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Revista Paulista de Pediatria ISSN: Sociedade de Pediatria de São Paulo Brasil

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Revista Paulista de Pediatria

ISSN: 0103-0582

rpp@spsp.org.br

Sociedade de Pediatria de São Paulo Brasil

Ciaccia, Maria Célia C.; Baldacci, Evandro Roberto

Uso de medicamentos por alunos do ensino fundamental no Município de Santos Revista Paulista de Pediatria, vol. 23, núm. 4, diciembre, 2005, pp. 170-176

Sociedade de Pediatria de São Paulo São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406038914003

Como citar este artigo Número completo

(2)

Uso de medicamentos por alunos do ensino fundamental no

Município de Santos

Use of medications by elementary schools students in the Municipality of Santos

Maria Célia C. Ciaccia1, Evandro Roberto Baldacci2

1Mestre em Ciências pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo, docente da Disciplina de Pedia-tria da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos

2Professor Livre Docente do Departamento de Pediatria da Universidade

de São Paulo, Professor Titular de Pediatria da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos

Endereço para correspondência: Maria Célia C. Ciaccia

Rua Ceará, 31, apto. 81 CEP 11065-430 – Santos/SP E-mail: ciaccia@uol.com.br Recebido em: 1/6/2005 Aprovado em: 4/10/2005 RESUMO

Objetivo: Analisar o uso de medicamentos por alunos de

uma escola privada localizada na orla da praia e de duas escolas públicas situadas na zona noroeste, no Município de Santos.

Métodos: Estudo descritivo relativo ao uso de

medica-mentos por alunos matriculados da 1a à 6 a série do ensino

fundamental de duas escolas públicas e uma privada do Mu-nicípio de Santos. Os dados referentes ao período de estudo, de abril a novembro de 2001, foram coletados por meio de questionários aplicados aos alunos e seus responsáveis.

Resultados: Dos alunos que responderam aos

questio-nários, 33,9% utilizaram algum tipo de medicamento.Os medicamentos mais empregados foram analgésicos/antitér-micos/antiinflamatórios não hormonais e antibióticos/an-tifúngicos. Houve uma tendência de os alunos das escolas públicas usarem mais analgésicos/antitérmicos/antiinflama-tórios não hormonais e os da escola privada utilizarem mais antialérgicos e homeopatia. O principal motivo alegado para a utilização de medicamentos foi infecção de vias aéreas superiores. Dos medicamentos usados, 25,4% não foram prescritos por médicos. Na escola privada, a maior parte dos medicamentos foi adquirida com recursos próprios ou prove-nientes do convênio. Nas escolas públicas, os medicamentos foram obtidos, em maior proporção, sem ônus, nos postos de saúde e pronto-socorros, ou adquiridos com recursos próprios ou do convênio.

Conclusões: O consumo de medicamentos por alunos

do ensino fundamental foi elevado tanto na escola privada quanto nas escolas públicas, havendo um consumo elevado de fármacos não prescritos pelo médico.

Palavras-chave: Uso de medicamentos, escola,

auto-medicação.

ABSTRACT

Objective: To analyze the use of medications among

students from a private school located at seafront and two public schools located at Northwest zone in the Municipality of Santos.

Methods: This is a descriptive study from a

prospecti-ve surprospecti-vey of data informed by children and their parents, regarding the use of medication by students from first to sixth grade of two public and one private elementary schools, enrolled from April to November, 2001.

Results: In the studied schools, 33.8% of the

stu-dents reported that they took some kind of medication. There was a trend of public school students to use more analgesics/antipyretics/non-steroidal antiinflammatories and the private school ones to use more antiallergics and homeopathies. The most employed drugs were analgesics/antipyretics/non-steroidal antiinflamatories and antibiotics/antifungals. The most reported reason for taking medications was respiratory tract infection. At least 25,4% of the medications consumed were not prescribed by physicians.

Conclusions: Use of medications was high among

pri-vate school students as well as the public school ones. Most medicines were not prescribed by doctors. Private school students got the medications mainly by buying with their own resources or by health insurance, while public school students got the medications free at health clinics/emergency rooms or buying them with their own resources.

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Maria Célia C. Ciaccia et al.

