O que é o Conservadorismo?

O que é o

Conservadorismo?

Índice

 De onde surgiu o Conservadorismo?

 Em que é que acredita um conservador? Os “10 Princípios Conservadores” de Russell Kirk”

 Razões do surgimento do Conservadorismo;

 Conservadorismo-Liberal;

 Distinçao entre Conservadorismo, Tradicionalismo e Reacionarismo.

 Conservadorismo atual

De onde surgiu o Conservadorismo?

O primeiro uso do termo “Conservadorismo” em contexto político é originário de François-René (então visconde de Chateaubriand, França) no século XIX, com o objetivo de reverter as políticas da Revolução Francesa, e é utilizado desde então para denominar políticas do lado direito do espectro.

Esta ideologia iria mais tarde influenciar várias perspetivas envolvendo a mesma, destacando-se o conservadorismo-liberal, tendo como “fundador” Edmund Burke (presente na capa do artigo). A ideologia consiste em ter em conta todos os acontecimentos passados na nação em questão com o objetivo de não repetir erros, e repetir qualidades dos diferentes regimes da mesma. Tem muitas vezes ligações por questão religiosa (embora atualmente não seja já um tema relevante em questão), um governo limitado, e populismo.

Razões do surgimento do Conservadorismo

Um dos grandes filósofos envolvendo ideologias conservadoras, foi o irlandês Edmund Burke (mais precisamente Conservador-Liberal) que, embora defendesse a independência de estados e revoluções por parte do povo, não apoiou a Revolução Francesa. Burke apoiou revoluções de índole política pelo mundo fora, especialmente envolvendo a Grã-Bretanha (independência dos atuais Estados Unidos e da Índia Britância, por exemplo), então porquê estar contra a francesa?

Burke afirmava que as razões que levaram à revolucão dos gauleses não eram justificáveis, pois estas não eram só revoluções políticas, mas sim um rompimento violento com a tradição e os costumes, prevendo de forma quase profética as consequências catastróficas que a Revolução teria (sobretudo no domínio jacobino), ao contrário das que foram realizadas na Grã-Bretanha (realizadas por fins puramente políticos, em casos extremos), não considerava a revolução necessária da forma como foi executada, preferindo então que este processo fosse feito de forma diplomática e não violenta, através de reformas feitas de forma muito lenta, de forma a dar tempo de adaptação à sociedade.

François-René, primeiro pensador conservador da história, estava não só contra a revolução, tal como estava contra as políticas tomadas após a mesma, preservando então valores monárquicos, religiosos e tradicionais.

Em que é que acredita um conservador? Os “10 princípios conservadores” de Russell Kirk

Outro importante filósofo conservador, já no Século XX foi Russell Kirk, que deu continuidade às ideias de Burke, establecendo as raízes do conservadorismo atual, pós-II Guerra Mundial, com a promulgação dos 10 princípios conservadores, falando da existência de uma ordem moral duradoura (seja religiosa ou outro sistema de crenças e valores, esta moral é intemporal e adaptável à mudança dos tempos, baseando-se no facto de a natureza humana ser inalterável, sendo as verdades morais dessa mesma natureza também inalteráveis).

Os conservadores consideram que os costumes permitem a convivência pacífica das pessoas, que as leis são um conjunto de convenções e acreditam que a continuidade garante a transição estável entre gerações, rejeitando as revoluções que quebram a continuidade e os costumes, argumentando que estes movimentos forçam e aceleram um processo que deve ser lento, ignorando os erros do passado e establecendo repentinamente uma ordem social que pode vir a ser catastrófica. Assim, rejeitam qualquer idealização de uma sociedade perfeita comum a todos os homens e povos, pois cada povo teve passados históricos diferentes, pelo que as reformas e mudanças adotadas serão sempre diferentes para cada população (por exemplo, um alemão que olhe para a história do seu país, rejeitará de imediato o nazismo e o totalitarismo, baseando-se na história do seu país).

O princípio da prescrição consiste na ideia de que devemos tomar o passado como exemplo, interpretando a história e o establecimento a ordem, justiça e liberdade como o resultado de várias tentativas e falhas, pelo que consideram o passado como o “prescritor” para o futuro.

