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CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

ATRAVÉS DO ESPELHO:

AUTO-REALIZAÇÃO NA CURA DA DEPRESSÃO

IVAN ZACHARAUSKAS

SÃO PAULO 2006

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IVAN ZACHARAUSKAS

ATRAVÉS DO ESPELHO:

AUTO-REALIZAÇÃO NA CURA DA DEPRESSÃO

Monografia apresentada ao Centro de Pós-Graduação e Pesquisa da Uni FMU – Centro Universitário, como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Yoga.

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Dedicatória

Dedico este trabalho a meus Pais, Antonio (in memoriam) e Dirce, que tanto se esforçaram para que eu e meus irmãos tivéssemos uma Família e um Lar, onde pudemos, ao longo de todos estes anos, entre momentos de carinho e discussões calorosas, dignos de Família de linhagens italiana e lituana, aprender um pouco sobre a maravilhosa Arte de Amar.

“Estou escutando ou ouvindo melhor”, foram as últimas palavras escritas de meu Pai. Além de um poema, de Housman: “Tranqüilamente entre o mar e a terra, repousa a areia amarela, e aqui em dias de verão, brincam as sementes de Adão”. Que possamos todos caminhar com tranqüilidade por nosso Caminho!

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Agradecimentos

Em nosso caminho, nos deparamos com pessoas fantásticas a quem sempre nos sentimos agradecidos pelo tempo e riquezas que pudemos compartilhar. Gostaria de agradecer a todos que contribuíram com suas experiências e com seu carinho para que meu caminho fosse repleto de experiências e me permitisse chegar onde estou hoje. Boas ou ruins, doces ou amargas, todas fizeram e fazem parte do que sou hoje e por tudo isso e muito mais, meu mais profundo agradecimento!

Para este trabalho, gostaria de deixar meu especial agradecimento a toda equipe de Professores do curso de Yoga do Centro de Pós-Graduação e Pesquisa da Uni FMU, que juntos formam um vasto compêndio de conhecimento sobre Yoga e muito enriqueceram nossos dias de aula. Igualmente, meu agradecimento a todos os alunos e colegas que juntos trilharam estes quase três anos de conhecimento, experimentação, pesquisa, união, enfim, de Yoga.

Gostaria, com especial carinho, de agradecer às equipes e aos alunos dos espaços de Yoga com os quais convivo, vivo em conjunto: Prema, Atman Yoga Ashram e Legalas. Que muita energia esteja nestes centros de Yoga!

Com muito amor, agradeço de todo coração à minha esposa, Vanessa, pela ajuda no trabalho e suporte nos momentos difíceis, pelo carinho e compreensão tão necessários em nosso caminho juntos. Juntos freqüentamos o curso de especialização em Yoga e juntos seguimos nosso aprendizado nesta escola da vida. Obrigado, gata!

Obrigado a todos! Namastê.

C

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“Você poderia me dizer, por favor, qual caminho deveria seguir a partir daqui?” “Isso depende bastante de onde você quer chegar”, disse o Gato. “Eu não me importo muito onde”, disse Alice. “Então, não importa qual caminho você seguir”, disse o Gato. “Contanto que eu chegue a algum lugar”, Alice acrescentou como uma explicação. “Oh, seguramente você o fará”, disse o Gato, “é só você caminhar o tempo suficiente”.

(Lewis Carroll02, “Alice no País das Maravilhas”, 1995, p.47).

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RESUMO

Na Ayurveda, é conhecida como o mais grave desequilíbrio do humor Vāyu, elemento ar; no Yoga, como fruto da ignorância e do apego; a Psicanálise a vê como um desequilíbrio psicopatológico; e a Bioenergética, como a perda de contato com o corpo e a falta de fé em si mesmo. São formas talvez diferentes, e ao mesmo tempo muito semelhantes, de olhar para o mesmo mal que aflige o homem: a Depressão.

Ayurveda e Yoga buscam a purificação do corpo, seja ele físico ou sutil, como

meio de possibilitar um caminho espiritual, ou Dharma, que tenha como objetivo final a auto-realização, a união com Brahman, o divino que existe em tudo e em todos nós. Sugerem diversas técnicas e práticas que podem ser utilizadas em conjunto, tendo ambas ciências se desenvolvido lado a lado ao longo de milhares de anos. Para as duas, a cura dos sintomas da depressão se dá no corpo físico e no sutil, mas a cura efetiva acontece no caminho espiritual, quando nos reintegramos a nós mesmos e ao meio em que vivemos.

A Bioenergética apresenta uma interessante abordagem na análise de como corpo afeta a mente e vice-versa. A depressão, sendo vista como uma desintegração da união corpo-mente, pode ser tratada utilizando-se exercícios psicofísicos e técnicas respiratórias aliadas à terapia convencional.

Apesar das terapias apresentarem abordagens diferentes, o ponto em comum é a busca pela integração do indivíduo com o todo, de forma objetiva e sem distorções. O autoconhecimento, a ética, a vida em conjunto, a fé em si mesmo e nos outros, a prática do amor como arte, parecem mesmo representar a cura efetiva para a depressão e as bases para uma vida equilibrada, saudável e, seguramente, feliz!

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SUMÁRIO

Pg.

INTRODUÇÃO ... 1

OBJETIVOS ... 3

AYURVEDA – CIÊNCIA DA VIDA... 4

YOGA – CIÊNCIA DA AUTO-REALIZAÇÃO ... 16

BIOENERGÉTICA – UMA VISÃO INTEGRATIVA ... 37

A ÁRVORE DO CONHECIMENTO... 39

A ARTE DE AMAR ... 43

COMENTÁRIOS FINAIS ... 45

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INTRODUÇÃO

A depressão, caracterizada pela psicopatologia como um “estado de desencorajamento, de perda de interesse, que sobrevém, p.ex., após perdas, decepções, fracassos, estresse físico e/ou psíquico, no momento em que o indivíduo toma consciência do sofrimento ou da solidão em que se encontra” (HOUAISS07, 2001, p.943), pode ser vista como um dos desequilíbrios mais graves que o ser humano pode enfrentar. Estilos de vida que privilegiem o desequilíbrio e a desintegração podem levar pessoas pouco a pouco a estados depressivos.

Dor e sofrimento existem e fazem parte de nossas vidas, nossas experiências, da mesma forma que prazer e felicidade. O modo como reagimos aos mesmos e como nos transformamos durante o processo é que pode nos levar de uma situação de equilíbrio para outra de desequilíbrio ou desintegração.

Para melhor entendermos situações de equilíbrio e desequilíbrio, e como podemos chegar a um estado depressivo, propomos analisar as possíveis integrações existentes entre corpo e mente, e como reagimos nas interações com o meio em que vivemos.

Para esta análise, nos baseamos nos princípios da Ayurveda e do Yoga, no modo como ambas visualizam o Universo e o Homem, e quais os caminhos apresentados para a auto-realização, ou a integração com o meio em que vivemos. Vemos quais técnicas propostas por ambas ciências podem ser utilizadas na purificação do corpo e da mente para uma melhor compreensão e integração com a realidade e para o caminho espiritual como cura da depressão.

Complementando os estudos de Ayurveda e Yoga, vemos como a Bioenergética, uma escola relativamente moderna de psicologia, analisa a integração entre corpo e mente e as técnicas apresentadas para o tratamento da depressão.

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Nos aprofundando um pouco no tema autoconhecimento, propomos uma análise das bases biológicas da compreensão ou conhecimento humanos, para melhor entendermos de que modo autoconhecimento, ética e amor estão intrinsecamente relacionados. Abordamos, então, o tema do amor, como objetivo final de nosso caminho e cura efetiva de nossa ignorância e de nosso apego.

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OBJETIVOS

Identificar como Ayurveda e Yoga podem atuar conjuntamente no tratamento da depressão. Investigar as bases da integração corpo-mente e como esta se relaciona a desequilíbrios internos e externos que levam a estados depressivos. Analisar os conceitos de ética, amor e fé como bases para uma integração com o meio em que vivemos e para nosso caminho espiritual, como cura última da depressão.

Nosso objetivo neste trabalho não é o de detalhar procedimentos de Ayurveda ou práticas de Yoga, não devendo ser, portanto, encarado como manual para tratamento ou cura de casos de depressão. Nossa proposta visa apresentar caminhos e discutir certos pontos de vista, a fim de que o leitor ou praticante possa se aprofundar nos tópicos que lhe despertarem maior interesse.

