UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
A PRÁTICA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
MÔNICA OLIVEIRA LIMA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
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L699p Lima, Mônica Oliveira.
A prática da contação de histórias na educação infantil / Mônica Oliveira Lima. – 2018. 47 f. : il. color.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Curso de Pedagogia
, Fortaleza, 2018.
Orientação: Profa. Dra. Ana Paula de Medeiros Ribeiro .
1. Educação infantil. 2. Contação de história. 3. Estratégias pedagógicas. I. Título.
MONICA OLIVEIRA LIMA
A PRÁTICA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará como requisito para a obtenção do grau de licenciada em Pedagogia.
Orientadora: Dra. Ana Paula de Medeiros Ribeiro
Aprovada em: ____ / _____ / ______
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________ Profa. Dra. Ana Paula de Medeiros Ribeiro (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________________________________ Profa. Ms. Olívia Coelho de Sousa (Examinador 1)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________________________________ Profa. Ms. Sara Façanha Bessa (Examinador 2)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
À Deus.
AGRADECIMENTOS
Aos professores que se dedicaram à minha formação durante toda a graduação, contribuindo para o meu desenvolvimento com suas valorosas mediações.
Aos professores participantes da Banca Examinadora pelo tempo destinado à essa avaliação, pelas valiosas contribuições e sugestões.
Agradeço a todos os professores da graduação pelas contribuições que tive durante minha formação, em especial minha Orientadora Professora Dra. Ana Paula de Medeiros Ribeiro, por ter me ajudado, esclarecido todas as minhas dúvidas e que acreditou no meu sonho, ela ampliou o meu gosto pela contação de história.
Aos meus pais, Liduina e Ednaldo que não mediram esforços para que eu tivesse uma educação boa, mesmo com todas as dificuldades, pelo amor e apoio nas noites em que precisei ficar acordada.
Ao meu noivo Carlos, pelo companheirismo e paciência nos momentos de
grande cansaço, por estar presente quando precisei.
Aos meus amigos que acreditaram em mim e me davam energias
positivas quando estava esgotada, Erlano Oliveira, Paula Rogéli, Vanderlúcia Paiva e todos os amigos que fiz durante minha graduação.
Em especial ao meu amigo Tiago Alves, pela disponibilidade, paciência, parceria e compreensão nos momentos mais complicados, sua ajuda foi valiosíssima.
Em especial também minha amiga Cristiane Ximenes, por sempre acreditar no meu sonho, me incentivando e mostrando como poderia ser possível.
RESUMO
Discutir sobre as estratégias usadas pelas professoras na contação de história e o desenvolvimento da oralidade é bastante relevante para compreender o interesse pela leitura das crianças. Dessa maneira, torna-se indispensável pesquisar como são elaboradas essas estratégias na Educação infantil, e este foi o objetivo deste trabalho. Quanto ao referencial teórico, foram discutidos os fundamentos de documentos oficiais sobre o tema e autores como Coelho (2009) Busatto (2006), Machado (2015), dentre outros, referentes a uma organização e necessidade de despertar o interesse pela leitura, por meio da contação de história. Foram trabalhados, também, aspectos fundamentais do papel do professor nessa arte de encantamento, relacionando suas concepções com Piaget (1977) e a fase de desenvolvimento da criança. Por meio da aplicação de questionário, da pesquisa de campo, das observações foram coletados os dados sobre as experiências vividas por cinco professoras da educação infantil de uma escola privada na cidade de Fortaleza, Ceará, relacionadas ao tema. Na análise dos dados, foi apresentada uma relação entre conteúdo, teoria e prática vivenciada pelas docentes. Este estudo provocou uma reflexão sobre a importância que é dada para a contação de história como recurso no desenvolvimento do gosto pela leitura, envolvida, ainda, com o planejamento de sala de aula e quais as estratégias que as professoras utilizavam com esse recurso na fomentação da educação de seus alunos, a fim de transformá-los em futuros leitores competentes.
ABSTRACT
Discussing the strategies used by the teachers in storytelling and the development of orality is very relevant to understanding the interest in reading by the children. In this way, it becomes indispensable to investigate how these strategies are elaborated in children's education, and that is our goal. As for the theoretical reference, the foundations of official documents on the subject and authors such as Coelho, (2009) Busatto (2006), Machado (2015), among others, concerning an organization and the need to awaken interest in reading through of storytelling. Fundamental aspects of the teacher's role in this art of enchantment were also worked out, relating his conceptions to Piaget (1977) and the child's developmental phase. Through the application of a questionnaire, from the field research, the observations were generated the data about the experiences of five teachers of children's education at a private school in the city of Fortaleza, Ceará, related to the theme. In the analysis of the data, it was presented a relation between content, theory and practice experienced by the teachers. This study provoked a reflection on the importance given to storytelling as a resource in the development of the pleasurefor reading, also involved with classroom planning and what strategies the teachers used with this resource in fostering education of their students in order to turn them into competent future readers
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1:ALUNO A,HISTÓRIA “FLOR” ... 27
FIGURA 2:ALUNO B,HISTÓRIA “FLOR”... 28
FIGURA 3:ALUNO C,JOELHO JUVENAL ... 29
FIGURA 4:PALITOCHES DOS PERSONAGENS DA HISTÓRIA “OS TRÊS PORQUINHOS” ... 29
FIGURA 5:DESENHO DO ALUNO D SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA “OS TRÊS PORQUINHOS” ... 30
FIGURA 6:DESENHO DO ALUNO E SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA “REGINA E O MÁGICO” ... 31
FIGURA 7:DESENHO DO ALUNO F SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA “REGINA E O MÁGICO” ... 31
FIGURA 8:MODELAGEM DO ALUNO G SOBRE A RAPUNZEL ... 32
FIGURA 9:MODELAGEM DO ALUNO H SOBRE A RAPUNZEL ... 32
FIGURA 10:MODELAGENS DOS ALUNOS I E J SOBRE A RAPUNZEL ... 32
FIGURA 11:MODELAGEM DOS ALUNOS K SOBRE A RAPUNZEL ... 33
FIGURA 12:MODELAGEM DO ALUNO L SOBRE A RAPUNZEL ... 33
FIGURA 13:MODELAGEM DO ALUNO M SOBRE A RAPUNZEL ... 34
FIGURA 14:MATERIAIS UTILIZADOS ... 36
FIGURA 15:LIVRO E DESENHO DAS CRIANÇAS ... 36
FIGURA 16: I RELATOS DAS CRIANÇAS SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA ... 37
FIGURA 17:IIRELATOS DAS CRIANÇAS SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA ... 37
FIGURA 18:IIIRELATOS DAS CRIANÇAS SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA ... 38
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ... 9
JUSTIFICATIVA ... 11
1 UMA BREVE PERSPECTIVA HISTÓRICA SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL ... 13
2 A EDUCAÇÃO INFANTIL E A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS... 16
3 A FIGURA DO PROFESSOR E AS PRÁTICAS ABORDADAS ... 19
4 METODOLOGIA ... 23
4.1 Os sujeitos da pesquisa ... 23
4.2 Lócus da pesquisa ... 25
4.3 Instrumentos e técnicas de coleta de dados ... 25
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ... 26
CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 41
REFERÊNCIAS ... 44
INTRODUÇÃO
A arte da contação de história é milenar. Desde os primórdios da sociedade, essa
atividade é feita por pessoas que conseguem ilustrar o imaginário de quem a escuta.
