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Cad. Saúde Pública vol.15 número3

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Academic year: 2018

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DOENÇA, SOFRIM ENTO, PERTURBAÇÃO: PERS-PECTIVAS ETN OGRÁFICAS. Luiz Fernando Dias Duarte & Ondina Fachel Leal (org.). Rio de Janei-ro: Editora Fiocruz, 1998, 210 pp.

ISBN 85-85676-46-9

Um d os au tores d essa p u b licação coletiva p rovoca o leito r co m a segu in te q u estã o : Ao fa la rm o s so b re o p rocesso saú d e/ d oen ça estarem os fazen d o u m “exer -cício em torn o d o óbvio”? (Oliveira , p. 81). Ao en cer-rarm os a leitu ra d os d oze trab alh os organ izad os p or Du arte & Leal, tem os a con vicção d e q u e essa in cu r-são p elos m ean d ros d o ad oecim en to e d o sofrim en to d em arca u m esp aço on d e n ad a é óbvio, e sim reflexi-vo e p assível d e ser relativizad o. Dito d e ou tra m an ei-ra, as form as con ven cion ais d e reflexão sob re o sofri-m en to (seja físico, p síq u ico o u sofri-m o ra l) esb a rra sofri-m n o q u e tã o a d eq u a d a m en te já fo i ch a m a d o d e “ep id e -m iologia d a i-m p recisão”, on d e a d oecim en to e sofri-m en to p ossu esofri-m u sofri-m con torn o fosco esofri-m seu s lisofri-m ites. Ch am a aten ção n essa ob ra o con sen so im p lícito q u e h á en tre o s a u to res so b re a q u estã o d o m éto d o a n tro p o ló gico n essa á rea tem á tica : sã o a b o rd a gen s q u e se som am e q u e b u scam u m a lin h a in terp retati-va coeren te, fazen d o ‘costu ras’ sem cerceam en to. Os trab alh os relatam o en con tro d o ‘ou tro’, e tu d o o q u e isso im p lica n a a n á lise d a p ercep çã o su b jetiva d a p ertu rb a çã o. Isso p o d e p ro d u zir u m ta l sen tim en to d e in q u ieta çã o n o p esq u isa d o r, q u e m u ita s vezes o in cap acita d e an alisar sim b olicam en te a rep resen ta-ção e a exp ressão d o corp o ‘d oen te’. Essa ob ra, com o u m tod o, d em on stra o am ad u recim en to q u e os estu d os an trop ológicos vêm d esen volven d o, in trod u zin d o u m a m elh or com p reen são d a d im en são exp erien -cia l, n a “d ireção d e u m a an trop ologia d as em oções” (Du a rte, p. 21). É im p o rta n te, p o rta n to, ressa lta r o en orm e in teresse q u e o livro d esp erta p ara os p rofission ais qu e lid am com esses p arâm etros em su a p au -ta cotid ian a. Esse ‘ofício’ d e arqu ite-tar m etod ologias, d e errar e im p rovisar, d e atrib u ir sen tid os e con fron -tar su b jetivid ad es com o n osso p róp rio esp elh o.

Dia n te d o p lu ra lism o d o s a ssu n to s a b o rd a d o s n o s a rtigo s, d esta ca m o s o fa to d e q u e, co m exceçã o d e d o is estu d o s, o s d em a is têm co m o u n iverso gru -p o s u rb a n o s d e b a ixa ren d a , e co m o m a téria --p rim a d e an álise as n arrativas. E q u e relevân cia p od em ter id éia s e cren ça s co lh id a s o ra lm en te n o s ch a m a d o s segm en tos sociais m en os favorecid os? Em qu e m ed i-d a a cu ltu ra p rei-d om in an tem en te oral in terfere, m od ifica, rem ood ela? Os au tores od eixam claro qu e as fon -tes orais fu n cion am com o u m a esp écie d e m atriz d o con h ecim en to, o q u e p ossib ilita a con stru ção d e u m co rp o teó rico q u e reela b o ra u m a n ova leitu ra d esse com p lexo tem a. Já foi p rop osto p or Mikh ail Bakh tin , h istoria d or e lin gü ista ru sso, q u e é p ossível resu m ir n o term o circu la rid a d e o flu ir d e to d o s o s va lo res e h ierarq u ias con stitu íd as, com o u m in flu xo recíp roco en tre cu ltu ra su b altern a e cu ltu ra h egem ôn ica. Cad a

fato rep ercu te em m u itos ou tros, n u m terren o virtu al-m en te ilial-m itado. A p resen te coletân ea faz esse itin erá-rio coletivo, em ‘m ão d u p la’, e vaivén s en tre as id éias.