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AYURVEDA – CIÊNCIA DA VIDA

Há diversos textos antigos e sagrados versando sobre Ayurveda e Yoga e muitas são suas interpretações ao longo do tempo. Não é nossa intenção nos aprofundar na discussão ideológica ou semântica destes textos ou interpretações, mas apenas apresentar as duas ciências de modo geral, sem nos apegarmos a aspectos que não seriam por si objetivo deste trabalho. Desta forma, vejamos em quais princípios estão baseadas a Ayurveda e o Yoga.

Ayurveda, conhecimento (veda) da vida (ayu), é considerada ciência irmã do Yoga, desenvolvendo-se em conjunto e influenciando-se mutuamente ao longo de milhares de anos. Remonta aos Vedas, escrituras sagradas do hinduísmo, estando relacionada à escola de filosofia védica Samkhya, ou dos princípios cósmicos, os quais compartilha com o Yoga. Como suplementos dos

Vedas temos os Upavedas, entre eles Ayur Veda e Dhanur Veda, este último

relacionado às artes marciais e do qual a Ayurveda aproveita os conhecimentos do corpo para práticas físicas e massagens.

Segundo Frawley04 (1999, p.5), Ayurveda e Yoga têm como objetivo

primordial a auto-realização, que pode ser considerada a mais alta forma de cura, tendo a Ayurveda, a princípio, um foco maior no tratamento de desequilíbrios do corpo e da mente e o Yoga no desenvolvimento espiritual.

Ayurveda e Yoga acreditam numa unidade primordial, eterna e imutável, que representa toda a existência. A esta unidade chamam Brahman, donde todo o demais se origina. Nossa existência, como uma das manifestações de

Brahman, é chamada de Atman, nosso verdadeiro ser, que está além de

espírito, mente ou corpo. Neste contexto, o objetivo final de nosso caminho espiritual, ou Dharma, é a união de Atman a Brahman, nossa união com o todo, do qual nunca estamos verdadeiramente separados.

Brahman se manifesta primordialmente através de dois princípios

cósmicos fundamentais, aos quais denominamos Purusha, ou consciência pura, representando o eterno e imutável, e Prakriti, ou natureza primordial. Podemos dizer que Purusha e Prakriti representam os poderes de consciência e inconsciência de Brahman, ou seus aspectos masculinos e femininos,

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representados pelas divindades Shiva e Shakti, ou, ainda, que é através do princípio manifesto de Prakriti que Purusha pode conhecer, experimentar e compreender sua própria natureza. Notem que os conceitos aqui apresentados de consciência e inconsciência são distintos daqueles da psicologia ocidental.

Observemos atentamente o último ponto apresentado. É necessária a forma manifesta de Prakriti para que Purusha possa compreender sua própria natureza. Em outras palavras, é necessária a experiência, a convivência com o manifesto, para que possamos compreender nossa verdadeira natureza, para reconhecermos Atman como manifestação de Brahman, para nos sentirmos unidos ao todo, integrados.

Sigamos em nossa apresentação. A primeira forma manifesta de Prakriti é denominada Mahat, ou Inteligência Cósmica, aquela que contém todas leis e princípios, os Dharmas, que o universo manifesto deve seguir. Na alma individual, Mahat torna-se Buddhi, a verdade universal e eterna.

Tanto em Mahat quanto em Buddhi, existem princípios universais e eternos. Os opostos, como certo e errado, bem e mal, não fazem sentido neste nível de manifestação. Em Buddhi, conhecemos apenas a natureza real, em oposição às suas aparências em constante mutação. Quando buscamos a Verdade, na Ayurveda e no Yoga, buscamos a verdade que existe em Buddhi, baseada em Mahat, livre de julgamentos dualistas.

Como estágio evolutivo, a manifestação de Prakriti se dá através da multiplicidade de entidades, proporcionando níveis diferentes de experiência. São qualidades intrínsecas de Prakriti o equilíbrio, ou Sattva, a energia e movimento, ou Rajas, e a inércia ou resistência, ou Tamas. A estas qualidades denominamos Gunas.

A multiplicidade de entidades proporciona o primeiro nível de individualização, quando temos a manifestação de Ahamkara, ou Ego. Sob o domínio de Ahamkara e através de Gunas, a Natureza se diversifica em três grupos de cinco: cinco sentidos, cinco órgãos de ação e cinco elementos, respectivamente. Estes Gunas estão em equilíbrio enquanto qualidades de

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Prakriti, mas sob influência do Ego podem se desequilibrar, tornando-se Vikriti

ou não natural, desequilibrado.

Ahamkara, sob influência de qualidades de equilíbrio e energia, Sattva e Rajas, dá origem também a Manas, aspecto externo da mente, o princípio de

formação das emoções, sensações e imaginação, que coordena, como um sexto sentido, os órgãos dos sentidos e de ação. De acordo com a Ayurveda, são a cegueira e o apego causados pelo Ego as principais causas de doenças espirituais, mentais e físicas.

Prakriti, Buddhi, Ahamkara e Manas estão relacionados com o que

denominamos Corpo Causal. Os três Gunas determinam a natureza mental de um indivíduo e estão relacionados com o que denominamos Corpo Sutil. Assim como no Yoga, devemos usar a energia de Rajas para vencer a resistência de

Tamas na direção do equilíbrio, Sattva.

Os Cinco Elementos

Os cinco elementos, Pañcha Mahabhutani, são éter, ar, fogo, água e terra. Constituem todas as formas materiais existentes, incluindo nosso corpo, e se relacionam com os órgãos dos sentidos e ação. Formam a base das constituições do Corpo Físico, conhecidas como humores ou Doshas. O dosha

Vāyu tem predominância do elemento ar, Pitta do elemento fogo, Kapha do

elemento água e Tridosha quando os três elementos são predominantes.

Os diagnósticos na Ayurveda levam em consideração as constituições (doshas) e as qualidades (gunas). Analisando de perto estes dois fatores, podemos descrever, dentro da complexidade e riqueza de detalhes de que dispõe a Ayurveda, como é simples o raciocínio básico existente nos tratamentos.

O dosha Vāyu tem predominância do elemento ar, mas também possui em sua constituição o elemento éter. A combinação de ar e éter possui qualidades, também chamadas gunas, frias, leves e secas. Quando há excesso do dosha Vāyu devemos, amenizar estes elementos e estas qualidades.

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Portanto, podemos incrementar os elementos fogo, água e terra, e as qualidades quentes, pesadas e oleosas. Trabalhamos com os opostos. Note, porém, que isso não significa que alguém com excesso do dosha Vāyu deva se empanturrar de tortas de frutas e salgadinhos após comer carne com bastante gordura e frita no óleo. São fundamentais: um diagnóstico correto, uma prescrição correta, além de equilíbrio e escutar seu próprio corpo!

O dosha Pitta tem predominância do elemento fogo, mas também possui em sua constituição o elemento água. A combinação de fogo e água possui qualidades quentes, leves e oleosas. Portanto, podemos incrementar os elementos éter, ar e terra, e as qualidades frias, pesadas e secas.

O dosha Kapha tem predominância do elemento água, mas também possui em sua constituição o elemento terra. A combinação de água e terra possui qualidades frias, pesadas e oleosas. Portanto, podemos incrementar os elementos éter, ar e fogo, e as qualidades quentes, leves e secas.

Como as constituições são únicas para cada ser humano, os diagnósticos e tratamentos são igualmente únicos.

É interessante notar que assim como as qualidades intrínsecas de

Prakriti, Sattva, Rajas e Tamas, estão em constante transformação, igualmente

os doshas estão em constante interação e transformação. Assim, quando buscamos o equilíbrio de um dosha, podemos estar acumulando ou agravando, quando já há excesso, um outro. Estes fatores são levados em consideração na prescrição dos tratamentos.

Nossa intenção nos parágrafos anteriores foi a de apenas dar uma idéia de como trabalhar com alguns dos conceitos da Ayurveda em conjunto, de forma harmoniosa e integrada.

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Na figura abaixo, temos uma interessante visualização dos princípios cósmicos descritos anteriormente, porém com um enfoque no reino vegetal, numa planta.

Figura 1: FRAWLEY & LAD05, 1994, p.9 – “Cosmic Evolution”

Vemos a interação de Purusha e Prakriti, as três qualidades ou gunas,

sattva, rajas e tamas, e os grupos de cinco sentidos, órgãos e elementos

associados. Notemos o comentário em que as flores abertas representam a inteligência cósmica, mahat ou buddhi, e as flores fechadas representam o ego, ou ahamkara.

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Nesta outra ilustração, vemos os locais predominantes de cada dosha no corpo. Apesar de estarem distribuídos por todo corpo, há atuação mais forte de cada dosha em determinadas localizações ou órgãos.

