LUZIA APARECIDA FERREIRA
Ações Culturais na
Universidade de São Paulo e na
Universidade de Buenos Aires:
LUZIA APARECIDA FERREIRA
Ações Culturais na
Universidade de São Paulo e na
Universidade de Buenos Aires:
Aspectos Comparativos
Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em Produção Artística e Crítica Cultural na América Latina, no Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina, da Universidade de São Paulo.
Orientadora: Profª. Dra. DILMA DE MELO SILVA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA LATINA, DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
Ferreira, Luzia Aparecida
Ações Culturais na Universidade de São Paulo e na Universidade de Buenos Aires: Aspectos Comparativos.
Dissertação - Mestrado - PROLAM (Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina - Universidade de São Paulo - 2000
1. Política Cultural (crítica) 2. Ação Cultural USP e UBA 3. Intervenção Culturais.
Banca Examinadora
Membros:
Profª. Drª. Dilma de Melo Silva (orientadora)
Àqueles que nos silêncios das noites foram capazes de ouvir o eco do grito desta alma que anseia por saberes...
Agradecimentos
À Profª. Dilma, pelo carinho, dedicação e amizade com que me acolheu durante todo este tempo em que estivemos juntas.
À Sociedade Científica de Estudos da Arte – CESA pelo apoio que propiciou à pesquisa de campo.
Ao Prof. João Alexandre Barbosa, que alterou o meu modo de vida pela teimosia.
Ao Prof. Kazadi wa Mukuna pela orientação, estímulo constante e amizade.
Aos Professores Luiz Roberto Alves e Lisbeth Rebollo Gonçalves, por suas valiosas observações no Exame de Qualificação.
Ao amigos de outros tempos que neste tempo fizeram-nos estar reunidos no Centro Universitário Maria Antonia, pelo amor, carinho, força e pela enorme quantidade de energia. Sem isto, jamais teria ido a Buenos Aires. Prometo que nos veremos de novo em outro espaço.
À Renata Reinert e à Olga Cafalcchio, pela leitura antecipada e sugestões oportunas.
SUMÁRIO
Resumo . . . 7
Abstract . . . 9
Introdução . . . 11
Capítulo I – A Universidade de São Paulo . . . 30
Capítulo II – Ações Culturais na Universidade de São Paulo . . . 38
Capítulo III – A Universidade de Buenos Aires . . . 93
Capítulo IV– Ações Culturais na Universidade de Buenos Aires . . . 98
Capítulo V – Aspectos Comparativos . . . 111
Conclusão . . . 114
Bibliografia . . . 119
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura1 e figura 2 . . . 18
Figura 3 . . . 37
Figura 4 . . . 39
Figura 5 . . . 45
Figura 6 . . . 49
Figura 7 . . . 51
Figura 8 . . . 57
Figura 9 . . . 58
Figura 10 e figura 11 . . . 62
Figura 12 . . . 68
Figura 13 . . . 69
Figura 14 . . . 70
Figura 15 . . . 73
Figura 16 . . . 76
Figura 17 . . . 79
Figura 18 . . . 81
Figura 19 . . . 82
Figura 20 . . . 85
Figura 21 . . . 87
Figura 22 . . . 88
Figura 23 . . . 91
Figura 24 . . . 102
Figura 25 . . . 103
Figura 26 . . . 104
Figura 27 . . . 105
Figura 28 . . . 107
Figura 29 . . . 108
7
Ações Culturais na Universidade de São Paulo e na
Universidade de Buenos Aires: Aspectos Comparativos
RESUMO
Esta pesquisa examina os discursos, projetos e tentativas de elaboração e
implantação de políticas culturais em duas universidades da América Latina – a
Universidade de São Paulo, Brasil e a Universidade de Buenos Aires, Argentina.
E stes documentos, obtidos por meio de pesquisa do campo, são registros
organizados das práticas culturais utilizadas nestas duas instituições universitárias.
A coleta desses registros oferece ainda a possibilidade da criação futura de um
banco de dados sobre as práticas culturais na Universidade de São Paulo, Brasil.
Durante o período de 1989/1995, no caso da Universidade de São Paulo,
Brasil, houve uma primeira tentativa de direcionamento sistematizado de intenções
e diretrizes para o desenvolvimento de projetos culturais. Neste período foi possível
efetuar análises dos resultados de uma intervenção cultural que pretendia a
construção de uma cena cultural antecipada na cidade de São Paulo. Por outro
lado, na Universidade de Buenos Aires, após a intervenção ocorrida durante o
extenso período do regime militar, 1976/1983, com a nova estrutura universitária,
foi criado o Centro Cultural Reitor Ricardo Rojas, como tentativa de direcionamento
na área cultural. Ao mesmo tempo, foi acampado o que ocorria socialmente no
8
Assim, este estudo tem como objetivo comparar a administração cultural
dessas duas universidades latino-americanas, verificando ao mesmo tempo os
mecanismos utilizados na prática artística e o papel de cada um no cenário cultural
dos respectivos países. Pretende-se alcançar esse objetivo por meio dos seguintes
procedimentos: levantamento bibliográfico, cadastramento, análise e comparação
das Ações Culturais postas em prática por essas instituições universitárias no período
9
Cultural Actions at the University of São Paulo and
the University of Buenos Aires: Comparative Aspects
ABSTRACT
This research examines speeches, projects and attempts made by two
Latin American universities: the University of Sao Paulo, Brazil, and the University
of Buenos Aires, Argentina to elaborate and implement cultural policies. Documents
obtained through field work, are in form of organized registers of cultural practices
utilized in these institutions. The gathering of these registers will also facilitate the
creation of a data banks of these cultural practices at the University of Sao Paulo,
Brazil.
In the case of the University of Sao Paulo, there was a first attempt
made from 1989 through 1995, to systematize the channeling of intentions and
instructions to the development of cultural projects. During this period it was
possible to analyze results of cultural intervention, which intended the construct
of an anticipated cultural scene in the city of Sao Paulo. On the other hand, at the
end of the intervention of the military regime (1976-1983), the Centro Cultural
Reitor Ricardo Rojas was created at the University of Buenos Aires, to channel
cultural area, and document what was socially happening around the city of Buenos
10
Thus, my objective is to compare the cultural administration of these two
Latin American universities, observing the mechanisms used for an artistic practice
and the role of each one of them on the cultural scene of these respective countries.
This will be accomplished through the bibliographic gathering, to document, analyze,
and compare cultural actions implemented by these institutions between 1989 and
11
1Chauí, 1987, pp. 20-21.
I. INTRODUÇÃO
Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira, mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum.
Monteiro Lobato, 1923
No Brasil, desde a implantação do Programa de Ação Cultural (PAC) de
1973 e da Política Nacional de Cultura (PNC) de 1975, nos governos militares,
ambos propondo exaltação do nacionalismo e investimento no sentido de formar
uma personalidade brasileira forte e influente, vem-se buscando o estabelecimento
de uma linha política mínima para a prática cultural. Para Chauí:
...nos anos 60 ou 80, as discussões sobre a Cultura Popular eram uma oscilação constante entre o romântico e o ilustrado, ora prevalecendo um, ora outro. Os casos mais interessantes são aqueles nos quais os dois pontos de vista tentam uma conciliação: a (razão) “vai ao povo” para educar a sua sensibilidade tosca (eis o papel das vanguardas políticas), e o (sentimento) “vai às elites” para humanizá-las (eis o papel das vanguardas artísticas)...1
Pode-se dizer que, como espaço, usava-se basicamente a Cultura na
construção de um projeto hegemônico nacional. Além de atender às necessidades
do regime militar, de certa forma, esse projeto estabelecia um inter-relacionamento
12
ao desenvolvimentismo. Ambos, Programa e Política, foram contemplados com a
Lei Sarney (1972), que permitia que as empresas privadas participassem como
patrocinadores da construção de uma Cultura nacional, envolvendo as mais diversas
produções culturais.
