• Nenhum resultado encontrado

25 de fevereiro de 2021

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "25 de fevereiro de 2021"

Copied!
113
0
0

Texto

(1)

Processo 512/17.7T8MTJ.L1-2 Data do documento 25 de fevereiro de 2021 Relator Arlindo Crua

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Renúncia ao mandato > Perda de chance > Prescrição > Contrato de prestação de serviços

SUMÁRIO

A responsabilidade civilística dos Advogados perante os seus clientes (mandantes), na sequência do incumprimento ou cumprimento defeituoso do mandato conferido, tem natureza contratual, nos termos do princípio geral consignado no artº. 798º, do Cód. Civil ;

II - no cumprimento do mandato forense, o Advogado age com total independência e autonomia técnica, apenas se vinculando a critérios de legalidade e às regras deontológicas da profissão, devendo ser zeloso no tratamento da questão de que foi incumbido, através da exigência e observância do dever objectivo de cuidado, nomeadamente na aplicação dos seus conhecimentos jurídicos e no pautar da sua conduta de acordo com as exigências das “legis artis” ;

III – o mandatário Advogado não se obriga ou vincula a atingir um certo efeito ou resultado concreto – obrigação de resultado -, mas apenas, e tão-só, a desenvolver um esforço prudente e diligente através da aplicação do seu conhecimento profissional para obter o melhor resultado possível na defesa dos interesses da sua cliente – obrigação de meios ;

(2)

IV - O dano constitui, irremediavelmente, um requisito ou pressuposto da responsabilidade civil, pelo que, em termos gerais, e prima facie, a mera perda de uma chance não possuiria a virtualidade jurídico-positiva para fundamentar uma pretensão ressarcitória ou indemnizatória ;

IV – a doutrina da perda de chance ou da oportunidade preenche-se quando uma situação omissiva provoca a perda a outrem da sorte ou chance de alcançar uma vantagem ou de evitar um prejuízo ;

V - no campo da responsabilidade contratual, e contrariamente ao que sucede com a teoria geral da causalidade, através da teoria da perda de chance ou da oportunidade distribui-se o risco de técnica incerteza causal entre as partes em equação ;

VI - através da aplicação de tal doutrina e juízo de distribuição, admite-se a concessão de indemnização quando se demonstre, “não o nexo causal entre o facto ilícito e o dano final, mas que as probabilidades de obtenção de uma vantagem ou de obviar um prejuízo, foram reais, sérias, consideráveis, permitindo indemnizar a vítima nos casos em que não se consegue demonstrar que a perda de uma determinada vantagem é consequência segura do facto do agente, mas em que há a constatação de que as probabilidades de que a vítima dispunha de alcançar tal vantagem não eram desprezíveis, antes se qualificando como sérias e reais” ;

VII – o dano decorrente da perda de chance configura-se como um dano presente e certo (excepto quanto ao montante ou quantum), na data da violação ilícita e culposa, integra o património do lesado, consistindo ou aferindo-se pela perda de uma possibilidade patrimonial actual, tendo por reporte o valor da oportunidade perdida e não o de um resultado futuro ;

VIII – possuindo como campo de aplicabilidade as situações em que é impossível afirmar, com absoluta certeza, que a decisão judicial seria distinta, caso não houvesse interferência do aludido facto ilícito do mandatário, mas em que é já possível afirmar, com suficiente certeza, que o lesado perdeu a oportunidade ou

(3)

chance de obter uma decisão favorável ;

IX – implicando, assim, na sua apreciação a obrigatoriedade para o julgador em representar ou equacionar, de forma idealística ou mediante juízo de prognose, o que teria ocorrido no processo caso o facto ilícito do mandatário advogado não tivesse acontecido ;

X - ou seja, implica que o juiz, colocando-se sobre o ângulo ou prisma do julgador da acção em que ocorreu a prática do facto ilícito, afira e avalie qual o resultado que ocorreria, nomeadamente na vertente da procedência da acção, caso aquela omissão ilícita não tivesse sido praticada ;

XI – no iter conducente à apreciação da sua casuística verificação, num primeiro momento de avaliação, impõe-se ao julgador uma actividade de averiguação da putativa existência de um elevado índice de probabilidade (probabilidade consistente e séria) de obtenção de uma vantagem ou benefício processual, não fora o acto ilícito praticado, ou seja, a chance perdida, o que implica fazer “o chamado “julgamento dentro do julgamento”, na visão do tribunal da causa e na consideração do que seria altamente provável ;

XII – devendo tal juízo de probabilidade fundar-se nos indícios factualmente provados, conferindo à esfera jurídica do lesado uma posição favorável, merecedora de tutela, cuja perda se traduz num dano certo, contemporâneo do evento ou causa lesiva ;

XIII - posteriormente, assente a existência da denominada perda de chance processual, real, séria e consistente, bem como o preenchimento dos demais requisitos da responsabilidade contratual (facto ilícito e culposo, e imputação da perda de chance à conduta lesiva, segundo as regras da causalidade adequada), urge proceder à aferição ou determinação do quantum indemnizatório devido, de acordo com o critério da diferença inscrito no nº. 2, do artº. 566º, do Cód. Civil, ou em caso de necessidade, mediante recurso ao critério da equidade, nos termos do nº. 3, do mesmo normativo ;

(4)

dano final, mas antes um dano a montante, constituído pela perda de chance, medido à data em que esta ocorre, e que nunca poderá ser igual à vantagem procurada na acção, nem igual (ou superior) ao montante que o lesado receberia, caso se verificasse o nexo de causalidade adequada entre o facto ilícito e o dano final apurado.

TEXTO INTEGRAL

ACORDAM os JUÍZES DESEMBARGADORES da 2ª SECÇÃO da RELAÇÃO de LISBOA o seguinte [1]:

I - RELATÓRIO

1 –TIM, LDA., com sede em Vialonga, contribuinte fiscal n.º…, intentou a presente acção declarativa de condenação, sob a forma de processo comum, contra:

1º. RICARDO , advogado, com escritório … 2º.– SOCIEDADE de Advogados…

3º. MARINA, advogada, com escritório…

4º. COMPANHIA DE SEGUROS … deduzindo o seguinte petitório:

- que a 4ª Ré seja condenada a pagar-lhe a quantia de 33.295,00 € (trinta e três mil duzentos e noventa e cinco euros), acrescida de juros, à taxa legal, a contar desde a citação ;

- ou, caso assim não se entenda, subsidiariamente, que os 1º, 2º e 3º Réus sejam condenados, solidariamente, ao pagamento da referida quantia, igualmente acrescida de juros, à taxa legal, a contar desde a citação.

Para tanto, alegou, em súmula, o seguinte:

Ø entre si e o 1.º Réu foi celebrado um contrato de mandato para que este assumisse a sua defesa no âmbito de um processo laboral no qual assumiu a

(5)

posição de Ré ;

Ø em tal processo, após ter renunciado ao mandato forense, em 18/09/2013, o 1.º Réu não compareceu ao julgamento realizado no dia 25/09/2013 ;

Ø tendo o tribunal prosseguido com a sua realização e proferido sentença na qual condenou a aqui Autora (ali Ré) no pagamento da quantia de 32.295,00€ ; Ø posteriormente, a 3.º Ré, mandatada para o efeito, interpôs recurso da sentença tendo o Tribunal da Relação de Lisboa julgado o recurso improcedente ;

Ø o 1.º Réu não procedeu com a devida diligência quanto à ponderação dos efeitos da sua renúncia ao mandato, devendo ser responsável pelo pagamento do valor em que a Autora foi condenada naquela acção, e subsidiariamente a 2.ª e 3.ª Rés, respondendo a 4.ª Ré por força do contrato de seguro celebrado com a ordem dos advogados.

Juntou prova documental e arrolou testemunhas.

