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2011 SOUZA - RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTABELECIMENTO DE ENSINO PRIVADO E DOS PAIS NA PRATICA DE BULLYING POR CRIANCAS E ADOLESCENTES

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(1)

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR

CAMPUS DE CACOAL

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DIREITO

DAYANE CARVALHO DE SOUZA

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTABELECIMENTO DE ENSINO

PRIVADO E DOS PAIS NA PRÁTICA DE BULLYING POR CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

Trabalho de Conclusão de Curso Monografia

Cacoal – RO

(2)

ADOLESCENTES

Por:

DAYANE CARVALHO DE SOUZA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR – Campus de Cacoal como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, sob a orientação do Professor MSc. Gilson Tetsuo Miyakava.

Cacoal – RO 2011

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Catalogação na publicação: Leonel Gandi dos Santos – CRB11/753 Souza, Dayane Carvalho de.

S729r Responsabilidade Civil do Estabelecimento de Ensino Privado e dos Pais na Prática de Bullying por Crianças e Adolescentes/ Dayane Carvalho de Souza – Cacoal/RO: UNIR, 2011.

59 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Universidade Federal de Rondônia – Campus de Cacoal.

Orientadora: Profª. MSc. Gilson Tetsuo Miyakava.

1. Bullying. 2. Responsabilidade civil . 3. Escola particular. 4. Crianças – Adolescentes. I. Miyakava, Gilson Tetsuo. II. Universidade Federal de Rondônia – UNIR. III. Título.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR – CAMPUS DE CACOAL DEPARTAMENTO DO CURSO DE DIREITO

A monografia intitulada “RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTABELECIMENTO DE ENSINO PRIVADO E DOS PAIS NA PRÁTICA DE BULLYING POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES”, elaborada pela acadêmica Dayane Carvalho de Souza, foi avaliada e julgada pela banca examinadora formada por:

_____________________________________________________ Prof. MSc. Gilson Tetsuo Miyakava – Orientador / UNIR

_____________________________________________________ Profa. MSc. Maria Priscila Soares Berro – Membro / UNIR

_____________________________________________________ Prof. MSc. Bruno Milenkovichi Caixeiro – Membro / UNIR

Cacoal – RO 2011

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Dedico aos meus avós e pais, que deram-me o melhor presente do mundo: a educação.

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Primeiramente agradeço a Deus, pois sem Ele não teria chegado até aqui.

Aos meus avós Silas e Vera e pais Luciane e Walney, por me amarem imensuravelmente e darem todo apoio necessário.

À minha tia Cristiane e primo Gabriel, vocês são um presente de Deus.

Ao Alvaro, por todo apoio e paciência nesse último ano. Aos professores, pelo apoio e conhecimento dispensados. Às amigas Erica, Bárbara, Natália e aos amigos Matheus, Ivo e Genivaldo, cuja amizade e lembrança de ótimos momentos terei para o resto da vida.

(7)

A justiça, somente a justiça seguirás para que vivas, e possuas em herança a terra que o Senhor teu Deus te dá

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RESUMO

SOUZA, Dayane Carvalho de. Responsabilidade Civil do Estabelecimento de Ensino

Privado e dos Pais na Prática de Bullying por Crianças e Adolescentes. 59 folhas.

Trabalho de Conclusão de Curso: Universidade Federal de Rondônia – Campus de Cacoal – 2011.

Bullying é uma forma de violência intencional, repetitiva e injustificada contra uma ou mais

vítimas, ocorrendo, principalmente, em escolas, públicas ou particulares. A violência escolar tem tomado proporções trágicas no Brasil e no mundo. Na legislação brasileira, aquele que, por meio de um ato ilícito, causa dano a outrem, tem o dever de repará-lo. Portanto, a prática de bullying gera danos às vítimas as quais, consequentemente, têm o direito de serem indenizadas. No entanto, é necessário analisar a quem compete o dever de indenizar aquele que foi vitimado pela violência da criança ou do adolescente que pratica bullying: O estabelecimento de ensino privado, o qual tem o dever de resguardar a integridade física e psicológica dos alunos ou, os pais, os quais têm o dever constitucional e moral de assistir, criar e educar seus filhos menores? Desse modo, deve-se observar em quais circunstâncias ocorre o bullying para, a partir dessas análises, atribuir a responsabilidade civil à escola particular ou aos genitores do autor das violências. Utilizou-se como método de pesquisa, bibliografias de natureza qualitativa, tendo como fundamento o método dedutivo, por meio de leis, doutrinas, artigos científicos, bem como livros e revistas sobre bullying.

Palavras-Chave: Direito civil. Bullying. Responsabilidade civil. Escola particular. Pais,

(9)

ABSTRACT

SOUZA, Dayane Carvalho de. Civil Responsability of the Private School and the Parents

for Bullying acts by Children and Adolescents. 59 pages. Final Paper: Federal University of

Rondônia – Cacoal Campus – 2011.

Bullying is way of intentional, repetitive and unjustified violence against one or more victims,

happening mostly in schools, publics or privates. The school violence has taken tragic proportions in Brazil and in the world. In brazilian legislation, the one who, by an unlawful act, causes damage to others, has the obligation to repair. Therefore, the practice of bullying generates damages to the victims who, consequently have the right to be compensated. However, it’s necessary to analyze whose competes the obligation to compensate that one who was victimized by the violence of the child or adolescent who practices bullying: The private school, which has the duty to save the physical and psychological integrity of the students, or the parents, who have the constitutional and moral obligation to assist, create and educate their under age children? Thereby, should be observed in which circumstances bullying happens for, from these analysis, assign the civil responsibility to the private school or to the parents of the violence’s author. Used as search method, bibliographies with qualitative nature, taking as a basis the deductive method, by laws, doctrines, scientific articles, as well as books and magazines about bullying.

Key-words: Civil law, Bullying. Civil responsability. Private school. Parents, children and

(10)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1 RESPONSABILIDADE CIVIL ... 13

1.1 CONCEITO ... 13

1.2 FUNÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL ... 15

1.3 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE... 16

1.3.1 Responsabilidade civil e penal ... 16

1.3.2 Responsabilidade objetiva e subjetiva ... 17

1.3.3 Responsabilidade contratual e extracontratual ... 18

1.4 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ... 19

1.4.1 Ação ou omissão do agente ... 19

1.4.2 Culpa do agente ... 21

1.4.3 Relação de causalidade ... 22

1.4.4 Dano experimentado pela vítima ... 23

1.5 RESPONSABILIDADE CIVIL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ... 24

2 BULLYING ... 27 2.1 NOÇÃO HISTÓRICA ... 28 2.2 AGENTES DE BULLYING ... 31 2.2.1 Vítimas ... 31 2.2.2 Agressores ... 33 2.2.3 Espectadores ... 35 2.3 ESPÉCIES ... 37 2.3.1Verbal ... 37

2.3.2 Físico, material e sexual ... 37

2.3.3 Psicológico e moral ... 38

2.3.4 Virtual ... 38

2.4 CONSEQUÊNCIAS ... 39

2.5 BULLYING NO ORDENAMENTO JURÍDICO... 41

3 A RESPONSABILIDADE DOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PRIVADO E DOS PAIS ... 45

3.1 DIREITO À EDUCAÇÃO E O ENSINO PRIVADO ... 45

3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS EDUCANDÁRIOS À LUZ DO CÓDIGO CIVIL 46 3.3 O FATO DO SERVIÇO E A ESCOLA PARTICULAR ... 48

3.4 O DEVER DE EDUCAR E O PODER FAMILIAR ... 49

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por escopo a análise da responsabilidade civil dos estabelecimentos de ensino privado e dos pais em razão da prática de bullying por crianças e adolescentes, com o propósito de verificar a quem compete o dever de indenizar os danos causados por essa prática, baseando-se no art. 932, incisos I e IV do Código Civil e art. 14 do Código de Defesa do Consumidor.

