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NESTA EDIÇÃO CONFERÊNCIA NACIONAL DE JUVENTUDE. Fernando Garcia. Danilo Moreira: Estamos realizando o desafio de uma geração

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NESTA EDIÇÃO

Xx

Augusto Buonicore

DOSSIÊ CHE

partE

2

Editorial

4

Che Guevara e a construção

do Homem novo

63

Cronologia dos

acontecimentos de 1968

22

João Quartim de Moraes

1968: Mobilização democrática

e luta armada no Brasil

A construção do

Homem no jovem

Marx

P

arte

F

inal

55

E a juventude levantou suas bandeiras...

Corumbá na trilha das políticas

públicas de juventude

17

TEORIA

CONFERÊNCIA NACIONAL DE JUVENTUDE

Maria Elena Ferrer

Che Guevara: um olhar

diferente em relação à

juventude

69

Danilo Moreira: “Estamos realizando

o desafio de uma geração”

Fernando Garcia

ENTREVIsTA

6

Os muitos desafios da política de juventude

Beto Cury

14

Voto aos 16: vinte anos de uma

grande conquista da juventude

brasileira

18

Ensino médio: o que querem os

jovens?

19

Angélica Müller

1968: história e memória

25

36

Augusto Petta

Congresso da UNE de 68:

quando a Lapa fica na China

45

Arthur Poerner

De normal só a vitória da

Mangueira

49

Rafael Minoro e

Artenius Daniel

UBEs: 60 anos em defesa

do Brasil – parte 2

51

10

CEMJ promove

seminário Internacional

“Políticas de esporte

para a juventude”

EsPORTE

58

(4)



Juventude.br

Juventude.br é uma publicação do

Centro de Estudos e Memória da Juventude – CEMJ

Rua Treze de Maio, 1016 - conj. 2 Bela Vista São Paulo - SP – CEP 01327-000

cemj@cemj.org.br www.cemj.org.br

Editor: Fábio Palácio de Azevedo Capa e diagramação: Cláudio Gonzalez

Assessoria editorial: Fernando Garcia Preparação e revisão de originais: Fábio

Palácio de Azevedo

Tiragem: 5.000 exemplares ConsElho ConsulTivo do CEMJ:

Alessandro Lutfy Ponce de Leon, Arthur José Poerner, Augusto Buonicore, Fabiano de Souza Lima, José Carlos Ruy, Mary Castro, Natividad Guerrero Borrego, Regina Novaes.

dirEToriA do CEMJ: Presidente

Fábio Palácio de Azevedo

diretor de Planejamento e Patrimônio

Fabiana Costa

secretário Geral

Márcio Pereira Cabral

diretora de Políticas Públicas

Fabiana Costa

diretor de Estudos e Pesquisas

Fernando Garcia de Faria

diretora de Memória

Raisa Luisa de Assis Marques

diretora de Cultura

Carolina Maria Ruy

diretor de Comunicação

Vandré Fernandes Barros

diretora de Atividades Educativas e Esportivas

Kátia Sabrina Dudik

A revista juventude.br aceita colaborações que lhe forem enviadas, reservando-se o direito, a critério da editoria e do Conselho Consultivo do CEMJ, de publicá-las ou não. A publicação de um artigo não implica em compromisso da revista ou do CEMJ com seu conteúdo. As opiniões emitidas são de responsabilidade exclusiva dos autores. Os artigos enviados não devem exceder 20 laudas de 1.400 caracteres com espaços. Artigos maiores

dependerão de acerto prévio com o editor. Os artigos devem ser enviados no programa Word for Windows e os originais não serão devolvidos. Citações devem seguir as normas da Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

AOS LEITORES

O ANO EM QUE A JUVENTUDE MOsTROU sUA FORÇA

“As vestes poeirentas de nossos dias Cabe a ti, juventude, sacudi-las!”

Vladimir Maiakovski

D

esde que nasceu, em 1984, ainda como Centro de Me-mória da Juventude (CMJ), o atual Centro de Estudos e Memória da Juventude sempre teve no resgate his-tórico sua principal atividade e seu motivo de ser. O reforço posterior de suas atividades de pesquisa sociológica e consultoria, longe de nos afastar do resgate da rica história de participação da juventude brasileira, só fez acentuar ainda mais a necessidade de empreender essa tarefa.

Os diretores e pesquisadores do CEMJ têm repetido freqüen-temente uma frase que já se consagrou como uma espécie de slogan do nosso Centro: “uma juventude sem memória é uma juventude sem identidade”. Com efeito, é preciso reconhecer que, em um país como o nosso, carente de exemplos, ídolos e referências capazes de inspirar nossa juventude, torna-se ain-da mais difícil reforçar o sentido de pertencimento que está na base de praticamente todos os projetos coletivos.

Por outro lado, exemplos e referências são coisas que se forjam no exame da experiência, confrontando aquilo que fomos no passado com o que somos hoje. É a partir desse saudável exer-cício que podemos compreender os fatores que condicionam a realidade atual, bem como os desafios que devem ser enfrenta-dos tendo em vista a construção de um novo projeto para nosso povo e nosso país.

É pensando em questões como essas que o CEMJ lança mais esta edição de Juventude.br. Quase que inteiramente voltada ao resgate histórico do protagonismo da juventude brasileira, esta quinta edição destaca o ano de 1968. Se é verdade que a juven-tude acumula, em especial através de suas entidades e organiza-ções, uma quantidade considerável de feitos históricos, isso fica ainda mais claro através da análise desse momento “mágico” – como o caracteriza a historiadora Angélica Müller em artigo publicado nesta edição.

Período marcante para a juventude brasileira e mundial, os acon-tecimentos que hoje completam 40 anos revelam muito do cará-ter sonhador, mas também da força realizadora que possui a ju-ventude quando é chamada à tarefa de enterrar o velho e trazer à luz o novo – seja em matéria de estruturas econômicas e políticas anacrônicas, seja em matéria de valores, hábitos e costumes. Entender o que exatamente se passou em 1968 não tem sido ta-refa fácil. Isso não só pela multiplicidade de enfoques possíveis – motivada inclusive pela enorme variedade de bandeiras e ob-jetivos relacionados às mobilizações de 68 –, mas também pela diversidade de interesses que entram em campo quando se tenta relembrar aquele período. Afinal de contas, jamais poderemos nos esquecer de que também a memória é um terreno de disputa.

(5)

* * *

Em 14 de junho de 1928 – há 80 anos portanto –, no município de Rosário, na Argentina, nascia Ernesto Guevara de la Serna. Líder de lutas impor-tantes e do mais radical processo revolucionário já ocorrido em nosso continente – a Revolução Cubana – a figura do “Che” acabaria passando à história como algo mais que a de um “grande re-volucionário”. Forjar-se-ia em torno a seu nome um mito carregado de significados. Che é hoje um símbolo da rebeldia que inspira os povos e, em especial, a juventude de todo o mundo.

No número anterior de Juventude.br relembra-mos com pesar, mas também com reverência, os quarenta anos da morte do “Comandante”, covar-demente assassinado nas selvas da Bolívia a 9 de outubro de 1967. Agora, passados pouco mais de seis meses, quando o mundo volta a reverenciar a figura do Che por ocasião dos 80 anos de seu nas-cimento, fazemos nova carga de reflexão sobre o significado de sua obra para a juventude e os po-vos de todo o mundo.

É assim que, nesta edição, apresentamos mais dois artigos sobre a herança teórica do Che e seu legado para o enfrentamento dos desafios atuais, e em particular para a construção daquilo que ele chamava de “Homem novo”. Tema caro, sem dú-vida, à juventude de todo o mundo, e, não à toa, profundamente entrelaçado à atitude daqueles que ergueram barricadas e protagonizaram os chamados “acontecimentos de 68”.

