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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA A PRÁTICA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

A PRÁTICA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

MÔNICA OLIVEIRA LIMA

(2)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Universitária

Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

L699p Lima, Mônica Oliveira.

A prática da contação de histórias na educação infantil / Mônica Oliveira Lima. – 2018. 47 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Curso de Pedagogia

, Fortaleza, 2018.

Orientação: Profa. Dra. Ana Paula de Medeiros Ribeiro .

1. Educação infantil. 2. Contação de história. 3. Estratégias pedagógicas. I. Título.

(3)

MONICA OLIVEIRA LIMA

A PRÁTICA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará como requisito para a obtenção do grau de licenciada em Pedagogia.

Orientadora: Dra. Ana Paula de Medeiros Ribeiro

Aprovada em: ____ / _____ / ______

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________________ Profa. Dra. Ana Paula de Medeiros Ribeiro (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________________________________ Profa. Ms. Olívia Coelho de Sousa (Examinador 1)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________________________________ Profa. Ms. Sara Façanha Bessa (Examinador 2)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

(4)

À Deus.

(5)

AGRADECIMENTOS

Aos professores que se dedicaram à minha formação durante toda a graduação, contribuindo para o meu desenvolvimento com suas valorosas mediações.

Aos professores participantes da Banca Examinadora pelo tempo destinado à essa avaliação, pelas valiosas contribuições e sugestões.

Agradeço a todos os professores da graduação pelas contribuições que tive durante minha formação, em especial minha Orientadora Professora Dra. Ana Paula de Medeiros Ribeiro, por ter me ajudado, esclarecido todas as minhas dúvidas e que acreditou no meu sonho, ela ampliou o meu gosto pela contação de história.

Aos meus pais, Liduina e Ednaldo que não mediram esforços para que eu tivesse uma educação boa, mesmo com todas as dificuldades, pelo amor e apoio nas noites em que precisei ficar acordada.

Ao meu noivo Carlos, pelo companheirismo e paciência nos momentos de

grande cansaço, por estar presente quando precisei.

Aos meus amigos que acreditaram em mim e me davam energias

positivas quando estava esgotada, Erlano Oliveira, Paula Rogéli, Vanderlúcia Paiva e todos os amigos que fiz durante minha graduação.

Em especial ao meu amigo Tiago Alves, pela disponibilidade, paciência, parceria e compreensão nos momentos mais complicados, sua ajuda foi valiosíssima.

Em especial também minha amiga Cristiane Ximenes, por sempre acreditar no meu sonho, me incentivando e mostrando como poderia ser possível.

(6)

RESUMO

Discutir sobre as estratégias usadas pelas professoras na contação de história e o desenvolvimento da oralidade é bastante relevante para compreender o interesse pela leitura das crianças. Dessa maneira, torna-se indispensável pesquisar como são elaboradas essas estratégias na Educação infantil, e este foi o objetivo deste trabalho. Quanto ao referencial teórico, foram discutidos os fundamentos de documentos oficiais sobre o tema e autores como Coelho (2009) Busatto (2006), Machado (2015), dentre outros, referentes a uma organização e necessidade de despertar o interesse pela leitura, por meio da contação de história. Foram trabalhados, também, aspectos fundamentais do papel do professor nessa arte de encantamento, relacionando suas concepções com Piaget (1977) e a fase de desenvolvimento da criança. Por meio da aplicação de questionário, da pesquisa de campo, das observações foram coletados os dados sobre as experiências vividas por cinco professoras da educação infantil de uma escola privada na cidade de Fortaleza, Ceará, relacionadas ao tema. Na análise dos dados, foi apresentada uma relação entre conteúdo, teoria e prática vivenciada pelas docentes. Este estudo provocou uma reflexão sobre a importância que é dada para a contação de história como recurso no desenvolvimento do gosto pela leitura, envolvida, ainda, com o planejamento de sala de aula e quais as estratégias que as professoras utilizavam com esse recurso na fomentação da educação de seus alunos, a fim de transformá-los em futuros leitores competentes.

(7)

ABSTRACT

Discussing the strategies used by the teachers in storytelling and the development of orality is very relevant to understanding the interest in reading by the children. In this way, it becomes indispensable to investigate how these strategies are elaborated in children's education, and that is our goal. As for the theoretical reference, the foundations of official documents on the subject and authors such as Coelho, (2009) Busatto (2006), Machado (2015), among others, concerning an organization and the need to awaken interest in reading through of storytelling. Fundamental aspects of the teacher's role in this art of enchantment were also worked out, relating his conceptions to Piaget (1977) and the child's developmental phase. Through the application of a questionnaire, from the field research, the observations were generated the data about the experiences of five teachers of children's education at a private school in the city of Fortaleza, Ceará, related to the theme. In the analysis of the data, it was presented a relation between content, theory and practice experienced by the teachers. This study provoked a reflection on the importance given to storytelling as a resource in the development of the pleasurefor reading, also involved with classroom planning and what strategies the teachers used with this resource in fostering education of their students in order to turn them into competent future readers

(8)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1:ALUNO A,HISTÓRIA “FLOR” ... 27

FIGURA 2:ALUNO B,HISTÓRIA “FLOR”... 28

FIGURA 3:ALUNO C,JOELHO JUVENAL ... 29

FIGURA 4:PALITOCHES DOS PERSONAGENS DA HISTÓRIA “OS TRÊS PORQUINHOS” ... 29

FIGURA 5:DESENHO DO ALUNO D SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA “OS TRÊS PORQUINHOS” ... 30

FIGURA 6:DESENHO DO ALUNO E SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA “REGINA E O MÁGICO” ... 31

FIGURA 7:DESENHO DO ALUNO F SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA “REGINA E O MÁGICO” ... 31

FIGURA 8:MODELAGEM DO ALUNO G SOBRE A RAPUNZEL ... 32

FIGURA 9:MODELAGEM DO ALUNO H SOBRE A RAPUNZEL ... 32

FIGURA 10:MODELAGENS DOS ALUNOS I E J SOBRE A RAPUNZEL ... 32

FIGURA 11:MODELAGEM DOS ALUNOS K SOBRE A RAPUNZEL ... 33

FIGURA 12:MODELAGEM DO ALUNO L SOBRE A RAPUNZEL ... 33

FIGURA 13:MODELAGEM DO ALUNO M SOBRE A RAPUNZEL ... 34

FIGURA 14:MATERIAIS UTILIZADOS ... 36

FIGURA 15:LIVRO E DESENHO DAS CRIANÇAS ... 36

FIGURA 16: I RELATOS DAS CRIANÇAS SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA ... 37

FIGURA 17:IIRELATOS DAS CRIANÇAS SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA ... 37

FIGURA 18:IIIRELATOS DAS CRIANÇAS SOBRE OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA ... 38

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

JUSTIFICATIVA ... 11

1 UMA BREVE PERSPECTIVA HISTÓRICA SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL ... 13

2 A EDUCAÇÃO INFANTIL E A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS... 16

3 A FIGURA DO PROFESSOR E AS PRÁTICAS ABORDADAS ... 19

4 METODOLOGIA ... 23

4.1 Os sujeitos da pesquisa ... 23

4.2 Lócus da pesquisa ... 25

4.3 Instrumentos e técnicas de coleta de dados ... 25

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ... 26

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 41

REFERÊNCIAS ... 44

(10)

INTRODUÇÃO

A arte da contação de história é milenar. Desde os primórdios da sociedade, essa

atividade é feita por pessoas que conseguem ilustrar o imaginário de quem a escuta.

