• Nenhum resultado encontrado

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Direito A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Direito A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL"

Copied!
211
0
0

Texto

(1)

A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Gabriela Maciel Lamounier

Belo Horizonte 2008

(2)

A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Direito Público.

Orientador: José Luiz Quadros de Magalhães

Belo Horizonte 2008

(3)

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Lamounier, Gabriela Maciel

L236a A atuação do Ministério Público no Tribunal Penal Internacional / Gabriela Maciel Lamounier. Belo Horizonte, 2008.

209f. : Il.

Orientador: José Luiz Quadros de Magalhães

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Direito

1. Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. 2. Ministério Público. 3. Organização das Nações Unidas. 4. Conselho de segurança. 5. Independência. I. Magalhães, José Luiz Quadros de. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Direito. III. Título.

(4)

Trabalho apresentado à banca de mestrado em Direito Público com linha de pesquisa em Direitos Humanos, Processo de Integração e Constitucionalização do Direito Internacional da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Belo Horizonte, 2008.

_______________________________________________ José Luiz Quadros de Magalhães (orientador) – PUC/MG

______________________________________________

Bruno Wanderley Júnior – PUC/MG

_______________________________ Arthur José Almeida Diniz - UFMG

__________________________________________

Leonardo Isaac Yarochewsky (suplente) – PUC/MG

(5)

Ao João Lucas e ao Filipe, por serem crianças iluminadas em minha vida.

Aos meus pais, minha imensa gratidão por permitirem mais esta conquista acadêmica.

(6)

Ao meu orientador Professor Doutor José Luiz Quadros de Magalhães pelo incentivo, ensino, paciência e exemplo acadêmico.

Ao Professor Doutor Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da Silva por alertar-me para a importância do tema desenvolvido.

Ao Arnaldo, Joyce, Ludmilla e Diego por fazerem diferença em minha vida.

À Veridiana, por me ajudar a sentir vontade de viver novamente.

Aos funcionários da Secretaria do Mestrado Rafael, Jackson, Nicolas, Lorraine e André, por toda atenção e carinho.

Ao Elísio Júnior pelas palavras de conforto e por todo apoio incondicional.

Aos alunos do Instituto Belo Horizonte de Ensino Superior, formandos de dezembro de 2010, por tornarem a atividade acadêmica cada vez mais agradável e por serem, sem dúvida, a primordial razão de minha dedicação a esta pesquisa.

E, em especial, às amigas (não somente colegas) de mestrado Maria Bueno e Juliana Marchesani por toda amizade, pela convivência prazerosa e pelas conquistas durante esses anos.

(7)

"O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer."

Albert Einstein

“E a questão da culpa ou inocências individuais, o ato de aplicar a justiça tanto ao acusado quanto à vítima, são as únicas coisas que estão em jogo numa corte criminal.”

(8)

Esta dissertação realizou um estudo sobre a importância do Tribunal Penal Internacional, cujo objetivo é julgar indivíduos que cometeram crimes internacionais (genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes de agressão), impedindo que esses acusados fiquem sem julgamento por razões políticas ou interesses econômicos e, possibilitando um julgamento livre de pressões políticas. Mais especificamente, o presente trabalho versa sobre uma reflexão do papel desempenhado pelo Ministério Público como órgão independente do referido tribunal. O Ministério Público é denominado no Estatuto de Roma como “Gabinete do Procurador”, o qual é chefiado pelo Procurador. Sua função primordial é instaurar o inquérito.

Palavras–chave: Estatuto de Roma; Tribunal Penal Internacional; Ministério Público; Organização das Nações Unidas; Conselho de Segurança; independência.

(9)

This dissertation conducted a study on the importance of Internacional Criminal Court, whose goal is to judge individuals who have committed international crimes (genocide, war crimes, crimes against humanity and crimes of aggression), preventing those accused are without trial for political reasons or and economic interests, allowing a trial free from political pressure. More specifically, the present work is about a reflection of the role of the Public Prosecutor as a body independent of the Court. The Public Prosecutor is called to the Rome Statute as "Office of the Prosecutor", which is headed by the Prosecutor. Its primary function is to initiate the investigation.

Key-words: Rome Statute International Criminal Court; Public Prosecutor; United Nations; Security Council; independence.

(10)

1. INTRODUÇÃO... 11

2. DIREITOS HUMANOS ... 16

2.1 Conceitos e características ... 16

2.2 A internacionalização dos Direitos Humanos – considerações básicas. 17 3. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 20 3.1 Tribunal Internacional Militar de Nuremberg ... 23

3.2 Tribunal Internacional Militar para o Extremo Oriente (Tóquio) ... 29

3.3 Tribunal Penal ad hoc para a antiga Iugoslávia... 35

3.4 Tribunal Penal ad hoc para Ruanda ... 39

4. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL: ASPECTOS COMPETENCIAIS E PRINCIPIOLÓGICOS... 43

4.1 Soberania – evolução do conceito ... 43

4.1.1 A soberania dos Estados e o Tribunal Penal Internacional ... 47

4.2 Competência do Tribunal Penal Internacional ... 48

4.2.1 Competência material ... 49

4.2.2 Competência pessoal ... 51

4.2.3 Competência temporal ... 52

4.2.4 Competência territorial ... 53

4.2.5 Competência para conhecer as infrações contra a Administração da Justiça ... 54

4.3 Princípios do Tribunal Penal Internacional ... 54

4.3.1 Princípio da Legalidade ... 54

4.3.2 Princípio da Irretroatividade ... 56

4.3.3 Princípio da Responsabilidade penal individual ... 56

4.3.4 Princípio da Exclusão da jurisdição relativamente a menores de 18 (dezoito) anos ... 58

4.3.5 Princípio da Irrelevância da qualidade oficial... 59

4.3.6 Princípio da Responsabilidade dos Chefes Militares e Outros Superiores Hierárquicos ... 59

(11)

4.3.9 Princípio da Complementaridade ... 60

4.4 Das Penas ... 62

5. O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E SUA COMPOSIÇÃO ... 64

5.1 Presidência ... 65

5.2 Câmaras ... 66

5.2.1 Câmara de Questões Preliminares ou Câmara de Pré-Julgamento ... 66

5.2.2 Câmara de Julgamento ou Câmara de Primeira Instância ... 67

5.2.3 Câmara de Recursos ou Câmara de Apelações ... 68

5.3 Assembléia dos Estados-partes ... 68

5.4 Secretaria ... 69

5.5 Promotoria ou Ministério Público ... 69

6. COOPERAÇÃO E OPINIÃO PUBLICA INTERNACIONAL ... 71

6.1 Disposições Gerais sobre a Cooperação Internacional ... 71

6.2 Opinião Pública Internacional ... 73

6.2.1 Conceito ... 73

6.2.2 Importância da opinião pública internacional no Tribunal Penal Internacional ... 73

7. MINISTÉRIO PÚBLICO ... 75

7.1 Competências ... 75

7.2 Princípios ... 76

7.2.1 Princípio da independência do Gabinete do Procurador ... 76

7.2.2 Princípio da oficialidade ... 77

7.3 Candidatura, eleição, mandato e remuneração ... 77

7.4 Deveres e poderes ... 78

7.5 Incompatibilidades e impedimentos ... 80

7.6 Responsabilidade disciplinar ... 80

7.7 Atuação ... 81

7.7.1 Investigação e propositura da ação penal ... 82

(12)

