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Responsabilidade socioambiental do agronegócio da soja no entorno do Distrito Federal

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(1)

Universidade

Católica de

Brasília

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

STRICTO

SENSU

EM PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL

Mestrado

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DO

AGRONEGÓCIO DA SOJA

NO ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL

Autora: Carmem Silvia Corrêa Treuherz Salomão

Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Macedo Bessa

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CARMEM SILVIA CORRÊA TREUHERZ SALOMÃO

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DO AGRONEGÓCIO

DA SOJA NO ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental, da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Macedo Bessa

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7,5 cm

Ficha elaborada pela Coordenação de Processamento do Acervo do SIBI – UCB. S173r Salomão, Carmem Silvia Corrêa Treuherz.

Responsabilidade socioambiental do agronegócio da soja no entorno do Distrito Federal / Carmem Silvia Corrêa Treuherz Salomão. – 2007.

128 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2007. Orientação: Luiz Fernando Macedo Bessa.

1. Gestão ambiental. 2. Política ambiental. 3. Soja – Distrito Federal (Brasil). I. Bessa, Luiz Fernando Macedo, orient. II. Título.

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“Não existe arte patriótica nem ciência patriótica. Ambas pertencem,

como todo sublime bem, ao mundo inteiro, e só podem ser fomentadas pelo intercâmbio geral e livre de todos os simultaneamente vivos, em constante respeito pelo que nos foi transmitido

e nos é conhecido do passado.”

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, especialmente, pelo apoio financeiro da Universidade Católica e pela confiança da Direção do Curso, na realização dessa pesquisa.

Ao meu orientador, Prof. Luiz Fernando Macedo Bessa, pela dedicação constante e incansável ao longo de cada descoberta, desafio, questionamento. Ao Professor Mário Theodoro, por sua visão e por suas aulas inspiradoras e à Professora Helena Tonet, por suas valiosas contribuições. Ao Professor Richard Pasquis, da Universidade de Brasília, pelo seu conhecimento e entusiasmo contagiantes.

Ao Sr. Edivan, da Fazenda Isabel, ao amigo Edílson, aos demais produtores rurais que concordaram em nos receber contribuindo com seu precioso tempo e comentários enriquecedores para o aperfeiçoamento deste estudo. Meus agradecimentos aos representantes dos bancos que entrevistei, aos representantes de ONGs, aos pesquisadores da Embrapa, da Prefeitura e do Sindicato Rural de São João da Aliança, e tantos outros, cuja ajuda foi preciosa.

Finalmente, agradeço a minha família: a meus pais, que, desde sempre e em tudo, me apóiam incondicionalmente; ao meu marido e minhas filhas, que entenderam cada uma das ausências, acompanharam-me ao campo e me inspiram a avançar sempre.

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RESUMO

Com o presente trabalho, pretende-se desenvolver e aplicar um instrumento de análise da responsabilidade socioambiental do produtor de soja. Nesse sentido, foi criado um instrumento composto de 44 perguntas fechadas, divididas em sete temas: valores e transparência; saúde, segurança e condições de trabalho; uso de água e energia; emissões atmosféricas; consumo e resíduos gerados; meio ambiente (situação de adicionalidade) e legislação. Na fase de pesquisa foram realizadas visitas e entrevistas para conhecer ferramentas e iniciativas existentes, bem como para um aprofundamento sobre o processo do cultivo da soja. O instrumento foi testado e aplicado em dez propriedades rurais na área sob estudo. Os resultados apontam para a preponderância da produção em escala e investimentos crescentes em mecanização, resultando em baixa geração de emprego; oportunidades de melhoria na gestão dos recursos hídricos e das emissões atmosféricas geradas; a sensibilização do produtor rural para as questões ambientais, dada sua proximidade com a natureza e o entendimento de que dela depende para a perenidade de sua atividade e a importância de se atrelarem requisitos legais a mecanismos que facilitem e, ao mesmo tempo, forcem seu cumprimento, considerando a extensão territorial e a escassez de recursos humanos para fiscalizar essa conformidade. Baseado na sua aplicação, conclui-se que os itens constantes de cada um dos temas reúnem grande parte dos aspectos encontrados nos instrumentos pesquisados para sua elaboração. E, finalmente, enquanto instrumento de análise da responsabilidade socioambiental do produtor de soja e da sua relação com os demais atores da cadeia, afirmamos que o modelo atende de maneira simples e rápida ao propósito estabelecido.

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ABSTRACT

The primary objective of this work is to develop and apply a device that permits the analysis of the social and environmental responsibility level of the soybean producer. This device comprises 44 questions and was divided into seven themes: values and transparency; health, safety and labor conditions; water and energy use; atmospheric emissions; consumption and waste generation; environment (additional conditions) and legislation. In the research stage, visits and interviews were carried out to establish an understanding of the existing tools, initiatives, as well as of the soybean producing activity per se. It was tested and applied among ten rural property owners in the area of study. The research demonstrated a tendency towards large scale production and growing investments in mechanization, thus resulting in low levels of job creation; improvement opportunities in the management of water resources and atmospheric emissions; producers’ sensitivity toward environmental issues, given their involvement with nature and the understanding that the sustainability of their activity depends very closely upon nature; and importance of strengthening legal requirement mechanisms to ensure compliance, given the territorial extension and lack of availability of sufficient human resources. Based on its application, it is reasonable to conclude that the items of which this instrument is composed include most of the necessary topics found in the various tools upon which this research was based on and provides, in a simple and easy way, an analysis of the social and environmental responsibility of the soybean producer as they relate to the remaining actors of the production chain.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - O deslocamento da soja ao norte (Pasquis, 2004) ... 2

Figura 2 - Mapa Rodoviário de Goiás, DNIT - 2002... 70

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - CERTIFICAÇÕES ISO 14001 – MUNDO... 54

Gráfico 2 - Valores e Transparência com partes interessadas... 75

Gráfico 3 - Critérios para contratação de fornecedores e prestadores de serviço ... 77

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Comparativo de área, produtividade e produção - Safras 2005/2006 e

2006/2007... 3

Tabela 2 - Principais usos da terra no Cerrado ... 4

Tabela 3 - Área de Soja Plantada X Potencial (2003)... 23

Tabela 4 - Participação brasileira no mercado internacional (hoje e em 2015) ... 26

Tabela 5 - Comparativo Risco - Campo x Indústria ... 30

Tabela 6 - Subcomitês e Respectivos Comitês Técnicos ... 51

Tabela 7 - Empresas Certificadoras ativas no Brasil ... 52

Tabela 8 - CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL... 56

Tabela 9 - Distribuição Área Total Imóveis Rurais por Categoria - Brasil e Grandes Regiões 1998 (em %) ... 67

Tabela 10 - Tamanho e porte das propriedades rurais (em hectares e módulos fiscais)... 68

Tabela 11 - Dados Gerais dos Municípios pesquisados... 69

Tabela 12 - Grau de conformidade por propriedade ... 72

Tabela 13 - Grau de conformidade por tema ... 72

Tabela 14 - EPIs oferecidos aos trabalhadores rurais ... 79

Tabela 15 - Relação entre tamanho de propriedade x no. funcionários... 80

Tabela 16 - Benefícios oferecidos aos trabalhadores rurais... 81

Tabela 17 - Emissão atmosférica x ocorrência ... 84

Tabela 18 - Principais itens de consumo... 85

Tabela 19 – Tabela de Priorização dos Desperdícios Identificados... 87

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Abiove Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ADA Avaliação de Desempenho Ambiental APPs Áreas de Preservação Permanente

BB Banco do Brasil

CB Comitê Brasileiro

CBPG Comitê Brasileiro do Pacto Global

CDS/UNB Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília

Cebrac Centro Brasileiro de Apoio Cultural CNT Confederação Nacional do Transporte Conab Companhia Nacional de Abastecimento

DF Distrito Federal

Dieese Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos

DNIT Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes EPI Equipamento de Proteção Individual

EPC Equipamento de Proteção Coletiva FAO Food and Agriculture Organization

FBOMS Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais Feema Fundação Estadual de Meio Ambiente

Fetraf-Sul Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Sul do Brasil

GEE Gás de efeito estufa

GRI Global Reporting Initiative

GTA Grupo de Trabalho da Amazônia

ha 1 hectare (equivale a 10 mil metros quadrados) Ibase Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas IBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH Índice de Desenvolvimento Humano

