• Nenhum resultado encontrado

Norteando-se no art. 932, IV, do Código Civil é atribuída à escola a responsabilidade civil por seus educandos (BRASIL, 2002).

A responsabilidade da escola dá-se enquanto o aluno encontra-se nas dependências do estabelecimento e sob sua responsabilidade, de modo que é responsável não só pela incolumidade física deste, mas também pela prática de atos ilícitos a terceiros ou a outro aluno, leciona Venosa (2005).

Portanto, segundo Venosa (2005), é pressuposto para a ocorrência da indenização que o educando esteja sob a vigilância da escola quanto da prática do ato ilícito.

O Código Civil de 1916, no art. 1.521, correspondente ao 932 do atual código, a presunção de culpa era relativa, admitindo-se prova em contrário. Assim, a escola se exonerava da responsabilidade por atos praticados por seus alunos caso provasse não ter havido culpa ou negligência de sua parte (BRASIL, 1916).

praticados pelos terceiros ali mencionados, às pessoas indicadas nos incisos I a V do art. 932, independentemente de ter havido culpa de sua parte, configurando-se, desse modo, a responsabilidade civil objetiva (BRASIL, 2002).

Gonçalves (2005, p.161) aponta duas situações diversas no art. 932, IV:

[...] se o dano é causado pelo aluno contra terceiros, a escola responde pelos prejuízos, independentemente de culpa. Tem, porém, ação regressiva contra os alunos (porque seus pais não têm obrigação de responder pelos atos praticados por seus filhos na escola), se estes puderem responder pelos prejuízos, sem se privarem do necessário (CC, art. 928 e parágrafo único) [...]. Se o dano é sofrido pelo próprio aluno [...], a vítima pode mover, representada pelo pai, ação contra estabelecimento.

Assim, observa-se que não se justifica o direito regressivo contra os pais dos menores, tendo em vista que o estabelecimento de ensino ao acolher seus alunos recebe a guarda e vigilância, sendo responsável pela culpa in vigilando se o aluno pratica algum ato danoso a outrem (MARIO apud GONÇALVES, 2005).

Para Dias (2006), a ideia de vigilância é maior do que a ideia de educação, entendo- se que a escola responde por atos de alunos, durante o período em que exerce vigilância e autoridade sobre eles.

No entanto, se a escola organiza um passeio ou excursão, por iniciativa própria, esta continuará responsável pelas ações dos alunos como se estivessem nas dependências da própria escola (STOCO, 2007).

Mostra-se necessário trazer à baila alguns julgados que corroboram o que aqui fora apontado, segundo Stoco (2007, p. 740-741):

Apelação cível. Responsabilidade civil do Estado. Aluno menos impúbere ferido por colega de escola quando se encontrava no lado de fora da escola, junto ao portão de entrada, em horário anterior ao início das aulas. Pedido de indenização por dano material, moral e estético. Inexistência de nexo de causalidade entre o evento e a atuação do Poder Público ou de falta ou falha do serviço. Sentença mantida. Recurso não provido – “O aluno fica sob a guarda e vigilância do estabelecimento de ensino, público ou privado, com direito de ser resguardado em sua incolumidade física, enquanto estiver nas dependências da escola, respondendo os responsáveis pela empresa privada ou o Poder Público, nos casos de escola pública, por qualquer lesão que o aluno venha a sofrer, seja qual for a natureza, ainda que causada por terceiro. Fora das dependências da escola, em horário incompatível, inexiste qualquer possibilidade de se manter essa obrigação de resguardo” (BRASIL, 1999).

Indenização e responsabilidade civil por dano moral. Menor que foi agredido e humilhado em estabelecimento escolar. Alegação da ré de que o fato foi simples brincadeira no pátio da escola. Ausência de vigilância de quem tem obrigação de zelar pela integridade física e moral dos alunos. Procedência decretada. Recurso desprovido (BRASIL, 1998).

Desse modo, a escola só será responsabilizada por dano praticado por aluno a terceiro ou a outro aluno caso este se encontre em suas dependências e, portanto, sob sua guarda e vigilância. Caso o dano ocorra nos arredores da escola não há o que se falar em responsabilidade, tendo em vista que neste momento cessa-se o dever de vigiar, cessando-se também o nexo de causalidade.