Exam in arem os agora a d istrib u ição d os textos em gru p os tem áticos.

A Parte I – Corp o e Rep rod u ção – traz artigos so-b re o s sign ifica d o s co n stru íd o s co m so-b a se n a exp e-riên cia so cia l, co m “o in tu ito d e d em on strar as d i-m en sões sociais, h istóricas e cu ltu rais d estes fen ôi-m e-n os” (Pa im , p. 31). Fa la -se d e gên ero, m a tern id a d e, an ticon cep ção, com o p rocessos im p revisíveis, su jetos a ritm os, tem p os e in terp retações n ão h egem ôn i-cas. Pen so qu e d everiam fazer p arte d este tom o os es-tu d os d a Parte IV – Sexu alid ad e e Gên ero –, p ois ab or-d am u m a série or-d e q u estões sob re o m ascu lin o/ fem i-n ii-n o e su as relações com as ‘m arcas’ i-n o corp o, “as di-feren tes m an eiras d e en xergar o m u n d o, d efin id as já n a p róp ria socializ ação, ou seja, n a d efin ição d e gê-n ero” (Kn au th , p. 195). Mesm o su p on d o q u e, p rop o-sita lm en te, o tem a d a Aid s ten h a d eterm in a d o u m agru p am en to esp ecífico, creio qu e teria sid o con stru -tivo in clu ir o s a rtigo s fin a is n a p a u ta in icia l, p o r se tratar tam b ém d a con stru ção h istórica d as exp eriên -cias corp orais d o sofrim en to, tran scen d en d o a an ti-n om ia saú d e/ d oeti-n ça.

Na Parte II – In stitu ições e Trajetórias –, os estu -d os se in serem n o cam p o -d as in stitu ições e -d e com o se d á esse en co n tro co m o s in d ivíd u o s. An a lisa m a s d efin ições e in flu ên cias qu e os serviços in stitu em , sa-lien tan d o as d istin tas p ersp ectivas con ceitu ais en tre o leigo e o legítim o. Um d os trab alh os (Gon çalves) faz a d istin ção en tre ad esão e ob ed iên cia, n o qu e d iz resp eito ao ab an d on o d a teraresp êu tica, e d everia ser leitu ra ob rigatória p ara os p restad ores d e serviços d e saú -d e q u e teim a m em cu lp a r sem p re o s u su á rio s p ela in eficácia d os tratam en tos.

Na Pa rte III – Os Lim ites d a Pesso a –, o s a u to res tocam n ão só n as sen sações d o corp o, m as n a m an ei-ra com o “os h om en s e as sociedades (...)sabem servir-se d e servir-seu s corp os” ( Va rga s, p. 130). A id éia d o so fri-m en to ap arece ligad a a fri-m ed id as su b jetivas d e resis-tên cia. O corp o, fazen d o o registro b iológico d as ex-p eriên cias, e o ex-p rin cíex-p io d a ‘gota d’águ a’, d esafian d o a resistên cia su b jetiva.

Essa trian gu lação corp o/ in stitu ição/ lim ites d es-creve a tra jetó ria q u e d esa fia e a la rga u m a q u estã o q u e m erece a ten çã o co n tin u a d a d a litera tu ra esp e-cializad a. O corp o é o d ep ositário d e p rocessos b ioló-gicos in d icad ores d e saú d e, d oen ça e sofrim en to. Mas a ele ta m b ém se a p lica m a s em oções e os p rocessos sociais. A con textu alização d esse foco em in stitu ições d em an d a d ois ou tros tem as, q u e são a solid aried ad e e a ética. Con gregar tod os esses fatores sign ifica tes-tem u n h ar a verd ad eira exp eriên cia h u m an a.

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-trop ologia d a Saú d e têm a cap acid ad e d e ler através d e lin h as tortas (n u m b om sen tid o) situ ações p ou cos visíveis a olh o n u . Essa coletân ea ap on ta p ara os fatores foscos ab ord ad os n o in ício d a resen h a, aceitan -d o m eto -d o lo gica m en te o ecletism o co m o u m b o m cam in h o p ara o con h ecim en to. O resu ltad o d a an áli-se d os d ad os d e tod os os estu d os d evem falar p or si. Além d e u m a leitu ra b a sta n te a gra d á vel, co n figu ra u m a ob ra d e referên cia p ara esse cam p o tem ático.

Lêd a Maria d e Vargas Reb ello Dep artam en to d e Ep id em iologia e Métod os Qu an titativos em Saú d e Escola Nacion al d e Saú d e Pú b lica Fu n d ação Oswald o Cru z

SAÚDE PÚBLICA: UM A COM PLEXIDADE AN UN -CIADA. M ario Iván Tarride. Rio de Janeiro: Edito-ra Fiocruz, 1998, 107 pp.