Esse novo modo de fazer Cultura mudou significativamente o entendimento,
os modos como os assuntos relativos à prática cultural brasileira seriam tratados.
Dessa forma, o governo e a sociedade civil passaram a buscar, pelo mecanismo da
renúncia fiscal, o delineamento de um projeto indicador de uma linha de Política
Cultural a ser seguida nacionalmente, integrando o país por meio da organização
da prática cultural, diminuindo assim a enorme divisão social existente.
Observou-se, no entanto, que na realidade as Ações Culturais colocadas em prática contribuíram
para ocultar essas diferenças sociais e demonstrar a imposição do poder público,
abrindo caminho para a instalação do processo de implantação da atividade industrial
na Cultura e na comunicação. É a partir desse momento que no Brasil são criados
vários organismos nas mais diversas áreas da Cultura, objetivando centralizar e
ordenar as atividades artístico-culturais como um todo2.
Com este pano de fundo, chega-se à década de 1980, em que se buscam
fórmulas para que a sociedade brasileira dê um salto qualitativo e quantitativo,
cabendo aos envolvidos com as questões culturais o papel de analisar, compilar e
elaborar uma literatura específica como tentativa de ordenar as discussões sobre
Ações Culturais ou Políticas Culturais. A própria volta de intelectuais, que foram
obrigados a abandonar o país devido à forte repressão imposta pelo regime militar,
ia contribuir significativamente para que os questionamentos mundiais fossem
integrados à cena cultural brasileira. É dentro desse panorama que se tentou fazer
13
um recorte, para se verificar como foram tratadas as questões da Cultura, tendo
como referência o padrão cultural do cotidiano na instituição universitária brasileira.
A realização desta pesquisa foi a preocupação de sistematizar as Ações
Culturais praticadas por duas instituições universitárias latino-americanas, como
forma de oferecer uma contribuição ao estudo da prática cultural, como sugere
Canclini, ao afirmar a existência da necessidade de se falar sobre Políticas Culturais,
ou mesmo documentá-las, entendendo este ato como tarefa indispensável, seja na
abordagem dessas mesmas políticas, seja para impedir que nosso passado e nosso
povo sejam esquecido.3 Por outro lado, Teixeira Coelho4 sugere que Política Cultural
é um todo, salientando a necessidade de que ela seja analisada como uma nova
ciência, tal sua complexidade e extensão ao se inter-relacionar com os demais campos do saber . Para esse autor, o ato de criar o Dicionário Crítico de Política Cultural, de sua
autoria, já é Política Cultural. Porém, quando se procura o termo “Ação Cultural”, no referido dicionário, lê-se que são todas as condicionantes que permitem colocar em prática determinada Política Cultural, definida ela própria como uma ciência que organiza as estruturas culturais e que normalmente é entendida como programas que o estado, as instituições civis, empresas privadas ou grupos comunitários realizam, tendo como objetivo a satisfação das necessidades culturais da população, promovendo o desenvolvimento das representações simbólicas dessa mesma população5.
Cabe aqui dizer que os termos “Política Cultural” e “Ação Cultural”, na
literatura consultada, são muitas vezes utilizados como sinônimo, não deixando
claro onde e quando é Política Cultural ou Ação Cultural. Esta então deve ser a
proposta desta dissertação, comparar, no período de 1989 a 1995, as Ações Culturais
desenvolvidas em duas instituições universitárias da América Latina: Universidade
3Canclini, 1987, p. 21.
4 Teixeira Coelho, 1997, verbete e pp. 32 e 293. 5
14
de São Paulo, em São Paulo, Brasil, e Universidade de Buenos Aires, em Buenos
Aires, Argentina, e, a partir daí, apontar linhas de conduta que possibilitem avançar
no campo da prática cultural.
A metodologia utilizada transita na interdisciplinaridade das várias áreas do
conhecimento, pois como sugere Kazadi6 as respostas podem estar em áreas
completamente diferentes, além de ser uma invenção imaginária que pode ser
modificada para se chegar a uma finalidade específica, já que não existe uma verdade
mas sim verdades. Pretende-se, assim, delimitar o foco para o campo das Ações
Culturais, que sem dúvida oferece indícios da forma adequada de tratamento dessa
questão. Neste momento, diante da reflexão sobre o papel social cabível à Cultura,
cabe abrir novos canais de comunicação para se dispor de horizontes mais amplos,
dentro do campo focalizado e assim verificar como se chegou ao momento atual.
Para tanto, é necessário estabelecer um diálogo sobre e com as Teorias de Cultura
pertinentes, bem como com a própria vivência.
Remontando-se aos primórdios da existência do homem, trinta e cinco mil
anos atrás, desde os primeiros desenhos rupestres, pode-se considerar que já havia
a necessidade de deixar registrada sua produção intelectual. Ao ao se iniciar a década
de 1950, Kroeber e Kluckholn já haviam relacionado duzentos e cinqüenta conceitos
utilizados para definir o termo “Cultura” sob os pontos de vista literário,
antropológico e sociológico. A esse levantamento, prestes a completar meio século,
pode-se atualmente acrescentar, sem sombra de erro, outras tantas dezenas de
definições. Porém, foi a partir desses estudos que os cientistas sociais não mais se
preocuparam em encontrar a definição correta para o termo “Cultura”.
Estabeleceram pontos referenciais mapeando os campos nos quais a Cultura atua.
6Kazadi wa Mukuna, “Seminário de Metodologia Científica” – Programa de Pós-graduação em Integração
15
Podendo ser estes conhecimento que compartilham membros de uma sociedade,
fazendo parte da acumulação da vivência de cada ser humano, ou seja ela, do seu
V écu.7
Atualmente, as discussões sobre os limites da Política Cultural vêm crescendo
e deixando cada vez mais claro que deve havermaiorentendimento do que seja de
fato Ação Cultural. Nesse questionamento, de utilizar os métodos coerentes que
indiquem se determinada Ação Cultural realizada resultaria em produto cultural
ou, se esta mesma ação forneceria subsídios que pudessem indicar como realizá-la
em outra oportunidade, ou mesmo se o que se está praticando é uma Ação Cultural
que venha a resultar em mudanças substanciais na vida universitária. Percebe-se
que essas atividades eram realizadas intuitivamente. Ao provocar desconforto, o
uso da intuição fez que buscasse trazer à tona as discussões do panorama cultural
interno das instituições pesquisadas, vivenciado à frente da Diretoria do Serviço de
Apoio à Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo, de 1990 a
1997, em período de grandes mudanças internas na vida cultural da Universidade
de São Paulo – Brasil, instigando e propiciando reflexão sobre Ação Cultural.
Para entender os processos utilizados pelas pessoas e grupos na criação
ou organização de condições necessárias para atuar no universo cultural da instituição
universitária, torna-se claro entender que essas mesmas Ações Culturais não estão
diretamente ligadas a uma Política Cultural, mas sim a objetivos pré-estabelecidos
nos mais diversos aspectos. A análise que aqui se pretende fazer sobre Ação Cultural
que inquieta caminha na direção discutida por Teixeira Coelho , que assim a define:
...como o processo de criação ou organização das condições necessárias para que as pessoas e grupos inventem seus próprios fins no universo da Cultura. ... Neste sentido, por depender daquilo que as
16
pessoas e grupos aos quais se destina entendam dela fazer, a ação cultural, apresentando-se como o contrário da fabricação cultural, não é um programa de materialização de objetivos previamente determinados em todos os seus aspectos por uma Política Cultural anterior, mas um processo que, tendo início claro, não tem um fim determinado nem etapas intermediárias previamente estabelecidas. Neste sentido, a Ação Cultural é, antes, uma aposta: dados certos pontos de partida e certos recursos, as pessoas envolvidas no processo chegarão a um fim não inteiramente especificado embora provavelmente situado entre certas balizas. Ou não... O processo ou os meios, neste caso, importam mais que os fins, e o agente cultural, bem como a Política Cultural por ele representada, deve aceitar correr este risco. O próprio agente cultural, de resto, submete-se ao processo por ele mesmo desencadeado, sofrendo ele também a Ação Cultural resultante...8
Acredita-se, ainda, que para atingir os objetivos propostos nesta pesquisa,
ao analisar as questões culturais das Universidades de São Paulo e de Buenos Aires,
deve-se interpretar não só a realidade cultural dentro destas instituições, como
também os fatores externos que interferiram em sua ação e quais fórmulas e
mecanismos foram utilizados em ambas as instituições para realizar o fazer cultural.