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IFC International Finance Corporation

Incra Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Inmetro Instituto Nacional de Metrologia

Ipam Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

ISA Instituto Socioambiental

ISO International Organization for Standardization km Quilômetro

km² Quilômetro quadrado

MTE Ministério do Trabalho e Emprego NBR Norma Brasileira Registrada

NR Norma Regulamentadora do MTE

NRR Norma Regulamentadora Rural do MTE OCA Organismos de Certificação Acreditados

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OGM Organismos Geneticamente Modificados

OIT Organização Internacional do Trabalho ONG Organização não governamental

PIB Produto Interno Bruto

PNUD/Unep Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento / United Nations Environmental Programme

RS Responsabilidade Social

RSC Responsabilidade Social Corporativa RTRS Round Table for Responsible Soy

SGA Sistema de Gestão Ambiental

TC Technical Committee

TNC The Nature Conservancy

WBCSD World Business Council for Sustainable Development

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 1

1.1OBJETIVOS...9

1.1.1 OBJETIVO GERAL...9

1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...9

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 10 2.1CONCEITOS BÁSICOS...15

2.2RESPONSABILIDADE SOCIAL NO BRASIL E NO MUNDO...19

2.3AQUESTÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL...22

2.4 AS PECULIARIDADES DA PRODUÇÃO DE SOJA E DO AGRONEGÓCIO...23

2.4.1PARTICIPAÇÃO NO MERCADO E FATORES DIVERSOS...25

2.4.2OUTRAS PECULIARIDADES...29

2.5INICIATIVAS DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL...31

2.5.1 PACTO GLOBAL / THE GLOBAL COMPACT...33

2.5.2 GLOBAL REPORTING INITIATIVE (GRI)...34

2.5.3 ATUAÇÃO DE ONGS...35

2.5.3.1 INSTITUTO ETHOS...36

2.5.3.2 GREENPEACE...38

2.5.3.3 WORLD WILDLIFE FOUNDATION (WWF)...39

2.5.4 O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS...40

2.5.4.1 BANCO DO BRASIL...41

2.5.4.2 BANCO RABOBANK INTERNATIONAL BRASIL S.A....43

2.5.4.3 BANCO REAL / ABN AMRO...44

2.5.5 ARTICULAÇÃO SOJA...45

2.5.6 FÓRUM GLOBAL SOBRE A SOJA RESPONSÁVEL/ROUND TABLE FOR RESPONSIBLE SOY (RTRS)...47

2.5.7 CRITÉRIOS DA BASILÉIA PARA A PRODUÇÃO DE SOJA RESPONSÁVEL (2004)...49

2.5.8 ATORES E NORMAS RELEVANTES...50

2.5.8.1 NORMA ABNT NBR ISO 14001 - SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL / REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO...55

2.5.8.2 NORMA ISO 14031 - GESTÃO AMBIENTAL/AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO AMBIENTAL (ADA) / DIRETRIZES...57

2.5.8.3 NORMA SA 8000 - SOCIAL ACCOUNTABILITY (RESPONSABILIDADE SOCIAL)...57

(14)

3.1MÉTODO DE TRABALHO...59

3.2INSTRUMENTO...62

3.2.1CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO...62

3.2.2COMPOSIÇÃO DO INSTRUMENTO...64

3.3ÂMBITO DA PESQUISA...66

3.4PERFIL DAS PROPRIEDADES...68

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 71 4.1ANÁLISE DOS RESULTADOS...71

4.2ANÁLISE DO INSTRUMENTO POR TEMA...73

4.3CONCLUSÕES...89

5. REFERÊNCIAS 93 APÊNDICEA-INSTRUMENTOPARAANÁLISEDARESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTALDOPRODUTORDESOJA...105

APÊNDICEB–FORMULÁRIOBÁSICODEANÁLISEDAAPLICAÇÃODO INSTRUMENTOERESULTADODERESPONSABILIDADESOCIOAMBIENTALDO PRODUTORDESOJA ...118

APÊNDICEC-INSTRUMENTOPARAANÁLISEDARESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTALDOPRODUTORDESOJACONSOLIDADO ...119

APÊNDICED-FORMULÁRIOBÁSICODEANÁLISEDAAPLICAÇÃODO INSTRUMENTOERESULTADODERESPONSABILIDADESOCIOAMBIENTALDO PRODUTORDESOJACONSOLIDADO...131

APÊNDICEE-ROTEIROPARAENTREVISTA–AGENTESFINANCEIROS ...132

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1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

O avanço da soja no cerrado brasileiro é um tema cuja discussão vem despertando cada vez mais interesse no país e no exterior, em virtude de sua importância para a economia e o comércio internacional, bem como as conseqüências para o meio ambiente e a sociedade.

A importância econômica da soja para o país pode ser destacada por ter lançado o Brasil no mercado internacional de “commodities” e ter-se tornado um importante produto da pauta de exportações. Dados de 2003 mostram que o Brasil é o segundo maior produtor de soja no mundo, com 33% da exportação mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, com 45% das exportações. Em seguida, vêm os demais países que, juntos, correspondem a 22% das exportações mundiais de soja (FAOSTAT, apud CADIER, 2004).

Comparando a produção interna de grãos no país, apenas soja corresponde a 45,2% do total de grãos produzidos, seguida do milho, com 36,8% (CONAB, 2007), o que demonstra a importância dessa cultura para a agricultura nacional.

O aumento da produção de soja no Brasil foi alcançado devido à expansão da fronteira agrícola, especialmente na região Centro–Oeste, onde o bioma cerrado predomina.

Durante os anos 80, período de recorrente crise na economia brasileira, enquanto o processo de transformação industrial, fortemente concentrado na região sudeste do país manteve-se estagnado, devido à incapacidade de financiamento do setor público e ao esgotamento do processo de entrada de capitais externos associado à não-solução da dívida externa, a agropecuária apresentou um forte dinamismo. Com um crescimento de 5,0% ao ano entre 1980 e 1987, a agropecuária acompanhou o importante processo de desconcentração espacial das atividades econômicas nas regiões brasileiras, representado principalmente pelo avanço da produção de grãos na região centro-oeste (CARLEIAL,1996).

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Nas décadas de 80 e 90, a cultura da sojaexpandiu-se rapidamente para áreas de cerrado no Brasil Central. Em 1980, o Centro-Oeste era responsável por 20% da produção nacional; em 1990, esse percentual era superior a 40% e hoje gira em torno dos 50% (figura 1).

Figura 1 - O deslocamento da soja ao norte Fonte: PASQUIS, 2004

Diversos fatores contribuíram para a expansão da soja no cerrado ao longo dos anos, dentre os quais se destacam: o aumento da demanda e da cotação da soja no mercado internacional de “commodities”; baixo valor das terras em relação à Região Sul; ganhos de produtividade associados ao desenvolvimento de novos cultivares adaptados aos solos e clima da região; extensas áreas com topografia plana, propícias à mecanização; condições ambientais favoráveis em termos de chuvas e insolação; políticas governamentais favoráveis; investimento em infra-estrutura de transportes; e produtores rurais oriundos, em sua maioria, da Região Sul.

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Tabela 1 - Comparativo de área, produtividade e produção - Safras 2005/2006 e 2006/2007

Segundo maior bioma brasileiro, o Cerrado ocupa uma área de aproximadamente 2 milhões km². Com uma rica biodiversidade, esse bioma é de grande importância ecológica para o país, pois nele encontram-se, além de espécies importantes da fauna e flora, as nascentes dos rios pertencentes às três principais bacias hidrográficas do Brasil: a Bacia Amazônica, a Bacia do Prata e a Bacia do São Francisco.

Em estudo com imagens do satélite MODIS do ano de 2002, concluiu-se que 55% do Cerrado já foram desmatados ou transformados pela ação humana (MACHADO et al., 2004). Mais da metade da área total original do bioma foi transformada em pastagem plantada, culturas anuais e outros tipos de uso (KLINK;MACHADO, 2005), conforme se pode observar na tabela 2a seguir.