Participando dessa deliciosa tarefa, os ouvintes começam a imaginar o que está acontecendo.
Essa imaginação, por sua vez,começa a ganhar forma e sentido; assim, deflagram-se
possibilidades de desenvolver o pensamento, a oralidade e o raciocínio em quem escuta a
história.
O professor, na Educação Infantil, é desafiado, em vários aspectos, a estar diante das
crianças, compreender o comportamento delas e suas especificidades. A docência em sala de
aula é construída a partir das vivências que o professor encara, da realidade encontrada e das
aprendizagens teóricasa partir dos conhecimentos advindos das teorias. Unir teoria e prática
com o objetivo da educação escolar convencional não é uma tarefa de simples ação, ela exige
algo além do esforço físico, exige compreensão e sensatez em suas decisões.
Para Oliveira (2008), o primeiro contato com a língua materna, quase que
exclusivamente, ocorre no contexto familiar. A partir dos balbucios – primeiras tentativas de
comunicação verbal dos bebês – até os discursos elaborados, há um longo percurso para a
aquisição da linguagem oral. Do mesmo modo, ocorre com o desenvolvimento da escrita.
Nesta perspectiva, cabe à escola auxiliar as crianças no processo do desenvolvimento da
oralidade e da escrita.
Omodo como o homem elabora formas de comunicação tem sido aprimorado e tem se
diferenciado de acordo com o desenvolvimento da nossa sociedade.Atualmente, temos
diferentes línguas e dialetos difundidos pelo mundo, dentre eles a Língua Portuguesa e suas
variações regionais.
A contação de história é uma prática que existe desde os nossos antepassados, surgida
quando o homem observou a necessidade de transmitir aos outros os fatos vividos.
Vários povos tentaram passar essa prática adiante como, por exemplo, os antigos
habitantesdo Egito bem comoosda Pérsia, para citaralguns que tentaram difundir esse
conhecimento para outras gerações.
A criança, quando entra na escola, descobre um novo mundo, um lugar com
características diferenciadas da sua vida social. A partir deste momento, observa que não
pertence só àquele lugar da sua casa, nota, também, queé parte integrante do grupo e que cada
pessoa tem seu papel social. Assim, junto aessa avalanche de informações, ela é inserida em
contextos mais desafiadores de linguagem.
Partindo, então, da necessidade de o homem secomunicar, surgiram as primeiras
tentativas de diálogo entre eles. Nos séculos XVII e XVIII,tanto Ariès(1981) como Heywood
(2004) consideravam que a infância era apresentada de outra forma, pois as crianças eram
consideradas pequenos adultos, trabalhavam como elese, com isso,existia uma alta taxa de
mortalidade infantil devido ao trabalho.
Com o avanço das produções literárias do século XVIII, a escola passou a dar
importância a essa literatura. Coelho (2001, p. 31) afirma que “estudar a história é ainda
escolher a melhor forma ou o recurso mais adequado de apresentá-la”.
Conforme Zilberman (2003), a história como arte foi, a princípio, na Europafeita
pelos grandes antigos contadoresde histórias; eram momentos realizados ao redor de uma
fogueira, para muitas pessoas e que prevalecia a magia do contador, o modo como o
contadorcontava e as histórias apresentadas deixava o público muito interessado no que era
escutado.
Afirma Coelho (2001, p.31) que
Esta é sem dúvida, a mais fascinante de todas as formas, a mais antiga, tradicional e autêntica expressão do contador de histórias. Não requer nenhum acessório e se processa por meio da voz do narrador, de sua postura. Este, por sua vez, com as mãos livres, concentra toda a sua força na expressão corporal. Contos de fadas, eu sempre conto sob a forma de simples narrativa. Que gravura mostraria o esplendor do baile de Cinderela, ou a emoção da fuga ao soar das badaladas da meia-noite?
Hoje a contação de história, como prática pedagógica, é organizada pelo professor,
como uma atividade que, muitas vezes, é feita de forma que não passa de uma mera prática
integrante de um plano.Desse modo, falta, muitas vezes, o interesse em mostrar a história em
si, em despertar o interesse, em instigar o pensamento, em alimentar um imaginário tão rico
como o de uma criança.
O fascinante mundo da contação de história é rico de possibilidades.Desse modo,
buscou-se, então, pesquisar como essa atividade é desenvolvida nas salas de aula da educação
contação de história como prática pedagógica em sala de aula. Como objetivos específicos,
buscou-se: (1) Identificar as concepções das professoras sobre a prática da contação de
histórias; (2) Identificar as estratégias e recursos usados pelas professoras durante a contação
de histórias; (3) Analisar como é feita a mediação das professoras entre histórias e alunos.
Os sujeitosforamprofessoras desse nível de ensino, que atuam em uma escola privada,
na cidade de Fortaleza-Ceará.
O trabalho está dividido em três capítulos, em que foi buscada a temática da contação
de história na perspectiva das professoras e suas implicações, diante da realidade da sala de
aula, dos sujeitos inseridos. Assim taiscapítulos foram divididos em,primeiramente, uma
perspectiva histórica e cultural da visão geral da Educação Infantil; logo em seguida,
observamos uma configuração de Educação Infantil associada à contação de histórias,
mostrando um pouco da realidade vivenciada pelos sujeitos envolvidos. Finalizando os
capítulos, há a figura do professor diante das abordagens por elas utilizadas atualmente.
JUSTIFICATIVA
A contação de história favoreceu o desenvolvimento da humanidade. Surgiu pela
necessidade de comunicação entre os homens quando já não se bastavam apenas os desenhos,
como afirma Coelho (2009).
Falar de contação de história me trazà memória lembrançasde minha infância. Recordo
meu primeiro livro que li sozinha, o qualfalava de tristeza, seca e sofrimento do sertão, o livro
é intitulado “Cinco anos sem chover”, do autor Lino de Albergaria. Como aquele simples
livro significou para meu imaginário! Desde então, não parei mais de ler, tornou-se uma
prática que ficou ainda mais viva quando cursei as disciplinas de linguagem e
desenvolvimento de criançasno Curso de Pedagogia. Hoje, quando falo do simples ato de
contar umanarrativa,sinto um emaranhado de sentimentos. Ver as crianças esperando o
desfecho dos fatos, os detalhes das cenas, o brilho no olhar e o sorriso ao compreender o
enredo é algo que traz uma memória afetiva, como um sentimento de ponte entre mundo real
e imaginário; na memóriaficamguardados inúmeros detalhes.
Esta pesquisa surge, então, da necessidade de se compreender quais as contribuições
da contação de história no desenvolvimento da linguagem e suas atribuições na sala de aula.
A arte da contação de histórias está ligada a vários aspectos. Hoje, por exemplo,
de compreender comoos educadores trabalham com essa prática, este estudo buscou mostrar
quais os possíveismecanismos que poderiamser usados para mediar esse processo e sua
importânciaà sociedade.
O momento da contação de história para crianças, quando feito com emoção,
provoca-lhes a vontade de parar o que estão realizando e simplesmente ouvi-la, por mais que
já a conheçam. Elas querem experimentar a versão que é apresentada pelo professor narrador
e, assim,“histórias existem para serem contadas, serem ouvidas e conservarem aceso o enredo
da humanidade. O contador narra para se sentir vivo”.(BUSATTO, 2006, p. 17).
