MAURÍCIO DA SILVA GOMES
OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
E O DIREITO À EDUCAÇÃO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA
MESTRADO EM DIREITO
SÃO PAULO - 2007
MAURÍCIO DA SILVA GOMES
OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
E O DIREITO À EDUCAÇÃO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
SÃO PAULO - 2007
MAURÍCIO DA SILVA GOMES
OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
E O DIREITO À EDUCAÇÃO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA
SÃO PAULO
2007
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas que, de uma forma ou de
outra, colaboraram para a produção desta dissertação, em especial as pessoas que
me auxiliaram e deram constantes estímulos, além de acreditarem que eu poderia
fazer.
A minha família, que é a razão fundamental de poder
realizar o presente trabalho, com especial destaque a meu pai Osvaldo Gomes, in
memoriam, eternamente presente em minha vida que sempre me apoiou, protegeu e
educou, transmitindo importantes valores, virtudes, coragem e simplicidade, que hoje
e sempre farão parte do meu caráter.
A minha mãe Darci da Silva Gomes, sinônimo de
dedicação aos filhos, que sempre permitiu que eu pudesse alçar vôos com a certeza
da sua preciosa companhia, sempre fornecendo segurança e educação, como
agente da minha transformação no fato de ser um homem preparado para enfrentar
o mundo com a certeza que tinha o necessário para o crescimento que é preciso
Aos meus irmãos Eduardo da Silva Gomes e Renata da
Silva Gomes por me apoiarem em todos os caminhos, bem como ao meu grande
amigo Nilso Santos Silva por ter sido, mais que um amigo incentivador, mas,
também, por ser “os meus olhos” quando desde a Faculdade de Direito, passando
pela Especialização e atualmente no Mestrado, sempre realizou as leituras
necessárias dos livros que precisava.
Agradeço, também, a preciosa presença de minha
psicóloga Silvia Maldone pela grande contribuição em minha vida, colaborando no
descobrimento das minhas capacidades.
Aos meus professores que me acompanharam pelo Curso
de Direito e que certamente foram os exemplos fundamentais em que eu me inspirei
para tornar-me um operador do direito, com os grandes ensinamentos que recebi em
especial do professor Silas Rodrigues, em memória por suas preciosas aulas sobre
a Introdução do Direito e que me dava muito mais que ensinamentos doutrinários, ao
professor Eraldo Teixeira Ribeiro, pelos ensinamentos de como deve ser feita a
aplicação das leis e de como atuar com prática e agilidade, ao professor Sergio
Mendonça, pelos ensinamentos dos direitos inerentes às questões das pessoas com
deficiência nos diversos aspectos que a Constituição Federal brasileira apresenta.
A professora Eliza da Penha de Melo Romano dos Reis,
por ensinar como ser um advogado que leva o direito a quem precisa, sempre
lastreado no profissionalismo, na ética e com humildade, onde juntamente com o
professor Sidnei Romano dos Reis, me transmitiram exemplos que procuro seguir e
Ao professor Jerson Carneiro, por reconhecer e estimular
o potencial existente nos alunos que têm a possibilidade de assistirem suas aulas,
marcando com seus ensinamentos a vida de cada um de seus alunos e despertando
a inspiração pelos caminhos do magistério por reconhecer em sua pessoa que
“ensinar também é apreender”.
A minha orientadora professora-doutora Maria Garcia, por
ser a responsável em despertar o prazer pelo conhecimento e pelos estudos com
visão interdisciplinar do direito e das ciências.
Aos amigos de sala de aula que me ajudaram nas horas
em que solicitei suas atenções, quando fui prontamente atendido de maneira a
conseguir realizar minhas tarefas e desenvolver os eternos e marcantes laços de
amizade nesta Universidade.
Agradeço aos funcionários do setor de apoio à pessoa
com deficiência (multimídia) da Universidade da Cidade de São Paulo (UNICID), que
permitiu um pleno acesso a todas as obras que necessitavam de digitalização.
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC/SP) que tornou possível a concretização deste mestrado.
Ao padre Geraldo da Paróquia São Miguel Arcanjo e a
Por fim, a Deus que sempre me abençoou e inspirou
mantendo acesa a chama da forte crença de que tudo é capaz e que sempre fez
parte da minha pessoa e que contribuiu para esta realização.
RESUMO
Este trabalho de dissertação pretende abordar o direito à educação da pessoa com deficiência, para tanto, utilizará os princípios da Constituição Federal brasileira apresentando-os com característica de norma.
Nesse sentido, o referido trabalho busca demonstrar a utilização dos princípios constitucionais, destacando todo ordenamento pátrio e mostrando como é possível interpretar com enfoque principiológico o direito à educação.
Essa abordagem surge do fato de buscar nos princípios a fonte originaria da busca do direito, sendo assim, ampliam-se as perspectivas que garantem esse direito na Constituição Federal de 1988, além dos artigos referentes à temática da educação existentes na Carta Magna e que, também, é possível ampliar essa tutela através dos princípios constitucionais.
Para essa finalidade destaca-se a contribuição da família que é quem recebe a pessoa com deficiência e que será inicialmente responsável para não inibir essa preparação, que será continuada pelas escolas especiais ou não, dependendo do tipo de deficiência e que ajudará na preparação e formação profissional da pessoa humana.
PALAVRAS CHAVES: educação; acesso à educação; educação e direito das pessoas com deficiência; educação e instrumentos de garantia; princípio da dignidade da pessoa humana.
ABSTRACT
This present study aims to look at the importance of the right to education in the Brazilian constitution. It looks at the constitutional rules and at civilian proceedings at the present time.
This research investigates some ways witch put into practice education polices and techniques as a means to integrate the disability person in society, and shows how society can benefit from such polices. It demonstrates that education of disability person can make the world better.
KEY WORDS: education; access to the education; education and rights for disability person; education and procedural norms; principle of the dignity of the human being.
SUMÁRIO
Introdução
1. Os princípios constitucionais como vetores da educação
...13
2. O capítulo da educação na Constituição Federal brasileira e a análise
sistêmica dos princípios constitucionais...27
3. A educação familiar, a educação escolar e a educação profissional com a
finalidade de uma educação universalista e humanista da pessoa com
4. A influência da educação na vida da pessoa com deficiência
...57
5. Os instrumentos de garantia do direito à educação da pessoa com
deficiência...75
Conclusão
INTRODUÇÃO
O presente trabalho de dissertação visa discutir as
questões ao direito à educação que a pessoa com deficiência possui e que
possibilita sua real inclusão e acesso a uma qualidade de vida com dignidade e
respeito.
Nesse sentido o presente trabalho acadêmico abordará
destacando o enfoque educacional direcionado à pessoa com deficiência e,
utilizando os referidos princípios para garantir a aplicação de políticas de inclusão
social que possibilitem reais condições de sobrevivência da pessoa com deficiência
na sociedade globalizada.