Regiões/UF

Safra 05/06 Safra 06/07 Variação % Safra 05/06 Safra 06/07 Variação % Safra 05/06 Safra 06/07 Variação %

NORTE 517,50 496,5 -4,1 2.480 2.666 7,5 1.283,20 1.323,90 3,2

RR 20,00 20 0,0 2.800 2.800 0,0 56,00 56,00 0,0

RO 106,40 94,7 -11,0 2.660 2.950 10,9 283,00 279,40 -1,3

AM 1,90 1,9 0,0 3.000 2.786 -7,1 5,70 5,30 -7,0

PA 79,70 79,7 0,0 2.987 2.845 -4,8 238,10 226,70 -4,8

TO 309,50 300,2 -3,0 2.263 2.520 11,4 700,40 756,50 8,0

NORDESTE 1.487,10 1.469,10 -1,2 2.395 2.657 10,9 3.560,90 3.903,90 9,6

MA 382,50 386,3 1,0 2.680 2.640 -1,5 1.025,10 1.019,80 -0,5

PI 232,00 232 0,0 2.347 2.750 17,2 544,50 638,00 17,2

BA 872,60 850,8 -2,5 2.282 2.640 15,7 1.991,30 2.246,10 12,8

CENTRO-OESTE 10.353,60 8.995,10 -13,1 2.588 2.827 9,2 26.795,50 25.431,80 -5,1

MT 5.891,50 5.007,80 -15,0 2.695 2.920 8,3 15.877,60 14.622,80 -7,9 MS 1.919,10 1.746,40 -9,0 2.280 2.650 16,2 4.375,50 4.628,00 5,8 GO 2.489,00 2.190,30 -12,0 2.570 2.755 7,2 6.396,70 6.034,30 -5,7

DF 54,00 50,60 -6,3 2.699 2.900 7,4 145,70 146,70 0,7

SUDESTE 1.717,50 1.455,70 -15,2 2.359 2.622 11,1 4.051,80 3.817,30 -5,8

MG 1.060,90 930,40 -12,3 2.340 2.680 14,5 2.482,50 2.493,50 0,4 SP 656,60 525,30 -20,0 2.390 2.520 5,4 1.569,30 1.323,80 -15,6 SUL 8.153,60 8.249,60 1,2 2.174 2.472 13,7 17.722,50 20.397,10 15,1 PR 3.928,50 3.967,80 1,0 2.390 2.940 23,0 9.389,10 11.665,30 24,2 SC 339,50 376,80 11,0 2.400 2.550 6,3 814,80 960,80 17,9 RS 3.885,60 3.905 0,5 1.935 1.990 2,8 7.518,60 7.771,00 3,4

NORTE/NORDESTE 2.004,60 1.965,60 -1,9 2.416 2.660 10,1 4.844,10 5.227,80 7,9

CENTRO-SUL 20.224,70 18.700,40 -7,5 2.402 2.655 10,5 48.569,80 49.646,20 2,2

BRASIL 22.229,30 20.666,00 -7,0 2.403 2.655 10,5 53.413,90 54.874,00 2,7

Área (em mil ha) Produtividade (em kg/ha) Produção (em mil toneladas)

Quadro Comparativo de Área, Produtividade e Safras 2005/2006 e

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Tabela 2 - Principais usos da terra no Cerrado

Uso da Terra Área (ha) % Área Central do Bioma

Áreas nativas 70.581.162 44,53

Pastagens plantadas 65.874.145 41,56

Agricultura 17.984.719 11,35

Florestas plantadas 116.760 0,07

Áreas urbanas 3.006.830 1,90

Outros 930.304 0,59

TOTAL 158.493.920 100

Fonte: Klink e Machado, 2005

A expansão da agricultura e o uso de tecnologias modernas, acompanhados pelo rápido aumento das taxas de desmatamento no Cerrado, superiores às da Amazônia Legal1, tem gerado um debate entre os formuladores de políticas, produtores de soja e ambientalistas.

De um lado, as críticas ambientalistas alegam que os produtores desmatam imensas áreas do Cerrado nativo, sem respeitar as áreas de reserva legal de cada propriedade; contaminam os recursos hídricos pelo uso de agrotóxicos; além de promoverem a devastação de áreas e a expulsão dos pequenos produtores de suas terras.

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Por outro lado, os produtores argumentam que proporcionam o aumento da oferta dos produtos agrícolas tanto para uso doméstico como para exportação, diversificação das economias locais e aumento da renda de municípios, além de melhorias sociais em várias localidades.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, não obstante sua importância para o crescimento do setor de agronegócios e a contribuição para o balanço de pagamentos, a expansão acelerada da soja no bioma do Cerrado representa uma ameaça concreta à manutenção da sua biodiversidade e tem provocado uma gama de impactos socioambientais alarmantes, incluindo a expulsão de pequenos produtores, a devastação de áreas de rica biodiversidade, das matas ciliares, o assoreamento de cursos d’água associado à erosão, a contaminação pelo uso indiscriminado de agrotóxicos e o esgotamento progressivo de águas subterrâneas.2

“Desenvolver estratégias que contenham e minimizem os impactos ambientais do cultivo da soja requer entendimento tanto das forças motivadoras dessa expansão como das várias formas que a soja, e a infra-estrutura associada a ela, resultam num processo destrutivo”. (FEARNSIDE, 2001, tradução nossa.)

Paulo Kitamura, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, explica que se deve procurar um equilíbrio na relação entre os sistemas naturais e os agrosistemas. Uma das necessidades para a sustentabilidade da soja seria a elaboração de um código de conduta ambiental, especificando as boas práticas agrícolas para cada ponto crítico do sistema. Para este pesquisador, o código deve ser construído como uma extensão da legislação negociada entre os diferentes atores (CADIER, 2004).

A evolução da importância da soja para a economia nacional é indiscutível. Entretanto, essa evolução resulta em impactos socioambientais cuja realidade vem sendo aceita sem contestação como sendo inerente à atividade de modo geral.

Políticas para a redução dos impactos ambientais negativos da agricultura têm sido desenvolvidas ao longo dos últimos anos por parte de órgãos governamentais de meio ambiente. Conforme observa Brannstrom (2005), dois modelos de planejamento e gestão ambiental no cerrado têm dominado. O primeiro trata da delimitação de áreas protegidas, por meio da criação de unidades de conservação, sob a alegação do

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desaparecimento do bioma cerrado (2,2%, aproximadamente 46.552 km² das áreas do bioma cerrado sob o regime de estrita proteção), e o segundo trata da instituição de instrumentos de comando e controle baseados em legislações federais e estaduais. Com base nesse arcabouço legal, o Código Florestal de 1965, monitorado pelas agências ambientais de nível federal e estadual, proprietários agrícolas no cerrado têm que manter intactas 20% das terras da propriedade como “reserva legal”, além de áreas com funções específicas de proteção aos cursos d´água, lagoas, lagos ou reservatórios, encostas com declividade superior a 45 graus, como áreas de preservação permanente (APP).

Enquanto alguns autores alegam que a produção de soja pode ser controlada pelo setor público por meio de instrumentos de comando e controle da política ambiental, esses mesmos instrumentos são vistos por outros autores como de difícil aplicação, tendo em vista a ampla distribuição espacial dessa produção.

Além desses, mecanismos de mercado podem também exercer influência na adoção de práticas ambientais por parte de agricultores. É o caso, por exemplo, dos instrumentos econômicos, que, por meio de taxas e políticas fiscais ou tributárias podem induzir agricultores a reduzir o uso de agrotóxicos e/ou adotar praticas conservacionistas.

A literatura sobre gestão ambiental tem focado estudos no âmbito das grandes corporações industriais e muito pouco em empreendimentos agrícolas. O World Business Council for Sustainable Development tem divulgado experiências de gestão ambiental argumentando muito mais a favor da auto-regulação por parte das empresas do que pelas políticas de comando e controle.

O aumento da conscientização da sociedade em relação à conservação ambiental tem acarretado pressões governamentais, de entidades não-governamentais e de comunidades sobre as empresas, para que assumam a responsabilidade por danos ambientais em seus processos produtivos.

(21)

Acredita-se na possibilidade de melhoria de desempenho ambiental em qualquer tipo de atividade, variando apenas conforme os recursos disponíveis e a realidade individual. A condução do uso dos recursos naturais por atividades humanas de modo sustentável tende a ser não apenas papel do governo, mas da iniciativa privada e da sociedade civil; afinal, disso dependem as futuras gerações.

