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Segregação Racial: Uma Análise Sociológica da Obra Harry Potter e a Pedra Filosofal

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Academic year: 2021

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Segregação Racial: Uma Análise Sociológica da Obra Harry Potter e a Pedra Filosofal

Karla Beatriz de Freitas Lira 1, Claudiane Felix de Moura2

1Aluna do curso Integrado em Alimentos do IFRN-Pau dos Ferros, bolsista PIBIC-EM. e-mail: karlabeatrizlira@hotmail.com 2Mestre em Linguística Aplicada e Coordenadora da Pesquisa. e-mail: claudiane.moura@ifrn.edu.br

Resumo: Este trabalho visa analisar a obra Harry Potter e a Pedra Filosofal, da famosa escritora

britânica J. K. Rowling, como um instrumento usado para mostra um pouco da nossa sociedade. Esta

análise será feita através do estudo de conceitos sociológicos sobre raça, etnicidade e o preconceito

racial que alguns indivíduos possuem contra outros, causando tantos conflitos durante a história em

nossa sociedade (GIDDENS, 2005) bem como conceitos baseados na biologia (BARBUJANI, 2007).

Também será analisada a relação que a literatura possui com a sociedade, como retrata um pouco da

nossa realidade em suas incríveis histórias muitas vezes fictícias (FACINA, 2004; CANDIDO, 2010),

mostrando como o autor pode influenciar sua obra com assuntos da nossa sociedade, no caso o

preconceito racial. Sendo assim, serão feitas análises de trechos e falas do livro de Joanne,

relacionando-os com todos esses conceitos teóricos que serão estudados sobre a sociedade e

preconceito racial, mostrando assim os problemas sociais causados pelo preconceito racial no mundo

bruxo de Harry Potter. Esta pesquisa trará então uma contribuição para o leitor, deixando-o refletir de

maneira crítica acerca dos problemas sociais que enfrentamos em nossa realidade, estejam presentes

em nosso país ou em todo o mundo. A pesquisa está sendo financiada pelo CNPq e possui uma

duração de doze meses, onde toda a pesquisa deverá ser realizada até o termino deste período.

Palavras–chave: etnicidade, literatura, preconceito racial, raça e sociedade

1. INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo, pessoas formaram grupos de etnias diversas e desenvolveram seus próprios

costumes e culturas, que, por muito tempo, mantiveram-se isolados do resto do mundo, de outras

culturas e etnias, mantendo suas tradições firmes. Entretanto, estamos vivendo em um mundo

globalizado, onde temos todas as possibilidades de conhecer nossas culturas e interagir com elas, o

que muitas vezes falta, é a aceitação de alguns grupos culturais de “modificar suas tradições originais”

e outros grupos, muitas vezes, podem achar que são melhores do que outros, causando diversos

conflitos, muitos deles catastróficos, entre esses grupos divergentes. Esses conflitos começam por

atitudes preconceituosas entre esses grupos, seja por suas raças, culturas, ou qualquer outro motivo

sem fundamento científico, já que não é praticamente impossível provar essas diferenças biológicas

entre as raças, e, que ainda assim vem mostrando desde o início da história seu poder destruidor no

mundo através de guerras e milhares de mortes, como a segregação racial dos Estados Unidos

(1865-1964), a Segunda Guerra Mundial, mais especificamente o holocausto nazista na Alemanha

(1939-1945) e o Apartheid na África do Sul (1948-1994).

Essas atitudes, muitas vezes extremamente violentas, podem ser observadas em diversas

criações de diversos artistas por todo o mundo e em diversas épocas, que retrataram o mundo, a

sociedade a qual estavam inclusos e todos os acontecimentos que possivelmente ocorreram nesses

períodos, sendo parte construtiva desse mundo (FACINA, 2004). Esses artistas usaram de seus

talentos para denunciar os acontecimentos, o preconceito da sociedade, as causas e as consequências

que esses atos trouxeram para o mundo e podem ser observados no nosso cotidiano.