2 – Devidamente citada, veio a Ré M. Seguros, apresentar contestação – cf., fls. 235 a 254 -, excepcionando e impugnando, aduzindo, em resumo, que:

§ o quadro circunstancial encontra-se excluído da cobertura da referida apólice , pela circunstância dos factos terem ocorrido em momento anterior à vigência do período que assegura ;

§ bem como pelo facto de o 1.º Réu ter agido ao abrigo de uma sociedade de advogados, concretizando que a sua responsabilidade deveria ser também excluída por força da aplicabilidade da cláusula limitativa constante do contrato de seguro ;

§ o qual refere que a apólice só funcionará na falta ou insuficiência de apólice de responsabilidade civil profissional que garanta a dita sociedade de advogados ;

§ alega, ainda, não poder o 1º Réu ser responsabilizado “pelo não acolhimento pelas instâncias judiciais da solução jurídica por este preconizada para o caso em concreto, quando, tratando-se de questão controversa, em abstracto e

(6)

atendendo às circunstâncias em que a opção é tomada, o risco da mesma se insere dentro do risco do pleito” ;

§ não se encontrando preenchidos na conduta do mesmo os pressupostos de ilicitude e culpa ;

§ e inexistindo, ainda, qualquer nexo de causalidade entre a pretensa conduta ilícita e o alegado dano ;

§ sendo que, “atendendo à manifesta improbabilidade de procedência da pretensão da A. nunca seria geradora do dano de «perda de chance».

Conclui, no sentido de:

- procedência das excepções peremptórias invocadas, com sua consequente absolvição do pedido ;

- devendo sempre concluir-se pela improcedência da acção, igualmente com juízo de absolvição do pedido contra si formulado.

3 – Citados, vieram igualmente os Réus Ricardo e Sociedade de Advogados, apresentar contestação, por excepção e impugnação – cf., fls. 284 a 303 -, aduzindo, em resumo, que:

§ o direito da Autora encontra-se prescrito, por, à data do julgamento já não existir mandato ;

§ estando, por isso, o exercício do direito da Autora sujeito ao prazo de prescrição de 3 anos ;

§ acresce que, antes de 20/05/2013, a Autora já havia informado o 1.º Réu de que não iria comparecer no julgamento, bem como as suas testemunhas, tendo ainda pedido ao 1.º Réu que adiasse o julgamento maior período de tempo possível ;

§ sendo que o 1.º Réu que tinha avisado a ora Autora das consequências da sua não comparência à audiência, bem como das suas testemunhas ;

§ tendo, nessa sequência, renunciado ao mandato, por não ter querido assumir uma conduta desleal no referido processo ;

(7)

tivesse constituído novo mandatário, o desfecho da acção não iria mudar, atenta a ausência das testemunhas no julgamento, bem como da própria parte ; § sendo certo que, face ao quadro factual da contestação oferecida, a sentença a proferir, sempre seria aquela que foi prolatada ;

§ pelo que o comportamento do 1º Réu foi totalmente indiferente para a produção dos eventuais danos, tendo sido a própria Autora quem exclusivamente os produziu.

Em tal articulado, foi ainda apresentado requerimento de intervenção principal provocada da seguradora “F…. SEGUROS, S.A.”.

4 – Devidamente citada, veio igualmente contestar a Ré Marina …, por impugnação, alegando, em súmula, que:

· aceitou o patrocínio da aqui Autora, a solicitação do 1.º Réu, tendo sido este que lhe transmitiu que a Autora pretendia recorrer da decisão ;

· após a consulta do processo, apenas entendeu ser motivo de recurso a apreciação que o Tribunal de 1ª instância tinha feito relativamente à falta de comparência da Autora (Ré nessa acção) no julgamento, não sendo posto em causa o seu desempenho profissional e não podendo ser responsável solidariamente pela conduta do 1.º Réu ;

· para além de interpor recurso, arguiu ainda nulidades naqueles autos, não tendo praticado qualquer acto processual susceptível de causar dano à Autora. Conclui, no sentido da improcedência da acção, com a sua consequente absolvição do pedido.

5 – Por despacho de 02/01/2018 – cf., fls. 558 a 560 -, foi admitida a intervenção principal provocada, como associada dos Réus, da Chamada F. SEGUROS, S.A., tendo-se ordenado a citação da mesma para, querendo, contestar ou fazer seus os articulados já apresentados.

6 – Devidamente citada, veio apresentar contestação, por excepção e impugnação – cf., fls. 563 a 572 -, enunciando, em resumo, que:

(8)

jurídico dos factos articulados ;

- perante a existência de uma pluralidade de seguros, o tomador estava obrigado a comunicar-lhe a existência de outros seguros que garantissem o mesmo risco ;

- pelo que, perante a ausência dessa comunicação, deverá a Chamada ser exonerada de qualquer responsabilidade ;

- nem todos os erros cometidos no exercício da advocacia são passíveis de constituir o advogado na obrigação de indemnizar ;

- face a uma questão juridicamente controversa, o 1º Réu, tendo em conta diversos factores, entendeu que a renúncia do mandato produziria efeitos a partir da notificação do mandante, a qual ocorreu em data anterior à da audiência de discussão e julgamento ;

- pelo que não pode ser retirada qualquer ilicitude ou culpa a um acto que mais não constitui do que uma opção técnica decorrente do seu entendimento, em face de uma questão manifestamente controversa.

Conclui, no sentido de:

- ser julgada procedente a excepção peremptória da prescrição, com a sua absolvição do pedido ;

- caso assim não se entenda, e sem conceder, que a acção seja julgada improcedente, por não provada, igualmente com a sua absolvição do pedido. 7 – A Autora veio apresentar resposta á excepção de prescrição invocada, no sentido da sua improcedência – cf., fls. 602 a 605.

8 – Procedeu-se á realização da audiência prévia, conforme acta de fls. 630 a 632, no âmbito da qual:

- foi proferido saneador stricto sensu ;

- relegou-se para sede de decisão final o conhecimento da invocada excepção peremptória ;

- foi identificado o objecto do litígio e enunciados os temas da prova ; - apreciaram-se os requerimentos probatórios ;

(9)

- foi fixado o valor da causa ;

- designou-se data para a realização da audiência de julgamento.

9 – Procedeu-se à realização da audiência de discussão e julgamento, respeitando os formalismos legais, como resulta da acta de fls. 705 a 708.

10 – Posteriormente, foi proferida sentença – cf., fls. 715 a 728 -, traduzindo-se o Dispositivo nos seguintes termos:

“Em face do exposto, decido julgar integralmente improcedente a presente acção, em consequência do que absolvo os réus e a interveniente principal do pedido da autora.

Condeno a autora no pagamento das custas processuais, nos termos do disposto no artigo 527.º, n.º 1 e n.º 2 do CPC.”.

11 – Inconformada com o decidido, a Autora interpôs recurso de apelação, por referência à sentença prolatada.

Apresentou, em conformidade, a Recorrente as seguintes CONCLUSÕES (que, apesar da sua extensão, ora se transcrevem, corrigindo-se os lapsos de redacção):

“1ª.- A douta sentença recorrida julgou a acção improcedente e em consequência absolveu o recorrido, as recorridas e a interveniente principal do pedido da recorrente;

2ª.- Qual dos réus é o responsável pela reparação dos danos sofridos pela A., no caso de estarem preenchidos os pressupostos da responsabilidade civil que permitam examinar o direito da autora no sentido de ser ressarcida pelos danos que constam da sua petição, tendo em atenção que tais danos resultam da acção laboral que correu termos no Tribunal do Trabalho de Vila Franca de Xira sob o Proc. n.º….8TVFX, e em que a aqui autora e ré naquela, foi condenada a pagar a quantia de 42.648,58€, por virtude do aqui 1º réu e Ilustre Mandatário da aqui autora e ré naqueles autos, ter renunciado, em 16/09/2013, ao mandato, ou seja, dez dias antes do julgamento, já do conhecimento do Réu, renunciando ao mandato, mas não ao contrato de prestação de serviços, pois

(10)

continuou em vigor e a cumprir até Setembro de 2015, data do último pagamento feito à 2ªRé, conforme documento que aqui se junta e se dá por reproduzido como doc. n.º1.