No Brasil, durante o governo Fernando Collor de Mello (Era Collor, 1990/
1992), se revoga a Lei Sarney juntamente com todas as demais leis de incentivo à
Cultura. O país entra na década de 1990 carente de um projeto cultural. Durante
um ano e meio foi elaborada uma nova lei. Ao então ministro da Cultura, Sérgio
Paulo Rouanet, foi recomendado maior rigor na elaboração da nova lei, buscando
evitar o que havia ocorrido com a Lei Sarney, considerada muito liberal, propiciando
inclusive que se fizesse usos alheios aos interesses sociais, beneficiando, por exemplo,
a confecção de brindes para distribuição a clientes de grandes corporações. Portanto,
a nova Lei Rouanet de Incentivo à Cultura, promulgada em 23/12/91, criou
mecanismos que dificultavam usos indevidos, acabando inclusive por brecar o
desenvolvimento cultural brasileiro, tamanho o rigor exigido nos projetos culturais.
17
Apesar das dificuldades geradas em relação a toda produção cultural, a lei foi mantida
pelo vice-presidente Itamar Franco, que veio a assumir o governo após a queda de
Fernando Collor de Mello.
No governo Itamar Franco, também foi estruturada a lei que viria a propiciar
maior incentivo aos projetos audiovisuais e cinematográficos, tanto a respeito de
produção independente quanto da exibição, distribuição e infra-estrutura técnica.
Regulamentada em 8/11/93, ficou conhecida como “Lei do Audiovisual”, que
gerou grandes discussões, que continuam em pauta até hoje.
Somente no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, quando
Francisco Weffort, professor da Universidade de São Paulo, é nomeado ministro
da Cultura, são introduzidas mudanças na Lei Rouanet, em 17/5/99, com a criação
da figura do agente cultural, que seria uma espécie de ponte entre artistas e
empresários interessados em incentivar Ações Culturais, abrindo às grandes
empresas, por intermédio das agências de publicidade, o acesso ao marketing cultural.
Ademais, passou a dar a qualquer pessoa jurídica oportunidade de incentivar projetos
culturais, acabando com os prazos para inscrição de projetos, que podem ser
apresentados em qualquer época do ano9.
Nesse sentido, muitas foram as leis estaduais e municipais criadas para atender
à este ou àquele interesse político, a partir de 1991.
Nesses mecanismos, é evidente que estão envolvidas questões políticas que
acabam interferindo de modo significativo na implantação de uma Política Cultural
brasileira. A variada gama de partidos políticos, divergentes entre si, tanto na esfera
federal quanto nas estaduais e municipais, irá contribuir para que a partir do governo
federal ocorra certa “liberação”, transferindo aos estados a responsabilidade de
definir a Política Cultural. Estes, por sua vez, delegam essa tarefa aos municípios, que, por meio de suas prefeituras, passam a ser os responsáveis pela implantação de projetos culturais, bem como pelo respectivo desenvolvimento de uma Política Cultural.
Relação de Leis de Incentivo à Cultura criadas a partir de 1991. Fac-símiles da Coleção Marketing Cultural, p. 12 (Figura 1) e do jornal O Estado de S. Paulo, p. D-5, 20/02/1998 (Figura 2).
Figura 1
19
No Estado de São Paulo, por exemplo, os subseqüentes governos estaduais,
desde que passaram a ser constituidos por meio de eleições civis, vêm buscando
elaborar um “Mapa Cultural”, o qual deveria conter o perfil da Cultura nas diversas
regiões administrativas que compõem o estado. Após a definição, por uma equipe
de técnicos da Secretaria Estadual de Cultura, das peculiaridades regionais passíveis
de ser utilizadas pela estrutura pública existente (prédios das escolas estaduais e
bibliotecas públicas) na implantação de Ações Culturais mínimas que poderiam ter
desdobramentos mais amplos no futuro, mantendo as características distintas de
cada região, talvez fosse possível criar um Plano Cultural para o Estado de São
Paulo. Mas o que aqui se observa é que a cada quatro anos, com a troca de governo,
o partido que chega ao poder promove a descontinuidade do projeto cultural anterior,
e o levantamento é abandonado.
Apesar de ser considerado nacionalmente o local onde se concentra a maior
quantidade de eventos de grande expressão na cena cultural brasileira, o estado de
São Paulo, no período desta pesquisa, não possuía uma legislação clara que
incentivasse ou apoiasse a produção cultural. Isto, porém, não quer dizer que não
existissem Ações Culturais. Os produtores da iniciativa privada se encarregaram
delas com o objetivo de obter lucro. Observamos também que o Serviço Social do
Comércio (SESC) vem sobressaindo como grande agitador cultural, ao substituir
parcialmente as funções do estado, que não se equipou para as necessidades sociais
da população em termos culturais ou mesmo de lazer.
Renata Ferreira, ao recuperar a história do SESC, diz que:
20
O documento resultante desse encontro – Carta da Paz Social – definia que a entidade deveria ser mantida exclusivamente pela contribuição patronal. Referendando a iniciativa, o governo federal conferiu à Confederação Nacional do Comércio o encargo de criar o SE SC – acompanhado do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Serviço Social da Indústria (SESI) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) – que seria uma instituição de direito privado, mas controlada pela administração pública. A partir desse momento as empresas do comércio passaram a descontar de suas folhas de pagamento 1,5% que seria destinado ao SESC... Em São Paulo, as atividades do SESC começaram exatamente no Dia do Comerciário, 30 de outubro de 1946. Hoje, o SESC-SP tem cerca de 700 mil associados dos matriculados que são comerciários ou dependentes deles. Além dessas, a entidade tem ainda outra categoria que é formada pelos usuários...10
Diante de tal fato, observa-se a estrutura da Secretaria Estadual de Cultura
como sendo apenas um prédio, onde os servidores públicos têm por função cumprir
apenas a carga diária de oito horas de serviço. A meu ver, todo esse complexo
cultural necessitava, e ainda hoje necessita urgentemente, de uma espécie de
revigoração, pois as pessoas que compõem o quadro funcional, tratam a
administração da Cultura como as demais áreas da administração pública. Na maioria
das vezes, são despreparados, pois, nos concursos públicos, não se lhes exige
nenhuma formação na área cultural ou social.
Na cidade de São Paulo, o SESC monta sua estrutura adaptando prédios
existentes ou construindo novos, dotando-os de teatro, galerias, salas de aulas para
as mais variadas atividades artísticas, estúdios musicais com assessorias, cursos de
reciclagem para profissionais de dança, bibliotecas, salas de vídeo, cinema, atividades
esportivas etc., com rigor técnico e profissional, passando assim a ter maior
21
visibilidade que qualquer outro equipamento público destinado à finalidade cultural.
Dessa forma, o SESC passa a ocupar os nichos culturais de responsabilidade dos
governos estaduais e municipais de São Paulo. A enorme quantidade de pessoas
que buscam os serviços do SESC deixa evidente que os governos não têm
conseguido, por meio dos Centro Culturais, das Casas de Cultura e demais
mecanismos públicos, estabelecer qualquer tipo de diálogo com a sociedade que os
compõem. Um outro fator é que o SESC mantém a estrutura de atendimento
estável, ampliando cada vez mais o leque de atividades para atender à demanda; já
no caso do município de São Paulo, a sociedade enfrenta a cada quatro anos, o
mesmo processo de desmantelamento dos equipamentos e mecanismos de produção
cultural ocorrido com a troca de prefeitos.