Para essa pesquisa, a obra selecionada foi Harry Potter e a Pedra Filosofal, onde a autora

utiliza da ficção para nos mostrar o preconceito, a organização da sociedade, faz referência, mesmo

que indireta, aos grandes conflitos da história causados por esse preconceito, como também as

consequências desses atos para os indivíduos dessa sociedade. Diante dessa temática proposta pela

autora, este artigo visa analisar a obra de J. K. Rowling, Harry Potter e a Pedra Filosofal, em uma

perspectiva sociológica, identificando a maneira como a sociedade mágica criada pela autora é

organizada, como os membros dessa sociedade direcionam atitudes preconceituosas contra outras

pessoas, buscando desfavorecê-las na sociedade. Esta obra também será analisada a relação entre a

ISBN 978-85-62830-10-5 VII CONNEPI©2012

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sociedade e a literatura e por fim identificar a obra como um meio de protesto contra o preconceito

racial, de acordo com a nossa realidade.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A obra selecionada para esse projeto foi Harry Potter e a Pedra Filosofal, publicada em 1997,

primeiro livro da famosa saga bruxa Harry Potter e escrita pela renomada escritora britânica J. K.

Rowling. A obra será analisada aqui por meio da dimensão da crítica sociológica e como um

instrumento integrante de uma sociedade, que mostra através da ficção, traços de uma organização

social, de quais maneiras as atitudes preconceituosas podem ser vistas na obra através dos indivíduos

dessa sociedade e como isso afeta a sociedade como um todo. Isso, levando em consideração as

discussões dos conceitos de raça e etnia no parâmetro social e científico, bem como os principais

conflitos ocorridos entre grupos raciais e étnicos diferentes e por fim estabelecer uma relação entre

esses conceitos impostos pela sociedade e a obra fictícia de J. K. Rowling.

Até o momento, diversas leituras e discussões de textos sociais foram realizadas durante o

período de desenvolvimento do projeto, relacionando a todo momento esses diversos textos com a

obra selecionada para a análise e todo o seu contexto com o mundo real. Os textos jáanalisados até

agora foram: Giddens (2005), Bulcão Neto (2009), Marisa Corrêa Silva (2003, p. 123-133), Candido

(2010) e FACINA (2007). E diante da interpretação e discussões desses textos, foram traçadas linhas

de pensamentos que vão ao encontro das perspectivas do que é transmitido pelo livro de J. K. e assim,

traçamos por fim uma linha entre realidade e ficção através das análises feitas dos textos e livro.

De acordo com Giddens (2005), o conceito de raça pode ser entendido como a divisão de grupos

de pessoas através de suas diferenças biológicas, porém não é tão fácil separar pessoas em grupos

diferentes. Mais tarde, o conceito de raça foi desacreditado pelo fato de existirem apenas pequenas

variações físicas entre as pessoas, sendo essas diferenças, resultado do contato entre diferentes grupos

de indivíduos. Barbujani, em sua obra A Invenção das Raças (2007), mostra os estudos de Lewontin,

geneticista de Harvard, sobre métodos que apresentavam até onde as raças podem ser diferentes, com

base nos genes, comparando um indivíduo com todos os outros e analisando suas diferenças genéticas.

Em 1972, Lewontin resolve analisar 17 genes, os mais conhecidos na época, com pessoas de sete tipos

de raças diferentes, o resultado mostrou que 85% das variações estão em membros de uma mesma

população, 8% dessas diferenças estão em populações de uma mesma raça, e por fim, 7% das

variações estão nos indivíduos que pertencem a raças diferentes. Logo após, Lewontin publicou um

artigo sobre suas pesquisas onde ele diz que: “Com base em suas diferenças genéticas, as raças e

populações humanas são notavelmente semelhantes entre si, [...]”.