Algumas questões saltam aos olhos quando se coloca em pauta um reexame de 68. Por que esse movimento teve tanta força? Por que em um pon-to específico da história recente da humanidade concentrou-se tanta energia revolucionária, tanto desejo de mudança? Por que tudo isso encontrou na juventude e nos estudantes um ator privilegia-do, um segmento da sociedade que – como afir-ma Arthur Poerner nesta edição de Juventude.br – inundava a todos de “esperanças libertárias”? Acima de todas essas questões, uma se coloca, imperativa. Por que 68 eclodiu de forma tão avas-saladora e ao mesmo tempo em tantos lugares, da Alemanha aos Estados Unidos, da França ao Brasil, da então Tchecoslováquia ao México, com tamanha abrangência e regularidade, apesar da diversidade de colorações marcadamente nacio-nais que caracterizaram aquele movimento? Tentando jogar luz sobre essas e outras questões relacionadas àquele momento de efervescência, Ju-ventude.br publica, nesta edição, uma série de tex-tos relacionados aos acontecimentex-tos de 68. Longe de esgotar o esforço de interpretação histórica da-quele período – que sempre será polêmico –, o que intentamos é jogar luzes sobre uma época cujo exame é decisivo para a compreensão da dinâmica que permeia as ações de massa da juventude. Como temos procurado deixar claro em boa parte de nossos trabalhos e publicações, o ano de 1968 está aí para provar que a juventude se move antes por “causas que por coisas”. Se tem sido perfei-tamente capaz de realizar os mais variados mo-vimentos de natureza reivindicatória – boa parte deles vitoriosos, como nos mostram os registros históricos –, é no entanto no terreno do sonho, da utopia, do imponderável, do desejo de mudar o mundo, enfim, que a juventude e os movimentos juvenis têm transitado com maior desenvoltura. Não à toa, como afirma João Quartim de Moraes em sua participação nesta edição de Juventude. br, “na esquerda de 1968 as convicções predo-minavam amplamente sobre os interesses, o que explica, para além dos erros mortíferos cometidos pela geração da luta armada, a dificuldade que experimentam os ‘realistas de bom-senso’ para compreender-lhe as motivações”.

Longe de esgotar o esforço de interpretação

histórica daquele período – que sempre será

polêmico –, o que intentamos é jogar luzes

sobre uma época cujo exame é decisivo para a

compreensão da dinâmica que permeia as ações

de massa da juventude.

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E a juventude levantou

suas bandeiras...

Fernando Garcia*

Políticas

P

úblicas de juventude

M

ilitantes do movimento estudantil, da diver-sidade sexual, jovens ambientalistas, rappers, grafitei-ros e dançarinos do movimento hip-hop, skatistas, atletas, mem-bros de fóruns ou redes, sejam elas de ONGs ou de movimentos juvenis, ou simplesmente pre-ocupados com o bairro, com a política, com a educação, com a saúde ou com a preservação da natureza. Toda essa turma lotou as várias etapas da Conferência Nacional de Juventude, um am-plo e rico processo de debates que, com o lema “Levante sua bandeira!”, começou em 22 de setembro (Dia Internacional da Juventude) do ano passado e estendeu-se até o último dia 30 de abril, com a realização da eta-pa nacional da Conferência em Brasília, reunindo cerca de dois mil delegados.

Durante todo o processo foram realizadas conferências livres, presenciais e virtuais, consulta nacional às populações tradicionais, além de etapas mu-nicipais, estaduais e nacional. Nelas foram debatidos assuntos como educação, trabalho, cultu-ra, participação, esporte, drogas, violência, saúde, sexualidade, vida urbana e rural etc.

A Conferência contou com 26 etapas estaduais mais a do Dis-trito Federal, chegando a reunir na base mais de meio milhão de pessoas.

Só em Pernambuco cerca de 2000 jovens amontoavam-se na etapa estadual da Conferência, que discutiu e aprovou inú-meras resoluções sobre temas

como passe livre, criação e expansão de espaços polies-portivos, gratuidade no ensino público, implementação de se-cretarias e conselhos municipais de juventude etc. Em Pernam-buco – e no Nordeste como um todo – também tiveram bastante destaque propostas relaciona-das à juventude do campo. A aula-espetáculo “Somos todos cientistas” fez parte da progra-mação cultural, bem como apre-sentações de frevo, maracatu, ciranda, côco e cavalo-marinho, entre outras.

No Estado do Paraná educa-ção e trabalho foram os temas prioritários da Conferência Estadual. A ampla participação

de jovens mulheres resultou no fato de que, dos 10 delegados mais votados daquela conferên-cia, sete foram mulheres. Erinéia dos Santos, quilombola, a mais votada, Rosana Cláudia Botelho, representando os adolescentes privados de liberdade, e Michely Ribeiro da Silva, pelas jovens ne-gras do estado, foram algumas das delegadas mais votadas.

Em São Paulo jovens circen-ses entraram na etapa estadual da Conferência realizando mala-barismos e pirotecnias. Na elei-ção dos delegados à etapa na-cional candidataram-se dezenas de lideranças, sendo pequena a diferença de votos entre o dele-gado mais e o menos votado.

1º Conferência Nacional de

Juventude reúne 400 mil jovens,

inova nos formatos institucionais

e contribui para uma nova visão

de Estado democrático

Selo postal alusivo à Conferência

(7)

No Distrito Federal dro-gas e violência foram temas am-plamente discutidos. W., jovem que participou ativamente dos debates, sintetizou o rol de pro-postas aprovadas com a seguinte frase: “Não adianta reprimir, quanto mais se fala ‘diga não às drogas’ mais aparecem depen-dentes”, justificando a tática ob-soleta utilizada nas campanhas anti-drogas.

Toda essa diversidade esteve representada em Brasília através das centenas de delegados e par-ticipantes de todo o Brasil que lotaram os pavilhões A e B do Parque da Cidade. Lá, após um amplo processo de debates em grupos, a plenária final da Con-ferência aprovou 69 resoluções e 22 prioridades que expressam as principais demandas da juventu-de brasileira.

Para o Presidente do Conselho Nacional de Juventude e coorde-nador da Conferência Nacional, Danilo Moreira, “a conferência, em suas diversas etapas, teve bons debates e grande repre-sentatividade, garantindo que jovens de diversos segmentos e municípios pudessem ter suas discussões consideradas no de-bate da etapa nacional”.

significado da Conferência A Conferência Nacional de Juventude concretiza um novo modelo de elaboração e imple-mentação de políticas públicas: um modelo participativo, que busca incorporar a experiência e a vivência dos próprios jo-vens, além de dar voz e poder aos movimentos e organizações juvenis.

Ao convocar a 1ª Conferên-cia Nacional de Juventude, o Governo Federal efetivou um importante espaço de diálogo e participação envolvendo organi-zações juvenis, sociedade brasi-leira em geral e gestores. A Con-ferência propicia a apresentação de demandas específicas desse

segmento social, e coloca para o Brasil a possibilidade de incor-porar a juventude na elaboração de políticas públicas. Amplia-se com isso a possibilidade de ações governamentais pautadas na compreensão efetiva das difi-culdades e dos desafios relacio-nados às diversas dimensões da vida juvenil.

A trajetória das PPJ no Governo Lula

A realização da 1º Conferên-cia Nacional de Juventude repre-senta o ápice de um processo democrático e participativo que começou ainda em 2002, duran-te o processo de discussão do programa de juventude da pri-meira candidatura Lula. Nesse período teve início um amplo debate visando a elaborar um novo conceito de Políticas Públi-cas para a Juventude (PPJ). Des-de a construção do programa de juventude da coligação Lula Presidente foram incorporadas inúmeras organizações juvenis, juventudes partidárias, ONG´s, intelectuais etc. Após muito debate formatou-se, em linhas gerais, uma proposta de política para a juventude brasileira.

A Conferência

Nacional de Juventude

concretiza um novo

modelo de elaboração

e implementação de

políticas públicas: um

modelo participativo,

que busca incorporar a

experiência e a vivência

dos próprios jovens,

além de dar voz e poder

aos movimentos e

organizações juvenis.

Plenária da Conferência Nacional de Juventude

Por seu potencial

mobilizador e de

promoção do diálogo

democrático, merece

destaque a criação,

em 2005, do Conselho

Nacional de Juventude,

que conta com a

participação de governo

e organizações da

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Mais tarde, com a vitória das forças políticas e sociais que levaram Luís Inácio Lula da Silva ao governo da República, cresceu a pressão da sociedade no sentido da implementação de ações eficazes. Dessa forma a temática da juventude ganhou espaço na agenda nacional, fazendo com que se multipli-cassem iniciativas que contri-buíram para vincar o tema ju-ventude entre as prioridades da sociedade brasileira.

Em 2003 as discussões des-lancharam através de diversas iniciativas da sociedade civil organizada, como o Diálogo Nacional dos Movimentos e Or-ganizações Juvenis e o Projeto Juventude – amplo programa de debates e pesquisas conduzido pelo Instituto Cidadania entre os anos de 2003 e 2004 com o objetivo de formular uma pro-posta de política para a juventu-de brasileira.

