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4º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais. De 22 a 26 de julho de 2013.

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4º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais De 22 a 26 de julho de 2013.

A ATUALIDADE DA CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA DA DEPENDÊNCIA PARA AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

EPI - Economia Política Internacional Trabalho Avulso

RICARDO LUIGI (Ricardo Abrate Luigi Junior) UNICAMP/ UERJ

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RICARDO LUIGI (Ricardo Abrate Luigi Junior)

A ATUALIDADE DA CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA DA DEPENDÊNCIA PARA AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Trabalhosubmetido e apresentado no 4º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI.

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2013 RESUMO

Ao longo da primeira metade do século XX houve uma maior integração do Brasil ao capitalismo internacional, a partir do processo de industrialização por substituição de importações. Como esse processo de modernização não fez com o país se tornasse “desenvolvido” dentro da concepção da posição relativa que os países ocupam no sistema-mundo, um grupo de teóricos iniciou, na América Latina, uma série de reflexões sobre as razões e desrazões desse subdesenvolvimento.A esse corpus teórico que tentava explicar as novas características do desenvolvimento socioeconômico da América Latina denominou-se Teoria da Dependência.

Para os diversos teóricos da Teoria da Dependência, a situação de subdesenvolvimento dos países é necessária dentro da composição de forças do sistema global. Os países mais desenvolvidos extraem os excedentes econômicos dos países subdesenvolvidos. Portanto, existe a ideia de que a dependência seria fundamental para o funcionamento da economia mundial.Ainda na década de 1970 a teoria da dependência desembocou na teoria do sistema-mundo, que é uma teoria que busca esclarecer lógica hierárquica e fixa do capital, demonstrando suas implicações na organização do sistema internacional. A partir da globalização, essa perspectiva assume novos contornos, tentando ambientar a análise da política internacional como parte de um processo histórico mais global, buscando não só compreender, como fazer uma teoria social que serve para a reinterpretação do mundo contemporâneo. O presente trabalho pretende demonstrar a grande contribuição dada às ciências sociais pelos dependentistas, demonstrando a atualidade dessas reflexões e suas vinculações com as Relações Internacionais.

Palavras – Chave

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Introdução

A maior integração do Brasil ao capitalismo internacional, processo que teve gradação ascendente no século XX, gerou a necessidade de uma reflexão sobre esse mecanismo de inserção dependente. Por conta disso, surgiu nos anos 1960, na América Latina, um corpus teórico tentando explicar as novas características do desenvolvimento socioeconômico da região – denominado Teoria da dependência. As Teorias da Dependência – podendo ser assim chamadas dado o grande número de autores e contribuições – foram bastante influenciadas pela teoria do imperialismo Leninista, que transpunha o Marxismo para as Relações Internacionais, e via as Relações Internacionais como as Relações entre Estados Nacionais que se diferenciam por sua posição no sistema ou por seus recursos de poder.

Os diversos teóricos da teoria da dependência apontam o subdesenvolvimento como produto do desenvolvimento das forças produtivas globais, ou melhor, das economias dos países do centro capitalista. Logo, os países subdesenvolvidos estão na situação de subdesenvolvimento porque é necessário que assim estejam para que seus excedentes econômicos sejam apropriados pelos países centrais. A dependência seria, portanto, fundamental para o funcionamento da economia mundial.

É importante notar o quanto a teoria da dependência, grande contribuição teórica do pensamento latino-americano para as ciências sociais, causou impactos na ciência política e nas relações internacionais especialmente, influenciando a teoria do sistema mundo, e até hoje servindo de suporte para a compreensão do papel dos países subdesenvolvidos ante à globalização, e dos entraves ao desenvolvimento do mundo periférico.

Pretende-se, portanto nesse trabalho, traçar um panorama histórico da Teoria da dependência, explicando as diversas concepções, fazendo um balanço das correntes teóricas e apontando suas perspectivas atuais de enquadramento.

