Cel Inf ANDRÉ SODRÉ LIRA BRANDÃO
UMA ANÁLISE DA GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
SOCIAIS DO MINISTÉRIO DA DEFESA.
Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.
Orientador: Prof. Lucy de Mello Carvalho Vianna.
Rio de Janeiro 2020
C2020ESG
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_________________________________ ANDRÉ SODRÉ LIRA BRANDÃO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Elaborada pelo bibliotecário Antonio Rocha Freire Milhomens – CRB-7/5917
B817a Brandão, André Sodré Lira
Uma análise da gestão de políticas públicas sociais do Ministério da Defesa / Cel André Sodré Lira Brandão. - Rio de Janeiro: ESG, 2020.
52 f.
Orientador: Profª. Drª. Lucy de Mello Carvalho Vianna
Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia, 2020.
1.Brasil - Forças armadas - Aspectos sociais. 2. Brasil - Defesa. 3. Políticas públicas. I. Título.
DEDICATÓRIA
À glória de Deus, dedico este trabalho ao nosso criador e ao meu que foi soldade e teve a sua vida transformada após o seu tempo de serviço.
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, gostaria de agradecer à minha esposa pelo incentivo e por ter cuidado sempre de forma muito especial de nossa família. Vocês são o porto seguro de uma longa jornada e renovam sempre a minha alegria de viver.
Aos integrantes do Ministério da Defesa, do Exército Brasileiro e do 6º Batalhão de Polícia do Exército, ligados aos projetos, por terem acreditado e trabalhado de forma incessante para transformar vidas, criando oportunidades individuais para crianças, adolescentes e jovens terem um futuro melhor.
Ao Coronel Lincol Duque Barbabella pela sabedoria em construir conhecimentos eficientes que até então não tinham sido percebidos por mim em bancos escolares. De uma forma dinâmica, ficou evidenciado a sua grande capacidade de ensinar com maestria.
À minha orientadora Prof. Lucy de Mello Carvalho Vianna pela confiança e o tratamento sempre cordial e seguro durante a condução das atividades. Sua crença no propósito deste trabalho foi fundamental para o seu resultado.
Aos meus irmãos Coronel de Cavalaria Gustavo Adolpho Lourenço Gomes e Coronel Infante Tonny Anderson Almeida Vitório pelo exemplo de profissionalismo, compromisso e eficiência em prol de construir um Brasil melhor a cada dia.
Aos parceiros dos projetos e programas sociais, representados pelos entes federativos, estaduais, municipais e privados, citados ao longo do trabalho, que juntos contribuíram para serviços de interesse da sociedade, demonstrando responsabilidade social.
Aos integrantes da 6ª Circunscrição da Justiça Militar e da Procuradoria da Justiça Militar de Salvador pelo tratamento atencioso, cordial e profissional nos apoios solicitados para as atividades de instrução e visitas que motivaram a realização dos projetos na Unidade.
EPÍLOGO
“Por mais sombria que seja a estrada a que foste conduzido pelas circunstâncias, enriquece-a com a luz do teu esforço no bem.”
RESUMO
Este trabalho analisa a gestão de políticas públicas sociais do Ministério da Defesa empregada em uma Organização Militar Hospedeira. Tal abordagem se justifica pela contribuição ao desenvolvimento humano, tendo em vista o seu alcance para crianças, adolescentes e jovens. O objetivo deste estudo foi investigar a gestão do Projeto Soldado Cidadão e do Programa Forças no Esporte, ambos do Ministério da Defesa, que foram empregadas em um quartel do Exército. Este propósito foi conseguido mediante uma revisão bibliográfica da literatura sobre a temática, uma documental da legislação existente e uma coleta e investigação das melhores práticas empregadas pela Unidade Gestora. No referencial teórico foram analisadas as doutrinas sobre o assunto, desde a constituição brasileira até as normas internas da organização militar. Para atingir a meta proposta, foi apurado os conceitos de desenvolvimento nacional, particularmente, nas Expressões Psicossocial, Militar e Política do Poder Nacional, defesa pública, governança e gestão com a intenção de corroborar para o fortalecimento das políticas públicas sociais abordadas. Nesta senda, construiu-se uma relação entre as Expressões do Poder e as políticas citadas que demonstraram o conceito de cidadania corporativa do Ministério da Defesa. Ademais, foi averiguado a relação entre governança pública e gestão, auferido-se que é necessário eficiência para a obtenção de resultados. Desse modo, foram dissecados os programas desenvolvidos na Unidade, que recebeu o prêmio de melhor gestão, em 2019, buscando compreender como foi exercida a ação, a orientação, a coordenação e o controle dos projetos sociais para extrair as suas melhores práticas. Constatou-se que as ações que promovem as oportunidades de educação, particularmente a qualificação profissional, podem contribuir com a efetiva cidadania, ajudando a diminuir os riscos sociais. Além disso, notou-se a necessidade da implementação do conceito de Economia de Defesa para aprimorar a tomada de decisões políticas diante do dilema guns vs. butter. Aferiu-se que um quartel com programas sociais funciona com um polo irradiador de desenvolvimento e cidadania de seu entorno geográfico. Por fim, verificou-se uma trilogia de interesses entre o cidadão, as Forças Armadas e as empresas, tendo como ponto de intersecção a capacitação promovida. Conclui-se que a pesquisa comprovou uma gestão eficiente que corroborou para promover o bem comum, a justiça social e o desenvolvimento nacional, em escala micro, mas que serve como protótipo de gestão para a macro dimensão do Ministério da Defesa no Brasil.
ABSTRACT
This paper analyzes the management of social public policies of the Ministry of Defense employed in a Host Military Organization. Such an approach is justified by the contribution to human development, in view of its reach for children, adolescents and young people. The aim of this study was to investigate the management of the Citizen Soldier Project and the Forces in Sport Program, both from the Ministry of Defense, which were employed in an Army barracks. This purpose was achieved through a literature review of the literature on the subject, a documentary of existing legislation and a collection and investigation of the best practices employed by the Management Unit. In the theoretical framework, the doctrines on the subject were analyzed, from the Brazilian constitution to the internal rules of the military organization. To achieve the proposed goal, the concepts of national development were investigated, particularly in the Psychosocial, Military and Political Expressions of National Power, public defense, governance and management with the intention of corroborating for the strengthening of the public social policies addressed. In this path, a relationship was built between Expressions of Power and the aforementioned policies that demonstrated the Ministry of Defense's concept of corporate citizenship. In addition, the relationship between public governance and management was investigated, showing that efficiency is necessary to obtain results. Thus, the programs developed at the Unit were dissected, which received the award for best management in 2019, seeking to understand how the action, guidance, coordination and control of social projects were carried out to extract their best practices. It was found that actions that promote educational opportunities, particularly professional qualification, can contribute to effective citizenship, helping to reduce social risks. In addition, there was a need to implement the Defense Economics concept to improve political decision-making in the face of the guns vs. butter dilemma. It was verified that a barracks with social programs works with an irradiating pole of development and citizenship in its geographic surroundings. Finally, there was a trilogy of interests between the citizen, the Armed Forces and companies, with the training promoted as an intersection point. It is concluded that the research proved an efficient management that corroborated to promote the common good, social justice and national development, on a micro scale, but that serves as a management prototype for the macro dimension of the Ministry of Defense in Brazil.