No âmbito do Estado, repre-senta um marco desse processo a constituição, na Câmara dos Deputados, da Comissão Espe-cial de PPJ, que a partir de 2003 realizou audiências públicas, encontros regionais, um semi-nário e uma conferência nacio-nal sobre a temática. No Poder Executivo a criação, em 2004,

do Grupo Interministerial de Juventude, que reuniu 19 mi-nistérios e produziu um amplo diagnóstico, representou o em-brião da nova política nacional de juventude.

Culminando esse processo, uma nova institucionalidade foi inaugurada, envolvendo tanto instrumentos de ordenamento legal quanto os órgãos encarre-gados da nova política de juven-tude.

Por seu potencial mobiliza-dor e de promoção do diálogo democrático, merece destaque a criação, em 2005, do Conselho Nacional de Juventude, que con-ta com a participação de gover-no e organizações da sociedade civil (ONGs, movimentos juve-nis e entidades de representa-ção). O Conselho tornou-se um importante espaço de interlocu-ção com a sociedade, e sua cria-ção representa um considerável passo o êxito do novo modelo de PPJ, que precisará contar com a participação efetiva dos jovens em sua elaboração, ava-liação, proposição e execução.

É claro que essa experiência ainda precisa ser aprimorada, inclusive porque é a primeira da história republicana brasileira. Nesse sentido, os movimentos juvenis precisam ser ainda mais

valorizados como fonte de inter-locução privilegiada, ao mesmo tempo em que devem preservar sua autonomia e independência. E cabe também aos próprios mo-vimentos de juventude a tarefa de criar mecanismos que am-pliem a participação dos jovens nos debates do Conselho. Que PPJ esperamos ter com esse processo?

De um processo tão radical-mente participativo não pode-ríamos esperar senão políticas públicas profundamente ante-nadas nos anseios da juventude brasileira.

Ao contrário das políticas de juventude que tínhamos nos anos 90, marcadas pela desar-ticulação e fragmentação entre os atores de governo, pela au-sência de diálogo com os movi-mentos juvenis e pela tendência de privilegiar a relação com as ONGs, no contexto de um proje-to que promovia a terceirização predatória do Estado, hoje te-mos políticas gestadas por vias radicalmente diferentes.

O novo modelo de políti-cas públipolíti-cas que compreende a juventude como sujeito de direitos difere radicalmente da perspectiva conservadora e

Os movimentos juvenis

precisam ser ainda

mais valorizados como

fonte de interlocução

privilegiada, ao mesmo

tempo em que devem

preservar sua autonomia

e independência.

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policialesca dos anos 90 – cujo resultado mais visível em ter-mos de políticas públicas são as Febem’s, a proposta de redução da idade penal e os sucessivos cortes de verbas para a educa-ção no estado de São Paulo.

Ao contrário dessa receita neoliberal anteriormente pra-ticada – que via o jovem como problema e não como parte da solução –, as políticas que te-mos hoje percebem a juventude como um importante sujeito da dinâmica social, política, econô-mica e cultural, sujeito este que precisa ser incorporado como ator destacado no processo de construção de um novo modelo de desenvolvimento, com cres-cimento econômico e bem-estar social.

E agora?

Sabemos que as políticas em desenvolvimento no Governo Lula ainda apresentam uma sé-rie de problemas e distorções, que precisam ser soluciona-dos e corrigisoluciona-dos. É claro que a política econômica vigente interfere diretamente nas ações governamentais como um todo e naquelas voltadas à juventude de modo particular. Juros altos, por exemplo, inviabilizam um processo mais robusto de cres-cimento econômico, processo este que tem na juventude um de seus principais beneficiários. Além disso, podemos afirmar que, embora possamos detectar um salto de qualidade em sua concepção, muitos programas ainda são tímidos para a de-manda, dado que atingem um número relativamente pequeno de jovens. Há também algumas ações, a exemplo do Programa Primeiro Emprego, que se revela-ram assentadas em pressupostos equivocados e não atingiram seus objetivos, devendo ser re-formuladas.

Mas esses e outros proble-mas nem de longe são capa-zes de esconder os inúmeros avanços que tivemos. Podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que a política de juventude do atual governo vai no mesmo sentido da idéia geral que levou à eleição de Lula em 2002: a da construção de um novo projeto de país, baseado em uma visão de ampliação da democracia e dos direitos sociais. Levante você também a sua bandeira!

*FErnanDO GarCIa é historiador, diretor de

estudos e pesquisas do CEMJ

Maria Virgínia Freitas (vice-presidente do Conjuve) e Danilo Moreira (presidente do Conjuve) na sessão de abertura da Conferência Nacional de Juventude

O novo modelo de políticas públicas que compreende a

juventude como sujeito de direitos difere radicalmente

da perspectiva conservadora e policialesca dos anos

90 – cujo resultado mais visível em termos de políticas

públicas são as Febem’s, a proposta de redução da idade

penal e os sucessivos cortes de verbas para a educação

no estado de São Paulo.

Militante da diversidade sexual participa da Conferência

Conferência Estadual de Juventude do Paraná

(10)

10

Juventude.br – Qual a origem e como se deu a dinâmica da Conferência Nacional de Juven-tude?

Danilo Moreira – A Conferência representou a concretização de um dos pontos do programa de governo do presidente Lula na área de juventude. Esse progra-ma, discutido e apresentado nas eleições de 2006, previa entre outras coisas o fortalecimento da democracia participativa no seu segundo governo. Oficial-mente a Conferência começou no dia 22 de setembro de 2007 (Dia da Juventude) e se encerrou no último dia 30 de abril. Um pro-cesso longo, diversificado, difícil e muito rico. Foram várias eta-pas, passando por lançamentos nos estados, etapas municipais, estaduais, conferências livres e consulta aos povos e comunida-des tradicionais. Foi um amplo processo de debate, diálogo, par-ticipação e, fundamentalmente, de definição das propostas e de-mandas prioritárias na área das políticas públicas de juventude. Juventude.br – Quais foram as principais bandeiras aprovadas nesta 1ª Conferência?

Danilo Moreira – A Conferência aprovou 70 resoluções sobre 23 temas diferentes; em meio a elas foram estabelecidas 22 prioridades para a Política Na-cional de Juventude. Dentre as propostas aprovadas há os te-mas consagrados nas políticas

ENTREVIsTA

Por Fernando Garcia

públicas, como educação, es-porte, trabalho e cultura. Esses temas apareceram com muita força e nessa ordem de priori-dade, reforçando a necessidade de investimento nas chamadas políticas universais, respeitan-do as particularidades juvenis. A Conferência também tomou posições firmes sobre temas polêmicos na sociedade, pro-nunciando-se pela legalização do aborto e contra a redução da maioridade penal. Chama aten-ção, no entanto, a aprovação de resoluções sobre temas que eu chamaria de “emergentes”, pelo menos no que se refere à juven-tude. A resolução mais votada foi sobre a juventude negra, e, entre as 22 prioridades, temos ainda propostas sobre cidadania GLBT, meio ambiente, jovens com deficiência, juventude do campo, jovens mulheres etc. Na verdade as resoluções demons-tram um novo arranjo de temas sobre o qual não só o Poder Pú-blico, mas também a sociedade civil, deveriam refletir. O mais importante é que aprovamos, com força inédita, uma plata-forma de políticas públicas de juventude que deve ser aprovei-tada ao máximo.

Juventude.br – Quais foram as principais polêmicas?

Danilo Moreira – Na verdade não houve grandes polêmicas e sim pontos salientes nos debates. Entre os delegados à etapa na-cional, o sentimento de unidade e os grandes consensos foram predominantes. No entanto,

alguns temas não apareceram com a força imaginada ou apa-receram de maneira diferente da que se esperava. O trabalho é um bom exemplo. Nesse tema o que apareceu com destaque não foi a questão do desemprego e sim a necessidade de preparação para o mundo do trabalho – seja por meio do ensino técnico pro-fissionalizante, seja pela quali-ficação propriamente dita – e a melhoria das condições de traba-lho para os jovens. A prioridade aprovada nessa área – a redução da jornada de trabalho sem re-dução de salários – diz respeito a uma mudança estrutural do mercado de trabalho que, se co-locada em prática, pode garantir ao mesmo tempo melhores con-dições de trabalho e geração de mais empregos. Vale a pena di-zer também que o fortalecimen-to institucional da Política Nacio-nal de Juventude foi aprovado entre as três prioridades. Tal de-cisão reflete o amadurecimento do debate, pois demonstra que as pessoas que lá estavam não se preocuparam exclusivamente com demandas específicas. Para além disso, a priorização do for-talecimento institucional revela uma visão integrada e de longo prazo, materializada no desejo de que a política de juventude seja uma ação permanente do Estado brasileiro e não algo à mercê da sensibilidade deste ou daquele governante. Por isso é importantíssima a resolução pela aprovação da PEC da Juventude e do Plano Nacional de Juventude, ambos em tramitação no Con-gresso Nacional.