Além disso, é possível que a primeira divisão de raças tenha sido feita pelo conde Joseph Arthur

de Gobineau, também chamado de “o pai do racismo moderno”. Joseph classificou a existência de três

raças distintas: os brancos, negros e amarelos e ainda segundo ele, os brancos eram superiores às

demais raças. Gobineau também foi o primeiro a elaborar teorias sobre o racismo científico que,

segundo Bulcão Neto (2009), baseava-se em uma separação de raças humanas, onde os arianos

(presença da elite européia) seriam superiores às demais raças e que a queda das civilizações se dava

pela miscigenação. Já Lukács define Gobineau como um homem que “lançou ao mundo pela primeira

vez um panfleto pseudocientífico realmente eficaz contra a democracia e a igualdade, baseada na

teoria racista”. As teorias do Conde, mais tarde, foram substituídas por um racismo baseado na

evolução, ou seja, visava a purificação das raças e não mais a sua deterioração através de guerras entre

essas raças, essa teoria foi bastante influenciada pelo evolucionismo de Darwin, que, primeiramente

repulsava as crueldades sofridas pelos negros, porém, surge também o racismo de Darwin, onde ele

declara que: “No futuro, não muito longínquo, se medido em termos de séculos, num determinado

ponto as raças humanas civilizadas terão exterminado e substituído quase por completo as raças

selvagens em todo o mundo”. Surge daí Louis Agassiz, contrário às terias darwinista e que

primeiramente defendia o criacionismo, que sustentava o surgimento da humanidade através de um

ancestral comum, bem como a igualdade para todos, logo passa a defender o poligenismo, que sugere

a criação separada ou evolucionária da humanidade e favorece o segregacionismo racial, confrontando

com a miscigenação das raças.

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Essas divisões de raças, vistas inicialmente, e etnias, em sua maioria causam discordâncias entre

esses grupos, estamos lidando então, com o preconceito e a discriminação. O preconceito é um

conjunto de ideias e atitudes pré-estabelecidas de um grupo para com o outro, sendo que essas

concepções sobre os outros grupos, nem sempre são reais, estando diretamente ligadas às ideias de

estereótipos, dificultando a relação entre a sociedade. Uma das maneiras mais conhecidas de

preconceito é o racismo, que baseia-se pelas distinções biológicas das pessoas, porém, atualmente

observa-se o que se denomina de o novo racismo, o qual agora percebe-se atitudes discriminatórias nas

diferenças culturais da população. Já a discriminação refere-se ao comportamento real desses grupos

de pessoas, podendo ser percebida através da exclusão de membros de outros grupos, como negar

emprego à uma pessoa por sua diferença, seja ela biológica ou não.

No que diz respeito à crítica sociológica, Marisa Corrêa Silva (2003, p. 123-133) busca ver a

literatura como parte integrante da sociedade, estando longe de ser apenas uma criação individual e

inserida em um determinado contexto, lugar e tempo, carregando características do contexto o qual

está inserido.

O outro estudioso destacado pela crítica literária é Candido (2010). Ele mostra que esse tipo de

crítica deve mostrar os aspectos sociais na estrutura dos textos, e, que o crítico deve levar em

consideração outras possibilidades, além da sociedade, que melhoram as interpretações desses textos.

Candido (2010) estabelece uma relação entre a arte (tendo no caso como foco a literatura) e a

sociedade mostrando que a produção artística é influenciada de alguma forma pela sociedade, ou seja,

que ela exprime a civilização onde a literatura ocorre. Em um ponto de vista sociológico a arte é

social, pois ela depende de ações do meio onde está sendo criada, e repassa para o leitor uma nova

concepção de mundo e assuntos de valores sociais. Sendo assim a arte, um processo de comunicação

humana, é um processo que necessita de um comunicante (artista), comunicado (obra) e comunicando

(público), sendo este último o que define outro elemento da arte, que é o efeito causado por essa obra.

A atuação dos aspectos sociais na arte varia o que para a sociologia é dividida em dois tipos de arte: a

arte de agregação, onde a obra se inspira na experiência coletiva e visa meios de comunicação

acessíveis, e a arte de segregação, a qual se preocupa com novas expressões e assim dirigem-se a

menores públicos, que se destacam da sociedade.

