, planejamento e captação de recur-sos em ONGs e congêneres. Serviço Social e planejamento: elaboração, coordenação, gestão, execução e avaliação de políticas, programas e projetos sociais; assessoria e consultoria. Análise de experiências. Universidade Federal

Fluminense (UFF)

Planeja-mento e

Ser-viço Social

O planejamento no Serviço Social: determi-nações conceituais de plano, projeto e pro-grama. Concepção e metodologia de plane-jamento estratégico e participativo. Elabo-ração e execução de planos, programas e projetos. O papel do assistente social na proposição, implantação, monitoramento e

11 É importante ressaltar que o que se pretende com este trabalho não é “falar mal” ou “falar bem” de determinada instituição, mas sim compreender de maneira mais elucidativa como acontece o processo de aproximação do assistente social com a temática dentro de sua formação a partir de uma análise no Rio de Janeiro.

(30)

avaliação das políticas públicas. Processo de avaliação e gestão e seus aspectos me-todológicos. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Planeja-mento e pro-jetos sociais

O papel do planejamento no Serviço Social. Determinações conceituais de plano, pro-grama e projeto. Concepção e metodologia de planejamento estratégico e participativo. Instrumentos e técnicas para elaboração e execução de planos, programas e projetos. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) Planeja-mento e Gestão em Serviço So-cial

A elaboração, coordenação e execução das políticas sociais pelo Serviço Social. Fun-ções de planejamento em órgãos da admi-nistração pública, empresas e organiza-ções da sociedade civil. Financiamento e orçamento público. Universidade Veiga de Almeida Planeja-mento, ela-boração e gestão de projetos so-ciais.

Origem e natureza do Planejamento Social. O Planejamento Social no Brasil. O plane-jamento e suas relações com as políticas sociais; objetivos e metodologias. O plane-jamento normativo e o planeplane-jamento tradici-onal. Planejamento estratégico e planeja-mento participativo. Diversos aspectos do processo de planejamento; contextualizar historicamente o processo de mento. Analisar a incorporação do planeja-mento pelo Serviço Social. As ferramentas de gestão. O marco lógico como instru-mento de avaliação de processo.

Fundamentados pelas diretrizes, cada unidade interpretou os conteúdos da mesma e os adaptou à sua realidade de modo que podemos identificar um conjunto de disciplinas orientadas para a “gestão” de políticas sociais, dentre as quais podemos citar a de planejamento, administração, orçamento, avaliação e monitoramento e etc. Por vezes, estes conteúdos se somam em uma mesma disciplina (administração e orçamento, planejamento e avaliação, etc.). Por isso, apesar de o tópico estipulado pelas diretrizes da ABEPSS unifica-las como “Administração e Planejamento em Ser-viço Social”, conforme foi observado anteriormente no presente trabalho, a maioria (dentre o universo da amostragem feito) possui em sua grade, uma matéria específica para “administração” – ou ainda somando administração a orçamento em uma mesma disciplina – dividindo o conteúdo. Isso também implicou sobre a presença ou ausência do enfoque administrativo nas ementas, já que pode existir uma outra disciplina espe-cializada na administração.

(31)

A pesquisa com base nas sete escolas e faculdades de Serviço Social apre-sentou uma variação interessante acerca da prevalência dos enfoques que, já adian-tamos, não se expressou na diferenciação das unidades de acordo com sua vincula-ção ao ensino público ou privado.

Gráfico 1. Prevalência dos Enfoques nas ementas nas sete Escolas.

De todos os quatro enfoques selecionados para análise, o único que foi identi-ficado de forma clara e explicita em todos as ementas foi o enfoque que tem por fina-lidade a Metodologia do Serviço Social, seguido de perto pela presença das técnicas do planejamento. Verificou-se que, justamente, esses dois enfoques foram os que se apresentaram mais vezes juntos (seis das sete ementas). Não obstante, considera-mos que o somatório desses dois enfoques seria um “mínimo ideal” a ser absorvido pelo profissional e levado em consideração em sua prática, sobre a qual é fundamen-tal a associação da técnica com a metodologia (e a motivação) que é intrínseca da profissão.

