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RESSACA DE MACAPÁ-AP E AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE.

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CAMILA PERNAMBUCO COSTA

RESSACA DE MACAPÁ-AP E AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE.

SÃO PAULO

2019

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RESSACA DE MACAPÁ-AP E AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE.

Dissertação de mestrado apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para obtenção do grau de Mestra em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Profa. Dra. Gilda Collet Bruna

SÃO PAULO

2019

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Dedico este trabalho aos meus pais Jacinta de

Fátima e Francisco de Assis que são exemplos de

perseverança e fé.

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Primeiramente agradeço a Santíssima Trindade que ilumina nossas vidas e nos abençoa com a vossa infinita misericórdia e a Nossa Senhora de Fátima por interceder a Deus por nós.

A minha família que sempre proporcionou e incentivou meus estudos.

A professora Dra. Gilda Collet Bruna que aceitou o desafio de me orientar e por acreditar no meu potencial, compartilhando sua sabedoria.

Enfim, agradeço a todos os amigos, colegas e pessoas que fizeram parte desta etapa

importante da minha vida.

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alagados pela maré e chuvas que atuam com funções de controle do clima local, drenagem das águas pluviais e fluviais e servem de abrigo para uma rica biodiversidade. Estas áreas de ressaca são prejudicadas pelas ações antrópicas que avançam formando a malha urbana de maneira desordenada. Esta dissertação objetiva abordar acerca das dinâmicas espaciais perante as áreas de ressaca da cidade de Macapá que são ações de ocupação, que causam danos ambientais, diante das desigualdades urbanas, presentes desde a formação territorial e abordando-as segundo as dimensões da sustentabilidade. Analisando os principais aspectos sociais, culturais, econômicos, legislativos e estruturais presentes nas interfaces das ocupações das áreas de ressaca, para compreensão das ações espaciais, utilizando como base analítica os indicadores de sustentabilidade, para compreender o processo evolutivo das ocupações de ressacas macapaenses. Assim como abordar o termo “ressaca”, verificando as situações regionais, utilizando como método a análise comparativa a ressaca Lagoa dos Índios e a ressaca Tacacá, por meio de indicadores de sustentabilidade, e assim colaborar para futuras elaborações de normativas para gestão urbano-ambiental.

Palavras-chave: Áreas de ressaca; Indicadores de sustentabilidade; Macapá.

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tidal and rains that act as local climate control, drainage of rain and river waters and serve as a shelter for rich biodiversity. These ressaca areas are hampered by anthropic actions that advance forming the urban fabric in a disorderly manner. This dissertation aims to address the spatial dynamics of the ressaca areas of the city of Macapá, which are occupational actions that cause environmental damage, given the urban inequalities present since the territorial formation and addressing them according to the dimensions of sustainability. Analyzing the main social, cultural, economic, legislative and structural aspects present in the interfaces of occupations of ressaca areas, to understand the spatial actions, using as an analytical basis the sustainability indicators, to understand the evolutionary process of occupations of ressacas Macapaenses. As well as addressing the term “ressaca”, verifying regional situations, using as a method the comparative analysis the ressaca Lagoa dos Índios and the ressaca Tacacá through sustainability indicators, and thus collaborate for future elaboration of regulations for urban-environmental management.

key words: Ressaca areas; Sustainability Indicators; Macapá.

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Figura 2- Diagrama ilustrativo das áreas de terras inundáveis de planície quaternária costeira da região urbana de Santana e Macapá, limitadas para o interior pelas terras firmes do

cerrado...18

Figura 3- Quadro de inundações das ressacas...19

Figura 4- Imagem videográfica mostrando parte da ressaca Chico Dias, na parte central...24

Figura 5- As pontes da ressaca Chico Dias...25

Figura 6- Descarte de lixo nas ressacas de Macapá...25

Figura 7- Fluxograma metodológico...27

Figura 8- S etorização urbana de Macapá...29

Figura 9- Mapa localização Macapá...30

Figura 10- Expansão da malha urbana de Macapá 1943 a 2014...31

Figura 11- Vila Serra do Navio...34

Figura 12- Vila Amazonas em Santana...34

Figura 13- Taxa de urbanização no Estado do Amapá - 1950/2000...38

Figura 14- Esquema das leis nas áreas de ressaca...39

Figura 15- Delimitação das áreas de ressaca na área urbana de Macapá e Santana...43

Figura 16- Objetivos de Desenvolvimento do Milênio...56

Figura 17- Transição dos objetivos de Desenvolvimento do Milênio para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável...57

Figura 18- Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030...59

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Figura 21- Mapa das áreas de ressaca urbanas da cidade de Macapá...62

Figura 22- Mapa das ressacas de Macapá...66

Figura 23- Mapa: Evolução urbana de Macapá, elaborado pela Fundação João Pinheiro em 1973...67

Figura 24- Mapa da evolução urbana de Macapá, com marcação da ressaca Lagoa dos Índios...70

Figura 25- Ressaca Lagoa dos Índios...71

Figura 26- Ressaca Lagoa dos Índios...71

Figura 27- Mapa da evolução urbana de Macapá, com marcação da ressaca Tacacá...72

Figura 28- Carta temática da ressaca Lagoa dos Índios...72

Figura 29- Carta temática da ressaca Tacacá...74

Figura 30- Proporção de domicílios em áreas de ressacas com esgotamento sanitário através da rede geral de esgoto...75

Figura 31- Águas residuais provenientes das atividades do Iapen, lançado diretamente no solo...76

Figura 32- Proporção de domicílios em áreas de ressacas com esgotamento sanitário através da rede geral de esgoto...77

Figura 33- Instalação sanitária inadequada utilizada pelos moradores na ressaca Tacacá – Macapá...78