Portanto, a arte é um sistema de comunicações entre a humanidade em que há a relação entre

três “reagentes” para a formação da arte, e que estão diretamente ligados à sociedade: autor, obra e

público e a interação entre essas três partes.

Para Facina (2007), a literatura é feita por um tipo de artista que por sua vez está sujeito a sua

época e sociedade, sendo assim, é influenciado pela sua classe social, origem étnica, gênero e o

processo histórico que está imposto, assim sua criatividade se desenvolve em um campo de

possibilidades, que limita as escolhas desse artista das letras. Dessa maneira, toda a criação literária é

um produto histórico e cultural, desenvolvido em uma determinada sociedade, por um indivíduo que

está inserido nela. Temos de analisar assim a arte, onde a literatura está incorporada, não somente

como algo individual e sim, que está dentro de uma sociedade. Pode-se dizer então, que a literatura

não apenas reflete o mundo social, como faz parte desse mundo, onde o autor está situado nesse

contexto social, e desse modo, a criação literária não será algo individual, mas será uma criação

coletiva, pois expressa as necessidades e a consciência de um grupo de indivíduos, captando seu

processo histórico, fazendo com que o autor literário esteja sob a influência desses grupos sociais.

Dessa maneira, a obra escolhida será analisada perante essas linhas de pensamento sobre a interação

entre a literatura e a sociedade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O primeiro livro da escritora britânica Joanne Kathleen Rowling, Harry Potter e a Pedra

Filosofal, é uma obra fictícia que mostra o primeiro ano de um garoto “normal”, Harry Potter, em um

mundo completamente diferente, com pessoas de costumes diferentes, e até o momento inexistente

para ele, um mundo mágico, literalmente. Uma sociedade que podia até ser igual ao que ele vivia

anteriormente, com um sistema político e econômico bem desenvolvidos, o Ministério da Magia e o

banco de Gringotes afirmam isso. Porém, é um mundo ao mesmo tempo completamente diferente do

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seu em diversos detalhes observados ao longo da história, como por exemplo, a descrição do Beco da

Diagonal, o primeiro lugar do mundo dos bruxos que Harry viu: “Havia lojas que vendiam vestes,

lojas que vendiam telescópios e estranhos instrumentos de prata que Harry nunca vira antes, janelas

com pilhas de barris contendo baços de morcegos e olhos de enguias, pilhas mal equilibradas de livros

de feitiços, penas de aves para escrever e rolos de pergaminhos, vidros de poções, globos de...” (p. 66).

E como qualquer outra sociedade, possui grupos de diferentes classes sociais e “raças”.

Diferenças essas que, como no mundo real, causou um terrível conflito entre a toda a sociedade bruxa,

afetando até a comunidade não-bruxa, os trouxas. Como já foi visto antes, muitos grupos da sociedade

consideram-se superiores a outros, algo que não foi diferente na história de J. K. Na sociedade da

autora, existem bruxos, lobisomens, duendes, gigantes, fantasmas, centauros, entre outras criaturas que

para nós só existem em contos fantasiosos. E essa grande diferença faz com que surjam atitudes

preconceituosas, sejam elas em forma de palavras ou em reais atitudes, como a grande guerra causada

por Lord Voldemort quando Harry era um bebê, tanto dentro da comunidade bruxa, como fora dela.

Podemos observar o preconceito dos trouxas para com os bruxos no início do livro, com o tio de

Harry, Válter Dursley, como também da população ao ver Hagrid, meio gigante, passando na rua com

o menino: “Ao parar no costumeiro engarrafamento matinal, não pôde deixar de notar que havia uma

quantidade de gente estranhamente vestida andando pelas ruas. Gente com capas largas. O Sr. Dursley

não tolerava gente que andava com roupas ridículas – os trapos que se vestiam nos jovens!” (p. 08);

“Esquecera completamente as pessoas de capas até passar por um grupo delas próximo à padaria. Não

sabia porquê, mas elas o deixavam nervoso.” (p. 09); “As pessoas que passavam olhavam muito para

Hagrid enquanto os dois atravessaram a cidadezinha até a estação.” (p. 60); “- Loucos – disse tio

Válter – de pedra, todos eles. Você vai ver. É só esperar.” (p. 81).