Participando dessa deliciosa tarefa, os ouvintes começam a imaginar o que está acontecendo.

Essa imaginação, por sua vez,começa a ganhar forma e sentido; assim, deflagram-se

possibilidades de desenvolver o pensamento, a oralidade e o raciocínio em quem escuta a

história.

O professor, na Educação Infantil, é desafiado, em vários aspectos, a estar diante das

crianças, compreender o comportamento delas e suas especificidades. A docência em sala de

aula é construída a partir das vivências que o professor encara, da realidade encontrada e das

aprendizagens teóricasa partir dos conhecimentos advindos das teorias. Unir teoria e prática

com o objetivo da educação escolar convencional não é uma tarefa de simples ação, ela exige

algo além do esforço físico, exige compreensão e sensatez em suas decisões.

Para Oliveira (2008), o primeiro contato com a língua materna, quase que

exclusivamente, ocorre no contexto familiar. A partir dos balbucios – primeiras tentativas de

comunicação verbal dos bebês – até os discursos elaborados, há um longo percurso para a

aquisição da linguagem oral. Do mesmo modo, ocorre com o desenvolvimento da escrita.

Nesta perspectiva, cabe à escola auxiliar as crianças no processo do desenvolvimento da

oralidade e da escrita.

Omodo como o homem elabora formas de comunicação tem sido aprimorado e tem se

diferenciado de acordo com o desenvolvimento da nossa sociedade.Atualmente, temos

diferentes línguas e dialetos difundidos pelo mundo, dentre eles a Língua Portuguesa e suas

variações regionais.

A contação de história é uma prática que existe desde os nossos antepassados, surgida

quando o homem observou a necessidade de transmitir aos outros os fatos vividos.

(11)

Vários povos tentaram passar essa prática adiante como, por exemplo, os antigos

habitantesdo Egito bem comoosda Pérsia, para citaralguns que tentaram difundir esse

conhecimento para outras gerações.

A criança, quando entra na escola, descobre um novo mundo, um lugar com

características diferenciadas da sua vida social. A partir deste momento, observa que não

pertence só àquele lugar da sua casa, nota, também, queé parte integrante do grupo e que cada

pessoa tem seu papel social. Assim, junto aessa avalanche de informações, ela é inserida em

contextos mais desafiadores de linguagem.

Partindo, então, da necessidade de o homem secomunicar, surgiram as primeiras

tentativas de diálogo entre eles. Nos séculos XVII e XVIII,tanto Ariès(1981) como Heywood

(2004) consideravam que a infância era apresentada de outra forma, pois as crianças eram

consideradas pequenos adultos, trabalhavam como elese, com isso,existia uma alta taxa de

mortalidade infantil devido ao trabalho.

Com o avanço das produções literárias do século XVIII, a escola passou a dar

importância a essa literatura. Coelho (2001, p. 31) afirma que “estudar a história é ainda

escolher a melhor forma ou o recurso mais adequado de apresentá-la”.

Conforme Zilberman (2003), a história como arte foi, a princípio, na Europafeita

pelos grandes antigos contadoresde histórias; eram momentos realizados ao redor de uma

fogueira, para muitas pessoas e que prevalecia a magia do contador, o modo como o

contadorcontava e as histórias apresentadas deixava o público muito interessado no que era

escutado.

Afirma Coelho (2001, p.31) que

Esta é sem dúvida, a mais fascinante de todas as formas, a mais antiga, tradicional e autêntica expressão do contador de histórias. Não requer nenhum acessório e se processa por meio da voz do narrador, de sua postura. Este, por sua vez, com as mãos livres, concentra toda a sua força na expressão corporal. Contos de fadas, eu sempre conto sob a forma de simples narrativa. Que gravura mostraria o esplendor do baile de Cinderela, ou a emoção da fuga ao soar das badaladas da meia-noite?

Hoje a contação de história, como prática pedagógica, é organizada pelo professor,

como uma atividade que, muitas vezes, é feita de forma que não passa de uma mera prática

integrante de um plano.Desse modo, falta, muitas vezes, o interesse em mostrar a história em

si, em despertar o interesse, em instigar o pensamento, em alimentar um imaginário tão rico

como o de uma criança.

O fascinante mundo da contação de história é rico de possibilidades.Desse modo,

buscou-se, então, pesquisar como essa atividade é desenvolvida nas salas de aula da educação

(12)

contação de história como prática pedagógica em sala de aula. Como objetivos específicos,

buscou-se: (1) Identificar as concepções das professoras sobre a prática da contação de

histórias; (2) Identificar as estratégias e recursos usados pelas professoras durante a contação

de histórias; (3) Analisar como é feita a mediação das professoras entre histórias e alunos.

Os sujeitosforamprofessoras desse nível de ensino, que atuam em uma escola privada,

na cidade de Fortaleza-Ceará.

O trabalho está dividido em três capítulos, em que foi buscada a temática da contação

de história na perspectiva das professoras e suas implicações, diante da realidade da sala de

aula, dos sujeitos inseridos. Assim taiscapítulos foram divididos em,primeiramente, uma

perspectiva histórica e cultural da visão geral da Educação Infantil; logo em seguida,

observamos uma configuração de Educação Infantil associada à contação de histórias,

mostrando um pouco da realidade vivenciada pelos sujeitos envolvidos. Finalizando os

capítulos, há a figura do professor diante das abordagens por elas utilizadas atualmente.

JUSTIFICATIVA

A contação de história favoreceu o desenvolvimento da humanidade. Surgiu pela

necessidade de comunicação entre os homens quando já não se bastavam apenas os desenhos,

como afirma Coelho (2009).

Falar de contação de história me trazà memória lembrançasde minha infância. Recordo

meu primeiro livro que li sozinha, o qualfalava de tristeza, seca e sofrimento do sertão, o livro

é intitulado “Cinco anos sem chover”, do autor Lino de Albergaria. Como aquele simples

livro significou para meu imaginário! Desde então, não parei mais de ler, tornou-se uma

prática que ficou ainda mais viva quando cursei as disciplinas de linguagem e

desenvolvimento de criançasno Curso de Pedagogia. Hoje, quando falo do simples ato de

contar umanarrativa,sinto um emaranhado de sentimentos. Ver as crianças esperando o

desfecho dos fatos, os detalhes das cenas, o brilho no olhar e o sorriso ao compreender o

enredo é algo que traz uma memória afetiva, como um sentimento de ponte entre mundo real

e imaginário; na memóriaficamguardados inúmeros detalhes.

Esta pesquisa surge, então, da necessidade de se compreender quais as contribuições

da contação de história no desenvolvimento da linguagem e suas atribuições na sala de aula.

A arte da contação de histórias está ligada a vários aspectos. Hoje, por exemplo,

(13)

de compreender comoos educadores trabalham com essa prática, este estudo buscou mostrar

quais os possíveismecanismos que poderiamser usados para mediar esse processo e sua

importânciaà sociedade.

O momento da contação de história para crianças, quando feito com emoção,

provoca-lhes a vontade de parar o que estão realizando e simplesmente ouvi-la, por mais que

já a conheçam. Elas querem experimentar a versão que é apresentada pelo professor narrador

e, assim,“histórias existem para serem contadas, serem ouvidas e conservarem aceso o enredo

da humanidade. O contador narra para se sentir vivo”.(BUSATTO, 2006, p. 17).