Juventude.br entrevista danilo Moreira,

Presidente do Conselho Nacional de Juventude

“Estamos realizando o

desafio de uma geração”

Políticas

P

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Juventude.br – Qual o signifi-cado mais amplo da Conferên-cia? É possível afirmar que ela representou a afirmação de um novo momento para as PPJ no Brasil?

Danilo Moreira – Em avaliações feitas após o evento nacional, muita gente disse que depois da Conferência temos uma nova Secretaria e um novo Con-selho, numa alusão ao avanço conquistado. É fato que tive-mos uma grande visibilidade, mas também é fato que daqui pra frente teremos muito mais responsabilidades. A Confe-rência colocou a política de juventude em novo patamar, mas já vínhamos num crescen-te. No primeiro mandato foi uma novidade, que todo mundo aprovou. No segundo mandato, antes mesmo da Conferência

houve um fortalecimento do papel da Secretaria e do Conse-lho e a ampliação de recursos para os programas. Com a Con-ferência, nos abrimos de uma forma que não tinha acontecido antes e o resultado foi muito bom. Em uma pesquisa reali-zada entre os participantes, a etapa nacional foi aprovada por 85%; 13% aprovaram em parte, 2% não responderam e ninguém reprovou. Esses números falam por si. Por outro lado foi gerada uma grande expectativa quanto a resultados concretos após a Conferência. Os desafios são grandes, mas a necessidade de assegurarmos mais direitos para a juventude brasileira é ainda maior e temos a obriga-ção de dar nossa contribuiobriga-ção, sabendo que essa não é uma responsabilidade apenas da Secretaria e do Conselho.

Juventude.br – Qual o extrato político e numérico da Confe-rência?

Danilo Moreira – Esse foi um dos maiores processos participati-vos promovidos pelo governo federal. “Nunca antes na história deste país...” – para citar uma frase famosa – se debateu tanto e com tanta gente a temática ju-ventude. Superamos a marca de 400 mil participantes em uma conferência que foi a primeira de uma política ainda recente (a Secretaria e o Conselho Nacional de Juventude foram criados em 2005). No primeiro mandato do presidente Lula foram realizadas quarenta conferências nacionais, reunindo cerca de dois milhões de participantes. Ou seja: uma média de 50 mil pessoas por conferência. Na 1ª Conferência de Juventude, além de termos

Participantes da Conferência Nacional de Juventude

Entre os delegados à etapa nacional, o sentimento de unidade e os grandes consensos

foram predominantes. Alguns temas não apareceram com a força imaginada ou

apareceram de maneira diferente da que se esperava. O trabalho é um bom exemplo.

Nesse tema o que apareceu com destaque não foi a questão do desemprego e sim a

necessidade de preparação para o mundo do trabalho.

(12)

12

tido 400 mil participantes, foram 1558 etapas preparatórias em todos os estados. Dessas etapas surgiram 4500 propostas e fo-ram eleitos 2 mil delegados para a etapa nacional. Apesar disso, acredito que o resultado mais importante não se mede em nú-meros. Além da ampla participa-ção a Conferência teve também muita força política em suas resoluções e, ao final, todos e todas que dela participaram sa-íram com suas pautas fortaleci-das, com seus movimentos mais preparados e com muita vontade de continuar lutando pelo Brasil e pela juventude.

Juventude.br – Que o papel o Conselho Nacional de Juventu-de pretenJuventu-de Juventu-desempenhar neste próximo período?

Danilo Moreira – O Conselho foi co-organizador da Conferência, ao lado da Secretaria Nacional de Juventude. Por isso nossa responsabilidade para com seus resultados é total. No próximo período o Conselho terá que ser o guardião e o impulsionador das resoluções da Conferência para que as mesmas se tornem questões concretas na agenda das políticas públicas. Os 400 mil participantes da Conferên-cia precisam ter no Conjuve um referencial para sua ação cotidia-na. A minha idéia é que o Conse-lho se concentre imediatamente em duas coisas: a aprovação da PEC da juventude e a divulgação das 22 prioridades aprovadas, em particular nos estados e mu-nicípios. Neste ano comemora-mos os 20 anos da Constituição Cidadã e a provação de uma PEC, reconhecendo a juventude no texto constitucional, teria um simbolismo muito grande para nossa construção democrática, expressando mesmo a conquista de uma geração. Além disso, a aprovação da PEC abre cami-nho para a aprovação do Plano

Nacional de Juventude e para a discussão do Estatuto dos Direi-tos da Juventude, instrumenDirei-tos legais que também tramitam no Congresso Nacional. Com esses projetos caminharemos a pas-sos largos para a efetivação da política de juventude como uma política de Estado. Já a platafor-ma com as 22 prioridades, ao ser apresentada nos estados e muni-cípios servirá para impulsionar o tema nas eleições municipais deste ano, promovendo um ver-dadeiro pacto pela juventude. Um documento político elabo-rado com a participação de 400 mil pessoas tem que ser levado em consideração por todos os governantes e candidatos a pre-feito e vereador. Evidentemente o Conjuve deve continuar de-senvolvendo outras atribuições, como apoiar a criação e o for-talecimento de conselhos pelo país e fazer o controle social das políticas do governo – que é uma das razões de ser dos conselhos. Então, neste próximo período de-vemos articular essas três ques-tões: controle social como algo inerente ao próprio Conjuve, uma questão estratégica que é a aprovação da PEC e uma última que seria a utilização suprapar-tidária, nas eleições municipais, das resoluções prioritárias da Conferência buscando o compro-misso dos candidatos para com essa temática.

Juventude.br – Qual sua apre-ciação sobre a recente renova-ção do CONJUVE?

Danilo Moreira – Nosso conse-lho tem 60 integrantes, 40 da sociedade civil e 20 do Poder Público. Foi criado em 2005 e começou um novo mandato em fevereiro de 2008. Durante estes últimos três anos, o governo foi aprendendo com a experiência e vem atuando melhor. Não só a Secretaria de Juventude, mas os outros órgãos com assento no fórum têm contribuído com mais intensidade, o que é muito bom para as políticas públicas. Quanto à forma de renovação do Conselho, ela só fez fortalecer a legitimidade do Conjuve, porque foi debatida por mais de um ano, aprovada no próprio colegiado e encaminhada pelo governo, além de ser fruto de uma demanda da própria sociedade civil. Para termos uma idéia, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) tem mais de vinte anos e está sendo reformulado ago-ra, à luz da experiência de dois anos do Conselho Nacional de Juventude. O CNDM observou nosso modelo e está se basean-do nele para se renovar. É um bom exemplo para afirmar que fizemos uma aposta correta. A renovação foi boa porque forta-leceu o sentido de um conselho de políticas públicas, com uma participação intergeracional e interinstitucional muito forte, ampliou a participação dos mo-vimentos juvenis e, no final das contas, deu mais legitimidade à participação da sociedade civil,

O Conselho Nacional dos

Direitos da Mulher (CNDM)

tem mais de vinte anos e

está sendo reformulado

agora, à luz da experiência

de dois anos do Conselho

Nacional de Juventude.

O CNDM observou nosso

modelo e está se baseando

nele para se renovar.

Manifestação contra a redução da idade penal na Conferência Nacional de Juventude

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que agora é democraticamente eleita em uma assembléia desse segmento. Além disso, é impor-tante notar que ampliamos a par-ticipação do movimento juvenil mas não abrimos mão da contri-buição das entidades de apoio, e muito menos dos gestores e par-lamentares. É a sinergia entres esses distintos atores políticos que garantirá o avanço das polí-ticas de juventude. Esse desenho preserva o Conselho das inge-rências que poderiam acontecer no caso de um governo que não tivesse compromisso com o di-álogo. Não garante tudo, é bem verdade, mas não é qualquer governo que vai conseguir mexer no Conselho e acabar com o que conquistamos até aqui.