RESUMEN
Este artículo analiza la gestión de las políticas públicas sociales del Ministerio de Defensa empleadas en una Organización Militar Anfitriona. Este enfoque se justifica por la contribución al desarrollo humano, en vista de su alcance para los niños, adolescentes y jóvenes. El objetivo de este estudio fue investigar la gestión del Proyecto Soldado Cidadão y el Programa Fuerzas en el Deporte, ambos del Ministerio de Defensa, que estaban empleados en un cuartel del Ejército. Este propósito se logró mediante una revisión bibliográfica de la literatura sobre el tema, un documental de la legislación existente y una recopilación e investigación de las mejores prácticas empleadas por la Unidad de Gestión. En el marco teórico, se analizaron las doctrinas sobre el tema, desde la constitución brasileña hasta las reglas internas de la organización militar. Para lograr la meta propuesta, se investigaron los conceptos de desarrollo nacional, particularmente en las Expresiones Psicosociales, Militares y Políticas del Poder Nacional, la defensa pública, la gobernabilidad y la gestión con la intención de corroborar para el fortalecimiento de las políticas públicas sociales abordadas. En este camino, se construyó una relación entre Expresiones de Poder y las políticas mencionadas que evidenciaron el concepto de ciudadanía corporativa del Ministerio de Defensa. Además, se investigó la relación entre gobernanza pública y gestión, mostrando que la eficiencia es necesaria para obtener resultados. De esta manera, se diseccionaron los programas desarrollados en la Unidad, que recibieron el premio a la mejor gestión, en 2019, buscando entender cómo se llevó a cabo la acción, orientación, coordinación y control de los proyectos sociales para extraer sus mejores prácticas. Se encontró que las acciones que promueven las oportunidades educativas, particularmente la calificación profesional, pueden contribuir a una ciudadanía efectiva, ayudando a reducir los riesgos sociales. Además, era necesario implementar el concepto de Economía de la Defensa para mejorar la toma de decisiones políticas frente al dilema de guns vs better. Se verificó que un cuartel con programas sociales funciona con un polo irradiador de desarrollo y ciudadanía en su entorno geográfico. Finalmente, hubo una trilogía de intereses entre el ciudadano, las Fuerzas Armadas y las empresas, con la formación promovida como punto de intersección. Se concluye que la investigación demostró una gestión eficiente que corroboró para promover el bien común, la justicia social y el desarrollo nacional, en una microescala, pero que sirve como prototipo de gestión para la macro dimensión del Ministerio de Defensa en Brasil.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO... 10
2 METODOLOGIA ………. 14
3 REFERENCIAL TEÓRICO……… 16
4 POLÍTICAS SOCIAIS DO MINISTÉRIO DA DEFESA…………... 20
4.1 Conjugação das Políticas Sociais com o Poder Nacional…... 21
4.2 Governança pública e gestão……… 22
4.3 Políticas públicas……….……… 23
4.4 Educação profissional………. 26
5 A GESTÃO DE UMA ORGANIZAÇÃO MILITAR HOSPEDEIRA……….… 27
5.1 O Programa PE Salvador……….… 27
5.2 Os Objetivos estratégicos do Programa PE Salvador……… 28
5.3 Os projetos desenvolvidos no Programa PE Salvador………….. 30
5.3.1 Projeto cozinha social………. 31
5.3.2 Projeto Almoxarifado Social………..……… 32
5.3.3 Projeto Informática Social……….. 33
5.3.4 Projeto PE Vigilante……… 33
5.3.5 Projeto PE Motorizado……… 34
5.3.6 Projeto PE Construtor………. 34
5.3.7 Projeto Canil Social………. 35
5.3.8 Projeto Saúde Social……….. 36
5.3.9 Projeto PE Ensino……… 36
6 AS MELHORES PRÁTICAS………. 41
6.1 O emprego do ensino à distância……….… 41
6.2 A formação de turmas com integrantes das três forças singulares……… 41
6.3 A realização de cursos no interior da Unidade militar……… 41
6.4 O exemplo de diferentes cursos de qualificação profissional para alunos do PROFESP ……….. 42
6.5 A participação de alunos do PROFESP em cursos Formação Inicial e Continuada (FIC) no interior da Organização Militar ….. 42
6.6 O emprego dual das capacitações ……….…. 42
6.7 A economia de recursos públicos……… 43
6.8 A melhoria da qualidade das refeições ……….………. 43
6.9 As parcerias com instituições de ensino superior ……….… 43
6.10 A realização de cursos gratuitos ……….… 43
6.11 A recuperação de escolas públicas……….…… 44
6.12 A Captação de Emenda Parlamentar Individual …………..……… 44
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS……….. 45
1. INTRODUÇÃO
O Ministério da Defesa é um órgão do Governo Federal, criado em 1999, e possui a missão de realizar a direção superior das Forças Armadas, constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáutica. Seus projetos sociais começaram a ganhar impulso, no ano de 2004, sendo suas ações descentralizadas para cada Força Singular (BRASIL, 2016) .
Este órgão estabelece políticas públicas sociais que são importantes para crianças, adolescentes e jovens em diversas regiões do Brasil. Entre as principais estratégias elencadas estão o Projeto Soldado Cidadão (PSC) e o Programa Forças no Esporte (PROFESP). Por meio da governança destas políticas, diversas Organizações Militares Hospedeiras das Forças Armadas realizam a gestão das ações sociais inerentes (BRASIL, 2020).
O PSC objetiva criar oportunidades aos jovens brasileiros incorporados às fileiras das Forças Singulares, durante o serviço militar, para realizar cursos profissionalizantes que facilitem a sua continuidade no mercado de trabalho em melhores condições. De outra forma, o PROFESP possui a finalidade de realizar atividades esportivas e socialmente inclusivas para crianças e adolescentes no contra turno escolar. Assim sendo, uma Organização Militar Hospedeira pode acolher ambas ações, como o 6º Batalhão de Polícia do Exército, localizado em Salvador/BA, para efetivar os objetivos propostos.
O 6º Batalhão de Polícia do Exército, inserido no Programa Estratégico do Exército, Sentinela da Pátria, foi criado em 2013. Trata-se de uma tropa de elite que possui a missão da garantia da soberania nacional, dos poderes constitucionais, da lei e da ordem, salvaguardando os interesses nacionais e cooperando com o desenvolvimento nacional e o bem-estar social. Em Salvador, essa Unidade desenvolveu um trabalho integrado com a Marinha e a Aeronáutica, no Projeto Soldado Cidadão, sendo destaque nacional em 2019 (BRASIL, 2020).
Honorato (2012) descreve a questão de vulnerabilidades sociais. Nos públicos-alvos atendidos nos projetos sociais, ela pode ser de origem econômica e/ou moral. Desse modo, aprimorando o sistema social existente de apoio e buscando uma melhoria da qualidade de vida deste público, o Ministério da Defesa pode corroborar com o desenvolvimento nacional na vertente social. As oportunidades individuais criadas, com ênfase na Expressão Psicossocial, Militar e Política do Poder Nacional,
servem para promover uma transformação da complexa realidade vivida pelas crianças, adolescentes e jovens atendidos.
Nesse sentido, as políticas públicas sociais que são aprimoradas por esse importante órgão do governo, desde 2004, encontram pontos de intersecção com o moderno Sistema Nacional da Juventude (SINAJUVE), criado em 2013, e vinculado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Logo, a intersetorialidade e a transversalidade das políticas em curso, nos diferentes ministérios, pode trazer benefícios aos participantes dos projetos descritos. Desse modo, cresce de importância uma análise da gestão de políticas públicas sociais do Ministério da Defesa.
Em síntese, existe uma questão central formulada na seguinte hipótese: em que medida a gestão das Políticas Públicas Sociais do Ministério da Defesa, empregadas pelo 6º Batalhão de Polícia do Exército, em Salvador/BA, contribuiu para a governança da referida política?
Assim, busca-se analisar a gestão das Políticas Públicas Sociais do Ministério da Defesa empregadas por uma Organização Militar. Para atingir esta meta, é fundamental investigar os conceitos de desenvolvimento nacional, particularmente, nas Expressões Psicossocial, Militar e Política do Poder Nacional, defesa pública, governança e gestão.