Em relação à presença do enfoque nas técnicas, Battini (2006) nos expõe que “é necessário reconstruir o processo de planejamento não mais reproduzindo a pers-pectiva instrumental burocrática, mas concebendo-o numa perspers-pectiva prático-crítica” (p.7). Ou seja, que a parte instrumental não pode estar descolada de uma reflexão crítica. Acerca desse aspecto, é importante destacar a importância da elaboração de projetos de intervenção para a profissão, pois segundo Lima (2014)

16%

31% 16%

37%

PREVALÊNCIA DOS ENFOQUES

1. Adminstrativo 2. Técnicas do Planejamento

(32)

o domínio de certos conhecimentos e técnicas que particularizam a di-mensão técnico-operativa do trabalho profissional pode permitir segu-rança e habilidade ao profissional para produzir respostas alternativas às comuns práticas irreflexivas e miméticas no cotidiano do assistente social. (p.184).

Nas ementas, este enfoque se torna visível na frequência dos instrumentos e técnicas, dos quais se destaca o projeto de intervenção e a elaboração de planos, programas e projetos. Para além destes, nota-se ainda o aparecimento do mento participativo” e “planejamento estratégico” como faces distintas do “planeja-mento normativo” (mais burocratizado) e “tradicional”.

Barbosa (1980, p. 123) apresenta que “há uma certa tendência para instrumen-talizar o futuro profissional de Serviço Social para a prática do planejamento, isto é, mais com o planejamento como aplicação técnica, do que como consciência crítica da realidade para sua transformação”, donde se identifica a suma importância de asso-ciar este enfoque ao da metodologia do Serviço Social no processo de formação pois

é a colocação do planejamento como instrumento auxiliar da metodo-logia do Serviço Social, ao lado dos aspectos referentes a dimensão e interação do planejamento, bem ainda das posturas ideológicas que orientam uma dada concepção de homem, de mundo e de sociedade” (op cit p. 124).

O que de certo modo se pode identificar nas ementas, já que, como supracitado, os dois enfoques aparecem juntos na maioria das vezes.

Cabe sinalizar que no tocante à este enfoque nas técnicas, na análise das ementas e programas foi identificado a presença das terminologias “planejamento es-tratégico” e “planejamento participativo, sobre os quais tornou-se relevante apresentar algumas considerações.

Um primeiro ponto a ser mencionado é de que ambas as terminologias repre-sentam concepções recentes de planejamento as quais ainda são debatidas na pro-fissão ou já foram descartadas. Em segundo, vale ressaltar que ambos se referem a uma ferramenta de intervenção na realidade, e por esse motivo, não foram melhor aprofundados e especificados nesta pesquisa. Por fim, vale apresentar que as dife-renças identificadas são na sua formulação, sobre a qual, no caso do planejamento participação a formulação pressupõe que os sujeitos destinatários da ação planejada

(33)

estejam presentes e atuando na sua formulação; e que esta no estratégico se dá pelos sujeitos gestores – sem que necessariamente haja a participação dos destinatários diretos do planejamento.

Acerca das metodologias do Serviço Social no planejamento, as ementas apre-sentam-nas a partir de análises da “incorporação do planejamento pelo Serviço Social” e do debate “teórico-metodológico”12 do Serviço Social no Planejamento, ainda que a

sua operacionalização seja permeada especialmente pela administração.

Nota-se uma tímida colocação sobre as análises de experiências. Sobre este assunto Barbosa (1980) coloca sua importância ao afirmar que “é uma questão de coerência, pois em todo o curso de Serviço Social fala-se em participação, e no mo-mento da prática a população é alijada do processo, numa contradição entre teoria e prática” (p. 128); de modo que a apreensão sobre esse enfoque não pode fugir da discussão junto à ligação com a população – usuários diretos e público a ser atendido pelo assistente social.

Observamos esse aspecto na ementa da UFF que nos apresenta “o planeja-mento no Serviço Social: determinações conceituais de plano, projeto e programa. (...) O papel do assistente social na proposição, implantação, monitoramento e avaliação de políticas públicas”; e da UVA que coloca como “analisar a incorporação do plane-jamento pelo Serviço Social”.

Com menor presença do que os demais aspectos nas ementas, mas com grande importância, o enfoque administrativo aparece como “função do planejamento” na administração e nas suas formas, como o “trato de indicadores” e o orçamento. Battini (2007) identificou essa pouca preocupação com o enfoque através da “falta de domínio desse instrumento de gestão por parte de significativa parcela dos sujeitos envolvidos”13.

A supressão desse domínio vai influenciar diretamente a prática também na construção de diagnósticos precisos para a intervenção.