Das teorias do desenvolvimento à teoria do subdesenvolvimento

Desde o séc. XIX surge uma vasta literatura nas Ciências Sociais dedicada à análise de temas sob o título geral de Teoria do Desenvolvimento. A Teoria do Desenvolvimento concebia que os países deveriam passar por vários estágios até o

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“takeoff”, a decolagem, que seria a transformação em uma sociedade superior, pós-industrial, com normas de comportamento atitudes e valores identificados com a racionalidade econômica moderna (SANTOS, 2000, p. 15-16).

Nessa visão, o subdesenvolvimento era visto como uma ausência de desenvolvimento. O atraso dos países subdesenvolvidos era explicado pelos obstáculos que neles existiam a seu pleno desenvolvimento ou modernização.

No início dos anos 60 essas teorias perderam força em razão da incapacidade do capitalismo de reproduzir experiências bem sucedidas de desenvolvimento em suas ex-colônias. O desenvolvimento industrial e o crescimento econômico não se transformaram em independência de fato. O crescimento econômico nos países subdesenvolvidos parecia destinado a acumular miséria, analfabetismo e uma distribuição de renda desastrosa.

É a condição de dependência dos países da periferia que perpetua e até mesmo acentua seu subdesenvolvimento. A modernização por meio do processo de substituição de importações foi incapaz de tirar a periferia do atraso e da dependência. O intercâmbio desigual, a ação das multinacionais e a hegemonia dos países capitalistas centrais produziram um mecanismo de extração do excedente produzido na periferia. Impossibilitados de apropriar-se do excedente produzido localmente, os países pobres nunca teriam os recursos necessários para o seu desenvolvimento e não conseguiriam reduzir o gap (econômico, tecnológico, militar) que os separa dos países ricos e os condena a dependência (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 118-119).

Os dependentistas estiveram muito mais preocupados com os aspectos econômicos da dependência do que com a teoria de política internacional. Cardoso; Faletto (1997) salientam a natureza social e política do processo econômico. Esses autores parecem concordar com esse aspecto da teoria do desenvolvimento, de que os fatores internos (políticos e sociais) são fundamentais para que um país supere ou não o seu estado de dependência.

Entretanto, a convergência dos diversos autores da teoria da dependência é de que o subdesenvolvimento é produto de um processo histórico, e que a situação de dependência no sistema internacional acentua esse subdesenvolvimento. Portanto, os dependentistas buscaram uma forma de entender e tentar superar esse subdesenvolvimento, ultrapassando a concepção equivocada dos teóricos do desenvolvimento, que propunham aquilo que Mantega (1997, p. 6) chama de “o modelo de desenvolvimento do subdesenvolvimento”.

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A compreensão histórica engendrada pela Teoria da dependência

A teoria da dependência surgiu na América Latina na década de 1960, tentando explicar as novas características do desenvolvimento socioeconômico da região- iniciado de fato em 1930-45 (SANTOS, 2000, p. 25).

A industrialização de alguns países latino-americanos não os tornou desenvolvidos. Conforme (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 118) “o esforço de modernização por meio da industrialização substitutiva – estratégia defendida por economistas como Celso Furtado – é incapaz de tirar a periferia do atraso e da dependência”. Essa nova realidade contestava a noção de que o subdesenvolvimento significava a falta de desenvolvimento.

Após a IIª Guerra Mundial, tudo indicava que “alguns países da América Latina estavam em condições de completar o processo de formação de seu setor industrial” (CARDOSO; FALETTO, 1979, p. 8). Após a reorganização da produção e dos mercados, alterados pela crise de 1929, “certas economias latino-americanas, que haviam acumulado divisas em boas quantidades e se beneficiado da defesa automática do mercado interno provocada pela guerra, pareciam achar-se em condições de completar o ciclo chamado de ‘substituição de importações’” (CARDOSO; FALETTO, 1979, p. 9)

A substituição de importações é um processo que leva ao aumento da produção interna de um país e a diminuição das suas importações. é geralmente obtido por controle de taxas de importação e manipulação da taxa de câmbio.

No Brasil, após a crise de 1929, a política de substituição de importações foi implementada com o objetivo de desenvolver o setor manufatureiro e resolver os problemas de dependência de capitais externos.