Cumpre justificar que o tema da presente monografia é de extrema importância no âmbito jurídico-social, tendo em vista que a violência escolar tornou-se uma prática reiterada e comum, a qual tem gerado consequências gravosas às vítimas, e, consequentemente, assim, o direito de serem indenizadas

Primeiramente, observar-se-á o instituto da responsabilidade civil de modo abrangente para que se possa compreendê-la, bem como, analisar sua função. Por meio de explanações, diferenciar a responsabilidade civil da penal, a objetiva da subjetiva, e a contratual da extracontratual, e ainda, analisar os pressupostos para que se caracterize e sua atuação no Código de Defesa do Consumidor.

Estudar-se-á, também, o que de fato é o bullying, como se caracteriza, seu surgimento ao longo do tempo, os personagens dessa cena de violência, as espécies, as consequências dessa agressão às vítimas e, ainda, o enquadramento do bullying no ordenamento jurídico brasileiro, por meio de análises de livros e revistas específicos sobre o tema, livros e artigos de psicologia, bem como a legislação.

Após tais explanações, verificar-se-á a responsabilidade dos estabelecimentos de ensino privado à luz do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor, o instituto do poder familiar frente ao dever legal e moral de educar os filhos, bem como, a responsabilidade civil dos pais pelos danos causados por seus filhos menores de 18 anos, analisando-se

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legislações e julgados de tribunais pátrios.

Desse modo, cumpre analisar de que forma ocorreu o bullying, se houve dano à vítima e o nexo de causalidade, para que, então, se possa atribuir o dever de indenizar à escola particular ou aos pais, em virtude da violência praticada por seus alunos ou filhos.

Finalmente, o trabalho aqui exposto, utilizou-se como método de pesquisa bibliografias de natureza qualitativa, tendo como fundamento o método dedutivo, por meio de leis, doutrinas, julgados de tribunais brasileiros, bem como, livros, artigos científicos e revistas sobre bullying. (LAKATOS; MARCONI, 1992; FURASTÉ, 2009).

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1 RESPONSABILIDADE CIVIL

É um instinto natural do ser humano a reação a qualquer tipo de mal injusto praticado a alguém. Destarte, “o dano provocava reações imediatas, instintivas e brutais por parte do ofendido” (GONÇALVES, 2005, p. 5). Com origem no princípio da Lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”, este já traduzia uma forma de reparar o dano causado, mesmo que com o uso de violência, como fazia a sociedade primitiva, caracterizando-se a vingança privada, ensina Venosa (2005).

Após perceber as vantagens e conveniências da substituição da vingança pela reparação econômica, surge-se a composição voluntária, ainda restando a opção de fazer justiça pelas próprias mãos, a qual é vedada pelo legislador posteriormente. No entanto, apenas na era romana houve uma diferenciação entre pena e reparação, sendo que nos delitos públicos a pena econômica deveria ser recolhida em favor dos cofres públicos, ao passo que nos delitos privados, a pena em dinheiro pertencia à vítima (GONÇALVES, 2005).

Venosa (2005) denomina a Lex Aquilia como um divisor de águas da responsabilidade civil, a qual pune a culpa por danos injustamente provocados, independentemente de relação obrigacional preexistente, dando-se origem à responsabilidade extracontratual fundada na culpa.

No entanto, apenas no Código de Napoleão, segundo Gonçalves (2005, p. 6), há uma “distinção entre culpa delitual e a culpa contratual [...], e daí por diante observou-se a extraordinária tarefa dos tribunais franceses, atualizando os textos e estabelecendo uma jurisprudência digna dos maiores encômios”.

Modernamente, a teoria da responsabilidade objetiva, a qual se funda no princípio da equidade, apresenta-se de duas formas. A primeira é a teoria do risco, a qual visa uma maior proteção à vítima, obrigando o agente, que assume o risco de exercer uma atividade, a qual importe um risco, a reparar os danos causados à terceiros, ao passo que a segunda, é a teoria do dano objetivo, sendo que havendo um dano, este deve ser reparado, independentemente da noção de culpa (GONÇALVES, 2005).

1.1 CONCEITO

A princípio a palavra responsabilidade não surgiu no intuito de traduzir o dever de indenizar. Na verdade, surgiu da variação da expressão sponsio, da figura stipulatio, pela qual

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o devedor confirmava ter com o credor uma obrigação que era, então, garantida por uma caução ou responsor, surgindo, assim, a noção de responsabilidade como significado de garantia de pagamento de uma dívida, descartando qualquer ligação com a ideia de culpa (COSTA apud STOCO, 2007).

Segundo Serpa Lopes (1962, p. 187), a responsabilidade é “[...] a obrigação de apurar um dano, seja por decorrer de uma culpa ou de uma outra circunstância legal que a justifique, com a culpa presumida, ou por uma circunstância meramente objetiva.”

A responsabilidade, nada mais é que uma regra elementar de equilíbrio social, na qual se resume, em verdade, o problema da responsabilidade, é, portanto, um fenômeno social (LYRA, 1977).

Neste sentido, observa-se que a responsabilidade é usada como meio de compensação da vítima pelos danos sofridos e de desestimulação da conduta, explica Norris (1996).

Assim, a responsabilidade nada mais é do que (REVISTA DO ADVOGADO, 2003): A aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato ou coisa ou animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva), ou, ainda, de simples imposição legal (responsabilidade objetiva).

Ademais, a responsabilidade civil é uma consequência e não uma obrigação original, tendo em vista que sempre que houver um dano, utilizar-se-á a responsabilidade civil para que haja o ressarcimento, ou seja, a retratação do conflito (STOCO, 2007).

Em sua visão de responsabilidade civil, Gagliano e Pamplona Filho (2010, p. 51), explanam que a “responsabilidade civil deriva da agressão a um interesse eminentemente particular, sujeitando, assim, o infrator, ao pagamento de uma compensação pecuniária à vítima, caso não possa repor in natura o estado anterior de coisas”.

Partindo dessa premissa, para que haja a reparação de um dano, é necessária a prática de um ato ilícito, o qual, para Venosa (2005), manifesta uma conduta voluntária que viola um dever.

Notadamente, Cavalieri Filho (2007, p. 10), explica que:

Em sentindo estrito, o ato ilícito é o conjunto de pressupostos da responsabilidade [...] da obrigação de indenizar. Em sentindo amplo, o ato ilícito indica apenas a ilicitude do ato, a conduta humana antijurídica, contrária ao Direito, sem qualquer referência ao elemento subjetivo ou psicológico. [...] é sempre um comportamento voluntário que infringe um dever jurídico, e não que simplesmente prometa ou ameace infringi-lo, de tal sorte que, desde o momento em que um ato ilícito foi praticado, está-se diante de um processo executivo, e

(16)

não diante de uma simples manifestação de vontade. Nem por isso, entretanto, o ato ilícito dispensa uma manifestação de vontade. Antes, pelo contrário, por ser um ato de conduta, um comportamento humano, é preciso que ele seja voluntário [...]. Em conclusão, ato ilícito é o conjunto de pressupostos da responsabilidade.

No Código Civil o ato ilícito vem descrito em seus artigos 186 e 187:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (BRASIL, 2002).

Entretanto, apenas o art. 186 faz referência ao dano, o que implica dizer que a ilicitude, caracterizadora do abuso de direito, pode advir sem que o haja a causa de dano a outrem. Lado outro, o art. 187 refere-se ao titular de um direito, portanto engloba “todo e qualquer direito cujos limites foram excedidos”, explica Cavalieri Filho (2007, p. 144).

Por fim, tem-se que a “principal consequência da prática do ato ilícito é a obrigação de indenizar – obrigação, esta, de natureza pessoal [...]” (CAVALIERI FILHO, 2007, p.13).

1.2 FUNÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A reparação civil, para Gagliano e Pamplona Filho (2010, p. 63), possui três funções, quais sejam, “compensatória do dano à vítima; punitiva do ofensor; e desmotivação social da conduta lesiva”.