Figura 34- Precariedade da instalação sanitária na ressaca Tacacá...80

Figura 35- Precariedade da instalação sanitária na ressaca Tacacá...80

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Figura 37- Instalações elétricas na Lagoa dos Índios...82

Figura 38- Precariedade da instalação elétrica na ressaca Tacacá...83

Figura 39- Lixo encontrado no córrego da ressaca...84

Figura 40- Lixo encontrado na margem da ressaca...84

Figura 41- Canalização do córrego da ressaca Lagoa dos Índios...86

Figura 42- Ressaca Lagoa dos Índios sendo aterrada...87

Figura 43- Placa da obra de duplicação da rodovia na ressaca Lagoa dos Índios...87

Figura 44- Acessibilidade no entorno da ressaca Lagoa dos Índios...88

Figura 45- Ruas no entorno da ressaca Lagoa dos Índios...88

Figura 46- Precariedade das vias de circulação e acessibilidade na ressaca Tacacá...89

Figura 47- Comunidade da vila Lagoa dos Índios...90

Figura 48: Mapa de densidade populacional nas áreas de ressacas de Macapá e Santana...90

Figura 49- Placa da obra de duplicação da rodovia na ressaca Lagoa dos Índios...91

Figura 50- Mapa de densidade populacional nas áreas de ressacas de Macapá e Santana...93

Figura 51- Ruas no entorno da ressaca Lagoa dos Índios...94

Figura 52- Mapa de disponibilidade de serviços públicos na ressaca Tacacá e no seu entorno...95

Figura 53- Remoção de argila na ressaca Tacacá...96

Figura 54- Ruas no entorno da ressaca Lagoa dos Índios...97

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Figura 57- Mapa deriva urbana ressaca Lagoa dos Índios...108

Figura 58- Mapa deriva urbana ressaca Tacacá...110

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Gráfico 2- Gráfico do Índice de Saneamento Básico (IPSB)...79

Gráfico 3- Gráfico do Índice Parcial de Infraestrutura Habitacional (IPE)...92

Gráfico 4- Gráfico do Índice Parcial de Saúde (IPS)...100

Gráfico 5- Gráfico do Índice Parcial de Organização Social (IPOS)...101

Gráfico 6- 10- Gráfico do Índice Parcial de Atividades Econômicas (IPAE)...102

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Tabela 2- Distribuição espacial das ressacas em porcentagem...73

Tabela 3- Destino de Dejetos Humanos nos domicílios das áreas de ressaca...79

Tabela 4- Formas de abastecimento de Água...81

Tabela 5- Formas de abastecimento de água, tipos de uso domiciliar e formas de armazenamento de água nas ressacas...82

Tabela 6- Energia elétrica em áreas de ressacas nos municípios de Macapá e Santana...83

Tabela 7- Destino dos resíduos... ...85

Tabela 8- Ocupações nas ressacas de Macapá...91

Tabela 9- Estágios de ocupação das margens das áreas úmidas de Macapá – situação 2000...95

Tabela 10- Participação dos moradores residente nas ressacas em Organização Social...100

Tabela 11- Alfabetização nas ressacas...103

Tabela 12- Média de anos de estudo...103

Tabela 15- Tabela de comparação dos dados das ressacas...104

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Permanente.

APP- Área de Proteção Permanente.

CEA-Companhia de Eletricidade do Amapá.

DNPM- Departamento Nacional de Produção Mineral.

HIV- Human Immunodeficiency Virus.

IAPEN - Instituto de Administração Penitenciária.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geoprocessamento e Estatística.

ICOMI- Indústria e Comércio de Minérios S. A.

IEPA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

INBS- Instituto Brasileiro de Sustentabilidade.

IPOS- Índice Parcial de Organização Social.

IQV- Índice de Qualidade de Vida.

MMA - Ministério do Meio Ambiente ONG- Organização Não Governamental.

ODM- Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

ONU- Organização das Nações Unidas.

PD- Plano diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Macapá.

PNUMA-Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

RAAE- Relatório de Avaliação Ambiental Estratégico.

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UNICEF- United Nations Children's Fund.

ZEEU- Zoneamento Ecológico e Econômico Urbano das áreas de ressaca de Macapá e

Santana.

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CAPÍTULO 1 ... 29

1. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS ÁREAS DE RESSACA ... 29

1.1 Formação urbana macapaense e seus aspectos culturais e sociais ... 29

1.2 Legislação ... 39

CAPÍTULO 2 ... 48

2. DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE ... 48

2.1 Caracterização das dimensões da sustentabilidade ... 48

2.1.1 Dimensão urbana ... 62

2.1.2 Dimensão ambiental ... 63

2.1.3 Dimensão socioeconômica ... 64

CAPÍTULO 3 ... 66

3. AS ÁREAS DE RESSACA DE MACAPÁ SEGUNDO AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE ... 66

3.1. Ressaca lagoa dos índios e a ressaca Tacacá ... 69

3.1.1 Dimensão urbana ... 75

3.1.2 Dimensão ambiental ... 94

3.1.3 Dimensão socioeconômica ... 98

CONSIDERAÇÕES FINAIS...112

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 114

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INTRODUÇÃO

As áreas de ressaca são ecossistemas presentes na paisagem urbana da cidade de Macapá, mas a conscientização ecológica da importância destes espaços encontra-se, em sua maioria, restrita à comunidade cientifica. Desta forma, associado à ineficiência de políticas adequadas para uso do solo urbano, carência de planejamento na ocupação territorial, omissão dos agentes políticas e proteção das áreas de interesse dos governantes e empresários, estes territórios tornam-se frágeis em meio das ações antrópicas voltadas para o desenvolvimento urbano desenfreado da cidade (HERONDINO FILHO, 2011).