Figura 2: FRAWLEY & LAD05, 1994, p.13 – “Seats of Vāyu, Pitta, Kapha”

Vemos o prana vital, ou cósmico, sendo recebido pelo topo da cabeça (um dos chakras, ou centro de energia vital), o prana nutriente, o próprio ar, entrando pelas vias respiratórias, e os locais predominantes dos doshas, sendo os pulmões para kapha, o estômago para pitta e o intestino grosso para vāyu.

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Depressão

Depressão, na Ayurveda, é vista como uma das manifestações de Insanidade. Tirtha14 (2004, p.465) possivelmente cita uma definição de Caraka, responsável por um dos textos base da Ayurveda, Caraka Samhitā, com respeito à insanidade (Unmāda, em sânscrito), como sendo “a perversão da mente, intelecto, consciência, conhecimento, memória, desejo, modos, comportamento e conduta”.

Seguindo o diagnóstico da Ayurveda com base nas constituições ou humores corporais (doshas), podemos classificar a insanidade em cinco tipos distintos: Vāyu (ar), Pitta (fogo), Kapha (água), Tridosha (ar, fogo e água) e causas externas. Como Vāyu é aquele que dá sustentação à vida, diretamente relacionado a Prana, ou energia vital, e é o responsável pela movimentação dos demais humores, Pitta e Kapha, qualquer desequilíbrio em seus fluxos internos gera desequilíbrio nos fluxos dos demais humores. A insanidade, sendo o estado mais grave do humor Vāyu, desequilibra fortemente os demais humores. Adicionalmente, desequilíbrios nos demais humores, Pitta e Kapha, podem causar alterações no humor Vāyu, fazendo com que os sintomas se desenvolvam rapidamente.

As terapias dependem do diagnóstico e são divididas em duas categorias. Terapias que promovam os elementos água e terra são consideradas de Tonificação (Brimhana). Envolvem, por exemplo, diversos tipos de oleação. Terapias que promovam os elementos éter, ar e fogo são consideradas de Redução ou Desintoxicação (Langhana). Consideram, por exemplo, diversos tipos de drenagem, sudação e uso de adstringentes.

No tratamento da depressão, podemos ter as duas categorias sendo aplicadas, em momentos distintos, de acordo com o diagnóstico. Antes, durante e depois das terapias, dietas especiais são prescritas ao paciente.

Contudo, mais importante do que as terapias em si é a proposta da Ayurveda voltada para estilos de vida saudáveis ou rotinas diárias adequadas, que promovam o equilíbrio dos humores (doshas) e qualidades (gunas) nos pacientes, possibilitando a continuidade de seu desenvolvimento espiritual.

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Esta proposta inclui a prática de Yoga e diversas práticas espirituais, entre outras.

Crow03 (2004, p.234) descreve o processo de purificação na Ayurveda de forma alquímica, como uma transmutação que o praticante e o paciente sofrem em seu caminho espiritual, ou seja, o autoconhecimento, a auto-realização.

O tratamento dos desequilíbrios e a adoção de estilos de vida saudáveis são primordiais na Ayurveda. Trabalham com os Corpos Físico e Sutil. São, no entanto, a base para a verdadeira cura que está no caminho espiritual, ou

Dharma, ao trabalharmos nosso Corpo Causal e reconhecermos nosso Atman

como parte integrante de Brahman.

Desequilíbrios

De acordo com Tirtha14 (2004, p.465), as principais causas da insanidade estão relacionadas a ações moralmente ou eticamente desequilibradas. Os sintomas daí resultantes podem incluir timidez, uma mente agitada, sob influência de rajas, ou letárgica, sob influência de tamas, ou um desequilíbrio nos doshas físicos. Outras causas estão relacionadas a dietas ou estilos de vida inadequados, quando na presença de outras condições desfavoráveis de saúde, ou mesmo quando a mente é constantemente afetada por emoções, como medo, raiva, cobiça, entre outras. Além destas, Tirtha14 (ib.) também menciona ataques físicos violentos, traumas e ferimentos físicos, em outras palavras, choques traumáticos. A partir das situações mencionadas, a mente fica profundamente perturbada.

Importante e interessante notar o caminho do desequilíbrio ou doença de acordo com a Ayurveda. Os desequilíbrios começam no Corpo Causal, passando a influenciar o Corpo Sutil e chegam, então, ao Corpo Físico. Os tratamentos, assim como no Yoga, seguem o caminho inverso. Começam a tratar o Corpo Físico para ir aos poucos atingindo os demais corpos.

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A insanidade é causada por desequilíbrio de Vāyu devido a “jejuns prolongados ou ingestão excessiva de alimentos secos ou frios” (TIRTHA14, 2004, p.465). Segundo Tirtha, estes hábitos “afetam o coração e a mente com sentimentos como preocupação, paixão e raiva, os quais resultam em distorções nos padrões de memória e nas percepções” (ib.).

A insanidade é causada por desequilíbrio de Pitta devido à “indigestão, ingestão excessiva de alimentos ou líquidos quentes, picantes ou pungentes, ácidos ou que causem sensação de queimação” (ib.), quando a agravação do humor Pitta “preenche o coração da pessoa sem autocontrole com sentimentos aflitivos” (ib.).

A insanidade é causada por desequilíbrio de Kapha devido à “alimentação em excesso ou uso excessivo de alimentos oleosos” (ib.), “deixando o coração aflito e a mente e a memória perturbadas” (ib.).

A insanidade é causada por desequilíbrios nos três humores (Vāyu, Pitta e Kapha), sendo então Tridosha, quando há situações de excesso nos três humores. Esta situação é considerada séria pela Ayurveda, pois as terapias, como veremos adiante, agravarão um ou mais humores (doshas). Tirtha, tomando por base Caraka, aponta que esta situação é incurável (ib., p.466).

A insanidade é originada por Causas Externas quando um padrão ético e virtuoso não é seguido nesta vida, ou em vidas passadas, ou mesmo quando, citando alguns exemplos interessantes de textos clássicos, a pessoa molesta ou desrespeita “cachorros, sábios e demônios” (ib., p.466). Notem a importância dada à conduta ética que não se relaciona apenas a outras pessoas, mas igualmente à Natureza. Além disso, o respeito devido aos mestres e sábios e, por que não, ao mundo das divindades e “demônios”, ao sagrado.

Quando há menos pureza e equilíbrio (sattva) na vida e na mente da pessoa, as causas expostas anteriormente enfraquecem os humores (doshas) e afligem o coração.

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Sintomas

A agravação dos desequilíbrios dos humores (doshas) dá lugar a uma série de sintomas. De modo geral, ou seja, para quaisquer constituições ou humores predominantes, estes sintomas geralmente incluem “impaciência, instabilidade mental, visão descontrolada, sensação de vazio no coração, perda da paz, memória e intelecto” (TIRTHA14, 2004, p.466).

Terapias

Conforme mencionamos, as terapias podem ser de Tonificação (Brimhana) ou de Desintoxicação (Langhana). Fazem parte, na Ayurveda, de um processo integrado de tratamento chamado Pañcha Karma, ou cinco ações. Os locais predominantes de cada dosha, conforme descritos anteriormente (vide Figura 2, p.9), são considerados nos tratamentos. Desta forma, uma terapia de redução do dosha vāyu deve considerar principalmente a limpeza e tonificação da região do cólon. Já para o dosha pitta especial atenção deve ser dada à limpeza e tonificação do estômago e do fígado. No caso do dosha kapha, a limpeza e tonificação do estômago e dos pulmões devem ser consideradas.

No Pañcha Karma, as cinco ações consistem em: êmese, ou vômito terapêutico, conhecida por Vamana, que atua na região do estômago, removendo as toxinas (ama) e muco dos canais de energia (nādīs) e do peito; purgação, conhecida por Virechana, que elimina excesso do dosha pitta no fígado, pâncreas e intestino delgado; enema, ou lavagem intestinal, conhecida por Basti, que atua no intestino grosso, no cólon e no reto, eliminando toxinas e tonificando o cólon e os órgãos relacionados; terapia nasal, conhecida por

Nasya, que possui diversas aplicações, purgativas ou tonificantes, atuando em

toda a região da cabeça através das narinas, consideradas as portas de entrada; e sangria, ou retirada de sangue, conhecida por Rakta Moksha, que utiliza procedimentos específicos durante o tratamento para posterior retirada das toxinas via sanguínea.

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Dependendo do grau de agravação dos humores (doshas), estas terapias podem ser ministradas diversas vezes. O resultado das mesmas pode ser identificado na sensação e efetiva “limpeza do coração, da cabeça, dos sentidos e do trato gastrointestinal. A mente fica alerta; a memória e a consciência melhoram” (TIRTHA14, 2004, p.467).