3.ª- Dá-se aqui por reproduzida a matéria de facto provada dos pontos 4. a 34.; 4.ª- O 1º recorrente juntou aos autos a renúncia ao mandato forense com data de 16 Setembro de 2013;

5.ª- Conforme se alcança da matéria de facto dada como provada, a douta sentença recorrida deu como provada no ponto 7. que o 1ª réu juntou aos autos n.º ….8TVFX que correram termos no Tribunal do Trabalho de Vila Franca de Xira, a procuração forense com data de 0/03/2013;

6.ª- O processo correu termos, patrocinado pelo 1º recorrido e a Meritíssima Juiz da causa designou o dia 25 de Setembro de 2013 para a realização da audiência de discussão e julgamento;

7.ª- E se é verdade o que se refere no ponto 13. da matéria de facto dada como provada, faltou referir na douta sentença recorrida a parte final do doc. n.º 1 (dirigido pelo recorrido) e onde refere “de forma a conseguir um novo adiamento”;

8.ª- Aconselhou a sua cliente e aqui autora para não comparecer no julgamento, porque ele não iria estar presente;

9.ª- Ora, isto vem revelar o seu desconhecimento e irresponsabilidade ao informar a sua cliente e aqui recorrente de que não procedesse ao levantamento dos registos (que foram levantados apenas no dia do julgamento) deixando a aqui recorrente entregue à sua sorte até à data em que foi notificada, meses mais tarde após o julgamento, da penhora das contas, fruto da execução movida pelo autor da acção laboral;

10.ª- E tanto assim que poderia ter indicado, à aqui recorrente, a colega que veio mais tarde a fazê-lo (para a interposição do recurso) e não o fez;

11.ª- E não se venham assacar responsabilidades à recorrente - que nada percebe de direito – para ter indicado outro advogado, quando o aqui recorrido

(11)

podia tê-lo feito da Sociedade em nome de quem agia;

12.ª- Competia essa responsabilidade ao ainda advogado (porque não tinha terminado o seu contrato de prestação de serviços que esteve em vigor até Junho de 2015) para realizar essa tarefa;

13.ª- “ Escrevia a este propósito Alberto dos Reis (Comentário ao Código de Processo Civil, vol. 1.º, pág. 62) que “enquanto a notificação se não fizer, o acto não produz efeitos. Mas estes nem sempre se produzem a, partir do momento da notificação. Há que atender ao disposto na última parte da 2ª alínea do artigo e no 2º do artigo 263.º(…) Há que distinguir :a) ou se trata de processos em que, nos termos dos artigos 33.º e 60.º, é obrigatória a constituição de advogado; b) ou de processos em que a constituição de advogado é facultativa. (…) o 1º caso, o advogado tem de continuar a exercer o, mandato enquanto o mandante não constituir outro mandatário. Esta obrigação é consequência da regra geral formulada no artigo 1368.º do Código Civil”.

Escrevendo muito mais recentemente, a propósito do art.º 40 na versão vigente até à entrada em vigor do NCPC (e que nesta matéria não diverge do atual) escreveram Lebre de Freitas e outros (Código de Processo Civil Anotado, Cb Edit, 1999, pag.80): “(…) Se o patrocínio for obrigatório e o mandatário renunciar, regem os n.º 3 a 6.

Estabeleceu-se um prazo legal de vinte dias para o mandante constituir novo mandatário, durante o qual se mantém o patrocínio inicial (embora a lei tenha deixado de o dizer, expressamente, tal resulta do prosseguimento do processo até ao termo do prazo).

Simplificou-se assim o regime anterior, segundo o qual o estabelecimento do prazo (judicial) estava na disponibilidade do mandatário renunciante. Logo que, dentro do prazo, a parte constitua novo advogado, a renúncia produz os seus efeitos, o mesmo acontecendo no termo do prazo, se não o constituir. Neste caso, deixando a parte de ter mandatário, dá-se a suspensão da instância no caso de faltar advogado ao autor; mas prossegue o processo, por não poder ser

(12)

penalizado o autor, no caso de faltar advogado ao réu”.

Assim tem considerado, outrossim, a jurisprudência, podendo ver-se, por todos, os acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 12.11.2009 (III- A interpretação defendida pelos recorrentes considerando que a mera apresentação da renúncia ao mandato desvincula, ipso facto, o Advogado, suspendendo ou até interrompendo o prazo processual em curso, não tendo apoio mínimo na letra da lei, sabendo-se que a alteração introduzida no art.º 39.º do Código de Processo Civil, pela Reforma Processual de 1995/96, foi a de não deixar o mandatário-renunciante ad eternum no exercício do mandato, já que na primitiva redacção do preceito inexistia previsto o prazo razoável de 20 dias para o mandante constituir novo advogado, o que redundava em severa sanção para quem desejava retirar-se do patrocínio forense) e da Relação do Porto de 17.6.2004 (I- Nada na lei impõe que o mandante seja notificado da renúncia do mandatário antes da realização da audiência de julgamento. II – Na redacção do artigo 39 do Código Processo Civil resulta que o mandatário que vem aos autos renunciar ao mandato judicial, não fica desonerado das obrigações decorrentes do seu cargo a partir do momento em que manifestou a vontade de renunciar. III – Tratando-se de processo em que é obrigatória a constituição de advogado, a parte não pode revogar o mandato sem constituir novo advogado e a renúncia não produz os seus efeitos próprios no prazo máximo de 20 dias, contados da notificação: até ao termo desse prazo, o mandatário renunciante terá de prosseguir com o patrocínio do seu constituinte, se este entretanto não constituir novo mandatário.

IV – Não havendo motivo legal para o adiamento da audiência de julgamento, a sua realização sem a presença do advogado/renunciante (com produção da prova testemunhal arrolada) não traduz qualquer violação dos princípios do contraditório ou da igualdade das partes.

Em suma: a apresentação da renúncia escassos dias antes da data designada para o julgamento não impunha o adiamento do mesmo.

(13)

2) Da notificação da R.

Isto prejudica o segundo argumento da R., de que nada sabia. Sabia, porque o julgamento designado para a data inicial foi logo adiado para a data em que a R. faltou, e disso foi expedida notificação quer para a R. quer para o seu então mandatário. Cabe notar que a notificação da R. foi expedida para o seu domicilio, nos termos supra referidos, sendo a mesma quem inviabilizou a sua receção (coisa que já não fez, incoerente mas prudentemente, na notificação seguinte). Era isto que exigia o art.º 253.º, n.º 1 e 2, do Código de Processo Civil na versão anterior ao NCPC (e note-se que o art.º 71, n.º 1, do Código de Processo do Trabalho impõe a comparência pessoal das partes, coisa a que a R. parece não ligar muito, já que não só não pôs os pés em nenhuma das audiências de julgamento como também não se dignou comparecer na audiência de partes, não obstante o art.º 54/3 do CPT também o impor, salvaguardando os casos de justificada impossibilidade de comparecer, que não foi o caso tanto quanto se alcança da ata). Se não quer receber a notificação, problema da A.: nem

por isso deixa de relevar, e nomeadamente a mera expedição de a fazer presumir, nos termos do art.º 254/3 do CPC, presunção que nada afasta no caso.

Em suma: tantas indulgências se concedeu a R. a si mesma que uma acabou por correr mal.

3) Mas ainda há outro elemento a ter em conta. A audiência de julgamento teve lugar no dia 25.9.13.

Acresce que as consequências processuais que suportou, previstas no art.º 71, do CPT, decorrem não apenas do facto de ter faltado injustificadamente, mas de também não se ter feito representar (n.º2).

Ora, a R. só veio arguir o que entendeu serem nulidades em 24.10.2013.

Acontece que tinha 10 dias para o fazer a contar de 25.9.13, visto que não esteve presente mas não podia de modo algum ignorar a designação dessa

(14)

data para o julgamento, nos termos expostos (art.º 199/1, 1ª parte, NCPC). Fê-lo, portanto, extemporaneamente.

Pelo que também por isto não poderia nunca proceder ao recurso. Confirma-se assim a decisão recorrida;

14.ª- Do exposto se conclui que não competia à aqui recorrente, repete-se, indicar, naquela acção laboral n.º ….8TTVFX, o novo advogado, já que, apesar de a então ré saber da data da nova audiência, era indiferente, porque a sua ignorância em direito não a levava a concluir que teria de constituir novo mandatário, mas sim o 1º recorrido;

15.ª- Se outorgou o contrato de prestação de serviços com a segunda recorrida, e em nome da qual agia (já que os honorários eram pagos à segunda recorrida e não ao primeiro recorrido) não actuava como advogado isolado, em nome individual.