Com estas ações, regendo o planejamento, fácil acesso e baixo custo, grande parcela da população migratória, construiu e ainda constrói suas moradias em lugares humanamente inadequados, por não possuírem infraestrutura e saneamento básico, assim como a irregularidade quanto ao acesso à terra. No caso da cidade de Macapá, as áreas de ressaca são os alvos desta apropriação desordenada do espaço (PORTILHO, 2010).

Áreas de ressaca é uma designação regional que correspondem aos terrenos alagados e que são áreas de várzea 1 , ou seja, periodicamente inundáveis, que constituem uma parcela do cenário urbano da cidade de Macapá, além de em sua estrutura física abrigar uma rica fauna e flora, são influenciadas pelas marés e regime de águas pluviais.

Considerando a existência de ocupação de diversos pontos das áreas de ressaca, estas devem ser entendidas não apenas na sua estrutura física, que por si não consegue dar conta da complexidade de realidades ali existentes, mas como espaços sociais, como fruto da dinâmica das relações desiguais estabelecidas na sociedade (PORTILHO 2010. P. 2).

São ecossistemas alagados que possuem intensa presença na paisagem da capital amapaense. A relevância ambiental e até mesmo cultural desta é deixada de lado em meio à intensificação do processo de desenvolvimento urbano, que ocorreu principalmente em meados dos anos 1980, com o aumento do fluxo migratório para a região, fato este que proporcionou a ocupação irregular nestas que são classificadas como APP- Área de Proteção Permanente. Esta situação de ocupação irregular das áreas de ressaca, possui reverberação até a atualidade devido à incapacidade de articulação de ferramentas de gestão e regularização do

1

Segundo a Lei Florestal, n° 12.651/2012, art. 3°, inciso XXI e XXII, várzea é definida como área de inundação ou

planície de inundação, como áreas marginais a cursos d’água sujeitas a enchentes e inundações periódicas,

assim como faixa de passagem de inundação, adjacente a cursos d’água que permite o escoamento de

enchentes.

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solo que proporcionem um planejamento urbano adequado à realidade das novas espacialidades urbanas de terrenos ocupados irregularmente.

[...] a ocupação desordenada nas áreas úmidas urbanas foi devida ao aumento populacional, à deficiência de política habitacional, e à incapacidade de implementação dos planos diretores elaborados pela Fundação João Pinheiro (1973), Cole e Grunfibil (1979) e ao aumento da população pobre. As principais conseqüências dessa ocupação desordenada são a ausência de saneamento básico, condições habitacionais precárias, baixa condição de vida, destruição da mata ciliar, alagamentos, poluição das águas, eutrofização, aterramentos, queimadas, proliferação de ratos e insetos, degradação da qualidade ambiental e riscos de doenças epidêmicas, como hepatite, leptospirose, malária, dengue. Estes aspectos serão discutidos no diagnóstico, mais à frente (SOUZA. 2003, p.57)

O processo de ocupação das áreas de ressaca na cidade de Macapá teve início por volta da década de 1950. No entanto, é a partir da segunda metade da década de 1980 que este processo de ocupação foi intensificado, alterando a estrutura das áreas em questão (PORTILHO, 2010).

A pressão antrópica sobre áreas verdes, mormente às áreas de ressaca, tem sido uma constante, a especulação imobiliária, aumento populacional e ausência de políticas públicas por parte do Poder Público, contribuem às agressões a estas áreas que possuem relevantes funções ambientais de preservação da biodiversidade, bem como por servir para o controle de inundações, de erosões e da função térmica, além de constituir um lugar de grande beleza cênica e paisagística (SILVA; SANTOS;

FIGUEIRA, 2014, p. 1-2).

Em IBGE (2010), aglomerados subnormais, como: “um conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (...) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa”, as ocupações nas áreas de ressaca se enquadram nesta denominação por:

a) Ocupação ilegal da terra, ou seja, construção em terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) no momento atual ou em período recente (obtenção do título de propriedade do terreno há dez anos ou menos); e b) Possuir pelo menos uma das seguintes características: • urbanização fora dos padrões vigentes - refletido por vias de circulação estreitas e de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e formas desiguais e construções não regularizadas por órgãos públicos; • precariedade de serviços públicos essenciais (IBGE, 2011, p.3).

Segundo o Relatório técnico Final de Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Áreas de Ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá, 2012, p.17 são:

Além da moradia, outros usos impactantes como a extração de argila para olarias, a

criação de búfalos em áreas da periferia urbana e a piscicultura ocorrem de forma

indiscriminada. As queimadas, muito comuns na época de estiagem (agosto a

dezembro), causadas em sua maioria de modo intencional para a "limpeza" e

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renovação da pastagem para os búfalos causam sérios prejuízos ambientais. Outras atividades tais como a caça e pesca de subsistência, a extração vegetal, a navegação, e a recreação e turismo também são realizadas nas áreas de ressacas sem nenhum ou pouco controle por parte dos órgãos ambientais.

As ressacas são ecossistemas naturais que sofrem gravemente com o processo de ocupação inapropriada da cidade de Macapá, criando áreas ocupadas irregularmente, sem infraestrutura e ordenamento.

A capital do Estado, Macapá [...], apresenta boa parte da população de baixa renda ocupando áreas inundadas, onde vivem em situações precárias de habitação e sem condições básicas de salubridade. A falta de infra-estrutura [sic] de saneamento básico nessas áreas leva à ocorrência de sérios danos a comunidade local e ao meio ambiente, especialmente aos recursos hídricos. Os moradores dessas áreas também sofrem com a falta de equipamentos públicos, como postos policiais, postos de saúde, escolas, creches, praças e jardins, além dos riscos sociais decorrentes da dificuldade de policiamento, riscos de curtos-circuitos com a precariedade das instalações elétricas, riscos de acidentes com crianças e adultos nas passarelas de madeira que constituem a maioria da malha viária interna a estes assentamentos (GOVERNO DO ESTADO DO AMAPÁ - RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICO- RAAE, 2016 p.15).