Além disso, verificar a legislação do Sistema Nacional da Juventude, de Políticas Públicas, do Projeto Soldado Cidadão e do Programa Forças no Esporte são aspectos esclarecedores para compreender as ações executadas nos quartéis das Forças Armadas.
Vale ressaltar que a Unidade investigada implantou o Programa Forças no Esporte em agosto de 2018. Fruto do trabalho de sua equipe, conseguiu o apoio de uma Emenda Parlamentar Individual, construindo um pavilhão para o apoio das atividades esportivas. Ademais, foram desenvolvidos outros projetos transversais com os participantes do programa, em parceria com entes privados e organizações do Sistema “S”, particularmente o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), que foram considerados inovadores.
Destaca-se, ainda, que o conceito de cidadania força a uma reflexão sobre o papel do Estado na condução de Políticas Públicas que assegurem direitos, especialmente, de crianças, adolescentes e jovens vulneráveis. Isto extrapola os
sistemas sociais existentes para amparar esta população carente, criando redes de solidariedade, onde outros atores e protagonistas participam voluntariamente de projetos, como ocorre no Ministério da Defesa.
Nesse contexto, o Sistema Nacional da Juventude possui o desafio de unir representantes do executivo, gestores, parlamentares, empresas privadas, movimentos juvenis, Organizações Não-Governamentais, órgãos públicos, instituições de ensino, de pesquisa e membros da sociedade civil, em prol de garantir maior efetividade às suas políticas públicas. Dessa forma, examinar as ações, que foram desenvolvidas no 6º Batalhão de Polícia do Exército, pode trazer novos conhecimentos que corroborem com o referido sistema.
Ademais, a juventude enfrenta problemas como o desemprego, o acesso a drogas, a violência, a demanda por qualificação e a falta de infraestrutura em escolas e bairros. No entanto, as políticas públicas do Ministério da Defesa amenizam parte da ausência relativa aos direitos de cidadania dos integrantes de seus projetos sociais. Constata-se que isso representa uma atenção às necessidades sociais, sendo primordial mapear os benefícios gerados de forma científica.
No mesmo sentido, a prática esportiva realizada no contraturno escolar possibilita um desenvolvimento integral para crianças e adolescentes que participam do Programa Forças no Esporte. Durante a permanência no quartel deste público, é possível inserir a intersetorialidade e a transversalidade com outras políticas públicas e atores locais, conforme a gestão de cada Organização Militar Hospedeira. Distinguir as boas práticas e difundi-las, refina os resultados de eficiência, uma das finalidades da presente pesquisa.
De forma semelhante, há retornos positivos do Projeto Soldado Cidadão para a sociedade e a própria Organização Militar. Ao trabalhar cursos de qualificação profissional, as chances de continuidade no mercado de trabalho, quando termina o serviço militar, são ampliadas para os jovens vulneráveis. Além disso, os conhecimentos adquiridos pelos militares podem ser empregados na própria Unidade, como em áreas de mecânica, da construção civil, de alimentos, da saúde e de informática, entre outras.
A governança dos projetos sociais do Ministério da Defesa já alcançou mais de 280 mil participantes, podendo ainda ser aperfeiçoada, em conformidade com as ações subsidiárias das Forças Armadas (BRASIL, 1999). Atividades esportivas e cursos profissionalizantes abrem novas oportunidades a este público alvo,
corroborando para a justiça social e, consequentemente, para o desenvolvimento nacional, que funciona como um mecanismo para atingir os objetivos fundamentais, de estado e de governo (ESG, 2019, p. 148).
O trabalho pretende abordar as ações exitosas que foram adotadas pelo 6º Batalhão de Polícia do Exército, nos anos de 2018 e 2019, elucidando a gestão desta Organização Militar Hospedeira em relação ao Projeto Soldado Cidadão e ao Programa Forças no Esporte.
2. METODOLOGIA
Inicialmente, foram examinados as leis, decretos e normas que estão relacionadas ao tema para elaborar uma pesquisa documental exploratória (SÁ-SILVA, 2009). Em seguida, buscou-se um panorama sobre a doutrina, artigos e palestras realizados por órgãos como o Tribunal de Contas da União e o Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas. Na área acadêmica, foi enfatizado as publicações correlatas ao assunto da Escola Superior de Guerra e outras universidades. Ademais, no mesmo sentido para a obtenção de uma visão pragmática, foram investigados e coletados os documentos e os programas e projetos das ações sociais de uma Organização Militar do Exército, no caso específico, o 6º Batalhão de Polícia do Exército (DIAS, 2000).
As leis, decretos e normas sobre o assunto seguem uma hierarquia a partir da Constituição Federal (BRASIL,1988), passando pelos decretos dos diferentes Ministérios envolvidos até o comando de cada Força Singular, onde são executadas as ações. Vale ressaltar que uma ênfase foi dada ao Estatuto da Criança e do Adolescente e ao Estatuto da Juventude para entender os direitos afetos aos integrantes dos projetos sociais. A crítica construtiva desta parte legislativa pode orientar às melhores práticas de governança e gestão (BRASIL, 2014, p.48).
Nos campos da pesquisa, relacionados às doutrinas, artigos e palestras foram detalhados os principais desafios para integrantes dos projetos sociais e as políticas públicas atuais (SOUZA, 2006). Nota-se que existe uma relevância para termos como cidadania e seus direitos que são direcionados para o público-alvo atendido, sendo necessário o seu perfeito entendimento para a busca da eficiência, eficácia e efetividade.
Na área acadêmica, ainda, foram avaliados os trabalhos existentes na Escola Superior de Guerra que corroboraram para efetuar a pesquisa bibliográfica. As questões relacionadas ao desenvolvimento nacional, segurança e defesa encontram uma sólida base neste estabelecimento de ensino. Além disso, há um rico acervo na biblioteca sobre as Expressões Militar, Psicossocial e Política do Poder Nacional que enriqueceram o conteúdo, bem como, a publicação de Fundamentos do Poder Nacional desta Escola (BRASIL, 2019).
Na Organização Militar do Exército foram analisados os projetos criados do Programa PE Salvador, nos anos de 2018 e 2019, e coletados alguns depoimentos
espontâneos de militares nesse período por meio de entrevistas (BONI, 2005). A investigação destes documentos e ações puderam auxiliar na compreensão da gestão que foi empregada por aquela Unidade militar. Assim, este conhecimento pesquisado teve a intenção de aprimorar o atual sistema dos projetos sociais realizado pelas Forças Armadas.
Em síntese, do exposto foi realizada uma revisão bibliográfica da literatura sobre o assunto, uma documental da legislação existente e uma coleta e análise das melhores práticas empregadas por uma Organização Militar do Exército Brasileiro, com a intenção de corroborar para o fortalecimento desta política social do Ministério da Defesa.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
A Constituição Federal estabelece direitos e deveres a todos os seus cidadãos (BRASIL, 1988). Entre os deveres, na mesma carta magna, destaca-se o serviço militar obrigatório previsto no artigo 143. A Lei do Serviço Militar estipula que ele será prestado por classes constituídas de brasileiros nascidos entre 1º de janeiro e 31 de dezembro, no ano em que completarem 19 (dezenove) anos de idade (BRASIL, 1964). Anualmente, cerca de 90 mil jovens são incorporados, sendo essenciais para o Brasil na área de defesa da soberania nacional (BRASIL, 2016).
O Ministério da Defesa (BRASIL, 2020) estabelece que além de prover e capacitar quadros para as Forças Armadas, o Serviço Militar é um importante instrumento de afirmação da unidade nacional. Ademais, durante a sua prestação é possível a participação nos cursos de qualificação profissional, em diversos ofícios, por meio do Projeto Soldado Cidadão. Em 2019, cerca de 9 (nove) mil militares participaram desse projeto (BRASIL, 2020).