7.7.5 Execução da pena ... 90

8. O CONSELHO DE SEGURANÇA E A LEGITIMIDADE DE AÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ... 91

8.1 Autonomia versus Independência... 95

9. CASOS INVESTIGADOS PELO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL... 96 9.1 Uganda ... 97 9.2 República do Congo ... 98 9.3 Darfur ... 99 9.4 África central ... 100 10. CONCLUSÃO ... 102 BIBLIOGRAFIA ... 105 ANEXO I ... 116

(13)

1. INTRODUÇÃO

A presente dissertação procura compreender a atuação do Ministério Público no Tribunal Penal Internacional, verificando a efetividade da mesma frente a sociedade internacional, através de uma análise crítica do exercício da ação penal por este órgão nos casos submetidos ao referido Tribunal. Foram analisadas as atribuições do Tribunal Penal Internacional e realizado um estudo sobre os deveres e poderes do Ministério Público, verificando sua autonomia e independência no próprio Tribunal.

Pode-se considerar que o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional é um tratado internacional de proteção dos direitos humanos. O Tribunal Penal Internacional responsabiliza os indivíduos, e não os Estados, pelas violações mais cruéis contra os direitos humanos. Assim, procurou-se aplicar de forma mais efetiva o princípio da justiça universal, cuja teoria foi imortalizada por Emmanuel Kant. Tais argumentos foram trabalhados no segundo capítulo desta dissertação..

No decorrer do terceiro capítulo, foram analisados os antecedentes históricos do Tribunal Penal Internacional e a importância da atuação do Ministério Público nos Tribunais ad hoc de Nuremberg, Tóquio, Ruanda e da antiga Iugoslávia. No quarto capítulo, foi feito um estudo analítico sobre soberania e sobre a principiologia do Direito Penal frente ao Direito Internacional.

No quinto capítulo foi feita uma análise da composição do Tribunal Penal Internacional, sendo que no sexto capítulo, verificou-se a importância da opinião pública internacional em defesa dos direitos humanos e a importância da cooperação dos Estados-partes para o bom funcionamento do Tribunal Penal Internacional.

No sétimo capítulo, analisou-se as atribuições, características e poderes conferidos ao órgão do Ministério Público. No oitavo capítulo uma análise crítica às atribuições do Conselho de Segurança no procedimento criminal a ser instaurado.

Ao final, foram apresentados os primeiros quatro casos que, atualmente, estão sendo investigados pelo Tribunal Penal Internacional, observando-se que ainda não há um julgamento feito por este tribunal permanente.

Quanto ao procedimento metodológico adotou-se o método dedutivo (método utilizado pelos racionalistas Spinoza e Descartes), como instrumento para a

(14)

delimitação do tema a ser debatido. O argumento dedutivo está ligado ao racionalismo cartesiano.

Como ensina Miracy Barbosa:

O raciocínio dedutivo é o processo que faz referência a dados de nossa experiência ou a normas e regras em relação a leis e princípios gerais e ao maior número de casos que a eles possam ser referidos. Esse raciocínio trabalha com a suposição de subordinação, ou seja, uma regularidade subordina-se a uma regularidade geral.1

No que tange ao procedimento técnico, foram feitas análises dos precedentes históricos do Tribunal Penal Internacional e análises temáticas e teóricas dos institutos e princípios adotados pelo ordenamento jurídico internacional. Foram realizadas pesquisas teórico-bibliográficas através de livros, dissertações, teses e revistas jurídicas de diversos autores, nacionais e estrangeiros.2

A luta da sociedade internacional contra a impunidade, com o objetivo de buscar a paz, a segurança e o bem estar da humanidade, fez com que, em 1998, delegações de 160 (cento e sessenta) países, 17 (dezessete) organizações intergovernamentais, 14 (quatorze) agências especializadas e fundos das Nações Unidas e 124 (cento e vinte e quatro) Organizações Não Governamentais se reunissem em Roma para discutir a criação de um tribunal penal internacional permanente.

No dia 17 de Julho de 1998, na sede da FAO (Food and Agriculture

Organization), durante a Conferência de Plenipotenciários das Nações Unidas,

criou-se o Tribunal Penal Internacional, através do Estatuto de Roma, cujo texto foi aprovado pelos votos favoráveis de 120 (cento e vinte) nações, contra 7 (sete) votos desfavoráveis.3

1

DIAS, Maria Tereza Fonseca; GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa. (Re)pensando a pesquisa

jurídica: teoria e prática. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 43.

2

Também foram feitas pesquisas em vários sites, como, por exemplo, www.jus2uol.com.br, www.dhnet.org.br/direito, www.iccnow.org, www.cjf.gov.br, www.cedin.com.br www.direitocriminal.com.br e www.un.org/law.

3

A votação foi secreta, mas Estados Unidos, China e Israel declararam suas razões por votarem contra a criação do TPI.

(15)

Em 11 de abril de 2002 foi depositado o 60º instrumento de ratificação. O Estatuto entrou em vigor em 1º de julho de 2002, data em que o número mínimo para a sua entrada em vigor foi atingido.4

Até dezembro de 2007, cento e trinta e nove Estados assinaram o tratado e cento e cinco o ratificaram, sendo que o último Estado a ratificar o tratado foi o Japão em 17 de julho de 2007.5

O Tribunal Penal Internacional é um tribunal permanente, cujo objetivo é julgar indivíduos que cometeram crimes internacionais (genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes de agressão), impedindo que esses acusados fiquem sem julgamento por razões políticas ou interesses econômicos e, possibilitando um julgamento livre de pressões políticas.

Este Tribunal tem personalidade internacional e é sediado em Haia, na Holanda. É composto por 18 (dezoito) juízes de elevada idoneidade moral, eleitos por maioria absoluta pela Assembléia de Estados Partes para um mandato de 9 (nove) anos, não podendo ser reeleitos, em regime de dedicação exclusiva. Os idiomas oficiais são: árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo.

Os crimes da competência do Tribunal Penal Internacional são imprescritíveis, podendo seus autores serem investigados e julgados a qualquer momento.

Possuindo personalidade jurídica internacional, o Tribunal Penal Internacional, ao reprimir os crimes de sua competência (crimes de extrema crueldade), protege a dignidade da pessoa humana e busca a paz mundial. Exerce uma jurisdição complementar aos vários sistemas jurídicos existentes.

Esta nova jurisdição não é estrangeira, e sim internacional, da qual todo Estado-parte é titular. Ao admitir essa jurisdição, o Estado não sacrifica sua soberania nacional, ele a complementa, efetivando os direitos humanos muito valorizados pela comunidade internacional, assim como na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

O Ministério Público é denominado no Estatuto de Roma como “Gabinete do Procurador”, o qual é chefiado pelo Procurador, eleito pelo voto secreto da maioria

4

O Brasil aprovou o Estatuto de Roma em 06 de junho de 2002, por meio de Decreto Legislativo 112/2002 e promulgou-o pelo Decreto presidencial nº 4.388/2002 em 25 de setembro de 2002, assumindo a obrigação de aceitá-lo em todo o seu conteúdo, uma vez que o referido Estatuto não admite reservas, conforme seu artigo 120.