Localizadas na zona costeira amazônica, as áreas de ressaca caracterizam-se por ocupar um setor dotado de questões sociais, econômicas e políticas devido à alta densidade demográfica e que segundo o Relatório técnico Final de Zoneamento Ecológico Econômico Urbano das Áreas de Ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá, 2012, p.17 são: “que constituem sistemas físicos fluviais colmatados, drenados por água doce e ligadas a um curso principal d'água, influenciados fortemente pela pluviosidade e possuindo vegetação herbácea”

(Amapá, 2012).

[...] as áreas de ressaca constituem em um reservatório natural de água provinda de rios, marés e chuvas, cercadas por terras argilosas originando, consequentemente, um biossistema o qual abriga diversas espécies biológicas como se verá posteriormente descrito em tópico a parte (BRITO et al., 2012, p.2).

A figura 1 mostra como as áreas de ressaca e como estas estão articuladas com todas

as quatro zonas da cidade, incluindo a conurbação com o município vizinho de Santana que

possui suas ressacas interligadas com as de Macapá, apresentando certa centralidade espacial

e que são alimentadas pelo regime de maré da foz do rio Amazonas, configurando assim as

áreas úmidas de Macapá.

(21)

Figura 1: Morfologia da cidade de Macapá.

Fonte: Tostes e Dias (2016).

Segundo o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Macapá, 2004, p.16 “Entendem-se por ressacas, as áreas que se comportam como reservatórios naturais de água, apresentando um ecossistema rico e singular e que sofrem a influência das marés e das chuvas de forma temporária”.

De acordo com Thomaz; Costa Neto e Tostes (2003, p.2):

As ressacas são áreas desenvolvidas em costa de baixa energia, com substrato que inclui areia, silte, argila e turfa, abaixo do nível do mar e do rio Amazonas, resultados da flutuação do mar e ação das correntes marinhas durante os últimos 100 anos e colmatados pelos sedimentos aluviais do rio Amazonas.

Partindo do princípio citado anteriormente, as ressacas podem ser definidas, como:

Bacias de recepção e de drenagem fluviais, recentes, ricas em biodiversidade, de

dimensões e formas variadas, configurando como fontes naturais hídricas, e

composições florística e faunística variada, encravadas na Formação de Barreiras,

apresentando características evidentes de argila e areia no seu domínio, com

comunicação endógena e exógena (SILVA, 2009; apud,SOUZA, 2003, p.19).

(22)

São áreas influenciadas pelo regime hídrico das marés e pela sazonalidade das chuvas (Figura 2), possuem a forte presença das florestas de várzeas, ao longo do curso d’água. São áreas de acumulação hídrica e servem para controle de inundações e como corredores naturais de ventos, são os pulmões da cidade, que proporcionam a renovação do ar intra-urbano, assim influenciando o microclima (TAKIYAMA, 2003).

Figura 2: Diagrama ilustrativo das áreas de terras inundáveis de planície quaternária costeira da região urbana de Santana e Macapá, limitadas para o interior pelas terras firmes do cerrado.

Fonte: Torres e Oliveira (2003).

Na figura 3 é possível verificar as áreas inundadas que estão sujeitas a exposição da maré (ação fluvial), assim como as que são influenciadas pelo índice pluviométrico, caracterizando as ressacas como florestas de várzea, periodicamente inundáveis que possui seu regime de águas sazonal devido às influencias citadas anteriormente. Assim a figura em questão evidência que as ressacas são influenciadas por vezes apenas pelo quadro pluviométrico de Macapá, mas por vezes também pelo fluvial e por fim também em determinadas áreas e períodos do ano por ambas as ações (AMAPÁ, 2012).

Além da rede de drenagem interconectando os sistemas de ressacas, outros pequenos

canais encontram-se dispostos perpendicularmente a linha de costa e drenam as

áreas de florestas de várzeas do rio Amazonas. Alguns desses canais podem ter sua

gênese associada a canais de marés, cujas relações precisam ser melhores

averiguadas. Florestas de várzea desmatadas em algumas ocasiões podem

assemelhar-se ainda aos sistemas de ressacas, no entanto a dinâmica de inundação,

tipo de solo e relações de contexto entre os ambientes permitem que as mesmas

sejam distinguidas nas imagens de satélite [...] As condições naturais das áreas

associadas às condições de baixo relevo e susceptibilidade a dinâmica de inundação

fluvial e por marés tornam as áreas de ressacas identificadas vulneráveis aos

processos de inundação. É oportuno lembrar que os contínuos aterramentos nos

(23)

sistemas de ressacas e canais fluviais diminui o espaço disponível para acumulação de água e sedimentos naturais aumentando a susceptibilidade à inundação em áreas antes não inundáveis (AMAPÁ, 2012, p.49-50).

Figura 3: Quadro de inundações das ressacas.

Fonte: Amapá (2012).

São, provavelmente, áreas que ficam abaixo do nível do mar e do rio, resultado da

erosão causada em pontos de formação de barreiras, criando uma extensa bacia de baixa

profundidade. Com a alta das marés, a água é bombeada para os igarapés, que funcionam

como irrigadores das ressacas, junto com as águas pluviais. As águas represadas secam no

período da estiagem, permanecendo aquelas nos pontos mais profundos, possui a formação

geológica de planície quaternária, que são partes baixas inundáveis e são ambientes de

características terrestres e aquáticas, periodicamente inundada e composta por sedimentos

argilosos, siltosos e arenosos de origem mista (ARAÚJO; SANTIAGO, 2011).