Neste enfoque, temos a experiência da UCB como definição clara em sua ementa, a saber como “Serviço social e gestão social – o debate teórico metodológico no campo do Planejamento e Administração”.

12 Expressões utilizadas nas ementas.

(34)

Quanto ao desenvolvimento de políticas, sobre o qual Barbosa (1980) se atenta ao expor que “a maior ênfase está no planejamento macrossocial, numa identidade com o desenvolvimento, ou seja, com o Planejamento Social posicionando-se, assim, como instrumento de Política Social” (p. 124), as ementas o destacam no uso fre-quente das análises de políticas e na sua elaboração, talvez deixando um pouco de lado a apreensão do cotidiano nessa tarefa. Nesse aspecto foi identificado em apenas uma ementa a “análise de experiências”. Nisto, identifica-se a contribuição da ementa da Unirio: “A elaboração, coordenação e execução das políticas sociais pelo Serviço Social”.

Segundo Matos (2015), “uma profissão só se afirma e se desenvolve se rponder às demandas postas pelos diferentes segmentos da sociedade”. No caso es-pecífico do Serviço Social, por se tratar de uma profissão interventiva e comprometida com a superação da ordem societária vigente, torna-se imprescindível a apropriação dos espaços de gestão, uma vez que estes estão assegurados pelos princípios do Código de Ética e resguardados pela Lei de Regulamentação da profissão. Assim sendo, o desenvolvimento de políticas se coloca como fator de extrema importância para a compreensão do assistente social como capacitado para o desenvolvimento de tais funções. Dando-se um menor espaço para esse enfoque, haverá implicações diretas na prática.

Gráfico 2. Prevalência dos Enfoques nas instituições públicas.

18% 27% 18% 37%

P R E VA LÊ N C I A D O S E N F O Q U ES N A S

I N ST I T U I ÇÕ ES P Ú B L I C A S

1. Adminstrativo 2. Técnicas do Planejamento 3. Desenvolvimento de Políticas 4. Metodologias do Serviço Social

(35)

Gráfico 3. Prevalência dos Enfoques nas instituições privadas.

Outro ponto relevante na pesquisa se deu na análise da natureza da instituição e do programa. Embora a pesquisa tenha selecionado quatro unidades públicas e três privadas, a natureza delas não expressou uma semelhança tão grande com relação ao que propunham ou de uma mesma linha de raciocínio no programa. Observou-se, por exemplo, uma semelhança maior entre o programa da UVA (instituição privada) com a UFRJ (pública), do que da UFRJ com a UERJ que também é pública.

Como podemos observar nos gráficos, a prevalências dos enfoques não se deu de forma diferente nas públicas e privadas, mas sim acompanhou o mesmo ritmo. O que apresenta um perfil relativamente uniforme na construção do perfil ‘planejador’ do assistente social nas diferentes unidades de ensino do Rio de Janeiro

.

3.2 -

Análise dos programas

12% 37% 13% 38%

P R E VA LÊ N C I A D O S E N F O Q U ES N A S

I N ST I T U I ÇÕ ES P R I VA DA S

1. Adminstrativo 2. Técnicas do Planejamento 3. Desenvolvimento de Políticas 4. Metodologias do Serviço Social

(36)

Posto que a ABEPSS não dispõe em suas considerações uma bibliografia indi-cativa sobre os tópicos de estudo, os programas das disciplinas, nas diferentes Esco-las de Serviço Social, são bastante diversos14 e correspondem ao acordado entre a

instituição e os profissionais que a ministram. No entanto, podemos encontrar a pre-sença de alguns autores clássicos15 em comum, tais como Mário da Costa Barbosa,

Myriam Veras Baptista e Joaquina Barata Teixeira – esta última compõe o quadro de autores do livro “Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais” do conjunto CFESS/ABEPSS (2009). O que em último caso ainda reflete uma preocupa-ção – ainda que residual – da apresentapreocupa-ção da bibliográfica produzida pela própria categoria.

Assim como identificado na análise das ementas, também nos programas (bi-bliografias indicadas) é possível vislumbrar que a natureza pública ou privada das instituições não corresponde a um mesmo método em relação a forma de ensino do Planejamento. De todo modo é possível observar que nas instituições públicas (UFRJ, UERJ, UFF e Unirio) presentes na pesquisa há uma preocupação em apresentar o processo de concepção do Planejamento e fazer um balanço da sua importância frente a profissão, considerando sua inserção no modo de produção vigente e as mu-danças no perfil profissional – sem deixar de incluir os novos espaços ocupacionais, tais como as ONGs.