Além desta ação na área social, o Presidente da República estabeleceu o Decreto nº 10.085 que dispõe sobre o Programa Forças no Esporte – Segundo Tempo e o Projeto João do Pulo, para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos (BRASIL, 2019). Essa legislação prevê um conjunto de parcerias com o Ministério da Educação, o Ministério da Cidadania e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que devem apoiar a implementação e o desenvolvimento das atividades. O programa contou com 27,4 mil crianças e adolescentes em 2019 (BRASIL, 2020).
Constata-se que o Ministério da Defesa exerce uma governança pública em relação às suas Organizações Militares Hospedeiras para o funcionamento de seus projetos sociais, sendo necessário entender o conceito dela. O Decreto nº 9.203 estabelece que governança pública é um conjunto de mecanismos de liderança, estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a gestão, com vistas à condução de políticas públicas e à prestação de serviços de interesse da sociedade (BRASIL, 2017).
De forma complementar, o Tribunal de Contas da União define que a gestão é inerente e integrada aos processos organizacionais, sendo responsável pelo planejamento, execução, controle, ação, enfim, pelo manejo dos recursos e poderes colocados à disposição de órgãos e entidades para a consecução de seus objetivos. Por meio deste conceito, as Organizações Militares encontram a legalidade para
desenvolver suas ações sociais, conforme as políticas públicas estabelecidas (BRASIL, 2014, p. 32) .
Nota-se que existem duas legislações que estipulam o público-alvo que participa destes projetos. O Estatuto da Criança e do Adolescente que considera a criança, como a pessoa até doze anos de idade incompletos, e o adolescente, aquela entre doze e dezoito anos de idade (BRASIL, 1990). E a outra legislação, o Estatuto da Juventude que declara como jovens as pessoas com idade entre quinze e vinte e nove anos de idade (BRASIL, 2013). Assim sendo, crianças, adolescentes e jovens podem conviver em uma Organização Militar ao mesmo tempo, sendo necessário observar as especificidades legais relacionadas a projetos sociais para cada faixa etária.
Na Organização Militar do Exército investigada existiam as três faixas etárias no período considerado. Assim, trabalhou-se com as políticas públicas de proteção para a infância, a adolescência e a juventude. Logo, para atender aos projetos sociais foi criado o Programa PE Salvador. Dessa forma, foram orientadas as ações específicas para os trabalhos realizados, principalmente, relacionados à qualificação profissional, que por vezes, não pode ser realizada para menores de idade em virtude de restrições legais.
O Programa PE Salvador tem como missão primordial de aprimorar a formação cidadã e profissional dos jovens que prestam o serviço militar inicial (BRASIL, 2018). A gestão realizada permitiu a intersetorialidade e a transversalidade das diferentes políticas públicas, integrando esforços e recursos para a obtenção de maior efetividade, conforme preconiza o Sistema Nacional da Juventude, caracterizando uma tecnologia social.
A tecnologia social é definida da seguinte forma (ALMEIDA, 2010, p. 21):
[…] a tecnologia pode ser classificada como social quando se propõe a atuar sobre um problema social; quando seus valores estão informados pelo desenvolvimento da sociedade, não do mercado, ou seja, quando a ideia de social se apresenta como alternativa ao capital; quando considera os saberes dos atores diretamente afetados com o problema; quando apresenta baixo custo, é sustentável, reaplicável ou ajuda na promoção da autonomia dos interlocutores envolvidos, sobretudo nos casos onde o acesso aos direitos está em jogo, dentre outras possibilidades.
Nota-se que, cada vez mais, desafios sociais e ambientais globais, regionais e locais fazem parte do contexto de atuação das organizações, afetando sua estratégia e cadeia de valor, com impactos na sua reputação, conforme foi citado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2015). Surge assim, o conceito de cidadania
corporativa o qual deriva do fato de a empresa ser uma pessoa que deve atuar de forma responsável. Tal conceito é aplicável nas políticas sociais do Ministério da Defesa.
Guaresschi et. al. (2004, p. 180), descreve:
[…] política pública é um conceito de política e de administração que designa
certo tipo de orientação para a tomada de decisões em assuntos públicos, políticos ou coletivos. Esses por sua vez devem, ainda, se constituírem como um conjunto de ações coletivas voltados para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso público que visa dar conta de determinadas demandas em diversas áreas.
Desse modo, amplia-se a visão conceitual das ações que devem ser adotadas nos quartéis para a execução dos projetos sociais. No mesmo diapasão, ressalta-se a questão do compromisso público, objetivando a cumprir as demandas sociais. Logo, as políticas públicas adotadas devem primar por possuir pontos em comum com o Sistema Nacional da Juventude.
Nesse ínterim, este sistema busca implementar a Política Nacional de Juventude para que atue não somente no sentido de garantir o cumprimento de direitos e prerrogativas da pessoa jovem, mas de orientar, organizar e sistematizar as políticas públicas prezando por efetividade e excelência (BRASIL, 2019). Dessa maneira, cada região do país possui os seus desafios para cumprir as suas tarefas, devendo buscar a intersetorialidade.
As expressões da desigualdade junto à juventude se apresentam por meio de violência, desemprego, demanda por qualificação, trabalho entre outros, conforme cita Oliveira et al (2017). Entender as demandas locais, possibilita organizar e sistematizar as ações que serão adotadas para transformar a realidade das crianças, adolescentes e jovens, por meio de parcerias multissetoriais e corroborando para o desenvolvimento nacional.
A Escola Superior de Guerra (BRASIL, 2009), descreve que desenvolvimento é um processo complexo de mudança, cuja tônica reside na valorização do Homem, no aprimoramento de seus Sistemas Sociais e, em última análise, na busca da melhoria da qualidade de vida da sociedade. Em sua versão mais atual (BRASIL, 2015, p.53), este estabelecimento de ensino aponta que o desenvolvimento nacional pode ser entendido como:
O processo global de fortalecimento e aperfeiçoamento do Poder Nacional, particularmente de seus fundamentos (Homem, Terra e Instituições), visando à conquista, à
manutenção dos Objetivos Nacionais e à consecução do Bem Comum.
Anualmente, ao incorporar noventa mil jovens, são promovidas as capacitações na área militar, um elemento essencial para a mobilização do povo brasileiro em defesa da soberania nacional, conforme consta no Livro Branco da Defesa. Além disso, podem ocorrer outras qualificações profissionais que facilitem a continuidade destes jovens no mercado de trabalho, com reflexos positivos para a segurança nacional (BRASIL, 2016).
4. POLÍTICAS SOCIAIS DO MINISTÉRIO DA DEFESA
Ao realizar uma pequena reflexão sobre políticas sociais do Ministério da Defesa, é necessário entender o contexto legal de suas origens. Na atualidade, a Constituição da República Federativa do Brasil elenca os Princípios Fundamentais no seu primeiro capítulo. Nesse ínterim, entre os Objetivos Fundamentais da nação, foram destacados dois incisos, do artigo 3º, da constituição brasileira (BRASIL, 1988), que possuem ligações com as políticas sociais do país. O primeiro foi o inciso II, que trata de garantir o desenvolvimento nacional. E o segundo, o inciso III, que busca erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. Nota-se que ao promover o primeiro com políticas adequadas, de forma lógica, o segundo será favorecido.
A garantia do desenvolvimento nacional, conforme a doutrina da Escola Superior de Guerra, é realizada por meio do processo global de fortalecimento e aperfeiçoamento do Poder Nacional. E na mesma linha de pensamento (BRASIL, 2019, p. 33), encontra-se a seguinte definição:
Poder Nacional é a capacidade que tem o conjunto dos homens e dos meios que constituem a Nação, atuando em conformidade com a vontade nacional, para alcançar e manter os objetivos nacionais. Manifesta-se em cinco expressões: a política, a econômica, a psicossocial, a militar e a científica e tecnológica.