Dessa forma no primeiro capítulo serão abordados os
princípios constitucionais que surgem na Constituição Federal brasileira e que
servem de vetores para o desenvolvimento do direito à educação e a formação da
pessoa com deficiência.
No segundo capítulo o enfoque recairá nas questões
inerentes à análise dos princípios constitucionais presentes, especialmente, nos
artigos 205 e 206 da Constituição Federal que versam sobre a temática da
educação, pelo enfoque sistêmico das implicações favoráveis desses dispositivos
normativos, com o intuito de se buscar nos instrumentos de ação já existentes um
maior alcance que a norma interpretada possa ter, sem contar da necessidade da
proteção do núcleo constitucional como forma de garantir a Justiça Social, a
democracia e o bem comum.
Quanto ao terceiro capítulo, serão apontados os aspectos
positivos das variadas formas de educação, com atenção especial em relação à
temática da educação familiar que prepara o individuo para conviver em sociedade,
bem como à educação escolar que forma intelectualmente essa pessoa com
deficiência, tudo isso para possibilitar a educação profissional que visa formar um
individuo capaz de produzir e dessa maneira poder, também, conviver em sociedade
A temática da discussão deste trabalho sempre estará
centrada no contexto geral da educação universalista, que, por seu turno, busca
trazer na formação da pessoa com deficiência uma educação voltada para os ideais
humanistas.
O quarto capítulo indica a importância da educação na
vida da pessoa com deficiência, com seus aspectos relevantes da formação pessoal
e da própria sociedade, de maneira a se vislumbrar que essa pessoa seja um
multiplicador da educação inclusiva.
De outro lado, o quinto capítulo busca estudar os
instrumentos de garantia do direito à educação, com a posição de se elevar os
princípios ao patamar de norma, fazendo da educação da pessoa com deficiência
uma nova e melhor forma de inclusão social focada no ato educacional,
proporcionando independência e condições de realização da pessoa com
deficiência, como ser humano digno de exercer seus direitos e deveres, como
preconizado na Constituição Federal.
1.
OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS COMO VETORES DA
EDUCAÇÃO
A mudança da sociedade, bem como as transformações
existentes ao longo dos anos nos diversos campos das ciências sociais permitem
observar, claramente, que os “vocábulos” antes precisos hoje se tornaram
Assim o Direito possui uma forte característica que torna a
sua aplicação possível e que vem da sua origem e na formação ocorrida na
passagem dos séculos até a estruturação do conteúdo dos princípios existentes nas
Constituições dirigentes dos países.
Pode-se dizer que os princípios fazem com que seja
erguida a história do direito por conter em seu bojo uma carga semântica de valores
que, antes de tudo, traduz todo o movimento que houve e as transformações que
possibilitaram a concretização de um determinado princípio.
Dessa maneira, apresenta-se a importância do estudo
desse instituto que no sistema jurídico surge como verdadeira coluna de sustentação
do edifício chamado Direito.
A relevância dos princípios está demonstrada fortemente
na Constituição Federal brasileira de 1988 pela presença de inúmeros princípios que
aparecem de forma explicita e implícita.
Assim, tanto o conhecimento como a utilização adequada
dos referidos princípios se faz necessário para que os cidadãos brasileiros utilizem
toda a essência contida em um principio constitucional, a fim de poder ver seus
direitos realmente exercidos de acordo com o que pleiteiam e desejam.
Nesse contexto, verifica-se que existem princípios que
ainda não são totalmente explorados como poderiam, seja por não estarem
desconhecido perante os interpretes e aplicadores do direito, sem dúvida que tal
afirmativa cause estranheza.
Isso é o fato comprobatório de que o direito sofre
transformações contínuas e o aspecto de interpretar os princípios como
mandamento normativo somente reflete essa atual e moderna tendência do direito
brasileiro.
Com isso decorre a expressão que a lei é feita para todos,
e disso não há duvida, porém a finalidade da lei é alcançar os indivíduos,
determinando ora direitos ora deveres.
A pessoa com deficiência não está excluída desse leque
de direitos e de deveres, portanto, o que ocorre é que reside um desconhecimento
das leis protetivas, bem como há uma ausência do alcance dessas normas.
O que motiva essa carência, entre outras razões é a falta
de educação, sendo preocupante, então, a adequação das normas com sua real
destinação final, ou seja, que as leis devem se preocupar com o bem estar do
portador de deficiência.
Nesse sentido é que se deve buscar a finalidade das
bases de direito pátrio e pôr em efetividade o alcance desejado do bem comum, sem
esquecer que a Constituição deve ser o ponto de partida da concretização do
“A Constituição não configura, portanto, apenas expressões de um ser, mas também de um dever ser; ela significa mais do que o simples reflexo das condições fáticas de sua vigência, particularmente as forças sociais e políticas. Graças à pretensão de eficácia, a Constituição procura imprimir ordem e conformação à realidade política e social.”1
Antes de analisar especificamente os princípios
constitucionais que servem de vetores para a proteção da pessoa com deficiência
importante apontar o significado da palavra “princípio” e sua definição no campo do
direito.
A conceituação do termo “princípio” é essencial até
mesmo na fixação da importância da sua utilização, porque tal como apontado por
Celso Antônio Bandeira de Mello:
“Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.”2
De outro lado, a doutrina de Ruy Samuel Espíndola
afirma que:
1
HESSE, Konrad. A força normativa da constituição. Tradução Gilmar Ferreira Mendes. Porte Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991, p. 15.
2 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Elementos de direito administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais,
“Na Ciência Jurídica, tem-se usado o termo princípio ora para designar a formulação dogmática de conceitos estruturados por sobre o direito positivo, ora para designar determinado tipo de normas jurídicas e ora para estabelecer os postulados teóricos, as proposições jurídicas construídas independentemente de uma ordem jurídica concreta ou de institutos de direito ou normas legais vigentes.”3
Essas definições acabam por remeter ao significado da
palavra “princípio” conforme disposto na língua portuguesa, tanto que o dicionário
Houaiss acaba por defini-lo como:
“1. o primeiro momento da existência (de algo), ou de uma ação ou processo; começo, início (...) 2. o que serve de base a alguma coisa;
causa primeira, raiz, razão. 3. ditame moral; regra, lei, preceitos.”4
O princípio, dessa forma, é um revelador do conjunto de
regras e preceitos de um povo, mais importância até que a própria regra jurídica,
pois, são dos princípios que todos os pontos básicos da ciência jurídica partem.
Além disso, os princípios jurídicos constitucionais
efetivamente não só influencia o direito de um povo, como também a compreensão
do teor da Constituição vigente, especialmente a brasileira que consagra uma
verdadeira carta de princípios constitucionais.
3
ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais: elementos teóricos para uma formulação dogmática constitucionalmente adequada. 1. ed. 2. tir. São Paulo: RT, 1999, p. 49.