Perceboque a realidade encontrada nas salas de aula é bem diferente do que
aprendemos na teoria. O professor se encontra diante de muitos desafios, como tornar uma
história atrativa a partir deum mundo cheio de recursos digitais e acessível a todos, o interesse
que os alunos apresentam e a perspectiva que ele cria diante da realidade.Zabala (1998)
afirma que o professor é quem deve “criar”essa vivência e contribuir para sua significação
diante da abordagem aplicada e da realidade de seus alunos. Como Machado
(2015)asseveraabaixo:
A arte da palavra, oral e escrita, permite a transformação de um mundo de pensamentos, percepções, perguntas, intuições e afetos em comunicação. É manifestação expressiva que uma pessoa dirige a si mesmo e ao outro, que estabelece contatos. A arte da palavra requer o exercício da capacidade de transmutar imagens internas em configurações de linguagem, ordenadas poeticamente. Tal ordenação é fruto de um longo processo de descoberta de palavras que podem ser encadeadas para fazer sentido, para conferir significação à experiência de vida de uma pessoa.
Por isso a arte da palavra e a educação da escuta têm importância fundamental para crianças que estão aprendendo a se expressar e a se comunicar, a se compreender e a compreender o mundo, encorajadas no contato com imagens internas e com imagens configuradas em histórias orais e escritas que trazem experiências valorosas para percursos de aprendizagem. (MACHADO, 2015, p.101).
Associados a esses recursos, a contação de história passa a ter um papel diferenciado.
O fato de que essas crianças têm o domínio digital como um elemento natural de seu marco
de desenvolvimento causa estranhamento às pessoas mais velhas, porém ambas têm a
contação de história comoalgo que lhes remete àinfância. Diante do cenário de informações,
surge, então, a busca para compreender como a contação de história contribui para o
desenvolvimento da fala em crianças, procurando analisar quais as ferramentasmais
adequadas para o uso no ambiente escolar, além de tentar associar o desenvolvimento da fala
para essas crianças que tem uma acessibilidade que a geração anterior não teve a
oportunidade. Nas palavras de Busatto (2006 p. 29), “o contador de histórias encontra-se
inserido no contexto de uma cultura letrada, se apropria da escrita, da impressão e das novas
É nesse contexto que a pesquisa se deu e pretende contribuir para reflexões docentes
sobre o uso da contação de história como motivador do desenvolvimento da prática
pedagógica abordada pelos professores da Educação Infantil.
1 UMABREVE PERSPECTIVA HISTÓRICA SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL
A configuração da Educação Infantil que temos atualmente é fruto de uma longa
construção histórica pela qual passamos. Por muito tempo, a criança foi considerada como
uma miniatura de um adulto. Observamos, aqui, o primeiro entrave aos princípios de hoje,
uma criança é um indivíduo em construção, para nossas concepções é alguém que precisa
vivenciar para aprender.
Essa modalidade de educação surge como proposta nos meados dosséculos XVI
eXVII,na Europa, com o avanço do pensamento moderno e da expansão da escola. Como nos
afirma Bujes (2001, p. 15):
[...] o que se pode perceber é que existiram para justificar o surgimento das escolas infantis uma série de ideias sobre o que constituía uma natureza infantil, que, de certa forma, traçava o destino social das crianças (o que elas viriam a se tornar) e justificar a intervenção dos governos e da filantropia para transformar as crianças (especialmente as do meio pobre) em sujeitos úteis, numa sociedade desejada, que era definida por poucos. De qualquer modo, no surgimento das creches e pré-escolas conviveram argumentos que davam importância a uma visão mais otimista da infância e de suas possibilidades, com outros objetivos do tipo corretivo, disciplinar, que viam principalmente nas crianças uma ameaça ao progresso e à ordem social. (BUJES, 2001, p.15)
Os países europeus eram pioneirosde um modelo ideal de educação para esse
segmento educacionale, assim,pautados porarticulados interesses políticos, religiosos e
empresariais. No entanto, a educação infantil era ensinada em salas que incorporavam várias
idades, abordava desde hábitos morais e religiosos até o estudo das letras. A creche realizava
o atendimento de crianças com até três anos de idade e tinha o papel de promover o
desenvolvimento das crianças, além de adaptá-las para uma vida em sociedade.
No Brasil, essa modalidade de ensino surgiu também no século XIX, inicialmente
destinada aos filhos da elite, garantida para poucos, pois eram realizadas por entidades
A taxa de mortalidade no Brasil estava alta e,desse modo, como medidas educativas
para o povo, são criadasas casas de amparo.Esses lugares ficavam destinados às pessoas em
situação desvalida, crianças pobres, com alguma deformação e em abandono moral.Todo
trabalho aqui executado foi fundamentado na pedagogia da submissão. A necessidade da
participação da mulher no mercado de trabalho com o avanço do capitalismo e a
industrialização deixava essa parcela da população com uma garantia mínima de
sobrevivência.
[...] voltadas, quando muito, para a liberação das mulheres para o mercado de trabalho ou direcionar a uma suposta melhoria do rendimento escolar posterior, essas ações partem também de uma concepção de infância que desconsiderava a sua cidadania e desprezava os direitos sociais fundamentais capazes de proporcionarem às crianças brasileiras condições mais dignas de vida. (KRAMER, 1989, p.199).
A preocupação do governo não era realizar uma educação com os modelos que temos
hoje.Assim, o desenvolvimentodo mercado de trabalho, a participação da mulher e a crescente
industrialização deixavam esse modelo de ensino apenas como uma medida de puro
assistencialismo.
Em meados de 1970, no Brasil, surgem as primeiras creches e pré-escolas. Foi uma
tentativa de “incluir” os mais carentes nessa nova escala cultural. Existia uma defasagem
linguística dessas crianças, segundoBridi (2002). Em contrapartida, a educação para as
crianças da classe média estava pautada em aspectos que envolviam questões cognitivas e
afetivas.
Podemos observar os grandes avanços na educação infantil brasileira, apesar de ter um
caráter assistencial e compensatório para os mais pobres. As medidas que direcionavam esses
mecanismos culminaram em momentos históricos ricos que deixaram traços características
também na atualidade.
A promulgação da Constituição Federal, em 1988, trouxe muitos ganhos para a
sociedade. A partir dela, a educação passou a ser um direito de todas as crianças e
reconhecida como um dever do Estado. De acordo com essa Constituição, todas as crianças de
zero a seis anos têm assegurado o direito básico à educação. No entanto, essa realidade ainda
necessita de novas políticas que devem sair do princípio apenas do assistencialismo, tal
medida passou a integrar um plano de política nacional. Como diz oartigo 205 da
Constituição:“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
Muitos estudos da Neurociência apontam que crianças que são estimuladas desde cedo
desenvolvem suas capacidades cognitivas mais do que as que não tiveram esse acesso.
Outro fator muito importante para a educação infantil foi o Estatuto da Criança e do
Adolescente, com a Lei 8.069/90, o qual assegura, também, esse direito por meio
dosmunicípios. Agora, a criança é considerada com um ser cultural e social.
Artigo 54 da Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990:
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola. (BRASIL, 1990).
Outro documento legal que contempla essa modalidade de ensino é a Lei das
Diretrizes de Base da Educação Nacional, nº 9394/96. O artigo 29define a Educação Infantil
como a primeira etapa da Educação Básica. Tal artigo visa garantir o desenvolvimento
integral, com aspectos físicos, psicológico, intelectual e social em complementação àsações
da família e da comunidade em geral.