A função compensatória tem por principal objetivo retornar as coisas ao seu estado anterior, repondo-se o bem lesado diretamente, ou, sendo impossível, impondo-se o pagamento de um montante indenizatório equivalente ao valor material do bem ou compensatório do direito, neste caso, o dano moral (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2010).

A segunda função da responsabilidade civil tem por escopo gerar um efeito punitivo pela falta de cuidados no exercício de seus atos, convencendo-o a não mais cometer atos lesivos, explicam Gagliano e Pamplona Filho (2010).

Por derradeiro, Gagliano e Pamplona Filho (2010), ensinam que a terceira e última função da reparação civil tem por objetivo mostrar à sociedade que atos semelhantes aos do autor da conduta lesiva, não serão aceitos.

(17)

1.3 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE

A responsabilidade, segundo Venosa (2005), pode ser de diversas naturezas, ainda que seu significado ontológico seja o mesmo. No presente trabalho a responsabilidade será subdividida em civil e penal, objetiva e subjetiva, e contratual e extracontratual.

1.3.1 Responsabilidade civil e penal

Quando ocorre a infração de uma norma de direito público, ou seja, um crime, perturbando a ordem social, consequentemente sua conduta gera uma reação do ordenamento jurídico, o qual não pode quedar-se inerte diante de uma atitude individual dessa ordem. Assim, a reação da sociedade é representada pela pena, sendo indiferente para esta a existência ou não de prejuízo causado à vítima (RODRIGUES, 2008).

Lado outro, ensina Rodrigues (2008), quando ocorre um ilícito civil, o interesse lesionado é de interesse particular. Desse modo, a conduta do agente pode até não ter transgredido uma norma de ordem pública, no entanto, como esta causou dano a alguém, o causador deste deve repará-lo. Tal reparação é representada na sociedade como indenização. Contudo, como o interesse é unicamente do prejudicado, se este abdicar a arcar com o prejuízo e permanecer inativo, não haverá nenhum tipo de consequência ao causador do dano. Todavia, Venosa (2005, p. 29), explica que uma só conduta pode caracterizar tanto um ilícito penal quanto um ilícito civil:

Assim, o mesmo ato ou a mesma conduta pode caracterizar concomitantemente um crime e um ilícito civil. As normas de direito penal são de direito público, interessam mais diretamente à sociedade do que exclusivamente ao indivíduo lesado, ao ofendido. No direito privado, o que se tem em mira é a reparação de dano em prol da vítima; no direito penal, como regra, busca-se a punição e a melhor adequação social em prol da sociedade. Quando coincidem as duas ações, haverá duas persecuções, uma em favor da sociedade e outra em favor dos direitos da vítima.

Ademais, segundo o art. 63 do Código de Processo Penal, a sentença penal condenatória, após o trânsito em julgado, poderá ser executada no juízo cível para efeito do art. 91, I do Código Penal, qual seja, indenizar o dano causado pelo crime praticado (BRASIL, 1941; 1940).

Por fim, é preciso ressaltar que “a sentença penal absolutória, por falta de provas quanto ao fato, quanto à autoria, ou a que reconhece uma dirimente ou justificativa, sem

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estabelecer a culpa, por exemplo, não tem influência na ação indenizatória, que pode revolver autonomamente toda a matéria em seu bojo.” (VENOSA, 2005, p. 28).

1.3.2 Responsabilidade objetiva e subjetiva

Conforme Rodrigues (2008), não se pode afirmar que a responsabilidade objetiva e a responsabilidade subjetiva são espécies diversas de responsabilidade, e sim, formas diversas de visualizar a obrigação de reparar o dano.

Diz-se que a responsabilidade quando se baseia na ideia de culpa configura a responsabilidade subjetiva, ao passo que quando esta se baseia na teoria do risco, tem-se a responsabilidade objetiva (RODRIGUES 2008).

A culpa citada na responsabilidade subjetiva caracterizar-se-á quando o agente que causou o dano agir com negligência ou imprudência, como descreve o antigo art. 159 do Código Civil de 1916, sendo mantido, porém, com aprimoramentos, pelo art. 186 do Código Civil de 2002, explicam Gagliano e Pamplona Filho (2010).

Nesse passo, “a culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. Dentro dessa concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa”, ensina Gonçalves (2005, p. 21).

De outro giro, há casos em que o ordenamento jurídico impõe a alguém a responsabilidade civil por algum dano que este não causou diretamente, e sim por um terceiro o qual mantém alguma relação jurídica, tratando-se assim de uma responsabilidade indireta, cuja culpa não é ignorada, mas sim presumida, em face do dever geral de vigilância (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2010).

Ainda, segundo Gagliano e Pamplona Filho (2010, p. 56-57), para a responsabilidade civil objetiva “[...] o dolo, ou culpa na conduta do agente causador do dano é irrelevante juridicamente, haja vista que somente será necessária a existência do elo de causalidade entre o dano e a conduta do agente responsável para que surja o dever de indenizar”.

Nesse sentido, a responsabilidade objetiva se baseia na teoria do risco, a qual tem como máxima que “todo dano é indenizável, e deve ser reparado por quem a ele se liga por um nexo de causalidade, independente de culpa” (ALVIM apud GONÇALVES, 2005, p. 22).

Destarte, no âmbito da responsabilidade objetiva não há o que se falar em prova de culpa do agente para que este seja obrigado a reparar o dano, sendo que, em alguns casos, tal responsabilidade é presumida pela lei e, em outros, esta se funda no risco, leciona Gonçalves

(19)

(2005).

A teoria do risco tem como postulado que todo indivíduo que exerce uma atividade cria um risco de dano para terceiros, sendo obrigado a reparar, mesmo que em sua ação tenha ausência de culpa. A teoria do risco possui modalidades, sendo as principais a teoria do risco- proveito e do risco criado. A primeira modalidade tem como fundamento o princípio de ser reparável o dano causado a terceiro em consequência de uma atividade realizada em benefício do responsável (GONÇALVES, 2005); ao passo que na segunda modalidade, explica Caio Mário (1992, p. 24), “aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um perigo, está sujeito à reparação do dano que causar, salvo prova de haver adotado todas as medidas idôneas a evitá-lo.”. Desse modo, a diferença entre a teoria do risco-proveito e a teoria do risco criado é que na segunda, não há necessidade de haver um benefício ao agente responsável, bastando apenas a realização da atividade.

1.3.3 Responsabilidade contratual e extracontratual

Aquele que viola um dever jurídico, resultando um dano a terceiro, tem o dever a repará-lo. Neste diapasão, referido dever jurídico pode ter por fonte um vínculo obrigacional preexistente, ou seja, uma obrigação originária de um contrato, ou, de outro norte, pode ter como fonte geradora um dever imposto por preceito geral de direito, ou pela legislação (CAVALIERI FILHO, 2007).

Neste sentido, havendo a preexistência de uma relação obrigacional, e o dever de reparar for a consequência do não cumprimento desta, tem-se a responsabilidade contratual. Lado outro, se referido dever originar em razão de um direito subjetivo lesionado, sem que haja preexistência de vínculo jurídico entre ofensor e vítima, haverá a responsabilidade extracontratual, explica Cavalieri Filho (2007).

A responsabilidade contratual é disposta no Código Civil através do art. 389, o qual dispõe que “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado” (BRASIL, 2002). Observa-se que referido artigo abrange também o não cumprimento ou mora relativos a qualquer tipo de obrigação, mesmo que originária de negócio unilateral ou legal (GONÇALVES, 2005).

De outro norte, a responsabilidade extracontratual, também conhecida por aquiliana, é disciplinada no art. 186 do Código Civil, o qual trata dos atos ilícitos, compreendendo,

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desse modo, “a violação dos deveres gerais de abstenção ou omissão, como os que correspondem aos direitos reais, aos direitos de personalidade ou aos direitos de autor”, ensina Gonçalves (2005).