16.ª- Assim, ao contrário do que refere a douta sentença recorrida, no enquadramento jurídico, a aqui recorrente e ré no famigerado processo n.º ….8TTVFX, esta não recorreu aos serviços do 1º recorrido, mas sim à segunda recorrida, a quem pagava os honorários para que a representasse em processo judicial;

17.ª- E esta indicou-lhe o 1º recorrido que lhe patrocinou o processo até ao pedido de renúncia, ou seja, até 16 de Setembro de 2013, sendo certo que o contrato continuou em vigor até data imprecisa, ou seja, da penhora das contas da dita ré e aqui recorrente e que a levou a denunciar unilateralmente o dito contrato de prestação de serviços;

18.ª- Aliás, este circunstancialismo, consta do ponto 7. da matéria de facto dada como provada;

19.ª- Mas também é verdade que, apesar do Acórdão da Relação do Porto (cit. a folhas 25 e 26) desta minuta de recurso e que se transcreve: “ a apresentação da renúncia a escassos dias antes da data designada para o julgamento não impunha o adiamento do mesmo.”;

(15)

20.ª- Assim, existe uma contradição entre a douta sentença recorrida e que o 1º recorrido e Ilustre Advogado naquele processo de Trabalho, refere, na comunicação escrita que faz à então Ré e de que se faz referência no parágrafo anterior desta minuta, e a factualidade ínsita como não provada do ponto A.; 21.ª - Ora, ao dar como não provado o ponto A., contraria o que o 1º recorrido refere naquele seu documento enviado à então sua cliente e aqui recorrente; 22.ª- O que quer dizer que o objectivo do 1º recorrente ao renunciar ao mandato era obter o adiamento do julgamento, o que não era possível;

23.ª- Consequentemente, são os próprios autos a demonstrar que a dita carta do recorrido à sua cliente está de acordo com a matéria dada como provada; 24.º- Conforme já se referiu e de acordo com a Jurisprudência dominante, o 1º recorrido, agindo em seu nome e no da segunda recorrida, não podia ter renunciado ao mandato, não só por violar o art.º 39.º mas também porque ao agir desta forma, iria pôr em causa o cumprimento do contrato de prestação de serviços, outorgado com a 2ª recorrida;

25.ª- Ora, o 1º recorrido ao renunciar ao mandato, como renunciou, não cumpriu as obrigações que lhe estavam cometidas pelo contrato outorgado com a recorrente e a segunda recorrida, para a qual trabalhava;

26.ª.- Mas ao contrário do que vem referido no “ENQUADRAMENTO JURÍDICO” da douta sentença recorrida, não estamos a falar de um contrato de mandato, mas sim de um contrato de prestação de serviços entre a autora e ré no referido processo de trabalho e a segunda recorrida, como a própria sentença recorrida aceita;

27.ª- Com efeito, os recorridos (1º e 2ª) outorgaram com a aqui recorrente um contrato de prestação de serviços jurídicos que esteve em vigor após a renúncia do mandato até Junho de 2015, data em que a recorrida recebeu a avença mensal da recorrida, como se refere no doc. n.º2;

28.ª- Os recorridos, na pessoa do 1º, renunciou ao mandato com o objectivo de adiar o julgamento, pelo que não compareceu ao julgamento, nem providenciou

(16)

pela sua substituição, como lhe competia;

29.ª- Ora, os recorridos, com o seu comportamento, lesaram seriamente os interesses da sua representada e aqui recorrida ao não ter participado voluntariamente no julgamento lesando a recorrente em danos que se encontram apurados, na sentença e outros decorrentes da sentença;

30.ª- Na verdade não fora a renúncia ao mandato e a não comparência no julgamento e a ré no referido processo laboral não teria sido condenada no valor em que foi e as consequências que dá advieram com a execução da sentença e a penhora dos saldos das contas bancárias e o pagamento de impostos no valor de mais de dez mil euros, que se tivessem estado presentes no julgamento não se teria verificado;

31.ª- Consequentemente, estão reunidos os pressupostos a que se refere o art.º 483.º do Código Civil pelo que os recorridos individual e solidariamente são responsáveis pelo pagamento dos danos causados à recorrente;

32.ª- Independentemente deste circunstancialismo, e ao contrário do que refere ainda a douta sentença recorrida, não estamos perante um simples mandato forense, mas sim um contrato de prestação de serviços entre a 2º recorrida, o recorrido e a aqui recorrente;

33.ª- Assim, toda a alegação que se possa fazer quanto ao simples mandato forense, não está aqui em causa, porque não é desse tipo de mecanismo de representação que se trata;

34.ª- Assim, todo o discurso à volta do simples mandato forense não tem qualquer sentido, vir falar-se na dicotomia entre a representação e o mandato; 35.ª- Com efeito, o patrocínio do 1º recorrido, foi prestado no âmbito de um contrato de prestação de serviços;

36.ª- É verdade que o mandatário não estava obrigado a ganhar a causa, porque essa obrigação fulmina o ajuste prévio, mesmo que o Mandatário, preparando com cuidado cada uma das causas que lhe sejam entregues;

(17)

julgamento renuncia ao mandato, é entregar (o ouro ao bandido” (passe a expressão) e aceitar a decisão desfavorável que advirá a seguir, como foi o caso subjudice;

38.ª- E tanto assim que, apesar de ter renunciado ao mandato, a verdade é que os recorridos continuaram a prestar serviços à recorrente desde 16 de Setembro de 2013 a 30 de Junho de 2015, data do pagamento da factura de honorários pagos à 2ª recorrida;

39.ª- Ora a recorrente – que é não versada nas coisas jurídicas – estava, como esteve, após a sentença de condenação até à data em que lhe penhoraram as contas do que se tinha passado, porquanto o 1º recorrido não lhe tinha dado qualquer informação sobre a sentença e o recurso interposto pela 3ª recorrida que foi repescada para essa tarefa;

40.ª- Assim, não se venha falar do que deveria ter ou não feito a então ré e aqui recorrente naquele processo do Tribunal de Trabalho de Vila Franca de Xira, porque o 1º recorrido que era o Ilustre Advogado da causa, disse-lhe para não comparecer, bem como as testemunhas, porque ele não iria comparecer;

41.ª- Ora, se culpas existem, elas são da responsabilidade exclusiva do 1º recorrido e da 2º recorrida que eram eles os especialistas do direito e não a ré que nada sabe;

42.ª- Aliás, a douta sentença recorrida a fls. 18 no terceiro parágrafo diz o seguinte: “Pelo que dever-se-á entender que o 1.º réu estava absolutamente vinculado a ter de comparecer ao julgamento marcado, sendo que pela sua não comparência não tratou com zelo a questão de que foi incumbida – cfr. artigo 83.º al. d), do citado Estatuto e art. 1161.º al. a), 1ª parte, com apelo ao conceito de bonus pater familias, em face das circunstâncias do caso, incumprindo o contrato de mandato.”

E mais adiante refere ainda: “Pelo que, autora teria que fazer a prova de que o resultado que pretendia com a dita defesa seria previsivelmente obtido caso o mandatário renunciante (1.º Réu) tivesse cumprido pontualmente as obrigações

(18)

que emergiam do contrato de mandato, isto é, comparecesse na audiência de julgamento.”

43.ª- Conforme temos vindo a alegar, todo o envolvimento jurídico neste caso concreto aponta para um contrato de prestação de serviços pelos seus pressupostos e características e não para um simples contrato de mandato; 44.ª- Aliás, a douta sentença recorrida não deixa de que se trata de responsabilidade contratual e que a autora pretende ver responsabilizado o primeiro recorrido por este ter violado as obrigações assumidas no âmbito do contrato de prestações de serviços que a 2ª réu celebrou;

45.ª- Ou seja, apurada que foi a responsabilidade do primeiro recorrido e da Sociedade em nome de quem age, é obrigado a indemnizar ou não, ou seja, a autora “não se afoga, mas morre na praia!...” ;

46.ª- Com efeito, se é verdade que o primeiro réu ao não cumprir as suas obrigações profissionais, ao renunciar ao mandato, não quer dizer que tenhamos de afastar o art.º 483.º do Código Civil, por não se poder estabelecer a relação da casualidade entre os danos – o de ter perdido uma acção – para se apurar a tal casualidade adequada;

47.ª- Ora, com o devido respeito, por opinião contrária, há danos que resultaram da sua falta a julgamento e aqueles que resultaram dessa ausência, designadamente os valores pagos a mais pela recorrente, os impostos e os incómodos com a penhora das suas contas bancárias ao abrigo do processo executivo proposto pelo autor do processo laboral n.º ….TT8VFX;

48.ª- Ora desta execução resultaram danos para a recorrida que teve de pagar os seus impostos e os do trabalhador/autor no valor que se refere nos dois documentos que agora se juntam para apreciação dos Venerandos Desembargadores com os nºs. 3 e 4;

49.ª- Independentemente do que temos vindo a alegar e além do valor que consta da douta sentença recorrida, terão que ser adicionados os valores resultantes da negligência do 1º recorrido, ou seja, o 1º recorrido em vez de ter

(19)

dado conhecimento à então ré, no referido processo laboral, do teor da sentença proferida, desde logo, preferiu ocultar a mesma e pedir uma procuração à ré para a Dra. Marina Pereira que procedeu à interposição da douta sentença recorrida naqueles autos;