Passava-se assim, tanto na prática como na teoria, de uma fase em que a industrialização era concebida como um recurso complementar para um processo de desenvolvimento - baseado na exportação de produtos primários, e, além disso, uma alternativa forçada de períodos de contração do mercado internacional, a uma formulação teórica e um conjunto de expectativas, apoiadas na convicção de que o industrialismo sucederia à expansão das exportações, inaugurando uma fase de desenvolvimento autos-sustentado (CARDOSO; FALETTO, 1997, p. 9-10).

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Mas os vínculos com o mercado internacional continuariam existindo, tanto pela necessidade de assegurar compradores para os produtos de exportação, quanto pela necessidade de obter inversões do exterior. Em meados de 1950, estavam configurados alguns requisitos para o novo passo da economia latino-americana em países como Argentina, México, Chile, Colômbia e Brasil:

1. Mercado interno

2. Base industrial e a produção de alguns bens de exportação.

3. Fonte de divisas constituída pela exploração agropecuária e mineira.

4. Fortes estímulos para crescimento econômico, especialmente Brasil e Colômbia.

Na América Latina, depois da crise de 1929, começaram a fortalecerem-se instrumentos de ação do poder público como um meio de defender a economia exportadora. O fortalecimento e a modernização do Estado pareciam instrumentos necessários para alcançar uma política de desenvolvimento efetiva e eficaz (CARDOSO; FALETTO, 1997, p. 11).

O pressuposto era que as bases históricas da situação latino-americana apontavam para um tipo de desenvolvimento eminentemente nacional. Essa perspectiva se enfraqueceu desde os fins da década de 1950. É complicado explicar que com tantas condições aparentemente favoráveis para passar da etapa de substituição de importações para outra que abrigava novos campos de produção autônoma, voltadas para o mercado interno, não se tomaram as medidas necessárias para garantir a continuidade do desenvolvimento ou as providências tomadas não alcançaram seus objetivos.

A hipótese seria de que “faltaram as condições institucionais e sociais que haveriam de permitir que as condições econômicas favoráveis se traduzissem em um movimento capaz de garantir uma política de desenvolvimento, ou havia na realidade um erro de perspectiva que permitiria crer possível um tipo de desenvolvimento que era irrealizável economicamente?” (CARDOSO; FALETTO, 1977, p. 12).

Dos três países que mais avançaram industrialmente, apenas o México manteve por mais tempo uma taxa de crescimento elevada, por conta de sua diversidade de seu setor exportador.

O salto que parecia razoável no desenvolvimento da Argentina não se deu e no Brasil, apesar das dificuldades terem sido provisoriamente superadas no impulso

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desenvolvimentista de 1950, apoiado pelo financiamento externo a curto prazo, reabriu-se uma fase de retrocesso e de estagnação.

Segue-se a pergunta sobre as causas da insuficiência dinâmica das economias Nacionais que apresentavam perspectivas tão favoráveis, como no caso da Argentina. Até que ponto o fato mesmo, a Revolução Mexicana, que rompeu o equilíbrio das forças sociais, não terá sido o fator fundamental do desenvolvimento alcançado posteriormente?Cardoso e Faletto (1977, p. 14) mesmos sugerem a resposta:

“Não terão sido fatores da estrutura social brasileira, o jogo das forças políticas e sociais que atuaram na década “desenvolvimentista”, os responsáveis tanto do resultado favorável como da perda do impulso posterior do processo brasileiro de desenvolvimento?” (CARDOSO; FALETTO, 1977, p. 14).

Os próprios autores criticam essa reposta dizendo que assinalar o curso negativo dos acontecimentos como indicador da insuficiência das previsões econômicas anteriores, e daí deduzir-se a necessidade de substituir as explicações econômicas por interpretações sociológicas, seria uma resposta superficial.

Para Cardoso e Faletto (1977, p. 15), por mais que “os graus de diferenciação da estrutura social dos diversos países da região condicionem de forma diversa o crescimento econômico, não é suficiente substituir a interpretação econômica do desenvolvimento por uma análise sociológica”. É preciso que se faça uma análise integrada “que forneça elementos para uma resposta mais ampla sobre as possibilidades do desenvolvimento ou estagnação dos países latino-americanos e suas condições político-sociais”. A teoria da dependência tem tentado preencher esta lacuna em suas mais diversas correntes.