4 HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Luiz Antônio Rizzatto Nunes bem apontou essa
importância ao afirmar que:
“O princípio jurídico constitucional influi na interpretação até mesmo das próprias normas magnas. É que, se um mandamento constitucional tiver pluralidade de sentidos, a interpretação deverá ser feita com vistas a fixar o sentido que possibilitar uma sintonia com o princípio que lhe for mais próximo.
Da mesma forma, se surgir uma aparente antinomia entre os textos normativos da Constituição, ela será resolvida pela aplicação do princípio mais relevante no contexto. Na realidade, o princípio funciona como vetor para o intérprete.
E o jurista, na análise de qualquer problema jurídico, por mais trivial que ele possa ser, deve, preliminarmente, alçar-se ao nível dos grandes princípios, a fim de verificar em que direção eles apontam. Nenhuma interpretação será havida por jurídica se atritar com um princípio constitucional.”5
Desse modo se verifica a importância da temática, pois,
com a compreensão dos princípios é possível realizar uma perfeita integração entre
a Constituição Federal e as demais normas infraconstitucionais. Na esfera do
pensamento de Joaquim José Gomes Canotilho, em seu ensaio “Direito
Constitucional”, dá-se a abordagem de uma detalhada pesquisa a respeito dos
diversos aspectos que envolvem os princípios constitucionais e suas características.
Com efeito, necessário é trazer à colação o que esse
renomado autor apresenta em suas palavras, justificando sua posição ao alçar os
Assim descreve o constitucionalista sobre os princípios:
“A teoria da metodologia jurídica tradicional distinguia entre normas e princípios (Norm-Prinzip, Principles-rules, Norm und Grundsatz). Abandonar-se-á aqui essa distinção para, em sua substituição, se sugerir: (1) - as regras e princípios são duas espécies de normas; (2) - a distinção entre regras e princípios é uma distinção entre duas espécies de normas.”6
Portanto, essa moderna visão do constitucionalismo,
apresenta-se fortemente no atual momento histórico, sendo encampada por juristas
e pela doutrina brasileira, de modo que nesse sentido é que se encontra o trabalho
realizado por Luiz Alberto Barroso, que em clara explicação, no capítulo reservado
aos “princípios”, tece significativa lição indicando estar superada a distinção que
outrora se fazia entre norma e princípio, tendo inclusive apontado os fatores
primários para que esta questão fosse considerada dirimida:
“A dogmática moderna avaliza o entendimento de que as normas jurídicas, em geral, e as normas constitucionais, em particular, podem ser enquadradas em duas categorias diversas: as normas-princípio e as normas-disposição. As normas-disposição, também referidas como regras, têm eficácia restrita às situações específicas às quais se dirigem. Já as normas-princípio, ou simplesmente
5
NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 37.
6 CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional. 6ª ed. revis. Coimbra, Portugal: Livraria
princípios, têm, normalmente, maior teor de abstração e uma finalidade mais destacada dentro do sistema.”7
Mais adiante, como bem apontado por esse autor, “os
princípios constitucionais são, precisamente, a síntese dos valores mais relevantes
da ordem jurídica”8, razão pela qual os princípios constitucionais são as regras
basilares da ordem jurídica que se comunicam por todo o sistema jurídico da Nação,
mostrando o norte a seguir e os caminhos que devem ser utilizados na busca do
bem comum e das metas de um povo.
Nesse aspecto é que não se pode transgredir um princípio
pois, quando isso ocorre, instransponível ofensa acaba por impedir qualquer tipo de
conciliação existente. Não se pode tergiversar em face da gravidade da situação
encontrada.
Logo, cabe ao jurista evitar ofensa à estrutura
principiológica da norma sistêmica constitucional e da própria estrutura do Estado,
tanto que Celso Antônio Bandeira de Mello ao tratar dessa questão na sua clássica
obra administrativista bem afirma que:
“Violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
7 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição - fundamentos de uma dogmática
constitucional transformadora. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 141.
8
inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais.”9
Isso ocorre porque os princípios constitucionais, conforme
apontado pela doutrina, são as normas que os legisladores constitucionais utilizam
como bases do novo texto constitucional, ou seja, os fundamentos essenciais da
nova ordem jurídica de uma Nação.
Assim, pode-se apontar que as normas constitucionais
estão divididas em duas classes ou espécies, conforme indica Luiz Roberto Barroso
quando as denominam “normas-princípio” e “normas-disposição”, divisão essa já
buscada pelo referido autor na doutrina luso-brasileira10, de tal forma que sua
explanação indica que “as normas-disposição, também referidas como regras, têm
eficácia restrita às situações específicas às quais se dirigem. Já as normas-princípio,
ou simplesmente princípios, têm, normalmente maior teor de abstração e uma
finalidade mais destacada dentro do sistema.”11.
Como se sabe, apesar de fazer parte das normas
constitucionais tanto as regras como os princípios, a finalidade do presente trabalho
visa principalmente recair o estudo sobre os princípios, no entanto, importante se faz
ressaltar as diferenças que existem entre princípios e regras.
9
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Elementos de direito administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1986, p. 230, apudBARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição - fundamentos de
uma dogmática constitucional transformadora. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 143.
10
Ocorre que se torna complexo diferenciar os princípios
das regras pelo fato deles apresentarem características mais difíceis e complexas
para se firmarem no meio dos cidadãos e produzirem seu fim determinado. Por isso
é que devem ser apontadas algumas características essenciais dos princípios,
diferenciando-os de forma fundamental das regras e seus enunciados.
Logo, em primeiro lugar destaca-se que os princípios são
normas com um “grau de abstração relativamente elevado”, depois, apontam a
clássica característica em “serem vagos e indeterminados”, carecendo de atividade
interpretativa por parte do legislador ou do juiz.
Outra característica é que os princípios são “normas de
natureza” ou que estão em destaque devido sua posição hierárquica em relação ao
sistema das fontes do direito e a estrutura do sistema jurídico vigente, conferindo
assim amplo destaque na sua aplicação à sociedade.
Importante destacar que os princípios são juridicamente
vinculantes nas exigências do ideal de Justiça e sempre estão buscando na idéia de
Direito a localização ou a defesa do bem comum, motivo pelo qual necessária a
constante proteção do sistema principiológico.
Portanto, observa-se que princípios “são fundamentos de
regras”, conforme apontado por Joaquim José Gomes CANOTILHO que bem explica
normas"; e Eros Roberto Grau, A ordem econômica na Constituição - interpretação e crítica, 1990, p. 122 e s.”.
11
“isto é, são normas que estão na base ou constituem a racio de regras jurídicas,
desempenhando, por isso, uma função normogenéticafundamentante”12.
A doutrina constitucional aponta duas classificações no
tocante aos princípios, visando facilitar a adequada utilização dos princípios na
estrutura das normas e da própria Constituição como manifestação soberana de um
povo.
A primeira divisão é tratada como os denominados
“princípios políticos-constitucionais”, e depois,, num segundo momento, como dos
denominados “princípios jurídicos-constitucionais” conforme bem aponta José
Afonso da Silva quando invoca o renomado Gomes Canotilho13.