ISBN 85-85676-47-7

A sa ú d e p ú b lica está em crise, e em u m a crise d e eq u a cio n a m en to co m p lexo. A visã o red u cio n ista e fragm en tária, ain d a d om in an te, m ostrse in ad equ a-d a p ara lia-d ar com esta crise, tan to a-d o p on to a-d e vista teórico, q u an to p rático. Partin d o d esta con statação, Mario Tarrid e, em seu livro recen tem en te lan çad o p ela Ed itora Fiocru z, p rocu ra oferecer p istas p ara o en -fren tam en to d a crise, ap resen tan d o algu m as ab ord a-gen s qu e, ap esar d e n ão tão n ovas p ara os p ad rões d e n o sso tem p o m u ltia celera d o, a in d a n ã o se en co n -tram satisfatoriam en te d issem in ad as en tre os san ita-ristas. O au tor d efin e su a p rop osta d a segu in te form a: “Ao se u sar diferen tes abordagen s para observar a rea-lid ad e, d o m esm o m od o qu e se d isp õe d e m ú ltip las teorias para explicála e de m étodos diversos para en -fren tar os problem as qu e se apresen tam , se disporá de m ais e m elh ores oportu n idades de form u lar pergu n tas válidas e de en con trar respostas às m esm as” (p. 18). O gran d e d esafio qu e h oje se coloca é a recu p eração d a ca p a cid a d e d e se fo rm u la rem q u estõ es fu n d a m en -tais, d ifíceis d e serem ab ord ad as ad equ ad am en te ju s-tam en te p or estarm os em m eio a u m a crise p arad ig-m ática n a q u al, segu n d o a afirig-m ação d e Boaven tu ra d e Sou za San tos, “as con dições epistêm icas das n ossas p ergu n tas estão in scritas n o avesso d os con ceitos qu e u tilizam os para lh es dar resposta”.

Ta rrid e, em su a d em a rca çã o d a crise, a p on ta a l-gu n s d e seu s sin ais, com o a in ad eq u ação d o m od elo assisten cial – ain d a p red om in an tem en te cen trad o n a d oen ça – p ara resp on d er às d em an d as crescen tes d a socied ad e, as in certezas qu an to aos lim ites d o Estad o n o a ten d im en to d essa s d em a n d a s e o p ro cesso d e m ercan tilização d as p ráticas m éd icas.

O a u to r a p o n ta três d im en sõ es q u e co m p o r ia m u m ‘sistem a cau sal’ d a crise. A p rim eira d elas é con -ceitu a l e reflete a s d ificu ld a d es d a co existên cia d e d istin tas ab ord agen s teóricas em u m cam p o in terd is-cip lin a r, em p a rticu la r os p rob lem a s d e h a rm on iza-çã o en tre o m o d elo d a s ciên cia s b io m éd ica s e o d a s ciên cias sociais. A segu n d a d im en são exp licativa d a crise d a saú d e p ú b lica refere-se à su a p rática, calcad a em u m m od elo cien tificista e in d ivid u alista ain d a h e-gem ôn ico, ap esar d o su rgim en to d e p ráticas con tra-h egem ô n ica s, q u e va lo riza m a a ten çã o p rim á ria e a p articip ação d as com u n id ad es n a p rom oção d a saú -d e. Po r fim , a -d im e n sã o -d a fo rm a çã o e -d a p e sq u isa

con trib u i p ara a crise, n a m ed id a em qu e, n o con tex-to acad êm ico atu al, os esforços d e d esen volvim en tex-to m eto d o ló gico, n a m a io ria d a s vezes, sã o p a u ta d o s p elas ciên cias n atu rais e form ais, n ão se d irecion an d o p a ra a in tegra çã o d o ca m p o. Discip lin a s q u e p o d eria m co n trib u ir p a ra esta in tegra çã o n ã o en co n -tram esp aço ad equ ad o n as escolas d e saú d e p ú b lica. Ap ós a an álise d este ‘sistem a cau sal’, Tarrid e p as-sa e m re vista a lgu m a s p o ssíve is a lte rn a tiva s p a ra o e n fre n t a m e n t o d a crise. En t re a s p o siçõ e s m a is re -co rren tes en -co n tra -se a crítica a o m od elo b iom éd i-co. Ta l crítica é d esen vo lvid a ta n to co m b a se n a d efesa d a d esm ed ica liza çã o d o co n ceito d e sa ú d e, in -corp oran d o a esse con ceito asp ectos afetivos e valo-ra t ivo s, q u a n t o p e la ê n fa se n a ce n t valo-ra lid a d e d a d i-m en sã o p olítica e d a reflexã o ética n a d efin içã o d a s p riorid ad es san itárias.