Perceboque a realidade encontrada nas salas de aula é bem diferente do que

aprendemos na teoria. O professor se encontra diante de muitos desafios, como tornar uma

história atrativa a partir deum mundo cheio de recursos digitais e acessível a todos, o interesse

que os alunos apresentam e a perspectiva que ele cria diante da realidade.Zabala (1998)

afirma que o professor é quem deve “criar”essa vivência e contribuir para sua significação

diante da abordagem aplicada e da realidade de seus alunos. Como Machado

(2015)asseveraabaixo:

A arte da palavra, oral e escrita, permite a transformação de um mundo de pensamentos, percepções, perguntas, intuições e afetos em comunicação. É manifestação expressiva que uma pessoa dirige a si mesmo e ao outro, que estabelece contatos. A arte da palavra requer o exercício da capacidade de transmutar imagens internas em configurações de linguagem, ordenadas poeticamente. Tal ordenação é fruto de um longo processo de descoberta de palavras que podem ser encadeadas para fazer sentido, para conferir significação à experiência de vida de uma pessoa.

Por isso a arte da palavra e a educação da escuta têm importância fundamental para crianças que estão aprendendo a se expressar e a se comunicar, a se compreender e a compreender o mundo, encorajadas no contato com imagens internas e com imagens configuradas em histórias orais e escritas que trazem experiências valorosas para percursos de aprendizagem. (MACHADO, 2015, p.101).

Associados a esses recursos, a contação de história passa a ter um papel diferenciado.

O fato de que essas crianças têm o domínio digital como um elemento natural de seu marco

de desenvolvimento causa estranhamento às pessoas mais velhas, porém ambas têm a

contação de história comoalgo que lhes remete àinfância. Diante do cenário de informações,

surge, então, a busca para compreender como a contação de história contribui para o

desenvolvimento da fala em crianças, procurando analisar quais as ferramentasmais

adequadas para o uso no ambiente escolar, além de tentar associar o desenvolvimento da fala

para essas crianças que tem uma acessibilidade que a geração anterior não teve a

oportunidade. Nas palavras de Busatto (2006 p. 29), “o contador de histórias encontra-se

inserido no contexto de uma cultura letrada, se apropria da escrita, da impressão e das novas

(14)

É nesse contexto que a pesquisa se deu e pretende contribuir para reflexões docentes

sobre o uso da contação de história como motivador do desenvolvimento da prática

pedagógica abordada pelos professores da Educação Infantil.

1 UMABREVE PERSPECTIVA HISTÓRICA SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL

A configuração da Educação Infantil que temos atualmente é fruto de uma longa

construção histórica pela qual passamos. Por muito tempo, a criança foi considerada como

uma miniatura de um adulto. Observamos, aqui, o primeiro entrave aos princípios de hoje,

uma criança é um indivíduo em construção, para nossas concepções é alguém que precisa

vivenciar para aprender.

Essa modalidade de educação surge como proposta nos meados dosséculos XVI

eXVII,na Europa, com o avanço do pensamento moderno e da expansão da escola. Como nos

afirma Bujes (2001, p. 15):

[...] o que se pode perceber é que existiram para justificar o surgimento das escolas infantis uma série de ideias sobre o que constituía uma natureza infantil, que, de certa forma, traçava o destino social das crianças (o que elas viriam a se tornar) e justificar a intervenção dos governos e da filantropia para transformar as crianças (especialmente as do meio pobre) em sujeitos úteis, numa sociedade desejada, que era definida por poucos. De qualquer modo, no surgimento das creches e pré-escolas conviveram argumentos que davam importância a uma visão mais otimista da infância e de suas possibilidades, com outros objetivos do tipo corretivo, disciplinar, que viam principalmente nas crianças uma ameaça ao progresso e à ordem social. (BUJES, 2001, p.15)

Os países europeus eram pioneirosde um modelo ideal de educação para esse

segmento educacionale, assim,pautados porarticulados interesses políticos, religiosos e

empresariais. No entanto, a educação infantil era ensinada em salas que incorporavam várias

idades, abordava desde hábitos morais e religiosos até o estudo das letras. A creche realizava

o atendimento de crianças com até três anos de idade e tinha o papel de promover o

desenvolvimento das crianças, além de adaptá-las para uma vida em sociedade.

No Brasil, essa modalidade de ensino surgiu também no século XIX, inicialmente

destinada aos filhos da elite, garantida para poucos, pois eram realizadas por entidades

(15)

A taxa de mortalidade no Brasil estava alta e,desse modo, como medidas educativas

para o povo, são criadasas casas de amparo.Esses lugares ficavam destinados às pessoas em

situação desvalida, crianças pobres, com alguma deformação e em abandono moral.Todo

trabalho aqui executado foi fundamentado na pedagogia da submissão. A necessidade da

participação da mulher no mercado de trabalho com o avanço do capitalismo e a

industrialização deixava essa parcela da população com uma garantia mínima de

sobrevivência.

[...] voltadas, quando muito, para a liberação das mulheres para o mercado de trabalho ou direcionar a uma suposta melhoria do rendimento escolar posterior, essas ações partem também de uma concepção de infância que desconsiderava a sua cidadania e desprezava os direitos sociais fundamentais capazes de proporcionarem às crianças brasileiras condições mais dignas de vida. (KRAMER, 1989, p.199).

A preocupação do governo não era realizar uma educação com os modelos que temos

hoje.Assim, o desenvolvimentodo mercado de trabalho, a participação da mulher e a crescente

industrialização deixavam esse modelo de ensino apenas como uma medida de puro

assistencialismo.

Em meados de 1970, no Brasil, surgem as primeiras creches e pré-escolas. Foi uma

tentativa de “incluir” os mais carentes nessa nova escala cultural. Existia uma defasagem

linguística dessas crianças, segundoBridi (2002). Em contrapartida, a educação para as

crianças da classe média estava pautada em aspectos que envolviam questões cognitivas e

afetivas.

Podemos observar os grandes avanços na educação infantil brasileira, apesar de ter um

caráter assistencial e compensatório para os mais pobres. As medidas que direcionavam esses

mecanismos culminaram em momentos históricos ricos que deixaram traços características

também na atualidade.

A promulgação da Constituição Federal, em 1988, trouxe muitos ganhos para a

sociedade. A partir dela, a educação passou a ser um direito de todas as crianças e

reconhecida como um dever do Estado. De acordo com essa Constituição, todas as crianças de

zero a seis anos têm assegurado o direito básico à educação. No entanto, essa realidade ainda

necessita de novas políticas que devem sair do princípio apenas do assistencialismo, tal

medida passou a integrar um plano de política nacional. Como diz oartigo 205 da

Constituição:“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,

(16)

Muitos estudos da Neurociência apontam que crianças que são estimuladas desde cedo

desenvolvem suas capacidades cognitivas mais do que as que não tiveram esse acesso.

Outro fator muito importante para a educação infantil foi o Estatuto da Criança e do

Adolescente, com a Lei 8.069/90, o qual assegura, também, esse direito por meio

dosmunicípios. Agora, a criança é considerada com um ser cultural e social.

Artigo 54 da Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990:

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;

II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade;

IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;

VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;

VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola. (BRASIL, 1990).

Outro documento legal que contempla essa modalidade de ensino é a Lei das

Diretrizes de Base da Educação Nacional, nº 9394/96. O artigo 29define a Educação Infantil

como a primeira etapa da Educação Básica. Tal artigo visa garantir o desenvolvimento

integral, com aspectos físicos, psicológico, intelectual e social em complementação àsações

da família e da comunidade em geral.