50.ª- Ora, decorreram vários meses, cerca de 7 meses depois, e em que a então ré desconhecia a sentença e só mais tarde veio a saber o que se tinha passado quanto à sua condenação, porquanto o então autor naquela acção tinha executado a ré para o pagamento da sentença e mandou proceder à penhora das contas da então ré, com todos os incómodos de contas bloqueadas;

51.ª- Ora, além de ter de pagar os valores constantes da douta sentença, teve de pagar mais ainda, como se alcança da carta que a então ré enviou à Ilustre Advogada, Dra. Marina …, que aqui se junta e se dá reproduzida como doc. n.º 5.;

52.ª- Damos de barato que os valores poderiam não ser na sua totalidade, mas não restam dúvidas de que os danos resultantes e que se seguiram à renúncia não se teriam verificado e que agora se indicam, conforme documentos que aqui se juntam e se dão por reproduzidos com os nºs. 6, 7 e 8;

53.ª- Ora, tudo o que se relaciona com este tema, ou seja, as razões pela quais não estiveram presentes aqueles autores estão plasmadas do que se alegou ao longo desta minuta de alegações e designadamente do documento que se referiu e que se encontra junto aos autos;

54.ª- A recorrente foi advertida pelo 1º recorrido que, devido ao seu objectivo de adiar o julgamento não iria comparecer ao julgamento, pelo que sem advogado, a ré que é ignorante em direito, não iria lá fazer nada;

55ª.- Nesta conformidade, e ao contrário do que alega a douta sentença recorrida, repete-se, mais uma vez, a recorrente estava avisada de que não devia comparecer em julgamento, porque o 1º recorrido não iria comparecer; 56.ª- E mais ainda, a doutrina de “L.P.Moitinho de Almeida, “A Responsabilidade, pág. 13” citada pela douta sentença recorrida só fazia

(20)

sentido antes da publicação, com a adesão dos advogados a Seguros de Responsabilidade Civil, tal doutrina, se não serve aos advogados, serve as Seguradoras que fogem de pagar um centavo aos advogados em casos semelhantes, como “o diabo foge da Cruz de Cristo”. Portanto, para elas, é a “cereja no topo do bolo”;

57.ª- Aliás, se dúvidas existem, basta ler as contestações da recorrida seguros… e a chamada para verificar como defenderam acerrimamente a sua posição, incluindo o recurso a um argumento aberrante e de contagem incorrecta de prazos que a recorrente e a douta sentença “mandaram às ortigas”;

58.ª- E porque estamos perante um contrato de prestação de serviços não se venha agora falar num contrato atípico ao qual se aplicam as regras dos arts.º 1157.º e segs. do Código Civil e o Estatuto da Ordem dos Advogados;

59.ª- Desta feita não vale a pena vir falar-se em que a recorrente e ré naquele processo não logrou provar as razões pelas quais não compareceu em julgamento. E não vale a pena acusar a recorrente da sua ausência ao julgamento, porquanto tinha um contrato com uma Sociedade de Advogados que poderia ter indicado outro para substabelecer o 1º recorrido e não o fez, apesar de continuar a receitar a avença da recorrente;

60.ª- Não tem qualquer sentido, nem corresponde à realidade (basta ver os documentos junto aos autos antes da audiência de discussão e julgamento) vir agora falar-se que a ré seria condenada no pedido;

61.ª- Ao contrário do que refere a douta sentença recorrida no segundo parágrafo da pág. 23 da douta sentença “ a causa adequada da produção de danos, gerando a obrigação de indemnizar…”

É que não fora a ausência do 1º recorrido e de ter dito à recorrente para não comparecer com as testemunhas no julgamento (as notificações só foram levantadas nos CTT no dia do julgamento) e o resultado não teria sido o que consta da douta sentença;

(21)

dezenas de milhares de euros da responsabilidade do então autor de IRS e TSU, além dos incómodos que meses mais tarde teve de enfrentar com as contas bancárias bloqueadas (teve de dar sem efeito cheques emitidos) e não teria sido esse desfecho:

63.ª- Consequentemente, dada como provada a falta a julgamento do legal representante da recorrente em Tribunal, segue-se a conclusão lógica de que estão reunidos os pressupostos constantes do art.º 483.º do Código Civil;

64.ª- Da perda de chance, fala-nos o art.º 483.º do Código Civil.

Dúvidas não restam de que o 1º recorrido faltou dolosamente ao julgamento, assumindo a responsabilidade por essa falta com o fundamento de que pretendia adiar o julgamento e que revela o nexo de casualidade adequado entre o incumprimento contratual por parte do 1º recorrido:

65.ª- Desta feita, não estamos perante uma falta virtual ou hipotética, mas sim perante uma falta real;

66.ª- Assim a chance de que nos fala a douta sentença recorrida, ela existe e existiu, porque não se pode afastar o nexo de casualidade entre a falta consciente do 1º recorrido e que levou à condenação da então ré e aqui recorrido, com as consequências graves resultantes desse desfecho que foi escondido à ré e aqui recorrido durante meses, apesar de a recorrida continuar a pagar a avença à segunda recorrida;

67.ª- A tal doutrina de Armando Braga, “A Reparação do Dano Corporal da Responsabilidade Extracontratual”, a que se refere a douta sentença recorrida, é mais um argumento onde a douta sentença se estriba para justificar a sua fundamentação do Enquadramento Jurídico, é uma doutrina em que as Seguradoras não tocam, porque lhes convém e no caso particular dos advogados onde são raros os casos onde as Seguradoras pagam quaisquer indemnizações, ou seja, se é verdade que temos em Seguro de Responsabilidade Civil de 150.000,00€, já não é verdade que tenhamos facilidade em recorrer a esse Seguro para pagamento de indemnizações. Basta

(22)

ver que é logo marcado com uma garantia de 5.000,00€;

68.ª- Ao analisarmos toda a conjuntura à volta da chance e não a ligar ao nexo de casualidade. Ou seja, está provado e é a matéria dada como provada assim o diz que o 1º recorrido é responsável pela falta ao julgamento e, como tal, responsável também pelas suas consequências e não a então ré e aqui recorrente;

69.ª- Vir dizer, como refere a douta sentença recorrida, com sublinhado, que o resultado daquela acção não ser causa adequada da conduta do aqui recorrido, improcede quanto a este, é passar uma borracha por cima da matéria de facto dada como provada (este é o nosso sublinhado) e toda esta alegação não passa de “uma mão cheia de nada” ou “um clamor no deserto”

Ora, com o devido respeito, não é nada disto que está em causa nestes autos e ainda bem. Estão em causa interesses sagrados da então ré que confiou no seu advogado (capitão) para lhe patrocinar o processo e “o meteu a pique” antes de o levar a porto seguro;

70.ª- Quanto à matéria vertida pela douta sentença recorrida a recorrente não pode deixar de chamar à colação a parte final do Douto Acórdão desse Venerando Tribunal e que reza assim:“ Mas ainda há outro elemento a ter em conta: A audiência de julgamento teve lugar no dia 23.9.13. Acresce que as consequências processuais que suportou, previstas no art.º 71, do CPT, decorrem não apenas do facto de ter faltado injustificadamente, mas de também não se ter feito representar.

Ora, a R. só veio arguir o que entendeu serem nulidades em 24.10.2013.Acontece que tinha 10 dias para o fazer a contar de 25.9.13, visto que não esteve presente mas não podia de modo algum ignorar a designação dessa data para o julgamento, nos termos expostos (art.º 199/1, 1ª parte, NCPC). Fê-lo, portanto, extemporaneamente. Pelo que também por isto não poderia nunca proceder o recurso. Confirma-se assim a decisão recorrida.”; 71.ª- Por aqui se vê, também, que a inexperiência falou mais alto.

(23)

Mas é próprio de alguém que tinha chegado à advocacia há pouco tempo, sendo certo que deveria ter sido acompanhado no referido processo;

72.ª- Quanto ao mais, entendemos que nada havia a reparar, porque o dano já tinha sido feito e não havia nada que pudesse ser feito, tanto mais que se violou o art.º 71.º do C.P.T.;

73.ª- Conforme já se referiu anteriormente as recorrida e interveniente principal deveriam ser as garantes da responsabilidade dos profissionais do foro, mas não é bem assim;

74.ª- Com efeito são raros casos em que as Seguradoras, assumem a responsabilidade pelo pagamento de indemnizações aos advogados. Por “faz ou por nefas”, como é habitual das Seguradoras só através dos Tribunais é que pagam as indemnizações a que estão obrigadas. E sobre isto, a experiência leva-nos a fazer esta afirmação.