O a u to r co n sid era q u e a crise d a sa ú d e p ú b lica tem u m ca rá ter em in en tem en te ep istem o ló gico : “É p reciso com p reen d er qu e o con h ecer e o in terp retar a realid ad e exercem p ap el fu n d am en tal n a con stru ção d o m u n d o qu e se d eseja. A d iscu ssão sobre p resen te e fu tu ro da saú de pú blica deve passar por u m a reflexão ep istem ológica, levan d o em con ta fatores com o d em arcação do con h eciem en to cien tífico, desen volviem en -to da ciên cia, com plexidade, ciên cias sociais, adm in is-tração e ‘cien tificism o’” (p. 36). Por tra ta r-se d e u m a qu estão ep istem ológica, o au tor p rop õe o em p rego de n ovas p ersp ectivas q u e p erm itam u m a m elh or com -p reen são d a situ ação atu al e a elab oração d e altern a-tivas m ais ad eq u ad as p ara o fu tu ro. Du as d iscip lin as são destacadas n o trabalh o de Tarride com o en foqu es cap azes d e am p liar n ossa cap acid ad e d e com p reen -d er e li-d ar com a crise: a Sistêm ica e a Com p lexi-d a-d e. O d esen vo lvim en to d o p en sa m en to sistêm ico é ap resen tad o p elo au tor d e form a b astan te ab ran gen -te, d esd e o s tra b a lh o s p io n eiro s d e Berta lla n ffy, n o in ício d os an os 40, p assan d o p elas con trib u ições d e teó rico s d a cib ern ética , co m o Wien er e Ash b y, p o r Sh an n on e su a Teoria d a In form ação, até teorias m ais con tem p orân eas, com o as d e Prigogin e e d e Matu ra-n a e Va rela . O elem era-n to co m u m ra-n este p ercu rso é a crítica a o red u cio n ism o d o m éto d o cien tífico tra d icion al, n o q u al a ên fase an alítica b loq u eou o d esen -volvim en to d o p en sam en to sin tético. A Sistêm ica se con stitu iria, segu n d o Tarrid e, em u m a m etad iscip li-n a cap az d e exp ali-n d ir li-n ossa com p reeli-n são d a realid a-d e, sem con tu a-d o a-d esp rezar os avan ços ob tia-d os p elas ciên cias orien tad as p elo m étod o cien tífico trad icio-n al: “O sistem ism o se m an ifesta com o u m pen sam en to exp an sion ista, com p lexificad or e ‘p rojetivo’. Deve-se aceitá-lo com o m ais u m a form a de com preen der a rea-lid ad e e n ão em term os an tagôn icos ao red u cion ism o dom in an te. O desafio h oje é expan dir su a prática, com o objetivo de servir de base a n ovos en foqu es e m étodos para abordar os problem as qu e n os afligem” (p. 49).

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reali-d areali-d e e a con seqü en te im p ossib ilireali-d areali-d e reali-d e u m con h e-cim en to ob jetivo, a com p lexid ad e n ão oferece sín te-ses d e fácil ob ten ção. Este p on to – fu n d am en tal p ara q u e o leitor n ão se fru stre com o livro – torn a-se evi-d en te q u an evi-d o ch egam os à p arte fin al evi-d o trab alh o evi-d e Tarrid e, n a q u al ele p rocu ra d elin ear p ossíveis lin h as d e p esqu isa e d e ação p ara u m a ‘n ova saú d e p ú b lica’, cap az d e ab ord ar a crise d e m an eira rad ical, sem ap e-lar p ara solu ções sim p listas e lim itad as.

Ap oian d ose n a teoria b iológica d o con h ecim en -to d e Ma tu ra n a , Ta rrid e a rgu m en ta q u e, a p esa r d o fu n d a m en to b io ló gico d a sa ú d e, o s a co p la m en to s m ú tu o s efetu a d o s p elo s seres h u m a n o s im p lica m a n ecessid ad e d e con sid erar u m ou tro d om ín io, esp e-cifica m en te h u m a n o, q u e a b ra n ge a lin gu a gem e o social. A saú d e “tem u m fu n dam en to biológico-físico, m as é u m a d istin ção feita p or u m observad or n a lin -gu agem e qu e se expressa n o con versar” (p. 87). A saú -d e -d eve ser co m p reen -d i-d a n ecessa ria m en te -d e u m p o n to d e vista rela cio n a l: “Só se p od e situ ar a saú d e n a relação d os seres vivos com o seu am bien te. N esta lógica recu rsiva d e relações d e sistem as e am bien tes, pode-se ir do n ível celu lar ao social” (p. 89).