Introdução

Os estudos sobre o uso de medicamentos apontam diversos problemas na seleção e prescrição dos fármacos(1-4).

A utilização de medicamentos é influenciada pelos conhe-cimentos médicos sobre a doença e a droga a ser empregada e pelos conhecimentos não médicos, relacionados ao médico ou ao paciente e à família(5-8). Algumas destas influências são

comentadas a seguir.

Quando a indústria farmacêutica tenta controlar o con-sumo de medicamentos e as leis que controlam a produção, distribuição, venda e utilização de alguns fármacos, vários fatores podem influenciar as prescrições médicas e induzir à automedicação(5,9-12).

Os aspectos sociológicos, culturais, psicológicos e eco-nômicos podem exercer influência na utilização de medica-mentos. Sabe-se que as percepções e os conceitos da família sobre a doença são capazes de influenciar a prescrição médica, dependendo da relação médico-paciente(7,8,13).

Dentro de um contexto sociocultural, determinando o que significa doença e medicamentos para pacientes e médicos, é possível entender os problemas mais freqüentes na utilização de drogas em países do terceiro mundo: a automedicação, a prescrição de medicamentos não efetivos ou não necessários e a falha para seguir o esquema completo da medicação prescri-ta. Por exemplo, os pacientes, ao contrário dos médicos, não estão preocupados com os problemas biológicos, anatômicos, fisiológicos ou bioquímicos, mas sim como os sintomas vão afetar suas atividades cotidianas(6).

Obstáculos para confirmar o diagnóstico podem influen-ciar a prescrição do médico, como ocorre com o uso dos an-timicrobianos. Prober e Gold (1980)(14) referem que o medo

de não diagnosticar uma infecção bacteriana leva o médico ao uso abusivo de antibióticos.

A disponibilidade e o controle no uso de fármacos podem também influenciar na prescrição dos medicamentos(15).

A formação e a atualização dos profissionais de saúde são consideradas fatores importantes que influenciam a prescrição de fármacos. Estudos demonstram que os métodos educa-cionais para melhorar a decisão clínica do médico reduzem o uso inapropriado de fármacos(2,4,16-18).

Dados disponíveis sobre o uso de medicamentos em crianças apontam altos índices de utilização(2,3,19-21), apesar de

ainda ser escassa a monitoração dos problemas relacionados à sua administração em crianças(4).

Na cidade de Santos, com 417.777 habitantes e recursos de assistência médica centrados no Serviço Único de Saúde e

convênios, não existe uma avaliação do uso de medicamentos em crianças em idade escolar. Suspeita-se que ocorram os mesmos problemas existentes em outras regiões, mesmo ha-vendo um acesso relativamente fácil aos serviços de saúde. Devido à escassez de informações sobre consumo e prescri-ção de medicamentos no nosso meio e à menor procura pelo atendimento médico por parte dos pais de crianças maiores de seis anos de idade(22), julgamos importante identificar o

padrão de consumo de medicamentos, quais os fármacos mais utilizados e quais as morbidades responsáveis por tal consumo nessa faixa etária.

Neste contexto, o objetivo geral do presente estudo foi analisar o uso de medicamentos por alunos de duas escolas públicas e uma privada no Município de Santos, no período de abril a novembro de 2001. O objetivo específico foi com-parar o perfil de consumo de medicamentos entre alunos de ensino fundamental de duas escolas públicas e uma escola privada em relação à classificação farmacológica, indicações de uso, autor da prescrição e fonte de recursos para aquisição do medicamento consumido.

Método

Estudo descritivo, prospectivo sobre consumo de medica-mentos por alunos de duas escolas públicas e uma privada, matriculados da 1ª. à 6ª. série do ensino fundamental. A coleta de dados foi realizada de abril a novembro de 2001, excluindo-se o mês de julho. Todos os procedimentos foram aprovados pela Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa da Diretoria Clínica do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 25 de outubro de 2001.