Tirtha14 (ib.) ainda menciona algumas terapias voltadas à psicologia: “Métodos terapêuticos dependem dos sintomas. Métodos incluem gritar, presentear, consolar, assustar. Desta maneira, a causa da doença é confrontada e lidada. Em casos graves, bater e dar choques são sugeridos. Se a insanidade é causada por medo, angústia, raiva, paixão, excitação, inveja ou cobiça, pessoas próximas com emoções opostas promoverão a cura” (TIRTHA14, 2004, p.467).

No que diz respeito a uma abordagem psicológica, notemos dois pontos importantes. Primeiro, a possibilidade de fazer a pessoa confrontar a doença ou desequilíbrio, inclusive com o uso de choques físicos para despertar a pessoa de um possível estado de agitação ou letargia. Outra possibilidade, que abordaremos mais a fundo, a da convivência com “pessoas próximas com emoções opostas”, ou, como preferiremos nos referir, a da convivência com o amor, com a integração, com a união.

Sinais de recuperação

“Quando a claridade e senso de normalidade reaparecem, é um sinal de que os sintomas foram removidos” (ib., p.468). Contudo, como veremos mais adiante em nossa análise do Yoga, em visão compartilhada com a Ayurveda, nossa abordagem para o caminho e a proposta de “cura” da depressão vai mais além, para o lado espiritual.

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Ayurveda Espiritual

“A causa raiz de todas doenças é a falta de fé ou conexão com o Divino. A perda do amor pelo ser interior, mais elevado, é o primeiro estágio no desenvolvimento e causa da doença. Deste modo, se alguém se devota a amar e a pensar em si mesmo da forma mais elevada, mais Divina, a raiz da doença é mais facilmente erradicada” (TIRTHA14, 2004, p.343).

Quando abordamos o tema terapia em Ayurveda ou Yoga, geralmente tendemos a pensar e focalizar o corpo físico. É justamente por ser mais fácil lidarmos com problemas físicos e mais facilmente reconhecidos como ‘reais’ que esta abordagem torna-se mais acreditada num mundo que prima pelo conhecimento dito ‘científico’. Contudo, como veremos mais adiante em nossa análise das bases biológicas do conhecimento humano, ‘A Árvore do Conhecimento’, há uma real necessidade de compreendermos que o objetivo e o subjetivo são complementares. Deste modo, o Divino, ou aquilo que reconhecemos subjetivamente como existente e real, nossa integração e interdependência com tudo o que nos cerca, é de suma importância para a Ayurveda e para o Yoga.

A devoção, seja ela ao Divino que está dentro de nós, a um Deus, Krishna, Jesus, Buddha, a nossos Pais e Família, à Natureza, através da música ou das artes em geral, é aquilo que nos aproxima de nossa verdadeira identidade como seres humanos. Na Ayurveda e no Yoga, é através da devoção principalmente que o praticante pode trabalhar suas ações (karma), passadas e presentes, no sentido de se unir à sua forma preferida e amada de Deus.

Então, quando recebemos qualquer tratamento na Ayurveda ou realizamos qualquer prática no Yoga, é nossa devoção aos mesmos e a nós mesmos que permite os potenciais de cura e de aprendizado para que o mal não retorne, para que estejamos mais preparados do que estávamos no início de nosso caminho.

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YOGA – CIÊNCIA DA AUTO-REALIZAÇÃO

As origens do Ayurveda e do Yoga remontam a tempos remotos. Alguns historiadores sugerem que muitos milhares de anos foram necessários para reunir os conhecimentos da natureza e do cosmo, então condensados e repassados de geração a geração via tradição oral, na forma de mantras, e posteriormente registrados em escrituras e trabalhos de arte os mais diversos, entre eles esculturas e pinturas.

Algumas destas escrituras, conhecidas como Vedas, chegaram até os nossos dias e, segundo alguns historiadores, remontam a períodos anteriores ao nascimento de Krishna, algo entre quatro a cinco mil anos atrás (FRAWLEY04. 1999, p.309). Abordam de forma mítica e ritualística os conhecimentos do cosmo e da natureza, as origens e manifestações do Universo, e o papel do Homem neste contexto.

Os Vedas

Os Vedas são basicamente quatro em número e se relacionam com diversos aspectos da vida, assim como a diversas práticas de Ayurveda e Yoga. Frawley04 (ib., p.310) descreve de modo sucinto as correspondências

entre os três principais Vedas – Rig Veda, Yajur Veda e Sama Veda – acrescentando que o quarto texto, Atharva Veda, se relaciona a tópicos específicos, incluindo diversas questões e aspectos pessoais da vida. Rig Veda está relacionado ao conhecimento, ao mantra yoga, a um estado de despertar e à divindade e/ou ao elemento fogo (agni). Yajur Veda está relacionado à prática, ao prana yoga, a um estado de sonho e à divindade e/ou ao elemento vento (vāyu). Sama Veda está relacionado à realização, ao dhyāna yoga, a um estado de sono profundo e à divindade Sol (Surya).

O Conhecimento, a Prática e a Realização. Componentes necessários do caminho dos praticantes de Ayurveda e Yoga.

Os Vedas, ainda de acordo com Frawley04 (ib., p.311), são compostos de duas partes principais. A primeira parte (Samhita) é composta por mantras e

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representa as fundações. A segunda parte é composta por comentários e pode ser subdividida em três partes: Brahmanas, Aranyakas e Upanishads. Os

Brahmanas descrevem em detalhes diversos rituais relacionados a práticas

externas e internas, individuais e coletivas. Os Aranyakas possuem uma natureza mais interna, versando sobre temas como meditação e práticas ascéticas. Os Upanishads são de predominância filosófica e representam um resumo do conhecimento védico, apresentando rituais e práticas de vários tipos. É dos Upanishads que derivam as disciplinas do Ayurveda e do Yoga.

Escolas de Filosofia Védica

Seis escolas de filosofia védica surgiram a partir das implicações lógicas, metafísicas e cosmológicas existentes nos Vedas.

O desenvolvimento de fortes habilidades racionais, subordinadas à intuição (esta relacionada a buddhi, ou verdade universal), válidas tanto para praticantes de Ayurveda quanto de Yoga, encontram seus fundamentos em

Nyaya, ou escola da lógica, fundada por Gautama, e em Vaisheshika, ou

escola atômica, fundada por Kannada.

Os princípios cosmológicos e filosóficos, tanto para o Ayurveda quanto para o Yoga, são encontrados em Samkhya, ou escola do princípio cósmico, fundada por Kapila.

A quarta escola, Yoga, fundada por Hiranyagarbha (nome dado ao deus sol enquanto Criador cósmico), está diretamente relacionada à escola

Samkhya, havendo, no entanto, um foco maior da parte da escola Yoga nas

práticas que conduzem ao conhecimento e à purificação dos elementos, princípios e/ou verdades cósmicas delineadas em Samkhya.

A escola ritualística, Purva Mimansa, fundada por Jaimini, dá ênfase na prática de rituais para o bem-estar individual e em sociedade, estando relacionada, entre outras, à prática do karma yoga.

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E Uttara Mimansa, ou escola de teologia e metafísica, fundada por Badarayana, que está mais diretamente relacionada com a interpretação dos textos védicos, discorrendo sobre a natureza de Deus, da alma, o Absoluto e o relacionamento entre eles. Esta acabou dando origem a diversas escolas de

Vedanta, ou interpretação dos Vedas.

Upavedas

Os Upavedas podem ser considerados suplementos dos Vedas clássicos, buscando aplicações práticas dos ensinamentos védicos. O Ayurveda surge neste contexto e está geralmente relacionado ao Atharva

Veda, pois este é o primeiro a apresentar mantras e métodos específicos para

tratar de desequilíbrios ou doenças (FRAWLEY04, 1999, p.316), mas permanece integrado aos demais Veda, assim como o Yoga.

Os Upavedas consolidam conhecimentos relacionados à cura de doenças – Ayurveda; às artes marciais – Dhanur Veda, de onde o Ayurveda utiliza as recomendações para práticas de exercícios, massagens e trabalhos corporais, especialmente no tratamento dos pontos sensitivos do corpo (marmas); arquitetura, escultura e geomancia – Sthapatya Veda, fonte de técnicas relacionadas ao posicionamento energeticamente mais propício de estruturas, também conhecido sob o nome de Vastu; e música, poesia e dança – Gandharva Veda.

Vedangas

Frawley04 (ib., p.317) menciona igualmente a existência dos Vedangas, sendo parte propriamente dos Vedas e as principais ferramentas para a interpretação dos mesmos.