(24)

O solo das ressacas enquadra-se no grupo hidromórfico que são definidos como solos muito jovens expostos à influência do regime das chuvas e marés e que têm origem nos sedimentos do período geológico do quaternário. Tais solos possuem aptidão à agricultura de baixo custo de cultivares possíveis em áreas alagadas (AMAPÁ, 2012, p.32).

Os ambientes denominados regionalmente como ‘Ressacas’ constituem as unidades de

"Depósitos de Planícies Fluviais Antigas" da zona costeira estuarina do Amapá, que segundo SANTOS et al. (2004, apud AMAPÁ, 2004, p.39), são descritas como:

Ocorrem na forma de depósitos parcialmente consolidados ao longo de planícies fluviais antigas. Nas porções internas da planície costeira estão em contato com os depósitos da Formação Barreiras. Suas cotas topográficas variam de 2 a 15m sendo mais altas às proximidades do rio Vila Nova, no município de Mazagão.

Apresentam-se como sedimentos argilosos com laminação plano paralela, variando de coloração cinza escura, na base, a cinza clara, no topo quando são capeados por camada centimétrica de lama com matéria orgânica (restos de vegetais). O ambiente de deposição desta unidade está relacionado a depósitos de canais fluviais antigos, colmatados, formados quando da elevação do nível do mar, a qual foi responsável, também, por esculpir falésias, hoje inativas, nas unidades terciárias. A presença de camada orgânica na superfície indica o fechamento por colmatação das drenagens antigas. As principais extrações que ocorrem nessa unidade são de areia, na estrada entre Mazagão e Carvão, e de argila para olaria, nas cidades de Macapá, Santana e Mazagão.

Além das características mencionadas, as ressacas possuem a função de renovação do ar urbano, equiparando-se como “pulmões” responsáveis por diminuir a elevada temperatura desta zona equatorial, amenizando a sensação de calor, junto aos corredores de ar, o que influencia diretamente no microclima da região.

Assim, de acordo com Brito et al., 0112, p.5-6, as ressacas possuem as seguintes características quanto ao meio físico, ao clima, às espécies animais e drenagem:

Clima: Como as ressacas são corredores de massa de ar naturais e cortam toda a cidade, pois sua disposição geográfica natural assim o permite. Possibilita um melhor deslocamento de ventilação para os centros urbanos, assim, dissolvendo a sensação térmica de calor, proporcionando uma temperatura mais amena à população e desconcentrando os agentes poluentes de veículos automotores.

Biológico: Como as áreas de ressacas são criadores naturais para muitas espécies de

peixes e crustáceos que migram com a finalidade de procriação e na sequência

retornariam ao rio. Isso só será possível somente se houver canais naturais

interligando os rios às áreas de ressacas. Entretanto, se for obstruído em

consequência da urbanização por meio dos aterramentos; este ciclo da vida será

alterado. Drenagem: As áreas de ressacas interligam-se umas com as outras, assim

permitindo-se um escoamento e deságue dos pequenos escoadores naturais para o

rio Amazonas das águas das chuvas prevenindo, assim, alagamentos das áreas

próximas às ressacas, pois as mesmas funcionam como sistema de drenagem pluvial

por meio da sua comunicação com o Rio Amazonas. Outra função é a de manter o

equilíbrio térmico da cidade por serem fontes de umidade, favorecendo a formação

de vapor d’água na atmosfera por meio da evaporação de suas águas. Assim, levam

para o meio urbano, o ar úmido, amenizando o clima quente equatorial característico

da região norte.

(25)

De acordo com Silva (2000, apud THOMAZ; COSTA NETO; TOSTES, p.2):

Essas áreas no estado do Amapá, são influenciadas pelo regime hídrico das marés e pela sazonalidade das chuvas, sendo ainda dominadas pela vegetação composta por Poaceae, Cyperaceae, Arecaceae, com ênfase aos buritizais e as florestas de várzea ao longo dos cursos d’água.

Desta forma é possível compreender a complexidade do meio físico, assim como as particularidades ambientais que afirmam a magnitude espacial, natural e urbanística das áreas de ressaca, como um complexo ecossistema dotado de particularidades ambientais, fauna e flora, imprescindíveis diante da preservação do equilíbrio ambiental e perpetuação do discurso de sustentabilidade urbana.

Este tema foi escolhido devido aos itens indicados:

Relevância histórica, cultural e ambiental: É inegável a riqueza da biodiversidade futurística e faunística destes ambientes, assim como por terem abrigado comunidades indígenas e descendentes quilombolas e estarem presentes desde o início do processo de formação urbana da cidade de Macapá.

Impactos ambientais: Causados pelo avanço da malha urbana de maneira desordenada, onde as ações antrópicas prejudicas a estrutura física do local.

Carência de políticas públicas e planejamento da cidade: Existem políticas públicas para controlar o avanço desqualificado e desordenado, protegendo as características naturais das ressacas, mas estas tornam-se insuficientes, por não acompanharem as novas formas de apropriação espacial, dadas por usuários do território.

Acessibilidade / custo do solo: São terrenos e áreas estratégicas e que não necessitam de custo para legalização da ocupação, por mais que devessem ser livres de qualquer forma de ação prejudicial.

Omissão por parte do poder público: Para formulação de novas políticas, implantação de leis e fiscalização.

Aglomerado subnormal: Segundo o IBGE por fugir do padrão de ocupação vigente,

carência de saneamento básico e por haver precariedade ao acesso de serviços

públicos essenciais.