Gagliano e Pamplona Filho (2007, p. 60), acertadamente lecionam a diferença entre ambos os tipos de responsabilidade:

Com efeito, para caracterizar a responsabilidade civil contratual, faz-se mister que a vítima e o autor do dano já tenham se aproximado anteriormente e se vinculado para o cumprimento de uma ou mais prestações, sendo a culpa contratual a violação de um dever de adimplir, que constitui justamente o objeto do negócio jurídico, ao passo que, na culpa aquiliana, viola-se um dever necessariamente negativo, ou seja, a obrigação de não causar dano a ninguém. Justamente por essa circunstância é que, na responsabilidade civil aquiliana, a culpa deve ser sempre provada pela vítima, enquanto na responsabilidade contratual, ela é, de regra, presumida, invertendo-se o ônus da prova, cabendo à vítima comprovar, apenas, que a obrigação não foi cumprida, restando ao devedor o onus probandi, por exemplo, de que não agiu com culpa ou que ocorreu alguma causa excludente do elo de causalidade.

Por fim, vale ressaltar que a capacidade jurídica na responsabilidade contratual é mais restrita do que aquiliana, pois esta pode ser perpetrada por amentais e menores, o que pode gerar um dano indenizável, ao passo que somente os plenamente capazes podem celebrar convenções válidas (GONÇALVES, 2005).

1.4 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Embora exista uma certa divergência doutrinária quanto os pressupostos para a caracterização da responsabilidade civil, o presente trabalho limitar-se-á ao estudo de quatro pressupostos que comumente são lecionados pelos doutrinadores. São eles: ação ou omissão, culpa, relação de causalidade e dano experimentado pela vítima.

Referidos pressupostos são desdobramentos do art. 186 e 187 do Código Civil, os quais revelam a existência destes, via de regra necessários para que a responsabilidade civil se concretize (RODRIGUES, 2008).

1.4.1 Ação ou omissão do agente

O primeiro pressuposto da responsabilidade civil está contido no início do art. 186 do Código Civil, a saber: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária...” (BRASIL, 2002).

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Cavalieri Filho (2007, p. 24), explica que a conduta é gênero de que são espécies a ação e a omissão, ou seja, “o comportamento humano voluntário que se exterioriza através de uma ação ou omissão, produzindo consequências jurídicas. A ação ou omissão é o aspecto físico, objetivo, da conduta, sendo a vontade os seu aspecto psicológico, ou subjetivo.”

Acertadamente Diniz (2010, p. 40) leciona a respeito da ação:

A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado. [...] A responsabilidade decorrente de ato ilícito baseia-se na ideia de culpa, e a responsabilidade sem culpa funda-se no risco, que se vem impondo na atualidade, principalmente ante a insuficiência da culpa para solucionar todos os danos. [...] A comissão vem a ser a prática de um ato que não se deveria efetivar, e a omissão, a não observância de um dever de agir ou da prática de certo ato que deveria realizar-se. [...] Deverá ser voluntária no sentido de ser controlável pela vontade à qual se imputa um fato, de sorte que excluídos estarão os atos praticados sob coação absoluta; em estado de consciência, sob o efeito de hipnose, delírio febril, ataque epilético, sonambulismo, ou por provocação de fatos invencíveis como tempestades, incêndios desencadeados por raios, naufrágios, terremotos, inundações, etc.

Neste diapasão, tem-se que a ação comissiva é um “comportamento positivo”, ao passo que a ação omissiva é entendida como um “dever jurídico de agir, de praticar um ato para impedir o resultado, dever, esse, que pode advir da lei, do negócio jurídico ou de uma conduta anterior do próprio omitente” (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 24).

A respeito da licitude da ação, Gagliano e Pamplona Filho (2010), explicam que a ação deve ser contrária ao direito, ilícita ou antijurídica. No entanto, excepcionalmente, poderá haver responsabilidade civil sem que haja a antijuridicidade, por força de lei, ou seja, quando o ato foge da finalidade social a que se destina, sendo praticados com abuso de direito, como preceitua o art. 187 do Código Civil (BRASIL, 2002).

Deve-se ressaltar que a responsabilidade pode se originar de ato próprio, ato de terceiro que esteja sob a responsabilidade do indivíduo, e também de danos causados por coisas cuja guarda o indivíduo detenha (RODRIGUES 2008).

Nesse sentido, Rodrigues (2008, p. 15), ensina que:

A responsabilidade por ato de terceiro ocorre quando uma pessoa fica sujeita a responder por dano causado a outrem não por ato próprio, mas por ato de alguém que está, de um modo ou de outro, sob a sujeição daquele. Assim, o pai responde pelos atos dos filhos menores que estiverem em seu poder ou em sua companhia; o patrão responde pelos atos de seus empregados, e assim por diante. [...] A responsabilidade emerge da lei, pode extravasar os quadros da responsabilidade aquiliana e se apresentar dentro de relação contratuais, como é o caso da responsabilidade dos hoteleiros, estalajadeiros e outras pessoas em

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situação igual pelas bagagens dos hóspedes.

Assim, nota-se que a ação pode ser comissiva ou omissiva, lítica ou ilícita e voluntária, ou seja, é necessário ter a consciência daquilo que se está fazendo, não se exigindo, via de regra, a consciência subjetiva da ilicitude do ato (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2010).

1.4.2 Culpa do agente

Primeiramente, cumpre ressaltar que a culpa para autores como Gagliano e Pamplona Filho (2010), não é pressuposto geral da responsabilidade civil, tendo em vista que no Código Civil de 2002 há a previsão de um tipo de responsabilidade civil que dispensa tal elemento subjetivo para sua caracterização, qual seja, a responsabilidade civil. No entanto abordar-se-á a culpa neste trabalho para uma melhor diferenciação e entendimento.

O comportamento do indivíduo poderá ser reprovado ou censurado, diante de situações concretas, entende-se que poderia ou tinha o dever de agir diferentemente. Assim, o ato ilícito é baseado pela culpa. O art. 186 do Código Civil se refere ao ato ilícito quando alguém por ação ou omissão voluntária, ou seja, dolo; negligência ou imprudência, neste sentido, culpa, infringe direito ou causa dano a um terceiro, sendo responsabilizado a reparar os danos causados (DINIZ, 2010).

A culpa é delineada por Diniz (2010, p. 42-43), como sendo:

A culpa em sentido amplo, como violação de um dever jurídico, imputável a alguém, em decorrência de fato intencional ou de omissão de diligência ou cautela, compreende: o dolo, que é a violação intencional do dever jurídico, e a culpa em sentido estrito, caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer deliberação de violar um dever. Portanto, não se reclama que o ato danoso tenha sido, realmente, querido pelo agente, pois ele não deixará de ser responsável pelo fato de não se ter apercebido do seu ato nem medido as suas consequências. O dolo é a vontade consciente de violar o direito, dirigia à consecução do fim ilícito, e a culpa abrange a imperícia, a negligência e a imprudência. A imperícia é falta de habilidade ou inaptidão para praticar certo ato; a negligência é a inobservância de normas que nos ordenam agir com atenção, capacidade, solicitude e discernimento; e a imprudência é precipitação ou o ato de proceder sem cautela. Não há responsabilidade sem culpa, exceto disposição legal expressa, caso em que se terá responsabilidade objetiva.

Destarte, pode-se analisar que a culpa subdivide-se, lato sensu, em dolo, ou seja, quando é intencionalmente procurada e em culpa stricto sensu, isto é, originária de uma ação

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negligente e imprudente do agente causador do dano (GONÇALVES, 2005).

No entanto, “em qualquer das modalidades, [...], a culpa implica a violação de um dever de diligência, ou, em outras palavras, a violação do dever de previsão de certo fatos ilícitos e de adoção das medidas capazes de evitá-los”, assim leciona Gonçalves (2005, p. 490).