O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998, p. 31) afirma que:

O âmbito social oferece, portanto, ocasiões únicas para elaborar estratégias de pensamento e de ação, possibilitando a ampliação das hipóteses infantis. Pode-se estabelecer, nesse processo, uma rede de reflexão e construção de conhecimentos na qual tanto os parceiros mais experientes quanto os menos experientes têm seu papel na interpretação e ensaio de soluções. A interação permite que se crie uma situação de ajuda na qual as crianças avancem no seu processo de aprendizagem. (BRASIL, 1998, p.31).

Existe também o Plano Curricular Nacional voltado à Educação Infantil, cuja

finalidade é garantir que os conteúdos devem ser trabalhados e a maneira como devem ser

(17)

Além destes, existe também as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação

infantil, com a resolução nº5/ 2009 que reafirma a importância dessa modalidade de ensino e

as estratégias que devem ser utilizadas.

Todo esse aparato legal é importante para observarmos o quanto a educação infantil é

importante. Desse modo, cabe a nós, professores,não só termos o dever de acompanhar como

também contribuir,de maneira significativa,para esse desenvolvimento.

2A EDUCAÇÃO INFANTIL E A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

O ato de contar histórias envolveas crianças de uma maneira em que o mundo

imaginário e o mundo real possuem características específicas e comuns para ambos. Estão

entrelaçados, nessas questões, os atributos sociais, cognitivos e afetivos, com o objetivo de

trabalhar com as crianças do sistema de educação. A magia e o encantamento dependem da

forma como o contador vai relatar a história. Aqui,percebo que esse momento único tem

relação com as habilidades de cada pessoa que conta, mas para esses pequenos o momento

que marca é a interação que é feita, as cenas parecem que estão logo ali diante dos olhos,os

alunos relatam até a impressão de poder tocá-las. Então, pode-se, assim, comparar que a

contação de história é uma relação entre a imaginação aliada à comunicação e alicerçada à

arte da palavra.

Muitas experiências são necessárias para se chegar a hoje, como no passado, a tarefa mais importante e também mais difícil na criação de uma criança é ajudá-la a encontrar significado na vida. Muitas experiências são necessárias para se chegar a isso. A criança à medida que se desenvolve, deve aprender passo a passo a se entender melhor; com isto, torna-se mais capaz de entender os outros, e eventualmente pode-se relacionar com eles de forma mutuamente satisfatória e significativa. (BETTELHEIM, 2002, p.2)

As crianças aprendem a se expressar e a se comunicar por meio das relações

estabelecidas com o mundo. Essa troca só é possível porque realizamos várias conexões com

o meio. Diante das ligações estabelecidas, passamos a explorar corporalmente e,

paralelamente, introduzimos a linguagem nas práticas estabelecidas. O ato de ouvir aparece na

criança ainda antes de seu nascimento e a prática da audição começa a se perpetuar desde

(18)

(...) cada estrutura (conhecimento, estímulo do meio), ao ser assimilada pelo individuo, encontra, naturalmente, estruturas que já foram assimiladas anteriormente. Cabe aos processos mentais ‘reorganizarem’ as estruturas adquiridas de acordo com as que já existem, alcançando, assim, um estado de ‘acomodação’ das estruturas antigas com as novas”. Isto tem, como conseqüência, uma cadeia cíclica de operações denominada ‘assimilação, reorganização e acomodação. (FERNANDES,2003 p.28).

Sempre que falamos de histórias contadas, nossa memória nos remete a alguém com o

valor afetivo enorme;muitas vezes recordamos nossas avós, tias, primas ou alguém que

contasse uma história cheia de aventuras. O clássico “Era uma vez” já despertava o interesse

para o que ia ser apresentado;não precisávamos de grandes cenários, bastava uma cadeirinha,

uma almofada, um tapete, o pó de “pirlimpimpim” ou apenas um livro, pronto, esses eram os

elementos disponíveis para vivermos uma grande história.

A figura do contador de histórias surge como alguém que consegue transmitir esses

contos e passar para outras gerações os fatos acontecidos. Durante a pesquisa, um fato ficou

bastante interessante:cada pessoa tem uma lembrança de um tipo de contador de histórias,

geralmente é sempre uma pessoa próxima a sua vivência infantil, as avós, algum idoso, uma

tia, ou até mesmo algum conhecido, poucas pessoas tem a lembrança de um contador de

histórias na figura do professor. Isso nos remete, então, a uma reflexão a fim de compreender

qual o papel desempenhado pelo professor nesse aspecto da história, durante o planejamento

dessa atividade ele não se permiteviver a prática da contação de história na educação como

instrumento de iniciação.

Mais que nunca, precisamos no mundo de hoje descobrir aquilo que é essencialmente importante para nossa vida. Bons contadores de histórias têm uma função inigualável nessa tarefa, parte da aventura eternamente humana de buscar e distinguir qualidades, tais como se manifestam em tudo que existe. (MACHADO, 2015, p. 3891-3892.)

Podemos comparar a infância como um período de descobertas. Essa fase é

estruturante para o desenvolvimento da criança; quando bem vivenciadas,contribuempara

adifusão do saber. Cada pessoa percebe essas ações e sentimentos de seu modo,

dessaformavamos construindo nossa bagagemcultural, fato que faz analogia ao que a

universalidade da contação de história traz.

Muitos escritores conseguem associar a leveza da infância com o imaginário que as

crianças conseguem construir a partir dessas experiências vividas. Monteiro Lobato, por

exemplo, trouxe o Sítio do Pica-Pau Amarelopara uma realidade palpável no mundo

(19)

figura muito conhecida entre adultos e crianças, e a querida Dona Benta com suas

maravilhosas histórias, com isso conseguimos viajar no mundo da imaginação para os lugares

mais inusitados. Diante desses marcos da contação de história, é comum dialogar a respeito

do que esses personagenssignificaram para as pessoas, uma vez que eles fazem parte,

inclusive, do jogo simbólico que as crianças experimentam.

Regina Machado traz muitas reflexões em seu livro a respeito dessa temática do

imaginário infantil, enfatizando a figura do contador de histórias. A arte da palavra é um

encantamento que envolve sentidos orais, escritos, perguntas, respostas, e o simples ato de

comunicar algo.

A arte da palavra e a educação da escuta têm importância fundamental para crianças que estão aprendendo a se expressar e a se comunicar, a se compreender e a compreender o mundo, encorajadas no contato com imagens internas, e com imagens configuradas em histórias orais ou escritas que trazem experiências valorosas para percursos de aprendizagem. Isso pode e deve ser aprendido. (MACHADO, 2015 p. 113).

Assim, a contação de história tem uma enorme contribuição para o sujeito, seja ele no

momento da infância e na construção de mundo que o mesmo realiza ou em outros momentos

da vida;com isso, conseguimos desenvolver nele habilidades que são adquiridas para além do

mundo imaginário, ele é usado como uma base para elencar conhecimentos como a ampliação

(20)

3 A FIGURA DO PROFESSOR E AS PRÁTICAS ABORDADAS

O professor, na atualidade, está cheio de atribuições a serem cumpridas. O mercado

emoldura técnicas, os currículos devem estar recheados de cursos de aperfeiçoamento, porém,

na singularidade dos sujeitos, essas competências listadas são diluídas nos desafios de sala de

aula. Saber da realidade é um dado importante para nossas pesquisas; os professores, muitas

vezes, estão diante de problemas que envolvem outras questões didático-pedagógicas. As

dificuldades de materiais disponíveis, de tempo hábil para realização de uma tarefa e as

questões individuais dos alunos são fatores que alteram a configuração inicial que

esperávamos, no entanto eles também são formadores dessa nova organização estrutural da

dinâmica de sala de aula.