Assim, como já foi apontado, há três expressões do Poder Nacional que merecem destaque para a presente pesquisa: a Política, a Psicossocial e a Militar. Essas expressões estão fortemente ligadas aos projetos sociais do Ministério da Defesa para promover o desenvolvimento nacional. Com a finalidade de favorecer um entendimento mais amplo do contexto, torna-se primordial percorrer os conceitos de Objetivos, Política e Estratégias Nacionais.
Objetivos Nacionais são aqueles que a Nação busca alcançar, em decorrência da identificação de necessidades, interesses e aspirações, ao longo das fases de sua evolução histórico-cultural (BRASIL, 2019, p. 21). Desse modo, identificada a necessidade de reduzir as desigualdades sociais no país, no plano constitucional e pragmático, há uma concretização dessa aspiração em objetivo.
Na mesma doutrina (BRASIL, 2019, p. 44), verifica-se que:
Política Nacional é o conjunto de normas, diretrizes, leis e planos de ação destinados a orientar o emprego do Poder Nacional para a conquista e a manutenção dos Objetivos Nacionais, identificados e estabelecidos a partir da interpretação das necessidades, interesses e aspirações da Nação.
Neste contexto, ações desenvolvidas de forma técnica e com resultados mais eficazes possuem maior validade para consolidar as políticas nacionais. Como exemplo, políticas que tratem da erradicação da pobreza estão em consonância com a carta magna do país. Assim sendo, constata-se que a Política Nacional indica o que fazer, em conformidade com os interesses legítimos da nação, para atingir os Objetivos Nacionais,.
De forma conexa, a Estratégia Nacional é a arte de preparar e de aplicar o Poder Nacional para alcançar e preservar os Objetivos Nacionais, de acordo com a orientação estabelecida pela Política Nacional. (BRASIL, 2019, p. 50). Em outras palavras, a Estratégia Nacional elencará o como fazer, de acordo com as diretrizes políticas.
Nota-se que os objetivos fundamentais (BRASIL, 2019, p. 22) simbolizam metas a serem perseguidas permanentemente, devendo, por conseguinte, servir de farol a orientar os planos e as ações, não só dos poderes estatais como de todos os membros da sociedade. Tais conhecimentos são fundamentais para a elaboração de políticas sociais.
4.1 Conjugação das Políticas Sociais com o Poder Nacional
A Expressão Política do Poder Nacional é entendida como a “manifestação, de natureza preponderantemente política, do conjunto dos homens e dos meios que a Nação dispõe, que integra e expressa a vontade do povo, de modo a identificar, estabelecer, alcançar e manter os objetivos nacionais” (BRASIL, 2019, p. 57). Essa expressão é colocada em prática ao promover ações de políticas sociais, particularmente, no Ministério da Defesa.
No mesmo sentido, a Expressão Psicossocial (BRASIL, 2019, p. 93) é definida como:
[…] a manifestação, de natureza preponderantemente psicológica e social, do conjunto dos homens e dos meios de que a Nação dispõe, capaz de favorecer a plena realização do cidadão e a possibilidade de ele contribuir para o aprimoramento da sociedade, visando a alcançar e a manter os Objetivos Nacionais.
As capacidades de proporcionar oportunidades para realizações individuais de crianças, adolescentes e jovens, que participam dos programas sociais, contribuem para o aprimoramento da dimensão humana. Logo, a continuidade das ações sociais, por Organizações Militares Hospedeiras, atinge a esfera psicológica das comunidades
onde são desenvolvidos os referidos projetos e programas sociais, caracterizando a Expressão Psicossocial.
De uma forma muito adequada, a Expressão Militar está intrinsecamente ligada a este contexto de políticas sociais do Ministério da Defesa. O apoio de infraestrutura e de pessoal são fornecidos por Unidades militares. Assim sendo, constata-se o conceito da Expressão Militar realizado pela Escola Superior de Guerra que é a manifestação de natureza preponderantemente militar do Poder Nacional, que contribui para alcançar e manter os Objetivos Nacionais (BRASIL, 2019, p. 109).
De forma sinérgica, o Livro Branco da Defesa (BRASIL, 2016, p. 169) afirma que a interação harmônica entre os órgãos da defesa e a sociedade dá maior dinâmica à ação estatal no provimento da segurança e da defesa do País. Essa interação contribui para o constante aperfeiçoamento da capacidade de identificação e análise de demandas de segurança e defesa nacionais, bem como, dos projetos sociais que passam a reforçar o conceito de cidadania corporativa das Forças Armadas.
4.2 Governança pública e gestão
O Referencial Básico de Governança (BRASIL, 2014, p. 22) descreve que a governança no setor público pode ser analisada sob quatro perspectivas de observação: sociedade e Estado; entes federativos, esferas de poder e políticas públicas; órgãos e entidades; e atividades intraorganizacionais, conforme pormenorizado:
[…] a primeira define as regras e os princípios que orientam a atuação dos agentes públicos e privados regidos pela Constituição e cria as condições estruturais de administração e controle do Estado; a segunda se preocupa com as políticas públicas e com as relações entre estruturas e setores, incluindo diferentes esferas, poderes, níveis de governo e representantes da sociedade civil organizada; a terceira garante que cada órgão ou entidade cumpra seu papel; e a quarta reduz os riscos, otimiza os resultados e agrega valor aos órgãos ou entidades.
Há uma relação intrínseca entre governança e gestão. O Tribunal de Contas da União (BRASIL, 2014, p.48) aponta:
Enquanto a gestão é inerente e integrada aos processos organizacionais, sendo responsável pelo planejamento, execução, controle, ação, enfim, pelo manejo dos recursos e poderes colocados à disposição de órgãos e entidades para a consecução de seus objetivos, a governança provê direcionamento, monitora, supervisiona e avalia a atuação da gestão, com vistas ao atendimento das necessidades e expectativas dos cidadãos e demais partes interessadas.
Figura 1 - Relação entre governança e gestão
Fonte: TCU (BRASIL, 2014, p.48)
Conforme se observa na Figura 1, são funções da governança: definir o direcionamento estratégico; supervisionar a gestão; envolver as partes interessadas; gerenciar riscos estratégicos; gerenciar conflitos internos; auditar e avaliar o sistema de gestão e controle; e promover a accountability (prestação de contas e responsabilidade) e a transparência (BRASIL, 2014, p. 47). Tais ações são afetas ao Ministério da Defesa no tocante à condução do Programa Forças no Esporte e do Projeto Soldado Cidadão.
Ainda, no mesmo escopo conceitual, o Tribunal de Contas da União (BRASIL, 2014, p.47) descreve que as funções da gestão são: implementar programas; garantir a conformidade com as regulamentações; revisar e reportar o progresso de ações; garantir a eficiência administrativa; manter a comunicação com as partes interessadas; e avaliar o desempenho e aprender. Verifica-se que estas tarefas são afetas às Organizações Militares Hospedeiras visando à condução dos projetos sociais. Para obter resultados, é necessário a utilização de práticas de gestão eficientes, que podem variar amplamente em função dos objetivos coletivos (ROTH, 2012).
4.3 Políticas públicas
As políticas públicas sociais desenvolvidas pelo Ministério da Defesa ganharam maior dimensão na última década. Progressivamente, a legislação e o número de participantes dos programas sociais foram ampliados. Além disso, novas ações surgiram por meio da natural dinâmica dos projetos em curso e da evolução dos conhecimentos que contribuíram para esta expansão, conforme aponta o Decreto nº 10.085, de 5 de novembro de 2019, que ampliou o número de participantes do
Programa Forças no Esporte para 40 mil beneficiários, antes eram 30 mil (BRASIL, 2019).