O cam p o d a saú d e p ú b lica agrega à com p lexid a-d e a-d a a-d efin ição a-d e saú a-d e os m ú ltip los fatores en vol-vid os n a su a d im en sã o p ú b lica . Neste d om ín io, n ã o se trata ap en as de con siderar a saú de “com o u m a rede de con versações en tre seres h u m an os a respeito de seu s desem pen h os in dividu ais em am bien tes sociais e n atu -rais” (p p. 92-93), m as d e ab ord ar a m an eira p ela qu al a s so cied a d es a rticu la m d istin to s p la n o s – co m o o s d a ética, d a p olítica, d a cu ltu ra, d a econ om ia e d a ad-m in istração, den tre ou tros – n a estru tu ração e fu n cio-n am ecio-n to d e serviços qu e visem p rom over u m a d eter-m in ad a con cep ção d e saú d e e red u zir os agravos d a-qu eles recon h ecid os com o seu s m em b ros. Neste p ro-cesso, n ão h á resp ostas verd ad eiras ou ab solu tas. Tra-ta-se d e u m a con stru ção p erm an en te d e acord os so-b re os lim ites cogn itivos e p ráticos d a saú d e p ú so-b lica. Com o u m a ap roxim ação op eracion al a esse p ro-cesso d e co n stru çã o, Ta rrid e p ro p õ e o em p rego d e m etalin gu agen s qu e p erm itam u m efetivo diálogo en tre p rofission ais das discip lin as qu e com p õem o cam -p o d a saú d e -p ú b lica. As ab ord agen s d a sistêm ica e d a com p lexid ad e con stitu iriam ferram en tas p articu lar-m en te ú teis n este diálogo, qu e deveria desen volver-se em cen tros de p esqu isa in dep en den tes, já qu e, segu n -do o au tor, as escolas de saú de p ú blica, p or en con tra-rem -se em su a m aioria n o in terior d as facu ld ad es d e m ed icin a, n ão seriam o local m ais ap rop riad o p ara o d esen volvim en to d e u m trab alh o tran sd iscip lin ar.

Ao an u n ciar as p ossib ilid ad es ab ertas p or u m en -foqu e ep istem ológico e m etod ológico orien tad o p ela com p lexid ad e, o livro d e Tarrid e certam en te con tri-b u irá p ara aqu eles qu e, in satisfeitos com os m étod os can ôn icos, p rocu ram form as m en os m u tilan tes p ara lid a r co m o s p ro b lem a s fu n d a m en ta is q u e h o je se ap resen tam n a área d a saú d e p ú b lica. A p erm an en te b u sca d e resp o sta s, sem p re p rovisó ria s, d eve esta r com p rom etid a com u m m esm o valor, d e cu n h o p rag-m ático, b erag-m salien tad o p elo au tor: “O m elh oram en to da qu alidade de vida das pessoas” (p. 98).

An ton io Claret Cam p os Filh o Dep artam en to d e Ciên cias Sociais Escola Nacion al d e Saú d e Pú b lica Fu n d ação Oswald o Cru z

EPIDEM IOLOGIA DA OBESIDADE. Rosely Sichie-ri. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998, 140 pp.

ISBN 85-85881-44-5

A Pesq u isa Na cio n a l d e Sa ú d e e Nu triçã o, rea liza d a n o fin a l d a d éca d a d e 80, fo i u m m a rco im p o rta n te p a ra o d im en sio n a m en to d a o b esid a d e n o Pa ís. Na ép oca, 3,1% d os h om en s e 8,2% d as m u lh eres foram co n sid era d o s o b eso s – em co m p a ra çã o co m o s res-p ectivos 5,9% e 13,3% ob servad os q u in ze an os an tes n o Estu d o Nacion al d e Desp esa Fam iliar. Este crescim en to tã o a cen tu a d o su rp reen d eu e p reo cu p o u to -d o s. A o b esi-d a -d e, in eq u ivo ca -d a m en te a sso cia -d a a u m a série d e d o en ça s crô n ica s resp o n sá veis p ela s p rin cip ais cau sas d e m orb i-m ortalid ad e n o País, tor-n o u -se reco tor-n h ecid a co m o im p o r ta tor-n te q u estã o d e saú d e p ú b lica.