A teoria da dependência – correntes

A teoria da dependência “representou um esforço crítico para compreender as limitações de um desenvolvimento iniciado num período histórico em que a economia mundial estava já constituída sob a hegemonia de enormes grupos econômicos e poderosas forças imperialistas (...)” (SANTOS, 2000, p. 26).

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Compreendendo que desenvolvimento e subdesenvolvimento são resultados históricos do desenvolvimento do capitalismo, a teoria da dependência é um esforço de reflexão de teóricos da América Latina que percebem que seus países conquistaram independência política, mas permanecem dependentes economicamente. Essa teoria vai buscar as causas da manutenção da dependência e as formas de superá-la.

Para Santos (2000, p. 26), os antecedentes imediatos para a teoria da dependência são:

1. Crítica ao eurocentrismo implícito na teoria do desenvolvimento. 2. O debate latino americano sobre o subdesenvolvimento.

Com base nessas críticas, a teoria da dependência estabelece quatro premissas fundamentais (SANTOS, 2000, p. 26-27):

1. O subdesenvolvimento está conectado de maneira estreita com a expansão dos países industrializados;

2. O desenvolvimento e o subdesenvolvimento são aspectos diferentes do mesmo processo universal;

3. O subdesenvolvimento não pode ser considerado como a condição primeira para um processo evolucionista;

4. A dependência não é só um fenômeno externo, mas ele se manifesta na estrutura interna (social, ideológica e política); contribuição de Cardoso &Faletto (1977) para essa definição.

Recuperando o que já foi dito anteriormente, a teoria da dependência não foi fruto de apenas um autor, podendo ser agrupada em quatro principais correntes (escolas) de pensamento (SANTOS, 2000, p. 27-28):

a) A crítica estruturalista Cepalina (que descobre os limites de um projeto de desenvolvimento nacional autônomo): com teóricos como Oswaldo Sunkel, Celso Furtado e RaúlPrebisch.

b) Neomarxista: com teóricos como Theotônio dos Santos, Rui Mauro Maurini e Vania Bambirra.

c) Corrente fora das tradições marxistas: capitaneada por André Gunder Frank.

d) Corrente Marxista mais ordodoxa: que tem como principais representantes Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto. Esta corrente é mais ortodoxa porque foi a que mais se ateve as lutas de classe dentro do país, diferente das outras que

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enfocavam mais as relações internacionais. Inclusive tomando esse aspecto com ponto fundamental para o desenvolvimento ou subdesenvolvimento de um país.

Nas palavras de Cardoso; Faletto (1997, p.141), a novidade da hipótese não está no reconhecimento de uma dominação externa - processo óbvio - mas na caracterização da forma que ela assume e dos efeitos distintos, com referência às situações passadas, desse tipo de relação de dependência sobre as classes e o Estado.

Essa última corrente diverge um pouco das outras porque esses autores demonstraram a debilidade da burguesia nacional e sua disposição em converter-se em associada menor do capital internacional. Dessa forma, aceitam a irreversibilidade do desenvolvimento dependente e a possibilidade de compatibilizá-lo com a democracia representativa.

Para Cardoso &Faletto (1977), os verdadeiros inimigos nacionais são o corporativismo e uma burguesia burocrática e conservadora – não são os países desenvolvidos -, que limitou a capacidade de negociação internacional do país dentro do novo patamar de dependência gerado pelo avanço tecnológico e pela nova divisão internacional do trabalho que se esboçou na década de 70.

Reestabelecendo as perspectivas da teoria da dependência, Santos (2000) assevera que os dependentistas previram, inclusive, a importância das integrações regionais na América Latina como caminho mais sólido para a integração regional de todo o continente.