A astrologia é abordada em Jyotish, sendo considerada importante para o Ayurveda na determinação do potencial de saúde de uma pessoa, sua tendência para desequilíbrios e as possibilidades de recuperação. Também é

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utilizada na programação do tratamento e na preparação de remédios e ervas. No Yoga, auxilia na identificação do potencial espiritual, na definição dos horários de prática e na iniciação aos mantras.

Quatro dos demais vedangas versam sobre linguagem, sendo a base do idioma Sânscrito e das terminologias utilizadas no Ayurveda e no Yoga.

Sabedoria Védica

Como resume Frawley04 (1999, p.318), os conhecimentos védicos podem ser a fonte para uma evolução na humanidade, promovendo uma transformação de nós mesmos e nosso planeta quando aplicados em nosso dia-a-dia:

“Yoga provê os meios para a purificação da mente

(chitta-shuddhi) para nos permitir alcançar a Auto-Realização

através do Vedanta (Auto-Conhecimento). Ayurveda nos permite a purificação do corpo (deha-shuddhi) para níveis ótimos de saúde e energia. Vastu nos concede a purificação do lar (driha-shanti) para a correta orientação no espaço. Jyotish nos dá a purificação de influências planetárias negativas (graha-shanti) para a correta orientação no tempo” (FRAWLEY04, 1999, p.318).

Após este breve cenário das origens da Ayurveda e do Yoga, alguns de seus fundamentos, vejamos como o Yoga pode ser útil no tratamento de desequilíbrios, como pode ser utilizado em terapias.

Terapia

Terapia pode ser definida como “Medicina 1 tratamento de doentes; terapêutica 2 toda intervenção que visa tratar problemas somáticos, psíquicos

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ou psicossomáticos, suas causas e seus sintomas, com o fim de obter um restabelecimento da saúde ou do bem-estar” (HOUAISS07, 2001, p.2699). Temos, então, uma situação de desequilíbrio, ausência da saúde ou do bem-estar; as classes dos problemas: somáticos, “relativo a ou próprio do organismo considerado fisicamente”; psíquicos: “relativos à esfera mental ou comportamental do indivíduo”; ou psicossomáticos: quando ocorre a “transformação de conflitos psíquicos em afecções de órgãos ou em problemas psicossomáticos” ou a manifestação de “doença orgânica provocada por problemas emocionais, nervosismo, depressão, etc”; e o foco da terapia nas causas e nos sintomas, e não apenas nos sintomas, como forma de restabelecer o equilíbrio.

No mesmo dicionário, notemos as definições e referências feitas à ciência do Yoga: “1 Religião conjunto assistemático de práticas psicofísicas e ritualísticas que acompanha inúmeras crenças religiosas indianas, prov. desde a época anterior aos Vedas (antes do sXX a.C.) 2 Filosofia Religião esse conjunto, sistematizado em uma escola filosófica no sV d.C., que acrescenta à ampla tradição de técnicas psicossomáticas os princípios especulativos da filosofia sanquia, com o objetivo de alcançar o samádi, suspensão completa da atividade mental” (HOUAISS07, 2001, p.1646).

Yogaterapia

Yogaterapia (ou Iogaterapia), é aquela que busca o tratamento através das práticas de Yoga. O Yoga busca o equilíbrio através de um processo de reintegração. Em oposição, o desequilíbrio é um estado de desintegração.

Diferentemente das terapias “convencionais”, onde o indivíduo “espera” pelo tratamento e recebe passivamente o mesmo, na Yogaterapia o “paciente” transforma-se em “agente”, sendo responsável pelo processo de cura, pelo tratamento.

Conforme explanado por Kuvalayananda10 (1963, p.1) corpo e mente trabalham em conjunto buscando sempre um estado de equilíbrio e

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funcionamento integrado (samādhi), mesmo quando ambos enfrentam normalmente estímulos internos e externos (kleśas). Este equilíbrio é considerado um mecanismo de homeostase. Todo e qualquer estímulo, seja interno ou externo, seja mecânico, elétrico, biológico ou psicológico, gera alguma perturbação psicofisiológica, ou seja, na mente e no corpo (vikşepas). Estas perturbações terão maior ou menor duração dependendo da força relativa do estímulo, por um lado, e da habilidade homeostática da mente e do corpo, por outro lado. O Yoga busca, portanto, ajudar o corpo e a mente a manter seus estados de equilíbrio, ou recuperá-los rapidamente quando perdidos.

Kleśas

Kleśas são considerados no Yogasūtras de Patañjali, texto clássico do

Yoga, como sendo as aflições que atormentam o yogin e o afastam de seu caminho. Igualmente podem ser consideradas impurezas da mente. Para lutar contra as mesmas, o yogin deve valer-se de três dos princípios enunciados em

Yamas e Niyamas, princípios éticos e morais do Yoga, quais sejam: ascese, ou

determinação, austeridade e autocontrole, ou Tapas; auto-estudo, ou

Svādhyāya; e consagração ao Senhor, ou Ishvara Pranidhana.

Avidyā, ou ignorância, ou falsa compreensão, diz respeito à falsa idéia

ou confusão, de acordo com os princípios filosóficos do Yoga, entre os conceitos de perpetuidade e transitoriedade, entre o que é baseado no conhecimento verdadeiro e na ilusão dos sentidos, Maya. É esta ignorância que o yogin busca eliminar através do auto-conhecimento, do estudo, para atingir Vidyā, ou saber, conhecimento. É esta ignorância considerada principal fator gerador dos demais kleśas.

Asmitā, ou sentido de auto-afirmação, ou identidade equivocada, o

conceito de Ego (“egoísmo”). A idéia falsa de que não somos parte de um todo, de que nos identificamos com algo que verdadeiramente não é o nosso Eu, este sim eterno, permanente.

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Rāga, ou desejo, apego, ansiedade irracional em repetir experiências

agradáveis e um sentimento de sofrimento quando não podemos mais satisfazê-las.

Dveşa, ou aversão, repulsa, ódio. Quando nos lembramos de

experiências desagradáveis e procuramos evitá-las. Quando não conseguimos, novamente sofremos. O ódio é uma versão mais intensa de repulsa. Em ambos, Rāga e Dveşa, o yogin deve buscar o equilíbrio, usar de seus meios para evitar ou anular os extremos, aceitar e observar as experiências como elas realmente são, sem exageros, sem deixar de considerar que as mesmas estão acontecendo mas não afetam seu verdadeiro Eu, eterno e imutável. Por dentro, continuamos tranqüilos, equilibrados.

E, por último, Abhiniveşa, ou apego à vida e medo da morte, ou simplesmente ansiedade ou medo. Este apego vem, em sua causa primordial, de nossa identificação com o corpo e nosso medo de abandoná-lo. Vem de nossa falsa identidade, Asmitā, e de nossa ignorância em saber que pertencemos a algo maior. O apego também pode ser encarado como o medo de mudar, de abandonar o que já passou.

Pode ser que no caso da depressão, mesmo quando a pessoa está ciente de sua condição depressiva, a mesma tenha este medo de encarar a mudança, medo de abandonar seus sentimentos negativos, medo até mesmo de encarar a possibilidade de ser feliz, de se sentir parte do todo novamente.

Tratamento de desequilíbrios

Conforme Kuvalayananda10 (1963, p.3), no tratamento de desequilíbrios, há duas maneiras de atuarmos: identificar o fator gerador e buscar sua erradicação; e ajudar o corpo por si mesmo a lutar contra o fator gerador, adquirindo, desta forma, maior resistência a ataques ou desequilíbrios futuros.

No tratamento de doenças crônicas, quando o corpo já não consegue lutar contra os fatores agressores, terapias específicas podem ser necessárias e a medicina tradicional atua neste segmento. Na fase de recuperação e

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mesmo antes do desequilíbrio se caracterizar como crônico, manifestando-se na forma de doenças, o Yoga pode e busca o fortalecimento das capacidades de adaptação do corpo e da mente aos estímulos externos.

Três grandes passos podem ser mencionados neste sentido: “cultivo de atitudes psicológicas corretas; recondicionamento dos sistemas neuromusculares e neuro-glandulares; ênfase numa dieta saudável, com processos de eliminação naturais, auxiliados, sempre que necessário, por técnicas especiais de limpeza e purificação” (KUVALAYANANDA10, 1963, p.5).