5

(16)

absoluta dos votos da Assembléia dos Estados Partes do Tribunal Penal Internacional para exercer um mandato de até 9 (nove) anos.

É função do Ministério Público instaurar o inquérito. Para tanto, ele participa da primeira fase do processo que é a fase investigatória6, realizada pelo

levantamento de fatos e provas. Deste modo, o Procurador, representante do Ministério Público, decide se inicia/prossegue ou não o procedimento, dependendo da existência suficiente de indícios criminais.7

A investigação criminal pode ser iniciada pelo Ministério Público de três maneiras:

a) ao receber comunicação de qualquer Estado Parte a respeito de situações em que, possivelmente, ocorrem crimes da jurisdição do Tribunal Penal Interncional. b) Ex officio – baseando-se em informações de diferentes fontes a respeito também de situações em que, possivelmente, ocorrem crimes da jurisdição do Tribunal Penal Internacional, tendo para tanto, obtido aprovação da Câmara de Questões preliminares do Tribunal a fim de que não haja uma sobrecarga de infundadas denúncias.

c) o Conselho de Segurança pode comunicar uma situação ao Ministério Público, baseando-se no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas.

O Estatuto de Roma (artigo 42.1) assegura a atuação independente do Ministério Público, ou seja, o Ministério Público não deve agir subordinado a um Estado ou outro órgão do Tribunal ou a uma organização internacional, por exemplo.8 Precisa ser um órgão forte e atuante para combater a ameaça à paz e segurança entre os povos, sem, contudo, desobedecer os princípios processuais, como por exemplo, o devido processo legal.

Segundo o artigo 16 do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, o Conselho de Segurança pode impedir ou interromper qualquer investigação ou processo por um período de 12 (doze) meses, renováveis.

Diante disso, como se procede as investigações pelo Ministério Público sobre um crime da competência do Tribunal Penal Internacional cometido por um nacional

6

A segunda fase do processo é a jurisdicional.

7

Segundo Cristina Caletti, cabe ao Procurador recolher informações e examiná-las, investigar e exercer a ação penal junto ao tribunal. In CALETTI, Cristina. Os precedentes do Tribunal Penal

Internacional, seu Estatuto e sua relação com a legislação brasileira. Disponível em:

www.jus2uol.com.br/doutrina. Acesso: 30 de março de 2007.

8

(17)

de um dos 5 (cinco) Estados-membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas? Por uma razão política, a paralisação das investigações pode vir a “desmoralizar” a atuação funcional do Ministério Público?

Como a independência do Ministério Público em iniciar o processo, ainda que o processo seja suspenso, pode criar na opinião pública internacional uma reação em defesa aos direitos humanos? Qual seria a importância da opinião pública internacional em um caso concreto?

Não se pode olvidar que o Procurador é eleito pelo voto secreto da maioria absoluta dos votos da Assembléia dos Estados Partes do Tribunal Penal Internacional e não pela Assembléia da Organização das Nações Unidas. Apesar da intervenção do Conselho de Segurança, o Ministério Público é um órgão autônomo e independente efetivamente?

As indagações acima descritas foram trabalhadas nos capítulos sétimo e oitavo da presente dissertação.

(18)

2. DIREITOS HUMANOS

2.1 Conceito e características

O Direito Internacional dos Direitos Humanos é um ramo do Direito Internacional Público que tem seus próprios princípios, autonomia e especificidade.

Segundo Noberto Bobbio, os direitos humanos estão sujeitos às atividades de promoção, controle e garantia. Atividades de promoção são conjuntos de ações visando introduzir a disciplina específica de direitos humanos nos Estados ou aperfeiçoá-la nos Estados que já a possui. Atividades de controle são medidas através das quais os organismos internacionais verificam se os Estados estão cumprindo suas obrigações para com os direitos humanos. Atividades de garantia consistem na criação de uma nova jurisdição e implementação da garantia inrternacional quando a nacional não for suficiente ou não existir.9

Diversos foram os conceitos atribuídos aos direitos humanos ao longo de sua história. Esta diversidade de conceitos justifica-se pelas perspectivas nas quais são considerados. São elas:10

1ª) Perspectiva filosófica ou jusnaturalista: direitos humanos são direitos naturais, inerentes à pessoa humana em qualquer tempo e lugar. São absolutos e imutáveis.

Para José Luiz Magalhães, a naturalização dos direitos humanos é algo arriscado, uma vez que dá ao Poder a legitimidade de dizer o que é natural. Sendo os direitos humanos históricos, e não naturais, o homem é o autor da história, responsável pela construção do conteúdo de desses direitos de acordo com suas lutas sociais.11

9

BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 39. In MOISÉS, Cláudia

Perrone. O princípio da complementaridade no Estatuto do Tribunal Penal Internacional e a soberania contemporânea. Revista Política Externa. São Paulo. Volume 8, nº 4, p. 03 a 11, Mar/Abr/Mai 2000, p. 09.

10

BORGES, Alci Marcus Ribeiro. Direitos Humanos: Conceitos e Preconceitos. Disponível em www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9225. Acesso em 10 de janeiro de 2007.

11

MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. A Busca do Real: ideologia, economia e política na

contemporaneidade. Material disponibilizado durante as aulas do mestrado no 2º semestre de 2007

(19)

2ª) Perspectiva universalista: direitos humanos são direitos de todas as pessoas em qualquer lugar, presentes em tratados, pactos ou convenções, para legitimar sua proteção.

3ª) Perspectiva constitucionalista: direitos humanos são direitos de certos grupos de pessoas em um determinado lugar e tempo. São direitos positivados nas Constituições com status de direitos fundamentais.

São características dos direitos humanos: a universalidade e a indivisibilidade. Os direitos humanos são universais porque basta ser pessoa para ser titular desses direitos. São indivisíveis porque os direitos civis e políticos hão de ser somados aos direitos econômicos, sociais e culturais. Não há hierarquia entre esses direitos.

O relativismo cultural não pode ser usado para justificar as violações aos direitos humanos. As diversas culturas contribuem para a universalidade dos direitos humanos. Nos dizeres de Cançado Trindade:

A diversidade cultural, bem entendida, não se configura, pois, como um obstáculo à universalidade dos direitos humanos; do mesmo modo, afigura-se-nos insustentável evocar tradições culturais para acobertar, ou tentar justificar, violações dos direitos humanos universais.

Assim como todo ser humano busca a realização de suas aspirações, busca a sua verdade, cada cultura é uma expressão – em comunicação de cada ser humano com o mundo exterior. Assim, nenhuma cultura é detentora da verdade última, dão que todas ajudam os seres humanos na compreensão do mundo que os circunda e na busca de sua auto-realização.12

2.2 A internacionalização dos Direitos Humanos – considerações básicas

O processo de internacionalização dos direitos humanos iniciou-se após a Segunda Guerra Mundial, tendo como marco inicial a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

Os acordos que visam resguardar e proteger os direitos da pessoa humana nasceram em resposta às atrocidades cometidas pelos nazistas na era Hitler.13 Os

12

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. Vol. III. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2003, p.305.