Juventude.br – Que recado você deixa para os participantes da 1ª Conferência Nacional de Ju-ventude?

Danilo Moreira – Cada um tem que assumir para si o compro-misso coletivo com as propos-tas aprovadas. Não importa que seja conselheiro de juventude, gestor público, militante do movimento juvenil ou mesmo um participante que teve na Conferência seu primeiro con-tato com a política. A força e a legitimidade das resoluções é muito grande, mas só terão sentido quando forem incorpo-radas à nossa prática cotidiana. O desafio expresso nesta Con-ferência é na verdade o desafio

Neste ano comemoramos os 20 anos da Constituição

Cidadã e a provação de uma PEC, reconhecendo a

juventude no texto constitucional, teria um simbolismo

muito grande para nossa construção democrática.

de uma geração, que felizmente estamos conseguindo realizar. A oportunidade de debater PPJ num ambiente democrático, de opinar criticamente e ver várias demandas sendo implementa-das já é uma conquista histórica desta geração. Apesar disso, nunca podemos esquecer que a Conferência não é um fim em si mesmo. Ela é parte de um movi-mento muito mais amplo e com-plexo, o qual visa a garantir um conjunto de direitos aos mais de 50 milhões de jovens entre 15 e 29 anos. Agora, saber que conseguimos envolver mais de 400 mil participantes, trazendo para a etapa nacional duas mil e quinhentas lideranças de todas as regiões do país – dos mais variados movimentos e de di-versos estratos sociais, gritando a uma só voz “1, 2, 3, 4, 5 mil a juventude unida vai mudar esse Brasil!” – é algo, além de impressionante, extremamente motivador.

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1

A

pós décadas mantida no esquecimento, a juven-tude brasileira começa finalmente a ganhar espaço na agenda das políticas públicas. Obviamente ainda temos um longo caminho a percorrer, com muitos desafios a superar, mas o primeiro passo para a cons-trução de uma Política Nacional de Juventude foi dado pelo pre-sidente Lula, com a criação, em 2005, da Secretaria Nacional de Juventude, do Conselho Nacio-nal de Juventude (Conjuve) e do Projovem – Programa de Inclusão de Jovens. De lá para cá tivemos conquistas importantes, como o lançamento, em setembro de 2007, do Programa Unificado de Juventude, o novo Projovem, que entra em vigor este ano, e a realização da 1ª Conferência Na-cional de Juventude, em Brasília, no período de 27 a 30 de abril.

De setembro do ano passado a março deste ano, as etapas preparatórias da Conferência mobilizaram, em todo o Brasil, mais de 400 mil jovens das di-versas “juventudes” – estudantil, dos partidos políticos, trabalha-dora urbana e rural, do hip hop e dos skatistas. É importante destacar também a consulta às comunidades tradicionais, com a colaboração de jovens indígenas, quilombolas, ciganos e ribeiri-nhos, entre outros. Ao longo de seis meses, foram realizadas 841 conferências municipais e regionais, 27 estaduais e 689 conferências livres, que foram a

grande inovação desse processo, permitindo que qualquer grupo discutisse o tema e encaminhas-se suas sugestões para o encon-tro em Brasília – que contou com a presença de mais de 2 mil de-legados eleitos. Em todas as eta-pas vivenciamos o interesse e o entusiasmo dos participantes, o que reforça a nossa tese de que o jovem, quando convidado, par-ticipa de forma efetiva da vida política do país.

A Conferência veio reforçar uma das dimensões da política de juventude que é o estímulo à participação, já amplamente

praticado através do Conselho Nacional de Juventude. Com dois terços de sua composição oriundos da sociedade civil, o Conjuve tem exercido papel fundamental na discussão da temática juvenil. Nesse ambien-te democrático, o governo vem mantendo um diálogo perma-nente com a sociedade, em es-pecial com os jovens, que agora têm a oportunidade de apontar suas necessidades e expectati-vas, além de sugerir alternati-vas para as ações governamen-tais em nível federal, estadual e municipal. Beto Cury*

Os muitos desafios da

política de juventude

Políticas

P

úblicas de juventude

Até pouco tempo, em razão do Estatuto da Criança e do

Adolescente as iniciativas alcançavam apenas o jovem

com até 18 anos incompletos. A partir dessa faixa etária,

do ponto de vista da política pública o jovem era inserido

no grupo dos adultos, com direito às políticas universais

sem qualquer reconhecimento de suas especificidades e

peculiaridades.

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Outra dimensão da política juvenil que pretendemos conso-lidar é a da inclusão de milhões de jovens na escola e no mer-cado de trabalho. Apenas para mostrar a gravidade do pro-blema, a Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD) revela que o Brasil possui 4,5 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que não concluíram o ensino fundamental, estão fora da escola e de quaisquer opor-tunidades de emprego. É exata-mente para enfrentar o desafio da exclusão, visando gerar oportunidades que assegurem direitos, que o governo do pre-sidente Lula lançou programas como o Projovem, o ProUni, os Pontos de Cultura, o Programa Segundo Tempo e outras ini-ciativas Desde 2005, mais de R$ 1 bilhão foi investido em programas voltados para a ju-ventude, beneficiando cerca de 800 mil jovens em todo o país. É assim que pretendemos asse-gurar o acesso à educação, aos bens culturais e ao esporte para aqueles que se encontram na fronteira entre a possibilidade de uma vida plenamente cida-dã e os riscos de, por absoluta ausência de oportunidades, ser cooptados pela criminalidade.

Com o Projovem Integrado, o governo pretende ampliar sig-nificativamente esse número, chegando, até 2010, a mais de 3,5 milhões de jovens, ofere-cendo formação profissional, elevação de escolaridade e desenvolvimento humano. Des-sa forma eles terão melhores condições de encarar o merca-do de trabalho e, com o apoio de outros programas, como o Proeja, concluir o ensino médio profissionalizante, podendo chegar à universidade por meio do Prouni ou estimulados pela ampliação de vagas nas institui-ções públicas federais.

Outro aspecto relevante da Política Nacional de Juventude é a dimensão institucional, com a multiplicação de espaços espe-cíficos de juventude em âmbito federal, estadual e municipal. Embora já tenhamos avançado muito, com a criação de conse-lhos, secretarias ou coordena-dorias de juventude em vários estados e municípios, não te-mos ainda uma cultura juvenil consolidada entre os agentes políticos e gestores públicos. Até pouco tempo, em razão do Estatuto da Criança e do Adoles-cente as iniciativas alcançavam apenas o jovem com até 18 anos incompletos. A partir dessa faixa etária, do ponto de vista da política pública o jovem era inserido no grupo dos adultos, com direito às políticas univer-sais sem qualquer reconheci-mento de suas especificidades e peculiaridades. A consolidação desses espaços vai permitir a

articulação dos respectivos go-vernos para implementação de uma política juvenil em todos os níveis federativos.

Dimensão internacional Uma outra dimensão im-portante é a internacional, que amplia as nossas cooperações, com a troca de experiências e intercâmbios com outros países. O Brasil está aderindo à Organi-zação Ibero-Americana de Juven-tude (OIJ), que envolve Portugal, Espanha e os países da América Latina. Com sede na Espanha, onde funciona a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), a OIJ é o único organismo multilateral que trata do tema ju-ventude no mundo. Fortalecer a Reunião Especializada de Juven-tude do Mercosul (REJ) também é fundamental para consolidarmos o tema na agenda da integração dos Países do Cone Sul.

Com o Projovem Integrado, o governo pretende ampliar

significativamente esse número, chegando, até 2010, a mais

de 3,5 milhões de jovens, oferecendo formação profissional,

elevação de escolaridade e desenvolvimento humano.

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1

*BEtO Cury é Secretário Nacional de

Juventude da Secretaria Geral da Presidência da República.

Por fim, temos a dimensão legal, que é imprescindível para transformar a política de juventu-de em uma política juventu-de Estado, ou seja, em uma política não-sujeita à maior ou menor sensibilidade social dos governantes. Precisa-mos assegurar que, independen-temente de quem esteja no po-der, o tema integre a agenda das políticas públicas com o devido respaldo jurídico. Nesse sentido é muito importante a aprovação da

Fortalecer a Reunião Especializada de Juventude do

Mer-cosul (REJ) também é fundamental para consolidarmos o

tema na agenda da integração dos países do Cone Sul.

