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Depressão na infância

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DHE- DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA

ANGÉLICA MARIA SCHNEIDER

DEPRESSÃO NA INFÂNCIA

SANTA ROSA 2016

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ANGÉLICA MARIA SCHNEIDER

DEPRESSÃO NA INFÂNCIA

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial ao curso de Psicologia da Universidade Regional do Estado do Rio Grande do Sul, UNIJUÍ, para obter o título de psicóloga. Departamento de Humanidades e Educação – DHE.

Orientadora: Ms Taís Cervi

SANTA ROSA 2016

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DEDICATÓRIA

Dedico esta, bem como as demais conquistas, àquela pessoa que se fez constante na minha vida acadêmica, me apoiando, dando força e carinho. Agradeço por ela ter sido paciente nesse percurso e por ter me apoiando em todos os

momentos não apenas dessa

trajetória, mas de toda a minha vida. Mãe, essa vitória não é só minha, é sua também.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos meus pais, Lino e Inês, que com muito carinho e apoio não mediram esforços para que eu chegasse até essa etapa da minha vida.

Ao meu irmão, Augusto, e a todos os familiares, pela participação involuntária, mas significativa nesse trabalho.

Aos meus amigos Darlene, Rúbia, Bruna, Jana, Cris, Mari, Tieli, Luana, Carinne, Letícia, Tayline, Cleonice e Juliana que me deram apoio, incentivaram-me na busca pelos meus objetivos e auxiliaram nos momentos mais difíceis desse percurso. Agradeço a todos por fazerem parte da minha vida e peço desculpas pelas vezes em que estive ausente devido aos estudos.

Agradeço também a minha orientadora, Taís Cervi, que com suas importantes contribuições, paciência nas orientações e incentivo possibilitou-me o êxito de possibilitou-meu trabalho.

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EPÍGRAFE

“Se você encontrar um caminho sem obstáculos, ele provavelmente não leva a lugar nenhum.”

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RESUMO

A depressão infantil vem recebendo destaque no decorrer dos últimos anos e está repercutindo com maior intensidade no contexto atual. O objetivo deste estudo foi analisar a produção científica nacional no que diz respeito à depressão infantil. Trata-se de um estudo de revisão de literatura narrativa de abordagem qualitativa e caráter descritivo. Realizou-se uma busca eletrônica que ocorreu nos meses de julho e agosto de 2016, sem recorte temporal, utilizando duas bases de dados: a Base de Dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e a Base de Dados Scientific Eletronic Library Online (SCIELO). Os descritores de assunto utilizados foram “depressão”, crian$ e “PORTUGUES”. A seleção da amostra resultou em 10 artigos, que foram analisados por meio da análise de conteúdo proposta por Minayo (2014), dos quais emergiram três categorias/capítulos. A primeira está relacionada às características da depressão infantil e à influência do ambiente familiar e social. A segunda diz respeito à depressão infantil e às consequências no rendimento escolar e a terceira e última categoria/capítulo refere-se aos instrumentos para diagnóstico e avaliação da depressão infantil. Concluiu-se que a depressão na infância está associada a questões psíquicas, físicas e cognitivas que podem ocasionar em muitas consequências na vida da criança, interferindo significativamente nas suas relações familiares, sociais e escolares. Além disso, verificou-se a importância dos instrumentos para a realização precisa do diagnóstico e uma carência de estudos que se dedicam à depressão infantil, mais especificadamente no que diz respeito à área da Psicanálise.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 7

1 METODOLOGIA ... 12

1.1Delineamento do estudo ... 12

1.3 Análise dos dados ... 13

2 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 15

3 A DEPRESSÃO INFANTIL: CARACTERIZAÇÃO E A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE FAMILIAR E SOCIAL ... 17

3.1 Depressão infantil ... 18

3.2 Influência Familiar ... 22

3.3 Influência de Fatores Sociais ... 23

4 A DEPRESSÃO INFANTIL E SUAS CONSEQUÊNCIAS ... 26

NO RENDIMENTO ESCOLAR ... 26

5 INSTRUMENTOS PARA DIAGNÓSTICO ... 30

CONCLUSÃO ... 34

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INTRODUÇÃO

A depressão é um transtorno de humor severo, que pode atingir todas as faixas etárias e apresentar um alto crescimento em crianças e jovens. Os motivos desse aumento não foram esclarecidos, mas a depressão se apresenta como o mais novo mal-estar da contemporaneidade, pois o sujeito depressivo não consegue se adaptar às normas propostas pelo social, ocupando um lugar de desajuste. Dessa forma, ele não é capaz de acompanhar, ao mesmo tempo, o que o Outro1 demanda (KEHL, 2009).

Kehl (2009) faz um recorte do autor Fédida, que afirma que a origem da depressão está relacionada a uma questão de tempo, ou seja, o sujeito depressivo não se encontra na mesma sintonia com o tempo do outro, apresentando, por isso, sentimentos inquietantes e angustiantes. Dessa forma, a depressão torna-se um mal-estar que intimida àqueles que estão acostumados com os imperativos do século, no qual tudo precisa ser realizado às pressas, e há a busca de ostentação e de exibicionismo do consumo excessivo, entre outros. Esse mal-estar se relaciona a um sintoma social, pois desestrutura lenta e silenciosamente uma rede de sentidos e crenças que sustentam e organizam a vida social do sujeito do século XXI. Dessa maneira, o sujeito depressivo sente-se perdido no seu tempo, sendo que a solidão provoca o agravamento de seu estado, impedindo o contato com o social.

De acordo com Kehl (2009):

Depressão é o nome contemporâneo para os sofrimentos decorrentes da perda do lugar dos sujeitos junto à versão imaginário do Outro. O sofrimento decorrente de tais perdas de lugar, no âmbito da vida pública (ou, pelo menos, coletiva), atinge todas as certezas imaginárias que sustentam o sentimento de ser. O aumento da incidência dos chamados “distúrbios depressivos”, desde as três últimas décadas do século XX, indica que devemos tentar indagar o que as depressões têm a nos dizer, a partir do lugar até então ocupado pelas antigas manifestações da melancolia, como sintomas

1

Para descrever o conceito de Outro, Roudinesco (1998) desenvolve o termo utilizado por Jaques Lacan que designa um lugar simbólico o – significante, a lei, a linguagem, o inconsciente [...] que determina o sujeito, ora da maneira externa a ele, ora de maneira intra-subjetiva em sua relação com o desejo. Pode ser [...] escrito com maiúscula, opondo-se então a um outro com letra minúscula, definido como outro imaginário ou lugar da alteridade especular. [...] Por isso, cunhou uma terminologia específica (Outro/outro) para distinguir o que é da alçada do lugar terceiro, isto é, da determinação pelo inconsciente freudiano (Outro), do que é do campo da pura dualidade (outro) no sentido da psicologia.

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das formas contemporâneas do mal-estar (KEHL, 2009, p.49, grifo do autor).

A expressão melancolia é usada desde a antiguidade, sendo que muitos a descreveram. Hipócrates, no século IV a. C., classificou a mania e melancolia como formas possíveis de loucura. No entanto, as primeiras noções sobre o conceito de transtorno de humor foram construídas no século XIX por dois franceses, Bailarger e Falret, que as descreveram como uma variação entre episódios de humor maníaco e depressivo separados por períodos de lucidez (KAPLAN; SADOCK; GREBB, 1997).

Na contemporaneidade, a depressão abrange uma condição sintomática do mal-estar. Ela, desde os tempos antigos (Idade Média) até a Modernidade, foi ocupada pela melancolia, sendo que não era associada à idéia de doença, mas a um traço predominantemente do intelecto e do refinamento social. O termo melancolia, antes de Freud, era considerado um mal-estar que revelava um desajuste entre integrantes de alguma sociedade e as maneiras com o qual se fazia o laço social. Era representado, também, como uma forma pela qual o sujeito perdia o lugar junto ao grande Outro. Assim sendo, os estados melancólicos são entendidos “como variações do sintoma social e representavam preciosos elementos da compreensão das condições de inclusão dos sujeitos no laço social ao longo da história” (KEHL, 2009, p.44).