O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998, p. 31) afirma que:
O âmbito social oferece, portanto, ocasiões únicas para elaborar estratégias de pensamento e de ação, possibilitando a ampliação das hipóteses infantis. Pode-se estabelecer, nesse processo, uma rede de reflexão e construção de conhecimentos na qual tanto os parceiros mais experientes quanto os menos experientes têm seu papel na interpretação e ensaio de soluções. A interação permite que se crie uma situação de ajuda na qual as crianças avancem no seu processo de aprendizagem. (BRASIL, 1998, p.31).
Existe também o Plano Curricular Nacional voltado à Educação Infantil, cuja
finalidade é garantir que os conteúdos devem ser trabalhados e a maneira como devem ser
Além destes, existe também as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação
infantil, com a resolução nº5/ 2009 que reafirma a importância dessa modalidade de ensino e
as estratégias que devem ser utilizadas.
Todo esse aparato legal é importante para observarmos o quanto a educação infantil é
importante. Desse modo, cabe a nós, professores,não só termos o dever de acompanhar como
também contribuir,de maneira significativa,para esse desenvolvimento.
2A EDUCAÇÃO INFANTIL E A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
O ato de contar histórias envolveas crianças de uma maneira em que o mundo
imaginário e o mundo real possuem características específicas e comuns para ambos. Estão
entrelaçados, nessas questões, os atributos sociais, cognitivos e afetivos, com o objetivo de
trabalhar com as crianças do sistema de educação. A magia e o encantamento dependem da
forma como o contador vai relatar a história. Aqui,percebo que esse momento único tem
relação com as habilidades de cada pessoa que conta, mas para esses pequenos o momento
que marca é a interação que é feita, as cenas parecem que estão logo ali diante dos olhos,os
alunos relatam até a impressão de poder tocá-las. Então, pode-se, assim, comparar que a
contação de história é uma relação entre a imaginação aliada à comunicação e alicerçada à
arte da palavra.
Muitas experiências são necessárias para se chegar a hoje, como no passado, a tarefa mais importante e também mais difícil na criação de uma criança é ajudá-la a encontrar significado na vida. Muitas experiências são necessárias para se chegar a isso. A criança à medida que se desenvolve, deve aprender passo a passo a se entender melhor; com isto, torna-se mais capaz de entender os outros, e eventualmente pode-se relacionar com eles de forma mutuamente satisfatória e significativa. (BETTELHEIM, 2002, p.2)
As crianças aprendem a se expressar e a se comunicar por meio das relações
estabelecidas com o mundo. Essa troca só é possível porque realizamos várias conexões com
o meio. Diante das ligações estabelecidas, passamos a explorar corporalmente e,
paralelamente, introduzimos a linguagem nas práticas estabelecidas. O ato de ouvir aparece na
criança ainda antes de seu nascimento e a prática da audição começa a se perpetuar desde
(...) cada estrutura (conhecimento, estímulo do meio), ao ser assimilada pelo individuo, encontra, naturalmente, estruturas que já foram assimiladas anteriormente. Cabe aos processos mentais ‘reorganizarem’ as estruturas adquiridas de acordo com as que já existem, alcançando, assim, um estado de ‘acomodação’ das estruturas antigas com as novas”. Isto tem, como conseqüência, uma cadeia cíclica de operações denominada ‘assimilação, reorganização e acomodação. (FERNANDES,2003 p.28).
Sempre que falamos de histórias contadas, nossa memória nos remete a alguém com o
valor afetivo enorme;muitas vezes recordamos nossas avós, tias, primas ou alguém que
contasse uma história cheia de aventuras. O clássico “Era uma vez” já despertava o interesse
para o que ia ser apresentado;não precisávamos de grandes cenários, bastava uma cadeirinha,
uma almofada, um tapete, o pó de “pirlimpimpim” ou apenas um livro, pronto, esses eram os
elementos disponíveis para vivermos uma grande história.
A figura do contador de histórias surge como alguém que consegue transmitir esses
contos e passar para outras gerações os fatos acontecidos. Durante a pesquisa, um fato ficou
bastante interessante:cada pessoa tem uma lembrança de um tipo de contador de histórias,
geralmente é sempre uma pessoa próxima a sua vivência infantil, as avós, algum idoso, uma
tia, ou até mesmo algum conhecido, poucas pessoas tem a lembrança de um contador de
histórias na figura do professor. Isso nos remete, então, a uma reflexão a fim de compreender
qual o papel desempenhado pelo professor nesse aspecto da história, durante o planejamento
dessa atividade ele não se permiteviver a prática da contação de história na educação como
instrumento de iniciação.
Mais que nunca, precisamos no mundo de hoje descobrir aquilo que é essencialmente importante para nossa vida. Bons contadores de histórias têm uma função inigualável nessa tarefa, parte da aventura eternamente humana de buscar e distinguir qualidades, tais como se manifestam em tudo que existe. (MACHADO, 2015, p. 3891-3892.)
Podemos comparar a infância como um período de descobertas. Essa fase é
estruturante para o desenvolvimento da criança; quando bem vivenciadas,contribuempara
adifusão do saber. Cada pessoa percebe essas ações e sentimentos de seu modo,
dessaformavamos construindo nossa bagagemcultural, fato que faz analogia ao que a
universalidade da contação de história traz.
Muitos escritores conseguem associar a leveza da infância com o imaginário que as
crianças conseguem construir a partir dessas experiências vividas. Monteiro Lobato, por
exemplo, trouxe o Sítio do Pica-Pau Amarelopara uma realidade palpável no mundo
figura muito conhecida entre adultos e crianças, e a querida Dona Benta com suas
maravilhosas histórias, com isso conseguimos viajar no mundo da imaginação para os lugares
mais inusitados. Diante desses marcos da contação de história, é comum dialogar a respeito
do que esses personagenssignificaram para as pessoas, uma vez que eles fazem parte,
inclusive, do jogo simbólico que as crianças experimentam.
Regina Machado traz muitas reflexões em seu livro a respeito dessa temática do
imaginário infantil, enfatizando a figura do contador de histórias. A arte da palavra é um
encantamento que envolve sentidos orais, escritos, perguntas, respostas, e o simples ato de
comunicar algo.
A arte da palavra e a educação da escuta têm importância fundamental para crianças que estão aprendendo a se expressar e a se comunicar, a se compreender e a compreender o mundo, encorajadas no contato com imagens internas, e com imagens configuradas em histórias orais ou escritas que trazem experiências valorosas para percursos de aprendizagem. Isso pode e deve ser aprendido. (MACHADO, 2015 p. 113).
Assim, a contação de história tem uma enorme contribuição para o sujeito, seja ele no
momento da infância e na construção de mundo que o mesmo realiza ou em outros momentos
da vida;com isso, conseguimos desenvolver nele habilidades que são adquiridas para além do
mundo imaginário, ele é usado como uma base para elencar conhecimentos como a ampliação
3 A FIGURA DO PROFESSOR E AS PRÁTICAS ABORDADAS
O professor, na atualidade, está cheio de atribuições a serem cumpridas. O mercado
emoldura técnicas, os currículos devem estar recheados de cursos de aperfeiçoamento, porém,
na singularidade dos sujeitos, essas competências listadas são diluídas nos desafios de sala de
aula. Saber da realidade é um dado importante para nossas pesquisas; os professores, muitas
vezes, estão diante de problemas que envolvem outras questões didático-pedagógicas. As
dificuldades de materiais disponíveis, de tempo hábil para realização de uma tarefa e as
questões individuais dos alunos são fatores que alteram a configuração inicial que
esperávamos, no entanto eles também são formadores dessa nova organização estrutural da
dinâmica de sala de aula.