As práticas abordadas na sala de aula são destinadas a múltiplos saberes e a

interdisciplinaridade acrescentou um olhar diferenciado aos ensinamentos. Necessitamos,

assim, de conteúdos mais próximos de nossas práticas diárias, de modo que teoria e prática

caminhem juntas nessa nova esfera de aprendizagens significativas.

Além das práticas abordadas, os alunos têm sua bagagem de conhecimentos

diversificada, cada um tem acesso a determinadas culturas, experiências e essa multiplicidade

é contextualizada com cada ação vivenciada na sala de aula. As narrativas vividas, aqui,

trazem um fio de conexão de saberes; são muitos exemplos a serem seguidos e uma

quantidade significativa de resultados. Os professores devem ser essa mediação tão

importante, singular e concreta de construção dos conhecimentos. A urgência da palavra

escrita e, principalmente, falada nos traz essa reflexão que o professor deve analisar em cada

abordagem feita; assim, não podemos apenas ver o que está acontecendo em nossa volta e

ficarmos parados diante das mudanças que precisamos fazer, isto é, agir com a mudança de

atitudes não relevantes para algo mais concreto.

A expectativa de acertar é presente nos planejamentos realizados por muitos

professores, mas a intenção e a veracidade do que se está trabalhando devem ser aliados aos

ensinamentos, surgindo, então, mais uma característica a ser explorada pelo professor

narrador, esse sujeito com tantas habilidades, experiências que foram valorosas ou não, visto

que não existe um modelo de educação pronto e correto a ser feito.

A literatura infantil está associada à questão da educação, pelo fato de uma

complementar o sentido da outra, assim a escola passa a ser uma aliada durante esse processo

(21)

Com o início da escolaridade da criança, fatos novos que observamos que acontecem

cada vez mais cedo, escolas estão algumasrecebendo crianças com quatro meses de vida, a

instituição abre as possibilidades para um mundo novo. Os alunos, então, vivenciam diversas

situações, experimentam materiais, conhecem ambientes novos, aprendem a socializar com os

sujeitos envolvidos no processo.

A intenção para a contação deve acontecer a partir das vivências que o professor

narrador possibilita aos seus alunos; ela precisa mover, dar sentido, criar um significado, pois

estamos diante de uma arte. O desafio é conquistar e causar, sair do marasmo e criar uma zona

instável e criativa,um encantamento nesse aluno; ainda que ele não seja alfabetizado,

precisamos semear o encantamento pela leitura, o gosto pelo mundo das letras, isso é

construído com os exemplos que observa.Para tanto, podemos estimular tais práticas com

atitudes simples, tais como músicas, brincadeiras cantadas, leitura de um panfleto, leitura de

uma receita, escrita de regra de brincadeiras, combinados de sala, praticamente todos os

eventos que vivemos tem essa intenção de leitura e,por meio deles, estimulamos várias áreas

de conhecimentos, favorecendo e ampliando,também, a linguagem e o vocabulário;

assim,podemos refletir sobre as práticas que abordamos diariamente em sala de aula e como

elas nos auxiliam nos desafios encontrados.

A escolha dos temas em sala de aula, os planejamentos elaborados pelos professores

devem fazer um sentido, visto que a aprendizagem é realizada pelas interações com o

ambiente, com o espaço e com os sujeitos inseridos nesse processo.

A contação de histórias tem sua importância em vários aspectos: ela envolve estudos

de ritmos, cadências, reflexão e compartilhamentos de múltiplos sentidos. O sujeito que

escuta está diante de alguém que traz a palavra, a sonoridade e o movimento.

O professor, durante os anos iniciais, está preocupado com questões que envolvem

desde a adaptação da criança na sociedade escolar às questões cognitivas desses. Percebi que

os docentes usam estratégias diferenciadas e lúdicas no intento de aproximar os aprendizes

essa realidade acadêmica. Conformeexpressona Lei das Diretrizes de Base da Educação, a

criança tem o direito ao desenvolvimento integral, o aspecto linguístico está incluído nesse

desenvolvimento, a contação de história favorece essas atividades por contribuir com o

imaginário, o desenvolvimento da linguagem, entre outros pontos. Cajal (2001) fala que a sala

de aula tem uma troca de influência que o outro sujeito oferece:

(22)

pelo conjunto das ações dos alunos, das reações do professor às ações e reações dos alunos, pelo conjunto das ações e reações dos alunos entre si, cada um interpretando e reinterpretando os atos próprios e os dos outros. (CAJAL, 2001, p.128).

Para Campos (1997), a criança deve ter o acesso aos livros ainda que não saiba ler no

momento, trabalhando, com isso, a ampliação do seu vocabulário e o incentivo à leitura.

Existem hoje no mercado vários tipos de livros com materiais que facilitam esse manuseio,

porém é uma realidade distante das crianças que os pais não têm condições financeiras de

comprar tais livros, ficando a cargo da escola essa compra, outra parcela que também não

dispõe de recursos, quando falamos em escolas públicas. O Estado, que deveria garantir esse

acesso aos alunos, também não estimula para essa vertente de aprendizagem; encontramos as

bibliotecas das escolas públicas, em muitos casos, completamente sucateadas, livros antigos

(quando pelo menos algumas dispõem), mal-cuidados, com edições fora do padrão

ortográfico.Faltam, também, projetos nas escolas para a contação de história e cursos de

formação com reciclagem para os professores.

O professor, durante sua vivência na faculdade, é apresentado a muitas teorias, no

entanto, quando partem para a sala de aula, apenas nos estágios,etapa em que a teoria e a

prática deveriam partilhar das mesmas aprendizagens, é assoberbado com a realidade

encontrada.Algunsprofessores também ficam na zona de conforto por não terem material

suficiente, deixando sua prática comprometida por mero comodismo.

Para trocar e partilhar conhecimentos no mundo da contação de história, os professores

usam diversas estratégias, tais como tecidos, música, brinquedo, caixa, sonsdiferentes,

adereços, combinado a toda essa estrutura falam com um tom de voz diferente, experimentam

ser esses personagens dos livros ou, ainda, narram apenas os fatos para que todos saibam o

que aconteceu nahistória.

Durante a leitura ou escuta de uma história pode haver uma variedade muito grande de experiências misteriosas que, quando pequena, a criança conhece muito bem. Tais experiências vão aos poucos constituindo as árvores do fundo de sua floresta interior. Á medida que ela cresce, começa a dar importância apenas àquele tipo de experiência. (MACHADO, 2015, p. 527-528).

O desafio encontrado nessa prática é tornar o conteúdo do livro em pedagógico, não

configurando como algo que serve apenas para entreter as crianças, ou alguma atividade para

acalmar os alunos durante a aula. Precisa ir além do mundo real e fazer sentido para o

imaginário, contribuir, de fato, para uma integração entre a criança e o mundo a ser explorado.

Muitos professores utilizam a contação de história para trabalhar a

(23)

mas devemos analisar se essa atividade é realmente adequada tratando-se de contar histórias

em sua essência.