O p rob lem a con tin u a crescen d o. Na ten tativa d e a ten u á -lo, é p reciso com p reen d ê-lo em su a en orm e co m p lexid a d e e d iversid a d e. Pa ra isso, en tre 1995 e 1996, o extin to In stitu to Na cio n a l d e Alim en ta çã o e Nu trição, em con ju n to com u n iversid ad es b rasileiras, d esen volveu , com gran d e esforço, u m estu d o m u lti-cên trico com o in tu ito d e avaliar, en tre ou tros ob jeti-vos, o estad o n u tricion al, o con su m o d e alim en tos e ativid ad e física d e u m a am ostra d e in d ivíd u os d e to-d as as classes sociais resito-d en tes em sete cito-d ato-d es: Rio d e Ja n eiro, Cu ritib a , Go iâ n ia , Sã o Pa u lo, Sa lva d o r, Cam p in as e Ou ro Preto.

O resu lta d o d a p esq u isa rea liza d a n o Rio d e Ja -n eiro tra-n sform ou -se -n o livro Epidem iologia da Obe-sid ad e, d a p ro fesso ra Ro sely Sich ieri. Ju n ta m en te co m u m a eq u ip e d e co la b o ra d o res d o In stitu to d e Nu trição Josu é d e Castro, d a Un iversid ad e Fed eral d o Rio d e Jan eiro, d a Facu ld ad e d e Nu trição d a Un iversi-d a iversi-d e Feiversi-d era l Flu m in en se e iversi-d a Fa cu liversi-d a iversi-d e iversi-d e Sa ú iversi-d e Pú b lica d a Un iversid ad e d e São Pau lo, a au tora articu la, em n ove cap ítu los, os p assos in iciais p ara o en -ten d im en to d a p ro b lem á tica d a o b esid a d e n o Pa ís. Este é, com certeza, o p rim eiro gran d e m érito qu e re-co m en d a a leitu ra a ten ta d o livro, o q u a l p reen ch e u m a lacu n a con sid erável n a n ossa b ib liografia.

O p rim eiro ca p ítu lo, resu m id a m en te, exp õ e o s p ro gresso s recen tes n a co m p reen sã o d o s d eterm i-n ai-n tes d a ob esid ad e, d im ei-n sioi-n ai-n d o o d esafio qu e é exam in ar as com p lexas relações en tre os fatores ge-n ético s, a q u a ge-n tid a d e d e a lim ege-n to s co ge-n su m id o s, a com p osiçã o d a d ieta e a a tivid a d e física . A este p ro-b lem a acrescen ta-se u m ou tro, q u e é com p artilh ad o p or estu d iosos d o tem a: a arb itraried ad e n a d efin ição d o qu e é ser ob eso.

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a p o io d e u m esta tístico. Sã o a b o rd a d a s ta m b ém a s etap as d e seleção e trein am en to d os en trevistad ores e an trop om etristas.

A m a gn it u d e d a o b e sid a d e e n t re o s a d o le sce n -tes, ad u ltos e id osos é ap resen tad a, em segu id a, p ela p rofessora Rosân gela Pereira, d a Un iversid ad e Fed e-ral d o Rio de Jan eiro. À lu z dos con h ecim en tos atu ais, exp õe-se u m a série d e in d icad ores qu e n os ap roxim a n ão só d a p revalên cia d os d iferen tes grau s d e sob re-p eso e ob esid a d e, com o ta m b ém d a d istrib u içã o d a go rd u ra co rp o ra l. E a p ro fu n d a -se n a co m p re e n sã o d o p rob lem a ao averigu ar-se a p revalên cia d e sob re-p eso segu n d o variáveis com o o n ível d e ren d a e esco-larid ad e.

Os p eq u en o s d esco m p a sso s en tre o texto e a l-gu n s grá fico s e ta b ela s (p o r exem p lo : a a u sên cia d e gráficos, q u e, com certeza, facilitariam o recon h eci-m en to d e p ad rões d escritos) e ou tros erros, coeci-m o os d os som atórios d as freqü ên cias relativas d os gráficos d a d istrib u ição d o ín d ice d e m assa corp oral e gord u -ra d o b -ra ço, exigem a p en a s u m a leitu -ra ca u telo sa , p ois n ão com p rom etem as an álises ap resen tad as.