Assim, os princípios políticos-constitucionais são as
decisões políticas essenciais ou fundamentais que estão materializadas nas normas
do sistema constitucional positivo de uma nação, acabam por indicar as próprias
opções políticas desse povo e da Carta Magna, ou seja, é o norte que o
congressista constituinte tem vinculado à diretriz que deve percorrer dentro do
ordenamento constitucional.
Os princípios jurídicos-constitucionais, por seu turno, são
aqueles denominados como “princípios constitucionais gerais informadores da
ordem jurídica nacional”14, que são derivados de normas constitucionais e podem
12
CANOTILHO, op. cit., p. 167.
13
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 19ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 82.
14
em muitos casos, até mesmo, se originarem dos princípios fundamentais, tal como
ocorre na hipótese concreta do presente trabalho, quando se observa a existência
de princípios que regem a educação, o ensino e a cultura.
De tal maneira que se pode assegurar que os referidos
princípios são derivados de outros, e que por serem fundamentais acabam por
indicar a aplicação da temática proposta, tal como ocorre com os princípios da
“cidadania” e da “dignidade da pessoa humana”, respectivamente presentes nos
incisos II e III do artigo 1º da Constituição Federal de 1988, como abaixo apontado:
“A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;”15
Nessa linha, deve-se lembrar que o consagrado princípio
da dignidade da pessoa humana, presente no ordenamento jurídico constitucional
pátrio, indica um norte para que os operadores do direito o utilizem de forma que
esse postulado se torne um vetor efetivo para que as pessoas com deficiência
busquem direitos tão longamente esquecidos e pouco aplicados.
O referido princípio representa o que há de mais
significativo em termos de tradução de direitos humanos, porque antes de tudo
15
demonstra em seu bojo estar implícita uma gama de direitos que a lei reserva e
concebe à pessoa com deficiência; além disso, tem o fato de que no seu conteúdo
principiológico permite a consagração de outras garantias constitucionais.
Ao tratar dos princípios constitucionais e do poder a eles
inerentes Maria Garcia acaba por concluir que:
“A Constituição, portanto, e seus princípios, serão os pontos norteadores da criminalização, determinantes na fixação de condutas sociais necessárias à convivência socialmente requerida, em termos de comunidade (...) O que pressupõe, como ressalva necessária, defluirem da Constituição os princípios fundamentais de defesa do indivíduo em face do poder estatal, como a possibilidade do Estado demonstrar-se protetor ‘dos valores fundamentais (os valores que ela própria, por essência, consagra)’, ou, numa outra perspectiva, ‘deixam de ser sempre e só direitos contra o Estado para serem também direitos através do Estado’” 16
A visão de sobre-princípio que é atribuída ao princípio da
dignidade humana denota nessa carga vocabular o fundamento último do direito,
uma vez que esse princípio está acima de tudo, ou seja, é um princípio máximo e
dessa forma fica claro que tudo existe para o ser humano.
Dessa idéia é que em relação às normas e as leis não são
diferentes, ainda mais no aspecto de questões inerentes aos portadores de
deficiência, pois, se de fato tudo existe para o ser humano e se a Constituição existe
16 GARCIA, Maria. Limites da ciência: a dignidade da pessoa humana: a ética da responsabilidade. São Paulo:
para este ser, fica evidente que as normas e as leis, que dela derivam também
acabam por se preocupar com as pessoas com deficiência.
Com efeito, isso quer dizer que a Constituição Federal
não é uma finalidade em si, sua exaltação é por causa de tudo que ela traz – essa
segurança – e que obedecendo às normas e às leis os indivíduos estarão felizes e
tranqüilos sejam eles as autoridades ou os cidadãos.
Nesta trilha reside a importância do Estado que é um ente
soberano e que deve prover a segurança tão almejada pelo homem na busca de
seus ideais, sendo evidente que essa questão, também, envolve os portadores de
deficiência que possuem o direito a essa segurança oferecida pelo Estado.
Dessa forma, é oportuno trazer o célebre conceito de
Estado por Dalmo Dallari: “Estado é a ordem jurídica soberana cuja finalidade é o
bem comum de um povo situado num determinado território”17.
A democracia, por esse viés é neste ponto fundamental,
pois, reside nesse assunto uma questão que envolve uma gama de direitos, que faz
com que a vida da pessoa com deficiência tenha uma melhor qualidade e
expectativa de acesso na complexa convivência em sociedade, num mundo
globalizado e, aparentemente, sem limites de evolução.
17
Nesse diapasão é oportuno conceituar que a democracia
é o ato de respeitar as leis, ou seja, ninguém está acima das leis, nem o pobre nem
o mais privilegiado.
Com isso, ao se abordar os princípios constitucionais que
regem o próprio Estado democrático como decorrente da democracia reinante no
Brasil após a Carta Política de 1988 é possível observar a concretização do ponto de
vista doutrinário que defende o uso dos princípios constitucionais pelo prisma da
norma constitucional.
Tornando possível o uso dessa tendência na utilização
dos referidos princípios constitucionais pode-se utilizar na educação, como um
sentido ou direção fundamental orientador com o fim de fornecer significativa
contribuição na garantia de direitos fundamentais das pessoas com deficiência.
Luiz Alberto David Araújo, ao tratar da temática da
proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência, nomenclatura
utilizada pelo referido autor em sua tese de doutorado, acaba por consagrar a
educação como um dos direitos que servem à integração das pessoas com
deficiência ao concluir que:
escolas comuns. Se o indivíduo for portador de um retardo mental leve, poderá ser educado em um estabelecimento comum, através de educação especial. Na hipótese de uma lesão mental acentuada, o ensino deve ser feito em classes especiais, de modo a que o indivíduo receba atenção mais efetiva do professor, ao ministrar as lições de que necessita. Os deficientes auditivos e da fala devem ter ensinamento especial, em certa fase, da mesma forma que os deficientes visuais. Certas deficiências, no entanto, não apresentam qualquer necessidade de educação especial, como os fenilcetonúricos, por exemplo. As pessoas portadoras de deficiências de locomoção não necessitam, em regra, de educação especial, mas de transporte especial para chegarem até as escolas.”18
Percebe-se, então que a temática relacionada com os
princípios constitucionais acaba por demonstrar que eles, na verdade, são os
vetores que levam e permitem que as pessoas com deficiência tenham acesso à
educação, em todas as suas mais variadas formas de criação ou manifestação, pois,
a Constituição Federal não trata, somente, de facultar à pessoa com deficiência o
acesso ao estudo ou a escola.
Na verdade, como os princípios constitucionais são os
vetores que permitem a correta e justa educação da pessoa com deficiência, o que
ocorre é uma complexa e ativa estrutura de atividades estatais propiciando à pessoa
com deficiência, se assim for a sua vontade, face ao livro arbítrio de cada cidadão, o
acesso a uma rede educacional, pois, a própria Constituição Federal ao consagrar
que essas pessoas têm o direito à educação faz com que haja uma particular visão
18 ARAÚJO, Luiz Alberto David. A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência. Brasília:
do administrador a problemática da pessoa com deficiência, conforme bem apontado
acima por Luiz Alberto David Araújo.