Infelizmente, existe até hoje certa inércia nas ações em nível mundial para reversão do quadro de exaustão dos recursos bem como de sua contaminação, resultando em prognósticos pessimistas como aquele do criador da “Teoria Gaia”, James Lovelock. Para esse autor, “já ultrapassamos o ponto de não-retorno (“point of no return”) e deveríamos estar pensando não em “desenvolvimento sustentável”, e sim numa “retirada sustentável”.

Pouco adianta ser pessimista ou otimista. É preciso que a sociedade pressione em toda parte para sair do marasmo, inclusive e principalmente no Brasil. “Não há outro caminho” (NOVAES, 2007).

A postura e a responsabilidade dos produtores de soja frente às essas externalidades ambientais ainda são pouco conhecidas e estudadas empiricamente.

Ribeiro (2003), ao estudar se os aspectos ambientais integram o processo de tomada de decisão do produtor rural, identifica algumas características e peculiaridades do setor agrícola: terra como fator de produção; tempo de produção maior que o tempo de trabalho; irreversibilidade do ciclo produtivo; dependência do clima; e risco, que apesar de ser inerente a toda atividade econômica, assume proporções maiores nas atividades agrícolas: a seca, a chuva em excesso, o granizo, a geada, os ataques de pragas e doenças, as flutuações de preço no mercado são exemplos dos riscos que afetam o dia a dia do produtor rural. Nesse sentido, Drucker, 1954 apud Ribeiro, 2003 sugere que os recursos existentes na propriedade rural com vistas ao alcance dos seus objetivos nunca devem estar relacionados com a obtenção do lucro, propondo seu direcionamento em pelo menos oito áreas: posição no mercado; inovação; produtividade; nível de recursos; lucratividade; desempenho e desenvolvimento do administrador; desempenho e atitude do empregado; responsabilidade social; e responsabilidade ambiental.

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ambiental, hoje consideradas premissas básicas para o alcance de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.

A noção de sustentabilidade tem-se popularizado desde 1987, quando foi publicado o relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, das Nações Unidas, mais conhecido como Relatório Brundtland, ou “Nosso Futuro Comum”, onde o conceito de desenvolvimento sustentável é definido como o “desenvolvimento que responde às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”.

Num país onde extensas áreas estão ocupadas pela agropecuária, é fundamental conscientizar os produtores rurais de que a atividade agrícola é considerada potencialmente degradadora quando praticada de forma incorreta, egoísta e descompromissada com as conseqüências geradas ao meio ambiente, pois ela interfere e/ou se utiliza dos recursos naturais, solo, água, vegetação natural, espécies da fauna silvestre, peixes, etc.

Percebe-se que a conotação de vilã do meio ambiente, pejorativamente atribuída à agropecuária, não é imperativo de sua natureza, mas sim do mau uso de sua prática, portanto de responsabilidade do praticante público e/ou privado que, por meio de políticas, programas, projetos e atividades, considera como inevitáveis, ou associados à má sorte, atos com conseqüências lesivas ao meio ambiente.

Dentro dessa perspectiva, o presente trabalho tem por objetivo analisar a responsabilidade socioambiental do produtor de soja dada a sua expansão no bioma do cerrado, e, mais especificamente, no entorno do Distrito Federal. Conhecer a relação entre os atores da cadeia é imprescindível para o alcance da sustentabilidade da atividade e dos benefícios socioeconômicos que ela acarreta. Qual o entendimento e a prática dos produtores de soja da região do entorno do Distrito Federal em relação aos impactos socioambientais de sua atividade? Procura-se analisar algumas questões, como a relação entre o tamanho da propriedade rural, o processo de mecanização e a geração de emprego, a gestão e os riscos de contaminação dos recursos hídricos pelo uso de agrotóxicos, bem como das emissões relacionadas ao cultivo da soja e suas respectivas formas de controle.

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instrumento de análise. Afinal, não se devem eliminar mecanismos propulsores da atividade econômica, mas é possível elevar seu grau de sustentabilidade.

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

Desenvolver e aplicar instrumento de análise da responsabilidade socioambiental, compatível com as teorias postuladas sobre o tema, e avaliar o grau de conformidade demonstrado pelos produtores rurais.

1.1.2 Objetivos específicos

• Identificar iniciativas e modelos de avaliação da responsabilidade socioambiental na

produção de soja;

• Desenvolver e testar um instrumento de avaliação da responsabilidade

socioambiental do produtor de soja no entorno do Distrito Federal, com base nas iniciativas identificadas; e

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Não é de hoje que a questão ambiental vem sendo discutida, embora, nos dias atuais, o seja por um número crescente de indivíduos e grupos. Com a intensificação da Revolução Industrial e os avanços tecnológicos a partir do século XIX e, considerando o crescimento populacional galopante a partir desse mesmo período, começam a ser sentidos os reflexos da industrialização, tanto no campo como na cidade.

Com a Revolução Verde, aumenta-se tremendamente a produtividade agrícola e promete-se resolver a questão da fome mundial. Surgem, então, os primeiros sinais da percepção dos efeitos dessa mudança significativa na produção rural.

A publicação do livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson em 1962, levanta a problemática do uso de agroquímicos (pesticidas, fungicidas e herbicidas) no campo, a destruição de inúmeras espécies animais nos Estados Unidos, e aponta para os seus efeitos nocivos à saúde da população. Coloca perante o leitor o fato de o ser humano ser apenas uma das criaturas que habita o planeta e propõe outra relação com a natureza, do contrário estaria ameaçando sua própria sobrevivência. O livro choca o leitor ao sugerir que, um dia, sem os devidos cuidados, a primavera poderá, sim, ser silenciosa, sem o canto dos pássaros, o barulho das crianças brincando e os peixes pulando nos rios.

Enquanto isso, o Movimento Hippie defende a paz, o amor livre - tanto aquele libertário quanto o amor ao próximo, contesta injustiças como o racismo, a pobreza, a ganância, a inferioridade, luta pelo direito das mulheres, os valores da natureza e alerta para a poluição.

O Movimento Ambientalista compartilha desse momento da história e, embora repleto de razão – como hoje também sabemos, demonstra-se mais emocional se comparado com os dias atuais e, com isso, perde um pouco de sua credibilidade. Mais vai-se firmando aos poucos.

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caso se insista em continuar a consumir os recursos naturais oferecidos pela natureza da maneira e nos níveis atuais.

Embora tenha havido grandes mudanças culturais nas últimas décadas, não faz muito tempo que o representante brasileiro na Conferência de Estocolmo em 1972 mostrou-se favorável à vinda de indústrias poluidoras ao país, num claro sinal de que poluição seria sinônimo de progresso, enquanto considerar a variável ambiental seria, sim, um entrave.

A primeira das grandes conferências mundiais da Organização das Nações Unidas voltada para o meio ambiente e o desenvolvimento foi a Conferência de Estocolmo em 1972, na Suécia. Nela foi abordado, pela primeira vez, o conflito entre crescimento econômico e meio ambiente e constatado que o esgotamento dos recursos naturais pode colocar em risco a vida no planeta. Um dos resultados da conferência foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUD/Unep) para promover a liderança e incentivar parcerias e ações em prol do meio ambiente.

Nesse contexto foi criada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, que publica, em 1987, o documento intitulado “Nosso Futuro Comum”. Este documento, pela primeira vez, apresenta o conceito de desenvolvimento sustentável e questiona o atual modelo de produção e consumo. A comissão propõe, ainda, o planejamento de uma nova conferência a ser realizada no Rio de Janeiro.

A Rio-92 também chamada de Cúpula da Terra teve grande repercussão, dela participando mais de 175 países e de uma centena de chefes de estado. Importantes documentos foram produzidos a partir dela, entre eles, a Carta da Terra e a Agenda 21. Enquanto a Carta da Terra consiste de um conjunto de princípios e valores norteadores rumo ao desenvolvimento sustentável, um código ético global, planetário; a Agenda 21 dedica-se aos problemas da atualidade e almeja preparar o mundo para os desafios do próximo século, através de um plano de ação, expresso num documento composto de quarenta capítulos. Ela reflete o desejo global e o compromisso político em seu mais alto nível, objetivando o desenvolvimento e o compromisso ambiental, e constitui-se de um documento estratégico abrangente, em nível planetário, nacional e local.