Lado outro, insta salientar que o Código Civil nada diferencia acerca do dolo e da culpa, tampouco entre os possíveis graus de culpa (grave, leve e levíssima), para fins de responsabilização, medindo-se esta pela extensão do dano (GONÇALVES, 2005).

1.4.3 Relação de causalidade

A relação de causalidade ou nexo de causalidade entre a ação culposa perpetrada pelo agente e o dano experimentado pela vítima é necessária para que confira a alguém o dever de indenizar referido prejuízo sofrido pela vítima. Sem a existência dessa relação, não se pode conceber o dever de reparar o dano causado (RODRIGUES, 2008).

Venosa (2005, p. 53), leciona que “é por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal”.

A importância do nexo causal é explicado por Cavalieri Filho (2007, p. 46):

Não basta, portanto, que o agente tenha praticado uma conduta ilícita; tampouco que a vítima tenha sofrido um dano. É preciso que esse dano tenha sido causado pela conduta ilícita do agente, que exista entre ambos uma necessária relação de causa e efeito. Em síntese, é necessário que o ato ilícito seja a causa do dano, que o prejuízo sofrido pela vítima seja resultado desse ato, sem o que a responsabilidade não correrá a cargo do autor material do fato. Daí a relevância do chamado nexo causal. Cuida-se, então, de saber quando um determinado resultado é imputável ao agente; que relação deve existir entre o dano e o fato para que este, sob a ótica do Direito, possa ser considerado causa daquele.

Se, porventura, houve a ocorrência de um dano, contudo sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, consequentemente, inexistirá a relação de causalidade, bem como, o dever de reparar o dano causado.

Venosa (2005, p. 53), ressalta duas questões relativas ao nexo de causalidade a a serem analisadas. “Primeiramente, existe dificuldade em sua prova; a seguir, apresenta-se a problemática da identificação do fato que constitui a verdadeira causa do dano,

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principalmente quando este decorre de causas múltiplas.”

Por fim, menciona a teoria da causalidade adequada, isto é, a causa predominante que originou o dano. No caso em comento será apenas o antecedente indispensável que acarretou o dano. Desse modo, nem todos os antecedentes poderão ser considerados pelo nexo causal.

1.4.4 Dano experimentado pela vítima

Como já fora citado no presente trabalho, pode-se haver a responsabilidade sem culpa, chamada responsabilidade objetiva, no entanto, não há o que se falar em responsabilidade sem a ocorrência do dano, pois não há o que reparar, mesmo que o agente tenha agido culposa ou dolosamente (CAVALIERI FILHO, 2007).

Contudo, “nem sempre a transgressão de uma norma ocasiona dano. Somente haverá possibilidade de indenização, como regra, se o ato ilícito ocasionar dano” (VENOSA, 2005, p. 40).

O conceito de dano é notadamente ensinado na obra de Cavalieri Filho (2007, p. 71):

Conceitua-se, então, o dano como sendo a subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer que seja sua natureza, quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um bem integrante da própria personalidade da vítima, como a sua honra, a imagem, a liberdade, etc. Em suma, dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral, vindo daí a conhecida divisão do dano em patrimonial e moral.

Assim, pode-se concluir que não haverá responsabilização, tampouco indenização, sem que haja um dano. O termo indenizar é delineado por Gonçalves (2005, p. 545), como sendo: “reparar o dano causado à vítima, integralmente. Se possível, restaurando o status quo

ante, isto é, devolvendo-a ao estado em que se encontrava antes da ocorrência do ato ilícito.

Mas, como na maioria dos casos torna-se impossível [...], busca-se a indenização monetária.” Cumpre observar que indenizando-se um dano que não ocorreu, tal atitude implicaria em enriquecimento ilícito para quem o recebeu e pena para quem o pagou, tendo em vista que o objetivo do ato de indenizar é reparar o dano causado à vítima, reintegrá-la ao estado que se encontrava antes (CAVALIERI FILHO, 2007).

Desse modo, observa-se que na responsabilização pelo dano moral causado, a pecúnia não desenvolve uma função equivalência, como é no caso do dano material, porém,

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simultaneamente, a função satisfatória e penalizadora (DINIZ, 2010). Neste sentido, pode-se concluir que:

Portanto, já danos cujo conteúdo não é dinheiro, nem uma coisa comercialmente redutível a dinheiro, mas a lesão a um direito da personalidade, visto que não se podem avaliar a dor, a emoção, a afronta, a aflição física ou moral, ou melhor, a sensação dolorosa experimentada pela pessoa. O dano moral que se traduz em ressarcimento pecuniário não afeta, a priori, valores econômicos, embora possa vir a repercutir neles. O dano patrimonial compreende, [...], o dano emergente e o lucro cessante, ou seja, a efetiva diminuição no patrimônio da vítima e o que ela deixou de ganhar. (DINIZ, 2010, p. 62).

No texto citado alhures, a o dano emergente pode ser considerado como o que se realça logo da ocorrência do ato ilícito, ou seja, aquilo que realmente se perdeu. Ao passo que o lucro cessante significa, conforme o texto do art. 402 do Código Civil, o que a vítima razoavelmente deixou de lucrar caso não tivesse ocorrido o dano, leciona Venosa (2005).

Quando o autor ajuíza uma ação de indenização em face de quem praticou o ato ilícito, busca-se a reparação do dano causado, não obtenção de uma vantagem. Quando referido dano é decorrente do inadimplemento de um contrato, este delimitará quanto e como se dará o ressarcimento, no entanto, quando o dano é originário de uma responsabilidade extracontratual, este deverá ser analisado de acordo com o caso concreto, observando-se o art. 402 do Código Civil, que assim dispõe, “Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.” (VENOSA, 2005; BRASIL, 2002).

Conclui-se, portanto, que se a vítima não sofreu nenhum prejuízo, ou seja, nenhum tipo de dano, moral ou patrimonial, não haverá o que ressarcir, isto é, indenizar, sendo o dano não apenas o fato constitutivo do dever de reparar, mas também fator determinante deste.

1.5 RESPONSABILIDADE CIVIL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A Constituição Federal de 1988 em seu art. 5, XXXII, de a incumbência ao Estado de promover na forma da lei a defesa do consumir, e assim o fez através da Lei n. 8.078/90 que instituiu o Código de Defesa do Consumidor (CDC) (BRASIL, 1988; 1990).

Gonçalves (2005, p. 30-31), tece notáveis comentários a respeito do CDC:

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bem como dos conglomerados econômicos, os princípios tradicionais da nossa legislação privada já não mais bastavam para reger as relações humanas, sob determinados aspectos. E, nesse contexto, surgiu o Código de Defesa do Consumidor, atendendo a princípio constitucional relacionado à ordem econômica. Partindo da premissa básica de que o consumidor é a parte vulnerável das relações de consumo, o Código pretende restabelecer o equilíbrio entre os protagonistas de tais relações. Assim, declara expressamente o art. 1º que o referido diploma estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, acrescentando serem tais normas de ordem pública e interesse social.

De tal modo, temos que o objetivo do CDC é promover a defesa do consumidor, restabelecendo o equilíbrio e a igualdade nas relações de consumo, uma vez que a vulnerabilidade do consumidor é a razão deste referido diploma, pois se encontra em desvantagem técnica e jurídica em face do fornecedor (CAVALIERI FILHO, 2007).

Outrossim, mister se faz ilustrar os protagonistas desta relação consumerista. No pólo ativo há a figura do fornecedor, o qual é definido no art. 3º do CDC, como sendo:

[...] toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestações de serviços. (BRASIL, 1990).

De outro lado, temos o consumidor, definido no art. 2º do mesmo código, como “... toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.”, ou seja, para prover uma necessidade própria, não podendo ser utilizada para desenvolvimento de outra atividade comercial. O parágrafo único equiparou a coletividade de pessoas, mesmo de indetermináveis, aos consumidores, bem como os arts. 17 e 19 (CAVALIERI FILHO, 2007; BRASIL, 1990).