Essa temática é bem possível, no atual momento
histórico, pois, é patente que a Constituição Federal bem aponta que não se pode
confundir a necessidade de diferenciação da pessoa com deficiência ao acesso à
educação com outros “privilégios” ou formas de “injustiças” que ofendem o princípio
da igualdade ao afrontar o próprio texto constitucional.
2.
O CAPÍTULO DA EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
BRASILEIRA E A ANÁLISE SISTÊMICA DOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS
A Constituição Federal, com a recente redação que lhe foi
modificar o artigo 6º, novamente, consagrou a educação como um dos direitos
sociais básicos, conforme, aliás, desenvolve em todo o texto constitucional quando
são asseguradas as maneiras de implementação de cada um dos direitos sociais.
Ademais, plenamente observáveis no texto constitucional
brasileiro os vários caminhos utilizados pelo legislador constituinte na determinação
dos direitos sociais, que são apresentados na Carta Magna como normas de caráter
principiológico ou de regramento, com a finalidade da incorporação progressiva
desses direitos do homem numa sociedade de plena convivência entre todos.
Ao examinar o ordenamento constitucional a preocupação
com a educação foi amplamente posicionada no texto pelo constituinte, ora como
direito fundamental, ora como direito social, em suas mais variadas subdivisões,
mas, principalmente, com o enfoque de assegurar a total importância da temática
educacional na formação de uma Nação mais justa e solidária que se apresenta
como normas de caráter pleno, limitado e programático.
José Afonso da Silva, ao tratar da questão da cidadania,
ressalta a constante necessidade da evolução da própria feição da Carta Magna na
consagração desse viés mais moderno, pois a cidadania, não permanece restrita ao
simples ato político de se comparecer perante as urnas para a escolha dos
governantes pelo sufrágio.
Trata-se, na verdade, de uma “nova idéia de cidadania”
conforme apontado pelo renomado constitucionalista, que se posiciona no sentido
Homem. A Constituição de 1988, que assume as feições de uma Constituição
dirigente, incorpora essa nova dimensão da cidadania quando, no seu art. 1º, II, a
indica como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito em que é
constituída a República Federativa do Brasil”19.
A Constituição Federal é dessa forma uma Constituição
dirigente, razão pela qual:
“qualifica os participantes da vida do Estado, o reconhecimento dos indivíduos como pessoas integradas na sociedade estatal (art. 5º, LXXVII).
Significa aí, também, que o funcionamento do Estado estará submetido à vontade popular.
E aí o termo conexiona-se com o conceito de soberania popular (parágrafo único do artigo 1º), com os direitos políticos (art. 14) e com o conceito de dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), com os objetivos da educação (art. 205), como base e meta essenciais do regime democrático.”20
Não se pode deixar de esquecer que a cidadania somente
será plenamente observada quando a integralidade dos direitos sociais estiverem
assegurados a todos, de tal forma que a doutrina aponta necessariamente na total
observância dessa premissa, mesmo que haja uma constante evolução das formas
em que os direitos fundamentais são assegurados a todos.
19 SILVA, José Afonso da. Poder constituinte e poder popular (estudos sobre a constituição). São Paulo:
Malheiros, 2007, p. 141.
20
Ora, se a lei é feita para todos, e disso não existem
maiores dúvidas, na prática a finalidade da lei é alcançar a todos os indivíduos
determinando, ora direitos ora deveres, razão pela qual a pessoa com deficiência
não se exclui dessa máxima, de tal sorte que o desconhecimento do texto
constitucional e das demais leis infraconstitucionais acaba por gerar uma ausência
da aplicabilidade dessas normas.
O que motiva essa carência, entre outras razões
mencionadas, é a falta de educação ou a carência do acesso à educação da pessoa
com deficiência, sendo evidente, então, a necessária adequação das normas com
sua real destinação.
Nesse sentido é que se deve buscar as bases do nosso
direito e pôr em efetividade o alcance desejado na busca do bem comum, razão pela
qual é de suma importância a integração da problemática de se assegurar o direito à
educação com os princípios constitucionais presentes no texto da Carta Magna, que
em relação à educação envolve principalmente os artigos 205 e 206 da Constituição
Federal.
Com isso, o direito à educação da pessoa com deficiência
se encontra concatenado com a própria temática educacional, que por ser uma
preocupação latente e demasiadamente necessária, o constituinte de 1988 foi muito
feliz ao trazer no Capítulo III do Título VIII, essa abordagem que se desenrola no
artigo 205 da Constituição Federal, o qual versa sobre a educação, inclusive àquelas
Mais uma vez, o tópico da educação aparece,
demonstrando ser o caminho que contribui com a mudança e a transformação das
pessoas com deficiência, pois, é dessa forma que o referido artigo afirma claramente
ser a educação direito de todos.
Esse é o mandamento que se percebe do texto
constitucional:
“Artigo 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”21
Logo, as pessoas com deficiência deverão ter
efetivamente garantido seu acesso no sistema de ensino nacional, até mesmo com a
necessária inclusão de políticas públicas nas agendas dos Governos e governantes,
pois, somente dessa forma será possível ocorrer o comprometimento, a longo prazo,
tanto do Estado, como de seus administradores.
Esse é o entendimento da doutrina, ao invocar o
conhecimento de renomados especialistas em educação para pessoas com
deficiência, quanto à temática da inclusão na sala de aula:
“O que faltam ainda são políticas públicas adequadas para que exista apoio técnico e financeiro às escolas para tanto, além de se
21
investir na correta preparação de professores. Membros do Ministério Público têm trabalhado nesta matéria.
As citações abaixo são de profissionais da educação, internacionalmente reconhecidos, e que vêm nos dar tranqüilidade, já que somos juristas e não pedagogos, para continuar afirmando que quando nossa Constituição Federal garante a educação para todos, significa que é para todos mesmo, em um mesmo ambiente, e este pode e deve ser o mais diversificado possível, como forma de atingir o pleno de desenvolvimento humano e o preparo para a cidadania (art. 205 da CF).