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realizado, ainda no século passado, com o propósito de salvar o planeta dos impactos ambientais já conhecidos e de outros efeitos ainda não determinados. A principal dessas reuniões foi realizada em Kyoto, Japão, em Dezembro de 1997, da qual resultou o chamado Protocolo de Kyoto, ratificado por 171 nações que se comprometeram a reduzir suas emissões a um nível 5,2% abaixo daquele constatado em 1990, até o período compreendido entre 2008 e 2012 (SALOMÃO, 2004).

Em 2000, a adoção da Declaração do Milênio por todos os 189 Estados-membros da Assembléia Geral das Nações Unidas é mais uma iniciativa importante, estabelece desafios e esboça respostas a esses desafios, com medidas concretas para medir o desempenho mediante compromissos, objetivos e metas inter-relacionados sobre desenvolvimento, governabilidade, paz, segurança e direitos humanos. Entre os oito objetivos do milênio, o 7º. se propõe a garantir a sustentabilidade ambiental.

No site da Agenda 21 local, a Conferência de Joanesburgo em 2002, também chamada de Rio + 10, parece ter trazido mais frustrações do que os esperados avanços. A maioria dos participantes considerou-a um desperdício de tempo e de recursos, gerando compromissos globais genéricos e metas voluntárias. No entanto, “(...) duas áreas de extrema relevância para esse trabalho tiveram avanços: a responsabilidade corporativa e a sensação de que o sistema multilateral de governança terá que encontrar novas maneiras de avançar a causa do desenvolvimento sustentável em um mundo globalizado” (Earth Negotiations Bulletin3). Já para a Folha de São Paulo “há mais problemas que medidas concretas para deslanchar o desenvolvimento sustentável em escala global”.

Em fevereiro de 2007, em Paris, foi divulgado o "Resumo para os Formuladores de Políticas", que integra a primeira parte do 4º. Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) para avaliar as informações científicas e socio-econômicas sobre o aquecimento global denominado "Mudanças Climáticas 2007". Nele, a ação do homem está claramente relacionada ao aquecimento global e previsto um cenário de catástrofe ambiental se medidas urgentes não forem adotadas. O relatório alerta que até o ano de 2100 a Terra se tornará mais quente entre 1,8 e 4 graus de temperatura e, como conseqüências, prevê o derretimento de geleiras, o aumento do nível do mar, tufões, secas e furacões intensos. O texto integral do quarto relatório totalizará cerca de 900 páginas e será divulgado por partes até novembro de 2007. (...) “ele apresenta ao mundo que o aquecimento não é mais uma tendência, e sim uma realidade” (FERNANDES, 2007).

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Portanto, pode-se dizer que desde a década de 60, inicio deste relato evolutivo, até os dias de hoje, muita coisa foi feita, embora muito ainda haja por fazer. E, embora seja difícil discernir a importância relativa entre fenômenos naturais e a ação antrópica, a questão ambiental alcançou outra magnitude e aceitação devido às inúmeras constatações e publicações científicas que demonstram a degradação ambiental e a necessidade urgente de quebra de paradigmas na relação com a natureza. Só assim poderemos alcançar o tão proclamado desenvolvimento sustentável, reduzindo a pobreza, as desigualdades, a fome, a sede e a paz mundial.

A questão ambiental não tem mais, hoje, um caráter emocional, pelo contrário, existem dados concretos que apontam para a importância da adoção de novos comportamentos na relação entre as atividades produtivas e os recursos naturais.

Em vista deste cenário, é cada vez maior a importância da responsabilidade socioambiental das organizações no sentido de viabilizar o tão esperado desenvolvimento sustentável e propiciar às gerações futuras uma oportunidade de usufruir do planeta em iguais ou melhores condições do que as atuais, e decepcionar aos pessimistas de plantão pelo futuro sombrio que se estaria aproximando.

Hoje, as empresas aceitam o fato de que custa mais caro remediar do que “fazer a coisa certa”, desde o princípio. E que o uso excessivo do recurso natural rompe o equilíbrio do sistema ambiental e social e quebra o sistema econômico (ALMEIDA, 2003).

Voltando à questão agrícola, houve no último século, uma mudança drástica nas condições de produção, comércio e mercado. O crescimento populacional mundial motivou avanços tecnológicos e o uso de agrotóxicos, resultando em grandes aumentos da produtividade, na mecanização das lavouras com conseqüências nas condições de trabalho e na eliminação da “energia” animal.

A História também nos ensina que grandes sucessos sempre se transformam em excessos quando não são devidamente controlados (...), enquanto não forem aperfeiçoados para evitar abusos e inconvenientes, os métodos de produção da dita agricultura moderna serão tão perigosos quanto foram muito antes, inúmeras formas de produção primária (...) A forte expansão das fronteiras agrícolas em tempos medievais exigiu um posterior recuo, uma das principais razoes das crises de abastecimento alimentar, fome e doenças que marcaram o século XIII europeu (VEIGA, 2003).

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indústrias têm feito uso de modelos de gestão ambiental, a agricultura sustentável é um modelo que visa promover a sustentabilidade da atividade agrícola.

A agricultura sustentável (VEIGA, 2003) é aquela que transmite a visão de um futuro padrão produtivo de alimentos, fibras e matérias-primas energéticas que garanta:

• Manutenção, no longo prazo, dos recursos naturais e da produtividade

agropecuária

• Mínimo de impactos adversos ao ambiente

• Retornos adequados aos produtores

• Otimização da produção com um mínimo de insumos externos

• Satisfação das necessidades humanas de alimentos e renda

• Atendimento às demandas sociais das famílias e comunidades rurais

Já os pesquisadores da Embrapa apresentam um novo sistema de produção sustentável que permite a prática de culturas agrícolas, criação de animais e o plantio de árvores para otimizar o uso do solo e maximizar os retornos econômicos do produtor e, ao mesmo tempo, garantir a sustentabilidade do sistema produtivo. O sistema de integração lavoura-pecuária consiste, basicamente, na recuperação de pastagens degradadas por meio da plantação de culturas agrícolas. Num primeiro momento, o solo é preparado para o plantio de árvores, como o eucalipto; nos três primeiros anos de crescimento das árvores, culturas agrícolas como milho e soja são plantadas no espaçamento entre os troncos e, após a primeira colheita agrícola, a pastagem de animais como bovinos pode ser inserida. A retirada do eucalipto para a revenda da madeira ocorre a partir do sétimo ano após o plantio, quando o mesmo ciclo começa novamente (ROMERO, 20074).

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2.1 Conceitos Básicos

O termo socioambiental foi aqui propositalmente escrito junto, sem mesmo o uso comumente observado de hifen, por considerar-se, como veremos nos conceitos seguintes, que o social e o ambiental estão necessariamente e inapelavelmente atrelados, não podendo ser dissociados. Além disso, as normas da ortografia portuguesa ditam, taxativamente, que o sufixo “socio” não admite o emprego do hífen.

Entretanto essa discussão remonta a conceitos intrinsecamente relacionados: desenvolvimento sustentável e crescimento econômico. Levando em conta a definição de desenvolvimento sustentável5 do Relatório Brundtland (1988) uma sociedade não consegue atender às necessidades futuras de sua população se não gerenciar a exploração excessiva de seus recursos. E a monocultura pode ser uma forma de levar a isso, afinal, seu impacto e escalas assumem proporções alarmantes.

Considerando Gestão Ambiental como sendo “a forma de administrar a apropriação e uso dos recursos ambientais, adequando as atividades produtivas à capacidade de reposição desses recursos, de modo a assegurar sua perenidade; instrumento indispensável para o planejamento” (FEEMA, 1997), pode-se buscar gerenciar qualquer atividade humana e viabilizar crescimento com qualidade ambiental e enfoque social. Além disso, a gestão ambiental é uma forma eficaz de avaliar e controlar os impactos ambientais de suas atividades.

Empresas realizam investimentos ambientais, induzidos basicamente por quatro fatores (LUSTOSA, 2003): pressões das regulamentações ambientais; pressões dos investidores, dos consumidores finais e intermediários, pressões dos acionistas.

Embora seja difícil definir onde se encontra exatamente o nível em que se atinge a exploração excessiva, ou a fase na qual a monocultura se torna prejudicial antes que eles sejam atingidos, é necessário garantir acesso aos recursos ameaçados e aliviar a pressão sobre eles, de modo que a capacidade de carga desses recursos possa superar sua utilização, ou que se encontrem substitutos.