O “cultivo de atitudes psicológicas corretas” pode ser baseado nos preceitos éticos e morais do Yoga, os Yamas e Niyamas. O “recondicionamento dos sistemas neuromusculares e neuro-glandulares” pode ser conseguido através das práticas psicofisiológicas do Yoga, notadamente

Āsanas , Mudrās e Bandhas, e Prānāyāmās. A “dieta saudável” deve sempre

observar os princípios delineados para cada constituição na Ayurveda, além de considerar o meio ambiente e as necessidades individuais, para não corrermos o risco de sugerir uma dieta saudável “vegetariana” a um esquimó vivendo na neve, comenta o próprio Swami Kuvalayananda. Já os “processos de eliminação naturais”, igualmente foco da Ayurveda, podem ser auxiliados pelas limpezas e purificações do Yoga, os Kriyās, ainda que menos potentes que os adotados no Pañcha Karma da Ayurveda, são igualmente eficientes ao longo do tempo.

Yogasutras (Patañjali Yogasutras – P.Y.S.)

Iyengar08/09 (1994, p.31; 1998, p.3), ao descrever parte do Yogasutras, compilação de Yoga realizada por Patañjali, descreve os oito passos ou disciplinas a serem seguidas pelo praticante de Yoga: Yama e Niyama, Āsana,

Prānāyāmā, Pratyāhāra, Dhārāna, Dhyāna e Samādhi.

Os Yamas e Niyamas são os fundamentos da prática do Yoga e freqüentemente traduzidos por refreamentos e observâncias. São eles: não-violência (Ahimsā), veracidade (Satya), não roubar (Asteya), moderação

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(Brahmacharya), não possessividade (Aparigraha); e pureza (Saucha), contentamento (Santosha), determinação (Tapas), auto-estudo (Svādhyāya) e consagração ao Senhor (Īshvara Pranidhāna). Servem como guia para uma vida equilibrada, que não perturbe corpo e mente.

Āsana envolve a prática de posturas psicofísicas. Prānāyāmā diz

respeito ao fluxo de Prana ou energia vital no corpo, seu controle. Pratyāhāra se refere ao bloqueio das perturbações dos sentidos. Dhārāna está relacionado à prática de concentração. Dhyāna considera as práticas de meditação. Por sua vez, Samādhi está relacionado ao objetivo último do Yoga, a união ou integração.

De acordo com Iyengar08 (1998, p.6), os quatro primeiros passos do Yoga estão relacionados a Tapas, os dois seguintes a Svādhyāya e os dois últimos a Īshvara Pranidhāna, deixando claro que precisamos de determinação e auto-estudo em nosso caminho para atingirmos nosso objetivo espiritual.

Além de Yamas e Niyamas, Kuvalayananda10 (1963, p.19) menciona um

código de comportamento (maitryādibhāvanā) desenvolvido para os praticantes no sentido de evitar a cobiça, a contenda, a inveja e a raiva, todos sentimentos destrutivos:

“Devemos cultivar um sentimento de amizade (maitrī) para com aqueles de quem cobiçamos algo, um sentimento de empatia e compaixão (karunā) para com aqueles que estamos inclinados a enfrentar, um sentimento de alegria e prazer (muditā) em companhia daqueles de quem de outro modo teríamos inveja, e, por último, pois pode haver aqueles que não podem ser tolerados devido a sua natureza profundamente irritante, um sentimento de indiferença (upekşā) e evitar sua companhia” (KUVALAYANANDA10, 1963, p.19).

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É muito importante notarmos a importância dada aos aspectos éticos e espirituais tanto no Yoga quanto na Ayurveda. Kuvalayananda10 (1963, p.20) ressalta que:

“o comportamento ajuda o desenvolvimento de padrões estruturais tanto quanto os padrões estruturais dirigem os processos comportamentais. Assim, a influência da mente sobre o corpo é talvez muito maior que aquela do corpo sobre a mente. É por isso que o Yoga dedica especial ênfase no cultivo de atitudes psicológicas corretas” (KUVALAYANANDA10, 1963, p.20).

Āsana e Prānāyāmā

Recondicionando o Mecanismo Psicofisiológico

Conforme abordamos anteriormente, estímulos internos ou externos geram alguma perturbação psicofisiológica, ou seja, na mente e no corpo (vikşepas). Kuvalayananda10 (ib., p.7) ressalta que estas perturbações, em especial se forem negativas ou destrutivas, além de “causar estresse e depressão (dukkha e daurmanasya), também interferem com o ritmo tônico dos músculos e canais, i.e., produzem ‘angamejayatva’, e levam a uma perturbação da respiração (svāsa-prasvāsa) (P.Y.S. I-31)” (KUVALAYANANDA10, 1963, p.7).

Āsana e Prānāyāmā, neste sentido, vêm atuar em conjunto justamente

para restaurar o equilíbrio psicofisiológico de mente e corpo, buscando, entre outros, um fluxo livre de energia vital no corpo através de uma respiração sem perturbações.

Pratyāhāra, Dhārāna, Dhyāna, e Samādhi são caminhos que levam às

práticas espirituais mais elevadas do Yoga e trabalham no longo prazo com a redução ou eliminação das perturbações geradas pelos estímulos internos ou externos. Āsana e Prānāyāmā, por outro lado, trabalham no curto e médio prazo e focam o que na psicologia fisiológica chamamos de substrato postural,

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ou seja, todo o conjunto de neurológico, glandular e muscular do corpo. (KUVALAYANANDA10, 1963, p.21).

Kuvalayananda10 (ib.) explica que o substrato postural, embora em seu estado normal seja de natureza fluída, ou seja, livre de bloqueios ou tensões, e possa, desta forma, assumir diversos padrões, quando influenciado por níveis cumulativos de estresse, seja na forma de doenças ou pressões e desequilíbrios mentais, pode aos poucos se tornar rígido e de certa maneira estereotipado em suas respostas a estímulos internos ou externos. “Deste modo, o substrato postural possui uma grande importância como determinante de comportamento, tanto internos quanto externos” (ib.). “Nenhum nível de persuasão portanto mudará o perfil da pessoa durante a vida” (ib.).

É pelo motivo exposto acima que diversas práticas de Yoga focam o substrato postural, atingindo os órgãos sensores e tecidos mais profundos, de modo a provocar os desbloqueios e mudanças necessárias para que o substrato volte a possuir sua natureza fluída. Este mesmo aspecto psicofisiológico do Yoga é abordado, como veremos, na Bioenergética.

Neste sentido, Kuvalayananda10 ressalta que Āsanas ou posturas,

“deveriam ser tratadas e praticadas como tal, e seus efeitos tampouco deveriam ser considerados em termos dos princípios da Quinesiologia, i.e., fisiologia dos movimentos, mas em termos das reações estáticas e tônicas” (ib., p.25). Ou seja, apesar de algumas posturas envolverem movimento, os efeitos psicofisiológicos almejados são alcançados em suas permanências.

Quanto ao movimento para a montagem de uma postura e sua permanência, há um clássico aforismo no Yogasutras de Patañjali (P.Y.S. II-46), que diz “sthira-sukhamāsanam”, freqüentemente interpretado como ‘āsana é aquele que é fácil e estável’, ou ‘estável e confortável’. Kuvalayananda10 (ib., p.26), comenta que uma melhor interpretação deste aforismo seria a de que

āsana seria aquele que contribui para a estabilidade e um senso de bem-estar,

ou seja, conquistando a postura pouco a pouco, o corpo se entregará lentamente e prazerosamente ao padrão postural exigido.

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É nesta entrega gradual, sem violência (ahimsā), que o substrato postural vai sendo trabalhado. Caso contrário, o ritmo tônico dos músculos e canais, além de sua influência na respiração, mencionados anteriormente, poderão ser ainda mais agravados.

Contudo, lembra ainda Kuvalayananda10 (1963, p.26) que isso não significa necessariamente relaxamento total na postura. “Neste caso, talvez, dormir deveria ser o melhor āsana, sendo a mais fácil e mais estável!” (ib.).

Para esclarecemos este ponto, podemos, por exemplo, classificar as posturas em inativas e ativas e, dentro destas últimas, em posturas estáticas e dinâmicas. Vejamos algumas definições a seguir.

Posturas Inativas “são aquelas que são geralmente adotadas para descansar ou dormir. Nesta classe de posturas há um relaxamento geral de toda musculatura, exceto aquela que é requerida para manter a vida, e.g., que esteja envolvida com respiração, circulação do sangue,

etc. Estas últimas atividades também são reduzidas a um mínimo” (KUVALAYANANDA10, 1963, p.35). Savāsana, ou postura do Cadáver, é um

exemplo destas posturas (vide Foto 1).

Posturas Ativas “podem ser mantidas apenas com a ação integrada de vários músculos” (ib.). Posturas Ativas Estáticas “são aquelas onde um padrão constante de postura é mantido estável pela ação integrada de grupos de músculos trabalhando mais ou menos estaticamente para estabilizar as juntas e para preservar um estado de equilíbrio contra a gravidade e outras forças” (ib.). Virāsana, ou postura do Herói ou Guerreiro, é um exemplo destas posturas (vide Foto 2).