Na realidade, o que se verifica é o seguinte: os balcões das Secretarias
Municipais de Educação e Cultura são transformados em receptores dos produtos
culturais desenvolvidos pelo mercado privado, não atendendo de forma alguma, às
reais necessidades sociais das populações locais. Na verdade, esses produtos ao
serem expostos ao grande público, se transformam em divertimento ou lazer11.
Após sua exposição/demonstração quase nada ou muito pouco de um subproduto
ou interpretação reelaborada a partir do original fica no espectador. No dia seguinte,
é como se nada tivesse ocorrido, e a vida segue como sempre foi.
No Brasil, o processo de desmantelamento cultural e institucional não se dá
por acaso. Ao retroceder a 1968, verificamos que mediante a implantação da censura
política, imposta pelo regime militar, os únicos a sofrer foram os grupos, agremiações,
22
associações e produtores cujos trabalhos eram vistos como uma afronta ao que
propunha a oficialidade, pois estavam fazendo da prática cultural uma forma de
resistência política ao regime. A Universidade de São Paulo também foi encaixada
nestas condições, sofrendo drasticamente durante os anos da ditadura. Essa
repressão do pensamento deixou marcas ainda hoje visíveis nos discursos de seus
docentes. Para Roberto Schwarz, podemos destacar dois momentos distintos de
nossa história:
...no Brasil de 1964 a direita “preservou” a produção cultural
cortando todo e qualquer contato com a massa operária e camponesa. Já em 1968 a situação era outra, pois tanto os estudantes quanto o público constituía a massa espectadora dos melhores filmes, do melhor teatro, da melhor música e dos melhores livros, formando a massa politicamente perigosa. Nesse sentido foi efetuada a troca ou censura aos professores, aos encenadores, aos escritores, aos músicos, aos livros, aos editores... Assim, estava criada a necessidade da liquidação da própria Cultura viva daquele momento.12
A própria construção da Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira
demonstra claramente esse processo, ao ser construída na periferia da cidade para
abrigar todas as escolas que compunham a Universidade de São Paulo, anteriormente
espalhadas por vários espaços da cidade de São Paulo. Ao seguir os moldes da
concepção de cidade moderna, visava essencialmente o controle e dificuldade para
as grandes manifestações políticas, culturais e o contato social, impossibilitando,
assim, a prática do discurso interdisciplinar, bem como seu constante diálogo com
a sociedade atual.
Não devemos entender que para a ocupação do Campus do Butantã não
houvesse um projeto, pelo contrário segundo Campos:... os planos e obras para
12
construção da Cidade Universitária se vêm desenvolvendo desde o ano de 1935... Nesse
longo período de propaganda, projetos e realizaçõs, os trabalho da cidade universitária têm
passado por diversas fases de atividades e imobilidade, de reações positiva, negativas ou
indifierentes...no ano de 1954, ano em que se comemoru o IV centenário da
cidade de São Paulo, o então governador do Estado de São Paulo Lucas Nogueira Garcez sendo Reitor Ernesto de Moraies Leme adotam como postura políticai a necessidade de impulsionar as obras para que fosse construída finalmente a cidade universitária, ... ambos professores unviversitários, os sonhos tornaram realidade objetiva, para o que muito contribuiu o Instituto de Pesquisas tecnológicas, pioneiro no Butantã...
Todo esse processo de transferência da Universidade de São Paulo, com o fechamento da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e sua fragmentação contribuiu de maneira decisiva para que ocorresse esse distanciamento social13. Os incidentes ocorridos no auge da ditadura militar são
utilizados como subterfúgio, não só para que o governo não assumisse a parte
13
social referente à produção cultural, mas também para que se efetuasse a transferência imediata da Universidade de São Paulo para o campus do Butantã.
Com isso se observa que houve imposição, no planejamento arquitetônico do seu campus da existência de blocos sólidos – figuras (prédios onde estão as escolas) muito desproporcionais em relação aos vazios – fundos (jardins, gramados e ruas) que se destacam. São imensos os gramados e longas as distâncias entre as construções. Todas essas condicionantes marcam de forma contrastante a Universidade de São Paulo e assim, ao nos defrontarmos com as questões acima citadas, sentimos como se o país estivesse parado no tempo. É este estado de inanição que provoca o questionamento: todas as justificativas não seriam uma forma de nos alienarmos dos demais processos contemporâneos?
Na tentativa de obter respostas, talvez seja este o momento de abordar, não só o momento histórico do objeto deste estudo comparativo, a Universidade de Buenos Aires, na Argentina, como também os métodos empregados em suas Ações Culturais, verificando quais os entraves ou facilidades encontradas por ambas administrações uma vez que, na Argentina, além de não existir a figura do mecena institucionalizada também o governo não criou leis que incentivassem a prática cultural.
assumiu a presidência após a morte de Perón em julho de 1974, governando o país por mais dois anos e meio, até ser destituída por um golpe militar.
Posteriormente, assume o governo o general Jorge Rafael Videla, que o abandona em 1981 para Roberto Viola, também general. Neste mesmo ano assume o governo a junta militar que destituíra Viola, entregando o governo argentino a outro general, Leopoldo Galtieri, que provocou a Guerra das Malvinas, em 1982. Tendo sido derrotado pela Grã-Bretanha, Galtieri foi substituído por Reinaldo Bignome (1982-1983). É neste governo que claramente se percebe moribunda a ditadura iniciada por Videla. As eleições civis ocorrem em 1983, das quais sai vencedor Raúl Alfonsín (1983-1987)14. Todos esses fatos políticos abalaram
profundamente as estruturas sociais argentinas, deixando marcas muito profundass, que perduram até os dias atuais.
Para os historiadores Luiz Kohiba e Denise Manzi Frayze Pereira15, 1992,
por esses fatos ocorridos na vida política da Argentina podemos traçar paralelos entre o Brasil e este país, por exemplo, o que se refere aos anos 1960, que se abrem para a burguesia latino-americana como um grande pesadelo. Sob o impacto do castrismo, as universidades latino-americanas entram em ebulição, atingindo as escolas secundárias. Tais fatos permitem que alguns setores da Igreja assumam posições de esquerda; é nesse clima que serão analisadas as Ações Culturais e os reflexos da política nacional na vida acadêmica da Universidade de Buenos Aires.
Dentro do enorme complexo universitário que compõe a Universidade de Buenos Aires, o foco de atenção foi direcionado para a Secretaria de Extensión y Bienestar Estudantil, órgão da reitoria responsável pelo desenvolvimento de
15
Idem, Ibidem p. 24.
14
atividades culturais. Somente após as análises das várias atividades culturais desenvolvidas no período compreendido entre 1989 e 1995, se chega um panorama de Ações Culturais, bem como seu modus operandi, demonstrando, assim, se esta mesma Ação Cultural praticada será indício do papel da instituição universitária no Brasil e na Argentina.
Nas entrevistas realizadas com os executores de Ações Culturais da Universidade de São Paulo, ficou demonstrado que eles possuem claro entendimento sobre a inexistência de uma Política Cultural definida. Na realidade, essa Política Cultural tem se manifestado em Ações Culturais ou atividades culturais isoladas. O período pesquisado é aquele no qual a USP não só pensou, como também realizou, o maior número de atividades culturais de sua história, muitas das quais passaram a integrar efetivamente a vida universitária.
de seu espaço de busca constante, como se refere sobre o Centro Cultural Reitor Ricardo Rojas seu secretário de Extensión y Bienestar Estudantil, o arquiteto Martín Marcos. O Centro Cultural Rector Ricardo Rojas desenvolve técnicas artísticas e de produção inovadoras experimentais nas diversas áreas e atividades culturais e depois repassa-as ao meio cultural de Buenos Aires. Daí sua designação como logar de búsqueda constante, nas palavras textuais dos vários entrevistados.