Do p o n to d e vista ep id em io ló gico, o s ca p ítu lo s cin co e seis d ão a id éia d o p ap el cen tral d a m ed ição d o con su m o d e en ergia e n u trien tes n a ciên cia n u tri-cion al. Discu tem -se, in icialm en te, as qu estões gerais e co n ceitu a is q u a n to à in terp reta çã o d o co n su m o m ed ia n te o in stru m en to u tiliza d o. A a p recia çã o d a q u a lid a d e d a s in fo rm a çõ es co leta d a s a tra vés d a ra -zão en tre o con su m o en ergético e a taxa estim ad a d e m eta b o lism o b a sa l n ã o só co n trib u i n a legitim a çã o d as con clu sões d esen h ad as com b ase n o q u estion á -rio d e freqü ên cia d e con su m o d e alim en tos em p rega-d o, com o ta m b ém fa m ilia riza o leitor com u m tem a qu ase sem p re au sen te n os estu d os n u tricion ais. Além d a im p ortan te atu alização qu e ap resen ta, ressalta-se, n este cap ítu lo, u m asp ecto q u e está p resen te em ou -tro s m o m en to s: o in teresse d id á tico -p ed a gó gico d e Sich ieri em d isp on ib ilizar aos leitores as ferram en tas exigid as p ara a ap licação d o m étod o p rop osto.

No cap ítu lo sete, com a p ersp ectiva d e su b sid iar as orien tações n u tricion ais n o n ível coletivo, exam i-n am -se o coi-n su m o d e alim ei-n tos e algu m as p ráticas, com o o u so d e gord u ra an im al e ad oçan tes. A au tora va lese a in d a d a a n á lise p a ra co m p reen d er a s rela -ções en tre os asp ectos d a cu ltu ra e o m od o d e com er d os cariocas.

O ú ltim o d eterm in an te ap resen tad o q u e con tri-b u i n o au m en to d a p revalên cia d a otri-b esid ad e refere-se à a tivid a d e física q u e, a p esa r d e refere-ser reco n h ecid a com o ou tra im p ortan te característica com p ortam en -tal, era, até aq u ele m om en to, p ou co con h ecid a en tre n ós. Assim , o cap ítu lo oito, ao retratar a ocorrên cia e d istrib u içã o d a a tivid a d e física , fo r n ece elem en to s essen ciais p ara su b sid iar a form u lação d e p rogram as d e p rom oção d este fator d e risco.

Em p a rceria co m a p ro fesso ra Vâ n ia Ma rin s, d a Un iversid ad e Fed eral Flu m in en se, a au tora ap resen ta su cin tam en te n o ú ltim o cap ítu lo u m a sér ie d e in d i-cad ores q u e ap roxim a o leitor d as con d ições d e vid a e d e m orte d os p articip an tes d o estu d o.

Nas con clu sões, Sich ieri, d e form a elegan te e d i-reta, d esen volve o texto d e form a a vislu m b rar p arte d o m istério q u e n os in terrogava: a Ep id em iologia d a Obesid ad e. A p artir d aí, são p rop ostas as estratégias d e in ter ven çã o p a ra p reven ir e co n tro la r a d o en ça qu e h oje aflige m ilh ões d e b rasileiros.

Ab o rd a r a o b esid a d e seria m en te é d a r a im p o r-tân cia qu e o tem a d eve ter n a agen d a, qu e, com o b em sin a lizou a a u tora , d eve ser “orqu estrad a p elo p od er pú blico”. A lin gu agem sim p les e acessível d o livro tor-n a-o referêtor-n cia ob rigatória p ara ap rofu tor-n d ar o sab er d os en volvid os em ativid ad es ligad as a p esq u isa, clí-n ica , d o cêclí-n cia , so b re a o b esid a d e, a lém d e a u xilia r leigos em b u sca d e orien tação.

Pa ra o m e lh o r e n te n d im e n to d e te m a tã o co m p lexo e d iversifica d o, fica a q u i o d esa fio p a ra os ou -tro s m u n icíp io s q u e p a rticip a ra m d o estu d o m u lti-cên trico d e segu irem a in iciativa, tão b em su ced id a, d o livro d a p rofessora Rosely Sich ieri.

Son ia Azeved o Bitten cou rt Dep artam en to d e Ep id em iologia e Métod os Qu an titativos em Saú d e Escola Nacion al d e Saú d e Pú b lica Fu n d ação Oswald o Cru z

M ALÁRIA E SEU CONTROLE. Rita Barradas Bara-ta. São Paulo: Editora Hucitec, 1998, 153 pp.