Freud (1917), na tentativa de compreender a depressão, descreveu-a como uma relação entre a perda objetal2 e a melancolia, dizendo que o sujeito deprimido sente-se frustrado e essa frustração é voltada a si mesmo (para seu íntimo), de modo que ocorre a identificação com esse objeto perdido. Dessa forma, o sujeito melancólico manifesta um grande empobrecimento do seu ego e uma excessiva diminuição da autoestima. Logo, seu ego apresenta-se como privado de valor, impedido de realizar-se e desprovido de apreço, fazendo com que o sujeito sinta inferior ao Outro.

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Freud apresenta esse termo para explicar como o estado melancólico se desenvolve como sendo a perda de um objeto constituinte do sujeito, o objeto de amor. O processo de constituição se dá na escolha objetal, numa ligação da libido com determinada pessoa, sendo que, num dado momento, ocorre um desencanto por essa pessoa amada e essa relação objetal se “destrói”. A libido desse objeto foi retirada e desloca-se para um novo objeto; todo esse investimento sobre esse objeto mostra-se faltante quanto às resistências e foi “destruído”. Toda a energia psíquica desse processo não foi deslocada para outro objeto, mas afastada para o ego, numa tentativa de estabelecer uma identificação entre o ego e o objeto abandonado (FREUD, 1917, p. 254).

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O sujeito depressivo sente-se culpado por não corresponder aos ideais propostos da contemporaneidade, ou seja, ser aquele sujeito que precisa estar feliz e bem o tempo todo, em que “a tristeza, os desânimos, as simples manifestações da dor de viver parecem intoleráveis em uma sociedade que aposta na euforia como valor agregado a todos os pequenos bens em oferta no mercado” (KEHL, 2009, p.31). Da mesma forma, Roudinesco (2000) afirma que “a depressão tornou-se uma epidemia psíquica das sociedades democráticas, ao mesmo tempo em que se multiplicam os tratamentos para oferecer a cada consumidor uma solução honrosa” (p. 17). Assim, o sujeito, não dando conta dos ideais apresentados pelo social, recorre a medicamentos que, de certa forma, completem esse sofrimento.

As substâncias químicas transformaram o cenário que antes era denominado “loucura”, sendo os manicômios esvaziados e as camisas de força substituídas por medicamentos. Sabe-se que os medicamentos não podem curar uma doença mental, mas inovaram as representações do psiquismo e criaram um novo homem, civilizado e aparentemente sem demonstração de humor, desprovido de algo que o instigue e portador de um sentimento de desvalorização por não ser conforme os ideais que lhe são propostos (ROUDINESCO, 2000).

Em meio a tudo isso, a depressão pode se manifestar em qualquer idade e os sintomas se alteram dependendo da faixa etária. Essa patologia não atinge apenas a fase adulta, pois ela está presente em uma grande parcela de crianças e pode estar relacionada com questões do ambiente familiar, social ou escolar.

Constata-se que os problemas emocionais em crianças estão apresentando um enorme crescimento, principalmente a depressão infantil, que se mostra como uma patologia que desliza sobre problemas escolares, problemas relacionados à aprendizagem, problemas comportamentais e perdas do desempenho psicossocial. Além disso, essa patologia é reflexo dos problemas relacionados a um ambiente familiar desestruturado ou um ambiente no qual a criança vivencia situações de violência física e psicológica.

Em razão disso, a depressão infantil vem ganhando destaque no decorrer destes últimos anos, sendo que, com o pequeno avanço dos diagnósticos, essa patologia está repercutindo com mais intensidade no

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contexto atual. Anteriormente, a depressão era vista apenas no contexto do adulto, de modo que não se acreditava que ela poderia existir em crianças. Tal fato era aceito porque pensava-se que elas não tinham maturidade psicológica e nem estrutura cognitiva para a experiênciar. Isso porque tinha-se a ideia de que a criança não saberia falar sobre essa patologia por falta de compreensão para poder verbalizar esses sentimentos.

Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo discorrer acerca do tema depressão infantil, bem como sobre os fatores que levam a criança a desencadear sintomas depressivos com relação à família, ao social e à escola. Tal temática justifica-se a partir de questionamentos sobre a possibilidade de que as crianças poderiam vivenciar sintomas depressivos e, além disso, a partir do desejo de investigar os impactos dessa patologia na vida infantil.

Tal investigação foi realizada a partir de uma revisão de literatura narrativa que utilizou a pesquisa de artigos científicos relacionados ao tema em questão. Com base nesses artigos, foram desenvolvidas cinco capítulos.

O primeiro capítulo refere-se à “Metodologia”, no qual descreve a maneira como o trabalho foi estruturado, utilizando como método, a analise de conteúdo de Minayo3.

O capítulo seguinte descreve os “Resultados e Discussões” encontrados na pesquisa. Sendo que, a partir da análise dos artigos selecionados, emergiram três categorias, à categorização da depressão infantil e à influência do ambiente familiar e social. A segunda categoria está relacionada à depressão infantil e às consequências no rendimento escolar. E a terceira, diz respeito aos instrumentos utilizados para a avaliação e o diagnóstico da depressão infantil.

O terceiro capítulo, intitulado “A depressão infantil: caracterização e a influência do ambiente familiar e social” serão desenvolvidas questões decorrentes da incidência do ambiente familiar e social e sua influência como causadores de graves efeitos na vida da criança.

No capítulo seguinte, denominado “A depressão infantil e suas consequências no rendimento escolar”, serão abordadas as consequências decorrentes da depressão infantil no rendimento e na vida escolar da criança.

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Isso se justifica porque há pesquisas que indicam que crianças depressivas apresentam um baixo rendimento escolar por conta dos sintomas associados à depressão, o que leva a afetar seu desempenho psicossocial.

Por fim, o último capítulo – “Instrumentos para diagnóstico e avaliação da depressão infantil”. Sendo que os instrumentos que serão aqui apresentados são os mesmos identificados ao longo dos artigos selecionados para essa pesquisa.

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1 METODOLOGIA

1.1 Delineamento do estudo

A presente pesquisa se refere a um estudo de revisão narrativa que não utiliza critérios formais ou regrados na busca de análise crítica de literatura, sendo que essa busca não precisa terminar pelas fontes de informação e não utiliza estratégias sofisticadas ou exaustivas para a investigação de artigos. Os estudos selecionados e a interpretação das informações vão de acordo com os critérios de cada autor, de modo que esse é o modelo de estudo utilizado para a fundamentação teórica de artigos, dissertações, teses e trabalhos de conclusão de curso. Esse estudo baseia-se no modelo de abordagem qualitativa4.

1.2 Procedimentos

A pesquisa foi realizada nos meses de julho e agosto de 2016, sem recorte temporal, utilizando duas bases de dados: a Base de Dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e a Base de Dados Scientific Eletronic Library Online (SCIELO). Em ambas as bases de dados, a pesquisa foi realizada por meio do formulário avançado. Para a realização da busca das produções científicas na Base de Dados LILACS, utilizou-se os descritores e idioma da seguinte maneira: “depressão” [Descritor de assunto] and crian$ [Descritor de assunto] and “PORTUGUES” [Idioma]. A busca realizada na SCIELO ocorreu da seguinte maneira: “DEPRESSAO” [Todos os índices] and crian$ [Todos os índices]. Para a realização dessa pesquisa, foi utilizado o símbolo de truncagem $ (cifrão) para pesquisar palavras da mesma origem no descritor de assunto, de modo que a busca sobre o assunto fosse mais abrangente.

