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Considerando que o bullying pode gerar consequências graves, sejam elas físicas ou psicológicas, conclui-se que esse tipo de violência choca-se com nosso sistema jurídico como um todo, afetando diretamente o princípio, assegurado pela Constituição Federal, da dignidade da pessoa humana em seu art. 1º, inciso III, bem como os direitos fundamentais previstos nos incisos II, III, IV, X, XV, XLI e XLII do art. 5º do mesmo texto legal, são eles:

Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; [...]

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

[...]

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

[...]

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei (BRASIL, 1988)

tortura viola, os incisos II e III, ou ainda, o autor que difama e dissemina montagens fotográficas constrangedoras da vítima através de um perfil anônimo em um site de relacionamento está infringindo os incisos IV e X do art. 5º da Constituição Federal.

Dentre esses direitos, destacam-se os direitos de personalidade dispostos no inciso X do art. 5º, dentre eles, a imagem, a honra, a integridade psíquica, sendo que qualquer ação ou omissão que viole a integridade física ou psicológica de outrem constitui um ato ilícito, consequentemente, passível de indenização (TRINDADE, 2011).

A Carta Política de 1988, por intermédio da emenda constitucional 65/2010, reconheceu a criança e o adolescente como sujeitos de direito, e particularizou, dentre a gama de direitos fundamentais, aqueles que se mostram necessários à formação do indivíduo ainda em crescimento, assim dispõe o art. 227:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

Para tanto, o parágrafo 1º incumbiu ao Estado promover “programas de assistências integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas [...]” (BRASIL, 1988).

Outrossim, a Lei nº 8.069/90 que dispõe sobre o Estatuto de Criança e do Adolescente (ECA), assegura uma série de medidas de proteção, de modo que a proteção integral da criança e adolescente é o princípio norteador desta lei, como dispõe seu art. 1º. São diversos os artigos constantes no ECA que asseguram direitos às crianças e aos adolescentes, a saber:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

[...]

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

[...]

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;

II – opinião e expressão; III – crença e culto religioso;

IV – brincar, praticar esportes e divertir-se;

V – participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI – participar da vida política, na forma da lei;

VII – buscar refúgio, auxílio e orientação.

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

[...]

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – direito de ser respeitado por seus educadores;

III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

IV – direito de organização e participação em entidades estudantis;

V – acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência(BRASIL, 1990).

Com a finalidade de garantir a proteção integral de crianças e adolescentes, o ECA conferiu um conjunto de medidas governamentais aos três entes federativos, por meio de políticas sociais básicas, políticas e programas de assistência social, serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, abuso e proteção jurídico-social por entidades da sociedade civil (AMIN, 2010).

Do mesmo modo, o ECA conferiu a todos, em seu art. 18, o dever de velar pela dignidade da criança e do adolescente, salvando-os de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório e constrangedor (BRASIL, 1990). Assim, havendo a prática de bullying contra uma criança ou um adolescente, todos deverão tomar medidas para ampará- lo e tomar medidas para assegurar que tal violência não será praticada novamente.

Lado outro, não é apenas a Constituição Federal e o Estatuto da Crianças e do Adolescente que elencam mecanismos protetivos contra a prática de bullying, mas também o Código Civil, quando versa sobre os direitos de personalidade, assegurando em seu art. 12 o direito de “exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.” e em seu art. 20 quando proibe, a requerimento da vítima e sem prejuízo de indenização que couber, expor ou utilizar a imagem desta, caso lhe atinja a honra, a boa fama ou a respeitabilidade (BRASIL, 2002).

comete um ato ilícito ficando obrigado a repará-lo, conforme dispõe o art. 927 do Código Civil. No entanto, na condição de incapazes na forma do inciso I dos arts. 3º e 4º do Código Civil, estes responderão pelos prejuízos que causarem, se as pessoas por eles responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes, assim determina o art. 928 do mesmo codex (BRASIL, 2002).

Lado outro, o art. 932, I e IV e o art. 933 do Código Civil, atribuíram a responsabilidade objetiva aos pais, por seus filhos menores e aos estabelecimentos educacionais por seus educandos, pois dispôs no texto legal a expressão “ainda que não haja culpa de sua parte”, caracterizando, desse modo, a responsabilidade objetiva, a qual dispensa a ocorrência da culpa para que se efetive (BRASIL, 2002).

Por fim, a criança ou adolescente que pratica qualquer tipo de violência contra outra criança ou adolescente está violando direitos constitucionais, direitos civis e também direitos assegurados no Estatuto da Criança e do Adolescente, podendo, desse modo, sofrer as sanções neles constantes, além de seus responsáveis legais serem obrigados reparar os danos causados pela violência praticada por seus filhos ou educandos.

3 A RESPONSABILIDADE DOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PRIVADO E DOS PAIS

No que tange a responsabilidade civil pela prática de bullying por crianças e adolescentes, restam dúvidas a quem esta compete, ou seja, aos estabelecimentos de ensino privado ou aos pais, de modo que dependerá da análise de cada caso.

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