O Código de Defesa do Consumidor, também, definiu em seus parágrafos do art. 3º os objetos desta relação de consumo, como sendo o produto “qualquer bem móvel ou imóvel, material ou imaterial” e o serviço “qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista” (BRASIL, 1990).

No afã de proteger o consumidor, o CDC elencou no art. 6º os direitos básicos, tais como proteção da vida, saúde e segurança contra riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,

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segundo as regras (BRASIL, 1990).

Destarte, observa-se no aludido dispositivo legal que seu principal foco é proteger o consumidor e equilibrar a relação de consumo, equiparando consumidores e distinguindo produtos e serviços.

Além disso, o CDC instituiu a responsabilidade civil dos fornecedores pelos fatos do produto e do serviço nos arts. 12 e 14, constando em ambos a expressão “independente da existência de culpa”. Nota-se, desse modo, que a responsabilidade civil nas relações de consumo é objetiva, pois prescinde da culpa para que se configure (VENOSA, 2005).

Os parágrafos terceiros dos artigos supracitados dispõem sobre as formas de não responsabilização dos fornecedores de produtos e serviços, respectivamente, devendo provar, em síntese, a inexistência do nexo causal ou a culpa exclusiva da vítima, leciona Venosa (2005).

Por fim, conclui-se que a responsabilidade civil nos casos de fato do produto e fato do serviço é objetiva, independendo, desse modo, da caracterização da culpa do fornecedor, bastando a relação de causalidade e o dano causado.

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2 BULLYING

De origem inglesa e ainda sem tradução na língua portuguesa, a palavra bullying é usada para descrever ações violentas físicas ou psicológicas, intencionais e repetitivas contra uma ou mais vítimas (SILVA, 2010).

Tal expressão estrangeira é adotada em vários países para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob tensão (FANTE; PEDRA, 2008).

Segundo a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), estão inseridos no significado do bullying: colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar e quebrar pertences (CALHAU, 2010).

Em dicionários o termo bully traz os adjetivos - valentão, tirano, mandão e brigão à pessoa que o pratica, e como verbo o ato de ameaçar, maltratar, oprimir e assustar. Ainda, caracteriza o agressor como uma pessoa que força outra a fazer coisas usando o medo e a força (RIDEOUT, [200-], p. 96).

Para o pediatra Lopes Neto (2005, p. 165), o bullying é uma forma de afirmação de poder interpessoal através da agressão e tem sido tradicionalmente aceito como natural, sendo também habitualmente ignorado ou não valorizado, tanto por professores quanto pelos pais.

No entanto, é necessário estabelecer uma diferença entre o bullying e brincadeiras próprias da idade. A psicóloga e especialista Silva (2010, p. 13), esclarece que:

[...] É necessário entendermos que brincadeiras normais e sadias são aquelas nas quais todos os participantes se divertem. Quando apenas alguns se divertem à custa de outros que sofrem, isso ganha outra conotação, bem diversa de um simples divertimento. Nessa situação específica, utiliza-se o termo bulliyng escolar, que abrange todos os atos de violência (física ou não) que ocorrem de forma intencional e repetitiva contra um ou mais alunos, impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas.

Dan Olweus, pesquisador da Universidade de Bergen, Noruega, estabeleceu critérios para distinguir o bullying, das demais formas de violência e até mesmo das brincadeiras. São eles: ações repetitivas contra a mesma vítima num período prolongado de tempo; desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima e ausência de motivos que justifiquem os ataques (OLWEUS apud CALHAU, 2010, p. 7).

Apesar de comumente ser atribuída ao ambiente escolar, a prática de bulliyng pode ocorrer no trabalho, situação conhecida como mobbing. Há o bullying em ambientes virtuais,

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sendo denominada de cyberbullying. Ocorrem também casos de bullying no seio familiar e na sociedade em geral. O bulliyng Pode ser praticado de diversas formas, tais como, agressão verbal, física e material, psicológica e moral, sexual e virtual (SILVA, 2010).

O bullying escolar ocorre tanto em escolas públicas quanto particulares, e pode ocorrer apenas por diversão, autoafirmação e demonstração da relação de força e superioridade que os próprios alunos estabelecem. Para uma ação ser caracterizada como

bulliyng escolar, não é necessário que esta aconteça dentro da sala de aula, mas poderá ocorrer

nos corredores, pátios e até mesmo arredores do estabelecimento de ensino. O conflito pode partir de dentro das mediações escolares para fora do ambiente escolar e vice-versa, o que explica a ocorrência de ações violentas nas imediações da escola, como shoppings, festas e demais locais públicos, segundo os ensinamentos de Silva (2010).

Para Lopes Neto (2005) o bullying pode ser classificado como direto quando as vítimas são atacadas diretamente com apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais ou expressões e gestos que geram mal estar nestas, ou indireto quando as vítimas estão ausentes, por exemplo, atitudes de indiferença, isolamento, difamação e negação aos desejos.

As consequências dessas agressões são diversas, desde uma dor de cabeça à prática de suicídio e homicídio, variando de acordo com a vulnerabilidade da vítima e a forma de

bullying praticada contra esta (SILVA, 2010).

2.1 NOÇÃO HISTÓRICA

“A violência nas escolas é um problema social grave e complexo e, provavelmente, o tipo mais frequente e visível da violência juvenil” (LOPES NETO, 2005, p. 165).

O bullying sempre existiu na sociedade, porém apenas nos anos 70 tornou-se objeto de estudos científicos, tendo como pioneiro o pesquisador da Universidade de Berger, na Noruega, Dan Olweus. Olweus iniciou uma larga pesquisa sobre o tema após o suicídio de 3 crianças de 10 a 14 anos, no norte da Noruega em 1982, tendo como principal motivo da tragédia os maus-tratos sofridos pelos jovens por seus colegas de escola (FANTE, 2005).

Tal estudo reuniu cerca de 84 mil estudantes do primeiro ano do ensino fundamental ao último ano do ensino médio, quase quatrocentos professores e aproximadamente mil pais de alunos, objetivando avaliar as taxas de ocorrência e as formas pelas quais o bullying escolar se apresentava na vida das crianças e adolescentes de seu país. Por fim, fora

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constatado que um em cada sete alunos encontrava-se envolvido nos casos de bullying, tanto na condição de vítima quanto de agressor, segundo Fante (2005).

Outras pesquisas apontam o crescimento desse fenômeno e estima-se que de 5% a 35% das crianças em idade escolar estejam envolvidas com a prática de bullying (CALHAU, 2010).

Ainda de forma elementar, as pesquisas sobre o tema no Brasil são realizadas desde 2001 pela ABRAPIA. Entre novembro e dezembro de 2002 e março de 2003, a ABRAPIA realizou um estudo com alunos de 5ª a 8ª série de 11 escolas, sendo 9 públicas e 2 particulares, no estado do Rio de Janeiro, chegando-se aos seguintes resultados:

Dos 5.482 alunos participantes, 40,5% (2217) admitiram ter tido algum tipo de envolvimento direto na prática do bullying no ano de 2002, seja como alvo do e/ou como autor, conforme mostra a tabela abaixo.

Participantes do Bullying

Alvos de Bullying 16,9%

Alvos/Autores de Bullying 10,9%

Autores de Bullying 12,7%

Testemunhas de Bullying 57,5%

Fig. 01: Participantes do Bullying Fonte: ABRAPIA (2003)

A pesquisa também apurou que houve um certo predomínio do sexo masculino (50,5%) sobre o sexo feminino (49,5%) na participação ativa das condutas de bullying, e que 60,2% dos alunos afirmaram que tais violências ocorrem frequentemente dentro da sala de aula.

Outro dado coletado na pesquisa é que 41,6% dos alunos que admitiram serem alvos de bullying disseram não ter solicitado ajuda aos colegas, professores ou família e aqueles que pediram auxílio para que houvesse a redução ou cessação de seu sofrimento, apenas 23,7% o conseguiu.