4

As informações referentes à revisão narrativa foram retiradas da biblioteca Dante Moreira Leite, Instituto de Psicologia, da Universidade de São Paulo. Disponível em:

http://www.ip.usp.br/portal/images/biblioteca/revisao.pdf

http://www.fca.unesp.br/Home/Biblioteca/tipos-de-evisao-de-literatura.pdf. Acesso em 12/08/2016.

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Foram utilizados como critérios de inclusão artigos que fossem originais, publicados em periódicos científicos, em português, disponíveis na íntegra gratuitamente e que atendessem à temática relacionada à pesquisa - depressão infantil. Como critérios de exclusão, foram utilizados estudos de revisão, estudos de reflexão, relatos de experiências, teses e dissertações, manuais, estudos de caso e livros e artigos que não estavam disponibilizados na íntegra. Para a captação das publicações selecionadas, foram utilizados os links disponíveis diretamente nas bases de dados, a busca no Portal Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o portal do periódico em que o artigo foi publicado.

O estudo foi organizado em cinco etapas, sendo que a primeira iniciou pela delimitação dos descritores de assunto e do idioma. A segunda etapa consistiu na escolha das Bases de Dados a serem utilizadas. Em um terceiro momento, foi realizada a leitura dos resumos e, com isso, pode-se realizar a identificação dos artigos que fariam parte do corpus do estudo. Nesse momento, foram utilizados os critérios de inclusão e exclusão das publicações obtidas durante a busca. Já na quarta etapa foram salvos os artigos científicos selecionados para estudo e identificados em códigos A1, A2 até A10. Por fim, na última fase foi realizada a leitura aprofundada dos artigos, verificando e analisando os principais resultados que cada pesquisa alcançou.

A busca inicial localizou 281 publicações, sendo 116 na Base de Dados LILACS e 165 na Base de Dados SCIELO- cabe ressaltar que alguns artigos se repetiam. Assim, após leituras e análise 10 artigos passaram a compor o

corpus, sendo 7 da LILACS e 3 da SCIELO. Tais estudos foram organizados,

em um quadro, da seguinte maneira: título, ano de publicação, autores, base de dados, instrumentos utilizados, amostra, principais resultados da pesquisa, área de conhecimento, tipo de pesquisa (qualitativa, quantitativa, etc.) e região/estado de procedência da realização da pesquisa.

1.3 Análise dos dados

Para a análise e interpretação dos artigos selecionados, foi utilizada a Análise de Conteúdo Temática, proposta por Minayo (2014), que consiste em “descobrir os núcleos de sentido que compõe uma comunicação, cuja presença

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ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico visado” (p.316). A organização dos resultados foi elaborada a partir de categorias de acordo com as temáticas que surgiram a partir da análise dos artigos.

A organização da análise temática é composta por três etapas, sendo a primeira denominada Pré-análise. Ela “consiste na escolha dos documentos a serem analisados e na retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa” (MINAYO, 2014, p. 316). No caso do presente estudo, essa etapa consistiu na seleção dos artigos a partir dos critérios de inclusão e exclusão.

A segunda etapa, designada de Exploração do Material, “consiste essencialmente numa operação classificatória que visa alcançar o núcleo de compreensão do texto” (MINAYO, 2014, p. 317), ou seja, classifica, em categorias, algumas palavras que irão organizar o conteúdo do trabalho. Essa etapa compreendeu a leitura minuciosa dos artigos para que, partir disso, fossem construídas as categorias. Das publicações selecionadas, foram desenvolvidas categorias de modo a classificar os artigos descrevendo os possíveis assuntos, constituindo-se “como termos carregados de significação, por meio dos quais a realidade é pensada de forma hierarquizada” (MINAYO, 2014, p. 178). Dito de outra forma, foram elaboradas categorias que pudessem organizar de forma padronizada e assim fundamentando o corpo do texto.

Por fim, a terceira etapa objetiva interpretar os resultados obtidos a partir das informações coletadas, de modo que se possa abrir “outras pistas em torno das novas dimensões teóricas e interpretativas, sugeridas pela leitura do material” (MINAYO, 2014, p. 318). Assim, após o exame das categorias – que nesse estudo correspondem aos capítulos, puderam ser feitas inferências, reflexões e considerações acerca da temática.

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2 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da análise das 10 publicações selecionadas (tabela 1), observou-se que a maioria dos artigos é de abordagem quantitativa. Quanto à procedência das publicações, constatou-se que os estudos foram desenvolvidos no Brasil, especialmente na região Sudeste. Destaca-se que todas as produções são recorrentes da área da Psicologia e as publicações datam do ano de 2007 (3 publicações por ano), seguido de 2006 e 2004 (2 publicações por ano) e, por último, 2008, 2009 e 2011 (1 publicação por ano).

Tabela 1: Artigos que compõem o corpus da análise

Código Artigos selecionados para análise

A1

CRUVINEL, Miriam; BORUCHOVITCH, Evely. Sintomas de Depressão Infantil e Ambiente Familiar. Psicologia em Pesquisa, UFJF, vol. 3, n. 1, p. 87-100, 2009

A2

RIBEIRO, Karla Carolina Silveira; OLIVEIRA, Josevânia da Silva Cruz de; COUTINHO, Maria da Penha de Lima. Representações sociais da depressão no contexto escolar. Paidélia, vol. 17, n. 28, p. 417-430, 2007.

A3

OLIVEIRA, Josevânia da Silva Cruz de; RIBEIRO, Karla Carolina Silveira; ARAÚJO, Ludgleydson Fernandes de; COUTINHO, Maria da Penha de Lima. Representações sociais da depressão elaboradas por crianças com sintomatologia depressiva. Mudanças- Psicologia

da Saúde, vol. 14, n. 2, p. 160-170, 2006

A4

CRUVINEL, Miriam; BUROCHOVICH, Elevy. Sintomas Depressivos em Crianças: Estudos com duas versões do CDI. Psicologia Ciência

e Profissão, vol. 28, n. 3, p. 574-585, 2008.

A5

PEREIRA, Dejenane Aparecida Pascoal; AMARAL, Vera Lúcia Adami Raposo do. Validade e Precisão da Escala de Avaliação de Depressão para Crianças. Avaliação Psicológica, vol. 6, n. 2, p. 189-204, 2007.

A6

PEREIRA, Dejenane Aparecida Pascoal; AMARAL, Vera Lúcia Adami Raposo do. Escala de Avaliação de Depressão para Crianças: Um Estudo de Validação. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, vol. 21, n. 1, p. 5-23, 2004.

A7

CRUVINEL, Miriam; BUROCHOVICH, Elevy. Sintomas Depressivos, Estratégias de Aprendizagem e Rendimento Escolar de Alunos do Ensino Fundamental. Psicologia em Estudo, v. 9, n. 3, p. 369-378, 2004.

A8

ENUMO, Sônia Regina Fiorim; FERRÃO, Erika da Silva; RIBEIRO, Mylena Pinto Lima. Crianças com Dificuldade de Aprendizagem e a Escola: Emoções e Saúde em Foco. Estudos de Psicologia, vol. 12, n. 2, p. 139-149, 2006.

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em Crianças com e sem Sintomas de Depressão. Estudos de

Psicologia, vol. 16, n. 3, p. 219-226, 2011.

A10

NACAMURA, Eunice; SANTOS, José Quirino dos. Depressão Infantil: abordagem antropológica. Revista Saúde Pública, vol. 24, n. 1, p. 53-60, 2007.