Kirk e Gallagher, considerados os papas da educação especial, admitem que ‘o evento mais importante na área de educação especial nos últimos 25 anos foi o movimento no sentido de integrar as crianças excepcionais no programa de educação comum. (...) Praticamente todos os professores de primeiro e segundo ciclos podem encontrar crianças excepcionais nas suas salas de aula’. 8
José Geraldo Silveira Bueno afirma que se conseguirmos estabelecer políticas claras, gradativas e crescentes que coloquem em prática os princípios voltados para a educação inclusiva, ‘com certeza estaremos contribuindo para a ampliação efetiva das oportunidades educacionais a toda e qualquer criança, sendo ela deficiente ou não’.9
da escola de qualidade, que é igualitária, justa e acolhedora para todos, é um sonho possível’.10.”22
Igualmente, se a educação é dever do Estado conforme
acima demonstrado, também, o é da família, razão pela qual esse binômio – Estado
Família – é fundamental para o desenvolvimento adequado da pessoa com
deficiência, pois, reside no Estado à função de proporcionar à pessoa com
deficiência uma qualidade de vida possível em um ambiente favorável e adaptado de
acordo com as suas necessidades de bem estar, ao passo que a família
desempenha uma função relevante no que tange à educação de um membro do seu
núcleo familiar, inclusive com o acompanhamento em todas as fases do seu
desenvolvimento.
Agora, com a questão das políticas públicas, tal atribuição
é estendida, também, à sociedade em suas mais diversas formas de manifestação –
sociedades civis, grupos religiosos, movimentos sociais, entre outros –, pois,
evidentemente que a sociedade, como um todo, deve ser chamada para promover e
incentivar o aumento da consciência educacional de todos.
Nota-se que a finalidade da integração de todos é
possibilitar o pleno desenvolvimento da pessoa humana, que no caso das pessoas
com deficiência significa explorar as capacidades que possam desenvolver no
22
efetivo preparo para o exercício da plena cidadania, de modo a fortalecer as virtudes
e valores inerentes à pessoa com deficiência.
A referida educação inclusiva tem como alicerce os
ensinos baseados nos princípios elencados no artigo 206 da Constituição Federal
conforme abaixo transcrito:
“O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal.
no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.”23
Portanto, sob a ótica do direito constitucional pátrio, a
efetivação da educação para a pessoa com deficiência é dever do Estado (cf. artigo
205 da Constituição Federal), que acaba por ser realizada mediante a observância
dos princípios acima arrolados (cf. no artigo 206 da Constituição Federal), sendo
certo que a garantia do atendimento educacional especializado é plenamente
assegurado às pessoas com deficiência, preferencialmente, na rede regular de
ensino público, conforme dispõe o regramento do artigo 208 da Constituição
Federal:
“O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5
(cinco) anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
23
§1º- O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§2º- O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
§3º- Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.”24
Especial destaque confere-se à temática da educação à
pessoa com deficiência no tocante ao atendimento educacional especializado, que
deve ser programado de forma a fazer com que a pessoa participe
“preferencialmente na rede regular de ensino” de todas as atividades relacionadas à
educação, conforme se encontra presente no inciso III do artigo 208 da Constituição
Federal, de tal sorte que o Estado não pode ser omitir quanto a sua obrigação de
propiciar o acesso mais amplo possível à educação.
Assim, a educação como se encontra no cerne da
questão constitucional, pois, sem a menor dúvida é um dos baluartes da própria
evolução da sociedade, deve ser vislumbrada também sob a ótica sistêmica, o que
vale dizer, através da junção dos princípios constitucionais existentes na Carta
Política de 1988 em relação aos seus artigos e demais regramentos ordinários, de
tal sorte a se concretizar como um sistema harmônico.
Para tanto, ao se considerar a análise do sistema
constitucional e de todo o regramento infraconstitucional que confere total
necessariamente demonstrar a constante ligação entre estas duas normas, que vêm
por se tornar um verdadeiro núcleo afirmativo de garantias e daí a importância de se
conferir todos os esforços na solidificação constante da proteção do direito à
educação da pessoa com deficiência.
Trata-se de árduo caminho a ser percorrido não só pela
própria pessoa, mas também da sociedade, na constante luta pela organização de
um Estado consagrador dos direitos sociais.
A importância decorre, então, pelo fortalecimento do
núcleo do sistema, que aqui, se aponta como sendo os princípios constitucionais
assecuratórios da educação, pois, o funcionamento de toda a estrutura jurídica
depende do constante fortalecimento e da inclusão de forças positivas no sentido
afirmativo da consagração dos diretos humanos e sociais da pessoa com deficiência.
Edgar Morin, lembrado por Márcio Pugliesi, bem aponta o
sentido global da palavra sistema, ao defini-la como “conjunto de elementos
interrelacionados e organizados de modo a constituírem uma unidade global”25,
razão pela qual o constitucionalista, por ser o estudioso da matéria, não pode
permitir que seus afazeres o afastem da constante proteção do espírito da
Constituição, como regra básica da afirmação do Estado Democrático de Direito.
24 BRASIL, Constituição Federal. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm.
Acessado em 11-08-2007.
25 PUGLIESI, Márcio. Por uma teoria do direito: aspectos micro-sistêmicos. São Paulo: RCS, 2005, p. 271. Cf.
Outra preocupação constante é o fortalecimento da
própria Carta Constitucional, em face desse documento histórico-político ser o
núcleo do sistema protetivo do cidadão e que assegura o acesso a todos os direitos
sociais do homem, além de ser a Constituição Federal o caminho, por meio das
reformas constitucionais, da possibilidade de inclusão de novos direitos em busca da
harmonização da sociedade e do bem comum.
Márcio Pugliesi aponta a noção do núcleo de um sistema
e a sua real importância na análise fática, ao invocar os ensinamentos de Lussato
que, por seu turno, assegura ser o núcleo:
“constituído pelo conjunto de elementos e das relações do sistema que deverão permanecer invariantes sob pena de uma
alteração da especificidade do sistema e, eventualmente, de
uma perda da sua identidade”26.
Aponta a importância dessa temática para “um interesse
prático, sobretudo para as ciências sociais”27, além de apontar que “o funcionamento
de um sistema depende do seu núcleo, os esforços de mudança de um sistema
serão infrutíferos se não se atingir o seu núcleo. Por outro lado, sempre que se
pretendam mudanças superficiais sem destruir o sistema, deve-se poupar o seu
núcleo.”28.
26
Op. cit., p. 270, negrito do referido autor, que indica o original de “B. Lussato, O Desafio Informático. Lisboa:
Publ. Dom Quixote, 1992, p.297”, como fonte de sua pesquisa.
27
Op. cit., p. 270.
28
A constante análise do sistema constitucional permite com
que a essência do núcleo da Constituição Federal se torne não só uma metáfora do
discurso constitucional, mas assuma de modo prático sua real importância na vida
da sociedade.