As escolas incluídas, após autorização oficial das di-retoras, foram o Colégio Presidente Kennedy, escola privada situada na orla, a EE Dr. Paulo Filgueiras Junior e a EMEF Profa. Maria de Lurdes Borges Bernal, escolas estadual e municipal, respectivamente, situadas na zona Noroeste, periferia da cidade. A escolha das escolas foi feita com base na diferença de níveis socioeconômicos en-tre alunos que freqüentavam as escolas públicas e a escola privada, inferida pela diferença na taxa de mortalidade infantil (orla: 10,7/1000 nascidos vivos; zona noroeste: 20,1/1000 nascidos vivos). Foram incluídos no estudo 1.051 alunos, dos quais 809 estudavam nas escolas públicas e 242 na escola privada.

Santos possui 124.244 crianças e adolescentes com idade entre 0 e 19 anos de idade, ou seja, 29,8% dos 417.777

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habitantes, sendo 28.316 habitantes de 5 a 9 anos (6,8%) e 34.503 de 10 a 14 anos (8,3%). O número de alunos matri-culados nas escolas incluídas nesta pesquisa representa 1,7% dos habitantes entre 5 e 14 anos do Município de Santos.

A coleta de dados foi realizada com o auxílio das di-retoras, orientadoras e coordenadoras das escolas que participaram do estudo. Após processo de sensibilização, foram prestados esclarecimentos a todas as diretoras, coor-denadoras e professoras das três escolas participantes sobre os objetivos da pesquisa e a forma de preenchimento dos formulários para coleta de dados. Em reunião feita no início do ano letivo com os pais dos alunos, após esclarecimento sobre a pesquisa, foi recolhido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado.

Os alunos foram avisados sobre a necessidade de informar as professoras sempre que recebessem qualquer tipo de me-dicamento durante o período do estudo e solicitados a levar os formulários para responderem em casa, com a ajuda dos responsáveis. Os pais também foram informados, em reunião, sobre a necessidade de orientarem os filhos a comunicar a professora quando utilizassem qualquer tipo de medicamento e sobre o preenchimento dos formulários.

O diagnóstico clínico considerado neste estudo foi aquele referido pelo usuário do medicamento, não sendo seguida nenhuma classificação pré-existente. Entretanto, os casos de diagnósticos referidos como resfriado, sinusite, rinite ou gri-pe foram agrupados como infecções de vias aéreas sugri-periores e os diagnósticos referidos como escabiose, infecção de pele, eczema, urticária e estrófulo foram agrupados como proble-mas de pele. A classificação dos medicamentos consumidos foi feita com base em suas classes farmacológicas.

Realizou-se um piloto, com duração de 15 dias, mos-trando-se útil para melhor esclarecimento e treinamento de todos os funcionários da escola. Foram feitas visitas às

escolas pelo menos duas vezes por semana para recolhimento dos formulários já preenchidos e verificação do andamento da pesquisa.

Para a coleta de dados, foram utilizados formulários contendo: • local e data da avaliação; • identificação, idade e sexo do aluno; • diagnósticos referidos pelo aluno e pela mãe; • medicamentos utilizados; • forma como obteve os medicamentos; • responsável pela indicação dos medicamentos; • endereço da família; • profissão e situação de emprego do pai e da mãe. Os dados foram arquivados e analisados em computador, com banco de dados do tipo Access. Para análise estatística, aplicaram-se o teste do qui-quadrado de Mantel-Haenszel e o teste exato de Fisher, utilizando-se o programa Epi Info 6. Considerou-se significante p≤0,05.

Resultados

De um total de 1.051 alunos, 809 das escolas públicas e 242 da escola privada, 356 (33,8%) responderam pelo menos uma vez os formulários, totalizando 475 formu-lários no período de abril a novembro de 2001. Desse total, 146 formulários foram respondidos por 87 alunos da escola privada e 329 foram respondidos por 269 alunos das escolas públicas.

O perfil dos alunos que responderam aos formulários está descrito a seguir. Quanto ao sexo, dos 87 alunos da escola pri-vada, 39 (44,8%) eram masculinos e 48 femininos (55,2%). De 269 alunos das escolas públicas, 113 (42,0%) eram do sexo masculino e 156 (58,0%) do feminino. A distribuição do número de alunos por segmento de idade nas três escolas está representada na Tabela 1.

A Tabela 2 indica a distribuição dos grupos de medica-mentos mais utilizados nas escolas. Comparados aos alunos da escola privada, os alunos das escolas públicas tenderam a utilizar mais analgésicos/antitérmicos/antiinflamatórios não hormonais, antibióticos e antifúngicos. Já os alunos da escola privada consumiram mais antialérgicos e me-dicamentos homeopáticos.