O levantamento e análise desse material permite que se preencha a lacuna com os modelos de administração das Ações Culturais dentro da história cultural das universidades pesquisadas. Lacunas estas com que muitas vezes, na prática de uma Ação Cultural, é preciso se defrontar e que trazem incertezas quanto ao modo de desenvolver determinadas Ações Culturais. Nesse caso, sua prática demanda soluções práticas. Por outro lado, se Ação Cultural implica planejamento, elaboração e montagem de uma completa infra-estrutura, tanto no acompanhamento da realização como nas análises feitas posteriormente, depois de uma demonstração/ exposição do produto cultural, ainda que desse produto possam não resultar subprodutos, sem dúvida esse é um novo momento do fazer cultural. Porém, de maneira alguma pode-se entender que isso seja Política Cultural. Uma série de ações isoladas acabam determinando um projeto de ações isoladas, pois uma Política Cultural precisa ter um eixo central no qual as Ações Culturais praticadas culminem com os objetivos prestabelecidos, enquanto as Ações Culturais isoladas não possuem esse caráter. São estes novos conceitos de Ação e Política Cultural que se busca encontrar nesta análise, a partir da verificação de como foram tratados os produtos culturais oriundos das Universidades de São Paulo e de Buenos Aires.
Ao concluir a análise do material recolhido na pesquisa de campo espera-se, de acordo com a proposta desta pesquisa, chegar ao entendimento de que as observações, somadas à prática na área cultural, permitiram um entendimento de que há Ações Culturais diversificadas, isoladas, dentro de um contexto e de um projeto de maior abrangência, que não tenham necessariamente, que estar restritas à area de Política Cultural, tanto no Brasil como na Argentina.
realidade, são Ações Culturais ou intenções de Ações Culturais isoladas ou ainda práticas culturais que ocorrem aqui e ali, concentrando-se mais no sul do país, o que se justifica por ser esta a região mais rica e onde se concentra maior massa de consumo de tais produtos. As ações implantadas permanecem como momentos estanques do que deveria ser um grande projeto de Política Cultural nacional. Podemos citar como exemplos marcantes dessas ações os Festivais de Inverno (Campos de Jordão, Garanhuns etc.) e as mostras de cinema (São Paulo, Gramado etc.). São realizados há tantos anos, que podem ser entendidos como fazendo parte de uma Política Cultural, mas que de acordo com o conceito explicitado acima, são ações que se repetem unicamente por terem obtido bons resultados. As duas universidades latino-americanas aqui analisadas, não se diferenciam muito do que ocorre no plano nacional. Podemos dizer que caminham paralelas às transformações, talvez por serem um espaço de pesquisa e busca que até antecedem o que irá ocorrer na sociedade.
CAPÍTULO I
A UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Nos últimos anos, Teixeira Coelhovem debatendo a cultura universitária sob os mais diferentes prismas. Para o autor, antes de se falar em cultura institucional, deve-se questionar um assunto prioritário e mais importante-a própria universidade:
...o que se afirma é que, antes de voltar-se para o conhecimento, em abstrato, e para a sociedade, como querem os chavões mais circulados, a universidade tem que produzir o conhecimento de si mesma e propor-se como uma sociedade - ou, na palavra mais comum, uma comunidade...16
Ainda segundo o mesmo autor:
...por não fazer de si mesma seu primeiro assunto, a universidade não constrói e não permite que se construa uma cultura universitária. Sem uma cultura universitária, não existe uma identidade universitária. Sem uma cultura universitária, sem uma identidade universitária, como pode a universidade contribuir para a formação de uma cultura mais ampla, essa cultura que é chamada de social e que só é chamada de social porque absurdamente proliferam as culturas não-sociais - quer dizer, as não-culturas? A resposta é clara: não pode...17
Neste capítulo examina-se quais foram os caminhos culturais que a USP
16
Coelho, 1997, p. 2.
17
trilhou, fazendo um breve relato dos projetos culturais executados pelos órgãos que formam a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, para situar no recorte desta pesquisa. Isso fornecerá subsídios para se discutir se ela contribui ou não para a formação de sua própria cultura, mediante um projeto cultural, de uma cultura, ou projeto cultural mais amplos.
Criada em 1934 pelo Decreto 6283, de 25 de janeiro, a USP é uma autarquia de regime especial, com autonomia didático-científica, administrativa, disciplinar e de gestão financeira e patrimonial. Durante seus sessenta e quatros anos de existência, a USP passou por várias reformas estatutárias, às quais não se farão referências por não fazerem parte desta análise. Em 1989, após a aprovação de um novo estatuto que entrara em vigor em 1.o de novembro de 198818, a USP
iniciou a implantação do novo organograma na administração central. Junto à Reitoria, funcionariam, a partir de então, quatro novas Reitorias, com Pró-Reitores indicados pelo Reitor e submetidos à aprovação do Conselho Universitário. Vamos nos ater a uma delas, atendendo às finalidades desta pesquisa; a de Cultura e Extensão Universitária.
No decreto de criação da USP de 1934, após as seguintes considerações:
... que a organização e desenvolvimento da cultura dilosófica, científica, literária e artística constituem as bases em que se assentam a liberdade e a grandeza de um povo; ... que a formação das classes dirigentes, mormente em países de populações heterogeneas e costumes diversos, está condicionada a organização
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de um aparelho cultural e universitário, que oferaça oportunidade a todos e processe a selação dos mais capazes... que em face do grau de cultura já atingido pelo Estado de Sâo Paulo, com Escolas, Faculdades, Institutos de formação profissional e de investigação científica, é necessário e oportuno elevar a um nível universitário a preparação do homem,do profissional e do cidadão,
No documento estão assim defindos os fins da Univesidades:
a) promover, pela pesquisa, o progresso da ciência,
b) transmitir, pelo ensino, conhecimentos que enriqueçam ou desenvolvam o espeírito ou sejam úteis à vida,
c) formar especialstas em todos os ramos de cultura, e técnica e profissionais em todas as profissões de base cientítica ou artística,
d) por meio a obra social de vulgarização das ciências, das letras e das artes, por meio de cursos sintéticos, conferências,palestras, difusão pelo rádio, filmes científicos e congeneres.
Assim, apesar das divergências surgidas entre os membros do Conselho Universitário quanto à aprovação do nome do docente que ocuparia a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, surge um nome de consenso para minimizar a questão, mas esse fato leva a um esvaziamento da referida Pró-Reitoria, recém-criada. Ao ser implantada em março de 1989, a Pró-Reitoria ainda não delineara um projeto cultural; o primeiro Pró-Reitor, Ruy Laurenti, exerceu uma administração marcada por uma participação efetiva nas atividades culturais, o que colaborou de maneira relevante para a transição. Foi assim que a USP deu seus primeiros passos na tentativa de elaborar uma nova prática cultural. Para Ruy Laurenti não existia um projeto que fosse possível realizar qualquer atividade cultural em sua administração.19 O mandato de Ruy Laurenti terminou com o
fim da gestão do então Reitor José Goldemberg . A única atividade cultural elaborada foi o primeiro Festival de Teatro Universitário, que ficou estruturado e podê ser realizado quando o novo Pró-Reitor, João Alexandre Barbosa, assumiu.
Grandes mudanças na vida universitária passam a ocorrer principalmente nas áreas administrativas. Roberto Leal Lobo e Silva Filho, professor do Instituto de Física e Química de São Carlos assume a Reitoria da USP no mês de janeiro de 1990, indicando em março deste mesmo ano, para a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão João Alexandre Barbosa, professor de Teoria Literária, do Departamento de Lingüística e diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Preocupado com os rumos da Cultura no país, João Alexandre Barbosa buscou formas de organizar a Cultura e Extensão da USP nos moldes que prevalecem até hoje.