13

Foi criado o Tribunal de Nuremberg para julgar os responsáveis pelas atrocidades cometidas na Alemanha.

(20)

Estados foram obrigados a criar normas internacionais protetivas dos direitos humanos, o que se tornou um dos principais objetivos da sociedade internacional.14

Direitos Humanos em âmbito internacional é o conjunto de normas subjetivas e adjetivas do Direito Internacional que visa assegurar ao indivíduo, de qualquer nacionalidade, os instrumentos e mecanismos de defesa contra os abusos de poder de um Estado.15

Com o surgimento da Organização das Nações Unidas em 1945 e com a proclamação Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, o processo de internacionalização dos direitos humanos começou a se desenvolver. Surgiram inúmeros tratados internacionais visando proteger os direitos fundamentais do homem. As normas internacionais começaram a proteger os direitos humanos contra o próprio Estado. A finalidade precípua dos direitos humanos em âmbito internacional é a proteção efetiva da dignidade da pessoa humana.

A Segunda Guerra Mundial foi o fato histórico que impulsionou o processo de internacionalização dos direitos humanos ao demonstrar a necessidade de uma ação internacional que protegesse de forma eficaz os direitos humanos. Buscou-se a reconstrução de um novo paradigma, onde a soberania estatal deixa de ser absoluta.

Neste sentido, Flávia Piovesan afirma que,

A necessidade de uma ação internacional mais eficaz para a proteção dos direitos impulsionou o processo de internacionalização desses direitos, culminando na criação da sistemática normativa de proteção internacional, que faz possível a responsabilização do Estado no domínio internacional, quando as instituições nacionais se mostram falhas ou omissas na tarefa de proteção dos direitos humanos.16

As fontes históricas do processo de internacionalização dos direitos humanos são: o Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho. Foram importantes porque o Direito Humanitário tratou, em âmbito internacional, da proteção humanitária em casos de guerra. A Liga das Nações, além de buscar a paz e a cooperação internacional, expressou disposições

14

MAZZUOLI, Valério. Direitos Humanos, cidadania e educação. Uma nova concepção

introduzida pela Constituição Federal de 1988. Disponível em www.jus2uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2074. Acesso em 11 de dezembro de 2006.

15

BORGES, Alci Marcus Ribeiro. Breve introdução ao Direito Internacional dos Direitos Humanos. Disponível em www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9228. Acesso em 04 de fevereiro de 2007.

16

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 6ª edição. São Paulo: Max Limonad, 2004, p. 141.

(21)

referentes aos direitos humanos. A Organização Internacional do Trabalho promulgou inúmeras convenções internacionais, buscando a proteção da dignidade da pessoa humana no direito trabalhista.17

17

BORGES, Alci Marcus Ribeiro. Breve introdução ao Direito Internacional dos Direitos Humanos. Disponível em www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9228. Acesso em 04 de fevereiro de 2007.

(22)

3. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

A idéia de criar uma instância internacional para julgar os crimes mais graves contra os direitos humanos surgiu pela primeira vez através de Gustave Moynier, um dos fundadores da Cruz Vermelha, em 1872,18

ao encontrar-se estarrecido com as atrocidades cometidas durante a Guerra Franco-Prussiana.19

Contudo, sua proposta não obteve êxito.

Alguns autores, como Cristina Caletti, David Fernandes, Ángel Legido e Enrique Lewandowski, alegam que o primeiro tribunal penal internacional ocorreu em 1474, em Breisach, quando do julgamento e condenação de Peter von Hagenbach.

Peter von Hagenbach havia sido nomeado Governador da cidade de Breisach pelo Duque Charles de Borgonha e instituiu nessa cidade um reino de terror. Foi julgado e condenado à pena de morte por violar as leis humanas e divinas ao autorizar que suas tropas estuprassem e assassinassem civis inocentes durante a ocupação de Breisach. Compunham o tribunal ad hoc juízes austríacos, alemães e suíços.20

Carlos Eduardo Japiassú esclarece que este não foi um tribunal internacional e sim um tribunal confederado, pois os juízes estavam ligados ao Sacro Império Romano Germânico. E tal tribunal não serviu de precedente para a criação do Tribunal Penal Internacional permanente.21

A primeira tentativa de responsabilização penal individual restou frustrada. Foi a tentativa de julgamento do Kaiser Guilherme II de Hohenzollern, ex-imperador da Alemanha, condenado à forca por ofensa à moralidade, à inviolabilidade dos tratados e aos costumes de guerra, de acordo com o artigo 227 do Tratado de

18

PIOVESAN, Flávia. (Org.), IKAWA, Daniela Ribeiro; PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos

Humanos. O Tribunal Penal Internacional e o Direito Brasileiro. 2ª edição. São Paulo: Max

Limonad, 2003, p. 148.

19

JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 38.

20

JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 37.

21

JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do

(23)

Versalhes. Para seu julgamento seriam nomeados cinco juízes, designados pelos Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália e Japão.22

O artigo 227 do Tratado de Versalhes determinava que “Guilherme II, ex-imperador da Alemanha, será julgado por ofensa suprema contra a moral internacional e a autoridade sagrada dos tratados”.23

Em 1918 o Kaiser Guilherme II refugiou-se em Doorn, na Holanda, e este Estado não o extraditou por não haver previsão legal em seu ordenamento nesse sentido, concedendo-lhe asilo por intermédio da Rainha Guilhermina. A rainha ainda afirmou que se existisse uma jurisdição internacional validamente organizada, o Estado holandês dela participaria.24

Com as inúmeras atrocidades que estavam ocorrendo contra a humanidade, uma série de tratados multilaterais foram firmados entre os Estados, prevendo a penalização das graves violações aos direitos humanos do direito internacional humanitário.25

A sociedade internacional passou a lutar pela proteção de seus direitos.

A Liga das Nações convocou um comitê jurídico para a elaboração de um projeto de convenção que tratasse da repressão e prevenção do terrorismo e um outro projeto sobre um tribunal penal internacional. Assim, no final do ano de 1937, a Sociedade das Nações adotou uma convenção sobre o Terrorismo, onde havia um estatuto de um tribunal criminal, mas só a Índia o ratificou, não entrando tal estatuto em vigor.26

Em 1948 a prática de genocídio foi tipificada através da Convenção para Prevenção e Repressão do Genocídio. Iniciou-se a tipificação dos crimes internacionais através de tratados e convenções internacionais e do reconhecimento dos princípios de Direito Internacional.

22

LEGIDO, Angel Sánchez. Jurisdición Universal Penal y Derecho Internacional. Valencia: Tirantlo Blanch, 2003, p. 48.

23

ANDRADE, Roberto de Campos. Estatuto de Roma e a Ordem Pública Internacional. 2006. 201

f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 136.