O educador deve procurar agir como elemento incentivador do interesse das crianças pelo enredo, comportando-se não somente como leitor (mediador) das histórias, mas, também, demonstrando entusiasmo e curiosidade, como mais um ouvinte - participante no mundo do imaginário. Essa postura deve ser reforçada particularmente quando escutar as posteriores "leituras" que as crianças fazem das histórias lidas; (...) o educador deve ter sua atenção voltada para a qualidade da criação, a estruturação da 58 narrativa e suas adequações à língua materna, procurando não perder de vista o interesse manifestado pelas crianças (SIMÕES, 2000, p. 26).

Na virtualidade,há inúmeros exemplos de contadores de histórias.Vídeos

ensinam,igualmente, quais os melhores métodos devem ser utilizados com os alunos, quais os

tipos de abordagem, entre outras informações. Todavia, o professor é quem deve conhecer

seus alunos, de modo que precisa buscar a melhor estratégia e deixar a história acontecer em

seu ambiente, à luz de suas próprias práticas.

Devemos refletir que,no momento da contação de história, cada passo é integrante de

um conjunto de abordagens, uma música, Era uma vez... e assim a história começa; os

recursos dispostos só fazem diferença com a importância que o contador dá aos elementos

presentes na história. Após o momento da contação, as crianças da educação infantil fazem

um reconto, ou são indagadas sobre qual a parte da história mais chamou sua atenção, algo

que é muito interessante, posto que cada criança relata o que foi contado à sua maneira,

amplia seu vocabulário, escuta com atenção, quando possível, o que o outro tem a dizer.

Muitos professores, após o reconto,solicitam, ademais, um registro gráfico do momento;

geralmente os alunos desenham o que mais gostaram da história e/ou personagemque mais lhe

chamou sua atenção.

Para que uma estória realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a perturbam. Resumindo, deve de uma só vez, relacionar-se com todos os aspectos de sua personalidade - e isso sem nunca menosprezar a criança, buscando dar inteiro crédito a seus predicamentos e, simultaneamente, promovendo a confiança nela mesma e no seu futuro. (BETTELHEIM, 2002, p.5).

Percebemos que os professores usam diversas maneiras para ensinar por meio do

mundo da história; o mundo do faz de conta é cheio de possibilidades. O imaginário da

criança tende a ganhar com esse tipo de prática específica, no entanto devemos analisar o que

(24)

4 METODOLOGIA

Para Gil (1991, p.30), “[...] o estudante inicia o processo e pesquisa pela escolha de

um tema, que por si só não constitui um problema. Ao formular perguntas sobre o tema,

provoca-se a sua problematização”. Assim, nas etapas de desenvolvimento deste estudo,

foram consideradas as etapas importantes descritas pelo referido autor, de modo que foi

definido o tema e sua problematização a partir das questões norteadoras e experiências

pessoais e profissionais da pesquisadora.

Após a escolha do tema, foram elaboradas as questões norteadoras e traçadas as

estratégias de observação de campo e definido o percurso da pesquisa. Com a finalidade de

alicerçar teoria e prática, foi realizada, também, uma revisão da literatura.

A ideia de teoria, ou a capacidade de explicar e entender as descobertas da pesquisa em um marco conceitual que faça sentido com os dados, é a marca de uma disciplina madura, cujo objetivo é o estudo sistemático de fenômenos particulares. No nosso caso, como pesquisadores sociais, esses fenômenos são a dinâmica, o conteúdo, o contexto e a estrutura das relações sociais.(MAY, 2004, p.44).

De acordo com Andrade (2004, p.16), “[...] a pesquisa científica é o conjunto de

procedimentos sistemáticos, baseados no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar

soluções para os problemas propostos, mediante o emprego de métodos científicos”.

Nesta pesquisa foi utilizado o estudo de campo, observações e entrevistas pela

necessidade de conhecer e observar o ambiente a ser investigado, os sujeitos e a comunidade

envolvida no processo e vivenciar as práticas abordadas pelas professoras, além disso, esse

trabalho possui uma abordagem qualitativa e objetivos explicativos.

A observação constitui elemento fundamental para a pesquisa. Desde a formulação do problema, passando pela construção de hipóteses, coleta, análise e interpretação dos dados, a observação desempenha papel imprescindível no processo da pesquisa. É, todavia na fase de coleta de dados que o seu papel se torna mais evidente”. (GIL, 1999, p. 110)

4.1 Os sujeitos da pesquisa

Os sujeitos investigados foram cinco professoras daeducação infantil.O foco foi

direcionado para elas devido à escolha do tema. As professoras que responderam ao

questionário têm idade entre 28 e 40 anos, todas possuem graduação em Pedagogia, uma delas

(25)

Infantil V, porém é importante destacar que, de acordo com as normas da instituição em que o

estudo se deu, nem sempre elas permanecem na mesma série que ensinam no ano seguinte,

existe um rodízio de salas pela escola, podendo, então, serem alocadas em qualquer turma da

escola.

Segue, mais detalhadamente, o perfil das referidas professoras:

Tabela 1 com perfil das professoras

PROFESSORA IDADE EXPERIÊNCIA TURMA

A 28 ANOS DEZ ANOS DE

EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO, GRADUADA EM PEDAGOGIA.

INFANTIL II

B 33 ANOS QUINZE ANOS DE

EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO, GRADUADA EM PEDAGOGIA

INFANTIL III

C 34 ANOS DOZE ANOS DE

EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO, GRADUADA EM PEDAGOGIA COM ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE. INFANTIL III

D 37 ANOS DEZESSEIS ANOS DE

EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO, GRADUADA EM PEDAGOGIA COM ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL. INFANTIL IV

E 40 ANOS DEZOITO ANOS DE

(26)

4.2 Lócus da pesquisa

O estudo foi realizado em uma instituição de ensino privado, com porte médio e,

aproximadamente, 450 alunos compondo o corpo discente. A instituição está localizada no

bairro Aldeota, em Fortaleza-Cearáe funciona nos turnos da manhã e tarde, tendo

modalidades de ensino do berçário (a partir de seis meses de idade) até o 1º ano do Ensino

Fundamental I. Na Educação Infantil, na época da pesquisa, no ano de 2017 eramoferecidas

24 turmas (do berçário até o Infantil V, entre manhã e tarde). Os alunos que estudam nesta

escola são oriundos da classe média de Fortaleza. O estudo de campo mostra que é importante

estudar um único grupo ou sua comunidade pela interação existente entre eles (GIL, 1999,

p.72.). Dessa maneira, a amostra da pesquisa foi diretamente com as professoras da educação

infantil que convivem diariamente com a realidade dessas crianças.

4.3 Instrumentos e técnicas de coleta de dados

Os instrumentos escolhidos para a coleta de dados dapesquisa foi o questionário,a

observação e o diário de campo,poissegundo Gil (1999, p.129), as respostas encontradas “irão

[...]esclarecer o problema da pesquisa”. Segundo o mesmo autor, o questionário é uma “[...]

técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões

apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões” (GIL

1999, p. 128).

O instrumento questionário dispõe de questões fechadas e abertas, possibilitando um

aspecto bem dialético entre objetividade e subjetividade. Ele está composto por 15

perguntas,sendo cinco questões abertas e dez questões fechadas, com a finalidade de conhecer

e detalhar as práticas abordadas. Depois de elaborado,o questionário foientregue às

professoras e dado um prazo de uma semana para que eles pudessem respondê-lo, visto que

estavam em seu ambiente de trabalho.