19
Foram incorporados à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão vários órgãos de cultura como: o Teatro da Universidade de São Paulo (TUSP), que pertencia à Escola de Comunicações e Artes; a Orquestra Sinfônica da USP (OSUSP) e o Coral Universidade de São Paulo (CORALUSP), que faziam parte da Coordenadoria de Atividades Culturais (CODAC), a Comissão de Patrimônio Cultural (CPC), pertencente à Reitoria, a Estação Ciência, um projeto especial da USP que tem apoio financeiro do Conselho Nacional de Pesquisa e o Conselho dos Museus. No final do ano de 1993, com a recuperação do espaço da USP na rua Maria Antônia, onde funcionou até 1968 a histórica Faculdade de Filosofia, vem somar-se aos demais órgãos o Centro Universitário Maria Antônia, que no início esteve ligado à Coordenadoria de Comunicação Social. Também foram criados, no período de realização desta pesquisa, o Projeto Nascente, o Calendário Cultural da USP, o Calendário de Extensão da USP, as Exposições Itinerantes, a Universidade Aberta à Terceira Idade, o Projeto A Universidade e as Profissões, o Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP), que recebeu o nome de Paulo Emílio e a Orquestra de Câmara da USP (OCAM).
Nos primeiros meses do mandato de João Alexandre Barbosa,20 foram
empreendidos grandes esforços na tentativa de organizar minimamente a área cultural. Foram nomeados pelas unidades de ensino e pesquisa os representantes do Conselho de Cultura e Extensão,21 que após sua instalação passou a realizar
reuniões periódicas. Logo nas primeira reuniões observou-se que a USP tinha grande preocupação com os projetos de Extensão Universitária. Era enorme a quantidade de cursos, das mais diversas áreas, que se aprovavam nas extensas reuniões do novo conselho. Não havia espaço para projetos culturais, pois havia
20
Entrevista concedida em sua residência, em São Paulo, em 07/06/99.
21
resistência natural dos docentes que formavam o conselho quanto às propostas de inovação. Sempre que se sugeria um projeto cultural, apontava-se como justificativa para a não aprovação as apresentações da Orquestra Sinfônica da USP e do Coral Universidade de São Paulo e a alegação de que a USP estava fazendo sua parte quanto às atividades culturais. Devido a essas resistências e à falta de compreensão dos membros que faziam parte do Conselho de Cultura e Extensão, de que a cultura poderia ser entendida como algo mais amplo, não se propiciavam condições para a criação das demais áreas de demonstração e expressão artística. Só depois de muita discussão entre os professores pertencentes ao Conselho, foi possível a introdução de algumas mudanças, a partir das quais começaram a ser realizados os mais diversos projetos de Ação Cultural.
....não que eu tenha convencido o Conselho de Cultura e Extensão. O que eu fiz foi colocar em prática as idéias que o Aluísio tinha. Depois é que eu comunicava o Conselho, porque se eu fosse esperar as decisões nunca teríamos implantado os projetos que implantamos...22
Ao analisar este período, foi encontrado nos documentos administrativos da Pró-Reitoria de Cultura o novo perfil da USP diante das ações culturais, que passariam a fazer parte do cotidiano universitário, mediante as intervenções culturais na rotina acadêmica. Desta forma, teve início uma série de projetos inovadores de ação cultural, até então inéditos no país.
Observa-se que mesmo os eventos técnicos acadêmicos passam a solicitar atividades artísticas como parte integrante da programação de congressos. É interessante registrar, por exemplo, uma apresentação de dança durante a realização de um congresso de Geomorfologia no saguão do Departamento de
22
Geografia e História. Em uma primeira análise rápida pode parecer que
foi acrescentada ao programa como festa, entretenimento dos congressistas e até
mesmo eles terem visto desta forma. Chamada a colaborar na montagem da
programação cultural, a autora deste estudo deixou claro ao professor
coordenador que essa atividade deveria fazer parte de um todo, senão não teria
sentido realizá-la. Foi proposto um espetáculo de dança no qual o bailarino havia
feito uma pesquisa sobre as variações da coloração dos vários tipos de solos
argilosos. Ele pintou o corpo como uma mistura feita de água e argila colorida
em vários tons, de modo que a coloração fosse se alterando enquanto se
desenvolvia a apresentação. Todo o processo fazia parte de um programa
distribuído aos participantes que justamente faziam esse tipo de pesquisa.
A partir de atividades como esta pode-se fazer duas análises: a primeira,
do ponto de vista de quem organizou, e que o fez como ritual, pois certamente
alterou a forma de introduzir demonstrações culturais em atividade estritamente
técnica. A segunda, do ponto de vista de quem participou, na qual sem dúvida há
várias interpretações, tais como: distração, quebra de uma rotina costumeira em
qualquer congresso e finalmente um deleite, no qual os participantes foram
envolvidos, tornando-se parte do ritual, o que acabou ocorrendo seguindo as
38
CAPÍTULO II
Ações Culturais na Universidade de São Paulo
No mês de maio de 1990, a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária já possuía, para pôr em prática, um primeiro esboço do Plano de Ação que nortearia os rumos da cultura da Universidade de São Paulo. Para esta finalidade, foi elaborado um diagnóstico cuja conclusão foi, havia necessidade de dinamizar as atividades culturais na USP.
Foram criadas duas frentes:
39 apresentado um projeto, idealizado para ser um dos mais ousados passos que a Universidade de São Paulo daria na construção de sua história cultural. Porém, devido à falta de prática, razões logísticas e dificuldade de trabalhar com o setor privado, o seminário foi cancelado.
45
49
51
54 Em setembro desse mesmo ano, 1990, após terem sido enviadas propostas descrevendo o Projeto Nascente à várias empresas, a Editora Abril respondeu afirmativamente e veio a tornar-se a primeira parceira cultural nessa nova fase da Universidade de São Paulo. Seguindo o exemplo da Editora Abril, outras empresas como Citrosuco, Nestlé, IBM, Klimes, Kibom, Tintas Sherwin Williams do Brasil etc. mostraram-se receptivas e juntaram suas marcas à da Universidade de São Paulo. Assim, foi possível dar início a várias atividades de cultura do padrão cotidiano que ocorreram no período aqui analisado de 1989 a 1995. Tais atividades eram muito diferenciadas em relação à cultura científica e tecnológica existente na USP e as desenvolvidas pela Coordenadoria de Comunicação Social. Neste órgão se produz o Jornal da USP e funcionam a gráfica e a Rádio USP.
55 É importante observar que as ações culturais foram se desenvolvendo nesse período por intermédio de pessoas envolvidas nas atividades e que acreditaram na proposta do Pró-Reitor de Cultura e Extensão, professor doutor João Alexandre Barbosa. No período de realização desta pesquisa, por exemplo, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC, chegou a contar com 90 empresas apoiando seus projetos, por meio da AAMAC23.
Neste caso específico, houve um elemento facilitador: as empresas buscavam se tornar visíveis para um público diferenciado como o da universidade, um filão que sempre despertou interesse no setor empresarial paulista. Passaram então a juntar suas marcas a produtos culturais diferenciados (exposições e infra-estrutura que possibilitassem essa mesma exposição). Por outro lado, havia por parte da universidade, nesse novo momento, um plano para ficar mais visível perante à sociedade.
...trata-se de um programa ambicioso, que não exclui práticas de “marketing”, no melhor conceito embutido nessa palavra. Não bastam recursos materiais. É preciso que a imaginação criativa e a ousadia supram as eventuais carências de meios financeiros...24
Outra iniciativa que marcou esse período, de intensas atividades culturais, foi o projeto USP/COMUNIDADE – BANCO REAL. Uma iniciativa do gabinete do reitor realizada com recursos financeiros do referido banco, que repassava $5i000 dólares mensalmente para sua realização. Este valor cobria os custos da
infra-24
Texto da correspondência enviada ao Conselho de Cultura e Extensão em julho de 1990, ver p. 40.