E quando a doutrina “sopra de feição”, como é o caso do L.P. Moitinho de Almeida, ainda melhor;

75.ª- É caso para perguntar se o rebuçado oferecido pela Ordem dos Advogados aos seus sócios não tem um sabor amargo!...;

76.ª- As recorridas, com excepção da 3ª, apontaram na excepção da prescrição, mas erraram o alvo;

77.ª- Com efeito, vale a pena, transcrever aqui o que nos dizem os Professores Pires de Lima e Antunes Varela no Vol. I do Código Civil anotado a pág. 443, Vol. I, Coimbra Editora 1982, 3ª Edição e que reza assim:“ À semelhança do preceituado no artigo 498.º, estabelecem-se dois prazos de prescrição; um, de três anos, a contar do conhecimento do direito de

restituição e da pessoa responsável; outro, o ordinário (20anos), a contar, segundo as regras gerais, do momento em que a restituição pode ser exigida. Este último só é, pois, relevante, se o direito não prescrever anteriormente pelo decurso dos três anos, e é sempre relevante, mesmo que não chegue o empobrecimento a ter conhecimento do seu direito ou da pessoa responsável.”;

(24)

78.ª- Nos termos expostos, a douta sentença ao decidir como decidiu, ao dar como provada a matéria de facto e não condenando o 1º recorrido e solidariamente a 2ª recorrida, violou por errada interpretação e aplicação, entre outros, os artigos 607.º do C.P.C e 483.º do Código Civil”.

Conclui, no sentido da procedência do recurso, com consequente revogação da sentença proferida.

12 – Os Recorridos/Apelados Réus apresentaram contra-alegações, fazendo-o, nos seguintes termos (procede-se à transcrição, rectificando-se os lapsos de redacção):

- a Recorrida Seguros , S.A., formulando as seguintes CONCLUSÕES:

“1. Não se conformando com a douta sentença proferida pelo Tribunal a quo, a qual apreciou todas as questões fácticas e jurídicas suscitadas nos presentes autos, julgando totalmente improcedente a acção, vem a Autora interpor recurso daquela decisão, o qual, salvo o devido respeito por melhor e douta opinião, não poderá, absolutamente, proceder.

2. A Autora peticionou a condenação da Recorrida, a título de responsabilidade civil, no pagamento de uma indemnização no valor de € 33.295,00 (trinta e três mil duzentos e noventa e cinco euros), em virtude da alegada actuação ilícita e negligente que imputa ao R. Advogado Dr. Ricardo …

3. O Tribunal a quo entende, e bem, que não se encontram verificados todos os pressupostos de que depende a responsabilização do advogado, não operando, igualmente, qualquer transferência de responsabilidades para a R. Seguradora. 4. A questão central decida pelo Tribunal a quo, para a qual remetemos, prende-se com a questão da verificação dos pressupostos da responsabilidade civil que permitam aferir o direito da autora a ser ressarcida dos danos que peticiona, provenientes da sua condenação no âmbito da identificada acção laboral, bem como saber se são os Réus responsáveis por tal ressarcimento e, em caso afirmativo, em que medida (negrito e sublinhado nosso).

(25)

responsabilidade civil em relação ao 1.º R., poderá colocar-se, então, a questão da sua eventual transferência de responsabilidade para a Recorrida.

6. Através de escrito datado de 01.03.2013, a Recorrente declarou que tendo sido notificado da data para a realização da audiência de partes no âmbito do processo….8TTVFX, a correr termos no 2.º juízo do Tribunal do Trabalho de Vila Franca de Xira, declara para os devidos efeitos legais que no dia e hora designados se encontram impedidos de comparecer pessoalmente e em representação da sociedade indicada em virtude de terem agendado de forma prévia uma importante reunião para a definição do futuro da sociedade comercial, razão pela qual delega os respectivos poderes no Dr. Ricardo… advogado (…), com procuração forense junta aos autos.

7. A Recorrente constituiu o Réu Advogado Dr. Ricardo …, seu procurador, declarando que confere os mais amplos poderes forenses em direito permitidos, bem como os poderes especiais para substabelecer, confessar, transigir e desistir do pedido ou da instância e, bem assim, os necessários para intervir no processo n.º….8TTVFX, a correr termos no 2.º juízo do Tribunal Judicial de Vila Franca de Xira (sublinhado nosso).

8. A Recorrente admite a existência de um contrato de mandato, de entre demais artigos, no artigo 2.º da sua p.i..

9. Foi sempre o 1.º Réu Advogado Dr. Ricardo … quem interveio no processo em causa, devidamente mandatado pela Recorrente, pelo que não resulta qualquer dúvida de que estamos perante um contrato de mandato.

10. A Recorrente mandatou o 1.º Réu Advogado Dr. Ricardo …, o que fez através de instrumento adequado (procuração forense), tendo, ademais, declarado expressamente que conferia ao mesmo os poderes forenses gerais e especiais em direito permitidos.

11. Estamos, indiscutivelmente, perante um contrato de mandato, de acordo e nos termos do disposto nos arts. 1157.º e segs. do CC.

(26)

as partes, o que verdadeiramente importa aferir é o preenchimento dos requisitos da responsabilidade civil, por forma a considerar a obrigação dos RR. e Interveniente de indemnizar a aqui Recorrente.

13. Este é, ademais, o mote do peticionado pela própria Recorrente nos presentes autos e o que resulta da petição inicial que intenta.

14. É incontornável que o que se está a avaliar nos presentes autos é a actuação do 1.º Réu Advogado Dr. Ricardo …, do ponto de vista profissional, enquanto advogado e no exercício do mandato que firmou com a sua constituinte Recorrente.

15. De resto, seja qual for a classificação da responsabilidade civil, isto é, seja ela considerada contratual ou extracontratual, são pressupostos da obrigação de indemnizar: a) o facto ou acto humano voluntário, por acção ou omissão; b) a ilicitude ou antijuridicidade do mesmo; c) a imputação do facto ao lesante ou agente, ou seja, a sua culpa – sendo a culpa apreciada em abstracto, na falta de critério legal, pela diligência de um bom pai de família, em face das circunstâncias de cada caso, nos termos dos arts. 487.º, n.º 2 e 799.º, n.º 2 do CC; d) a ocorrência de um dano ou lesão; e) o nexo de causalidade entre o facto e o dano].

16. No caso concreto, a obrigação dos RR. e Interveniente de indemnizar a Recorrente decorre da verificação cumulativa do preenchimento daqueles requisitos da responsabilidade civil.

17. O Tribunal a quo entendeu que a actuação do 1.º Réu Advogado revelou-se violadora dos seus deveres decorrentes do contrato de mandato, pelo que, ainda assim, decidiu no sentido de absolver os RR. e Interveniente.

18. A questão central prende-se com o dano e o nexo de causalidade, que inexistem no caso em apreço.

19. A sua ausência do 1.º R. Advogado Ricardo … na audiência de discussão e julgamento, analisada isoladamente, não implica, por si só, a condenação da aqui Recorrente, e, consequentemente, a decisão da qual resultam os alegados

(27)

danos.

20. Há que atender ao facto de que, não só o causídico não se encontrava presente naquela audiência, como, também, a parte constituinte e as testemunhas.

21. E foi esta conjugação de ausências (e não só a ausência do 1.º R. Advogado Dr. Ricardo …), que motivou aquele desfecho.

22. O n.º 1 do art. 71.º do CPT, prescreve que o autor e o réu devem comparecer no dia marcado para o julgamento.

23. Mais refere, no seu n.º 4, que se alguma ou ambas as partes apenas se fizerem representar por mandatário judicial, o juiz ordenará a produção da prova que haja sido requerida e se revele possível e a demais que considere indispensável, julgando a causa conforme for o direito.

24. I. e., ainda que o 1.º R. Advogado Dr. Ricardo … tivesse estado presente na audiência de discussão e julgamento, a verdade é que encontravam-se ausentes, tanto a Recorrente como, também, as testemunhas, pelo que não era viável a produção de qualquer prova e, consequentemente, a prova dos factos alegados pela aí ré e aqui Recorrente em sede de contestação.