Um dos dados mais alarmantes é que pouco mais da metade dos autores de bullying (51,8%), afirmaram que não receberam nenhum tipo de orientação ou advertência quanto à incorreção de seus atos, o que demonstra a omissão das escolas e dos pais quanto às condutas violentas de seus alunos e filhos.

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adolescentes:

Tipos de Bullying

Geral Masculino Feminino

Apelidar 54,2% 50,4% 64,0% Agredir 16,1% 27,2% 7,9% Difamar 11,8% 6,4% 12,3% Ameaçar 8,5% 8,9% 7,8% Pegar/Quebrar pertences 4,7% 2,2% 4,2% Excluir 2,5% 1,8% 2,0% Outros 2,0% 2,3% 1,5% Não opinou 0,2% 0,8% 0,3%

Fig. 02: Tipo de Bullying Fonte: ABRAPIA (2003)

Em outubro de 2010 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou uma campanha no intuito de ajudar pais e educadores a prevenir e enfrentar o bullying. Uma pequena cartilha de 16 páginas, escrita pela psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, mostra como lidar com esse fenômeno na comunidade e na escola. Por meio de perguntas e respostas é possível elucidar muitas dúvidas de pais e educadores acerca do tema, tais como, o que é o bullying, quais as formas de ocorrência do mesmo, quais as principais razões que levam os jovens a se tornarem os agressores, quais os problemas que a vítima de bullying pode enfrentar na escola e ao longo da vida, como perceber quando uma criança ou adolescente está praticando ou sofrendo esse tipo de violência, qual o papel da escola para evitá-lo e como os pais e professores podem ajudar as vítimas a superarem o sofrimento (CNJ, 2010).

A campanha é uma das ações do programa Justiça na Escola que tem o objetivo de aproximar o Judiciário e as instituições de ensino no país no combate e na prevenção dos problemas que afetam crianças e adolescentes.

No Brasil já há alguns históricos de violência em razão de prática de bullying. Em janeiro de 2003, a cidade de Taiuva, interior de São Paulo, o jovem Edimar de Freitas, de 18 anos, entrou armado na escola, em que havia concluído o ensino médio; abriu fogo contra cinquenta pessoas que estavam no pátio, feriu oito e se matou em seguida. Constam nas investigações que o principal motivo foi os constantes apelidos e humilhações que Edimar recebia por ser obeso. Na cidade de Silva Jardim, estado do Rio de Janeiro, o tímido e quieto

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Samuel Teles da Conceição, foi alvo de constantes ofensas e brincadeiras maldosas. Em setembro de 2008, o rapaz foi espancado com socos na cabeça, dentro da sala de aula e no pátio da escola, por vários colegas de classe. O motivo teria sido o fato dos agressores não terem gostado do novo corte de cabelo do adolescente. Dias depois, o jovem veio a falecer, vítima de meningoencefalite purulenta e contusão cerebral (SILVA, 2010)

O mais recente e chocante caso de bullying foi o ataque na escola Tasso da Silveira, em abril deste ano, em Realengo, Rio de Janeiro, onde o jovem de 23 anos Wellinton Menezes de Oliveira atirou contra alunos em salas de aulas lotadas, foi atingido por um policial e se suicidou. Ao todo 12 crianças morreram e 13 ficaram feridas. Apurou-se que Wellinton era ex-aluno da escola municipal e sofria maus tratos na escola onde estudou e realizou o massacre (REVISTA VEJA, 2011).

Em um de seus vídeos Wellinton afirma “[...] Que o ocorrido sirva de lição, principalmente às autoridades escolares, para que descruzem os braços diante de situações em que alunos são agredidos, humilhados [...]”. Com bases nos vídeos encontrados e em outras evidências do caso, o Delegado que investigou o caso, Sérgio Henriques, acredita que o rapaz, além de ter sido uma provável vítima de bullying, apresentava claras manifestações de esquizofrenia, doença herdada pela mãe, informa Revista Veja (2011, p. 95).

2.2 AGENTES DE BULLYING

Para que se possa compreender esse fenômeno que vem assolando o ambiente escolar, é necessário caracterizar e identificar seus personagens.

Vários autores, como Silva (2010), Calhau (2010) e Fante (2005), classificam os agentes em Vítimas ou Alvos, Agressores ou Autores e Espectadores ou Testemunhas de

bullying, podendo ocorrer subdivisões em alguns casos.

2.2.1 Vítimas

São consideradas vítimas de bullying aqueles alunos expostos, de forma repetida e durante algum tempo, às ações negativas cometidas por um ou mais alunos (LOPES NETO, 2005).

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escolhidas. Contudo, apresentam determinadas características pessoais que os tornam alvo da prática de bulliyng, tais como, pouca habilidade de socialização, timidez e não reação aos comportamentos provocadores e agressivos cometidos contra os mesmos (SILVA, 2010)

Geralmente são crianças e adolescentes frágeis fisicamente ou que apresentam alguma característica diferenciadora dos demais alunos, por exemplo, ser gordos ou magros demais, altos ou baixos demais, usam óculos, são deficientes físicos, têm orelhas ou nariz acentuados, ou são perseguidos em razão de raça, credo, condição socioeconômica ou orientação sexual (SILVA, 2010).

Explica o pediatra Lopes Neto (2005), que comumente a baixa autoestima da vítima é agravada por críticas dos adultos sobre sua vida e comportamento, o que dificulta a possibilidade de ajuda e aumenta o sofrimento. Tem poucos amigos, é passivo, retraído, infeliz, sofre com a vergonha, medo, depressão, ansiedade e às vezes pode acreditar ser merecedor dos maus-tratos sofridos.

Alguns métodos educativos familiares podem facilitar o desenvolvimento de alvos de

bullying, tais como, proteção excessiva, o que gera dificuldade em enfrentar os desafios e para

se defender; tratamento infantilizado, o que causa desenvolvimento psíquico e emocional inferior do aceito pelo grupo; e o papel de bode expiatório da família, sofrendo críticas sistemáticas, sendo, assim, responsabilizadas pelas frustrações dos pais (LOPES NETO, 2005).

As reações das vítimas são diversas, desde o silêncio total até recorrer às armas para combater o poder que os sucumbia. A pesquisa realizada pela ABRAPIA mostra outros comportamentos adotados pelas vítimas, conforme tabela abaixo:

Reações dos Alunos-Alvos

Não dei atenção/ignorei 49,8%

Pedi que parasse 12,3%

Pedi ajuda 4,5%

Defendi-me 16,%

Fugi/ Não fui à escola 3,4%

Chorei 8,4%

Outros 4,5%

Não opinou 0,4%

Fig. 03: Reações dos Alunos-Alvos Fonte: ABRAPIA

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A especialista Silva (2010, p.48-49), aponta alguns comportamentos típicos de alunos que são vítimas de bullying, são eles:

No recreio, encontram-se frequentemente isoladas do grupo ou perto de algum adulto que possa protegê-las;

Na sala de aula, apresentam postura retraída. Têm extrema dificuldade em perguntar algo ao professor ou emitir sua opinião para os demais alunos. Deixam explícitas suas inseguranças e ansiedades;

Apresentam faltas frequentes às aulas, com o intuito de fugir das situações de exposição, humilhações e/ou agressões psicológicas e físicas;

Mostram-se comumente tristes, deprimidas ou aflitas;

Nos jogos ou atividades em grupos, sempre são as últimas a serem escolhidas;

Ocasionalmente, nos casos mais dramáticos, apresentam hematomas (contusões), arranhões, cortes, ferimentos, roupas danificadas ou rasgadas;

Frequentemente se queixam de dores de cabeça, enjôo, dor de estômago, tonturas, vômitos, perda de apetite, insônia;

Mudanças frequentes e intensas de estado de humor. Podem apresentar explosões repentinas de irritação ou raiva;

Geralmente não têm amigos ou bem poucos, que preferem não frequentar sua casa ou compartilhar outras atividades livres;

Passam a gastar mais do que o habitual na cantina da escola ou em compras de objetos diversos com o intuito de agradar os colegas, através de favores materiais para evitar as perseguições;

Começam a apresentar diversas desculpas, inclusive sintomas de doenças físicas, e que podem de fato existir, com o intuito de faltas às aulas;

Apresentam-se irritadas, ansiosas, tristes ou deprimidas, sonolentas durante o dia, com ar de infelicidade permanente e aumento ou redução acentuada do apetite e;

Tornam-se descuidadas com tudo que esteja relacionado aos afazeres escolares.