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“Uma política de meio ambiente voltada, sobretudo, para a conservação e a proteção dos recursos deve considerar devidamente aqueles que dependem dos recursos para sua sobrevivência, ademais de gerenciar os recursos de forma sustentável (...) Do mesmo modo, qualquer política de desenvolvimento voltada principalmente para o aumento da produção de bens, caso deixe de levar em conta a sustentabilidade dos recursos sobre os quais se baseia a produção, mais cedo ou mais tarde haverá de defrontar-se com um declínio da produtividade - e isso também poderia ter um impacto adverso sobre a pobreza. Uma estratégia voltada especificamente para o combate à pobreza, portanto, é requisito básico para a existência de desenvolvimento sustentável” (BRASIL, 2007).

Para Fernando Almeida, o tripé da sustentabilidade define o novo conceito de desenvolvimento sustentável, incorporando as dimensões econômica, ambiental e social das ações humanas e suas conseqüências sobre o planeta e os seres que o habitam.

Além disso, neste novo paradigma atuam de modo integrado a sociedade, o ambiente e a economia, conduzidos (e praticados) em conjunto por três grupos básicos: empresários, governo e sociedade civil organizada (ALMEIDA, 2002).

A preocupação com desenvolvimento sustentável se tem traduzido, embora lentamente, em ações concretas para preservar de forma mais efetiva os recursos naturais do planeta. Baseado nos Princípios da Conferencia Rio 92 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e nos 10 princípios do Pacto Global iniciativa das Nações Unidas em prol da responsabilidade social6:

• As empresas devem adotar uma abordagem preventiva para os desafios

ambientais;

• Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental; e

• Incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente

sustentáveis.

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O comentário abaixo do Secretário geral7 da Abiove durante a MERCOSOJA em 2006, traduz a dificuldade em se aceitar, incorporar a variável ambiental, além de promover mudanças reais de comportamento:

“A sustentabilidade poderá se transformar na grande barreira técnica ao comércio internacional;

O agronegócio soja está aberto a discutir formas de melhorar a sustentabilidade e responsabilidade em fóruns como o RTRS, desde que haja equilíbrio entre aspectos econômicos, sociais e ambientais;

O setor de óleos vegetais apóia a implementação de sistemas voluntários e remunerados de certificação, baseados em critérios de sustentabilidade acordados pelas partes envolvidas”.

Inicialmente, temia-se que iniciativas de gestão ambiental elevariam custos, reduzindo a competitividade, mas o tempo tem mostrado que a tecnologia tem trazido redução de custos no consumo de matérias-primas e insumos, reaproveitamento de materiais, ganhos de produtividade, bem como benefícios relativos a ativos intangíveis.

O conceito de desenvolvimento sustentável é freqüentemente questionado na academia como um conceito inalcançável. E abordado por Veiga “como valor fundamental para o século XXI deva ser entendida como síntese da dialética socioambiental, em reação à seria falha metabólica na relação da humanidade com a natureza que se aprofundou com a Revolução Industrial” (2007, p.89).

E, embora existam diferentes pontos de vista, alguns deles traduzem seus conflitos com o crescimento econômico e com a questão social. Desenvolvimento não pode ficar reduzido a crescimento econômico sem que venha acompanhado de desenvolvimento humano, motivo pelo qual, há 16 anos, foi criado o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) como indicador e forma internacionalmente legitimada de mensurar o progresso em lugar do Produto interno bruto (PIB). Por outro lado, já existe a corrente do pós-desenvolvimento cujos adeptos são contrários ao crescimento e consideram (VEIGA, 2007, p.93):

i. revalorização das sociedades que não se desenvolveram;

ii. desvalorização da idéia de progresso;

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iii. criticas dos principais vetores do desenvolvimento (economia, Estado-nação, educação, ciência, colonização mental, pensamento único, meios de comunicação e organizações internacionais);

iv. crítica das práticas desenvolvimentistas;

v. elogio dos modos de resistência dos perdedores que estão abrindo caminho para a era do “pós-desenvolvimento”.

Para o Prêmio Nobel Amartya Sen (in Veiga, 2007, p.94), “desenvolvimento é um fenômeno histórico que já completou dez milênios, no qual a humanidade foi conseguindo, aos trancos e barrancos, expandir sua liberdade (...) é inegável o papel desempenhado pelo crescimento econômico (...), todavia não existe sincronia entre os dois”.

Partha Dasgrupta (in Veiga, 2007, p.97) considera que “o desenvolvimento deveria ser visto como crescimento de riqueza per capita, e não como crescimento do PIB per capita, que não inclui a depreciação de certos ativos, a começar pela depreciação de ecossistemas”.

Referindo-se à sustentabilidade, algumas concepções são apresentadas (VEIGA, 2007) das quais a primeira “vincula a melhoria das condições ambientais de um país ao seu enriquecimento medido pela renda per capita” (...) e começa a considerar a deterioração dos estoques de recursos naturais e de outros bens intangíveis (como as instituições), em vez de somente seus fluxos, como ocorre no cálculo do PIB”. Entretanto, considerando-se a segunda lei da termodinâmica segundo a qual “uma parte da energia mobilizada para as atividades humanas sempre se dissipa em formas que não são mais utilizáveis (...) a sustentabilidade não deve ser confundida com a ilusão da perenidade”. Outra versão da “condição estacionária” afirma que pode não haver, necessariamente, um aumento do PIB, mas a substituição de fontes fósseis por fontes renováveis estaria promovendo a melhoria da sustentabilidade e é considerada um movimento internacional pela economia ecológica.

E, na era da globalização e da chamada sociedade da informação, os ativos intangíveis (isto é, o conjunto de recursos não-materiais, como o conhecimento e a reputação) adquiriram importância estratégica nos negócios. Para a empresa, ter sua reputação abalada pode significar um prejuízo financeiro incalculável (VINHA, 2003).

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econômica com eficiência ecológica, ou seja, a ecoeficiência. Para o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), “a ecoeficiência é alcançada mediante o fornecimento de bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo tempo que reduz progressivamente o impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo de vida, a um nível, no mínimo, equivalentes à capacidade de sustentação estimada da Terra”.

Sete elementos da Ecoeficiência (ALMEIDA, 2003)

1. Redução de gasto de materiais com bens e serviços

2. Redução do gasto de energia com bens e serviços

3. Redução da emissão de substâncias tóxicas

4. Intensificação da reciclagem de materiais

5. Maximização do uso sustentável de recursos renováveis

6. Prolongamento da durabilidade dos produtos

7. Agregação de valor aos bens e serviços.

Finalizando esta discussão sobre desenvolvimento sustentável e crescimento econômico, por mais complexa e controversa que pareça, tem havido uma modificação significativa na percepção da relação do ser humano com a natureza que, por sua vez, depende de uma série de fatores e variáveis, inclusive do ponto de vista de quem olha. No entanto, uma coisa é certa: por qualquer ângulo que se observe, é preciso que “a sociedade brasileira domine anseios ilusórios por imediatos saltos triplos do PIB para que seus filhos, netos e bisnetos tenham chance de abrir caminho ao desenvolvimento sustentável” (VEIGA, 2007, p.55).

Nesse sentido, para que conceitos de eco eficiência e desenvolvimento sustentável possam vir a incorporar, efetivamente, ações de sustentabilidade na estratégia de negócio das organizações, entra em cena a Responsabilidade Social. Esta última considera as “partes interessadas” e a transparência como sendo ferramentas de fundamental importância.

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No século XIII, o filósofo e teólogo Tomás de Aquino acreditava que a relação entre trabalhar e ganhar dinheiro visava somente atender às necessidades de vivência do indivíduo. Fora isso, seria para ajudar o crescimento da comunidade. Em uma frase: a atividade empresarial tinha como finalidade a função social. (...) A partir de Adam Smith, a atividade empresarial é entendida como refúgio do interesse próprio (....) o objetivo é acumular riquezas para os acionistas e investidores (....) Lisboa (2000) apresenta a responsabilidade social como sendo o “reencontro do capital com sua alma perdida” (TOLDO, 2002).