A contribuição da teoria da dependência para as Relações Internacionais

Embora não se constitua num corpo teórico homogêneo, abrigando, conforme visto, diversos autores, com diferentes escolas de pensamento e distintas concepções teóricas, a teoria da dependência não deve ser negligenciada no estudo da política internacional. Como expresso em Nogueira; Messari (2005, p. 128), “o estudo das teorias (...) como a da Dependência, se restringiu aos currículos das matérias de desenvolvimento econômico ou de estudos regionais”. Portanto, os autores procuram “demonstrar que a atitude dominante na disciplina [Relações Internacionais] é equivocada”, pois o próprio Marx e os teóricos da dependência buscaram “integrar a

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análise do capitalismo em escala mundial ao exame das relações internacionais propriamente ditas”.

Nesse sentido, percebe-se a importância da contribuição do marxismo para as relações internacionais. Segundo Nogueira; Messari (2005, p. 16), a contribuição do marxismo para as relações internacionais é muitas vezes desconsiderada “pelos manuais convencionais da disciplina por não desenvolver uma teoria de RI propriamente dita”.

Entretanto, de acordo com os mesmos autores, “a herança marxista, que enseja a análise das relações sociais em sua totalidade, rejeitando a separação entre economia e política” Nogueira; Messari (2005, p. 16), trouxe abordagens que “procuram integrar a dinâmica do capitalismo mundial ao estudo do funcionamento do sistema internacional”. Portanto, concluem os autores,

“A contribuição das teorias do imperialismo, da dependência e do sistema-mundo para a investigação sobre as causas da desigualdade e das assimetrias de poder nas re1ações internacionais é inegável e deveria merecer maior atenção dos estudiosos de RI tanto nos cursos de graduação e pós-graduação quanto nos debates acadêmicos” (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 16).

Lógica semelhante segue Coutinho (2012, p.97) ao se referir à escassez da produção em relações internacionais no Brasil e na América Latina. Ao fazê-lo, reconhece a importância da teoria da dependência para o campo de RI, atestando que “Basicamente, além dos estruturalistas latino-americanos, apenas uma obra sobre Dependência e Desenvolvimento, de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, contribuiu com algo valioso para o debate internacional. Está na hora disso começar a mudar, aproveitando abordagens pós-colonialistas, neodependentistas e quaisquer outras, desde que com qualidade” (COUTINHO, 2012, p. 97).

A teoria da dependência e suas perspectivas contemporâneas de enquadramento: o Sistema-Mundo e a Globalização

A teoria da dependência tem um enfoque global que pretende compreender a formação e a evolução do capitalismo como economia mundial. Nesse sentido, se aproxima dela a teoria do sistema-mundo.

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Santos (2000, p. 55-59) indica que vários autores reconhecem a teoria do sistema-mundo como uma evolução de uma das vertentes da teoria da dependência. Segundo Santos (2000, p. 55), Bjorn Hettne traça um quadro evolutivo pelo qual o debate sobre desenvolvimento e dependência levado a cabo pela teoria da dependência tem como resultado a teoria do sistema-mundo.

O enfoque do sistema-mundo começa a se desenhar na década de 1970 com autores como Samir Amin, André Gunder Frank e Theotônio dos Santos, “mas ganha realmente grande alento com a obra de Immanuel Wallerstein (1974, 1980, 1989)” (SANTOS, 2000, p. 55).

Em que pese que nos anos 70 a teoria da dependência tenha recebido diversas críticas, sua atualidade é incontestável, principalmente na sua amálgama com a teoria do sistema-mundo.

As críticas recebidas pela teoria da dependência podem ser resumidas nas seguintes ideias (SANTOS, 2000; NOGUEIRA & MESSARI, 2005):

• De que era uma desculpa para explicar o fracasso econômico dos países subdesenvolvidos;

• Superestimava fatores externos em relação a fatores internos - Cardoso &Faletto divergem nesse aspecto.

• Abandonam a análise das classes sociais;

• Muito vinculada a uma visão de subdesenvolvimento ligada à formação do capitalismo moderno como uma economia mundial.

• De ser economicista (crítica que também reverbera nas Relações Internacionais);

• A definição das corporações multinacionais como ator central dos conflitos internacionais (crítica que também reverbera nas Relações Internacionais);

• Os limites teóricos de suas concepções realistas e deterministas(crítica que também reverbera nas Relações Internacionais);

A teoria da dependência, no quadro de evolução do seu debate, desemboca no enfoque do Sistema-Mundo, que busca

“analisar a formação e a evolução do modo capitalista de produção como um sistema de relações econômico-sociais, políticas e culturais que nasce no fim da Idade Média Europeia e que evolui na direção de se converter num sistema planetário e confundir-se com a economia mundial” (SANTOS, 2000, p. 57).