Pontualmente, as políticas públicas para crianças e adolescentes trabalham dentro de um escopo específico para este público-alvo que compõem o Programa Forças no Esporte. Sposito (2003) ressaltou que há um grande desafio em inscrever as políticas de juventude em uma pauta ampliada de direitos públicos que possua um caráter universalista. Assim, além de cumprir as normas e decretos do Ministério da Defesa, os gestores de Organizações Militares Hospedeiras devem estar atentos à legislação nacional e, principalmente, a outras iniciativas da comunidade local que possam corroborar para os objetivos de tal programa.
Nesse contexto, vale perscrutar alguns objetivos da legislação vigente, como o Estatuto da Criança e Adolescente (BRASIL, 1990), para entender os objetivos do programa de forma mais ampla. O artigo 4º prevê:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Ademais o direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer são direitos previstos na mesma legislação (BRASIL, 1990), onde destaca-se que criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, previsto na carta magna (BRASIL, 1998). Dessa forma, ações que contribuam para estes objetivos favorecem o fortalecimento das políticas públicas sociais do Ministério da Defesa.
No mesmo diapasão, é pertinente que os gestores do Projeto Soldado Cidadão investiguem as políticas públicas para a juventude existentes em suas localidades, focando nos melhores resultados para os integrantes do projeto. Há uma ampla legislação que proteje os jovens e assinalam os objetivos que devem ser alcançados. Como exemplo, o Estatuto da Juventude (BRASIL, 2013) propaga como uma de suas diretrizes o desenvolvimento da intersetorialidade das políticas estruturais, programas e ações.
Não é prudente olvidar que o Brasil possui dimensões continentais, grandes diferenças regionais e arranjos produtivos locais peculiares em todo território nacional. Assim sendo, cresce de importância a integração com protagonistas de políticas
públicas, nas diferentes esferas do poder federal, estatal e municipal, tendo em vista a otimização de resultados.
O Sistema Nacional da Juventude (SINAJU) é definido como um órgão que (BRASIL, 2019, p.77):
[…] determina as competências da União, Estados, Distrito Federal e Municípios na implementação da Política Nacional de Juventude. Tem como diretrizes a descentralização das ações e a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; a promoção da participação social, especialmente dos jovens, na formulação, implementação, acompanhamento, avaliação e controle social das políticas públicas de juventude; o respeito à diversidade regional e territorial; a atuação em rede e a articulação entre o Poder Público e a sociedade civil; e a transparência e a ampla divulgação dos programas, das ações e dos recursos das políticas públicas de juventude.
Desse modo, torna-se necessário buscar um alinhamento com as políticas públicas do SINAJU. Conforme cita um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (BRASIL, 2009, p.171), as políticas sociais têm buscado não apenas combater, mas também evitar a instalação de situações de extrema pobreza. Respondem igualmente aos objetivos de redução das desigualdades sociais e de ampliação das oportunidades.
Nesse contexto, destaca-se a atuação em públicos-alvo que possuem vulnerabilidade social. Sposati (2009, p.35) afirma que deve-se reduzir fragilidades e capacitar potencialidades. Dessa forma, os gestores de projetos sociais devem atentar para estes parâmetros, com a finalidade de planejar as suas ações de forma a obter resultados eficazes em seus projetos.
Conforme os direitos e as redes de proteção social vigentes e considerando-se as novas demandas juvenis que chegam ao espaço público, podemos classificar as Políticas Públicas Juvenis como: universais, atrativas e exclusivas (BRASIL, 2009, p.19). A primeira seriam as políticas setoriais dirigidas a toda a população, inclusive aos jovens. A segunda, aquelas que não são dirigidas apenas aos jovens, mas têm especial incidência sobre eles. E as políticas exclusivas seriam aquelas voltadas apenas para uma faixa etária predefinida entre 15 e 29 anos.
Ressalta-se ainda que as ações de prevenção da violência e da criminalidade, em geral, são classificadas em três níveis, a saber primária, secundária e terciária. (BRASIL, 2004, p. 310):
Prevenção primária: estratégia centrada em ações dirigidas ao meio ambiente físico e/ou social, mais especificamente aos fatores ambientais que aumentam o risco de crimes e violências (fatores de risco) e que diminuem o risco de crimes e violências (fatores de proteção), visando a reduzir a incidência e/ou os efeitos negativos de crimes e violências.
Prevenção secundária: estratégia de prevenção centrada em ações dirigidas a pessoas mais suscetíveis de praticar crimes e violências, mais especificamente aos fatores que contribuem para a vulnerabilidade e/ou resiliência destas pessoas (...), bem como a pessoas mais suscetíveis de ser vítimas de crimes e violências.
….
Prevenção terciária: “estratégia de prevenção centrada em ações dirigidas a pessoas que já praticaram crimes e violências, visando a evitar a reincidência e promover o seu tratamento, reabilitação e reintegração familiar, profissional e social, bem como a pessoas que já foram vítimas de crime e violências, visando a evitar a repetição da vitimização e a promover o seu tratamento, reabilitação e reintegração familiar, profissional e social.
Diante das evidências relacionadas ao envolvimento de jovens e adolescentes como vítimas e autores de alguns tipos de crimes, as ações de prevenção que devem ser desenvolvidas são as de nível secundário.
4.4 Educação profissional
A Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional (BRASIL, 1996) prevê a educação profissional e tecnológica composta pelos seguintes cursos: de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; de educação profissional técnica de nível médio; e de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação. O Ministério da Defesa, no Projeto Soldado Cidadão, prioriza a execução de cursos de qualificação profissional que possuem a duração mínima de 160 (cento e sessenta) horas.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada elaborou um estudo sobre juventude e políticas sociais no Brasil que descreve sobre a importância da qualificação profissional e a aceleração da aprendizagem, citando-as como ações emergenciais e compensatórias aos jovens de baixa renda do país, que não tiveram acesso à educação básica de qualidade (BRASIL, 2009, p. 67). Assim, as ações sociais desenvolvidas por Organizações Militares Hospedeiras favorecem as políticas públicas para a juventude.
5. A GESTÃO DE UMA ORGANIZAÇÃO MILITAR HOSPEDEIRA
Para realizar a gestão das ações sociais do Ministério da Defesa, o comando de uma Unidade do Exército Brasileiro criou o Programa PE Salvador no ano de 2018 (BRASIL, 2018). Esse programa constituiu-se no principal instrumento pelo qual foi exercida a ação, a orientação, a coordenação e o controle dos projetos sociais por esta Organização Militar Hospedeira (BRASIL, 2014).
5.1 O Programa PE Salvador
Anualmente, o 6º BPE incorpora cerca de 160 conscritos para prestarem o Serviço Militar inicial. A maior parte dos recrutas incorporados, são jovens de classes sociais que possuem baixa renda e escolaridade deficitária. Para muitos, o Serviço Militar será a primeira oportunidade de emprego, representando uma melhoria em sua qualidade de vida. No entanto, após um ano, o serviço militar obrigatório termina e a continuidade no mercado de trabalho torna-se um enorme desafio para estes jovens em virtude da falta de qualificação (BRASIL, 2018).
Já é notório que alguns desses ex-militares, diante dos problemas econômicos e morais enfrentados, como o desemprego e as más companhias, vivem em uma situação de vulnerabilidade social. SOUZA (2018) destaca o papel do Estado nas áreas econômica e social, para que os mais jovens não sejam atraídos e cooptados pela criminalidade. Desse modo, as ações que promovam as oportunidades de educação, particularmente a qualificação profissional, podem contribuir com a efetiva cidadania, ajudando a diminuir os riscos sociais (JANCZURA, 2012).
Figura 2 - Ciclo virtuoso do Programa PE Salvador
Na figura 2 verifica-se um ciclo virtuoso do programa PE Salvador que pode retardar outros ciclos viciosos como a pobreza e o desemprego (ENAP, 2019). Desta forma, nota-se que é de suma importância a qualificação profissional e tecnológica dos futuros reservistas, preparando-os para desmobilização das fileiras das Forças Armadas. A aquisição de novos conhecimentos e o aperfeiçoamento de suas capacidades, possibilitam a diminuição do risco social, uma vez que ampliam as chances de emprego e promovem oportunidades individuais para a ascensão social por meio de seus estudos e méritos. Isso permite a continuação da construção de um sujeito autônomo (CASTRO, 2013).