O princípio da prudência é muito importante no entendimento da filosofia política conservadora, pois tanto para Burke como para Kirk, as reformas devem ser muito bem pensadas antes de executadas (o conservador age depois de refletir), establecendo uma crítica ao radicalismo (os radicais revolucionários pretendem avançar para o seu “mundo perfeito” idealizado apenas com base nos seus próprios princípios morais, sem pesar as consequências que as suas ações e mudanças podem instituir na sociedade a longo prazo).

O princípio da diversidade assenta na crença de que numa boa sociedade, nenhum Estado deve procurar eliminar as diferenças entre as pessoas (sejam as diferenças de classe económica, social, entre outras) e que a igualdade não deve ser artificial, pois isto dará aso à estagnação social e económica. Para o conservador, a única forma legítima e terrena de igualdade é a igualdade perante a lei (os conservadores religiosos consideram também a igualdade no dia do Julgamento Final).

Os conservadores resignam-se à imperfeição humana (princípio da perfeição), e sendo o homem imperfeito, é impossível criar uma sociedade perfeita, considerando que mesmo nessa sociedade, o homem se iria revoltar, aceitando que é preferível criar uma sociedade justa, livre e ordenada onde existem inevitáveis transtornos decorrentes dos inegáveis defeitos humanos.

É defendida, igualmente, a propriedade privada (para o conservadorismo, a liberdade e a propriedade privada), pois a comunidade, em geral, será mais produtiva se a propriedade for descentralizada.

Acreditam os conservadores que a propriedade privada ensina a responsabilidade ao Homem, permite melhorar a cultura geral, fundamenta a integridade, permite a liberdade de agir e pensar na forma como usamos a propriedade privada. Constitui também um incentivo ao trabalho, pois somos nós que

colhemos os frutos do nosso trabalho, podendo mantê-la e entregá-la a quem quisermos, mesmo até depois da morte (herança para os entes queridos, o motivo pelo qual muitos chefes de família se empenham no trabalho), além de nos dar mais oportunidades de sair de uma situação de pobreza. A posse privada da propriedade traz também um senso de responsabilidade aos seus dentetores, que contribui para a melhora da sociedade, em geral. No fundo, a propriedade privada torna-nos mais livres e racionais (propriedades fundamentais e definitivas de um ser humano em pleno desenvolvimento), pois quanto menos propriedade o Estado detém, menos possível será a hipótese de uma tirania e mais margem teremos para aplicar as nossas posses da forma que quisermos sem infringir a liberdade do outro, de acordo com as nossas responsabilidades (liberdade) e nos obriga ao uso da razão para perceber as maneiras mais eficientes, rentáveis e produtivas de aplicar a nossa propriedade.

O Conservadorismo pretende também, a restrição do poder (um aspeto comum com o liberalismo), quer para o Estado, quer para o povo (rejeição tanto da tirania, como da anarquia), pois a concentração de todo o poder nas mãos de um pequeno grupo leva à supressão das liberdades individuais, agindo de forma imune à crítica, controlando e dominando os cidadãos, sem haver supervisão ou aprovação e a anarquia levará à desordem e à ausência de leis, devido a alguns indivíduos, naturalmente se adaptarão melhor que outros devido a serem mais fortes e inteligentes que os demais, levando a uma nova situação de tirania. O poder deve ser assim, balanceado, para que não surja uma situação nem de tirania nem de anarquia. As pessoas procuram o poder naturalmente, seja para vantagem própria, ou para instituiro bem (os radicais revolucionários vêm o poder como uma ferramenta para o bem). Baseando-se no princípio da imperfeição, o conservador rejeita a benevolência, pois um homem de boas intenções, continua a ser imperfeito e as mudanças que conduz com essas mesmas podem levar a consequências nefastas para a sociedade se não houver um poder balanceado e distribuído que reequilibre a comunidade.

