CAPÍTULO I
Situação
conflitante
N
aquela manhã cinzenta ela ficou caladadiante do inquiridor.
Através das grades daquela cela fria olhava para o horizonte e a baixa tempe-ratura congelava-lhe até os ossos.
Chorando muito, virou-se para ele di-zendo que mais de uma vez já havia falado a verdade sobre o assunto em questão.
Olhando para aquele militar, percebeu que usava vestes horrendas para uma pessoa comum, mas perfeitas para o lugar que ocupava em sua graduação militar.
Ele estava usando botas altas, pretas. As roupas de cor verde amarronzada dava-lhe o aspecto mais aterrorizador que jamais permitiu pensar enfrentar um dia em sua vida.
Estava nessa cela há alguns dias e divi-dia-a com outra pessoa que estava em posição de sentido enquanto esse personagem lhe fazia perguntas, uma após a outra, e eu, não aguen-tando mais a pressão, disse-lhe:
— Por favor, deixe-me sair desta cela! Eu preciso retornar ao meu lar. Os meus pais de-vem estar sofrendo muito com a minha ausên-cia e preocupados sem saber notíausên-cias minhas. Eu já lhe disse que não conheço essa pessoa, não sei quem é nem o que faz de sua vida! Por favor me ouça: estou no lugar errado, vocês pegaram a pessoa errada, não posso, não aguento mais ficar aqui... Por favor, eu lhe imploro, me liberte em nome de Deus!
Com palavras ríspidas, dirigiu-se a ela com um idioma não usualmente falado em sua colônia e não conseguiu entender o que ele quis dizer.
Apenas entendeu que estava bravo qunado a empurrou fazendo com que ela caís-se caís-sentada no chão ao lado da companheira de cela.
era reservado para os porcos, para os traidores. Contudo, ela não era uma traidora, nunca ha-via se envolvido com alguém do governo local, como julgavam.
Com certeza haviam-na confundido com alguém e essa pessoa deveria ser muito pa-recida com ela.
O que fazer, meu Deus?
Com esforço levantou-se do chão, auxi-liada por Hélène, companheira de cela que lhe disse:
— Você deveria falar tudo o que sabe, a verdade, entendeu?
Eles querem que você fale a verdade e não descansarão enquanto você não disser tudo o que sabe...
Virou-se para ela e chorando muito dis-se-lhe!
— Até você Hélène? Eu nada sei, juro pelo nosso Deus!
— Foi essa palavra que o deixou nervo-so. Penso que eles não acreditam em Deus. Para eles tudo o que acontece está nas mãos do diri-gente deles, imaginam que são superiores a nós. — Ah! Amiga, se eles soubessem que to-dos somos iguais e que Deus é o nosso criador, jamais fariam o que fazem ao seu semelhante.
isso é um pesadelo e logo acordarei na minha casa em companhia dos meus pais...
Hélène, você não imagina o quanto eu sou inocente e nada fiz de errado. Sou uma pes-soa simples, uma camponesa que vive nas ter-ras, poucas, aliás, cujas terras foram herdadas por meus pais e que um dia pertenceram aos meus avós...
Vivo praticamente isolada de tudo e de todos. O meu azar foi estar no lugar certo onde costumeiramente eu e os meus pais fazemos as compras para o mês, só que na hora errada.
— E os seus pais, onde estarão agora, amiga?
— Não sei. Apenas sei que os guardas me retiraram da loja à força, deixando-os apre-ensivos, nervosos, chorando, desconsolados. Temo pela saúde deles.
Enquanto conversam, elas não notaram que estavam sendo espionadas por Alfred, que ouvia todo o relato das duas, e nesse momento percebeu que realmente Antoinette havia sido raptada erroneamente, no lugar de outra pes-soa.
Alfred pensava: Tenho que avisar o Go-bert de que ela nada fez, apenas estava no mes-mo lugar da pessoa que deveríames-mos prender. Realmente ela nada fez de errado...
Tarde demais...
Alfred ouviu passos vindos do corredor escuro. Admitiu que fosse mais de uma pessoa caminhando e sabia o que poderia acontecer com a moça. Ficou esperando a chegada dos dois guardas, achando que Gobert poderia estar entre eles, mas havia se enganado. Eram apenas os colegas de serviço que executariam as ordens do general Gobert.
Fazendo o sinal de respeito característi-co entre ambos, Alfred os chamou de lado e ten-tou conversar com eles explicando o que tinha acabado de ouvir.
Lamentavelmente os guardas não po-diam fazer nada, pois o general havia dado or-dens que precisariam ser cumpridas.
Eram ordens expressas para que levas-sem a pequena e frágil Antoinette para a cela.
Ali ela ficaria e futuramente seria tragi-camente açoitada a fim de que falasse a “verda-de” que eles queriam ouvir, não a sua verdade acerca da situação em que se via envolvida.
— Vocês não podem levá-la. Ela é ino-cente, vocês pegaram a pessoa errada.
— Se não a levarmos agora, quando ele regressar haverá de se voltar contra nós.
É melhor levá-la, e você Alfred, faça a sua parte assim que Gobert voltar.
Os guardas retiraram Antoinette da cela em prantos e ela foi levada para o local onde de-veria sofrer pelo que nada fizera.
Hélène ficou apreensiva pela compa-nheira de cela. Ajoelhou-se e pediu a Deus que intercedesse pela pessoa querida que conhecera em situação tão adversa.
Assim ajoelhada, ficou pensando em tudo o que estava acontecendo; com as famílias dilaceradas totalmente pela dor, pela falta dos seus, pela situação geral daquele lugar onde an-tes só existia a paz.
Deus ouviria as suas preces com certeza, mas onde e quando os homens conseguiriam parar de determinar a vida do seu semelhante?
Tantos pensamentos passavam pela sua mente deixando-a profundamente triste.
Deixava a sua vida completamente nas mãos de Deus.
Orava com fé para que a amiga tivesse resignação e aceitação das provas que adviriam em seus próximos dias.
Vidas, vidas Vidas sofridas Na época da guerra Que se faça a paz Que gere a alegria
Que gere o amor Nos corações alheios
Nos responsáveis das nações Haja mais vida
Haja mais paz
Haja mais compreensão Na vida dos homens.
“A prece é uma invocação. Através dela, entra-se em contato, por pensamento, com o ser ao qual se dirige. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou uma glorifi-cação. Pode-se orar por si mesmo ou por outro, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Es-píritos encarregados da execução de suas vontades; as que são dirigidas aos bons Espíritos são reportadas a Deus. Quando se ora a outros seres que não a Deus, aqueles funcionam apenas como intermediários, intercessores, pois nada pode ser feito sem a vontade de Deus.”