(26)

As ressacas são danificadas pelo processo de degradação ambiental em prol de um desenvolvimento da malha urbana da cidade de Macapá de forma desordenada, por mais que existam normas que deveriam garantir que estes espaços continuassem intactos. Assim o objetivo desta pesquisa consiste em fazer uma análise histórica e conceitual das áreas de ressacas; além de outros casos de apropriações indevidas e/ou sem regularização de terrenos alagados pelo mundo, como um mecanismo de compreensão de como em diferentes realidades e localidades, existem os mesmo conflitos sociais e ambientais de ocupação do solo, em uma periodização que se inicia em 1953 e se perpetua até a atualidade. Para assim possibilitar o auxílio na formulação de normas que condizem com a realidade, regulem a ocupação espacial e tornem estes espaços resilientes e preservados, mostrando compreendê- los além da sua forma física, como consequências de realidades sociais complexas de assentamentos urbanos irregularidades e da cidade informal que se desenvolve em paralelo às normas púbicas de regularização do solo.

Assim, perante as ações a que estes ecossistemas estão expostos, torna-se fundamental o levantamento e análise de recomendações de propostas de sustentabilidade para áreas de fragilidade e vulnerabilidade ambiental em meio aos ambientes urbanos, que possuam a intenção de recuperar e preservar, sugerindo o desenvolvimento urbano de baixo impacto ambiental e em harmonia com a natureza, concebendo educação ambiental perante a população com o intuito de alarmar e prevenir a sociedade quanto aos impactos ambientais causados pelas ações inadequadas, como o de descarte de resíduos sólidos urbanos e aterramento.

Ao analisar a expansão urbana da cidade de Macapá, claramente percebe-se que as áreas de ressaca são os ecossistemas que mais sofrem com os conflitos gerados pelo avanço urbano desordenado, proveniente das ações de incentivo para ocupação dos terrenos do estado, concebidos pelo governo e pelas ações econômicas de instalação e desenvolvimento de atividades industriais que estimularam a região, atraindo população do interior para a capital e de estados vizinhos.

A paisagem natural das áreas de ressaca encontra-se modificada e degradada. Ao

longo do processo evolutivo urbano da cidade de Macapá, surgem novas formas de

apropriações espaciais inadequadas, por constituírem-se em Áreas de Proteção Permanente e

que seriam destinadas às apropriações sem impactos ambientais. Os principais problemas que

surgem em meio ao ambiente das ressacas de Macapá, decorrentes da ocupação humana, são:

(27)

Adensamento de edificações em palafitas, que são, na sua maioria, em madeira e que são construídas em aglomerados, tornando o espaço altamente adensado, com circulação precária e com carência de ventilação natural.

Descarte do lixo de maneira inapropriada, sobretudo nos córregos d’água potável, a priori usada para a dessedentação da população e de animais e na mata, devido a precariedade e/ou inexistência de programas de coleta de resíduos sólidos urbanos.

Modificação da forma natural dos córregos, devido ao aterramento, em sua maioria de forma clandestina e sem aprovação técnica da prefeitura, para a construção das edificações nas margens dos sistemas hídricos e o consequente assoreamento.

Aterramento, para o avanço da malha urbana, sem planejamento prévio para análise dos impactos decorrentes desta ação.

Carência quanto ao saneamento básico e acesso aos serviços públicos básicos, instituições de ensino e postos de saúde/ hospitais, diante da informalidade dos espaços e crescimento espontâneo, sem ordenamento. Assim, devido à precariedade sanitária há a proliferação de doenças que tornam alarmante o quadro de doenças endêmicas, difíceis de serem combatidas devido a inexistência ou/e distancias de postos de saúde.

Alto índice de criminalidade, dada à carência de fiscalização, por ser esta uma cidade informal.

Desmatamento, retirada da mata ciliar e perda da biodiversidade para a construção de ocupações, tornando o ambiente vulnerável e provocando o desaparecimento de espécies nativas.

Irregularidade da ocupação, pois estes terrenos alagados não devem receber ocupações que causem impactos ao meio ambiente natural, sendo de uso exclusivo às atividades de caráter sustentável e ecológico.

Clandestinidade do abastecimento de energia e água, por serem terrenos ocupados irregularmente, não são abastecidos pela rede pública municipal, assim por vezes a população recorre ao armazenamento de água em caixas d’água.

Desequilíbrio ecológico, havendo a propagação de incêndios florestais corriqueiramente e alagamento pela dificuldade de drenagem das águas no solo ocupado e/ ou aterrado.

Estes problemas listados anteriormente, tornam as áreas de ressaca, espaços com

diversos conflitos espaciais e sociais. Na maioria das áreas é possível identificar vários destes

(28)

problemas, assim os espaços são configurados por intensas ações conflituosas que danificam a estrutura natural.

Abaixo é possível verificar imagens que ilustram estas questões colocadas em tópicos anteriormente. O cenário das ressacas é configurando pelo conjunto destes conflitos, onde diversas destas ações articulam-se, criando cenários caóticos que criam um dinamismo espacial de ações que se tornam danosas ao meio ambiente das ressacas amapaenses.

A figura 4 apresenta a área de ressaca Chico Dias, onde é possível verificar vários dos problemas mencionados anteriormente, como a infraestrutura de acessibilidade precária; a clandestinidade de abastecimento de energia elétrica, configurado popularmente como

“gatos”; a existência de caixa d’água para o armazenamento de agua da chuva e de instalações hidráulicas precárias; e poluição da agua e vegetação com o descarte inapropriado do lixo.

Figura 4: Imagem videográfica mostrando parte da ressaca Chico Dias, na parte central.

Fonte: Souza (2003 ).

Na figura 5 fica evidente a precariedade das edificações existentes nas áreas de

ressaca, assim como as péssimas condições de circulação e acesso às moradias; outra questão

que é justificada diante desta imagem é que a população residente, está exposta à um quadro

de doenças infeciosas, devido à proximidade com o lixo descartado, por vezes de forma

inconsciente, nas águas, facilitando a proliferação de doenças, tais como Dengue e Febre

amarela.

(29)

Figura 5: As pontes da ressaca Chico Dias.