Miguel Reale bem indica essa preocupação no
desenvolver de um artigo denominado, “a experiência jurídica brasileira”, quando
magistralmente e sem constrangimento acaba por apontar o centro do problema da
efetividade da norma constitucional ao afirmar que:
“ao invés, por conseguinte, de nos iludirmos com rebuscados desenhos constitucionais, harmoniosos no silêncio dos gabinetes, mas frágeis ante os embates e imprevistos da vida cotidiana, é preferível, com nosso habitual senso de composição pragmática, irmos elaborando o progressivo quadro das regras indispensáveis à realização da Democracia Social, para que a segurança e o desenvolvimento se operem em benefício da Justiça Social, a qual
deve ser o objetivo final de todos os nossos esforços e sacrifícios.”29
Ora, o atual mundo globalizado, onde o direito como
sistema sofre constantes ataques mitigadores das conquistas sociais, não permite
que o núcleo protetivo dos princípios constitucionais presentes na Constituição
Federal fique desprotegido da autuação constante do jurista, que ao mínimo sinal de
ofensa deve, com coragem e prontidão, apontar essa agressão e dessa forma evitar
que as complexas fórmulas “jurídico-econômicas” venham ser realizadas para
impedir o efetivo acesso à educação, especialmente pela notória dificuldade de
29 REALE, Miguel. A experiência jurídica brasileira. In: Revista da Faculdade de Direito da Universidade de
mobilização histórica dos hipossuficientes, até mesmo porque, muito recente a
preocupação com a denominada inclusão da pessoa com deficiência na sociedade
sem qualquer tipo de segregação, que desde os tempos primitivos da história da
civilização ocorre.
3.
A EDUCAÇÃO FAMILIAR, ESCOLAR E PROFISSIONAL COMO
CAMINHOS DA EDUCAÇÃO UNIVERSALISTA E HUMANISTA
DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Indiscutível no atual momento histórico que a educação é
um dos principais aspectos da vida humana, tanto que sua temática é amplamente
abordada nos mais diversos embates da sociedade, com preocupações
relacionadas desde o acesso à educação, como a melhor forma de implementação
Maria Luiza Silveira Teles ao estudar a temática da
educação como um fato social acaba por indicar que o ser humano e a sociedade
em que vive é o resultado de um longo processo histórico, razão pela qual aponta
ser a educação, nada mais na menos, do que a forma de “integração do novo
membro” ao habitat em que vive.
Acaba por fornecer, então, uma visão bem adequada à
temática aqui buscada, pois, conciliar a integração da pessoa com deficiência na sua
labuta diária ao convívio social, devidamente amparada pela educação recebida no
âmbito da família, como depois, na fase escolar, de tal forma que se torne possível
sua realização profissional, dessa forma explica que:
“Quando alguém nasce, isto acontece em uma sociedade organizada. Esta sociedade é sempre o resultado de milênios de aprendizagem coletiva. Então, de repente, todo o aprendizado que a humanidade fez ao longo de seu processo histórico, o novo ser deverá faze-lo em poucos anos. A esta integração do novo membro, a esta introjeção de toda a riqueza cultural de seu
povo, em termos de língua, costumes, religião, etc., chamamos
de ‘Educação’. Entretanto, quando a gente fala em Educação, há
algo que nunca pode ser esquecido: este indivíduo, que acabou de nascer, é único, original, tem potencialidades individuais, além daquelas comuns a toda a espécie humana. E, desde o princípio do processo educacional, ele estará tentando impor e afirmar a sua individualidade. Daí advém um choque: pressão da parte da sociedade e resistência da parte do indivíduo.”30
30 TELES, Maria Luiza Silveira. Educação: a revolução necessária. 5° ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001, p. 13
Recai sobre os homens uma preocupação em fornecer
uma educação humanista considerada plena com enfoque multidisciplinar, que
atualmente é conhecida como uma “educação geral”, sendo necessário lançar mão
de diversas técnicas e diretrizes para atingir a pessoa com deficiência, de forma que
se possa transmitir “informação e formação” para esse educando, preparando-o
tanto no aspecto emocional, como no racional.
Aliás, o texto da Constituição Federal de 1988 reproduz
essa preocupação ao tratar dessa temática no caput do artigo 205, quando fornece
total possibilidade de educação à pessoa com deficiência – “A educação, direito de
todos” –, como que também aponta ser “do Estado e da família” o dever de propiciar
essa educação.
Indica ainda a norma constitucional que deverá ser a
educação “promovida e incentivada com a colaboração da sociedade”, tudo isso
para propiciar uma verdadeira inclusão da pessoa com deficiência na vida social do
grupo a que pertença, “visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Perfeitamente possível, então, formar por intermédio da
educação um indivíduo como resultado de uma criação humanista reunindo uma
bagagem adequada para propiciar-lhe a desejada qualidade de vida que toda a
sociedade contemporânea pretende.
Nesse sentido, convém lembrar o que menciona João
“A educação que pura e simplesmente transmite valores asfixia a valoração como ato. O ato de valoração e significação somente se origina na vida concretamente vivida; valores e significados impostos tornam-se, portanto, insignificantes.
A educação é, fundamentalmente, um ato carregado de características lúdicas e estéticas. Nela procura-se que o educando construa sua existência ordenadamente, isto é, harmonizando experiências e significações. Símbolos desconectados de experiências são vazios, são insignificantes para o indivíduo. Quando a educação não leva o sujeito a criar significações fundadas em sua vida, ela se toma simples adestramento: um condicionamento a partir de meros sinais.” 31
Logo, se há um investimento no professor, e quando se
fala em inclusão deve-se levar em conta também esse aspecto, pois, nada adianta
que a pessoa com deficiência tenha apoio da família e do Estado, se o principal elo
de ligação – o professor – entre a pessoa com deficiência e o ensino, não esteja
motivado e adequadamente preparado com as recentes técnicas de ensino inclusivo
para fornecer aos seus estudantes os adequados métodos de estudo e de
cidadania, inclusive com especial dedicação para demonstrar a todos aqueles que
freqüentam o ambiente escolar que a pessoa com deficiência deve ser bem recebida
e tratada com a dignidade que lhe é assegurada.
Outro ponto de importância que constantemente é
apontado nos dias de hoje diz respeito ao denominado papel “ativo da família” que
conta em seu seio com um deficiente, seja essa deficiência decorrente de
31
nascimento ou por seqüelas ocasionadas no desenvolver da vida, pois, não basta
que haja a figura da família, como núcleo primário da sociedade, mas sim que esse
referido núcleo esteja devidamente engajado na contribuição para a formação
educacional e cultural da pessoa com deficiência.
Essencial na evolução educacional da pessoa com
deficiência o constante incentivo das famílias junto aos professores e demais
responsáveis pela formação multidisciplinar para aprimorar o ensino fornecido às
crianças e aos adolescentes que sejam portadores das mais variadas formas de
deficiência, levando em conta a especificidade dessa deficiência, o grau e o
desenvolvimento na vida da pessoa.
O mesmo ocorre no tocante à formação profissional da
pessoa com deficiência quando não se mostra adequado somente educar essa
parcela da população em profissões que impeçam o total desenvolvimento
intelectual e até mesmo físico da pessoa com deficiência, como, aliás, já ocorre
amplamente no âmbito esportivo quando, salvo raras exceções, as modalidades
esportivas são adequadamente praticadas pelas pessoas com deficiência.