25. Igualmente, ainda que o mandatário tivesse estado presente na referida diligência, e o juiz tivesse ordenado que se fizesse a produção da prova, apenas seria ouvida a testemunha da então A. naquele processo, uma vez que todas as outras (e, bem assim, as arroladas pela Recorrente), não se encontravam presentes, bem como a própria Recorrente.

26. A identificação de um dano constitui pressuposto incontornável de toda a responsabilidade civil, sendo que a mera perda de chance não tem virtualidade para fundamentar uma pretensão indemnizatória.

27. A Recorrente não logrou provar, nem em sede de recurso, demonstrar, factos que permitam formular um juízo de causalidade naturalístico.

28. O nosso ordenamento jurídico adoptou a designada doutrina da causalidade adequada, estabelecendo que apenas existe obrigação de indemnizar

(28)

relativamente aos danos que o lesado, com grande probabilidade, não teria sofrido se não fosse a lesão (vide art. 563.º do CC).

29. A Recorrente tinha de ter logrado provar que o resultado pretendido com a defesa nos autos em causa (proc. ….8TTVFX, que correu termos no Tribunal do Trabalho de Vila Franca de Xira) seria, previsivelmente, e com elevado grau de probabilidade, obtido, não fosse a ausência do 1.º R Advogado Dr. Ricardo …– o que não sucedeu.

30. Ainda que o 1.º R. Advogado Dr. Ricardo …l tivesse estado presente na audiência de discussão e julgamento, não podemos olvidar que não seria possível a produção da prova que interessava à Recorrente (e ali R.), uma vez que nenhuma das testemunhas por si arroladas se encontravam presentes. 31. Por outro lado, no que respeita à perda de chance, o risco da incerteza causal é distribuído entre as partes envolvidas, respondendo o lesante, apenas, na proporção e na medida da lesão que causou.

32. Mais uma vez, não podemos deixar de aplaudir a decisão do Tribunal a quo, que considerou que, pese embora o 1.º Réu não tivesse comparecido, as consequências pela perda da demanda não podem deixar de ser imputáveis à própria autora que tinha conhecimento da pendência da acção, e sabia que teria de comparecer ao julgamento, inclusivamente as testemunhas e que também não compareceram. (…) De acordo com o decidido no referido processo, a Autora foi também notificada (considerou-se notificada) para comparecer na audiência de julgamento, sendo certo que de tal documento constava de forma expressa e clara que se o “Réu” não comparecesse nem se fizesse representar por mandatário judicial seria condenado no pedido.

33. A Recorrente não logrou provar por que motivo não esteve presente na audiência de discussão e julgamento, assim como as testemunhas, pelo que, sempre terá de se atender ao disposto no n.º 2 do art. 570.º do CC, i. e., se a responsabilidade se basear numa simples presunção de culpa, a culpa do lesado, na falta de disposição em contrário, exclui o dever de indemnizar

(29)

(negrito nosso).

34. A Recorrente não logrou provar que, caso o 1.º R. Advogado Dr. Ricardo …l tivesse comparecido no julgamento, e atendendo à ausência das testemunhas e do legal representante daquela, existia um mínimo grau de probabilidade de procedência da sua defesa.

35. A Recorrente não logrou provar que existiu um prejuízo patrimonial na sua esfera jurídica, isto é, que esta consequência lesiva resultou da não produção da prova no referido julgamento.

36. A Recorrente não logrou provar a consistência probatória das testemunhas por si arroladas no âmbito daquele processo.

37. A Recorrente não logrou provar que a sua argumentação fáctica e/ou jurídica naquele processo era suficientemente sólida para prever, com probabilidade séria, a procedência da sua defesa e, desse modo, de um desfecho que lhe fosse mais conveniente no caso de ter sido produzida toda a prova e caso não se tivesse verificado a ausência do 1.º R. Advogado Dr. Ricardo ….

38. Ora, a verdade é que, apesar de o aqui 1.º R. Advogado Dr. Ricardo …ter deduzido contestação naquela acção laboral, faltaram ao julgamento as testemunhas e o legal representante da A. (aqui Recorrente), pelo que o grau de probabilidade de ser o 1.º R. Advogado o causador do dano é o grau de probabilidade da procedência da referida contestação (sem qualquer prova testemunhal), o que não se logrou provar.

39. De acordo com os arts. 563.º e 564.º do CC, apenas quando resulte provada e quantificada a probabilidade de procedência da chance perdida, poderá essa chance perdida ser ressarcida.

40. Não sendo a mesma susceptível de fundar a responsabilidade civil do “lesante”, quando não seja possível aferir da consistência da “chance” perdida pelo “lesado”.

(30)

responsabilidade civil.

42. Não basta que um advogado, por falta de zelo, não tenha praticado um determinado acto, para que, sem mais, nasça na esfera jurídica da sua cliente o direito à indemnização por perda de chance, sem se exigir qualquer outro requisito.

43. É necessária a existência de danos e o nexo de causalidade entre a actuação e aqueles.

44. A perda de chance não pode ser atendida de forma totalmente afastada da exigência do dano e do nexo causal.

45. A perda de chance deve ter como pressuposto a determinação do quantum indemnizatório, a probabilidade de vencimento.

46. Não sendo aferida a probabilidade de procedência da “chance” perdida, e sendo atribuída uma probabilidade de procedência da acção sem qualquer outro critério que não a circunstância de ter sido omitido o acto devido, a indemnização atribuída cai no âmbito da pura aleatoriedade, sem qualquer correspondência ao dano efectivamente sofrido pelo “lesado”.

47. Não pode o Tribunal determinar a perda de chance e fixá-la numa qualquer percentagem (como pretende o Recorrente) uma vez que não dispõe de elementos suficientes para apreciar o grau de probabilidade de êxito da acção, porquanto aqueles elementos não foram alegados nem provados nos autos. 48. Com efeito, decisão diversa da recorrida nunca poderia ser admitida, por absoluta ausência de base legal e violadora dos mais elementares princípios de Justiça.

49. Assim, mesmo que se equacionasse a possibilidade de atribuição de indemnização por dano de perda de chance, à Autora era exigida a alegação e prova da seriedade da chance perdida – o que, in casu, não logrou obter.

50. Pelo que, e em face do supra exposto, forçoso será concluir que pela inexistência de qualquer dano decorrente da actuação profissional posta em crise nos autos.

(31)

51. Não sendo, igualmente, possível, estabelecer uma causalidade adequada entre a conduta do advogado e os (pretensos) danos peticionados pela A. nos presentes autos.

52. Assim, de acordo com todo o exposto e, uma vez que o resultado do processo laboral referido nos presentes autos não é causa adequada da conduta imputada ao 1.º R. Advogado Dr. Ricardo …, não deverá ser alterada a decisão do douto Tribunal a quo, e, bem assim, não poderá ser assacada qualquer responsabilidade à ora Recorrida, mantendo-se em tudo a sentença recorrida”. Conclui, no sentido da improcedência da apelação, devendo manter-se a sentença recorrida.

*

A Recorrida Interveniente F. Seguros, S.A., formulou as seguintes CONCLUSÕES: “A. Nenhuma censura merece a decisão do Tribunal a quo quando julgou, e bem no entender da ora Recorrida, que não se provaram factos que permitam formular um juízo de causalidade entre o incumprimento contratual por parte do 1.º Réu e os danos alegados pela Recorrente – inexistindo, assim, direito à indemnização.

B. As alegações apresentadas pela Recorrente, bem como as suas conclusões, são absolutamente confusas, desfasadas da realidade dos factos provados, incumprindo com todas as regras que se impõem nesta sede, em especial, as previstas no art. 637.º, 639.º e 640.º, todos do CPC.

C. Com efeito, a Recorrente não identifica a espécie, efeito e modo de subida do recurso interposto, nem tão pouco cumpre o ónus de alegação que lhe compete e, para mais, apresenta umas conclusões que são a repetição da sua alegação.. D. É igualmente incompreensível se o recurso versa sobre matéria de facto e/ou direito dado que a Recorrente aparentemente contesta a decisão do Tribunal a quo sobre factos não provados mas não cumpre o ónus que se lhe impunha de enunciar, de forma clara e sintética, os fundamentos porque sustentam a alteração da decisão sobre a matéria de facto, conforme impõe o n.º 1 do art.

(32)

640.º, ambos do CPC.