A Tabela 3 apresenta a distribuição dos motivos infor-mados para uso dos medicamentos nas escolas. Infecções das vias aéreas superiores foram os motivos mais alegados nas duas categorias de escola. Os problemas de pele citados Tabela 1 – Distribuição do número de alunos por faixa etária

que responderam ao questionário

Faixa etária (anos)

Nº de alunos por tipo de escola

Privada % Pública % Total %

6 9 19 21,8 97 36,0 116 32,6

9 10 30 34,5 47 17,5 77 21,6

10 - 14 38 43,7 125 46,5 163 45,8

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foram, por ordem de freqüência, eczema, urticária, infecção e estrófulo, na escola privada. Na pública, houve infecções, estrófulo, urticária, pediculose, escabiose e vitiligo. Os alunos das escolas públicas informaram mais verminose e falta de apetite/anemia comparados aos da escola privada.

A Tabela 4 mostra a distribuição do uso de medicamentos nas escolas, segundo o autor da indicação do fármaco. Os alunos das escolas públicas utilizaram mais medicamentos indicados pelos médicos do posto de saúde/pronto-socorro/ hospital, ao passo que os alunos da escola privada consumi-ram mais medicamentos indicados pelo médico particular ou do convênio e pela própria mãe. No presente estudo, a freqüência de utilização de medicamentos não prescritos por médicos foi de pelo menos 25,4%.

Os alunos da escola privada adquiriram os medicamentos, na maioria das ocasiões, com recursos próprios ou subsidia-dos pelo convênio. Dos 213 alunos da escola privada que responderam a essa questão, 206 (96,7%) adquiriram os me-dicamentos com recursos próprios ou do convênio, um aluno (0,5%) retirou o fármaco no posto de saúde e seis obtiveram de outra forma. Os alunos das escolas públicas adquiriram os medicamentos com maior freqüência em postos de saúde

e pronto-socorros que os alunos da escola privada (p<0,01). Dos 494 alunos das escolas públicas, 193 (39,1%) retiraram o medicamento no posto de saúde ou pronto socorro, 277 (56,1%) compraram com recursos próprios ou do convênio e 24 (4,9%) informaram ter adquirido de outra forma.

Discussão

No presente trabalho, buscamos observar a visão do usuá-rio na utilização dos medicamentos. Os dados foram obtidos por meio de questionários respondidos voluntariamente pelos alunos, com ajuda de seus responsáveis, não se tendo acesso à receita médica, mas tão somente a aspectos no padrão de consumo observados por quem os usa. No nosso estudo, também não foi avaliada a adequação do uso de fármacos, pelo fato de não se ter acesso à receita médica, mas somente às informações dadas pelas crianças e seus familiares.

A escolha das escolas incluídas neste estudo foi baseada nas diferenças da mortalidade infantil existentes entre os bairros em que se situam. Após um treinamento no início da pesquisa, bem como dos alunos e responsáveis no preen-chimento dos formulários.

Tabela 2 – Distribuição dos grupos de medicamentos mais utilizados

Grupo de medicamentos

Escolas

Privada % Pública % Total % p

Analgésicos/Antitérmicos/

Antiinflamatório não hormonal 78 35,0 223 42,1 301 40,0 0,07

Antibióticos/Antifúngicos 23 10,3 82 15,5 105 14,0 0,06 Antialérgicos 21 9,4* 18 3,4 39 5,2 < 0,001 Antiinflamatório hormonal 15 6,7 24 4,5 39 5,2 0,22 Vitamina/Ferro/Estimulante de Apetite 13 5,8 32 6,0 45 6,0 0,91 Anticonvulsivantes 1 0,4 7 1,3 8 1,1 0,26 Broncodilatadores 17 7,6 41 7,8 58 7,7 0,95 Descongestionante sistêmico ou nasal 6 2,7 13 2,5 19 2,5 0,85 Expectorante 5 2,2 16 3,0 21 2,8 0,55 Antiespasmódico/Antiemético 10 4,5 21 4,0 31 4,1 0,75 Antiparasitário 2 0,9 24 4,5 26 3,5 0,06 Homeopatia 18 8,1* 2 0,4 20 2,7 < 0,001 Outros 14 6,3 26 4,9 40 5,3 0,45 Total 223 100 529 100,0 752 100,0

Obs: os totais descritos correspondem ao número de alunos respondentes para cada questão Maria Célia C. Ciaccia et al.