24

Curiosamente, Vittorio Emanuele Orlando, representante da Itália, apesar de favorável ao

julgamento do Kaiser Guilherme, receava que ele se tornasse um herói-mártir e não um criminoso condenado. CASTRO, Tony Gean Barbosa de. Consolidação da Responsabilidade Penal

Internacional do Indivíduo com o advento do Tribunal Penal Internacional Permanente.

Disponível em www.jus2uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6565. Acesso 01 de abril de 2007.

25

HERDEGEN, Mathias. Derecho Internacional Público. México: Fundación Konrad Adenaer Stiftung, 2005, p. 422.

26

JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do

(24)

Foi a partir daí que se iniciou o processo de internacionalização dos direitos humanos, tendo como marco inicial a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

Segundo Valério Mazzuoli, os Estados foram obrigados a criar normas internacionais protetivas dos direitos humanos, o que se tornou um dos principais objetivos da sociedade internacional, 27 uma vez que não existia uma justiça penal internacional permanente.

Com o desfecho da 2ª Guerra Mundial e com a formação dos tribunais penais internacionais ad hoc28

, acelerou-se o processo de criação de um Tribunal Penal Internacional permanente.

O projeto de um estatuto que regulasse a criação de um tribunal penal internacional permanente foi dirigido à Assembléia Geral das Nações Unidas pela Comissão de Direito Internacional.29

A aprovação do referido estatuto concretizou-se em 17 de julho de 1998, em Roma.

Os tribunais ad hoc ou tribunais de exceção foram severamente criticados, devido à inobservância dos princípios da legalidade e da irretroatividade da lei penal maléfica. Todavia, foram necessários e de grande importância, pois foi a forma mais eficaz de se fazer justiça naquelas situações, e serviram de precedentes para a criação de um tribunal penal internacional permanente.

Naquela época, não havia meios legais e institucionais para combater as atrocidades que ofendiam os direitos humanos30. Nos dizeres de Pedro Caeiro, foi

“um meio adequado para que o Conselho de Segurança pudesse cumprir a sua função de fazer cessar os conflitos e restabelecer a paz.”31

27

MAZZUOLI, Valério. Direitos Humanos, cidadania e educação. Uma nova concepção

introduzida pela Constituição Federal de 1988. Disponível em www.jus2uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2074. Acesso em 11 de dezembro de 2006.

28

A legitimidade do Conselho de Segurança para criar tribunais penais internacionais ad hoc está amparada pelos artigos 29 e 41 da Carta das Nações Unidas. Foram criados os Tribunais Penais para a antiga Iugoslávia e para Ruanda.

29

MIRANDA, João Irineu de Resende. O Tribunal Penal Internacional frente ao princípio da

soberania. 2005. 172 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

- USP, São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 65.

30

LEWANDOWSKI, Enrique Ricardo. O Tribunal Penal Internacional: de uma cultura de impunidade para uma cultura de responsabilidade. Revista Estudos Avançados. São Paulo. Volume 16, nº 45, p. 188, Mai/Ago 2002.

31

CAEIRO, Pedro. Tribunais Penais Internacionais: “Etapas de um caminho ou astros em

constelação?”. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 10, nº 37, p. 101, Jan/Mar 2002.

(25)

O século XX foi o século das duas Guerras Mundiais, todavia, foi também o século da positivação dos direitos humanos no âmbito internacional.32

3.1 Tribunal Militar Internacional de Nuremberg

Entre 1933 e 1945, os nazistas mantiveram em campos de concentração judeus, comunistas, ciganos e homossexuais. Os principais campos de concentração foram Auschwitz e Treblinka, onde mais de seis milhões de judeus foram mortos.33

Winston Churchill, primeiro Ministro Britânico, era favorável à execução dos líderes nazistas. Joseph Stálin, premier soviético, também possuía a mesma posição de Churchill, assim como Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos da América. Contudo, Roosevelt faleceu e seu substituto Harry Truman não estava de acordo com o plano de execução acima mencionado. Sua intenção era a criação de um Tribunal Penal Internacional para julgar os nazistas alemães.34

As potências aliadas Estados Unidos, Ex-União Soviética, Inglaterra e França reniram-se durante os dias 17 de julho a 08 de agosto de 1945, na Conferência de Postdam, em Londres.

Foi então criado o Tribunal Militar Internacional de Nuremberg. Este foi o marco inicial da existência dos tribunais internacionais penais. Em 08 de agosto de 1945 foi assinado o Acordo Quadripartido de Londres35 para a criação de um

Tribunal Militar Internacional, buscando punir os criminosos de guerra, ligados ao

32

COSTA, Érica Adriana. O Tribunal Penal Internacional em face da Constituição Brasileira. 2002. 179 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Programa de Pós-Graduação em Direito, p 38.

33

KRIEGER, César Amorim. Direito Internacional Humanitário: o precedente do comitê

internacional da Cruz Vermelha e o Tribunal Penal Internacional. 2ª edição. Curitiba: Juruá,

2005, p. 130.

34

KRIEGER, César Amorim. Direito Internacional Humanitário: o precedente do comitê

internacional da Cruz Vermelha e o Tribunal Penal Internacional. 2ª edição. Curitiba: Juruá,

2005, p. 131.

35

O Acordo de Londres também foi chamado de Acordo para Persecução e Punição dos Principais Criminosos de Guerra do Eixo Europeu. In MORE, Rodrigo Fernandes. A prevenção e solução de

litígios internacionais no direito penal internacional: fundamentos, histórico e estabelecimento de uma Corte Penal Internacional. Disponível em www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2819.

(26)

regime nazista, dos países do leste europeu.36 O Tratado de Londres foi subscrito

pelas potências aliadas Estados Unidos, Ex-União Soviética , Inglaterra e França. Em 11 de dezembro de 1946 foi aprovada a resolução nº 95 pela Assembléia das Nações Unidas reconhecendo o conteúdo do Estatuto do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg, composto por 30 (trinta) artigos.

Carlos Eduardo Japiassú afirma que o Tribunal de Nuremberg

Certamente foi um Tribunal de vencedores que julgavam vencidos. Mas, apesar disso e apesar da opinião pública mundial ter desenvolvido imensa repulsa pelos atos praticados pelo Estado nazista, tentou-se, na medida do possível fazer de Nuremberg um julgamento e não um exercício de vingança internacional.37

Afirma Fernanda Nepomuceno que foi denominado Tribunal “Internacional” porque seria aplicado em nome das 19 (dezenove) nações que aderiram ao Acordo de Londres e recebeu a qualidade de “Militar” porque julgaria crimes cometidos com relação a um plano bélico.38

O Tribunal de Nuremberg era competente para julgar os crimes contra a paz, os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade, de acordo com o artigo 6º do Estatuto.39

Segundo Maria Anaides Soub:

Os crimes contra a paz foram definidos na alínea a do referido artigo 6º, como a preparação, o desencadeamento ou a continuação de uma guerra de agressão ou uma guerra que tivesse violado tratados ou acordos internacionais, a participação em um acordo ou conspiração visando a invasão de outro país ou qualquer dos atos que a procedessem.