As práticas abordadas na sala de aula são destinadas a múltiplos saberes e a
interdisciplinaridade acrescentou um olhar diferenciado aos ensinamentos. Necessitamos,
assim, de conteúdos mais próximos de nossas práticas diárias, de modo que teoria e prática
caminhem juntas nessa nova esfera de aprendizagens significativas.
Além das práticas abordadas, os alunos têm sua bagagem de conhecimentos
diversificada, cada um tem acesso a determinadas culturas, experiências e essa multiplicidade
é contextualizada com cada ação vivenciada na sala de aula. As narrativas vividas, aqui,
trazem um fio de conexão de saberes; são muitos exemplos a serem seguidos e uma
quantidade significativa de resultados. Os professores devem ser essa mediação tão
importante, singular e concreta de construção dos conhecimentos. A urgência da palavra
escrita e, principalmente, falada nos traz essa reflexão que o professor deve analisar em cada
abordagem feita; assim, não podemos apenas ver o que está acontecendo em nossa volta e
ficarmos parados diante das mudanças que precisamos fazer, isto é, agir com a mudança de
atitudes não relevantes para algo mais concreto.
A expectativa de acertar é presente nos planejamentos realizados por muitos
professores, mas a intenção e a veracidade do que se está trabalhando devem ser aliados aos
ensinamentos, surgindo, então, mais uma característica a ser explorada pelo professor
narrador, esse sujeito com tantas habilidades, experiências que foram valorosas ou não, visto
que não existe um modelo de educação pronto e correto a ser feito.
A literatura infantil está associada à questão da educação, pelo fato de uma
complementar o sentido da outra, assim a escola passa a ser uma aliada durante esse processo
Com o início da escolaridade da criança, fatos novos que observamos que acontecem
cada vez mais cedo, escolas estão algumasrecebendo crianças com quatro meses de vida, a
instituição abre as possibilidades para um mundo novo. Os alunos, então, vivenciam diversas
situações, experimentam materiais, conhecem ambientes novos, aprendem a socializar com os
sujeitos envolvidos no processo.
A intenção para a contação deve acontecer a partir das vivências que o professor
narrador possibilita aos seus alunos; ela precisa mover, dar sentido, criar um significado, pois
estamos diante de uma arte. O desafio é conquistar e causar, sair do marasmo e criar uma zona
instável e criativa,um encantamento nesse aluno; ainda que ele não seja alfabetizado,
precisamos semear o encantamento pela leitura, o gosto pelo mundo das letras, isso é
construído com os exemplos que observa.Para tanto, podemos estimular tais práticas com
atitudes simples, tais como músicas, brincadeiras cantadas, leitura de um panfleto, leitura de
uma receita, escrita de regra de brincadeiras, combinados de sala, praticamente todos os
eventos que vivemos tem essa intenção de leitura e,por meio deles, estimulamos várias áreas
de conhecimentos, favorecendo e ampliando,também, a linguagem e o vocabulário;
assim,podemos refletir sobre as práticas que abordamos diariamente em sala de aula e como
elas nos auxiliam nos desafios encontrados.
A escolha dos temas em sala de aula, os planejamentos elaborados pelos professores
devem fazer um sentido, visto que a aprendizagem é realizada pelas interações com o
ambiente, com o espaço e com os sujeitos inseridos nesse processo.
A contação de histórias tem sua importância em vários aspectos: ela envolve estudos
de ritmos, cadências, reflexão e compartilhamentos de múltiplos sentidos. O sujeito que
escuta está diante de alguém que traz a palavra, a sonoridade e o movimento.
O professor, durante os anos iniciais, está preocupado com questões que envolvem
desde a adaptação da criança na sociedade escolar às questões cognitivas desses. Percebi que
os docentes usam estratégias diferenciadas e lúdicas no intento de aproximar os aprendizes
essa realidade acadêmica. Conformeexpressona Lei das Diretrizes de Base da Educação, a
criança tem o direito ao desenvolvimento integral, o aspecto linguístico está incluído nesse
desenvolvimento, a contação de história favorece essas atividades por contribuir com o
imaginário, o desenvolvimento da linguagem, entre outros pontos. Cajal (2001) fala que a sala
de aula tem uma troca de influência que o outro sujeito oferece:
pelo conjunto das ações dos alunos, das reações do professor às ações e reações dos alunos, pelo conjunto das ações e reações dos alunos entre si, cada um interpretando e reinterpretando os atos próprios e os dos outros. (CAJAL, 2001, p.128).
Para Campos (1997), a criança deve ter o acesso aos livros ainda que não saiba ler no
momento, trabalhando, com isso, a ampliação do seu vocabulário e o incentivo à leitura.
Existem hoje no mercado vários tipos de livros com materiais que facilitam esse manuseio,
porém é uma realidade distante das crianças que os pais não têm condições financeiras de
comprar tais livros, ficando a cargo da escola essa compra, outra parcela que também não
dispõe de recursos, quando falamos em escolas públicas. O Estado, que deveria garantir esse
acesso aos alunos, também não estimula para essa vertente de aprendizagem; encontramos as
bibliotecas das escolas públicas, em muitos casos, completamente sucateadas, livros antigos
(quando pelo menos algumas dispõem), mal-cuidados, com edições fora do padrão
ortográfico.Faltam, também, projetos nas escolas para a contação de história e cursos de
formação com reciclagem para os professores.
O professor, durante sua vivência na faculdade, é apresentado a muitas teorias, no
entanto, quando partem para a sala de aula, apenas nos estágios,etapa em que a teoria e a
prática deveriam partilhar das mesmas aprendizagens, é assoberbado com a realidade
encontrada.Algunsprofessores também ficam na zona de conforto por não terem material
suficiente, deixando sua prática comprometida por mero comodismo.
Para trocar e partilhar conhecimentos no mundo da contação de história, os professores
usam diversas estratégias, tais como tecidos, música, brinquedo, caixa, sonsdiferentes,
adereços, combinado a toda essa estrutura falam com um tom de voz diferente, experimentam
ser esses personagens dos livros ou, ainda, narram apenas os fatos para que todos saibam o
que aconteceu nahistória.
Durante a leitura ou escuta de uma história pode haver uma variedade muito grande de experiências misteriosas que, quando pequena, a criança conhece muito bem. Tais experiências vão aos poucos constituindo as árvores do fundo de sua floresta interior. Á medida que ela cresce, começa a dar importância apenas àquele tipo de experiência. (MACHADO, 2015, p. 527-528).
O desafio encontrado nessa prática é tornar o conteúdo do livro em pedagógico, não
configurando como algo que serve apenas para entreter as crianças, ou alguma atividade para
acalmar os alunos durante a aula. Precisa ir além do mundo real e fazer sentido para o
imaginário, contribuir, de fato, para uma integração entre a criança e o mundo a ser explorado.
Muitos professores utilizam a contação de história para trabalhar a
mas devemos analisar se essa atividade é realmente adequada tratando-se de contar histórias
em sua essência.