Proposta de Emenda Constitucio-nal – PEC, inserindo a juventude no texto da Constituição Federal, no capítulo dos Direitos e Garan-tias Fundamentais. É essencial também o debate e a votação do Plano Nacional de Juventude (PL 4530/2004), que está em dis-cussão no Congresso Nacional e estabelece um conjunto de metas sobre os direitos dos jovens que o país deve alcançar nos próxi-mos dez anos.

Acreditamos que, consolidan-do essas dimensões – institucio-nal, legal, participativa, interna-cional e inclusiva –, poderemos avançar rumo a uma política de Estado de/para/com a juventu-de, possibilitando aos jovens exercerem o papel de protago-nistas do projeto de desenvolvi-mento do país. Esse é o grande desafio da Secretaria Nacional de Juventude e estamos otimistas a respeito da possibilidade de darmos passos ainda mais lar-gos nos próximos três anos para concretizar esse objetivo, sem o qual jamais conseguiremos cons-truir uma democracia plenamen-te republicana no Brasil.

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Corumbá na trilha das políticas

públicas de juventude

Márcio Cavasana*

e

x

P

eriências em

P

olíticas

P

úblicas de juventude

L

ocalizada no centro do pan-tanal sul-mato-grossense, na fronteira com a Bolívia, a cidade de Corumbá (MS) tem fei-to acontecer na área de políticas públicas de juventude. Lá foram realizadas, no processo da Con-ferência Nacional de Juventude, sete conferencias livres, envol-vendo a participação de jovens de diversos segmentos. Em ape-nas um mês foram mobilizados, nesse processo, cerca de 1.000 (mil) jovens de 15 a 29 anos, de um total de 20.726 registrados pelo IBGE.

As conferências foram coor-denadas pela Gerência de Ações para a Juventude, órgão da Pre-feitura Municipal de Corumbá. Além de enviar suas propostas direto para a Conferência Nacio-nal, os jovens que participaram do processo contribuíram para elaborar um Plano Municipal, que irá definir as políticas a se-rem aplicadas de acordo com as demandas identificadas.

As conferências livres fizeram parte da Conferência Nacional da Juventude e serviram para o en-caminhamento de propostas di-retamente para a etapa nacional. Para aqueles que souberam de sua importância foi um momen-to ímpar na discussão sobre po-líticas públicas para a juventude de nossa cidade e do país. To-dos os jovens que participaram contribuíram para a formulação de propostas que foram poste-riormente avaliadas e discutidas durante a Conferência Nacional.

O resultado dessas sete eta-pas mostrou que era necessário ouvir o que os jovens dos mais diferentes segmentos da socie-dade, inclusive na zona rural, tinham a acrescentar às pautas do governo. Todos têm os seus anseios e puderam expressar seus desejos e preocupações.

Durante os meses de feverei-ro e março, a prefeitura, através das conferências, levou o direi-to à cidadania para a juventude da zona rural, tendo como base a região do Taquaral e o Distrito de Albuquerque – envolvendo sete assentamentos no meio do Pantanal sul-mato-grossense. Tivemos etapas voltadas à par-ticipação de mulheres jovens, de jovens de unidades educa-cionais de internação, de jovens católicos e evangélicos, de jo-vens assistidos por programas e das juventudes partidárias.

As metodologias foram variadas: houve exibição de curtas-metragens sobre o prota-gonismo juvenil, linguagem de sinais, atrações teatrais, grupos

de dança do movimento hip-hop e depoimentos que destacaram a importância dos assuntos e dados do documento-base da Conferencia Nacional.

Durante a abertura da Confe-rência Municipal de Juventude, o Prefeito Ruiter Cunha de Oli-veira assinou, na presença do Coordenador Nacional da Confe-rência, Danilo Moreira, a mensa-gem do executivo que institui o passe-livre para os estudantes, abrindo a Conferência com mais uma conquista histórica da ju-ventude pantaneira.

Em apenas um mês foram mobilizados, nesse processo,

cerca de 1.000 (mil) jovens de 15 a 29 anos, de um total

de 20.726 registrados pelo IBGE.

1: Conferência Livre das Mulheres, uma das etapas da Conferência de Juventude em Corumbá

2: Etapa da Conferência Municipal de Juven-tude de Corumbá dedica a juvenJuven-tude rural. 3: Da esquerda para a direita: Márcio Cavasana, Gerente de Juventude de Corumbá; Danilo Moreira, presidente do Conjuve, e Ruiter Cunha, prefeito de Corumbá.

*MarCIO CavaSana é Gerente de Juventude

de Corumbá e Secretário-executivo do Fórum Estadual de Gestores Municipais de Juventude do Mato Grosso do Sul.

1

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Tivemos etapas voltadas à participação de mulheres

jovens, de jovens de unidades educacionais de

internação, de jovens católicos e evangélicos, de jovens

assistidos por programas e das juventudes partidárias.

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Voto aos 16: vinte anos de uma

grande conquista da juventude

Edmilson Valentim*

Par

tici

Pação

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este ano de 2008 comple-tamos 40 anos de uma verdadeira ebulição revo-lucionária na história brasileira e mundial. O auge do movimento aconteceu em 1968, quando jo-vens de todo o mundo saíram às ruas protestando contra o capita-lismo, a Igreja, a Guerra do Vietnã e todas as formas de supressão de direitos e conquistas democrá-ticas. Na América Latina, o Brasil e outros países viviam “anos de chumbo”, governados por ditadu-ras militares. As autoridades ten-tavam conter os protestos estu-dantis utilizando-se da violência, mas apesar de toda a repressão o movimento parecia cada vez mais vigoroso. Nesse mesmo contexto, há exatos 40 anos, era assassinado o estudante Edson Luís de Lima Souto, aos 16 anos, no Rio de Janeiro. Sua morte ge-rou uma onda de mobilizações e greves que logo se espalhou por todas as universidades do país, transformando-o em mártir da luta contra a ditadura militar.

Já na década de 80, com o retorno às liberdades democráti-cas em nosso país, nosso movi-mento estudantil foi lentamente recuperando sua importância na política nacional. Minha filiação no PCdoB aconteceu justamente nessa década, em 1983. Em 1987 fui eleito o mais jovem deputado federal do país, com apenas 24 anos. Participar da Assembléia Nacional Constituinte foi uma das maiores realizações de mi-nha vida. Até hoje me recordo desse momento histórico com emoção. Foram 18 meses de in-tenso trabalho na construção de uma nova Constituição, em meio a uma ativa participação popu-lar, onde a política foi exercida em seu sentido mais pleno e o país lançava os pilares que iriam pautar a democracia nascente.

Durante a Constituinte, travei grandes lutas em defesa dos tra-balhadores. Não houve embate político de relevância do qual não tenha participado, ajudando a garantir em nossa Constitui-ção o pleno direito de greve, a licença-maternidade de 120 dias, o turno de trabalho de 40 horas semanais, a estabilidade no emprego e a manutenção do monopólio estatal do petróleo. Dentre todos esses embates, po-rém, existe um do qual me orgu-lho muito de ter feito parte: o de assegurar o direito de voto aos jovens a partir dos 16 anos.

Apesar de ainda muito jo-vem naquela época, eu já tinha a consciência de que o voto aos 16 seria uma conquista inédita e muito importante para a juven-tude brasileira. Não foi à toa que, naqueles tempos de Constituinte, corredores, gabinetes e galerias do Congresso Nacional enche-ram-se de jovens reivindicando o direito de participar das decisões do país. Nessa conquista, preciso fazer um registro que considero fundamental. Trata-se da partici-pação das entidades juvenis – da

UNE, da UBES e, particularmente, da União da Juventude Socialista –, que, de forma organizada e de-monstrando grande poder de ar-ticulação, participaram de todas as etapas que culminaram com a aprovação da proposta.

Engana-se quem pensa que o jovem brasileiro não possui maturidade e capacidade para exercer esse direito. Possui sim. Na história brasileira, nossa ju-ventude sempre teve importante participação nos momentos mais cruciais. Eles lutaram contra a ditadura militar, participaram da campanha “O petróleo é nosso!”, das manifestações pelas “Diretas Já!” e foram às ruas com suas caras pintadas, pedindo o impe-achment do presidente Fernando Collor. A história do Brasil não seria a mesma se não fosse a atu-ação da juventude e dos estudan-tes. Sinto-me orgulhoso de ter participado dessa luta e ajudado a fortalecer, com isso, nossa ain-da jovem democracia.