Nas Posturas Ativas Dinâmicas “o padrão da postura é constantemente modificado e ajustado para fazer face às mudanças nas demandas do

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movimento” (KUVALAYANANDA10, 1963, p.35). “... apesar de haver algum movimento nestes

āsanas, o mesmo é produzido de modo lento e

sustentado, levando mais em consideração a gradual alteração do padrão de atitude neuro-muscular do corpo do que a atividade do

movimento em si” (ib.). Ūrdhva Dhanurāsana, ou postura do Arco Erguido, é um exemplo destas posturas (vide Foto 3).

Estas considerações sobre o que é estático e o que é dinâmico podem variar de um autor para outro, ou mesmo de uma escola de Yoga para outra. Pode ser o caso do Astanga Vinyasa Yoga, prática dinâmica de āsanas com uso do conceito de vinyasa, ou respiração, unindo uma postura à outra numa seqüência contínua. Contudo, os princípios psicofisiológicos parecem ser os mesmos, independentemente da abordagem utilizada.

Além dos āsanas, mencionados também as práticas de mudrās e

bandhas. A maioria delas consiste na utilização de certas travas ou contrações

neuromusculares que produzem variações na pressão interna de órgãos ou regiões específicas do corpo. São utilizadas isoladamente ou em conjunto com outras práticas do Yoga para a manutenção ou direcionamento do fluxo de energia vital no corpo.

Vimos como as posturas (āsanas) psicofísicas trabalham com o corpo e com a mente, através de sua influência no substrato postural constituído por neurônios, glândulas e músculos. Vejamos agora como as técnicas de respiração do Yoga, consideradas em Prānāyāmā, atuam neste processo.

Prānāyāmā, conforme descrito por Kuvalayananda10 (ib., p.41), consistem essencialmente de controles voluntários sobre a respiração, ou técnicas de respiração que trabalhem com este e outros conceitos.

“’Através de Prānāyāmās, praticados corretamente, todo o sistema nervoso é bem integrado e então os impulsos circulam facilmente através de susumna – o canal central – depois de desobstruída a oclusão que anteriormente

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bloqueava este caminho. Os impulsos assim circulando através do canal central promovem uma estabilidade (e equilíbrio) da mente.’ H.Y.P. II-41-42” (KUVALAYANANDA10, 1963, p.53).

Esta desobstrução do canal central, ou nadī, susumna, ou mesmo sua própria existência, ainda que não comprovada pela ciência moderna, é aclamada pelos textos tradicionais do Yoga, entre eles o Hatha Yoga Pradīpikā, mencionado nesta citação. Os efeitos de estabilidade e equilíbrio podem ser observados durante as práticas de Prānāyāmā.

Além deste benefício das práticas de Prānāyāmā, Kuvalayananda10 (ib., p.52) faz outra referência ao Hatha Yoga Pradīpikā, ressaltando que as toxinas (mala) também podem ser removidas do corpo através destas técnicas:

“’Prānāyāmā, por si só, é suficiente para a erradicação de todos os malas ou toxinas. Assim opinam algumas autoridades que sentem que nenhuma outra prática é necessária.’ – H.Y.P. III-37” (KUVALAYANANDA10, 1963,

p.52).

As técnicas de Prānāyāmā consideram três fases da respiração: inspiração, suspensão temporária da respiração e expiração. Especial ênfase é dada à suspensão temporária da respiração, chamada de kumbhaka, quando o objetivo é a manipulação de pressões intrapulmonares, intratorácicas e intra-abdominais e suas retenções por determinados períodos de tempo. Novamente a função destas manipulações parece estar relacionada com o recondicionamento dos mecanismos psicofisiológicos do corpo.

Kuvalayananda10 (ib., p.41, 42) menciona três classes distintas de

kumbakha: ābhyantara ou pūrna kumbakha, que é a suspensão da respiração

no máximo da capacidade pulmonar, após a inspiração profunda; bāhya ou

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pulmonar, após a expiração; e kevala kumbakha, que seria a suspensão num estágio intermediário, com pressão intrapulmonar equivalente à pressão atmosférica.

Além de kumbakha, Kuvalayananda10 (1963, p.42) menciona a utilização de bandhas, ou contrações neuromusculares, conforme visto anteriormente, durante as fases da respiração. Assim, durante a inspiração, ou puraka, devemos praticar Mūla-Bandha, ou contração do Períneo e região periférica; durante a suspensão, ou kumbakha, devemos praticar Jālandhara Bandha, ou contração do queixo contra o peito, comprimindo os sínus carotídeos e prevenindo qualquer aumento indevido de pressão sanguínea; e na expiração, ou recaka, devemos praticar Uddiyāna Bandha, ou contração da parede abdominal, elevando do diafragma. O uso de bandhas, neste sentido, além de proteger diversos os diversos órgãos internos envolvidos na respiração, tonificam e condicionam os mecanismos neuromusculares e glandulares relacionados.

Figura 3: FRAWLEY & LAD05, 1994, p.19 – “Breath in Plants”

Na figura acima, vemos a representação nas folhas de uma planta das energias de Purusha, ou Shiva, relacionada à força masculina e à inspiração, e de Prakriti, ou Shakti, relacionada à força feminina e à expiração.

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Kriyās

Conforme mencionado à página 23, em Tratamento de Desequilíbrios, os “processos de eliminação naturais”, podem ser auxiliados pelas limpezas e purificações do Yoga, os Kriyās. Em muitos casos, estas técnicas possuem abordagens similares no Pañcha Karma da Ayurveda.

As limpezas e purificações no Yoga, além do benefício da eliminação de toxinas (ama) do corpo, possuem o importante papel de tonificar os órgãos envolvidos e melhor prepará-los para reagir aos estímulos internos e externos, promovendo o equilíbrio ou um estado de homeostase entre meio interno e externo.

Kuvalayananda10 (1963, p.56), menciona quatro grupos de kriyās: naso-faríngeo, gástrico, intestinal e do cólon.

Os kriyās para higiene naso-faríngea têm por objetivo a desobstrução das vias respiratórias e, dentre outras técnicas, envolvem: Jala Neti, ou lavagem das vias nasais com água; Sutra Neti, ou fricção e massagem das vias nasais com um cordame embebido em cera de abelha ou, modernamente, com uma sonda de borracha; e Vāta Krama Kapālabhāti, ou simplesmente

Kapalabhāti, ou lavagem das vias respiratórias com ar, através de forte

expiração com contração do abdômen e do períneo, ou Mūla-Bandha, como num espirro; Jihvā Bandha, ou contração da língua no palato, para tonificar a musculatura da faringe; Simha Mudrā, ou símbolo do Leão, com a boca bem aberta, colocando a língua para fora buscando alcançar a parte inferior do queixo e com o olhar fixo na região entre as sobrancelhas, igualmente para tonificar a musculatura; e Brahma Mudrā, as quatro faces de Brahma, girando suavemente a cabeça para a esquerda, direita, para trás e para frente.

Os kriyās para higiene gástrica têm por objetivo a retirada de toxinas do trato gástrico e igualmente recondicionar os órgãos envolvidos. As principais técnicas envolvem: Danda Dhauti, ou lavagem do estômago com água e um tubo de borracha, para retirar o excesso de muco das paredes; Vastra Dhauti, utilizando um pedaço longo de tecido que deve ser engolido, massageando o estômago, e depois retirado e lavado; Vamana Dhauti, lavagem com água,

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através de indução posterior de vômito (semelhante à técnica de Vamana na Ayurveda); e Gajakarani ou Kunjara Kriyā, regurgitação voluntária de conteúdo gástrico, usando água para auxiliar e uma série de técnicas para relaxamento do esfíncter, permitindo o fluxo total de retorno pela garganta e pela boca. Este último requer muito mais técnica e preparo que os demais.

Os kriyās para higiene intestinal têm por objetivo estimular as funções de secreção e de eliminação dos intestinos. As principais técnicas são: Vātasāra, ou lavagem e estímulo dos intestinos com ar, engolido através da boca e expelido pelo reto, podendo ser utilizada aqui a técnica de Nauli, ou manipulação dos músculos abdominais; Vārisāra ou Shankha-Prakshālana, ou lavagem de todo o trato gastrointestinal com água, utilizando-se uma série de posturas para auxiliar a movimentação da água pelo trato e sua posterior expulsão pelo reto; e Agnisāra, ou movimento voluntário do abdômen para dentro e para fora enquanto mantendo uma suspensão da respiração ao final da expiração, bāhya ou sūnya kumbakha.