Na verdade, se no esporte existe uma preocupação com a
adaptação das regras e das fórmulas esportivas em face do grau de dificuldade ou
de deficiência que a pessoa possui não é necessário que o mesmo ocorra em
Nada justifica qualquer forma de discriminação de acesso
ou ingresso em setores do trabalho que poderiam ser adaptados para bem receber
os profissionais portadores de deficiência.
Essa postura, por mais que já esteja contemplada na
Constituição Federal ou na norma legal como regra, deve ser amplamente difundida
na fase do desenvolvimento da aprendizagem da sociedade, ou seja, na escola, por
intermédio de uma educação universalista e humanista, para que no futuro as novas
gerações não tenham qualquer conduta discriminatória.
A sociedade, como fenômeno social de agrupamento
humano, também é um elemento importante na temática da educação, pois tem uma
função de destaque na educação da pessoa com deficiência, já que sempre deve
agir com prudência nas atitudes estruturais em relação à viabilidade de políticas
sociais, sendo inviável para o “bem comum” a fixação nas denominadas posturas
“extremadas” que a sociedade ou parcelas que a compõem muitas vezes defendem.
A prudência indica a necessidade de se afastar de
posicionamentos radicais que na temática educacional pouco iriam contribuir à
educação da pessoa com deficiência, fato esse, aliás, há muito já existente na
“educação geral” de todos os integrantes de uma sociedade, tendo John Dewey, um
dos filósofos da educação, bem registrado em suas diversas obras a constante
observância do bom senso, pois, para ele o ato de se educar é uma necessidade
social, pelo que todos os integrantes de uma sociedade necessitam passar pelo
social, inclusive como fator de transmissão de seus ideais, suas crenças e
conhecimentos.
Sob o prisma do Estado, portanto, tais ensinamentos são
essenciais na manutenção de uma sociedade justa e solidária, de tal forma que
acabam por assegurar, através da educação, os ideais democráticos como fatores
de integração de uma Nação, além de ser a escola o instrumento ideal para
estender a todos os benefícios da democracia.
Dewey, aliás, utiliza a educação como fator de se evitar
os “extremos”, conforme se pode observar ao desenvolver estudos da educação
“tradicional” e a educação “progressiva” quando indica que:
“O homem gosta de pensar em termos de oposições extremadas, de pólos opostos. Costuma formular suas crenças em termos de ‘um ou outro’, ‘isto ou aquilo’, entre ás quais não reconhece possibilidades intermediárias. Quando forçado a reconhecer que não se pode agir com base nessas posições extremas, inclina-se a sustentar que está certo em teoria mas na prática as circunstâncias compelem ao acordo. A filosofia de educação não faz exceção a essa regra. A história de teoria de educação está marcada pela oposição entre a idéia de que educação é desenvolvimento de dentro para fora e a de que é formação de fora para dentro; a de que se baseia nos dotes naturais e a de que é um processo de vencer as inclinações naturais e substituí-las por hábitos adquiridos sob pressão externa. (...)
Desde que as matérias de estudo, tanto quanto os padrões de conduta apropriada, nos vêm do passado, a atitude dos alunos, de modo geral, deve ser de docilidade, receptividade e obediência. Livros, especialmente manuais escolares, são os principais representantes do conhecimento e sabedoria do passado e os professores são os órgãos, por meio dos quais, os alunos entram em relação com esse material. Os mestres são os agentes de comunicação do conhecimento e das habilitações e de imposição das normas de conduta.”32
Dessa forma, percebe-se que tanto a educação familiar,
como a escolar da pessoa com deficiência devem seguir os padrões da sociedade
brasileira, de forma que não haja qualquer tipo de discriminação, quer no aspecto do
acesso à educação, como no desenvolvimento das ações governamentais de todos
os níveis da administração pública.
A educação universalista da pessoa com deficiência deve
ser uma meta de toda sociedade, simplesmente, por proporcionar um completo eixo
de integração social, de modo a promover a evolução de todos os seres humanos,
pois, se a educação familiar prepara o individuo para conviver em sociedade, a
educação escolar forma-o intelectualmente, tudo isso para possibilitar a educação
profissional que visa formar um individuo capaz de produzir e dessa maneira poder,
também, conviver em sociedade de forma ativa e autônoma.
Como, anteriormente apontado na Introdução do presente
estudo, a denominada educação universalista, por seu turno, busca trazer à
formação da pessoa com deficiência uma educação voltada para os ideais
humanistas, mas esse aspecto somente será efetivamente alcançado quando as
pessoas com deficiência interagirem por completo com os demais integrantes da
sociedade, e à toda evidência, não existem melhores lugares do que no âmbito da
família e da escola para essa situação se desenvolver.
Ademais, não se pode permitir, no atual estágio da
sociedade democrática brasileira, que a pessoa com deficiência fique restrita a uma
“cama” ou a uma “cadeira” em seu lar ou em um hospital, sem qualquer acesso ao
mundo exterior.
As dificuldades de transporte, logística, políticas públicas,
e de acessibilidade em geral, não devem impossibilitar essa constante interação
entre as pessoas com deficiência e as demais integrantes de seu círculo de
convivência e que estejam no mesmo grau de escolarização.
Ubiratan Diniz de Aguiar, em sua obra “Educação uma
decisão política”33, bem explica toda essa temática da escolarização e a cidadania
quando lembra que:
“A afirmação de uma Nação decorre do pleno desenvolvimento da cidadania de cada um de seus membros. Não é possível imaginar-se a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática se o exercício da cidadania não é assegurado a todos os seus segmentos. E uma das condições básicas para tanto é a de que cada um tenha acesso à educação.
33
Neste sentido, não basta que se aprovem leis e bem elaborados planos de governo. É fundamental que, através de ações concretas, por vezes bastante simples, sejam oferecidas oportunidades educacionais reais, proporcionando a disseminação do conhecimento técnico-científico e dos valores que constituem a base sobre a qual se assenta a sociedade.
A oferta de educação é, pois,, condição indispensável para o desenvolvimento de um povo, conferindo a cada cidadão os necessários requisitos para sua função como pessoa e como elemento integrante do processo de construção coletiva de seu meio. A educação é ferramenta básica para a participação do indivíduo na vida social, política e econômica de seu país, permitindo-lhe atuar responsavelmente nas decisões que norteiam os destinos da sociedade.
Um povo no qual largas parcelas se encontram marginalizadas do acesso ao saber e, portanto, da consciência social, é um povo sujeito aos mais diversos e odiosos processos de dominação, às relações mais subalternas de exploração, à estagnação cívica e dependência em todos os aspectos.
Uma sociedade em que a educação constitui privilégio de poucos grupos sociais, está fadada aos desequilíbrios internos, ao proveito de poucos em detrimento do bem-estar da maioria. Uma sociedade em que as oportunidades educacionais são desigualmente distribuídas, necessariamente mantém, em contínuo processo de reforço, as demais desigualdades, de natureza econômica e política.”34
A Constituição Federal, como texto legal máximo da
Nação brasileira, é bem clara em apontar no tocante as questões da educação e da