A questão da responsabilidade corporativa é citada, já em 1919, no julgamento, pela justiça americana, da indústria Ford. Na ocasião Henry Ford, seu presidente, decide não distribuir parte dos dividendos aos acionistas e investir na capacidade de produção, no aumento de salários e num fundo de reserva, dada a expectativa de redução do preço dos carros. A Suprema Corte do estado de Michigan decide contrariamente a essa iniciativa e em favor dos acionistas, alegando que corporações existem para o benefício de seus acionistas e que os diretores precisam garantir o lucro, não podendo usá-lo para outros fins. Assim, tanto a responsabilidade corporativa como o investimento na imagem da empresa para atrair consumidores só é aceita se favorecer o lucros dos acionistas (TOLDO, 2002, p.76).

A partir daí a filantropia começa a ser estabelecida e algumas ações são julgadas trazendo à tona o papel das corporações no desenvolvimento da sociedade onde atuam. Com a publicação do livro Social Responsibilities of the Businessman de Howard Bowen (1953), inicia-se o debate do assunto da responsabilidade social. Mas até a década de 60, prevalece o conceito de que caberia ao governo, igreja, sindicatos e organizações não-governamentais, cumprir este papel social enquanto às organizações privadas cabe gerar lucro para seus acionistas. Embora mais firmemente na década de 90, a partir dessa época, o levantamento das questões éticas e morais e da qualidade de vida resulta na discussão da importância do papel das organizações e do conceito de responsabilidade social.

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Campanha Nacional da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, constituindo o marco da aproximação dos empresários com as ações sociais (...). Em 1997, Betinho lança um modelo de balanço social para estimular as empresas brasileiras a divulgarem seus resultados na participação social. (...) Em 1998 é criado o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (...) e em 1999, a adesão ao movimento social se reflete na publicação do seu balanço social no Brasil por 68 empresas. (TOLDO, 2002).

Responsabilidade social pode ser definida como o compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo especifico, agindo pró-ativa e coerentemente no que tange a seu papel especifico na sociedade e à sua prestação de contas para com ela (CARDOSO; ASHLEY, 2003).

Embora existam diversos conceitos traduzindo o termo “responsabilidade social”, observa-se que ele incorpora às organizações, além das obrigações legais e econômicas perante seus acionistas, responsabilidades para com a sociedade onde atuam, ditadas pela ética e pela transparência e, ainda, conforme demandas sociais mais prementes.

Assim, “pode-se concluir que a responsabilidade social é o objetivo social da empresa somado a sua atuação econômica. É a inserção da organização na sociedade como agente social e não somente econômico. Ter responsabilidade social é ser uma empresa que cumpre seus deveres, busca seus direitos e divide com o Estado a função de promover o desenvolvimento da comunidade; enfim, é ser uma empresa cidadã que se preocupa com a qualidade de vida do homem na sua totalidade” (OLIVEIRA, 2002).

De acordo com o Instituto Ethos, responsabilidade social corporativa é a forma de gestão que se define pela relação ética, transparente e solidária da empresa com todos os públicos com os quais se relaciona, e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.

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suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo”. Além disso, um conjunto de valores essenciais comuns a toda empresa que se propõe a ter RSC são:

• Respeito aos direitos humanos

• Respeito ao direito dos trabalhadores

• Proteção ambiental

• Valorização do bem-estar das comunidades

• Valorização do progresso social

De modo a gerar a tão esperada transparência e, ao mesmo tempo, agregar valor à organização, foram criados modelos de relatórios que buscam avaliar a responsabilidade social das organizações.

2.3 A Questão ambiental no contexto da Responsabilidade Social

No Balanço Social do Instituto Ethos, são levados em conta Indicadores de Desempenho Econômico, Social (público interno, fornecedores, consumidores, clientes, comunidade, governo e sociedade) e Ambiental. Além disso, é uma ferramenta de gestão que visa mensurar o desempenho e dialogar com as partes interessadas com vistas ao contínuo aprimoramento.

A inserção da variável ambiental na estratégia das organizações tem sido um processo contínuo que, hoje, tem apresentado os benefícios de uma atitude responsável num cenário de crescentes níveis de concorrência e inovação.

Dentre os resultados observados pela adoção da responsabilidade socioambiental e da transparência na sua divulgação, podem ser citados: a redução de custos em processos produtivos pela respectiva redução de desperdícios com matérias-primas e insumos; eliminação de potenciais passivos pelo acompanhamento contínuo do cumprimento legal; fortalecimento da imagem, consolidação no mercado, pioneirismo em novas oportunidades de negócio, bem como a sustentabilidade empresarial.

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efetivamente incorporada nas decisões empresariais, embora seja bastante visível a evolução do nível de envolvimento e mesmo de demonstrações de responsabilidade socioambiental em inúmeras organizações no país e em todo o mundo.

Como se pode ver, a responsabilidade ambiental está inserida tanto nos conceitos de responsabilidade social quanto nos relatórios usados para divulgar seu desempenho e sua sustentabilidade.

E para concluir e justificar a nomenclatura adotada neste trabalho, a “adoção de valores ambientais está inserida na responsabilidade social empresarial, representando uma mudança cultural e comportamental baseada na educação, no diálogo e na influência dos acionistas, não se caracterizando apenas com o cumprimento da legislação e projetos antipoluição” (ORCHIS, 2002). Espera-se das organizações muito mais que isso. Assim, pode-se dizer que “a responsabilidade socioambiental, quando aplicada a todas as dimensões da atuação das empresas ou corporações, caracteriza a cidadania corporativa” (GRAJEW, 2002). Portanto, analisar a responsabilidade socioambiental do produtor rural de soja, significa analisar questões de caráter social e ambiental.

2.4 As Peculiaridades da Produção de Soja e do Agronegócio

O agronegócio possui algumas características que devem ser levadas em conta. Conforme observado anteriormente, especificamente em se tratando do cerrado brasileiro, cenário deste estudo, a tabela abaixo demonstra claramente que o cerrado é de fato e de longe, o bioma com maior potencial para o cultivo da soja. Embora em 2003 a região possuísse um total de 8,1 milhões de hectares de soja plantada, seu potencial é de 65,7 milhões ha. E, considerando a Tabela 1 “Comparativo de área, Produtividade e produção safras 2005/2006 e 2006/2007”, a produção atual da Região Centro-Oeste já alcança 8,9 milhões ha na safra 2006/2007.

Tabela 3 - Área de Soja Plantada X Potencial 2003

SOJA PLANTADA EM ÁREA (MILHÕES DE HECTARES) Região Estado 2002/03

Área plantada

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Rio Grande do Sul (RS) 3,6 5

Paraná (PR) 3,6 5

SUL

Santa Catarina (SC) 0,26 0,5

SUBTOTAL 7,46 10,5

Minas Gerais (MG) 0,86 1,40

SUDESTE São Paulo (SP) 0,60 1,10

SUBTOTAL 1,46 2.50

Mato Grosso (MT) 4,5 40

Mato Grosso do Sul (MS) 1,4 13

CENTRO-OESTE

Goiás (GO) 2,2 12,7

SUBTOTAL 8,1 65,7

Maranhão (MA) 0,28 1

Piauí (PI) 0,12 5

NORDESTE

Bahia (BA) 0,85 1,5

SUBTOTAL 1,25 7,5

Tocantins (TO) 0,15 0,8

Pará (PA) 0,01 1

Roraima (RR) 0,01 1,5

Rondônia (RO) 0,04 10

NORTE

Amazonas (AM) 0,003 0,5

SUBTOTAL 0,21 13,8 TOTAL GERAL 18,48 100

Fonte: BICKEL; DROS, 2003

Assim, se hoje a expansão da soja já é considerada um fator de relevância no que tange à questão ambiental nas comunidades onde esse cultivo se instala, que dirá à medida que for crescendo e alcançando o potencial apresentado acima.

Um dos impactos relevantes a ser considerado é o da geração de postos de trabalho e as especificidades desses empregos. Embora novos postos de trabalho sejam criados tanto pela atividade em si como pelo setor de serviços (venda de insumos, maquinário, manutenção e serviços bancários) a geração de emprego em nível local é pequena.

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Afinal, com o aumento da mecanização e os custos cada vez maiores dos equipamentos usados, torna-se cada vez mais importante um mínimo de capacitação dos trabalhadores, bem como certa maturidade na operação desses instrumentos, o que pode estar refletido na idade dos trabalhadores e nos requisitos para sua contratação.

2.4.1 Participação no mercado e fatores diversos

O agronegócio no Brasil e no mundo é uma atividade complexa, apresentando anos bons para algumas commodities8 (WIKIPEDIA, 2007) e ruins para outras.