Outro instrumento utilizado na pesquisa foi à observação de campo, e Gil (2006) afirma que

existem cinco componentespara essa técnica, são eles:objeto de observação; o sujeito da

observação; as condições de observação; sistema de conhecimentos e o meio.Além também

da fundamentação das observações no diário de campo, a pesquisa pôdeser acompanhada no

que diz respeito ao processo, fincada com a teoria e as aprendizagens significativas que os

(27)

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

De acordo com as observações feitas chegamos aos dados listados abaixo, cada um

com sua característica específica e as análises de casa sala com seus respectivos sujeitos nos

trouxeram informações importantes de sua realidade.

Ao entrar nas salaspara fazer as observações, percebi sempre que,na maioria, havia um

ambiente aconchegante para o grande momento da contação de história, fato que deve ser

levado em consideração, pois as crianças ficam envolvidas durante todo o momentoe

buscavam conhecer a história nos seus mínimos detalhes. As professoras sempre utilizavam

estratégias diversas, por vezes, apareciam com chapéus coloridos, óculos com formatos

diferentes, tecidos com cores vibrantes, adereços com barulhos, enfim, verdadeiras “mágicas”

aconteciam nas salas.

Kato (1999)diz que quando as crianças têm o contato com o mundo da contação de

história, aindaque elas ainda estejam no processo de aprendizagem e aquisição de leitura e

escrita, conseguem adquirir uma consciência de elementos que podemos diferenciar o mundo

da leitura e o mundo da escrita.

Machado (2015, p. 69), por sua vez, relata que existe uma corda que vamos

construindo fio a fio no imaginário das crianças, a arte da palavra tem esse adjetivo também,

uma forma de pensamento e entrelaçamento entre a criança e o mundo.

Existem muitas possíveis manifestações dessa arte, que além da narração de contos inclui algumas formas teatrais, alguns tipos de performances, bem como a ampla variedade de invenções da cultura tradicional, como as adivinhas, os trava-línguas, as brincadeiras das crianças, os romances (histórias cantadas), os cordéis, os desafios como os do Nordeste brasileiro e a poesia oral presente nos brinquedos dramáticos: o ciclo do boi, o cavalo marinho, os presépios e muitos outros. (MACHADO, 2015, p. 69).

As professoras investigadas tinham como objetivo muito claro a prática da contação de

história em sala de aula como um elemento do planejamento. Essa experiência vivida por elas,

durante anos,fazia parte da sua rotina de sala. Ao convidar seus alunos para essas

atividades,faziam,inicialmente, uma roda. Elas solicitavam que as crianças sentassem em

círculos, em seguida, era cantada uma música que simbolizava o momento da história. Cada

sala tinha uma música diferente para cantar, as letras remetiam sempre que “a hora da história

já chegou”, “atenção,concentração”, “uma linha ligada da tua mão até o coração”. E eram

perceptíveis a alegria e a expectativa queas crianças tinham por esses momentos.

Em uma das observações, eu estava na sala de InfantilIII, da professora B, os alunos

(28)

outros; assim que entraram na sala, já se dirigiram direto para o tapete, que era bem colorido,

deitavam e ficavam esperando os comandos da professora. Eis, então, que a docentesurge com

a figura de um jarro de planta vazio, em seguida mostrou outra: o jarro de planta agora tinha

um caule e pequenas folhas;em seguida mais uma figura para finalizar, em que havia uma flor

completa. Após a exibição das gravuras, aprofessoraperguntouaos alunos o que eles tinham

visto, todos responderam que era o nascimento da flor. Acontadora, então, disse-lhes que eles

iriam construir uma história coletiva sobre o “Nascimento da flor”, e assim o fizeram.

Os detalhes encontrados aqui são muito significativos, como o imaginário das

crianças quesão capazes de construir uma história a partir das figuras apresentadas, além de

discutir, entre eles, o que estava acontecendo nas cenas.Aqui,são trabalhados muitos conceitos

pedagógicos e morais como, por exemplo, escutar o que o outro tem a dizer, aguardar sua vez,

partilhar e construir ideias juntos e, principalmente, contribuir para o mundo do imaginário

social da criança.

Passados esses momentos, a professora pediu que os alunos desenhassem em seus

cadernos o que mais lhes tinhachamado atenção na história contada. A maioria deles trouxe o

desenho de uma flor pronta, como está abaixo:

Figura 1: Aluno A, História “Flor”

(29)

Figura 2: Aluno B, História “Flor”

Fonte: Arquivo pessoal

Em outra sala,da professora C, observei, também, a contação de história do livro O

joelho Juvenal, do autor brasileiro Ziraldo. Essa outra professora pediu que os alunos

ficassem à vontade no tapete, alguns deitaram e ficaram esperando o momento da história. Ela

trouxe o livro como um presente para eles. O rito iniciou com a música que falava de antenas

e ligar um botão; em seguida, a professora abordava toda a história lendo e mostrando as

páginas do livro, o envolvimento dos alunos era bastante interativo, sempre argumentavam

qual o motivo do joelho, o personagem principal da história, estar naquela situação1.

Após o desenvolvimento da história, a professora C desenhou no joelho de cada

criança uma carinha, com lacinho para as meninas e boné para os meninos, foi um momento

de alegria geral. Depois, eles foram para o caderno de desenho e desenharam qual a parte da

história que mais lhes havia chamado atenção.

1

(30)

Figura 3:Aluno C, Joelho Juvenal

Fonte: Arquivo pessoal

Em uma terceira observação,professora B, vi a contação de história de um clássico

conhecido por todos, Os três porquinhos. Nessa proposta, a professora trouxe o palitoche. Os

alunos esperavam ansiosamente por essa narrativa. Ela contava os fatos e os olhos das

crianças brilhavam. Interessante é que por mais que eles já conhecessem todo o desfecho da

narrativa, ficavam na expectativa para o que ia acontecer com os personagens. A professora

conseguia a atenção das crianças com facilidade, ela mudava a entonação da voz, tinha um

desempenho bem teatral e isso chamava a atenção dos alunos.

Figura 4: Palitoches dos personagens da história “Os três porquinhos”

(31)

Figura 5: Desenho do aluno D sobre os personagens da história “Os três porquinhos”

Fonte: Arquivo pessoal

Na penúltima sala, observei a contação de história do livro Regina e o mágico, de

Sonia Junqueira. Inicialmente, a professora trouxe um baú com algumas figuras de

personagens. Eles tinham um projeto de sala chamado de "Circo “e a temática da história era

para trabalhar a figura do mágico. Ela abordou toda a narrativa e fez o fechamento do

(32)

Figura 6: Desenho do aluno E sobre os personagens da história “Regina e o mágico”

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 7: Desenho do aluno F sobre os personagens da história “Regina e o mágico”

Fonte: Arquivo pessoal

Observando a sala do infantil V, a professora E trouxe a proposta da contação de

história do clássico Rapunzel, os alunos estavam deitados no tapete e ela usou o recurso do

(33)

livremente com massinha, como resultado da história a maioria das crianças modelaram os

personagens do enredo.

Figura 8: Modelagem do aluno G sobre a Rapunzel

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 9: Modelagem do aluno H sobre a Rapunzel

Fonte: Arquivo pessoal

Fonte: Arquivo pessoal

(34)

Figura 11: Modelagem dos alunos K sobre a Rapunzel

Fonte: Arquivo pessoal

Fonte: Arquivo pessoal

(35)

Figura 13: Modelagem do aluno M sobre a Rapunzel

Fonte: Arquivo pessoal

Os elementos apresentados nas imagens têm algo com um diferencial: são as

impressões que cada sujeito tem a partir do que escutou, além de suas habilidades com o

material disposto. Tais elementos são perceptíveis, tais como as características dos

personagens, que aparecem com traços firmes e com intenção, é o sentimento de cada criança

contido nesse pequeno espaço, embora,muitas vezes, o papel é o recurso mais usado. No

entanto, como vimos nas figuras, também é feito o uso com outros tipos de materiais como

massinha de modelar, algumas pessoas usam o recorte, a pintura.