A partir da análise dos artigos selecionados, emergiram três categorias (que formaram os três capítulos): a primeira categoria/capítulo diz respeito à categorização da depressão infantil e à influência do ambiente familiar e social. Esse ambiente se refere ao desenvolvimento da sintomatologia depressiva em crianças decorrente do contexto do social e familiar, sendo que esse contexto influência na evolução depressão na criança. Nesta categoria, foram utilizados os artigos A1, A2, A4, A5, A7, A9 e A10.

A segunda categoria/capítulo está relacionada à depressão infantil e às consequências no rendimento escolar. Foram utilizados, para essa categoria, os artigos A4, A5, A6, A7 e A8.

Por fim, a terceira categoria/capítulo diz respeito aos instrumentos utilizados para a avaliação e o diagnóstico da depressão infantil, fazendo-se uma descrição dos instrumentos utilizados pelos autores dos artigos. Foram utilizados, para essa categoria, todos os artigos.

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3 A DEPRESSÃO INFANTIL: CARACTERIZAÇÃO E A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE FAMILIAR E SOCIAL

A depressão se caracteriza como um transtorno de humor que envolve fatores comportamentais, cognitivos, fisiológicos, econômicos, sociais e religiosos, fazendo-se presente em vários distúrbios emocionais. Esse transtorno pode aparecer como um sintoma de alguma doença ou existir simultaneamente com outros estados emocionais, aparecendo como causa desses sofrimentos e podendo variar de pessoa para pessoa (A2).

O sujeito vivencia sentimentos de rejeição em que há a perda do valor, de modo que ele se vê num mundo onde nada faz sentido ou tenha significado e, dessa forma, perde a esperança sobre seu futuro. Portanto, a depressão é vista como um mal que se fixa no “eu” do indivíduo, de modo que bloqueia suas vontades e cria pensamentos negativos, interferindo no seu autoconceito. Assim, o sujeito acaba sendo prejudicado tanto no contexto social quanto no individual (A2).

De acordo com Huttel, Kisxiner, Bonetti e Rosa (2011), a depressão retrata o mal do século. Segundo a Organização Mundial da Saúde, no ano de 2020, a depressão será considerada a segunda maior doença que irá atingir a população. Nota-se, portanto, que essa patologia vem sendo considerada uma forma de mal-estar da atualidade.

Segundo a psicanalista Silva (2001), a depressão se apresenta a partir de sinais de desinteresse, de pouca disposição, de perda de peso, de momentos de sono intensos ou insônia, entre outros. A depressão representa um estado no qual tudo se encaixa, como os “sintomas somáticos, a falta de perspectivas, a irritabilidade, as oscilações de humor, tudo justifica e antecipa um mesmo diagnóstico” (p. 28). A autora aponta, ainda, que a solução encontrada para o diagnóstico (rotulado) e o tratamento do depressivo vem, atualmente, acompanhada de recursos que poderão solucionar de modo imediato os sintomas, como a fluoxetina ou qualquer outro medicamento antidepressivo. Entretanto, cabe salientar que os usos de medicamentos “têm o efeito de normalizar comportamentos e eliminar os sintomas mais dolorosos do sofrimento psíquico, sem lhes buscar a significação” (ROUDINESCO, 2000, p. 21).

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Os psicotrópicos estão classificados em três grupos. No primeiro, encontram-se os psicolépticos – que são medicamentos hipnóticos (tratamento dos distúrbios do sono) –, os ansiolíticos e os tranquilizantes (que acabam com os sinais de angústia, de ansiedade e de fobia, entre outras neuroses) e os neurolépticos ou antipsicóticos (que são medicamentos distintos para o tratamento da psicose e de delírios crônicos ou agudos). Já no segundo grupo tem-se os estimulantes e os antidepressivos, enquanto que no último grupo reúnem-se os medicamentos alucinógenos, os estupefacientes e os reguladores de humor. Entretanto, o uso de medicamentos para amenizar o sofrimento do sujeito tem tomado uma grande proporção, de modo que leva a um encobrimento de seu real sofrimento (ROUDINESCO, 2000).

Dessa forma, o medicamento se tornou uma forma viável de aliviar um sofrimento e também uma maneira de controlar o sujeito, não deixando que ele expresse seus sentimentos. Assim, o medicamento surge pela via de ocultar o verdadeiro significado do que levou o sujeito a adoecer. Dessa forma, há a perda de sua autonomia como sujeito sem subjetividade e a perda da liberdade, pois, para conviver com outros precisa seguir as regras prescritas pela sociedade (ROUDINESCO, 2000).

3.1 Depressão infantil

O diagnóstico da depressão vem sendo usado com muita frequência. Isso ocorre porque o imperativo social da atualidade demanda que o sujeito precisa estar em um estado constante de

felicidade e sucesso, [...] onde a imagem é tomada como verdadeira, qualquer percalço, qualquer quebra nesta imagem, qualquer impossibilidade de satisfação ou em distância em relação a este ideal, lança o sujeito num vazio, que pode vir a configurar-se como um verdadeiro abismo (SILVA, 2001, p. 28).

Essa imposição é lançada para a criança, de modo que ela é sujeitada a esse imperativo e vê-se em um cenário onde terá que se conformar com um ideal pelo qual a cultura e o social lhe são apresentados. “Na medida em que a criança se defronta com uma situação de fracasso em relação ao ideal fálico, é difícil sustentar-se numa posição de poder vir a alcançá-lo no futuro, ou de

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poder substituí-lo, ou [...] transformá-lo” (SILVA, 2001, p. 29). Sendo assim, a criança, quando não consegue alcançar esses ideais propostos, chega a uma ruptura que implica em sintomas ou inibições carregados de angústias e sofrimentos. Tudo isso a leva a desencadear diversos problemas que irão afetar seu desempenho biológico, psicológico, social e escolar.

De acordo com Gorayeb, Júnior e Domingos (2005), a depressão tem provocado um enorme interesse por causa da demanda que está surgindo a partir dos diagnósticos realizados. Isso se deve ao fato de que, anteriormente acreditava-se que, em relação às crianças, estas raramente demonstravam sinais de depressão. No entanto, atualmente, existem evidências que a depressão pode surgir tanto na fase adulta como na infância e na adolescência.

O termo depressão infantil foi sendo incorporado à nosografia psiquiátrica recentemente. Antes disso, era mascarada do contexto infantil, pois a criança era considerada um sujeito desprovido de tristeza e a ela cabiam apenas a diversão e a brincadeira. Além disso, ela também era considerada um sujeito incapaz de falar sobre seus sentimentos e aflições e acreditava-se que ela não tinha maturidade psicológica e estrutura cognitiva para experenciar e verbalizar os sentimentos desse transtorno (A1, A2). Foi apenas em torno de 1960 que a depressão infantil foi descrita e classificada como patologia (MIRANDA; FIRMO; CASTRO; ALVES, 2013). Dessa forma, ela vem sendo “uma realidade admitida pelos especialistas em psicopatologia infantil muito recentemente” (CABALLO, 2012, p. 567).

Alguns estudos (A1, A5) apontam que a depressão na criança surge da mesma maneira que nos adolescentes e nos adultos. Utilizando o DSM-IV (2003) e o DSM-V (NASCIMENTO, 2014), os autores das referidas pesquisas apontam que na depressão há presença de humor triste e de um sentimento de vazio, acompanhados de alterações somáticas ou cognitivas que afetam de forma significativa a capacidade de funcionamento do sujeito. O que difere entre os adultos e as crianças, são os aspectos de duração, momento ou motivo. Incluem-se, nos transtornos depressivos, o transtorno depressivo maior, o transtorno depressivo persistente (distimia), o transtorno disfórico pré-mestrual e o transtorno depressivo induzido por substâncias/medicamentos.