O educador deve procurar agir como elemento incentivador do interesse das crianças pelo enredo, comportando-se não somente como leitor (mediador) das histórias, mas, também, demonstrando entusiasmo e curiosidade, como mais um ouvinte - participante no mundo do imaginário. Essa postura deve ser reforçada particularmente quando escutar as posteriores "leituras" que as crianças fazem das histórias lidas; (...) o educador deve ter sua atenção voltada para a qualidade da criação, a estruturação da 58 narrativa e suas adequações à língua materna, procurando não perder de vista o interesse manifestado pelas crianças (SIMÕES, 2000, p. 26).
Na virtualidade,há inúmeros exemplos de contadores de histórias.Vídeos
ensinam,igualmente, quais os melhores métodos devem ser utilizados com os alunos, quais os
tipos de abordagem, entre outras informações. Todavia, o professor é quem deve conhecer
seus alunos, de modo que precisa buscar a melhor estratégia e deixar a história acontecer em
seu ambiente, à luz de suas próprias práticas.
Devemos refletir que,no momento da contação de história, cada passo é integrante de
um conjunto de abordagens, uma música, Era uma vez... e assim a história começa; os
recursos dispostos só fazem diferença com a importância que o contador dá aos elementos
presentes na história. Após o momento da contação, as crianças da educação infantil fazem
um reconto, ou são indagadas sobre qual a parte da história mais chamou sua atenção, algo
que é muito interessante, posto que cada criança relata o que foi contado à sua maneira,
amplia seu vocabulário, escuta com atenção, quando possível, o que o outro tem a dizer.
Muitos professores, após o reconto,solicitam, ademais, um registro gráfico do momento;
geralmente os alunos desenham o que mais gostaram da história e/ou personagemque mais lhe
chamou sua atenção.
Para que uma estória realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a perturbam. Resumindo, deve de uma só vez, relacionar-se com todos os aspectos de sua personalidade - e isso sem nunca menosprezar a criança, buscando dar inteiro crédito a seus predicamentos e, simultaneamente, promovendo a confiança nela mesma e no seu futuro. (BETTELHEIM, 2002, p.5).
Percebemos que os professores usam diversas maneiras para ensinar por meio do
mundo da história; o mundo do faz de conta é cheio de possibilidades. O imaginário da
criança tende a ganhar com esse tipo de prática específica, no entanto devemos analisar o que
4 METODOLOGIA
Para Gil (1991, p.30), “[...] o estudante inicia o processo e pesquisa pela escolha de
um tema, que por si só não constitui um problema. Ao formular perguntas sobre o tema,
provoca-se a sua problematização”. Assim, nas etapas de desenvolvimento deste estudo,
foram consideradas as etapas importantes descritas pelo referido autor, de modo que foi
definido o tema e sua problematização a partir das questões norteadoras e experiências
pessoais e profissionais da pesquisadora.
Após a escolha do tema, foram elaboradas as questões norteadoras e traçadas as
estratégias de observação de campo e definido o percurso da pesquisa. Com a finalidade de
alicerçar teoria e prática, foi realizada, também, uma revisão da literatura.
A ideia de teoria, ou a capacidade de explicar e entender as descobertas da pesquisa em um marco conceitual que faça sentido com os dados, é a marca de uma disciplina madura, cujo objetivo é o estudo sistemático de fenômenos particulares. No nosso caso, como pesquisadores sociais, esses fenômenos são a dinâmica, o conteúdo, o contexto e a estrutura das relações sociais.(MAY, 2004, p.44).
De acordo com Andrade (2004, p.16), “[...] a pesquisa científica é o conjunto de
procedimentos sistemáticos, baseados no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar
soluções para os problemas propostos, mediante o emprego de métodos científicos”.
Nesta pesquisa foi utilizado o estudo de campo, observações e entrevistas pela
necessidade de conhecer e observar o ambiente a ser investigado, os sujeitos e a comunidade
envolvida no processo e vivenciar as práticas abordadas pelas professoras, além disso, esse
trabalho possui uma abordagem qualitativa e objetivos explicativos.
A observação constitui elemento fundamental para a pesquisa. Desde a formulação do problema, passando pela construção de hipóteses, coleta, análise e interpretação dos dados, a observação desempenha papel imprescindível no processo da pesquisa. É, todavia na fase de coleta de dados que o seu papel se torna mais evidente”. (GIL, 1999, p. 110)
4.1 Os sujeitos da pesquisa
Os sujeitos investigados foram cinco professoras daeducação infantil.O foco foi
direcionado para elas devido à escolha do tema. As professoras que responderam ao
questionário têm idade entre 28 e 40 anos, todas possuem graduação em Pedagogia, uma delas
Infantil V, porém é importante destacar que, de acordo com as normas da instituição em que o
estudo se deu, nem sempre elas permanecem na mesma série que ensinam no ano seguinte,
existe um rodízio de salas pela escola, podendo, então, serem alocadas em qualquer turma da
escola.
Segue, mais detalhadamente, o perfil das referidas professoras:
Tabela 1 com perfil das professoras
PROFESSORA IDADE EXPERIÊNCIA TURMA
A 28 ANOS DEZ ANOS DE
EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO, GRADUADA EM PEDAGOGIA.
INFANTIL II
B 33 ANOS QUINZE ANOS DE
EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO, GRADUADA EM PEDAGOGIA
INFANTIL III
C 34 ANOS DOZE ANOS DE
EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO, GRADUADA EM PEDAGOGIA COM ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE. INFANTIL III
D 37 ANOS DEZESSEIS ANOS DE
EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO, GRADUADA EM PEDAGOGIA COM ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL. INFANTIL IV
E 40 ANOS DEZOITO ANOS DE
4.2 Lócus da pesquisa
O estudo foi realizado em uma instituição de ensino privado, com porte médio e,
aproximadamente, 450 alunos compondo o corpo discente. A instituição está localizada no
bairro Aldeota, em Fortaleza-Cearáe funciona nos turnos da manhã e tarde, tendo
modalidades de ensino do berçário (a partir de seis meses de idade) até o 1º ano do Ensino
Fundamental I. Na Educação Infantil, na época da pesquisa, no ano de 2017 eramoferecidas
24 turmas (do berçário até o Infantil V, entre manhã e tarde). Os alunos que estudam nesta
escola são oriundos da classe média de Fortaleza. O estudo de campo mostra que é importante
estudar um único grupo ou sua comunidade pela interação existente entre eles (GIL, 1999,
p.72.). Dessa maneira, a amostra da pesquisa foi diretamente com as professoras da educação
infantil que convivem diariamente com a realidade dessas crianças.
4.3 Instrumentos e técnicas de coleta de dados
Os instrumentos escolhidos para a coleta de dados dapesquisa foi o questionário,a
observação e o diário de campo,poissegundo Gil (1999, p.129), as respostas encontradas “irão
[...]esclarecer o problema da pesquisa”. Segundo o mesmo autor, o questionário é uma “[...]
técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões
apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões” (GIL
1999, p. 128).
O instrumento questionário dispõe de questões fechadas e abertas, possibilitando um
aspecto bem dialético entre objetividade e subjetividade. Ele está composto por 15
perguntas,sendo cinco questões abertas e dez questões fechadas, com a finalidade de conhecer
e detalhar as práticas abordadas. Depois de elaborado,o questionário foientregue às
professoras e dado um prazo de uma semana para que eles pudessem respondê-lo, visto que
estavam em seu ambiente de trabalho.