Fonte: Acervo programa SOS Ciudades (2012).

Na Figura 6, vê-se o total descaso da população ao descartar o lixo nas ressacas de forma inadequada e incoerente, assim como a carência quanto ao recolhimento dos resíduos gerados pela população por parte das empresas associadas ao município.

Figura 6: Descarte de lixo nas ressacas de Macapá.

Fonte: Romero (2013).

Perante as atividades degradantes aos ecossistemas das áreas de ressacas, que

acarretam a ruptura do equilíbrio ambiental, torna-se questão primordial para esta pesquisa,

(30)

conhecer: Quais os principais aspectos sociais, culturais, econômicos, legislativos e estruturais presentes nas interfaces das ocupações das áreas de ressaca, para compreensão das ações espaciais, utilizando como base analítica os indicadores de sustentabilidade, e assim contribuir em futuras formulações de políticas públicas de preservação ambiental?

Objetivo Geral

O objetivo geral deste estudo é fazer uma abordagem acerca das dinâmicas espaciais das áreas de ressaca da cidade de Macapá que são ações de ocupação, que causam danos ambientais, diante das desigualdades urbanas, presentes desde a formação territorial e abordando-as segundo as dimensões da sustentabilidade.

Objetivos específicos

a) Analisar as abordagens teórico-conceituais referentes às formas de apropriação das áreas ressacas de Macapá.

b) Investigar a formação espacial amapaense e o processo de ocupação das áreas de ressaca.

c) Diagnosticar as formas de ocupação e os principais aspectos ambientais, sociais e legais acerca das áreas úmidas, levando em consideração as dimensões da sustentabilidade.

d) Compreender o conceito de sustentabilidade.

Processo metodológico

Para um completo entendimento das áreas de ressaca, pretende- se realizar visitas às principais áreas de ressaca, priorizando aquelas delimitadas como objetos de análise deste trabalho, desenvolvendo no local levantamento fotográfico; visita às moradias irregulares em suas diversas tipologias; análise das estruturas domiciliares que compõem as ressacas, de circulação, de urbanização, das áreas de uso comum; e dos demais equipamentos existentes nos locais, para a compreensão da formação territorial e das ações do continuo desenvolvimento e ampliação deste território informal.

Utiliza-se como base metodológica a definição de dois estudos de casa, seguindo

critérios de acordo com os padrões da sustentabilidade e após a compressão das duas

realidades, abordando temas como infraestrutura e saneamento, elabora-se uma tabela

(31)

sintetizando as condições dos dados levantados e comparasse os estudos inicias aos constatados ao termino do processo de deriva urbana.

Na figura 7 verifica-se a distribuição em fluxograma do caráter da pesquisa de forma metodologia e explicativa, para a compreensão e organização.

Figura 7: Fluxograma metodológico.

Fonte: A autora (2019).

Estrutura do trabalho

A dissertação é estruturada em três capítulos, onde o primeiro capítulo consiste na apresentação do estado do Amapá, onde delimita-se o objeto de estudo que se encontra na capital Macapá, assim como a descrição da formação territorial amapaense e os aspectos culturais, históricos, sociais e políticos. São apresentadas as áreas de ressaca, definindo-as segundo autores e legislações.

O segundo capítulo é destinado à análise do termo sustentabilidade, como um discurso

e suas práticas, deixando de ser um fundamento teórico que ganhou destaque nos últimos

anos, para torna-se um princípio de desenvolvimento com diversos alicerces. Neste capítulo,

ainda cabe ressaltar as dimensões da sustentabilidade, que surgiram ao longo dos debates em

conferencias mundiais, como a de Estocolmo, ECO 92 e Rio + 10, e mobilizações que visam

o equilíbrio entre o ambiente construído e o natural, destacando as dimensões urbanas,

socioeconômicas e ambientais.

(32)

O terceiro capítulo consiste na análise de duas ressacas que constituem a rede híbrida

da malha urbana da cidade de Macapá, selecionadas de acordo com as particularidades que as

destacam, analisando-as comparativamente de modo que estas duas são classificadas de

acordo com o índice de qualidade de vida da dissertação de mestrado elaborada por Josiane do

Socorro Aguiar de Souza, sobre o desenvolvimento sustentável, com o título de Qualidade de

vida urbana em áreas úmidas: ressacas de Macapá e Santana – AP. O intuito é focar na

compreensão da rede urbana macapaense que em sua estrutura está articulada às áreas de

ressaca por pontes e como estes ambientes úmidos estão inseridos e articulados, para

identificar a existência e como se apresentam os pressupostos da sustentabilidade, para tal

feito utiliza-se a investigação histórica e pesquisa em campo, com o processo de deriva urbana

para criação de mapas que identifiquem visualmente as situações existentes.

(33)

CAPÍTULO 1

1. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS ÁREAS DE RESSACA:

1.1 FORMAÇÃO URBANA MACAPAENSE E SEUS ASPECTOS SOCIAIS E CULTURAIS.

Para compreender as modificações no meio natural e os motivos que impulsionaram as pessoas a construírem suas casas nas áreas de ressacas, principalmente a partir de 1950, é necessário fazer uma profunda análise dos principais aspectos perante as formas de apropriação, bem como a história do Estado do Amapá e seus municípios referentes a este período (SOUZA, 2003).

Na figura abaixo é possível verificar o perímetro urbano de Macapá, capital do estado do Amapá, com 25 bairros consolidados, interligado com o município vizinho de Santana pelo processo de conurbação e possuindo uma vasta rede hídrica que percorre todo o território em destaque, bem como apresenta os oito setores administrativos da cidade.

Figura 8: Setorização urbana de Macapá.

Fonte: Prefeitura Municipal de Macapá (2004).