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Os sintomas de um episódio depressivo maior que ocorre com um adulto são os mesmos para crianças. Além disso, para a realização do diagnóstico são utilizados os mesmos critérios para ambos. Conforme algumas pesquisas (A1, A7, A9), o manual de diagnóstico possui uma variação no caso de ocorrer o episódio depressivo maior, apresentando exceção apenas nos sentimentos de humor deprimido na maior parte do dia, de desinteresse ou de desprazer em todas (ou quase todas) as atividades desempenhadas durante o dia. Ademais, desenvolve perda ou ganho de peso, insônia ou hipersonia, perda da energia (estar exausto) e sentimentos de incapacidade. Pode, também, manifestar dificuldade em concentrar-se, o que leva a pensamentos relacionados à morte ou à tentativa de suicídio. Além disso, pode demonstrar sentimentos de irritabilidade, o que pode desencadear diminuição no rendimento escolar por conta da dificuldade de se concentrar e de prestar atenção.

É possível observar que a depressão é definida e trabalhada por diferentes áreas do conhecimento. Em relação à depressão infantil, ela não deriva de um só acontecimento, mas de vários fatores que, juntos, podem desencadear a doença depressiva na criança. Nesse sentido, Cruvinel e Boruchovitch (2003) trabalham com a hipótese de que a depressão infantil se apresenta a partir de quatro modelos.

O primeiro é o biológico, pois ele considera a depressão como doença, salientando os fatores bioquímicos e genéticos como causadores da depressão.

O segundo modelo, o comportamental, destaca a função da aprendizagem e da relação com o meio. Com base nessa hipótese, a depressão é a consequência da redução de comportamentos de contato com o social, do isolamento e da perda de interesse por atividades antes realizadas. Além disso, há um aumento de comportamentos relacionados à esquiva/fuga. Dessa maneira, a partir desse modelo, os comportamentos depressivos ocorrem por meio dos mecanismos da aprendizagem.

Já o terceiro modelo, o cognitivo, dispõe sobre a importância das cognições no surgimento e na preservação de práticas disfuncionais. Logo, esse modelo refere-se à forma como o sujeito apresenta-se para o meio, ou seja, se seus pensamentos sobre si mesmo e sobre o mundo são destrutivos.

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Por fim, o modelo psicanalítico destaca os processos intrapsíquicos5 da evolução da depressão, que poderia ser considerada uma falha no desenvolvimento no processo de elaboração da perda e do luto. De acordo com Freud (1917), ocorrem dois tipos de episódios com os quais o sujeito se estrutura a partir da perda e do luto. O primeiro refere-se ao sofrimento, no qual o mundo torna-se vazio, a autoestima permanece e a perda é consciente. Já no segundo episódio – a melancolia –, o processo é o oposto, pois há ausência da autoestima, a perda é inconsciente e o ego do indivíduo torna-se vazio e empobrecido.

Andriola e Cavalcante (1999) afirmam que a depressão infantil se trata de uma perturbação orgânica que abrange diversas áreas biopsicossociais. Do ponto de vista biológico, a depressão é considerada como uma possível disfunção de neurotransmissores devido a uma herança genética, a uma anomalia ou a uma falha em alguma área do cérebro.

Na perspectiva psicológica, a depressão pode estar agregada aos aspectos comprometidos pela ausência de confiança, pela personalidade e pela baixa autoestima. Por fim, na perspectiva social, a depressão seria uma forma de pedido de socorro, como consequência de fatores culturais, escolares ou familiares (HUTTTEL; KISXINER; BONETTI; ROSA, 2011).

A depressão infantil está associada a uma série de questões psíquicas, físicas e cognitivas que resultam em consequências negativas para o desenvolvimento da criança. Alterações nos âmbitos emocionais e psicossociais, bem como comprometimentos nas relações familiares e sociais, também são observadas (A1). Os comportamentos da criança com sintomatologia depressiva são caracterizados a partir de mudanças repentinas e transitórias de humor (humor disfórico), de retraimento, de tendência à desvalorização própria (autodepreciação), de agressividade ou irritação, de declínio do rendimento escolar, de perda da energia e apetite ou peso e, ainda, de uma diminuição significativa na socialização (A2). Como afirmam Gorayeb, Júnior e Domingos (2005), na maioria dos casos, as crianças apresentam sentimentos de tristeza, irritabilidade e agressividade, o que pode ser indicativo de quadros depressivos. Como consequência, os sintomas depressivos são

5 “Tudo que se origina ou ocorre no interior da mente, psique ou eu” (CABALLO; NICK, 2006, p.

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capazes de interferir na vida da criança de maneira significativa, prejudicando o relacionamento familiar e social e o rendimento escolar.

3.2 Influência Familiar

O grupo ou sistema familiar se apresenta como uma ligação dos indivíduos que pertencem a uma mesma comunidade histórica, geográfica e sócio-cultural. Caracteriza-se como uma estrutura fundamental nas primeiras socializações e na formação da identidade da criança, de modo que vai construir nela um suporte com o qual ela consiga resolver problemas futuros de diversas áreas, tais como o social e o escolar. Dessa forma, o sistema familiar poderia estar relacionado a um adequado desempenho emocional e cognitivo, como também a possíveis questões relacionadas às patologias na infância (TEODORO; CARDOSO; FREITAS, 2010).

Pesquisas (A1, A2, A3) têm demonstrado que os pais – ou aqueles que são significativos para a criança – possuem uma vasta parcela de responsabilidade no aparecimento e na continuidade da depressão na infância. São eles que, não conseguindo satisfazer as necessidades básicas do filho – como amor, carinho e apoio –, podem manifestar sintomas depressivos na criança. As relações familiares, em um contexto em que a depressão emerge em crianças, caracterizam-se por inúmeros conflitos, atitudes hostis, atitudes de julgamento ou críticas em demasia, sentimentos de rejeição, dificuldade de comunicação entre os membros da família, vivência de cenas de conflitos conjugais e/ou agressividade. Isso faz com que a criança tenha dificuldades de expressar seus afetos e passe a sentir-se sem suporte e sem amparo (A1). Dessa forma, as famílias com um suporte emocional abalado podem estar associadas às patologias na infância, em que o convívio familiar que se apresenta enfraquecido tem relação com fatores de risco para o surgimento de sintomas depressivos. Por outro lado, a existência de uma relação saudável da criança para com os pais é um dos fatores relevantes para a proteção e a prevenção no que se refere ao surgimento de psicopatologias infantis (TEODORO; CARDOSO; FREITAS, 2010).

Toda essa situação se agrava quando os pais desconhecem ou têm dificuldade de reconhecer que o filho apresenta sintomas depressivos (A1).

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Isso ocorre pelo simples fato de que os pais não conseguem notar que uma criança possa estar depressiva, pois acreditam na ideia de que ela é desprovida desses sentimentos, pois vive em um mundo de brincadeiras e de diversão, onde, supostamente, ela apenas brinca e diverte-se, não precisando se preocupar com problemas (A10).

Com base no estudo A1, constata-se que as causas estressantes no ambiente familiar estão associadas à ocorrência da depressão em crianças, sendo que a sintomatologia depressiva na infância é um reflexo dos problemas familiares enfrentados por elas. Geralmente, a família se encontra em situações de agressividade, de eventos de ações punitivas, de discórdia entre o casal e de rejeição. Além disso, práticas parentais impróprias podem ser prejudiciais à vida da criança, pois a falta de suporte e de compreensão dos pais para com os filhos está associada à existência de sintomas depressivos. O controle excessivo dos pais também pode levar à sintomatologia depressiva em crianças.