23
estrutura, o que propiciava a realização de diversas manifestações artísticas nos
espaços abertos e fechados do campus São Paulo, para o público que freqüentava
a universidade nos finais de semana. O projeto era realizado com o apoio da
Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária e administrado pela Diretoria de
Cultura, contando com monitoria remunerada ($200 dólares mensais) de quinze
alunos graduandos e pós-graduandos. Não havia pagamento de cachês aos
artistas, que tinham, no entanto, seu nome divulgado na grande imprensa paulista,
além da infra-estrura, como transporte e alimentação custeados pela verba que o
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59
1. Projeto Nascente
A concepção do Projeto Nascente e sua implantação na Universidade de São Paulo foi segundo o Pró- Reitor João Alexandre Barbosa:
...a realização de um sonho: fazer com que a Universidade pudesse tornar visível aquilo que, em oito áreas artísticas, fazem os seus estudantes. Um sonho bonito que se opõe às imagens de pesadelo com que a Universidade, no Brasil de hoje, tem que se haver nos seus momentos de vigília. Pesadelo que se traduz pela inércia, o descaso, a entrega à rotina paralisante, o pessimismo, a descrença. Contra tudo issoisso, sonhou-se o Projeto Nascente.25
Discutindo a Política Cultural brasileira no seu editorial do jornal O Estado
de S. Paulo, Mauro Chaves, baseando-se em material elaborado pela Pró-Reitoria
de Cultura Extensão, refere-se à questões confusas que os produtores e artistas se encontram em virtude de não haver qualquer incentivo ou apoio seja por parte do governo, seja pelo setor privado, para que possam despontar talentos artísticos no Brasil. Elogiando a implantação do Projeto Nascente na Universidade, Mauro Chaves escreve:
Um bom exemplo de sistemática de caça aos novos talentos, que poderia ser imitado por entidades públicas e privadas do País, é o Projeto Nascente, desenvolvido pela Pró-Reitoria de Cultura da Universidade de São Paulo. Trata-se da montagem de um banco de dados de informações culturais cujo “ativo” é formado pelos trabalhos depositados por jovens pertencentes ao amplo universo de 50 mil alunos da instituição. Organizou-se um concurso gigante
25
60 e se buscou o patrocínio da iniciativa privada para a premiação dos
melhores trabalhos, em oito áreas artístico-culturais...26
Na sua concepção, o Projeto Nascente, considerado pela crítica especializada27 uma inicitiva de grande ousadia, foi uma Ação Cultural Intencional
com os seguintes objetivos:
• Identificar as vocações artísticas entre os estudantes da USP.
• Premiar os melhores trabalhos em oito áreas artísticas: Música Popular, Música Erudita, Prosa, Poesia, Teatro, Dança, Vídeo/Cinema e Artes Plásticas.
• Abrir espaços e divulgar os vencedores e finalistas.
• Alimentar a primeira base de dados culturais do Brasil.
• Esboçar o cenário cultural brasileiro do ano 2000.
• Incentivar o desenvolvimento da cultura na USP e desta forma na sociedade, por meio do Prêmio Abril.
O Projeto Nascente teve como idealizador Aluízio Falcão, que em junho de 1990 assumiu o cargo de assessor da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão. Convidado pelo então Pró-Reitor João Alexandre Barbosa, Aluízio trouxe consigo a vasta experiência acumulada durante 30 anos de trabalho na área de produção artística da empresa privada, influenciando de modo significativo o novo processo de administração cultural da USP. Sua proposta era trabalhar em parceria com a empresa privada e assim realizar os Projetos Especiais, entre os quais se incluía o Projeto Nascente. Nesta parceria havia um acordo verbal para que a empresa
26
Chaves, 1991, p. 2.
27
61 que viesse a se tornar a parceira cultural não interviesse nas ações à serem realizadas. Após a apresentação do Projeto Nascente à várias empresas obteve-se a primeira parceria cultural com a Editora Abril no dia 10 de setembro de 1990. Além de demonstrar receptividade quanto ao desenvolvimento do Projeto, cabia à ela apenas a responsabilidade de efetuar o pagamento do valor correspondente aos prêmios, estipulado em 7.000 Bônus do Tesouro Nacional (BTN), que equivalia à quase $50000 dólares no primeiro ano de realização. No período de 1989 à
1995 a Editora Abril cumpriu rigorosamente o compromisso assumido não causando nenhum problema ao seu desenvolvimento na Diretoria de Cultura e Extensão. Após idealização e a elaboração do Projeto Nascente por Aluízio a proposta foi encaminhada ao Conselho de Cultura e Extensão que aprovou a idéia. Foi então fechada a parceria cultural. A tarefa seguinte foi encontrar uma pessoa que se responsabilizasse pelo trabalho de desenvolvimento e realização do Projeto Nascente.28 Em de outubro de 1990, passei a fazer parte do pequeno
quadro da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU), participando do desenvolvimento do Projeto Nascente.29 O Projeto Nascente,
além de ser uma parceria com a empresa privada, sugeria a utilização de um marketing direcionado.
28
Fui então chamada para uma entrevista durante a qual me apresentaram um cartaz, que além, de ser ilustrado com um polegar no qual se viam as digitais, também havia a seguinte pergunta: “Cadê o seu talento?” Solicitada a opinar sobre ele, vi que se tratava de um concurso com um prêmio em
dinheiro equivalente a 5.000 dólares, oferecido pela Editora Abril. Rememorando a entrevista, lembro-me de ter respondido que poderíamos nos surpreender, pois conhecendo os alunos com os quais convivi em vários cursos era possível que um, nenhum ou milhares deles se inscrevessem.
29
Recortes de jornais de 1990/91 contendo matérias sobre o lançamento
do Projeto Nascente
Figura 10
Figura 11
63 Começou-se então a buscar formas de promover a inserção das atividades culturais da USP na mídia. Ao mesmo tempo, procurou-se encontrar mecanismos práticos para se organizar efetivamente um catálogo cultural e um panorama da produção cultural de seu maior universo – os alunos. Sabia-se que grandes nomes artísticos que estão em plena atividade, como Chico Buarque, Arrigo Barnabé, Arnaldo Antunes, entre outros, passaram pelas cadeiras da USP sem que a universidade tenha efetuado um registro de sua produção cultural enquanto alunos. Por isso, para reconstruir a história cultural da USP deste período só nos resta recorrer a memórias individuais das pessoas que vivenciaram os momentos.
A primeira qualidade deste projeto foi oxigenar o meio acadêmico, buscando uma maior aproximação com os alunos. Do ponto de vista prático, o Projeto Nascente deu condições para a montagem do primeiro Banco de Dados Culturais do Brasil. Criado no sistema Clipper,30 significou uma grande mudança
na forma de serem registradas as práticas de Ação Cultural. Chegar a esse ponto exigiu um grande esforço, envolvendo numerosas ações. Além da parceria cultural, tais como confecção de cartazes, catálogos, folders e programas, os três últimos seguindo os padrões internacionais vigentes. Também foram encaminhadas solicitações de contratação de estagiários das áreas de Relações Públicas, Publicidade e Marketing, da própria USP e de outras instituições universitárias, mediante convênio com a Fundação de Desenvolvimento Administrativo do Estado de São Paulo (FUNDAP), Reitoria da USP e da bolsa-trabalho da Coordenadoria de Assistência Social (COSEAS/USP). Os dois primeiros estagiários – João Borba, estudante do curso de línguas e Rosana de Paula, estudante do curso de história, ambos ligados à Faculdade de Filosofia, Letras e
30
64 Ciências Humanas da USP – foram admitidos na Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP no mês de maio de 1991 para desenvolver o Projeto Nascente. Com os resultados positivos do trabalho desses estagiários, os diversos órgãos e setores da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão também vieram a utilizar-se deste mecanismo. Tais ações visavam a contribuir para que a USP implantasse seu novo plano cultural e se tornasse visível, não só pelas descobertas científicas, como também pela possibilidade de intervenção na cena cultural da cidade de São Paulo.