O décimo e último princípio é muito importante, pois muitos opositores ao Conservadorismo o ignoram, e diz que o conservador não é oposto à mudança e à melhoria. Samuel Taylor Coleridge argumenta que uma boa sociedade obedece a duas forças: a permanência e a progressão. A permanência consiste nas convenções e nos costumes, que são o pilar da sociedade para os conservadores. A progressão é o que nos incita a proceder a reformas e a melhorias, ainda que estas mudanças devam acontecer de forma racional, prudente e bem pensada, e que sem elas a sociedade estagnaria. No fundo, a permanência é o que aproxima o Conservadorismo do Tradicionalismo/Reacionarismo e a progressão é o que o aproxima do Liberalismo/Progressismo, pelo que o Conservadorismo pode ser encarado como uma posição intermédia entre estas 4 posições.

Assim, a essência Conservadora pode resumir-se na defesa de um progresso lento, moderado e racional.

Em baixo, fica a síntese dos “10 Princípios Conservadores”

Conservadorismo-Liberal

Como pudemos ver, através de uma análise profunda dos ideias conservadores, podemos concluir que esta não é uma filosofia inconciliável com o liberalismo como muitos pensam (por exemplo, o espectro político americano está dividido em Conservadores e Liberais) e que o verdadeiro inimigo do Conservador é o Radical/Revolucionário. O próprio Burke entendeu isso e desenvolveu o conceito de

“Conservadorismo-Liberal”.

O conservadorismo-liberal idealizado por Edmund Burke, é baseado na liberdade do indivíduo, desde que não prejudique a do próximo, apoiante do capitalismo e livre-mercado, onde a fé não é incutida pelo governo e é um sistema democrático, colocando os interesses dos habitantes em primeiro lugar.

Embora nos dias de hoje seja considerado um regime democrático, Burke apoiava também a monarquia. Embora fosse também apoiante da Democracia, este defendia que deveria de haver um chefe de estado baseado em descendência, onde o poder deste não é absoluto, mas sim dividido entre o próprio e o restante governo elegido pelo povo.

Distinção entre Conservadorismo, Reacionarismo e Tradicionalismo

Conservadorismo – Ideologia que tem como objetivo levar em conta acontecimentos passados numa nação na tomada de decisões, com o objetivo de evitar a repetição desses erros, mantendo os valores tradicionais numa transição progressiva, mas lenta, com bastante caução e estudo.

Reacionarismo – Ideologia com o objetivo voltar ao passado. Nega o progressismo, dando bastante valor a valores passados onde se admite serem melhores que os atuais, adotando sim, ideologias conservadoras, mas não levando em conta possíveis benefícios do futuro e mesmo do presente, sendo uma ideologia hoje extinta ou com muito pouca relevância.

Tradicionalismo - Ideologia que idealiza a tradição como única fonte de inspiração política numa região, sendo era o guia para a felicidade e prosperidade de uma nação, colocando-a a cima de tudo e todos, provocando assim a estabilidade governamental.

Conservadorismo Atual

Atualmente o conservadorismo está presente em políticas de líderes internacionais, tal como Jair Bolsonaro, Donald Trump, e variados países do Leste Europeu.

Há também comentadores notáveis Norte-Americanos com destaque no que toca a políticas controversas tais como o aborto, mudança de género, e oposição ao Socialismo e Comunismo, tais como Ben Shapiro e Jordan Peterson.

Em Portugal, o regime mais notório pela presença parcial do Conservadorismo foi António de Oliveira Salazar, embora não o seguindo pela sua totalidade, o Conservadorismo de Salazar foi aplicado em medidas protecionistas necessárias (antes de a estabilidade financeira do país ter sido alcançada por essas mesmas medidas), e por consequente de bons resultados houve abertura de mercado, embora também moderado, com o exterior.

Mas atualmente, o conservadorismo é na opinião da página mal representado, com partidos com visibilidade na Direita no parlamento a dar apoio a governos socialistas e social-democratas, tais como CDS e PSD, mas felizmente têm surgido partidos com maior afirmação conservadora, como por exemplo a coligação entre o CHEGA, PPM e D21, aumentando assim a esperança de mudança em Portugal.

Os Destros.

Guilherme Tavares, Jaime Casanova.