Outro instrumento utilizado na pesquisa foi à observação de campo, e Gil (2006) afirma que
existem cinco componentespara essa técnica, são eles:objeto de observação; o sujeito da
observação; as condições de observação; sistema de conhecimentos e o meio.Além também
da fundamentação das observações no diário de campo, a pesquisa pôdeser acompanhada no
que diz respeito ao processo, fincada com a teoria e as aprendizagens significativas que os
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
De acordo com as observações feitas chegamos aos dados listados abaixo, cada um
com sua característica específica e as análises de casa sala com seus respectivos sujeitos nos
trouxeram informações importantes de sua realidade.
Ao entrar nas salaspara fazer as observações, percebi sempre que,na maioria, havia um
ambiente aconchegante para o grande momento da contação de história, fato que deve ser
levado em consideração, pois as crianças ficam envolvidas durante todo o momentoe
buscavam conhecer a história nos seus mínimos detalhes. As professoras sempre utilizavam
estratégias diversas, por vezes, apareciam com chapéus coloridos, óculos com formatos
diferentes, tecidos com cores vibrantes, adereços com barulhos, enfim, verdadeiras “mágicas”
aconteciam nas salas.
Kato (1999)diz que quando as crianças têm o contato com o mundo da contação de
história, aindaque elas ainda estejam no processo de aprendizagem e aquisição de leitura e
escrita, conseguem adquirir uma consciência de elementos que podemos diferenciar o mundo
da leitura e o mundo da escrita.
Machado (2015, p. 69), por sua vez, relata que existe uma corda que vamos
construindo fio a fio no imaginário das crianças, a arte da palavra tem esse adjetivo também,
uma forma de pensamento e entrelaçamento entre a criança e o mundo.
Existem muitas possíveis manifestações dessa arte, que além da narração de contos inclui algumas formas teatrais, alguns tipos de performances, bem como a ampla variedade de invenções da cultura tradicional, como as adivinhas, os trava-línguas, as brincadeiras das crianças, os romances (histórias cantadas), os cordéis, os desafios como os do Nordeste brasileiro e a poesia oral presente nos brinquedos dramáticos: o ciclo do boi, o cavalo marinho, os presépios e muitos outros. (MACHADO, 2015, p. 69).
As professoras investigadas tinham como objetivo muito claro a prática da contação de
história em sala de aula como um elemento do planejamento. Essa experiência vivida por elas,
durante anos,fazia parte da sua rotina de sala. Ao convidar seus alunos para essas
atividades,faziam,inicialmente, uma roda. Elas solicitavam que as crianças sentassem em
círculos, em seguida, era cantada uma música que simbolizava o momento da história. Cada
sala tinha uma música diferente para cantar, as letras remetiam sempre que “a hora da história
já chegou”, “atenção,concentração”, “uma linha ligada da tua mão até o coração”. E eram
perceptíveis a alegria e a expectativa queas crianças tinham por esses momentos.
Em uma das observações, eu estava na sala de InfantilIII, da professora B, os alunos
outros; assim que entraram na sala, já se dirigiram direto para o tapete, que era bem colorido,
deitavam e ficavam esperando os comandos da professora. Eis, então, que a docentesurge com
a figura de um jarro de planta vazio, em seguida mostrou outra: o jarro de planta agora tinha
um caule e pequenas folhas;em seguida mais uma figura para finalizar, em que havia uma flor
completa. Após a exibição das gravuras, aprofessoraperguntouaos alunos o que eles tinham
visto, todos responderam que era o nascimento da flor. Acontadora, então, disse-lhes que eles
iriam construir uma história coletiva sobre o “Nascimento da flor”, e assim o fizeram.
Os detalhes encontrados aqui são muito significativos, como o imaginário das
crianças quesão capazes de construir uma história a partir das figuras apresentadas, além de
discutir, entre eles, o que estava acontecendo nas cenas.Aqui,são trabalhados muitos conceitos
pedagógicos e morais como, por exemplo, escutar o que o outro tem a dizer, aguardar sua vez,
partilhar e construir ideias juntos e, principalmente, contribuir para o mundo do imaginário
social da criança.
Passados esses momentos, a professora pediu que os alunos desenhassem em seus
cadernos o que mais lhes tinhachamado atenção na história contada. A maioria deles trouxe o
desenho de uma flor pronta, como está abaixo:
Figura 1: Aluno A, História “Flor”
Figura 2: Aluno B, História “Flor”
Fonte: Arquivo pessoal
Em outra sala,da professora C, observei, também, a contação de história do livro O
joelho Juvenal, do autor brasileiro Ziraldo. Essa outra professora pediu que os alunos
ficassem à vontade no tapete, alguns deitaram e ficaram esperando o momento da história. Ela
trouxe o livro como um presente para eles. O rito iniciou com a música que falava de antenas
e ligar um botão; em seguida, a professora abordava toda a história lendo e mostrando as
páginas do livro, o envolvimento dos alunos era bastante interativo, sempre argumentavam
qual o motivo do joelho, o personagem principal da história, estar naquela situação1.
Após o desenvolvimento da história, a professora C desenhou no joelho de cada
criança uma carinha, com lacinho para as meninas e boné para os meninos, foi um momento
de alegria geral. Depois, eles foram para o caderno de desenho e desenharam qual a parte da
história que mais lhes havia chamado atenção.
1
Figura 3:Aluno C, Joelho Juvenal
Fonte: Arquivo pessoal
Em uma terceira observação,professora B, vi a contação de história de um clássico
conhecido por todos, Os três porquinhos. Nessa proposta, a professora trouxe o palitoche. Os
alunos esperavam ansiosamente por essa narrativa. Ela contava os fatos e os olhos das
crianças brilhavam. Interessante é que por mais que eles já conhecessem todo o desfecho da
narrativa, ficavam na expectativa para o que ia acontecer com os personagens. A professora
conseguia a atenção das crianças com facilidade, ela mudava a entonação da voz, tinha um
desempenho bem teatral e isso chamava a atenção dos alunos.
Figura 4: Palitoches dos personagens da história “Os três porquinhos”
Figura 5: Desenho do aluno D sobre os personagens da história “Os três porquinhos”
Fonte: Arquivo pessoal
Na penúltima sala, observei a contação de história do livro Regina e o mágico, de
Sonia Junqueira. Inicialmente, a professora trouxe um baú com algumas figuras de
personagens. Eles tinham um projeto de sala chamado de "Circo “e a temática da história era
para trabalhar a figura do mágico. Ela abordou toda a narrativa e fez o fechamento do
Figura 6: Desenho do aluno E sobre os personagens da história “Regina e o mágico”
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 7: Desenho do aluno F sobre os personagens da história “Regina e o mágico”
Fonte: Arquivo pessoal
Observando a sala do infantil V, a professora E trouxe a proposta da contação de
história do clássico Rapunzel, os alunos estavam deitados no tapete e ela usou o recurso do
livremente com massinha, como resultado da história a maioria das crianças modelaram os
personagens do enredo.