Em contrapartida, vemos que nas instituições privadas há uma tendência à fo-calização do tema na prática profissional, com menos bibliografias e uma abordagem mais instrumental, muitas vezes com o uso de manuais.

Nas bibliografias é factível observar o número considerável de referências vol-tadas ao trabalho e gestão em ONGs, assim como a atuação na gestão de pessoas, campos de trabalho relativamente ‘novos’ na profissão, mas que, com o avanço neo-liberal, e as proposições do capitalismo frente à categoria, vem ganhando espaço tam-bém na formação. Isso se explicita na apreensão de bibliografias de outras áreas pro-fissionais (que não o Serviço Social) – como por exemplo as referências relativas à

14 As bibliografias básicas indicadas nas diferentes Escolas de Serviço Social encontram-se no anexo do trabalho.

15 Entende-se aqui por ‘autores clássicos’, alguns dos primeiros autores a sistematizarem o planeja-mento no Serviço Social e responsáveis por impulsionarem os demais estudos acerca da temática dentro da profissão; bem como os autores utilizados em materiais desenvolvidos pelo conjunto CFESS/ABEPSS.

(37)

Administração (ciência) o que reflete a tendência à apreensão da técnica priorizada sobre os outros aspectos; e o uso frequente de manuais em detrimento de maiores discussões acerca do desenvolvimento da técnica numa perspectiva mais reflexiva.

Nota-se ainda a presença da apreensão sobre um determinado “modo” de pla-nejamento específico, com a adoção do participativo ou do estratégico, e até mesmo da apresentação dos dois.

Com relação às bibliografias indicadas16 é possível confirmar a presença dos

enfoques acima analisados nas ementas, o que confirma a coerência apresentada pelos programas nas diferentes instituições e seu compromisso com os atores de re-gulação da profissão e formação – CFESS, CRESS, ABEPSS, dentre outros – dentro dos programas.

16 Consideramos apenas as bibliografias básicas recomendadas dada a natureza da pesquisa mono-gráfica. Todavia destacamos que em quase todos os programas selecionados existe a presença de uma vasta bibliografia complementar.

(38)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ocupando uma posição privilegiada no âmbito da profissão como método e técnica da prática interventiva, o planejamento compõe ainda um lugar nas atribuições e competências do assistente social, e como visto, ainda que possa ser considerado recente no histórico da profissão, já configura uma atividade aprimorada no seio da formação. Em 1980, Mário da Costa Barbosa já apresentava que

é essa forma inovadora de agir que a disciplina de Planejamento no curso de Serviço Social deve propiciar aos futuros profissionais, desen-volvendo uma dada maneira de pensar refletida e criativa, incentiva-dora de arrojos que ofereçam elencos de alternativas e uma prática sempre renovada (...). Onde o assistente social não seja tido como agente de mudanças, mas o facilitador do processo de participação da população no planejamento da mudança, de sua execução e respon-sabilidade das ações empreendidas(Barbosa, op cit p. 125).

Esse texto, embora datado nos primeiros anos após o Congresso da Virada e ainda na égide da ideologia desenvolvimentista, permanece atual na necessidade de pensar o papel do assistente social em face à incorporação do planejamento, seja nos seus aspectos de apropriação das técnicas e habilidades nele implicados, seja em reflexões de cunho teórico operacional.

Conclui-se que para tal é necessária uma atuação ética, comprometida com o Projeto Ético Político da profissão, e preocupada com a apreensão do cotidiano, pre-servando as fases e necessidades do trabalho desenvolvido, para o melhor atendi-mento das demandas propostas pelos usuários. Pois, como salienta Matos (2015), “ainda que sejam necessárias regulamentações profissionais, o reconhecimento da relevância de uma profissão vem da capacidade de resposta de seus (suas) próprios (as) profissionais” (p. 682).

Vale ressaltar que realizar uma pesquisa com material pretendido proveniente de instituições de natureza, estrutura e de surgimento sócio histórico diferente requer uma atenção meticulosa e a compreensão de que as diferenças não são necessaria-mente deletérias. A presente análise, por esse ângulo, não pretendeu discutir sobre certo ou errado ou mesmo sobre qual escola estaria mais de acordo ou menos de acordo, mas sim tentar identificar um perfil de formação dos assistentes sociais no Rio

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