Em razão disso, pais que repreendem demais os filhos e que exercem um controle psicológico excessivo podem provocar neles alterações nos comportamentos, como a delinquência, a ansiedade e a depressão. Também há ocasiões em que a presença de sintomas depressivos nos pais pode contribuir para a falta de adaptação e para um desajustamento infantis. Isso quer dizer que os fatores relevantes para o desenvolvimento da depressão infantil estão relacionados à maneira como as crianças enxergam a organização familiar, ou seja, a forma como a criança vivencia as situações que acontecem no âmbito familiar (agressividade, opressão, violência, abandono, fatores estressantes, etc.) pode desencadear sintomas depressivos (A1).

3.3 Influência de Fatores Sociais

Outro aspecto influente no desenvolvimento da depressão infantil é a existência de fatores sociais que também levam a desencadear problemas psicológicos na fase inicial de desenvolvimento do sujeito (A2, A3). “Todos os fenômenos que surgem do contexto social são acometidos simbolicamente, ou seja, recebem nomes e significados que os avaliam, explicam e lhes dão sentido” (RIBEIRO; OLIVEIRA; COUTINHO, 2007).

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Esses significados vão se modificando de acordo com os modelos primordiais de cada época, ou seja, a maneira como o sujeito está inserido no social varia de acordo com as crenças e os costumes, que vão sendo incorporados primeiramente pelos pais e transmitidos para a criança conforme o seu desenvolvimento. Essa criança se encontra em um mundo onde existe uma organização cultural estabelecida, de modo que ela necessita se adaptar a essa condição e a esse novo mundo.

Isso significa que a criança vai sendo introduzida no mundo simbólico a partir dos representantes familiares, principalmente daqueles que realizam a função vital de humanizá-las (WANDERLEY, 2008). Para que uma criança tenha um bom desenvolvimento psíquico, é necessário que a família lhe ofereça um suporte emocional estável em um ambiente no qual ela possa desenvolver suas capacidades motoras e cognitivas. Dessa forma, a família estará contribuindo para um bom desenvolvimento das habilidades sociais da criança.

Para compreender o fenômeno da depressão, alguns estudos apontaram para uma teoria na qual surge o conceito de Representações Sociais. Essa teoria surge como meio de estudar esse fenômeno não apenas pelo meio teórico, mas pelo viés de um conhecimento prático e em comum com grupos sociais com os quais os sujeitos fazem parte.

Pesquisas (A2, A3) indicam que esse conceito mostra a maneira como o sujeito se relaciona com o outro. Isso ocorre por meio de uma organização que circula através da fala, do gesto e do encontro desse sujeito com o social.

As Representações Sociais constituem-se na inter-relação entre o sujeito e o objeto e na forma como se desenvolve o processo de construção do conhecimento (que pode ser tanto individual quanto coletivo). Elas podem ser consideradas o processo de uma atividade mental do indivíduo ou do grupo através da reconstituição do real, daquilo que é confrontado e requer um sentido.

Essas representações se referem a um sistema cognitivo, que caracteriza uma forma de organização psicológica em que o indivíduo instaura uma relação entre ele e o social. Isso quer dizer que as Representações Sociais são a maneira como o indivíduo compreende a realidade do seu cotidiano como sendo uma forma de conhecimento, de modo que ele consegue

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se adaptar e responder às demandas decorrentes do seu dia-a-dia (MOSCOVICI, 1978).

A esse respeito, Ribeiro, Oliveira e Coutinho (2007) afirmam que as Representações Sociais constituem-se como um conjunto de informações, de comportamentos e crenças e de bagagens culturais que fazem com que o sujeito compreenda esses eventos de maneira subjetiva. Além disso, as Representações Sociais fazem parte de um processo a partir do qual o sujeito estabelece uma relação entre o mundo e as coisas. Elas são, portanto, um conjunto organizado de informações, de atitudes e de crenças que o indivíduo ou o grupo elabora a propósito de um objeto, de uma circunstância ou de um conceito, de modo que apresente uma visão subjetiva e social da realidade. Elas têm como função, ainda, transformar aquilo que não é familiar em algo familiar, próximo e prático (A2).

Sendo assim, as Representações Sociais dos sintomas depressivos em crianças estão ligadas ao meio psicossocial, no qual a criança com depressão é vista como aquela que não tem amigos, vive isolada e manifesta sentimentos de rejeição. Portanto, as crianças depressivas apresentam dificuldades nas relações interpessoais e na interação com outras crianças.

Dessa forma, constata-se que os fatores relacionados ao ambiente familiar, social e escolar são determinantes para o aparecimento e a continuidade dos sintomas depressivos na infância. Se o ambiente familiar e social apresenta-se comprometido- fazendo com que a criança vivencie cenas estressantes que a levam a reprimirem-se e a experienciar cenas violentas-, podem ocorrer sintomas depressivos e também agravamento nos casos de depressão infantil.

No que diz respeito aos sintomas depressivos nos escolares, os fatores estão associados à família e ao social, pois eles, ao se sentirem reprimidos, com a autoestima baixa (entre outros fatores), podem provocar um prejuízo no rendimento escolar, pois perdem o interesse nas atividades que antes lhes estimulavam o prazer (AGLIO; HUTZ, 2004).

Constata-se, também, a necessidade de um diagnóstico precoce para que a patologia seja tratada e trabalhada antes que possa desencadear outros problemas.

(27)

4 A DEPRESSÃO INFANTIL E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO RENDIMENTO ESCOLAR

O ambiente escolar é um espaço no qual a criança circula e vivencia atividades que estão relacionadas ao aprendizado e que lhe são prazerosas. Quando essas atividades começam a causar desprazer – impedindo a criança de buscar conhecimento e atrapalhando o rendimento escolar –, é possível o desenvolvimento de psicopatologias como a depressão infantil (AGLIO; HUTZ, 2004).

Os eventos relacionados ao ambiente escolar, familiar e social podem desencadear sentimentos impactantes na vida da criança, pois esta descreve sentimentos de tristeza, ideais de morte, isolamento, vontade de chorar (com ou sem motivos). Ela pode, ainda, manifestar sentimentos depressivos a partir de experiências de brigas conjugais e desânimo em todas as atividades do seu dia a dia. Portanto, os sentimentos vivenciados no contexto familiar vão refletir na vida afetiva, escolar e social, o que desencadeia estados de profunda tristeza para a criança (A8).

Observou-se, durante a pesquisa, que a depressão na criança também pode trazer consequências para o seu rendimento escolar e para o desenvolvimento do processo de aprendizagem.

Pesquisas apontam que crianças depressivas apresentam uma queda no rendimento escolar que acaba por afetar seu desempenho psicossocial. Isso acarreta um significativo fracasso escolar, sendo possível observar dificuldades de aprendizagem (A4, A7, A8). Portanto, a depressão na infância pode ser apontada como um possível motivo ou uma possível consequência do baixo rendimento escolar em crianças (CRUVINEL; BUROCHOVITCH, 2003).

Crianças que apresentam sintomas depressivos demonstram um desempenho escolar abaixo da média quando comparadas com crianças que não apresentam sinais de depressão. Assim, as funções cognitivas (atenção, raciocínio, memória e concentração) encontram-se prejudicadas. Além disso, as práticas exercidas pela criança são alteradas, pois, estando nesse estado melancólico, ela perde o interesse nas atividades, demonstrando dificuldade em manter-se atenta nas tarefas. Logo, é possível constar que todos esses

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fatores acabam interferindo de forma negativa na aprendizagem da criança (CRUVINEL; BORUCHOVITCH, 2003).

Partindo do viés psicanalítico, a aprendizagem é definida como uma forma de transmitir conhecimento ao Outro6, sendo que este Outro precisa demandar algum conhecimento. Assim, o aprender está relacionado com a forma como o Outro vai transmitir seus conhecimentos. Isso significa que, para que o sujeito possa aprender, é preciso que o conhecimento passe pelo desejo do Outro e, dessa forma, seja reconhecido como aquele que é portador do conhecimento. A partir disso, o sujeito passa, então, a desejar adquirir o conhecimento com sendo seu7.