Os crimes de guerra foram definidos na alínea “b” como aqueles que provocavam violações das leis e costumes de guerra, compreendendo o assassinato, maus-tratos, deportação para trabalhos forçados, ou para qualquer outro objetivo contra populações civis dos territórios ocupados, assassinatos e maus-tratos dos prisioneiros de guerra, a execução de reféns, a pilhagem de bens públicos ou privados, a destruição sem motivo de cidades e aldeias, a devastação não justificada pelas exigências militares.

36

AMBOS, Kai. Impunidade por violação dos direitos humanos e o direito penal internacional. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 12, nº 49, p. 73,

Jul/Ago 2004.

37

JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do

Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 59.

38

SOUSA, Fernanda Nepomuceno de. Jurisdição Internacional Penal nos crimes contra a

humanidade. 2001. 121 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade Mineira de Direito da Pontifica

Universidade Católica de Minas Gerais – PUCMinas, Belo Horizonte, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 21.

39

O Tribunal Militar de Nuremberg também julgou organizações criminosas, como por exemplo, as S.S, S.A., Alto Comando das forças armadas alemãs.

(27)

Os crimes contra a humanidade foram elencados na alínea c, como assassinato, exterminação, redução à escravidão, deportação ou qualquer outro ato desumano contra a população civil, antes ou durante a guerra, as perseguições por motivos raciais ou religiosos, outros atos de perseguição que constituam ou não uma violação ao direito internacional interno do país onde foi perpetrado.40 (grifo nosso)

Foram nomeados 4 (quatro) juízes, representantes das quatro potências, cada um com seus respectivos suplentes, conforme artigo 2º do Estatuto. Eram eles: General Nikitchenko e Tenente Coronel A.F. Volchkov (Ex União Soviética); Donnedieu de Vabres e Robert Falco (França); Francis Biddle e Jonh Parker (Estados Unidos) e Geoffrey Lawrence e Norman Birkett (Inglaterra). Geoffrey Lawrence foi nomeado Presidente do Tribunal Millitar de Nuremberg.41 Não era

permitido que os juízes fossem contestados pelos governos de seus países.42

Quanto ao Ministério Público, objeto de estudo desta dissertação, cada Estado signitário do Acordo de Londres nomeou um representante para formá-lo. Foi composto também por representantes das potências que assinaram o Acordo de Londres. Robert H. Jackson representou os Estados Unidos; Auguste Charpetier de Ribes, e posteriormente, François Menthon que o substituiu, representaram a França; Lord Hartley Shawcross, e depois David Maxwell Fyfe, representaram a Inglaterra e o Tenente General Roman A. Rudenko representou a Ex União Soviética.43

O Ministério Público do Tribunal de Nuremberg tinha alguns poderes,44

podendo destacar entre eles, o poder de decidir quais indivíduos seriam julgados, aprovar a ata de acusação e os documentos nela contidos, investigar a apresentar as provas necessárias ao feito, interrogar as testemunhas e os acusados, etc.45

A acusação baseava-se no fato de que os réus associaram-se às organizações criminosas por livre e espontânea vontade e que tinham consciência

40

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal

Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 104 e 105.

41

SOUSA, Fernanda Nepomuceno de. Tribunais de guerra. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 26

42

BARBOSA, Salomão Almeida. Tribunal Penal Internacional: afirmação contemporânea de uma idéia clássica e sua recepção na Constituição Brasileira. 2005. 187 f. Dissertação (Mestrado) –

Centro Universitário de Brasília – UniCEUB, Brasília, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 36.

43

JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do

Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 49.

44

Os poderes conferidos ao Ministério Público do Tribunal de Nuremberg foram previstos nos artigos 14, 15, 23 e 24 do referido Estatuto.

45

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 109.

(28)

das tarefas que desempenhariam, dos objetivos das organizações e da essência das mesmas, que era o racismo.

A defesa era composta por advogados alemães, entre eles, Hans Marx, Otto Stahmer, Fritz Sauter e Gunther Von Rohscheidt. A defesa baseava-se no fato de que o Tribunal Militar era um tribunal de exceção, constituído pelos vencedores que puniam os vencidos. Argumentou a defesa que tal tribunal violava o princípio da legalidade, por ser criado após a ocorrência dos fatos criminosos estipulando seus crimes e suas penas.46

Afirma Carlos Canêdo que de acordo com o artigo 3º “a competência e a jurisdição do Tribunal não poderiam ser objeto de contestação pela acusação ou pela defesa”.47

O Tribunal de Nuremberg foi responsável pelo julgamento dos nazistas alemães pela prática de genocídio contra os judeus. Foram julgados 22 (vinte e dois) réus, todos alemães.

O julgamento durou 10 (dez) meses. Foram ouvidas 94 (noventa e quatro) testemunhas, sendo 33 (trinta e três) de acusação e 61 (sessenta e uma) de defesa, e foram lidos mais de mil documentos.48

Dos 22 (vinte e dois) acusados, 19 (dezenove) foram condenados e 3 (três) absolvidos. As condenações não foram iguais para todos, como se observa a seguir4950:

1- Frans Von Papen foi Chanceler do Reich e, posteriormente, embaixador. Acusado de conspiração e de praticar crimes contra a paz, foi absolvido;

2- Hjalmar Schacht foi Presidente do Reichsbank. Acusado de conspiração e de praticar crimes contra a paz, foi absolvido;

3- Hans Fritzsche foi Diretor Ministerial e chefe da Seção de Radiodifusão do Ministério da Propaganda. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi absolvido;

46

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 107.

47

SILVA, Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da. O Genocídio como crime internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 1999, p. 69.

48

SILVA, Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da. O Genocídio como crime internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 1999, p. 66.

49

JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do

Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 50 a 52.

50

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 112 a115.

(29)

4- Hermann Goering foi Chefe da Força Aérea e homem de confiança de Hitler. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte, mas cometeu suicídio pela ingestão de cianureto, no dia 15 de outubro, horas antes de sua execução, na prisão;

5- Hans Frank foi conselheiro pessoal de Hitler, Presidente da Academia de Direito Alemã e Governador-Geral da Polônia ocupada. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi condenado à morte. 6- Wilhelm Frick foi Ministro do Interior e Protetor da Boémia-Morávia. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte.

7- Alfred Jold foi Chefe do Estado Maior da O.K.W. e Conselheiro militar de Füher. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte.

8- Ernest Kaltenbrunner foi Chefe do Escritório de Segurança Principal do Reino. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi condenado à morte.

9- Wilhelm Keitel foi Chefe do Alto Comando das Forças Armadas. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte.

10- Alfred Rosenberg foi Ministro dos Territórios do leste ocupados. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte.

11- Fritz Sauckel foi líder trabalhista da classe operária e responável pela deportação e morte de milhões de trabalhadores. Acusado pela prática de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi condenado à morte.

12- Arthur Seyss-Inquart foi Conselherio de Estado, Ministro do Interior e Governador do III Reich na Áustria. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte. 13- Julius Streicher foi Diretor do Comitê Central para a Defesa contra Atrocidades dos Judeus e Boicote de Propaganda, defendia a exterminação dos judeus. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte.

(30)

14- Joachim Von Ribbentrop foi Conselheiro Diplomático do Füher, Embaixador em Londres e Ministro dos Negócios Estrangeiros. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à morte.