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Na análise e discussão, encontramos dificuldades para fazer comparações com dados de literatura, em virtude de os trabalhos que tratam do assunto utilizarem metodologia e enfoques muito diversos. Da nossa parte, uma das motivações era iniciar uma linha de estudo, criando especulações para motivar novos trabalhos.

Observamos que, coincidentemente, um terço dos alu-nos, tanto das escolas públicas como da escola privada, respondeu ao questionário. 33,8% dos alunos responderam aos formulários pelo menos uma vez e não houve diferença estatisticamente significante entre a escola privada e as escolas públicas.

Bricks(3), em seu estudo, refere uma porcentagem elevada de

utilização de medicamentos. Relata que 37,0% da população estudada utiliza algum tipo de medicamento. Neste estudo, a população-alvo inclui diferentes faixas etárias, sendo, portanto, de difícil comparação. Victora et al(2) relataram ter havido discreta

tendência ao maior consumo de medicamentos entre os grupos de renda mais alta. Essa observação pode, em parte, ser justifi-cada pelo fato de os alunos das escolas públicas de Santos terem fácil acesso aos medicamentos e, com isso, não haver diferença estatisticamente significante entre os tipos de escolas.

Observa-se, na literatura, que os grupos de medicamentos mais consumidos são analgésicos e antitérmicos(19). Victora et

Tabela 4 – Distribuição das indicações para o uso dos medicamentos

Indicação do medicamento Nº de indicações nas escolas

Privada % Pública % Total % Valor de p

Médico do Posto/Centro de Saúde 5 2,2 191 33,2 196* 24,6 < 0,001

Médico do Pronto-Socorro/Hospital 20 9,0 127 22,1 147* 18,4 < 0,001

Médico Particular 56 25,1 10 1,7 66* 8,3 < 0,001

Médico do Convênio 70 31,4 92 16,0 162* 20,3 < 0,001

Mãe por conta própria 45 20,2 78 13,6 123* 15,4 0,03

Mãe usou receita anterior 15 6,7 34 5,9 49 6,1 0,95

Outro parente/vizinho 4 1,8 14 2,4 18 2,3 0,58

Farmacêutico 5 2,2 8 1,4 13 1,6 0,28

Outros/Não respondeu 3 1,3 21 3,7 24 3,0 0,09

Total 223 100 575 100 798 100

Obs: os totais descritos correspondem ao número de alunos respondentes para cada questão

Tabela 3 – Distribuição dos motivos informados para o uso dos medicamentos

Escolas Motivo informado

Privada % Pública % Total % p

Febre 17 10,8 81 15,3 98 14,3 0,15

Dor de cabeça 24 15,2 65 12,3 89 13,0 0,34

Infecções de vias aéreas superiores 62 39,2 193 36,5 255 37,1 0,52

Chiado/bronquite 13 8,2 41 7,8 54 7,9 0,84 Pneumonia/Broncopnumonia 0 0,0 8 1,5 8 1,2 0,12 Vômitos/Diarréia/Dor abdominal 10 6,3 39 7,4 49 7,1 0,65 Verminose 0 0,0 13 2,5* 13 1,9 0,03 Problemas de pele 12 7,6 24 4,5 36 5,2 0,13 Falta de apetite/Anemia 3 1,9 35 6,6* 38 5,5 0,02 Outros 17 10,8 30 5,7 47 6,8 0,03 Total 158 100 529 100 687 100

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al(2) observaram que não havia diferenças significativas entre os

grupos de renda quanto ao consumo de analgésicos e antitér-micos ou antibióticos. Em nosso estudo, identificamos que as medicações mais utilizadas nas escolas selecionadas foram tam-bém analgésicos, antitérmicos, antiinflamatórios não hormonais e antibióticos, de forma similar aos trabalhos citados.