Figura 8: Modelagem do aluno G sobre a Rapunzel
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 9: Modelagem do aluno H sobre a Rapunzel
Fonte: Arquivo pessoal
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 11: Modelagem dos alunos K sobre a Rapunzel
Fonte: Arquivo pessoal
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 13: Modelagem do aluno M sobre a Rapunzel
Fonte: Arquivo pessoal
Os elementos apresentados nas imagens têm algo com um diferencial: são as
impressões que cada sujeito tem a partir do que escutou, além de suas habilidades com o
material disposto. Tais elementos são perceptíveis, tais como as características dos
personagens, que aparecem com traços firmes e com intenção, é o sentimento de cada criança
contido nesse pequeno espaço, embora,muitas vezes, o papel é o recurso mais usado. No
entanto, como vimos nas figuras, também é feito o uso com outros tipos de materiais como
massinha de modelar, algumas pessoas usam o recorte, a pintura.
Ademais, vale ressaltar a importância que cada contador de história impõe ao
elemento apresentado: não basta simplesmente contar algo escrito no livro, sem uma
entonação adequada, ou contar um causo com veracidade daquilo que se contam, todos esses
meios passam pelo fio do sentimento e, em cada pessoa, esse fio é de uma maneira diferente.
O indivíduo carrega consigo o fio de acordo com o que viveu e a intensidade do fato, portanto
passar essa relação de afeto para as crianças não é uma atividade simples e sem significado. A
contação da história está aflorada na pele de todos os contadores, não é algo apenas como um
dom, porém também com a vontade de contar e de fazer algo diferente para as pessoas.
As professoras utilizam vários recursos, ainda que, na maioria das vezes, é o livro o
mais usado, porém tentam incrementar a atividade com tecidos, óculos, vestimentas, cenários,
ou simplesmente palitoches. Elas buscam estratégias que vão de atitudes simples, como contar
uma história e buscar em revistas características dos personagens. Utilizam, além
disso,bastante das representações gráficas para os alunos, nesse aspecto é trabalhado tanto a
intencionalidade do desenho como os elementos que as crianças trazem em seus rabiscos.
Músicas, passeios, sacolas com surpresas são outros recursos que elas buscam em seu
Podemos observar que, durante todos esses momentos de contação de história, não
existia apenas o momento livre, existia a arte de contar para encantar, a arte da palavra como
forma de povoar a imaginação. Fato interessante é que, de acordo com o questionário,quando
perguntamos às professoras quais as memórias de infância que elas tinham relacionadas à
contação de história, aparece a figura de alguém que lhes era próximo, como um parente, um
conhecido na rua onde moravam, uma avó, mas nunca como referência à escola no aspecto de
contar e encantar através da história.
Os clássicos são ainda os preferidos das crianças, que as permitem viajar no mundo da
imaginação, por vezes elas já conhecem a contação, porém fazem questão de ouvir
novamente, de acordo com as respostas dos questionários, e das anotações do diário de
campo, de participar e encantar-se com essa arte milenar e cheia de traços que é a contação de
um clássico infantil.
Então, cabe-nos uma reflexão: que tipo de leitores estamos formando? A partir de
quais práticas eles são ensinados? Machado (2015) afirma que ahistória não deve apenas ser
um elemento do planejamento que serve para passar um conteúdo, é algo com raízes
profundas. Nossas memórias de infância precisam dessa configuração para nossa formação
moral e social. A criança aprende a partir de sua interação, já dizia Piaget (1977), com o meio
que vivencia; na prática, não basta colocar a criança na sociedade escolar e deixá-la que tenha
a curiosidade, o exemplo também corrobora para esse aprendizado.
Contemporâneos acostumam as crianças a vivenciar narrativas desprovidas de sentido. O famoso exercício de “vamos inventar uma história” também corre esse perigo. Do mesmo modo, é muito “moderno” modernizar a Cinderela, muito criativo etc. Mas quando essas propostas não trabalham o sentido, a ordenação interna, as relações entre as partes da sequência narrativa, as invenções das crianças são convencionais e repetitivas. É bom, é importante inventar e recriar histórias, desde que esse trabalho seja acompanhado de um conceito claro do que é uma narrativa, qual seu propósito, função e estrutura. (MACHADO, 2015, p.602).
Observamos como as professoras buscam estratégias diferenciadas, é um material
novo, algum adereço que faça barulho, óculos coloridos, um chapéu ou simplesmente um baú
de ideias, no entanto a prática fica apenas como um mero enfeite que elas usam em sala. O
grande mistério é um tipo de experiência que alimentamos a partir dos elementos que
vivemos.
Em uma das salas vi uma experiência encantadora com elementos simples, que
despertou nas crianças muito interesse e vontade de partilhar o que estava vivenciando. A
professora promoveu o momento de contação de uma fábulachamada Rato do campo e o rato
Figura 14: Materiais utilizados
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 15: Materiais e desenho das crianças
Figura 16: I Relatos das crianças sobre os personagens da história
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 17: II Relatos das crianças sobre os personagens da história
Figura 18: III Relatos das crianças sobre os personagens da história
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 19: IV Relatos das crianças sobre os personagens da história
Fonte: Arquivo pessoal
Observamos que bastam materiais simples, como uma palha de aço, pedaços de tecido
e uma contação com significados para ampliar o imaginário das crianças e enriquecer seus
aprendizados, vejamos o quanto essa ação pode trazer em gestos singelos.
O sentido de encantar fica adormecido (pela necessidade)nessas professoras. Por mais
que elas tentem, acabam sendo vetadas pela “falta de tempo” ou pela quantidade de demandas
apresentadas às crianças como um mero exercício enfadonho, um elemento ligado à prática da
leitura e escrita.
Portanto, as crianças sabem muito mais do que supomos. O que ocorre é que as escolas, em geral, desviam e amarram a atenção das crianças no cabresto do binômio certo/errado. Nesse sentido, a ação dos educadores pode ajudar ou atrapalhar o percurso de aprendizagem dos alunos. Se uma criança entende que saber escrever depende exclusivamente de sua capacidade de manipular regras exteriores, que vão desde leis gramaticais até expectativas de sucesso normatizadas pela escola, ela não encontra nessas fórmulas o que sua vontade de saber lhe dita. Percebe-se então tolhida e impotente. Não lhe oferecem tempo e corda para as roupas secarem ao sol. Do mesmo modo, se é levada a ler ou escutar histórias apresentadas como tarefa escolar para cumprimento e avaliação de seu desempenho, o universo da arte da palavra lhe escapa, já que a via de acesso que se oferece a ela não é o encantamento, mas a realização de conteúdos programáticos, na maioria das vezes enfadonhos e obscuros. (MACHADO,2015, p.123)
Contar uma história desperta na criança tantos sentimentos e, principalmente, a
imaginação.Podemos remeter nossa infância ao Sítio do Pica-pau Amarelo, a seus
personagens, que são memoráveis. Muitas crianças sonham em ser a Narizinho e o Pedrinho
para viverem grandes aventuras; dona Benta, por exemplo, virou um clássico de modelos de
avós que as pessoas gostariam de ter. Monteiro Lobato, no início, não dispunha de recursos
financeiros, não tinha grandes materiais, nem um baú fantástico, mas nele tinha a imaginação,
a criatividade, o fio da meada do contador de história.
Devemos fazer um exercício para apresentar as crianças livros com texturas diferentes,
vivemos com inúmeras possibilidades de materiais diversificados de livros, contamos,
inclusive, com os recursos que a internet proporciona, que podem ser usados na hora da
contação da história. Mas, o exercício da imaginação, do encantamento, são pontos que
carregamos expressões sentimentais a respeito do contar são folhas que colamos aos poucos
na árvore da vida.