15- Martin Bormann foi membro do Estado Maior e do Alto Comando das Seçoes de Assalto, Chefe da Chancelaria do Partido, Secretário do Füher, Comandante-Chefe do Volkssturm e General das SS. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi julgado à revelia e também condenado à morte. Posteriormente foi considerado morto;

16- Rudolf Hess foi Secretário e Adjunto de Hitler. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à prisão perpétua, mas cometeu suicído na prisão de Spandau, onde cumpria pena;

17- Walther Funk foi Conselheiro Pessoal do Füher e animdor das perseguiçoes econômicas contra os judeus. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado à prisão perpétua.

18- Raeder, membro do Conselho de Defesa do Reich, foi condenado à prisão perpétua, sendo libertado em 1955 por motivo de saúde;

19- Albert Speer também foi condenado à pena de prisão perpétua;

20- Karl Doenitz foi Almirante-Chefe e Vice-Almirante. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra e crimes contra a paz, foi condenado a 10 (dez) anos de prisão.

21- Von Neurath foi Ministro dos Negócios Estrangeiros. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado a 15 (quinze) anos de prisão;

22- Balbur Von Schirach foi líder da Juventude do Reino e Gauleiter de Viena. Acusado de conspiração e de praticar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, foi condenado a 20 anos de prisão, sendo libertado em 1966 após o cumprimento integral da pena.

Foram também indiciados, mas não julgados pelo Tribunal de Nuremberg, Gustav Krupp Von Bohlen und Halbach e Robert Ley. Aquele sofreu um acidente

(31)

circulatório e tornou-se inimputável e este cometeu suicídio em 26 de outubro de 1945.51

Não cabia recurso contra as decisões do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg.52 Os condenados às penas privativas de liberdade cumpriram suas

penas na prisão de Spandau e os condenados à pena de morte por enforcamento foram executados na madrugada do dia 16 de outubro de 1946, entre uma e três horas da manhã.

Já os acusados que foram absolvidos pelo Tribunal de Nuremberg, foram julgados por tribunais alemães de desnazilização e condenados à pena de 8 (oito) anos de trabalhos forçados e seus bens foram confiscados.53

3.2 Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente (Tóquio)

No dia 1º de dezembro de 1943, durante a Conferência de Cairo, representantes da China, Estados Unidos e da Inglaterra, declararam possuir vontade de punir os criminosos de guerra japoneses.54 Milhares de coreanos haviam

sido levados ao Japão e explorados como mão-de-obra escrava. Foram usados como “cobaias” em experimentos bacteriológcos e as mulheres coreanas, filipinas, indonésias, tailandessas e maláias eram obrigadas a se prostituírem para os militares.55

Em 19 de janeiro de 1946, foi promulgada a Carta de Tóquio, composta de 17 (dezessete) artigos, que instituiu o Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, para julgar os criminosos da guerra japoneses. Através de uma proclamação do General MacArthur foi instituído o referido Tribunal.

51

JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do

Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 52.

52

ROBERTSON, Geoffrey. Crimes against humanity: the struggle for Global Justice. Nova York: New York Press, 2000, p. 362.

53

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 115.

54

BARBOSA, Salomão Almeida. Tribunal Penal Internacional: afirmação contemporânea de uma idéia clássica e sua recepção na Constituição Brasileira. 2005. 187 f. Dissertação (Mestrado) –

Centro Universitário de Brasília – UniCEUB, Brasília, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 46.

55

SOUSA, Fernanda Nepomuceno de. Jurisdição Internacional Penal nos crimes contra a

humanidade. 2001. 121 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade Mineira de Direito da Pontifica

Universidade Católica de Minas Gerais – PUCMinas, Belo Horizonte, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 49.

(32)

Fortaleceu-se ainda mais a necessidade de proteção dos Direitos Humanos no plano internacional. Esta foi a segunda experiência de uma justiça penal internacional.

O Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente funcionou de 03 de maio de 1946 a 12 de novembro de 1948 (o julgamento durou um pouco mais de dois anos e meio). Foram ouvidas 419 (quatrocentas e dezenove) testemunhas. Sua composição foi mais ampla que a de Nuremberg, sendo os países que compuseram o Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente: Austrália, Canadá, China, Estados Unidos, França, Filipinas, Índia, Inglaterra, Nova Zelândia, Países Baixos e ex-União Soviética.56

Em relação à competência material, de acordo com o artigo 5º da Carta de Tóquio, o Tribunal para o Extremo Oriente foi competente para julgar os crimes de guerra, os crimes contra a paz e os crimes contra a humanidade.

Novamente, citando Maria Anaides Soub, eram considerados crimes contra a paz a participação de pessoas em um plano ou na conspiração do planejamento, início ou empreendimento da guerra de agressão e da guerra realizada com a violação dos tratados, acordos ou garantias internacionais. Os crimes de guerra consistiam na violação das leis e costumes de guerra. Por fim, os crimes contra a humanidade consistiam em assassinatos, extermínio, escravidão, deportação e outros atos desumanos contra a população civil, a perseguição de pessoas por motivos raciais ou políticos.57

Aos acusados cabia a assistência de um advogado para a defesa, que seria comunicado em tempo hábil do conteúdo da acusação, para arrolar testemunhas e interrogá-las e acompanhar inteiramente o processo.58

Onze juízes das nações aliadas59 compunham o referido Tribunal: Sir.

Willian F. Webb (Austrália) que era o presidente do tribunal; Edward Stuart McDougal (Canadá); Mei Ju-ao (China); John P. Higgins e, posteriormente, Cramer Replaced (Estados Unidos); Delfin Jaranilla (Filipinas); Henri Bernard (França); Lord Patrick (Inglaterra); Bernard Victor A. Roling (Países Baixos); Erima Harvey

56

SILVA, Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da. O Genocídio como crime internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 1999, p. 79.

57

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 118.

58

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 119.

59

As nações aliadas eram: Austrália, Canadá, China, Estados Unidos, França, Inglaterra, Países Baixos, Nova Zelândia, Filipinas, Ex União Soviética e Índia.

(33)

Northcroft (Nova Zelândia); I. M. Zarayanov (ex-União Soviética) e Radhabinod M. Pal (Índia).60

Quanto ao Ministério Público, diferentemente do Tribunal Militar de Nuremberg, os procuradores das nações aliadas apenas atuavam como assistentes do procurador-chefe dos Estados Unidos, Joseph B. Keenan, que era o chefe da acusação.61

Eram os procuradores assistentes: S.A. Golunsky (ex União Soviética), Arthur Comyns-Carr (Inglaterra), W.G. Frederick Borgerhoff-Mulder (Países Baixos), Alan Mansfield (Austrália), Henry Nolan (Canadá), Hsiang Che-Chung (China), Robert L. Oneto (França), Pedro Lopez (Filipinas), Ronaldo Quilliam (Nova Zelândia) e Menon (Índia).62

Segundo o artigo 8º da Carta de Tóquio, o Ministério Público era responsável pela investigação e oferecimento da denúncia contra os crimininosos, podendo utilizar todos os tipos de provas que comprovassem a culpabilidade dos acusados .