No estudo de Kogan et al(23), 53,7% das crianças utilizaram

acetaminofeno e medicamentos para tosse e resfriado comum. Em nossa pesquisa, em relação à justificativa nosológica, apesar da diferença de faixas etárias, o maior consumo de medicamentos também ocorreu em função de problemas respiratórios.

Não houve diferença significante entre a escola privada e as públicas quanto ao consumo de antibióticos (apenas uma tendência de maior consumo nas escolas públicas), apesar de, na prática médica, esperar-se que as doenças infecciosas atinjam mais as crianças de poder socioeconô-mico mais baixo.

No geral, houve uma tendência de os alunos das escolas públicas utilizarem mais analgésico/antitérmico/antiin-flamatório não hormonal, talvez pela disponibilidade de acesso a esses medicamentos, que são distribuídos pelo governo. De outra parte, apesar de alguns antialérgicos estarem disponíveis na rede pública de Saúde de Santos, foram os alunos da escola privada que utilizaram mais antialérgicos. É interessante notar que, nas escolas pú-blicas, são utilizadas mais drogas sintomáticas, enquanto na escola privada o objetivo do uso é mais específico, porém, esse achado não se repete em todas as classes de medicamentos. A prática da homeopatia é significativa na escola privada, não sendo disponível na rede pública de saúde de Santos.

Analisando as indicações de uso de medicamentos, o diagnóstico mais prevalecente na literatura foi a infecção de vias aéreas superiores(23). Da mesma forma, em nosso

traba-lho, em ambos os tipos de escola, o motivo mais informado para o uso foi a infecção das vias aéreas superiores. Deve-se lembrar que o motivo do uso do medicamento tem por base informações do usuário sobre a medicação.

Victora et al(2) referiram que crianças de nível

socioeco-nômico mais baixo utilizam mais medicamentos para tratar verminose e anemia. O mesmo ocorreu em nosso estudo, pois as escolas públicas informaram a ocorrência predominante de verminose e falta de apetite/anemia. Quanto aos problemas de

pele, houve uma tendência aparente de problemas de infecção cutânea nas escolas públicas e de fenômenos imunoalérgicos na escola privada.

A freqüência de utilização de fármacos não prescritos por médicos foi de, pelo menos, 25,4% em nosso estudo, taxa inferior à utilização referida por Victora et al(2), Simões et al(19)

e Silva et al(24), que observaram, respectivamente,

freqüên-cias de 36,2%, 57,9% e 53,2%. É interessante notar que os alunos da escola privada apresentaram uma tendência maior a se automedicarem. Essa observação deveria ser mais explo-rada para que intervenções objetivas e efetivas em relação à automedicação possam ser tomadas.

Concluímos que, em relação aos grupos de medicamentos, os dois mais utilizados nas escolas foram analgésico/antitér-mico/antiinflamatório não hormonal e antibiótico/antifúngi-co, sendo a infecção de vias aéreas superiores o motivo mais alegado para a utilização dos medicamentos pelos alunos dos dois tipos de escolas.

De modo geral, 25,4% dos medicamentos utilizados não foram prescritos por médicos. Na escola privada, a proporção de medicamentos não prescritos pelo médico foi de 27,3% e nas escolas públicas, 23,3%. Tanto na escola privada como nas escolas públicas, os medicamentos utilizados não pres-critos pelo médico foram ministrados principalmente pela própria mãe, por conta própria. Em relação ao autor da indicação do uso de medicamentos, os alunos das escolas públicas receberam mais medicamentos prescritos por médicos do posto de saúde/ pronto-socorro e hospital. Já os alunos da escola privada receberam mais medicamentos prescritos por médicos particulares e do convênio e por orientação da própria mãe.

Concluímos também que os alunos da escola privada ad-quiriram os medicamentos basicamente com recursos pró-prios ou subsidiados pelo convênio. Já os alunos das escolas públicas obtiveram os medicamentos sem ônus financeiro no posto de saúde/pronto-socorro, mas, ainda assim, grande parte dos alunos das escolas públicas adquiriu os fármacos utilizados com recursos próprios ou do convênio.

Ficou claro que, tanto nas escolas públicas como na escola privada, o consumo de medicamentos foi elevado, mostrando que tal fato poderia ser explorado como parte da formação oferecida pelas escolas com a introdução do assunto da racionalização do uso de medicamentos em palestras e trabalhos.

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