Os kriyās para higiene do cólon, principal região do dosha vāyu, têm por objetivo a limpeza e tonificação desta região. As técnicas envolvem: Vāta Basti, ou lavagem do cólon com ar, utilizando-se um tubo de borracha ou técnicas de abertura do esfíncter, além da técnica de Nauli, para absorção e movimentação do ar na região do cólon; Vāri Basti, ou lavagem do cólon com água, semelhante à Vāta Basti; e Ganesha Kriyā ou Mūla Shodhana, ou massagem da região ano-retal com os dedos.

Assim como no pañcha karma da Ayurveda, os kriyās possuem indicações e contra-indicações. Portanto, é sempre bom estudar e consultar outras pessoas ou mestres antes de praticá-los.

Dedicamos um maior espaço aos kriyās do às técnicas do pañcha

karma, pois estes últimos, do Yoga, a nosso ver, podem ser praticados por

conta própria após o devido aprendizado, ao contrário dos procedimentos da Ayurveda, que necessitam, em sua maioria, de acompanhamento terapêutico ou médico.

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Ayurveda e Yoga durante a Prática

É comum vermos em diversas publicações, provavelmente por pressão de leitores e praticantes, indicações de posturas ideais para esta ou aquela constituição, ou mesmo para este ou aquele desequilíbrio. Neste sentido, acreditamos que a melhor definição para este ponto é a de que o objetivo do Yoga é a união, ‘Yoga é yoga’, e sua prática deve ser encarada como um todo e não reduzida a pedaços ou seus resultados colhidos em partes.

Contudo, quando utilizamos os conceitos de Ayurveda sobre as constituições individuais (doshas), além das qualidades (gunas) determinantes dos estados mentais, podemos identificar interessantes abordagens durante as práticas de Yoga.

Olhando para as qualidades (gunas), podemos nos situar num estado de equilíbrio (sattva), de excesso de energia ou movimento (rajas) ou excesso de letargia ou inércia (tamas).

No caso de excesso de rajas, uma prática intensa e que aumente em demasia a quantidade de energia apenas agravará a situação. Assim, o ideal seria práticas mais tranqüilas, com posturas, respiração e técnicas mais suaves, que levem ao equilíbrio.

No caso de excesso de tamas, uma prática profundamente relaxante, com posturas, respiração e técnicas demasiado suaves, levará o praticante a ficar ainda mais tamásico. Desta forma, o ideal seria promover seus níveis de energia, incrementando rajas, com posturas, respiração e técnicas mais dinâmicas, que igualmente levem ao equilíbrio.

Olhando para as constituições (doshas), podemos complementar nosso enfoque nas necessidades individuais.

O dosha Vāyu, sendo constituído pelos elementos ar e éter, possui qualidades, também chamadas gunas, frias, leves e secas. Para amenizar estes elementos e estas qualidades devemos incrementar os elementos fogo, água e terra, e as qualidades quentes, pesadas e oleosas. É neste sentido que podemos qualificar, mas não restringir, a prática de Vāyu com posturas e

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práticas que promovam um aquecimento ou aumento de rajas, mas não em demasia para não terem o efeito secante, agravando o elemento ar; e que promovam a base, o contato com o chão e com o próprio corpo, que garantam a sensação de peso. Não é necessário usar óleo durante a prática!

O dosha Pitta, com predominância do elemento fogo, mas também possuindo em sua constituição o elemento água, possui qualidades quentes, leves e oleosas. Portanto, podemos incrementar os elementos éter, ar e terra, e as qualidades frias, pesadas e secas. A prática de Pitta, neste sentido, deve promover a calma e relaxamento, reduzindo rajas; a respiração deve ser profunda, mas não intensa, incrementando o elemento ar e novamente acalmando; além de promover base e contato com o próprio corpo.

O dosha Kapha, possuindo os elementos água e terra, tem qualidades frias, pesadas e oleosas. Ao incrementar os elementos éter, ar e fogo, e as qualidades quentes, leves e secas, estaremos equilibrando este dosha. A prática de Kapha, deste modo, deve promover o aquecimento e o dinamismo, incrementando rajas e reduzindo tamas, podendo ser mais intensa do que a prática dos demais doshas. Astanga Vinyasa Yoga pode ser uma boa indicação nestes casos.

Resumindo, as práticas podem ser as mesmas, apenas sugerimos uma mudança nas abordagens ou no modo como são conduzidas. Contudo, sem um diagnóstico adequado, não se pode considerar Ayurveda ou Yoga uma prática baseada apenas em leituras ou indicações que não estejam baseadas em conhecimento e experiência sobre as duas ciências. Acima de tudo, os padrões posturais e as condições físicas do praticante devem ser levados em consideração.

Pratyāhāra, Dhārāna, Dhyāna, e Samādhi

Estando o corpo recondicionado e o fluxo de energia e respiração livres, o praticante está apto ou melhor preparado para seguir adiante em seu

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caminho, potencializando práticas que já vinha realizando no início de sua jornada.

“O Yoga é o domínio de seu próprio veículo psicofísico, e os sentidos, que são os principais fatores de dispersão voltados para o mundo exterior, devem ser restabelecidos sob o controle de Buddhi: ’Quando os cinco órgãos cognitivos, assim como os pensamentos, estão em repouso, e quando o Intelecto está imóvel, a isso se chama a via suprema. É isso que se considera como o Yoga: um firme domínio sobre os sentidos. Nesse momento o homem está livre de qualquer distração’ Katha Upanishad IV-1” (MICHAËL13, 1976, p.91).

Nos baseando no exposto acima por Tara Michaël13, observemos o bloqueio das perturbações provocadas pelos sentidos, voltados para o mundo externo, não significa que devemos nos desligar dos mesmos, evitando todo e qualquer contato com o meio externo. Significa, importante ressaltar, que devemos trabalhar no sentido de não sermos iludidos ou termos uma percepção equivocada do que captamos do mundo externo através dos sentidos. Sermos capazes de controlar os sentidos em vista de buddhi, ou a verdade livre de opostos, nos livra de cairmos em confrontos internos, nos livra do apego e da cegueira causadas pelo ego, ahamkara. A esse controle, chamamos de Pratyāhāra.

Para atingirmos nossos objetivos, precisamos focar gradualmente nossa atenção e nossa dedicação. Em lugar de deixarmos nossa mente perambulando de uma idéia ou pensamento para outro, precisamos pouco a pouco ir restringindo seus passos a um determinado caminho ou determinado domínio. Normalmente, o Yoga utiliza certos suportes ou pontos de fixação para a prática de concentração, de modo que sempre que há um desvio de atenção, a mesma possa ser novamente focada para este suporte, que pode ser tanto um objeto ou imagem externa quanto interna. Quando atingimos este

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nível de concentração num único ponto, centrado e imóvel, atingimos Dhārāna. (MICHAËL13, 1976, p.92).

Dhyāna considera as práticas de meditação. Quando o nível de

concentração atingido em Dhārāna torna-se um fluxo contínuo e ininterrupto, temos Dhyāna. Tara Michaël13 (ib., p.93) cita Vyasa, um dos comentaristas do

Yogasutras, para definir Dhyāna: “Um continuado esforço mental para assimilar

o objeto da meditação, livre de qualquer distração”.

Várias técnicas de meditação, estáticas ou dinâmicas, são propostas por diversas escolas. O objetivo, no entanto, parece ser o mesmo considerado por Vyasa e, com determinação e prática, “a meditação conduz ao Samādhi” (ib., p.94).

Samādhi está relacionado ao objetivo último do Yoga, a união ou

integração com o todo, com o Divino, com a Natureza, ou o nome que quisermos ou preferirmos dar para aquela sensação que, algumas vezes muito raramente, sentimos de estarmos perfeitamente conectados com o Universo e de conhecer tudo o que há para ser sabido.

Ao contrário do que muitos podemos pensar, samādhi não ocorre quando morremos, e nem está tão longe ou é tão complicado que não o possamos atingir. Podemos sentir este nível de união em vários momentos de nossas vidas. Em outros raros momentos este estado de união pode perdurar por algum ou muito tempo. Contudo, vamos e voltamos. Estamos aqui para experienciar, para conhecer e crescer. Então, seguimos e vamos e voltamos nos oito passos prescritos por Patañjali no Yogasutras. Em cada ida e volta, no entanto, não somos mais os mesmos. Morremos e nascemos a cada nova descoberta!

E aqui termina nossa abordagem de Ayurveda e Yoga.

Vejamos, agora, como a Bioenergética analisa a integração entre corpo e mente, e nos aprofundemos um pouco no tema do autoconhecimento, da ética e do amor e sua intrínseca relação no caminho da auto-realização.

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