Afirma Maria Anaides Soub que a acusação baseava-se na tese de que os japoneses executaram

um plano que consistia na realização de um programa de mortes, de submissão de prisioneiros de guerra e de presos civis a experiências médicas, de trabalhos forçados em consdiçoes desumanas, de pilhagens de bens públicos e privados, de destruição de cidades e vilarejos e de violações e de barbáries cometidas em todo os territórios invadidos.63

Cada acusado teve dois advogados: um norte-americano e um japonês. Foram acusadas somente pessoas físicas, sendo 28 (vinte e oito) o número de criminosos. Eram eles6465:

1- Ideki Tojo, Koki Hirota, Kenji Doihara, Seishiro Itagaki, Heitaro Kimura, Iwane Matsui, Akio Muto: todos condenados à pena de morte por enforcamento;

60

JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do

Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 61.

61

BARBOSA, Salomão Almeida. Tribunal Penal Internacional: afirmação contemporânea de uma

idéia clássica e sua recepção na Constituição Brasileira. 2005. 187 f. Dissertação (Mestrado) –

Centro Universitário de Brasília – UniCEUB, Brasília, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 53.

62

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 120.

63

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 120.

64

JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. O Tribunal Penal Internacional e a internacionalização do

Direito Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004, p. 62 a 64.

65

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 125 a 130.

(34)

2- Sadao Araki foi Ministro da Guerra e da Educação. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em 1955.

3- Baron Kiichiro Hiranuma foi Presidente do partido patriota Kokuhonsha, Primeiro Ministro, Minstro do Interior e Presidente do Conselho Privado. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra, Ex-União Soviética e Países Baixos, omissão do dever de prevenir atrocidades e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua.

4- Kingoro Hashimoto ocupou vários cargos de comando. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em 1954.

5 - Shunroku Field Marshal Hata foi Comandante da Força Expedicionária Chinesa e Ministro da Guerra. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão do dever de prevenir atrocidades e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em 1954.

6- Naoki Hoshino foi Chefe de Assuntos Finaceiros da Manchúria, Diretor de Assuntos Gerais na Manchúria e Secretário-Chefe do gabinete do Primeiro Ministro. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em 1955.

7- Okinori Kaya foi Ministro das Finanças e Presidente da Companhia para Desenvolvimento do Norte da China. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em 1955.

8- Marquis Kouchi Kido foi Secretário Chefe da Defesa do Brasão, Ministro da Educação, do Interior e do Bem-Estar. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em 1955.

9- Kuniaki Koiso foi Vice-Ministro da Guerra, Governador da Coréia, e Primeiro Minstro. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão do dever de prevenir

(35)

atrocidades e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua. Devido à sua brutalidade era conhecido como “tigre da Coréia”.

10- Jiro Minami foi Ministro da Guerra, Governador-geral da Coréia e Conselheiro Privado. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em 1954.

11- Takasumi Oka foi Chefe do Departamento Naval e Vice-Ministro da Marinha. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em 1954.

12- Hiroshi Oshima foi Embaixador na Alemanha. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em 1955.

13- Kenryo Sato foi Chefe do Departamento de casos militares, Chefe-Assistente da Força Expedicionária Chinesa e comandante do Exército na Indochina. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em 1955.

14- Toshio Shiratori foi Diretor do Departamento da Informação, Ministro Estrangeiro e Embaixador na Itália. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão, foi condenado à prisão perpétua.

15- Teiichi Suzuki foi Chefe do Departamento de Assuntos da China, Presidente da pasta do Planejamento. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua, mas recebeu liberdade condicional em 1955.

16- Yoshijiro Umezu foi Chefe-geral da Seção de funcionários, Comandante da Força Expedicionária Chinesa Vice-Ministro da Guerra e Chefe da Guarda do Exército. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos e crimes de guerra, foi condenado à prisão perpétua.

17- Shigetaro Shimada também foi condenado à pena de prisão perpétua;

18- Hideki Togo foi Embaixador na Alemanha e na Ex- União Soviética e Ministro de Assuntos Exteriores. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de

(36)

agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos e crimes de guerra, foi condenado à pena privativa de 20 (vinte) anos de prisão;

19- Mamoru Shigemitsu foi Embaixador na China, na Ex- União Soviética e na Inglaterra e Ministro de Assuntos Estrangeiros. Acusado de conspiração e planejamento de guerra de agressão contra a China, Estados Unidos, Inglaterra e Países Baixos, omissão do dever de prevenir atrocidades e crimes de guerra, foi condenado a pena privativa de liberdade de 7 (sete) anos de prisão;

20- Yosuke Matsuoka e Osami Nagano faleceram de causas naturais durante o processo;

21- Shumei Okawa foi hospitalizado em um sanatório no início do processo e libertado 2 (dois) anos depois.

Os condenados à pena de morte por enforcamento foram executados no dia 23 de dezembro de 1946, na prisão de Sugano, em Tóquio.66

Por questões políticas, o Japão aceitou a jurisição do Tribunal desde que essa não recaísse sobre o Imperador Hirohito.67 Além disso, a tragédia causada

pelos lançamentos das bombas atômicas que caíram sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki também não foi examinada pelo Tribunal.68

Não havia recurso, mas era permitido ao Comandante-Chefe das potências aliadas interpor um tipo de apelação contra a decisão do Tribunal desde que fosse para atenuar ou alterar a sentença sem agravá-la.69

Assim como o Tribunal de Nuremberg, o Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente também foi um tribunal de vencedores julgando vencidos.

66

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 121.

67

CAEIRO, Pedro. Tribunais Penais Internacionais: “Etapas de um caminho ou astros em constelação?”. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. Ano 10, nº 37, p. 103, Jan/Mar 2002.

68

ANDRADE, Roberto de Campos. Estatuto de Roma e a Ordem Pública Internacional. 2006. 201 f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Direito, p. 141.

69

SOUB, Maria Anaides do Vale Siqueira. O Ministério Público na Jurisdição Penal Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 119.

Referências

Documentos relacionados

Os nossos resultados suportam a maior parte da literatura que defende que indivíduos que praticam desporto possuem melhor Imagem do Corpo e menos Depressão do

Os principais objetivos deste projeto são o aumento da rentabilidade da unidade de Vilela, através da imputação de parte dos custos fixos aos produtos

Sua obra mostrou, ainda, que civilização e exploração do trabalho andam juntas e que o avanço histórico do oeste brasileiro se fez com a carne e o sangue dos

The challenges of aging societies and the need to create strong and effective bonds of solidarity between generations lead us to develop an intergenerational

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

psicológicos, sociais e ambientais. Assim podemos observar que é de extrema importância a QV e a PS andarem juntas, pois não adianta ter uma meta de promoção de saúde se

Sem esquecer a Fraude Fiscal, analisemos também um pouco do crime de branqueamento, art. Em crónica publicada no Diário do Minho, em 1 de Dezembro de 2010, Cultura, era

O tema proposto neste estudo “O exercício da advocacia e o crime de lavagem de dinheiro: responsabilização dos advogados pelo recebimento de honorários advocatícios maculados