Para que o sujeito aprenda, é necessário que seja depositado um desejo sobre o aprender. Dessa forma, o desejo do Outro é o que vai impulsionar o desejo de aprender do sujeito. Além disso, é esse o desejo que irá organizar e dar significado às aprendizagens.

Goulart (2001), a esse respeito, afirma que:

É possível pensar no desejo como o que organiza e dá sentido às aprendizagens, tanto tomando o sentido de aprendizagem como de apreensão de conhecimentos acumulados e desenvolvidos pelo processo civilizatório – quanto no sentido de aprendiz age(m), ou seja, do sujeito se permitir acessar a um saber, de responder ou não ao que o processo civilizatório demanda (2001, p. 41).

De acordo com Molina (2008), a aprendizagem não pode ser conceituada sem o Outro. Sendo assim, para que ocorra o processo de aprendizagem no sujeito, é preciso passar pelo desejo do Outro para que o sujeito se questione sobre e, dessa forma, passe a querer o desejo do Outro. Isso significa que, para que o sujeito possa aprender, vai precisar, primeiramente, negar esse conhecimento para que então possa tornar-se conhecimento próprio, ou seja, o conhecimento que o Outro possui vai impulsionar o desejo de aprender do sujeito.

Dessa maneira, pode-se levantar a hipótese de que “o fracasso no aprender pode ser entendido como um sintoma” (DRÜGG, 1999, p. 82) e de que o não aprender pode estar relacionado a outras questões, como a

6

Ver nota de rodapé pag. 7.

7

Informação obtida do autor Sara Pain, no ano 1988, no Congresso GEEMPA, (Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação) em Buenos Aires.

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depressão, por exemplo. Crianças que manifestam sintomas depressivos são intelectualmente competentes e não apresentam déficit em relação ao raciocínio e à inteligência. Sendo assim, o baixo rendimento escolar pode estar associado ao fato de que a criança depressiva perde o interesse e a motivação por atividades propostas pela escola – atividades estas que antes eram prazerosas- e está propensa a se auto desvalorizar (A7).

Nota-se, portanto, que problemas emocionais podem levar o sujeito a futuras dificuldades tanto no âmbito subjetivo, como no âmbito escolar e social. Os problemas relacionados à aprendizagem podem se tornar um sintoma na família e para a família, pois a criança que tem dificuldades na aprendizagem vive em um contexto social em que se pressupõe um julgamento sobre esse déficit nela. “O problema da aprendizagem é uma construção social, é algo criado; é criado [...] por uma série de normativas que pertencem a um marco social e que ali, onde não há aprendizagem, assinalam um problema”. Se vc fizer a nota de rodapé lá em cima aqui você pode colocar assim (ver nota de rodapé número tal, na página 27).

Com relação à manifestação dos sintomas depressivos no ambiente escolar, Cruvinel e Burochovitch (2003) afirmam que estes se revelam de distintas maneiras. Assim, o professor deve ficar atento aos sinais que indicam que a criança possa estar deprimida. Ele pode fazer isso a partir da observação de pequenas atitudes com as quais a criança se expressa, como o olhar triste, a mudança de estado nas atividades, o isolamento social e o fracasso ou a diminuição nas tarefas e no rendimento escolar.

Os fatores internos (hereditariedade e maturação) podem ser responsáveis por estimular ou inibir o desempenho escolar. Pensa-se, então, que problemas emocionais podem ocasionar traços de inadaptação tanto em situações de contexto educacional e social quanto em situações de contexto individual (CRUVINEL; BUROCHOVITCH, 2003).

No que diz respeito à relação entre a depressão infantil e dificuldades de aprendizagem, observou-se, entretanto, que alguns autores apontam que essa relação não está clara. Não se tem a afirmação de que a dificuldade de aprendizagem pode ser um fator de risco para a depressão e nem de que os sintomas nos sujeitos depressivos ocasionariam dificuldade de aprendizagem (HALL; HAWS, apud CRUVINEL; BUROCHOVITCH, 2003). Por outro lado, na

(30)

literatura são encontrados autores que pensam que pensam que a depressão pode agravar uma dificuldade de aprendizagem. Para eles, o agravamento vem como consequência da falta de interesse pelas atividades escolares ou por falta de energia. Outros resultados percebidos são sentimentos de desvalorização e dificuldade em conseguir prestar atenção e concentrar-se nas atividades propostas. (CRUVINEL; BUROCHOVITCH, 2003).

Entretanto, observou-se que algumas indagações estão sendo feitas a respeito da interferência da sintomatologia depressiva na função cognitiva das crianças. Isso quer dizer que as dificuldades de memória podem estar relacionadas à depressão e que a perda da memória vai diferenciar o grau de severidade da depressão de criança para criança (A8).

Segundo Enumo, Ferrão e Ribeiro (2005), a forma de avaliar ou de identificar as crianças com dificuldades de aprendizagem precisa considerar aspectos como a memória, o pensamento, o raciocínio, a percepção, a linguagem e os comportamentos, como também as reações e os comportamentos afetivos relacionados ao desempenho social, pois provêm de emoções e de interesses do sujeito. Com base em uma pesquisa (A8), evidenciou-se que alunos com dificuldades de aprendizagem manifestaram sintomas relacionados à ansiedade, à depressão e ao estresse e apresentaram doenças físicas e distúrbios de peso e altura.

Assim, observou-se que as pesquisas demonstraram que a depressão infantil é capaz de interferir no rendimento escolar, sendo que os sintomas depressivos podem prejudicar a aprendizagem (A7, A8). Além disso, os eventos relacionados ao ambiente escolar podem desencadear sentimentos impactantes na vida da criança (A8).

(31)

5 INSTRUMENTOS PARA DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO DA DEPRESSÃO INFANTIL8

De acordo com algumas pesquisas (A4, A5, A6), há vários instrumentos psicológicos que facilitam a realização da avaliação do grau de gravidade dos sintomas e do diagnóstico da depressão infantil.

Nesse estudo, verificou-se que os instrumentos de diagnóstico encontrados nas pesquisas foram o DSM-V (Manual Diagnóstico dos Transtornos Mentais) e a CID 10 (Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento). Além disso, existem algumas escalas de avaliação da depressão: escalas de autoavaliação, escalas de avaliação do observador e escalas mistas (que integram as duas). As escalas têm como função servir de suporte para o diagnóstico de diversos transtornos e patologias, bem como a depressão infantil.

Visto que as pesquisas realizadas pelos autores basearam-se em instrumentos que avaliaram crianças com depressão, estes ajudaram na classificação das crianças com e sem sintomatologia depressiva. Sendo assim, os instrumentos de avaliação da depressão infantil utilizados foram classificados com relação às representações sociais (A2, A3), ao rendimento escolar (A8, A7), ao ambiente familiar (A1), ao uso de escalas para avaliação da depressão infantil e à legitimidade desses instrumentos (A4, A5, A6).

No quadro abaixo, são apresentados os testes e as escalas utilizados pelos autores dos artigos que compuseram o corpus dessa pesquisa.

Quadro 1: Testes e escalas utilizados para o diagnóstico e avaliação da

depressão infantil

Código Instrumento

A1, A3, A4,

A7 e A9 CDI (Inventário de Depressão Infantil)

A1 RAF (Inventário de Recursos no Ambiente Familiar)

A2 Desenho-Estória com Tema

A3 Entrevista Semiestruturada

8

Esse capítulo foi construído a partir dos instrumentos para diagnóstico e avaliação da depressão infantil utilizados apenas nos artigos que compuseram o corpus de análise desse estudo, não incluindo outros instrumentos que existem com essa finalidade.