O Sr. Dursley, bem como o restante de sua família, são somente um exemplo de muitos outros

trouxas que possuem esse mesmo tipo de atitude preconceituosa e seus ideais preconceituosos

persistem mesmo com um membro de sua família, no caso Harry, como podemos ver na seguinte

citação: “Os Potter sabiam muito bem o que pensavam deles e de gente de sua laia...” (p. 12); “Com

frequência, os Dursley falavam de Harry assim, como se ele não tivesse presente – ou melhor, como se

ele fosse alguma coisa muito desprezível que não conseguisse entendê-los, como uma lesma.” (p. 24).

Os Dursley ainda baseavam suas atitudes em estereótipos, já que nunca chegaram a conhecer de fato o

mundo dos bruxos.

Harry mal chega a conhecer como funciona aquele “novo” mundo e já é surpreendido com o

preconceito entre bruxos, onde um dos novos alunos da escola de Hogwarts, Dracos Malfoy, que

pertence a uma família rica e “puro-sangue”, mostra o quão preconceituoso é, com bruxos que são

mestiços, descendem de bruxos e trouxas: “- Você não vai demorar a descobrir que algumas famílias

de bruxos são bem melhores do que outras, Harry. Você não vai querer fazer amizade com as ruins. E

eu posso ajudá-lo nisso.” (p. 96). Essa talvez seja uma das atitudes mais explícitas em todo o livro.

Porém, Malfoy não só é contra os mestiços, ou sangue-ruim (nome de preferência de Draco), como

também não gosta de bruxos cuja situação financeira não é como a dele, sendo Rony Wesley, o melhor

amigo de Harry, a principal vítima de seus atos durante todo o livro, como podemos ver em alguns de

seus diálogos com os dois bruxos da Grifinória: “- Está tentando ganhar uns trocadinhos, Wesley? Vai

ver que virar guarda-caça quando terminar Hogwarts. A cabana de Rúbeo deve parecer um palácio

comparado ao que sua família está acostumada” (p. 169). Nesse trecho, Draco fere até Hagrid, que é

guarda-caça da escola.

Não são apenas os humanos que agem dessa forma. Quando Harry, seus amigos e Malfoy

recebem uma detenção da professora McGonagall, vice-diretora de Hogwarts e diretora da Grifinória,

vão parar na floresta proibida, lugar que cerca a escola, onde lá conhecem um bando de centauros e

um deles salva Harry quando este está para ser atacado por Lord Voldemort. Harry monta no centauro,

Firenze, e no momento que os outros chegam, desaprovam a atitude do centauro ao deixar o garoto

montá-lo: “- Firenze! – Agouro trovejou. – O que é que você está fazendo? Está carregando um

humano! Não tem vergonha? Você é uma mula?” (p.221).

Já no fim do livro, Harry enfrenta seu maior inimigo, Lord Voldemort, o qual “destruiu” à anos

atrás quando ainda era bebê, sendo conhecido mundialmente, dentro do mundo bruxo, como o menino

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que sobreviveu. O Lorde das Trevas é o exemplo mais radical de toda a saga de como o preconceito

pode afetar todo um mundo, ou no caso da saga, dois, o mundo trouxa e o mágico. Ele matou

inúmeros trouxas e mestiços por anos, até enfrentar o pequeno Potter e sua família, onde perdeu todos

os seus poderes. Quirrel, professor de Harry e fiel seguidor de Voldemort, explica algumas das ideias

preconceituosas de seu mestre ao revelar como o conheceu: “Lord Voldemort me mostrou como eu

estava errado. Não existe bem ou mal, só existe o poder, e aqueles que são demasiado fracos para o

desejarem...” (p. 248). A partir daí, podemos ver que o bruxo mais temido de todo o tempo não só era

contra qualquer outro bruxo que não fosse “puro-sangue” como também achava que todos eles fossem

inferiores à ele. Por fim Dumbledore, diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, retrata