Militantes do movimento juvenil estendem faixa pelo voto aos 16 anos no Plenário da Assembléia Nacional Constituinte. Brasília, 1988

* EDMIlSOn valEntIM é Deputado Federal

(19)

Ensino médio: o que

querem os jovens?

Ana Paula Corti*

e

ducação

O

ensino médio integra a educação básica, sen-do o nível sen-do sistema educacional que atende majo-ritariamente aos adolescentes e jovens. Essa especificidade torna-se porém, muitas vezes, invisível diante de políticas públicas que expandiram a co-bertura do ensino médio em um contexto de baixo investimento, e a partir da infra-estrutura do ensino fundamental. Para se ter uma idéia, a rede estadual de São Paulo, responsável por 85,5% das matrículas no ensino médio, possui apenas 164 esco-las exclusivas para atendimento desse nível de ensino, no inte-rior de uma rede com mais de 5.000 escolas.

Os anseios e expectativas do público jovem que hoje tem acesso ao ensino médio não es-tão mais restritos à entrada na universidade, como ocorria na época em que sua clientela era formada por uma minoria per-tencente a grupos sociais econo-micamente favorecidos. Durante boa parte de nossa história o ensino médio cumpriu papel propedêutico, ou seja, prepara-tório para os estudos superiores. Já hoje em dia a percepção geral, tanto da população quanto de especialistas em educação, é a de que o ensino médio não tem objetivos claros, sendo difícil perceber seu sentido social e seu papel na vida dos jovens.

A definição de políticas pú-blicas mais adequadas e exito-sas para o ensino médio passa hoje por esse debate sobre sua identidade, seu currículo míni-mo e seus objetivos. Definições que, acreditamos, devem estar amparadas em estudos, pesqui-sas e conhecimentos acumu-lados, mas também no debate com a sociedade.

Como organização da so-ciedade civil que atua para a construção de uma democracia participativa, a Ação Educati-va entende que seu papel é, entre outros, o de fomentar esse debate de forma pública, consultando os próprios jo-vens e a comunidade escolar, trazendo suas experiências e expectativas. Foi esse o objetivo do Projeto Jovens agentes pelo direito à educação: mobilizar comunidades escolares em tor-no da discussão sobre “o ensitor-no médio que queremos”.

Participou desse processo uma rede de 5 escolas públicas da cidade de São Paulo, através de 20 jovens a elas ligados, que foram capacitados pela Ação Educativa para promover pes-quisas e processos de diálogo dentro das escolas. As ações foram realizadas em 2007, e a mais importante delas foi a re-alização de grupos de diálogo reunindo estudantes e diversos segmentos escolares, inspirados numa metodologia canadense denominada “Choicework”.

Foram realizados ao todo 8 grupos de diálogo envolvendo 177 pessoas, sendo 112 estudan-tes de ensino médio e 65 pesso-as da comunidade escolar (pro-fessores, diretores, funcionários, coordenadores pedagógicos, familiares de alunos, superviso-res e dirigentes de ensino). Cada diálogo reuniu as pessoas ao longo de 7 horas de trabalho, em que se debruçaram sobre duas questões centrais:

A primeira pergunta visava ao levantamento das necessidades de aprendizagem identificadas pelos jovens e outros segmentos escolares, para que, a partir de-las, fosse construída uma refle-xão sobre os rumos necessários para o ensino médio. Os partici-pantes eram reunidos em peque-nos grupos, que apresentavam

1ª EtAPA: O que os jovens precisam aprender? 2ª EtAPA: Que ensino médio queremos?

Os anseios e expectativas do público jovem que hoje tem

acesso ao ensino médio não estão mais restritos à entrada

na universidade.

Jovens fazem grafite no muro de escola em Vaspesiano (MG)

(20)

20

os resultados de seu trabalho numa plenária. A plenária tinha a tarefa de construir consensos a partir dos elementos trazidos pelos grupos, verificando os pontos principais nas apresen-tações e buscando identificar prioridades.

Verifiquemos no quadro abai-xo quais as aprendizagens mais importantes para a vida dos jovens, conforme resultado dos grupos de diálogo:

O quadro traz uma síntese dos resultados das plenárias, e indica os pontos que aparece-ram com mais freqüência e os que obtiveram maior grau de convergência e consenso. Chama atenção, de imediato, a demanda por uma escola capaz de ensinar aos jovens o próprio “ofício de aluno”, ou seja, o de comportar-se e agir de forma adequada ao contexto escolar, desenvolvendo habilidades e atitudes neces-sárias a um bom desempenho como estudante. Alguns dos as-pectos citados são “ter vontade de aprender”, “aprender a gostar de aprender”, “levar a sério os estudos”, “aprender a expres-sar suas idéias e opiniões na escola”, “vencer a timidez para dialogar com as autoridades escolares e reivindicar seus di-reitos”, “aprender a trabalhar em grupo”, “aprender com os erros”, “exercitar a iniciativa, escolhas e tomada de decisões”, “aprender a ‘ouvir’ a escola” e “ser persis-tente diante dos obstáculos”.

O QUE OS JOVENS PRECISAM APRENDER?

Aprender a ter atitude e independência quanto aos estudos, à aprendizagem e às relações interpessoais e sociais

Obter informações e processos de aprendizagem que possam ampliar o entendimento sobre o mercado de trabalho (orientação profissional/ vocacional)

Aprender por meio de processos lúdicos, dinâmicos e práticos Aprender a ser um cidadão participativo

Ser estimulado e incentivado em relação aos estudos por governo, escola e família

Observamos que, mesmo na etapa final da educação básica, os estudantes ainda precisam ser intencionalmente apoiados para construir esse papel de aluno. Isso exige um novo olhar para o ensino médio, que fica muitas vezes restrito à trans-missão de conteúdos, com baixa intervenção sobre os aspectos comportamentais e sobre a atitu-de dos estudantes. Na verdaatitu-de, supõe-se erroneamente que eles já chegam “prontos” para apren-der. Isso é reiterado quando os jovens indicam a necessidade de serem incentivados a estudar.

Outro ponto crucial e que se desdobra diretamente no plano curricular é a demanda para que a escola promova a orientação profissional. Os estudantes, bem como outros segmentos escola-res, principalmente os profes-sores, propõem uma formação que possibilite o contato com o mundo do trabalho e das profis-sões, o contato com as carreiras universitárias e instituições de

ensino superior e o desenvolvi-mento de posturas requeridas pelo mercado de trabalho. Se-gundo os participantes, a prepa-ração da escola para o mundo do trabalho não deve estar centrada na formação profissionalizan-te, mas na discussão sobre as características do mundo do trabalho e das profissões, no contato com as oportunidades de formação profissional – sejam elas acadêmicas ou não –, na disponibilização de informações e das oportunidades existentes, na reflexão sobre os percursos e escolhas individuais e no deline-amento de projetos de inserção profissional.

Revela-se dessa forma um aspecto novo para o debate so-bre o currículo de ensino médio. “Preparação para o trabalho não é sinônimo de educação pro-fissional ou formação técnica” – esse parece ter sido o recado dado. Muito embora exista uma forte demanda por educação profissional, na percepção dos estudantes essa não deve ser a tarefa das escolas de ensino mé-dio regular, e sim de instituições específicas. Cabe sim, à escola regular, promover aproxima-ções com o mundo do trabalho apoiando os jovens em seus pro-jetos de inserção profissional, incluída aí a reflexão sobre a uni-versidade e o prosseguimento dos estudos em nível superior.

Mesmo na etapa final

da educação básica, os

estudantes ainda precisam

ser intencionalmente

apoiados para construir

esse papel de aluno. Isso

exige um novo olhar para o

ensino médio.

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* ana paula COrtI é Diretora de programas

da ONG Ação Educativa; coordenou o Projeto Jovens agentes pelo direito à educação.

Qual o ensino médio que queremos?