A equipe de trabalho desta Unidade investigada adotou posturas, comportamentos e ações que promoveram o bem-estar do seu público interno e externo, materializando o conceito de Responsabilidade Social (TENÓRIO, 2015). Verificou-se a aplicação da Expressão Psicossocial do Poder Nacional nas tarefas que promoveram tais posturas (ESG, 2019).
O Programa utilizou a estratégia de atuar em conjunto com políticas públicas juvenis exclusivas de prevenção secundária, baseado em práticas educacionais, profissionalizantes e sustentáveis, proporcionando a valorização na gestão de pessoas e a autorrealização da força de trabalho. A gestão do programa foi realizada por meio de uma rede complexa e integrada por múltiplos e diferenciados atores, constituídos pelos diferentes entes federativos e privados, cujos objetivos e interesses, foram favoráveis para a inclusão social (BRASIL, 2018). Tal programa, conforme os ensinamentos de POCHMANN (2002), possibilitou a habilitação do ser humano para manifestar as suas potencialidades para o bem próprio e o coletivo, para o trabalho e a vida decentes.
5.2 Os objetivos estratégicos do Programa PE Salvador
O Programa PE Salvador elegeu os seguintes objetivos estratégicos: fortalecer a dimensão humana; ampliar a integração do Exército Brasileiro à sociedade; contribuir com o desenvolvimento sustentável e a paz social; aumentar a efetividade na gestão do bem público; fortalecer os valores, os deveres e a ética; e maximizar a obtenção de recursos do orçamento e de outras fontes. Os objetivos estratégicos elencados foram alinhados com o Plano Estratégico do Exército e serviram de base para as elaborações dos projetos desenvolvidos naquela Unidade Militar (BRASIL, 2018).
O Fortalecimento da dimensão humana foi influenciado pela gestão de pessoal do Departamento Geral do Pessoal, cuja tônica é valorizar o conjunto de todos os fatores, geridos pela Instituição, que influenciam o profissional militar, do ambiente de trabalho e seus familiares, e são caracterizados pelas seguintes atividades da gestão de pessoas: agregar (recrutar e selecionar); aplicar (orientar e modelar o trabalho); motivar (valorizar e prover incentivos, benefícios e serviços); desenvolver; manter; e monitorar (BRASIL, 2017).
A ampliação da integração do Exército à sociedade buscou reforçar a relação com importantes entes do governo Federal, Estadual e Municipal, além de parcerias com instituições de ensino e empresas privadas. A cada ação realizada, tal objetivo foi materializado tendo em vista a ampliação das redes de relacionamento funcionais. Quando os canais de comunicação humana foram abertos, foi possível constatar que a consciência dos indivíduos foi estendida às organizações parceiras. Assim como as pessoas, as organizações também podem aprender (ROSSETTI, 2008).
O objetivo de contribuir com o desenvolvimento sustentável e a paz social teve como finalidade melhorar as condições de vida dos participantes do projeto, dentro dos limites da capacidade de sustento dos ecossistemas. Como exemplo, foram adotadas novas práticas de manejo de sobras de alimentos, o trabalho de proteção de encostas, a manipulação de resíduos da área automotiva e o manejo do lixo hospitalar. Assim sendo, foi possível a transmissão dos ensinamentos de que é possível um crescimento econômico e social que não dilapide o patrimônio natural das futuras gerações e que não perturbe os equilíbrios ecológicos existentes, trabalhando o tripé sociedade-natureza-economia (FONSECA, 2011).
O aumento da efetividade na gestão do bem público foi elencado visando à alcançar as atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. De forma pragmática, a capacitação profissional representou economia de recursos públicos em diversos setores da Unidade como no setor de aprovisionamento, responsável por confeccionar cerca 1.200 (mil e duzentas) refeições diárias, e nos serviços de manutenção da infraestrutura do patrimônio e do setor automotivo da Unidade. A expansão das parcerias com o SENAI e o SENAC, promoveram a maior qualidade e na força de trabalho na Organização Militar, de acordo com os ensinamentos de Alves (2009).
O fortalecimento dos valores, dos deveres e a da ética foi otimizado por meio da rede de relacionamentos com parceiros privados que buscavam novos
colaboradores para ingresso em suas empresas que tiveram conduta ilibada na Organização Militar. Assim, houve um reforço positivo natural do comportamento dos militares, conforme previsto no Vade-Mécum de Cerimonial Militar do Exército Valores, Deveres e Ética Militares (BRASIL, 2015), visando a uma futura indicação para o mercado de trabalho, pois os militares da Polícia do Exército que transgrediam de forma grave estes valores institucionais não eram indicados.
A maximização e a obtenção de recursos do orçamento e de outras fontes foi outro objetivo elencado para custear os investimentos nos projetos sociais que foram desenvolvidos. Conforme consta no Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI), em 2018, foram investidos R$ 33.416,99 (trinta e três mil quatrocentos e dezesseis reais e noventa e nove centavos) e no ano de 2019, R$ 745.524,66 (setecentos e quarenta e cinco mil quinhentos e vinte e quatro reais e noventa e nove centavos). Assim, houve uma ampliação do aporte de recursos para na Organização Militar Hospedeira, com a finalidade de contratar os cursos do Projeto Soldado Cidadão e construir um bloco de vestiários para o apoio do Programa Forças no Esporte.
Santos (2018) ao examinar as Ciências Econômicas defende que seja criado um campo chamado de Economia de Defesa, advogando que o mesmo seja considerado como uma categoria geral. Tal assunto é muito pertinente para que a sociedade discuta o dilema da transferência da alocação dos recursos da área social para a área de defesa, sendo interpretado como um custo de oportunidade (trade-off) entre os gastos militares e os demais gastos (guns vs. butter).
Em uma breve análise, fica demonstrado que o Ministério da Defesa recebe recursos para áreas sociais que são computados na pasta de Defesa. Forçoso constatar a necessidade da Economia de Defesa para detalhar os gastos públicos que são questionados pela sociedade e órgãos de controle interno (SANTOS, 2018).
5.3 Os projetos desenvolvidos no Programa PE Salvador
Programa é um grupo de projetos relacionados, gerenciados de modo coordenado para a obtenção de benefícios e controle que não estariam disponíveis se fossem gerenciados individualmente (PMBoK® …, 2004). Assim, foi estabelecido o Programa PE Salvador para realizar uma gestão mais eficiente das políticas públicas sociais do Ministério da Defesa.
Projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo (PMBoK® …, 2004). A sua natureza temporária prevê um início e um término definidos. Nesse contexto, foram criados nove projetos sociais, a partir de janeiro de 2018, em áreas específicas para promover uma qualificação profissional na Unidade, sendo as ações e os resultados analisados até dezembro de 2019 na presente pesquisa.
5.3.1 Projeto cozinha social
O projeto cozinha social teve como premissa a necessidade de elevar as técnicas no trato com alimentos e preparar o elemento humano para os desafios que a sociedade contemporânea exige. O objetivo do projeto foi qualificar os militares que trabalhavam no serviço de aprovisionamento de Organizações Militares, criando oportunidades para a sua inserção no mercado de trabalho, após cumprido o tempo do Serviço Militar. A capacitação profissional foi garantida por meio de instruções e estágios que promoveram as melhores práticas em serviços de alimentação (SANTANA, 1996).