Voldemort como um bruxo que nunca estive de lado algum, se não somente do seu próprio, como se

ele fosse o superior à qualquer outro ser, como podemos ver em sua conversa com Harry, ao fim de

seu encontro com Lord Voldemort: “[...] ele demonstra a mesma falta de piedade tanto com os amigos

quanto com os inimigos.” (p. 254).

Apartir da análise desses poucos trechos do livro, foi possível reconhecer algumas

características sociais da nossa realidade dentro desse mundo bruxo, vistas por meio das leituras dos

textos científicos sobre raça, etnicidade, crítica sociológica, relação entre literatura e sociedade, além

de algumas considerações sobre genética. Desse modo, a análise do livro Harry Potter e a Pedra

Filosofal foi feita por meio de discussões e fatos ocorridos ao longo da história, além de conceitos

polêmicos estabelecidos pela sociedade, como os de raça e etnicidade, que até os dias atuais causam

diversos conflitos entre muitos grupos sociais. É por meio dos trechos do livro que proferimos uma

relação entre as linhas de pensamentos fictícias da obra e da nossa realidade, podendo dessa forma

cumprir nosso principal objetivo, o de reconhecer a obra da escritora britânica como um instrumento

para falar sobre a sociedade e contra uma das principais formas de agressão à qualquer pessoa, o

preconceito racial.

4. CONCLUSÕES

Com base nessa análise do livro, podemos compreender a obra de Joanne não só como uma

criativa história ficcional, de bastante sucesso e muito prazerosa, mas também uma criação que retrata,

através da invenção desse “novo mundo”, personagens e histórias fictícios que retratam a nossa

sociedade em todos os seus aspectos.

Dessa maneira, as falas do Sr. Dursley, Quirrel, Draco Malfoy e outros personagens citados

acimas, estão diretamente ligados à nossa sociedade, ao que vivemos e ainda estamos vivendo, como

ela está organizada entre o mundo dos trouxas e o bruxo, como alguns membros das duas sociedades,

o Sr. Dursley e Malfoy, por exemplo, deixam explícitos em suas falas atitudes preconceituosas contra

outros indivíduos, sejam eles trouxas ou bruxos. Talvez o maior exemplo de intolerância contra

qualquer outro grupo de pessoas diferentes dele, o qual chega até a matá-las sem nenhum motivo

realmente importante a não ser o preconceito. Esses tipos de atitudes não são vistas apenas nesse

mundo criado pela autora do livro, em nossa realidade, convivemos com essas atitudes preconceitos,

desde antigamente, e principalmente lá, aonde essas atitudes chegavam ao extremo, com inúmeros

conflitos entre alguns grupos, que mataram inúmeras pessoas, estando a obra diretamente ligada à

realidade. Porém, ainda há muita coisa a ser analisada na obra, acrescentando novos dados à pesquisa

durante o restante do período proposto para o desenvolvimento da pesquisa.

REFERÊNCIAS

BARBUJANI, G. A Invenção das Raças. Tradução Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2007.

CANDIDO, A. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro Sobre azul, 2010.

FACINA, A. Literatura & Sociedade. Rio de janeira: Jorge Zahar Ed., 2004.

GIDDENS, A. Sociologia. Tradução Sandra Regina Netz. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

NETO, M. S. B. A Eloquência do Ódio. São Paulo: LivroPronto, 2009.

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ROWLING, J. K. Harry Potter e a Pedra Filosofal. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

SILVA, M. C. Crítica Sociológica. In:.BONNICI, T.; ZOLIN, L. O. Teoria Literária: Abordagens

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