ISBN 85-271-0449-0

Ap esar d e a m alária ain d a ser u m grave p rob lem a d e sa ú d e p ú b lica , m u ito p o u co tem -se p u b lica d o n o Brasil sob re essa d oen ça. Cerca d e qu in h en tos m il ca-so s sã o registra d o s a n u a lm en te n o Pa ís, a im en sa m a io ria o co rren d o n a regiã o d a Ba cia Am a zô n ica . Ta lvez, ju sta m en te p o r esta r h o je restrita à q u ela re-gião, cu jo p oten cial p olítico ain d a é m u ito m en or qu e o s d e o u tra s regiõ es geo -eco n ô m ica s d o p a ís, p a rticu larm en te as regiões Su d este e Su l, a p esqu isa cien -tífica e tecn o ló gica b ra sileira ten h a d ed ica d o u m a a ten çã o in su ficien te à m a lá ria . Em m en o r n ú m ero ain d a são as p u b licações sob re os asp ectos ep id em io-lógicos e d e con trole d a d oen ça. Dessa form a, é m u i-to b em -vin d o o livro d e Rita Barrad as Barata. Resu l-tad o d e seu s estu d os e reflexões p ara a elab oração d e u m a tese d e d ou torad o, d efen d id a n o Dep artam en to d e Med icin a Preven tiva d a Facu ld ad e d e Med icin a d a Un iversid a d e d e Sã o Pa u lo, a go ra p a ssa a ter m a io r d ivu lgação, u ltrap assan d o o am b ien te exclu sivam en -te acad êm ico.

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-ven tivista”. Em cad a m om en to, o leitor é esclarecid o sob re com o a d oen ça é en ten d id a com o n ecessid ad e so cia l, o u so d o co n h ecim en to ep id em io ló gico e o s resu ltad os ob tid os p elas p ráticas d e con trole.

Ap esar d e tom ar com o b ase o con trole d a m alária n o Estad o d e São Pau lo, a au tora con segu e an alisar as va riá ve is e n vo lvid a s n o te m a d e fo rm a a b ra n ge n te p ara a realid ad e b rasileira. O m od elo teórico ad otad o m ostrou -se ad equ ad o p ara com p reen d er a p rod u ção d a d oen ça, su a m aior ou m en or im p ortân cia social e a s p rá tica s in stitu cion a is d e con trole d esen volvid a s n o Brasil e tam b ém em ou tras p artes d o m u n d o.

Para os p esq u isad ores d e m alária e os p rofissio-n a is d e sa ú d e erofissio-n vo lvid o s rofissio-n o seu co rofissio-n tro le, a leitu ra d este tra b a lh o é p a rticu la rm en te ú til n o sen tid o d a reflexão d e su a p rática. A au tora, m an ten d o-se fiel ao seu m o d elo teó rico d e a n á lise, n ã o se im p regn a d e p recon ceitos arraigad os em d efen sores d este ou d a-qu ele m od o d e in terven ção. Cien tificam en te, an alisa su a s va riá veis d e estu d o d e fo rm a o b jetiva e su a s con clu sões trazem u m a con trib u ição im p ortan te p a-ra a d iscu ssã o d a s p rá tica s a tu a is e fu tu a-ra s d e in ter-ven çã o n o con trole d a m a lá ria . Esta d iscu ssã o é n e-cessá ria , p ertin en te e o p o rtu n a , p o is o p ro cesso d e im p lan tação d o Sistem a Ún ico d e Saú d e n o Brasil re-qu er a b u sca d e m étod os e estratégias eficazes in sp i-rad os n a eqü id ad e d as m ed id as d e in terven ção.

Os p esq u isa d o res d e o u tra s á rea s d a sa ú d e e o s p rofission ais d e saú d e coletiva vin cu lad os ao con tro-le d e ou tras d oen ças en d êm icas n o País p od em ob ter n esta p u b lica çã o in fo rm a çõ es e m o d elo d e a n á lise a p licá veis à com p reen sã o d os fa tores en volvid os n a p rod u ção d as en d em ias, n a su a rep ercu ssão social e econ ôm ica e n as m ed id as d e con trole p raticad as.

O livro co n tem p la u m a p ên d ice em q u e é a p ro -fu n d ad a a d iscu ssão sob re os asp ectos teóricos e m e-to d o ló gico s a d o ta d o s p ela a u e-to ra n a ela b o ra çã o d a su a in vestigação e on d e h á con sid erações sob re as d i-ficu ld ad es d e ap reen são d o real, d en tro d a com p lexa relação en tre o p esqu isad or e a realid ad e p esqu isad a. Exten sa b ib liografia, cu id ad osam en te selecion a-d a, ab ran ge con h ecim en tos n a área esp ecífica a-d as es-tratégias d o con trole m alária em São Pau lo, n o Brasil e n o m u n d o, ao lon go d este sécu lo, literatu ra n a área d as relações d a saú d e com a econ om ia e a socied ad e, b em com o referên cias im p ortan tes q u e su b sid iaram a form u lação d o m od elo teórico ad otad o p ela au tora.

Ped ro Lu iz Tau il

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