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Este teoria, desenvolvida especialmente por Immanuel Wallerstein e Giovanni Arrighi, ressalta a existência de um centro, uma periferia e uma semiperiferia, defendendo a existência de uma economia hegemônica, entre os países centrais, que articula o sistema.

Santos (2000, p. 58) indica que “os estudos do sistema-mundo se situaram como expressão teórica de um amplo debate sobre as transformações que ocorriam na economia e política mundial dos anos 70”. E sob uma perspectiva globalizadora, esses estudos assumem uma nova roupagem (ainda em processo), pois são constructos teóricos menos especializados, que analisam experiências específicas sob uma ótica mais geral, observando as dinâmicas internas sob o prisma da formação e evolução do sistema mundial capitalista e buscando empreender a evolução da ciência social como parte de um processo mais global da relação do homem com a natureza.

Considerações Preliminares

A teoria da dependência é, na verdade, o nome dado a um conjunto de teorias surgidas na década de 1960, no Brasil e na América Latina como um todo. Esses teóricos buscavam explicar o porquê de países como Brasil, Argentina e México terem se industrializado, mas não terem conseguido se desenvolver.

Constatou-se, então, que subdesenvolvimento e desenvolvimento são aspectos conjuntos de um mesmo processo, e que o subdesenvolvimento não era um estágio inicial para o desenvolvimento. Essa constatação serviu de supedâneo para a formulação de tentativas de superação da condição de subdesenvolvimento.

Nessa busca, as diversas correntes de dependentistas foram dando origem a concepções distintas, que vão desde à visão mais radical marxista de André Gunder Frank, a uma visão menos disjuntiva de Cardoso &Foletto, que acreditavam que os países subdesenvolvidos poderiam, não superando o subdesenvolvimento, negociar uma posição relativa mais confortável no sistema internacional.

As Relações Internacionais muitas vezes negligenciaram a importância da teoria da dependência para a compreensão do sistema político internacional, e, embora os dependentistas sejam acusados de uma série de limitações teórico-conceituais, fazem contribuição importante ao procurar integrar a dinâmica do capitalismo mundial à análise do funcionamento do sistema internacional.

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Ainda na década de 1970 a teoria da dependência desembocou na teoria do sistema-mundo, que é uma teoria que busca esclarecer lógica hierárquica e fixa do capital, demonstrando suas implicações na organização do sistema internacional. A partir da globalização, essa perspectiva assume novos contornos, tentando ambientar a análise da política internacional como parte de um processo histórico mais global, buscando não só compreender, como fazer uma teoria social que serve para a reinterpretação do mundo contemporâneo.

Bibliografia

CARDOSO, Fernando Henrique; FALETTO, Enzo. Dependência e subdesenvolvimento na América Latina. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1977.

COUTINHO, Marcelo. Relações internacionais: evolução e teorias da ciência do mundo. Rio de Janeiro: Gramma, 2012.

DUARTE, Pedro Henrique; GRACIOLLI, Edílson José. A Teoria da dependência: Interpretações sobre o (Sub)Desenvolvimento na América Latina. Artigo apresentado no V Colóquio Internacional Marx e Engels. 2007.

HELD, David etalli. Global Transformation: Politics, Economy and Culture. California: Stanford University Press, 1999.

MANTEGA, Guido. Teoria da dependência revisitada: um balanço crítico. Relatório de pesquisa n.27 – FGV-EAESP, São Paulo, 1997.

NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das relações internacionais: correntes e debate. Rio de Janeiro: Elsevier/Editora Campus, 2005.

SANTOS, Theotônio dos. A teoria da dependência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

WALLERSTEIN, Immanuel. The Modern World-System: Capitalist Agriculture and the Origins of the European World-Economy in the Sixteenth Century. California: CaliforniaUniversity Press, 2011.

Referências

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