No dizer de Pasquis (2004), para aumentar sua competitividade no mercado mundial e enfrentar subsídios pagos aos produtores em países como os Estados Unidos, os empresários brasileiros do ramo da soja têm buscado a reorganização de seus custos de produção, a criação de novas variedades adaptadas às novas áreas exploradas, ampliação da dimensão dos plantios, terras mais baratas e a externalização dos custos ambientais e sociais.

Em estimativas publicadas no Anuário Exame do Agronegócio 2007-2008, projeta-se o aumento da participação do Brasil no mercado internacional em várias culturas, tomando por base o ano-safra 2005 e projetando para o ano de 2015, conforme a tabela abaixo.

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Tabela 4 - Participação brasileira no mercado internacional (hoje e em 2015)

HOJE 2015 PRODUTOS

Participação brasileira no mercado internacional

Exportações

Brasileiras Participação brasileira no mercado internacional Exportações Brasileiras Estimativa de

FRANGO 58,5% 2,7 milhões ton 65,8% 5 milhões ton

ETANOL 52% 2,6 bilhões de litros 66,7% 8 bilhões de litros

AÇÚCAR 41% 18,9 milhões ton 54% 32 milhões ton

SOJA 36,3% 25,6 milhões ton 46% 45,7 milhões ton

CAFÉ 28,1% 25,8 milhões sacas 30% 32 milhões sacas

SUÍNO 12,5% 600 mil ton 50% 3 milhões ton

MILHO 6,2% 5 milhões ton 9,9% 9,3 milhões ton

ALGODÃO 4,8% 400 mil toneladas 7,9% 1,1 milhões ton

Fonte - Anuário Exame, Agronegócio 2007-2008, p.17

O que diferencia o Brasil de outras realidades, além da alta tecnologia e da sua produtividade, é uma conjunção de fatores naturais, como o clima favorável acrescido de água e terra em abundância.

À frente em termos de disponibilidade de terra agricultável no mundo, o país possui, de acordo com dados da FAO, 60 milhões de hectares utilizados em algum tipo de atividade no campo e outros 300 milhões de hectares considerados disponíveis. A Rússia vem em segundo, com 160 milhões de hectares, seguida dos Estados Unidos, com 150 milhões.

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mundial, liderado pela China e Índia, resultando na demanda por mais alimentos. Contribuem ainda para esse potencial:

• Valor das terras no Centro-Oeste, por exemplo, se comparado a outras regiões;

• Atuação de centros de pesquisa para a melhoria de técnicas de plantio, como a

Embrapa, que impulsionam significativamente a produtividade das safras;

• Profissionalização da gestão das propriedades.

Na contramão desse potencial, observam-se gargalos de infra-estrutura como, por exemplo, nos transportes. Escoamento deficiente, portos inadequados, logística insuficiente, insegurança e rodovias ruins, transporte precário até os portos são apenas alguns exemplos dessas dificuldades.

O investimento insuficiente por parte do poder público nos modais de transporte agrícola (ferrovias, hidrovias e rodovias) para o escoamento da produção obriga, muitas vezes, o produtor a se articular e realizar essas atividades por conta própria. Um exemplo disso é a Associação dos Produtores Rurais da Jacuba, ao norte do Distrito Federal, que gasta parte do dinheiro arrecadado com manutenção de estradas.

Entre as soluções possíveis, além da manutenção das rodovias, estão a ampliação de portos e a construção de ferrovias. Para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), dos quase 90 mil quilômetros avaliados, 37% estão em péssimo estado e 32% apresentam alguma deficiência (Anuário Exame, p.19). Por outro lado, a abertura de estradas, ferrovias e hidrovias ocasiona graves impactos ambientais se não forem respeitados os critérios necessários.

A cadeia da soja é formada por uma série de atores, cada um deles com um papel específico e relevante dentro do contexto global. Entre eles, destacam-se:

ƒ Produtores de soja

ƒ Fornecedores de insumos e de meios de produção (agrotóxicos, sementes, fertilizantes, máquinas)

ƒ Revendas ou canais de distribuição

ƒ Transportadores

ƒ Armazéns

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ƒ Poder Público

ƒ Universidades, Institutos de Pesquisa

ƒ Agentes Financeiros

ƒ Associações da Indústria e do Comércio

ƒ Sindicatos dos Trabalhadores e dos Produtores

ƒ Cooperativas

ƒ Organizações não-governamentais

ƒ Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias

ƒ Empresas de consultoria

O agronegócio da soja enfrenta, por um lado, oscilações constantes no preço das

commodities nos mercados internacionais, problemas com burocracia, de infra-estrutura de transporte, segurança, saúde e educação, bem como pressões de ambientalistas, variações na cotação do dólar e alterações climáticas imprevisíveis.

De outro lado, tem apresentado um crescimento e uma modernização muito grandes. De acordo com dados do Dieese, na Região Centro-Oeste, hoje 73% dos produtores são de grande porte, o médio produtor representando 17,5% e os demais produtores (pequeno produtor e minifúndio) uma proporção menor do que 10%. Essa realidade é bem diferente da Região Sul, onde o pequeno produtor representa 26% e o minifúndio 14,4%, juntos somando cerca de 40% das propriedades, seguidos dos grandes produtores com 37% e dos produtores de médio porte, com 21%. Mesmo considerando a média nacional, o grande produtor representa hoje 57,4%, contra 19,2% do médio produtor no país.

Portanto, embora não reflita a realidade nacional, a Região Centro-Oeste demonstra a força da produção em escala e da alta tecnologia aplicada ao agronegócio, contra certa fragilidade do pequeno produtor. E no sul, onde o pequeno produtor não é nada desprezível, (...)a pequena propriedade está perdendo rentabilidade e sofrendo um esvaziamento sério. Para competir no mercado e resistir às crises, temos de diversificar bastante nossa pauta e continuar investindo pesado em tecnologia”9.

9 Comentário de Vilibaldo Schmid, presidente da Copercampos no 2007-2008 Anuário Exame

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Com pesquisas envolvendo melhoramento genético, correção do solo, novas técnicas de irrigação e de plantio, especialistas têm conseguido façanhas para vencer barreiras climáticas. Um exemplo disso foi viabilizar, em pouco mais de duas décadas de pesquisa, a produção de soja, oriunda de clima temperado, na região do cerrado. O sucesso da “tropicalização” do grão foi tamanho hoje, que, tem-se na região a maior rentabilidade do país por hectare, e isto, abriu espaço para novas pesquisas. Mas, para isso, foi necessário um banco de dados com cerca de 8 mil variedades de planta até alcançar a planta ideal para o cerrado. Outro caso de sucesso é o da uva e do vinho, normalmente produzidos em clima temperado, agora tendo grandes êxitos no semi-árido do Nordeste, no Vale do São Francisco (Anuário Exame, p.40).

Em estudo realizado recentemente por pesquisadores da Esalq e da FGV e publicado na Revista de Economia e Sociologia Rural afirma-se que o custo de produção da soja transgênica é, em média, 14,8% menor que o da convencional. Isso se deve, principalmente, à redução da necessidade de aplicação de herbicidas, permitindo remanejar a mão-de-obra para outras atividades da propriedade (MENEGATTI, 2007).

Embora a soja transgênica não seja foco desta pesquisa, constata-se que ela está sendo plantada em menor ou maior quantidade na área sob estudo. E, observa-se que o produtor rural tem acompanhado as pesquisas sobre melhorias genéticas e tem interesse em resultados que lhe tragam ganhos de produtividade e de custos. Entretanto, a utilização ou não da semente transgênica parece estar vinculada ao mercado consumidor e a demonstrações de ganho real.

2.4.2 Outras peculiaridades

Antes da análise dos resultados, cabe destacar aspectos importantes relacionados a fatores de risco da atividade do campo, se comparada à industrial. Na tabela a seguir são apresentadas algumas comparações desses fatores que, de modo geral, encontram-se resumidas abaixo.

Imagem

Figura 1 - O deslocamento da soja ao norte                Fonte: PASQUIS, 2004
Tabela 1 - Comparativo de área, produtividade e produção - Safras 2005/2006 e  2006/2007
Tabela 2 - Principais usos da terra no Cerrado
Tabela 4 - Participação brasileira no mercado internacional (hoje e em 2015)  HOJE 2015  PRODUTOS  Participação brasileira   no mercado internacional  Exportações
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Referências

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