Ademais, vale ressaltar a importância que cada contador de história impõe ao

elemento apresentado: não basta simplesmente contar algo escrito no livro, sem uma

entonação adequada, ou contar um causo com veracidade daquilo que se contam, todos esses

meios passam pelo fio do sentimento e, em cada pessoa, esse fio é de uma maneira diferente.

O indivíduo carrega consigo o fio de acordo com o que viveu e a intensidade do fato, portanto

passar essa relação de afeto para as crianças não é uma atividade simples e sem significado. A

contação da história está aflorada na pele de todos os contadores, não é algo apenas como um

dom, porém também com a vontade de contar e de fazer algo diferente para as pessoas.

As professoras utilizam vários recursos, ainda que, na maioria das vezes, é o livro o

mais usado, porém tentam incrementar a atividade com tecidos, óculos, vestimentas, cenários,

ou simplesmente palitoches. Elas buscam estratégias que vão de atitudes simples, como contar

uma história e buscar em revistas características dos personagens. Utilizam, além

disso,bastante das representações gráficas para os alunos, nesse aspecto é trabalhado tanto a

intencionalidade do desenho como os elementos que as crianças trazem em seus rabiscos.

Músicas, passeios, sacolas com surpresas são outros recursos que elas buscam em seu

(36)

Podemos observar que, durante todos esses momentos de contação de história, não

existia apenas o momento livre, existia a arte de contar para encantar, a arte da palavra como

forma de povoar a imaginação. Fato interessante é que, de acordo com o questionário,quando

perguntamos às professoras quais as memórias de infância que elas tinham relacionadas à

contação de história, aparece a figura de alguém que lhes era próximo, como um parente, um

conhecido na rua onde moravam, uma avó, mas nunca como referência à escola no aspecto de

contar e encantar através da história.

Os clássicos são ainda os preferidos das crianças, que as permitem viajar no mundo da

imaginação, por vezes elas já conhecem a contação, porém fazem questão de ouvir

novamente, de acordo com as respostas dos questionários, e das anotações do diário de

campo, de participar e encantar-se com essa arte milenar e cheia de traços que é a contação de

um clássico infantil.

Então, cabe-nos uma reflexão: que tipo de leitores estamos formando? A partir de

quais práticas eles são ensinados? Machado (2015) afirma que ahistória não deve apenas ser

um elemento do planejamento que serve para passar um conteúdo, é algo com raízes

profundas. Nossas memórias de infância precisam dessa configuração para nossa formação

moral e social. A criança aprende a partir de sua interação, já dizia Piaget (1977), com o meio

que vivencia; na prática, não basta colocar a criança na sociedade escolar e deixá-la que tenha

a curiosidade, o exemplo também corrobora para esse aprendizado.

Contemporâneos acostumam as crianças a vivenciar narrativas desprovidas de sentido. O famoso exercício de “vamos inventar uma história” também corre esse perigo. Do mesmo modo, é muito “moderno” modernizar a Cinderela, muito criativo etc. Mas quando essas propostas não trabalham o sentido, a ordenação interna, as relações entre as partes da sequência narrativa, as invenções das crianças são convencionais e repetitivas. É bom, é importante inventar e recriar histórias, desde que esse trabalho seja acompanhado de um conceito claro do que é uma narrativa, qual seu propósito, função e estrutura. (MACHADO, 2015, p.602).

Observamos como as professoras buscam estratégias diferenciadas, é um material

novo, algum adereço que faça barulho, óculos coloridos, um chapéu ou simplesmente um baú

de ideias, no entanto a prática fica apenas como um mero enfeite que elas usam em sala. O

grande mistério é um tipo de experiência que alimentamos a partir dos elementos que

vivemos.

Em uma das salas vi uma experiência encantadora com elementos simples, que

despertou nas crianças muito interesse e vontade de partilhar o que estava vivenciando. A

professora promoveu o momento de contação de uma fábulachamada Rato do campo e o rato

(37)

Figura 14: Materiais utilizados

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 15: Materiais e desenho das crianças

(38)

Figura 16: I Relatos das crianças sobre os personagens da história

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 17: II Relatos das crianças sobre os personagens da história

(39)

Figura 18: III Relatos das crianças sobre os personagens da história

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 19: IV Relatos das crianças sobre os personagens da história

Fonte: Arquivo pessoal

Observamos que bastam materiais simples, como uma palha de aço, pedaços de tecido

e uma contação com significados para ampliar o imaginário das crianças e enriquecer seus

aprendizados, vejamos o quanto essa ação pode trazer em gestos singelos.

O sentido de encantar fica adormecido (pela necessidade)nessas professoras. Por mais

que elas tentem, acabam sendo vetadas pela “falta de tempo” ou pela quantidade de demandas

(40)

apresentadas às crianças como um mero exercício enfadonho, um elemento ligado à prática da

leitura e escrita.

Portanto, as crianças sabem muito mais do que supomos. O que ocorre é que as escolas, em geral, desviam e amarram a atenção das crianças no cabresto do binômio certo/errado. Nesse sentido, a ação dos educadores pode ajudar ou atrapalhar o percurso de aprendizagem dos alunos. Se uma criança entende que saber escrever depende exclusivamente de sua capacidade de manipular regras exteriores, que vão desde leis gramaticais até expectativas de sucesso normatizadas pela escola, ela não encontra nessas fórmulas o que sua vontade de saber lhe dita. Percebe-se então tolhida e impotente. Não lhe oferecem tempo e corda para as roupas secarem ao sol. Do mesmo modo, se é levada a ler ou escutar histórias apresentadas como tarefa escolar para cumprimento e avaliação de seu desempenho, o universo da arte da palavra lhe escapa, já que a via de acesso que se oferece a ela não é o encantamento, mas a realização de conteúdos programáticos, na maioria das vezes enfadonhos e obscuros. (MACHADO,2015, p.123)

Contar uma história desperta na criança tantos sentimentos e, principalmente, a

imaginação.Podemos remeter nossa infância ao Sítio do Pica-pau Amarelo, a seus

personagens, que são memoráveis. Muitas crianças sonham em ser a Narizinho e o Pedrinho

para viverem grandes aventuras; dona Benta, por exemplo, virou um clássico de modelos de

avós que as pessoas gostariam de ter. Monteiro Lobato, no início, não dispunha de recursos

financeiros, não tinha grandes materiais, nem um baú fantástico, mas nele tinha a imaginação,

a criatividade, o fio da meada do contador de história.

Devemos fazer um exercício para apresentar as crianças livros com texturas diferentes,

vivemos com inúmeras possibilidades de materiais diversificados de livros, contamos,

inclusive, com os recursos que a internet proporciona, que podem ser usados na hora da

contação da história. Mas, o exercício da imaginação, do encantamento, são pontos que

carregamos expressões sentimentais a respeito do contar são folhas que colamos aos poucos

na árvore da vida.

Imagem

Tabela 1 com perfil das professoras
Figura 1: Aluno A, História “Flor”
Figura 2: Aluno B, História “Flor”
Figura 4: Palitoches dos personagens da história “Os três porquinhos”
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