Foram realizados os cursos de auxiliar de cozinha, culinária de forno, culinária básica, culinária a base de carnes, culinária a base de peixes e frutos do mar, preparo de sobremesas, básico de cozinheiro e garçom em parcerias estabelecidas com o Serviço Nacional do Comércio, o Serviço Nacional da Indústria, a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia e a Universidade Salvador (UNIFACS), perfazendo um total de 216 (duzentos e dezesseis) cursos de qualificação (BRASIL, 2019).
Para otimizar o tempo de deslocamento, os cursos foram realizados no interior da Unidade, acolhendo militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica que serviam na guarnição de Salvador, Feira de Santana, Aracaju e Paulo Afonso.
Nesse contexto, vale ressaltar a parceria estratégica estabelecida com o SENAI da Bahia, que teve a finalidade de customizar um curso de qualificação profissional, empregando o ensino por competências. Isso aproximou a formação ao mundo real, incluindo também noções básicas de sustentabilidade, empreendedorismo, ética e cidadania.
Esta parceria teve como objetivo contribuir na formação e qualificação de jovens militares, visando a estabelecer um modelo institucional para as Forças Armadas. Assim sendo, a sociedade passou a ter um emprego dual de seus recursos
que foram direcionados tanto para qualificar jovens sem experiência, como para gerar economia na gestão de bens públicos.
Por meio do núcleo de Inovação e Tecnologias Educacionais (ITED), em maio de 2019, foi elaborado o Curso de Auxiliar de Processamento de Alimentos, na modalidade semipresencial, com o emprego do ensino à distância em 80 % de sua grade curricular. Ao invés do militar ficar 12 (doze) semanas fora da Unidade, esse lapso temporal foi reduzido apenas para 2 (duas) semanas, vencendo as barreiras do tempo com o emprego de novas tecnologias assistivas.
A educação a distância se configura como uma nova modalidade de construção do conhecimento sem a presença simultânea dos atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, para isso foram utilizados recursos de comunicação, como o computador, para fomentar o desenvolvimento da aprendizagem.
O militar que ingressou em um curso de formação inicial e continuada obteve o direito a um certificado que conferiu ao seu titular a comprovação do desenvolvimento de saberes associados a determinada função laboral. Isso reforçou a gestão de bens públicos, por meio do conhecimento adquirido na capacitação, ampliando a produtividade no trabalho; e criou oportunidades individuais, gerando desenvolvimento social e econômico. A educação técnica, a inovação e a união, entre as Forças Singulares e o SENAI, foram fundamentais para essa primeira iniciativa nacional.
Ademais, foi criada uma rede de relacionamentos com restaurantes, bares e empresas do setor alimentício que proporcionou a inserção direta de jovens no mercado de trabalho, como ocorreu com um ex-integrante do 6º BPE que foi contratado pelo Restaurante Coco Bambu Bahia.
5.3.2 Projeto Almoxarifado Social
O Projeto Almoxarifado Social teve como intenção qualificar os soldados voluntários para desempenhar as modernas funções logísticas de forma mais eficiente. Ele buscou proporcionar a qualificação e os novos conhecimentos requeridos para o desempenho funcional destes jovens, tanto no quartel, como no mercado de trabalho. Assim, ficou evidente uma faceta dual de sua execução, caracterizada por uma gestão eficiente e pela responsabilidade social.
Foram qualificados 16 (dezesseis) militares em agentes administrativos que agregaram valor à sua mão de obra. Isso permitiu a implementação de um sistema de
gestão logística mais eficiente atendendo as necessidades, o recebimento, o armazenamento e a entrega de material.
5.3.3 Projeto Informática Social
Durante as suas atividades diárias, o militar depara-se com os desafios de definir parâmetros de utilização dos sistemas, de cuidar da implantação e da documentação de plataformas, de controlar os níveis de serviço de sistemas operacionais, de gerenciar os recursos humanos dos processos que envolvem a área e de fazer a gestão dos novos programas implantados. Tais ações requerem conhecimentos de Tecnologia da Informação.
A criação do Projeto Informática Social objetivou o aperfeiçoamento e a qualificação dos soldados de Polícia do Exército que trabalham na área de Tecnologia da Informação (TI), visando a aprimorar a administração dos bens da Unidade e a prepará-los para o ingresso no mercado de trabalho.
O Projeto Informática Social criou uma parceria com o SENAC para a contratação do SENAC MÓVEL em 2018. O SENAC cedeu uma carreta com capacidade para qualificar 16 (dezesseis) alunos por turma, beneficiando 107 (cento e sete) militares e 21 (vinte e um) adolescentes do PROFESP. Ao final, foram ofertados os seguintes cursos no projeto: desenvolvimento de sistemas, rede de computadores, manutenção de rede cabeada, informática e o mundo do trabalho, marketing pessoal e profissional, pacote office e corew draw.
5.3.4 Projeto PE vigilante
O Projeto PE Vigilante teve por finalidade custear o curso profissionalizante de vigilante que representa a porta de entrada para quem possui o interesse em trabalhar na área de segurança privada. Assim, a capacitação profissional almejada para 25 (vinte e cinco) militares pode ser realizada com a emissão do certificado válido por dois anos.
Buscou-se, ainda, realizar a inscrição de ex-militares qualificados em banco de talentos de empresas do ramo da segurança privada na cidade de Salvador. Isso facilitou a continuidade de jovens no mercado de trabalho, em empresas como a Tecnologia Bancária e Soluções Financeiras (TecBan) e a CCR Metrô Bahia, que contrataram ex-militares como novos colaboradores.
5.3.5 Projeto PE Motorizado
O Pelotão de Manutenção e Transporte (PMT), do 6º Batalhão de Polícia do Exército, tem a sua infraestrutura composta por 2 (duas) garagens, que abrigam 99 (noventa e nove) viaturas, incluindo: caminhões, veículos leves, reboques e motocicletas, englobando diversas marcas do mercado mundial. Além disso, o pelotão dispõe de ferramental e suprimento necessário para os diversos tipos de manutenções, possuindo salas de depósito, pintura, posto de lavagem e lubrificação e almoxarifado.
O PMT possui como bem mais precioso o seu capital humano, constituído por militares especializados em diversas áreas relacionadas à manutenção e transporte, nas quais se destacam as seguintes profissões: Gerente de compras, Gestor de Recursos Humanos, Encarregado de Almoxarifado, Encarregado de Garagem, Encarregado de Ferramental, Mecânico Automotivo Diesel e Gasolina, Mecânico de Motocicletas de baixas e altas cilindradas, Eletricista Automotivo e Pintor Automotivo. Anualmente, cerca de 28 (vinte e oito) recrutas são qualificados no PMT, durante o ano de instrução.
O Projeto PE Motorizado teve o desafio de qualificar com certificados reconhecidos pelo mercado de trabalho os soldados que seriam licenciados do serviço ativo, agregando valor à sua mão de obra e buscando a garantia de sua continuidade profissional remunerada, por meio de parcerias com empresas do setor.
No ramo automobilístico, este projeto dividiu-se em duas vertentes: Manutenção e Transporte, sendo que a primeira englobou todas as ações e técnicas voltadas à manutenção de material do ramo automotivo, enquanto a segunda esteve relacionada às técnicas e práticas de direção.
Foram realizados os seguintes cursos: Alinhamento, Balanceamento e Suspensão, Frentista, Mecânico de Ar-Condicionado, Mecânico Diesel, Mecânico de Moto e Mudança de Categoria de “B" para “D”. No total foram 65 (sessenta e cinco) cursos de qualificação ofertados pelo projeto.
5.3.6 Projeto PE Construtor
O Pelotão de Obras do 6º Batalhão de Polícia do Exército era constituído por pedreiros, eletricistas, pintores, soldadores, marceneiros e bombeiros hidráulicos, sendo que a maior parte de seus integrantes não eram profissionais qualificados. Para ampliar a qualidade dos serviços e criar oportunidades para os futuros empregos