De acordo com o Pró-Reitor, João Alexandre Barbosa, a implantação do Projeto Nascente foi um marco significativo na história da USP. O então Reitor Roberto Leal Lobo e Silva Filho abre o anuário estatístico da USP dando ênfase ao Projeto Nascente:
Iniciado em 1991 e já em seu segundo ano de execução, o Projeto “Nascente” é o principal destaque na área de cultura de nossa universidade, despertando pelo seu ineditismo o interesse dos centros universitários do país.... O projeto constitui um exemplo de que é possível, a despeito da carência de recursos financeiros, revolucionar as práticas culturais dentro do campus da capital.31
Durante o período de 1989 a 1995, foram realizadas cinco edições do Projeto Nascente. O Nascente I, que teve como apelo “Cadê o seu talento?”, abriu inscrições em novembro de 1990 e encerrou-as em junho de 1991. Foram inscritos setecentos e cinquenta e dois alunos das mais diferentes áreas de formação acadêmica, nas oito áreas de linguagens artísticas. Para o lançamento do Nascente II foram feitas correções estruturais nos regulamentos e no banco de dados. As inscrições, a partir deste ano, se iniciariam junto com o ano letivo
31
65 da USP e se encerrariam no último dia letivo de junho. O apelo do Nascente II foi cercado de grande expectativa, pois se planejou lançar o projeto não só para os alunos, como também para os professores e funcionários, procurando atraí-los com o apelo “Novas Cabeças a Prêmio” . Porém, depois de consultada a Editora Abril, a empresa só se interessava pelo público composto por alunos. Apesar da insistência da Reitoria em explicar as razões da ampliação do projeto, não foi possível convencer a empresa a investir nos demais segmentos que compõem a comunidade universitária. Desta forma, as inscrições para o Nascente II ficaram abaixo da expectativa, caindo para quinhentos e quarenta e oito inscritos.
O Nascente III, com o apelo “Novas Estrelas Vão Nascer”, foi o último a se realizardurante do mandato do Pró-Reitor João Alexandre Barbosa. Tendo sido divulgado por meio de um panfleto, criado pelos estagiários da FUNDAP/ COSEAS e entregue por ocasião da matrícula, este Nascente procurou envolver os alunos conforme o objetivo proposto durante seu planejamento. O apelo obteve a aprovação do idealizador, que além de assessor do Pró-Reitor assumiu também, a partir do Nascente II, a coordenação geral do projeto. Para dar prosseguimento à campanha, foi contratada a empresa A3 de publicidade, que criou um cartaz com o apelo “Vestibular de Cultura”. A ilustração era um grupo de pessoas com aspecto infeliz consultando uma lista. Apesar de a ilustração não estar de acordo com o apelo inicial, o referido cartaz foi impresso. Ao término das inscrições, observa-se que o número de alunos que participaram do Nascente III também não foi expressivo, somando quatrocentos e noventa e três inscritos.
66 Anonimato”, plagiando os versos de uma música do compositor Caetano Veloso. Apesar do apelo forte, não conseguiu aumentar o número de inscrições que não passou de trezentos e noventa e três inscritos. Em meados de agosto de 1994, o então Reitor Roberto Lobo Leal e Silva Filho entregou seu cargo, levando os demais membros da administração central a se afastar também. Desta forma o Nascente IV teve seu início no mandato do Pró-Reitor João Alexandre Barbosa, que não o concluiu. A Pró-Reitoria passa então a ser administrada pelo Vice Pró-Reitor em exercício Sebastião Timo Iaria, que permaneceu no cargo até que se realizassem as eleições para Reitor e fosse indicado o novo Pró-Reitor. A USP viveu aí um momento de transição, de grande incerteza, sem saber o que ia acontecer.32
O Nascente V, o último a constar desta análise, usou o apelo “Uma Mãozinha pro seu Talento”. Foi o primeiro efetivamente planejado e executado no mandato do Pró-Reitor Jacques Marcovitch, que assumiu a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão em 1994. Além das habituais incertezas dos momentos iniciais da nova administração, foi mantida a estr utura do Projeto Nascente, permanecendo na assessoria e coordenadoria geral o mesmo responsável, Aluízio Falcão. Quanto à Coordenação Executiva do Projeto Nascente, não ocorreu nenhuma mudança na equipe. O Projeto, contudo, prosseguiu dentro do planejado, na medida do possível. A campanha foi inteiramente elaborada por um aluno do curso de propaganda da ECA/USP, o que iria se tornar uma rotina a partir de então. Ao se encerrarem as inscrições, constatou-se que neste Projeto Nascente haviam sido inscritos trezentos e cinquenta e três alunos,
32
67 número que manteve a média em relação aos anteriores.
O Projeto Nascente, considerado pela administração a mola mestra das Ações Culturais implantadas pela USP, acabou influenciando as demais atividades analisadas nos órgãos que pertencem à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária. Observamos que essas atividades culturais também tiveram grande impulso no período de 1989 a 1995.33
33
Ver Anuário Estatístico da USP, 1995, pp. 223-226 e 1996, pp. 231-234.
FONTE: Anuário Estatístico da USP, São Paulo, 1995, p. 225 e 1996, p. 233
ANO TOTAL DE INSCRITOS
1990/1991 752
1992 548
1993 493
1994 393
1995 353
68 Alguns exemplos de material de divulgação do Projeto Nascente.
69
71
2. Coral Universidade de São Paulo
O Coral Universidade de São Paulo, que completaria em 1989 22 anos, era
formado por seis grupos independentes: Beijo, Zimana, Indaka, XI de Agosto, Tarde e Tainá. Possuindo repertórios e características próprios, eles se unem para formar o CORALUSP, tendo como premissa integrar a comunidade universitária com a comunidade externa. Os grupos passam a se apresentar em todas as atividades culturais da Universidade, intervindo no cotidiano das unidades acadêmicas, segundo proposta idealizada pela Reitoria.
72 origem. Com essa constante alteração, todo o trabalho de ensaios, aulas de técnica vocal e percepção musical acabam se perdendo. A cada semestre é necessário iniciar do mesmo ponto. Isto não quer dizer que não seja importante a USP possuir um coral, mas o papel que esta Ação Cultural desempenha na sociedade deveria ser repensado. A partir dessa reflexão, deveriam ser criados mecanismos para que o CORALUSP pudesse efetivamente manter um grupo mais fixo e os demais grupos fossem trabalhados com uma perspectiva de crescimento desse mesmo grupo fixo.34
Encontra-se na home page do CORALUSP (http:// www.usp.br/geral/ cultura/coralusp.html) o histórico completo do CORALUSP, do qual resumimos:
Fundado em 1967 por Benito Juarez e José Luiz Visconti a partir de uma iniciativa do Grêmio Politécnico, o CORALUSP reunia na época estudantes da Poli e da Escola de Enfermagem. Inaugurou um estilo próprio sintonizado com sua época, em que as linguagens do erudito e do popular convergiam e apontavam para um caminho inédito na música coral brasileira. Aclamado por público e crítica já em seus primeiros anos, o CORALUSP firmou-se pelo alto nível técnico-artístico alcançado em suas apresentações dentro e fora da tradicional sala de concertos, no país e no exterior.
Seu currículo inclui quatro turnês pelo exterior (EUA-1972, Europa-1973, África-1979 e Argentina-1994), cinco premiações da Associação Paulista de Críticos de Arte e inúmeras apresentações em festivais, teatros, igrejas, parques, universidades, colégios, rádio e TV, numa média de 100 concertos anuais, além de três registros fonográficos: 1974/LP - selo Marcus Pereira, 1992/CD - selo Camerati (grupo Beijo) e 1995/CD - selo Pau Brasil (Grupo Beijo e Marlui Miranda – Ihu, Todos os Sons).
Há mais de trinta anos o CORALUSP tem atuado como importante coadjuvante na formação de músicos profissionais,
34
73 oferecendo a todos os seus integrantes a oportunidade de iniciação
e desenvolvimento através de uma equipe de orientadores nas áreas de técnica vocal e estruturação musical. Regentes, instrumentistas, arranjadores e compositores tiveram, como primeiros mestres, músicos da excelência de Damiano Cozzella, Elizabeth Rangel e Baldur Liesenberg, que, reunidos a Benito Juarez, alavancaram o alicerce técnico-artístico do grupo no final dos anos 60. A partir de então, um grande número de profissionais altamente qualificados vem prestando ao CORALUSP inegável contribuição.