Algumas vítimas podem apresentar comportamentos peculiares pois, reproduzem os maus-tratos sofridos em outro indivíduo como forma de compensação por sua frustração. Estas vítimas são classificadas como vítima agressora, ou seja, procuram outra vítima mais frágil e vulnerável, e cometem contra a mesma todas as agressões sofridas (SILVA, 2010).

Consta no rol das vítimas de bullying algumas celebridades que sofreram na infância ou na adolescência e, hoje, são símbolos da superação e do sucesso, tais como, o nadador Michael Phelps, a atriz Kate Winslet, o ator Tom Cruise, a cantora Madonna, o jogador de futebol David Beckham, o produtor e diretor de cinema Steven Spielberg e ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, elenca Silva (2010).

2.2.2 Agressores

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costuma ser mais forte que seus companheiros de classe e que suas vítimas em particular, pode ter a mesma idade ou ser um pouco mais velho que suas vítimas, pode ser fisicamente superior nas brincadeiras, nos esportes e nas brigas. É mau-caráter, impulsivo, irrita-se facilmente, tem baixa resistência às frustrações, não aceita ser contrariado, é considerado malvado, duro, e mostra pouca simpatia para com suas vítimas. Adota condutas antissociais, incluindo o roubo, o vandalismo e o uso de álcool, além de se sentir atraído por más companhias (FANTE apud CALHAU, 2010).

Os autores de bullying possuem em sua personalidade traços de desrespeito e maldade, aliado ao poder de liderança obtido ou legitimado por meio da força física ou de intenso assédio psicológico (SILVA, 2010).

O pediatra Lopes Neto (2005), explica que:

Algumas condições familiares adversas parecem favorecer o desenvolvimento da agressividade nas crianças. Pode-se identificar a desestruturação familiar, o relacionamento afetivo pobre, o excesso de tolerância ou de permissividade e prática de maus-tratos físicos ou explosões emocionais como forma de afirmação de poder dos pais. Fatores individuais também influem na adoção de comportamentos agressivos: hiperatividade, impulsividade, distúrbios comportamentais, dificuldades de atenção, baixa inteligência e desempenho escolar deficiente.

[...]

São menos satisfeitos com a escola e a família, mais propensos ao absenteísmo e à evasão escolar e têm uma tendência maior para apresentarem comportamentos de risco (consumir tabaco, álcool ou outras drogas, portar armas, brigas, etc).

Ademais, os agressores podem agir individualmente ou em grupo, o que aumenta seu poder de agressividade, ampliando seu território de ação e sua capacidade de produzir mais e novas vítimas (CALHAU, 2010).

Alguns comportamentos também são característicos dos agressores, ensina Silva (2010, p.50-51):

Começam com brincadeiras de mau gosto, que rapidamente evoluem para gozações, risos provocativos, hostis e desdenhosos;

Colocam apelidos pejorativos e ridicularizantes, com explícito propósito maldoso;

Insultam, difamam, ameaçam, constrangem, e menosprezam alguns alunos; Fazem ameaças diretas ou indiretas, dão ordens, dominam e subjugam seus pares;

Perturbam e intimidam, utilizando-se de empurrões, socos, pontapés, tapas, beliscões, puxadas de cabelos ou de roupas;

Estão sempre se envolvendo, de forma direta ou velada, em desentendimentos e discussões entre alunos, ou entre alunos e professores;

Pegam materiais escolares, dinheiro, lanches e quaisquer pertences de outros estudantes, sem consentimento ou até mesmo sob coação;

Apresentam, habitualmente, atitudes hostis, desafiadoras e agressivas com relação aos pais, irmãos e empregados;

(36)

confusões em que se envolveram

Se portam em casa como se nada de errado estivesse acontecendo, além de contestarem todas as observações negativas que os pais recebem por parte da escola, dos irmãos e dos empregados domésticos.

Pode-se observar no quadro abaixo alguns sentimentos experimentados pelos autores ao praticarem bullying contra suas vítimas:

Sentimentos dos Alunos-Autores

Eu me senti bem 6,7%

Foi engraçado 29,5%

Senti que eles mereciam o castigo 12,8%

Não senti nada 9,8%

Preocupado se diretor/professor/funcionário visse 4,7%

Que fariam o mesmo comigo 13,5%

Eu me senti mal 9,5%

Eu senti pena do colega 11,4%

Não opinou 2,2%

Fig. 04: Sentimentos dos Alunos-Autores Fonte: ABRAPIA

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em sua cartilha “Bullying – Projeto Justiça na Escola”, esclarece alguns motivos que levam os jovens a se tornarem agressores, a saber: muitos se comportam violentamente por uma nítida falta de limites em seus processos educacionais no contexto familiar, e outros carecem de um modelo de educação que seja capaz de associar a autorrealização com atitudes socialmente produtiva e solidárias; e procuram nas ações egoístas e maldosas um meio de adquirir poder e status, e reproduzem os modelos domésticos na sociedade. Existem ainda aqueles que vivenciam dificuldades momentâneas, como a separação traumática dos pais, ausência de recursos financeiros, doenças na família, etc. E, por fim, a minoria dos opressores, porém, a mais perversa: crianças ou adolescentes que apresentam a transgressão como base estrutural de suas personalidades, faltando-lhes o sentimento essencial para o exercício do altruísmo, a empatia (CNJ, 2010).

2.2.3 Espectadores

(37)

praticadas pelos agressores contra as vítimas, porém, não a defendem, tampouco praticam a violência. Muitos por medo de se tornarem a próxima vítima, ou ainda, como acrescenta Lopes Neto (2005) “[...] por não saberem como agir e por descrerem nas atitudes da

escola.”.

Porém, grande parte das testemunhas sente simpatia pelas vítimas, tende a não culpá-las pelo ocorrido, condena o comportamento dos agressores e deseja que os professores intervenham mais efetivamente (LOPES NETO, 2005).

Silva (2010) subdivide os espectadores em passivos, ativos e neutros. A especialista explica que os espectadores passivos assumem essa condição por medo absoluto de se tornarem a próxima vítima, de serem eleitos para sofrerem as violências que testemunham. Esses tipos de alunos não concordam e repelem as atitudes dos autores, porém ficam impotentes para tomar qualquer atitude em defesa das vítimas.

Os espectadores ativos são aqueles que, em que pese não participarem diretamente da violência contra as vítimas, manifestam apoio moral aos agressores, ou seja, incitam a prática do bullying com risadas e palavras de estímulo (SILVA, 2010).

E, por fim, o grupo dos espectadores neutros é composto por aqueles alunos que, por uma questão sociocultural, não demonstram sensibilidade pelas atitudes de bullying que presenciam (SILVA, 2010).

A pesquisa realizada pela ABRAPIA revelou alguns sentimentos dos alunos que testemunharam as práticas de bullying, conforme quadro abaixo:

Sentimentos dos Alunos-Testemunhas

Me senti mal 26,5%

Medo que acontecesse comigo 12,4%

Me senti triste 7,7%

Fiquei com pena 33,4%

Fiquei com pena do agressor 2,4%

Fingi que não vi 5,3%

Não me incomodou 8,1%

Me senti bem 4,2%

Fig. 05: Sentimentos dos Alunos-Testemunhas Fonte: ABRAPIA

Referências

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