E. Pelo que, por um lado, não contendo as conclusões as especificações aludidas no artigo 639.º, n.º 2 do CPC, deverá Tribunal ad quem convidar a Recorrente ao seu aperfeiçoamento sob pena de não conhecimento do recurso. F. Por outro, no que respeita à eventual impugnação da matéria de facto, encontrando-se incumprido o ónus de especificação imposto pelo artigo 640.º do CPC, deverá ser a mesma liminarmente rejeitada por inexistir obrigação de prolação de despacho de aperfeiçoamento para colmatar tal incumprimento. G. Sem prejuízo, é de salientar que a junção dos documentos apresentados pela Recorrente com as suas alegações de Recurso é, nos termos dos artigos 651.º e 425 do CPC, absolutamente extemporânea.

H. A Recorrente não só não justifica o motivo pelo qual pretende a admissão da sua junção como não demonstra o fundamento da impossibilidade da apresentação até ao encerramento da discussão de julgamento, pelo que não deverão ser admitidos pelo Tribunal ad quem.

I. Como já referido, a decisão proferida pelo Tribunal a quo não merece qualquer censura pelo que a Interveniente Recorrida discorda em absoluto do que presume ser o entendimento proposto pela Recorrente, devendo a referida sentença manter-se in totum.

J. A questão central decidida pelo Tribunal a quo prende-se com a questão da verificação dos pressupostos da responsabilidade civil que permitam aferir o direito da Recorrente a ser ressarcida dos danos que peticiona, provenientes da sua condenação no âmbito do processo ….8TTVFX, bem como saber se os Réus são responsáveis por tal ressarcimento e, em caso afirmativo, em que medida. K. O Tribunal a quo começou por apreciar se a actuação do 1.º Recorrido Advogado (renúncia ao mandato judicial e não comparecimento da audiência e discussão de julgamento) constituiu, ou não uma violação do exercício do mandato judicial firmado com a Recorrente.

(33)

prestação de serviços (e não de mandato forense) com o 1.º Réu Recorrido. M. Contudo, esquece-se a Recorrente da forma como configurou a acção por si intentada bem como do alegado no art 2.º da Petição Inicial, de entre demais artigos, nos quais admite a existência de um contrato de mandato.

N. A Recorrente pretende enquadrar a relação jurídica no instituto da prestação de serviços celebrado com a Recorrida Sociedade de Advogados… – contudo, tal alegação constitui um volte-face em relação ao que foi sempre por si alegado – não se compreendendo sequer qual o alcance de tal pretensão.

O. Independentemente da classificação jurídica, relevante é verificar o preenchimento dos requisitos da responsabilidade civil, por forma a considerar a obrigação dos Recorridos e da Interveniente Recorrida de indemnizar a aqui recorrente.

P. O Tribunal a quo entendeu que a actuação do 1.º Réu Advogado era ilícita e que, estando em causa um contrato de mandato, a sua violação se presume culposa.

Q. Pelo que o que releva é apurar se merece censura a posição do Tribunal a quo sobre a apreciação da existência de danos e nexo de causalidade entre a actuação e o dano.

R. Os danos alegados pela Recorrente são os decorrentes da sua condenação no processo n.º …/13.8TTVFX.

S. Contudo, esteve bem o Tribunal a quo ao considerar que a Recorrente não logrou demonstrar, como lhe impunha o ónus da prova, a relação de causalidade entre os danos e o não comparecimento do 1.º Recorrido Advogado no julgamento daquele processo.

T. A Recorrente não provou que a sua condenação no âmbito do processo laboral se deveu em exclusivo ao facto do 1.º Recorrido Advogado não ter comparecido.

U. O n.º 1 do artigo 71.º do CPT impõe que o Autor e o Réu devem comparecer pessoalmente no dia marcado para o julgamento e o seu n.º 4 que se alguma

(34)

ou ambas as partes apenas se fizerem representar por mandatário judicial, o juiz ordenará a produção da prova que haja requerida e se revele possível e a demais que considere indispensável, julgando a causa conforme for de direito. V. A Recorrente e as suas testemunhas arroladas (todos com conhecimento e eficazmente notificados para o efeitos – ponto 11 dos Factos Provados e art. 8.º da Petição Inicial) não compareceram na audiência de julgamento pelo que mesmo que o 1.º Recorrido Advogado tivesse comparecido, apenas iria ser ouvida a testemunha do ali Autor uma vez que todas as outras não se encontravam presentes.

W. Para além disso a Recorrente não logrou provar que, ainda que o 1.º Recorrido tivesse comparecido no julgamento, a sua defesa seria previsivelmente julgada procedente e, consequentemente, jamais seria condenado.

X. É facto novo a alegação de que o 1.º Recorrido disse à Recorrente para as testemunhas não comparecerem na audiência de julgamento – tal facto nunca foi alegado em sede de articulados nem tão pouco em sede de produção de prova.

Y. Pelo que sendo tal facto superveniente e não figurando no acervo dos factos provados, o mesmo não poderá ser valorado.

Z. A Recorrente pretende justificar a sua ausência à audiência de julgamento com a alegação do seu desconhecimento em direito. Contudo, o argumento de “desconhecimento da lei” não colhe face ao disposto no artigo 6º do Código Civil, segundo o qual “a ignorância ou má interpretação da lei não justifica a falta do seu cumprimento nem isenta as pessoas de sanções nela estabelecidas”.

AA. É inegável que mesmo que o 1.º Recorrido tivesse comparecido ao julgamento, face à ausência da Recorrente das suas testemunhas, o desfecho seria o mesmo que se veio a verificar.

(35)

indemnizar em virtude de a Recorrente não ter logrado provar que o não comparecimento do 1.º Recorrido Advogado à audiência e discussão de julgamento foi condição sine qua non da condenação proferida pelo Tribunal de Trabalho de Vila Franca de Xira.

CC. Relativamente à doutrina da perda de chance, a Recorrente não logrou provar a existência de um mínimo grau de probabilidade de procedência da sua defesa. Aliás, nem a defesa da Recorrente naquele processo é objecto de análise nestes autos.

DD. Os danos identificados como “valores pagos a mais pela recorrente, os impostos e os incómodos com a penhora das suas contas bancárias ao abrigo do processo executivo proposto pelo autor do processo laboral n.º ….8TTVFX” não resultam da ausência do 1.º Recorrido Advogado ao julgamento mas, isso sim, da falta de fundamento da Recorrente em tal processo e da ausência da mesma e das suas testemunhas ao julgamento.

EE. De acordo com o artigo 24.º do CPT bem como do doc. 11 junto à Petição Inicial, a Recorrente tinha conhecimento da sentença proferida no âmbito do referido processo pelo que falta à verdade, em manifesta má fé e abuso de direito. quando vem, em sede de recurso, alegar o desconhecimento da mesma. FF. A conduta violadora do dever do mandatário não trouxe qualquer alteração à situação da Recorrente pelo que não se verifica qualquer situação de perda de chance.

GG. Em contrapartida, as consequências da perda da demanda são imputáveis à própria Recorrente que, como também se referiu, tinha conhecimento de que teria de comparecer na audiência de julgamento – e, caso o tivesse feito, o resultado poderia ter sido diferente.

HH. De acordo com os artigos 563.º e 564.º do Código Civil, apenas quando resulte provada e quantificada a probabilidade de procedência da chance perdida, poderá essa chance ser ressarcida – prova que a Recorrente, reitere-se, não logrou demonstrar.

Referências

Documentos relacionados

Não foram muitos os escritores a intuir que não se estava precisamente ante uma revolução, mas ante uma nova religião... Para ele, todos os apóstolos

Entendemos que o equipamento que pretendemos ofertar estaria atendendo aos requisitos do projeto como um todo, já que não está explícito que haverá utilização para as 16 portas

A partir de pesquisa realizada junto ao Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o artigo analisa alguns efeitos colaterais do processo de preparação e

Se o movimento que derrubou o governo institucional foi repudiado por parte da sociedade civil, por outro lado, foi saudado com entusiasmo por parcelas sociais – não exclusivos das

Existe uma diferença terminológica nas dificuldades de aprendizagem entre vários autores; para uns, as dificuldades de aprendizagem correspondem a toda e qualquer dificuldade da

Ao analisar as entrevistas, destacamos que: (i) o conceito de gênero trazido pelas professoras ainda recai em binarismos, apesar de vislumbrarmos questionamentos

As mudanças que se observam no mundo contemporâneo são de tal modo profundas, que inauguram a necessidade de repensar alguns dos nossos pressupostos teóricos para manter

DOCUMENTOS DE TRABALHO DO OBSERVATÓRIO UNIVERSITÁRIO 18.. Outros assuntos de igual, senão mais profunda importância, foram deixados à parte. Correndo o risco de ainda deixar