3.3 O FATO DO SERVIÇO E A ESCOLA PARTICULAR

Tendo em vista que o estabelecimento de ensino privado é prestador de serviço, portanto regido pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), pode-se dizer que:

O aluno é consumidor do fornecedor de serviços, que é a instituição educacional. Se o agente sofre prejuízo físico ou moral decorrente da atividade no interior do estabelecimento ou em razão dele, este é responsável. Responde, portanto, a escola, se o aluno vem a ser agredido por colega em seu interior ou vem a acidentar-se em seu interior. Pode até mesmo ser firmada a responsabilidade, ainda que o educando se encontre fora das dependências do estabelecimento: imaginemos a hipótese de danos praticados por aluno em excursão ou visita organizada, orientada ou patrocinada pela escola. Nesse caso, o dever de vigilância dos professores e educadores é ambulatório, isto é, acompanha os alunos. Esse dever de vigilância é, desse modo, tanto no tocante a atos praticados contra terceiros como contra os próprios alunos e empregados do estabelecimento (VENOSA, 2005, p. 94).

Desse modo, quando ocorre algum dano dentro do estabelecimento de ensino particular ocorre o que é descrito no CDC como fato o serviço. Assim, o serviço será considerado defeituoso quando não fornecer a segurança que o consumidor pode esperar, considerando o modo de seu fornecimento, o resultado e os riscos que razoavelmente se esperam e a época em que foi fornecido, como dispõe o §1º do art. 14 (BRASIL, 1990).

Assim, o “fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços [...]”, conforme art. 14, caput, do CDC (BRASIL, 1990).

A expressão “independentemente da existência de culpa” do artigo acima citado, estabeleceu a responsabilidade objetiva direta para todos os fornecedores de serviços em relação aos danos causados aos consumidores, ora educandos, que tenham causa o fato do serviço, apenas sendo possível afastar tal responsabilidade nas hipóteses previstas no §3º do mesmo dispositivo legal, quais sejam, a inexistência do defeito, consequentemente ausência de dano e a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, desfazendo-se o nexo causal (CAVALIERI FILHO, 2007).

Notadamente os tribunais de São Paulo e o Superior Tribunal de Justiça proferiram decisões acerca da responsabilidade da escolas por danos causados a alunos, inclusive sobre

bullying:

REPARAÇÃO DE DANOS - Bullying - Menor de idade agredido, tendo sua cabeça introduzida dentro de vaso sanitário,com a descarga acionada Reconhecimento de situação vexatória e humilhante, apta a caracterizar o dano moral, independente de qualquer outro tipo de comprovação - Fatos ocorridos dentro do estabelecimento de ensino, em sanitário fechado - Ausência de fiscalização suficiente, o que gera a responsabilidade da escola pelo ocorrido - Sentença mantida. Recurso improvido (BRASIL, 2011).

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ACIDENTE OCORRIDO COM ALUNO DURANTE EXCURSÃO ORGANIZADA PELO COLÉGIO. EXISTÊNCIA DE DEFEITO. FATO DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.

AUSÊNCIA DE EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE.1. É

incontroverso no caso que o serviço prestado pela instituição de ensino foi defeituoso, tendo em vista que o passeio ao parque, que se relacionava à atividade acadêmica a cargo do colégio, foi realizado sem a previsão de um corpo de funcionários compatível com o número de alunos que participava da atividade.2. O Tribunal de origem, a pretexto de justificar a aplicação do art. 14 do CDC, impôs a necessidade de comprovação de culpa da escola, violando o dispositivo ao qual pretendia dar vigência, que prevê a responsabilidade objetiva da escola.143. Na relação de consumo, existindo caso fortuito interno, ocorrido no momento da realização do serviço, como na hipótese em apreço, permanece a responsabilidade do fornecedor, pois, tendo o fato relação com os próprios riscos da atividade, não ocorre o rompimento do nexo causal.4. Os estabelecimentos de ensino têm dever de segurança em relação ao aluno no período em que estiverem sob sua vigilância e autoridade, dever este do qual deriva a responsabilidade pelos danos ocorridos.5. Face as peculiaridade do caso concreto e os critérios de fixação dos danos morais adotados por esta Corte, tem-se por razoável a condenação da recorrida ao pagamento de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de danos morais.6. A não realização do necessário cotejo analítico dos acórdãos, com indicação das circunstâncias que identifiquem as semelhanças entre o aresto recorrido e os paradigmas implica o desatendimento de requisitos indispensáveis à comprovação do dissídio jurisprudencial.7. Recursos especiais conhecidos em parte e, nesta parte, providos para condenar o réu a indenizar os danos morais e materiais suportados pelo autor (BRASIL, 2009).

Observa-se no primeiro julgado, anteriormente citado, que a escola responsabilizada pelo dano ocorrido com o aluno vítima de bullying, não cumpriu o dever de fiscalizar, ou seja a culpa in vigilando. Lado outro, o segundo julgado é exemplo prático do que fora exposto no tocante à responsabilidade da escola mesmo fora de suas dependências. No caso em tela em uma excursão, cujo número de funcionários não era suficiente para vigiar e cuidar do número de alunos que participavam do referido evento. Em ambos os casos as escolas foram condenadas ao pagamento de indenizações com base no art. 14 do CDC.

Documentos relacionados