Na 2ª etapa os grupos pude-ram deter-se sobre essa questão. Como subsídio para a troca de idéias, foi por todos realizada a leitura do caderno de trabalho “Que ensino médio queremos?”, especialmente elaborado para essa finalidade. O caderno de trabalho trazia três caminhos possíveis para o ensino médio:

Caminho 1: O ensino médio deve formar para o trabalho Caminho 2: O ensino médio deve formar para o ingresso no ensino superior

Caminho 3: O ensino médio deve formar para a vida e para a cidadania

Os grupos tinham como al-ternativas escolher um caminho, mesclar mais de um caminho, criar um novo caminho ou con-cluir que nenhum deles era adequado. Cada caminho era caracterizado a partir de pontos favoráveis e desfavoráveis, para que as pessoas ponderassem as possíveis conseqüências e riscos de sua escolha. Vejamos abaixo a síntese do resultado das plená-rias finais:

Privilegiar a formação para a vida e para a cidadania, considerando que ela abarca a preparação para o mundo do trabalho e para o prosseguimento dos estudos na universidade (junção dos 3 caminhos com ênfase no caminho 3)

Orientação profissional no currículo escolar do ensino médio

Metodologias mais ativas, visando ao desenvolvimento das potencialidades dos alunos, à sua motivação para os estudos e à maior proximidade da escola com a realidade

QUE ENSINO MÉDIO QUEREMOS?

A tônica dos consensos foi a junção dos 3 caminhos apresen-tados, mostrando que cada um deles tem uma importância em si, que não deve ser desconside-rada. Mas, ao longo dos diálogos, a caracterização e o significado de cada um desses caminhos foram sendo reconstruídos pelos participantes, sendo ao final en-fatizada a formação para a vida e a cidadania envolvendo duas preocupações básicas: uma para com a própria formação dos jo-vens como aprendizes (embora estejam na última etapa da edu-cação básica) e outra para com a sua formação como trabalhado-res (o que envolve os estudos em nível superior). Essa formação exigiria uma inovação metodoló-gica, pois o modelo atual é visto como incompatível para a forma-ção do jovem como cidadão.

A demanda bastante acentua-da, e que merece especial atenção da sociedade e dos formuladores de políticas públicas, é por orien-tação profissional nas escolas pú-blicas. O apoio para a elaboração de escolhas profissionais deve envolver a disponibilidade de informações sobre o mundo do trabalho, as diferentes carreiras, os cursos universitários, oportu-nidades de estágio, entre outras, e também a chance de refletir sobre si mesmo dentro deste con-texto social, ponderando as pos-sibilidades e limites das carreiras como base para a construção de escolhas pelos jovens.

Vale destacar abaixo trechos de registros feitos pelos jovens agentes formados pela Ação Edu-cativa sobre as conversas dos es-tudantes nos grupos de diálogo:

A escola que querem está asso-ciada à idéia de ter chances de construir um projeto profissional ao longo do ensino médio, ins-trução esta que atualmente não recebem. Que aprendam a cons-truir, planejar e projetar uma escolha profissional melhor. Através desses requisitos as pes-soas mais pobres teriam mais chances de entrar nas univer-sidades, porque estariam mais esclarecidos a respeito daquilo que querem fazer profissional-mente.

Os alunos ficariam mais moti-vados para estudar e concluir o ensino médio, pois identifica-riam aquilo de que gostam sem muitas frustrações. Propuseram a junção dos três caminhos.

(Relatório de Heidy/Jovem Agente)

Aline2 fala que a escola deveria

fornecer noções sobre cada cur-so da faculdade.

Caio diz que isso se chama praticamente orientação profis-sional.

Márcia pergunta para Caio se ele, que já estava no 3° ano, sabia o que iria fazer na facul-dade. Caio responde que não e Marcia fala que a escola de-veria mostrar que cursos seria legal ele fazer.

Aline fala que na escola não de-veriam só aprender como se tor-nar um profissional, mas tam-bém o que cada profissional faz.

(Relatório Gleicy/Jovem Agente)

Essa é a nosso ver a grande novidade dos grupos de diálo-go: os jovens querem do ensino médio uma formação que lhes ajude a traçar seus projetos pro-fissionais.

1 O Ibase e o Instituto Polis utilizaram de forma

pioneira essa metodologia no Brasil em 2005, em pesquisa nacional intitulada “Juventude Brasileira e Democracia”. A Ação Educativa coordenou a pesquisa na região metropolitana de São Paulo, quando tomou contato com o rico potencial desse método.

2 Nomes fictícios.

NOTAS

Essa é a nosso ver a

grande novidade dos

grupos de diálogo:

os jovens querem do

ensino médio uma

formação que lhes ajude

a traçar seus projetos

profissionais.

(22)

22

Janeiro

5 – O Partido Comunista da tchecoslováquia tem novo líder, Alexandre Dubcek;

30 – A guerrilha vietcongue inicia a ofensiva do tet;

Fevereiro

16 a 18 – Greve dos

trabalhadores da Cobrasma em Osasco (SP);

Março

22 – Estudantes franceses ocupam a Universidade de Nanterre;

28 – O estudante Édson Luís de Lima Souto é assassinado em conflito com a polícia durante uma manifestação pela reabertura do restaurante popular “Calabouço”;

29 – Cerca de 60 mil pessoas participam do enterro do estudante Édson Luís. Nos dias seguintes dezenas de manifestações acontecem em todo o país por conta do assassinato do estudante;

Cronologia dos acontecimentos

30 – Ministro da Justiça determina que as passeatas estudantis sejam

reprimidas;

abril

1 – Prisões e mortes marcam os protestos estudantis cada vez mais freqüentes;

4 – As missas de sétimo dia celebradas para Édson Luís na Igreja da Candelária, no Rio, são violentamente reprimidas. O líder negro e pacifista Martin Luther king é assassinado na cidade de Memphis;

5 – O presidente Costa e Silva proíbe as atividades da Frente Ampla e manda apreender livros e jornais; 16 a 24 – Greve de Contagem paralisa 7 mil operários metalúrgicos;

17 – 68 municípios são considerados áreas de segurança e proibidos de realizar eleições municipais; 20 – Atentado a bomba contra o jornal O Estado de São Paulo;

(23)

Maio

1° – Governador Abreu Sodré (SP) é apedrejado durante as comemorações do dia do trabalhador;

11 – Aproximadamente 60 barricadas são erguidas no Quartier Latin, em Paris, pelos estudantes, em protesto pela reforma no sistema de ensino francês;

13 – A Universidade de Sorbonne é tomada pelos estudantes. Finalizado o relatório do General Meira Mattos sobre a situação do movimento universitário brasileiro;

14 – Censurados 15 minutos da estréia do programa “Canto Geral”, de Geraldo Vandré, pela tV

Bandeirantes;

16 – Bomba explode na porta da Bolsa de Valores de São Paulo;

22 – Sancionada a lei que incrimina menores de 18 anos envolvidos em ações contra a segurança nacional. UBES faz manifestação em São Paulo contra a Portaria n° 31, que limita o trabalho do professor e institui mensalidades em algumas universidades públicas. Durante um mês várias manifestações são desencadeadas no país por professores e estudantes;

Junho

16 – Polícia francesa toma o Quartier Latin e a Sorbonne.

19 – Polícia militar e DOPS reprimem concentração universitária no Ministério da Educação no Rio. Quarenta pessoas saem feridas e 48 são detidas; 20 – Estudantes ocupam a reitoria da UFRJ e fazem assembléia. tirados a força pela polícia, muitos são presos e as aulas são suspensas por tempo indeterminado;

21 – Conhecida como “sexta feira sangrenta”, passeata por mais verbas para a educação acaba com repressão e mortos; 22 – Armas são roubadas do Hospital Militar do Cambuci, em São Paulo.

26 – Realiza-se, com a permissão do governo estadual do Rio, a “Passeata dos 100 mil”,

manifestação contra o regime militar organizada por estudantes, intelectuais, artistas e trabalhadores. Um carro bomba explode no QG do 2° Exército, matando o soldado Mário Kozel Filho;

Julho

1° – No Rio, militantes do grupo revolucionário COLINA (Comando de Libertação Nacional) matam, por engano, o Major alemão Edward von Westernhagen;

2 – O presidente Costa e Silva recebe comissão de estudantes e intelectuais formada na Passeata dos 100 mil;

4 – Costa e Silva sanciona a lei que declara 68 municípios como de interesse da segurança nacional; 5 – Ministro da Justiça Gama Filho proíbe qualquer tipo de manifestação no país;

11 – Costa e Silva propõe Estado de Sítio caso as manifestações estudantis continuem;

16 a 18 – 15 mil metalúrgicos participam da greve de Osasco (SP);

17 – Costa e Silva ratifica a proibição das manifestações;

18 – Membros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) invadem e depredam o teatro Ruth Escobar, em São Paulo, além de espancar o elenco da peça “Roda Viva”;

19 – A 9ª Assembléia da CNBB condena a falta de liberdade no país e faz apelo à não-violência; 22 – Atentado a bomba contra a sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa);

Referências

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