(32)

A5 e A6 Escala de Avaliação de Depressão para Crianças

A7 Escala de Estratégia de Aprendizagem

A8 IDATE-C (Inventário de Ansiedade Traço-Estado para Crianças)

A8 ESDM (Escala de Sintomatologia Depressiva para

Mestres)

A8 ESI (Escala de Stresse Infantil)

A9 EPRE (Entrevista com Pranchas para Avaliação da

Regulação Emocional de Alunos do Ensino Médio)

A10 Prática Etnográfica

O CDI (Inventário de Depressão Infantil) foi desenvolvido por Kovacs (1992). Trata-se de uma escala de autoavaliação destinada a identificar sintomas de depressão em indivíduos de 7 a 17 anos. Essa versão do CDI é composta por 27 itens que vão avaliar os sintomas afetivos, cognitivos e comportamentais da depressão. A maior parte dos itens está relacionada ao contexto escolar, principalmente no que diz respeito ao trabalho escolar e aos problemas de comportamento. A versão brasileira do CDI foi desenvolvida por Baptista (1997) e ficou composta por 20 itens distribuídos entre sintomas afetivos, cognitivos e comportamentais da depressão (A1, A7).

O Inventário de Recursos no Ambiente Familiar (RAF) é uma entrevista semiestruturada que tem como objetivo avaliar o acompanhamento dos pais e o envolvimento e o suporte da família. O Inventário é composto por 14 itens e foi desenvolvido por Marturano (A1).

O instrumento Desenho-Estória com Tema refere-se a uma técnica projetiva sob forma de desenho que proporciona à criança falar sobre seus sentimentos, de modo que possa manifestar seus conteúdos conflituosos - tanto conscientes como inconscientes. Sendo assim, o Desenho-estória possibilita que a criança consiga expressar seus sentimentos (tristeza, medo, rejeição afetiva ou sentimentos agressivos) para, então, elaborá-los (A2).

A Entrevista Semiestruturada utilizada na pesquisa é um instrumento composto por questões Sóciodemográficas – como idade, sexo e série em que estuda – e por questões norteadoras (questões direcionadas ao participante, como: O que você entende por depressão?; Quais seriam as causas da depressão?; Você acha que depressão tem cura?).

(33)

A Escala de Estratégia de Aprendizagem foi desenvolvida por Burochovich e Santos (2001), tendo como finalidade a avaliação do repertório de estratégias de aprendizagem cognitivas e metacongitivas. A escala é composta por quarenta questões fechadas em forma de escala likert e por uma questão aberta, que tem como objetivo averiguar o uso de estratégias não classificadas nas questões fechadas (A7).

O Inventário de Ansiedade Traço-Estado para Crianças (IDATE-C) foi desenvolvido por Blaggio (1922), sendo utilizado para avaliar a ansiedade em crianças (A8).

A Escala de Sintomatologia Depressiva para Mestres (ESMD) foi elaborada por Domenéch e Polaino-Lorente (1990) e adaptada por Barbosa. O instrumento avalia, a partir das informações dos professores, a percepção dos sintomas depressivos em crianças (A8).

A Escala de Stresse Infantil (ESI) é um instrumento que avalia a existência ou não de estresse. Foi desenvolvida por Lipp e Lucarelli (1998) (A8).

A Entrevista com Pranchas para Avaliação da Regulação Emocional de Alunos do Ensino Médio (EPRE) é composta por 24 questões e 8 pranchas ilustrativas que possuem a finalidade de investigar as estratégias de regulação emocional empregadas por crianças do ensino fundamental. As questões foram agrupadas em quatro tipos de emoções: tristeza, raiva, medo e alegria. Assim, cada uma das quatro emoções é avaliada por seis questões (totalizando as 24 perguntas) elaboradas a partir da literatura a respeito das habilidades envolvidas na autorregulação emocional, mais precisamente habilidades como percepção das emoções, monitoramento e regulação de estados emocionais (A9).

A Prática Etnográfica serve para verificar a realidade do sujeito de modo singular. Apresenta-se como um processo interpretativo por conta do pesquisador, que vai observar as condições e o contexto no qual se coletam os dados, ou seja, o ambiente social e familiar do sujeito (A10).

Com base nas literaturas (A4, A5, A6), há diversos instrumentos psicométricos que auxiliam na avaliação e na elaboração do diagnóstico da depressão infantil. Atualmente, o diagnóstico da depressão é efetivado por meio de métodos padronizados e de manuais como o DSM-V e a CID-10.

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As escalas de avaliação são fundamentais e fornecem um suporte mais preciso para o diagnóstico das desordens psiquiátricas. As escalas não se caracterizam como únicas na avaliação da depressão, pois apenas proporcionam o grau de gravidade dos sintomas depressivos.

Em razão de tudo isso, compreende-se que os diagnósticos da depressão em crianças ainda apresentam algumas dificuldades, pois, na maioria das vezes, os instrumentos psicométricos que medem o construto da depressão infantil precisam ser adaptados para a população brasileira. Sendo assim, os instrumentos de medida, como as escalas e os inventários, são fundamentais para o diagnóstico das desordens mentais, (PEREIRA; AMARAL, 2007), bem como para o diagnóstico da depressão infantil.

(35)

CONCLUSÃO

Constatou-se que a depressão está sendo considerada o mal do século, atingindo uma grande parcela da população. Ela se apresenta como um transtorno de humor que afeta o sujeito de forma significativa, levando-o a sentimentos de tristeza e isolamento, não tendo disposição para realizar qualquer atividade. Desse modo, sente-se rejeitado e apresenta perda na projeção com relação ao seu futuro, entre outros sintomas.

No que diz respeito à depressão infantil, observou-se que este vem sendo considerado um tema que está repercutindo na atualidade, pois a criança, ao não conseguir dar conta de um ideal proposto pelo social, começa a vivenciar sintomas de retraimento social, mudança de humor, perda de interesse em atividades que antes lhe eram prazerosas, perda ou ganho de peso, dificuldades com relação à aprendizagem, entre outros sintomas. Isso porque a depressão na infância está associada a questões psíquicas, físicas e cognitivas que podem ocasionar muitas consequências em sua vida. Dessa forma, os sintomas vão interferir de maneira significativa na vida da criança, de modo que irão prejudicar suas relações familiares, sociais e escolares.

Com base nos resultados da pesquisa, observou-se que a estrutura familiar e o ambiente social podem ser considerados fatores desencadeadores ou, ainda, promover sintomas depressivos na criança. Um ambiente familiar que proporciona sentimentos de retraimento e de repreensão – inibindo a criança de expressar seus sentimentos – como também um ambiente sobrecarregado de conflitos e violência, pode desencadear a depressão infantil. O que intensifica ainda mais os sintomas é quando os pais, os responsáveis ou até a própria escola não conseguem perceber que a criança está passando por essa fase. Isso porque ainda se acredita que as crianças são incapazes de sofrer, uma vez que a infância remete a uma fase de diversão.

Os sintomas depressivos vivenciados pelas crianças trazem consequências também para a vida escolar, pois essa patologia pode ser apontada como o motivo ou a decorrência do baixo rendimento escolar. Assim, sintomas depressivos podem ocasionar queda no rendimento escolar, pois a criança perde o fascínio pelas práticas antes exercidas, o que resulta em problemas relacionados ao processo de aprendizagem.

(36)

Outra questão aparente no trabalho se refere às formas de avaliação da depressão infantil e aos instrumentos que podem ser utilizados para um melhor diagnóstico da criança com sintomas depressivos. Além disso, foi possível verificar a importância da constatação dos sintomas depressivos na criança por parte dos pais e/ou professores como uma forma de auxiliar no tratamento.

Por fim, o estudo verificou que há uma carência de pesquisas que se dedicam à depressão infantil, mais especificamente no que diz respeito à área da Psicanálise.

(37)

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