(34)

Macapá é capital do estado do Amapá, localizado no extremo norte do país e de acordo com Porto (2002, p.4), “limita-se ao sul (pelo rio Amazonas) e a oeste (pelo rio Jari) com o Estado do Pará, a leste com o Oceano Atlântico, ao norte com a Guiana Francesa (pelo rio Oiapoque e Serra do Tumucumaque) e a Noroeste com Suriname (pela Serra do Tumucumaque).” É possível verificar a localização do estado abaixo (Figura 9), onde é feito um recorte da localização do estado do Amapá no mapa do Brasil e o apontamento da rede hídrica da cidade de Macapá.

Figura 9: Mapa localização Macapá.

Fonte: A autora (2018).

A cidade de Macapá, assim como ocorre em outros estados brasileiros, encontra-se

vulnerável ao crescimento desordenado da malha urbana (Figura 10). Justifica-se tal

afirmativa devido ao fluxo migratório impulsionado pelas condições econômicas instáveis em

estados próximos (regiões Norte e Nordeste do país) e principalmente pela possibilidade de

melhores condições de vida (HERONDINO FILHO, 2011).

(35)

Figura 10: Expansão da malha urbana de Macapá 1943 a 2014.

Fonte: Silva (2017).

O mapa anterior mostra que a cidade de Macapá, de 1943 a 2014, apresentou um

desenvolvimento significativo, chegando a iniciar o processo de conurbação com o município

vizinho de Santana e principalmente desenvolvendo-se de maneira significativa no centro e na

zona norte da capital.

(36)

Para a compreensão deste cenário de desenvolvimento ocorrido em aproximadamente 70 anos na capital e como este processo incidiu sobre as áreas de ressaca, apresentam-se três fatores que proporcionaram o aumento populacional de Macapá, segundo Herondino Filho (2011), que são:

• A falência do projeto de exploração de jazidas de manganês na Serra do Navio (1953- 1990).

• A transformação do Território Federal do Amapá em Estado pela Constituição Federal de 1988.

• A regulamentação da Área de Livre Comércio de Macapá e Santana – ALCMS, pela Lei Federal n° 8.387, de 30 de dezembro de 1991.

O primeiro fator é explicado segundo Silva (2017), devido ao estado do Amapá contar em seu processo histórico com a influência direta dos grandes projetos econômicos de exploração de recursos naturais da região, onde indústrias instalaram-se com o intuito de extrair e enriquecer. Cabe ressaltar que dentre estes projetos tem-se como um dos mais significativos a instalação da empresa ICOMI (Indústria e Comércio de Minérios S. A.), no estado, com objetivo de explorar minério na região, cujo processo atraiu um contingente populacional, proveniente basicamente de estados adjacentes, buscando acesso a serviços e melhores condições de vida. Neste cenário as localidades de Serra do Navio, Santana e a capital Macapá, receberam investimentos de infraestrutura e saneamento, para atender a demandas da incorporadora e das posteriores que se instalaram na região.

A história do Amapá está entrelaçada com questões estratégicas do cenário nacional e internacional, de caráter econômico, geopolítico, de exploração de recursos minerais e militar.

Em 1943, ano em que o Amapá foi desmembrado do Pará, em pleno Estado Novo do presidente Getúlio Vargas, seguindo a vertente do planejamento regional, tido como

“interesse nacional” tornando-se uma unidade federativa, comandado por Janary Nunes, com

o objetivo de assegurar o território e proteger os recursos naturais e as zonas fronteiriças, foi

iniciado o processo de desenvolvimento do território, a partir da visão do potencial dos

recursos minerais existentes na região, detectados desde 1934 pelo engenheiro de minas do

Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) Josalfredo Borges, na vila de Serra do

Navio (PASSOS, 2017; CARVALHO, 2004).

(37)

Em 1946, quando se definiu a “reserva nacional”, a Sociedade Brasileira de Indústria e Comércio de Minérios de Ferro e Manganês (ICOMI), venceu o processo de licitação, assim como o direito de explorar das jazidas de manganês presentes no estado do Amapá. Este mineral era imprescindível para a produção de armamentos, dado o cenário mundial da Guerra Fria, onde havia a corrida armamentista, em busca da soberania e afirmação de poder entre duas grandes potencias, os EUA e União Soviética (PASSOS, 2017; CARVALHO, 2004).

Como determinado em um contrato assinado entre a empresa e o governo federal, a ICOMI teve a licença de exploração por um período de 50 anos, a partir de 1953, sob o comando do engenheiro Augusto Trajano de Azevedo Antunes. O porte do empreendimento solicitou um minucioso planejamento urbanístico e a construção de instalações industriais para a extração, circulação e beneficiamento do manganês, de sistema de transporte (ferrovia, porto e rodovia), além das instalações de infraestrutura para atender o eventual número de trabalhadores e os familiares dos mesmos envolvidos na região (CONCEIÇÃO, [201-?], n.p).

Segundo Galiano e Carvalho (2016, p.11-12):

Para o governador do Território Federal na época, Janary Nunes, a mineração seria a base da economia e do desenvolvimento do território. Preliminarmente a prioridade não era a exportação, mas o abastecimento do mercado interno, uma vez que o Brasil na época não era autossuficiente em manganês. Conquanto depois de ganhar a concorrência, a necessidade de capital para realizar a prospecção fez a ICOMI associar-se a outra grande companhia estadunidense, a Bethlehem Steel, maior consumidora mundial de manganês.

O sítio de exploração estava localizado no município de Serra do Navio (Figura 11) e

o porto responsável pelo escoamento da produção no município de Santana (Figura 12), que

ligava o estado com o restante do mundo, pelo oceano atlântico. Em 1953, iniciou-se o

processo de consolidação da ICOMI na região, assim como uma série de obras que visavam

facilitar a ligação entre os dois polos e a capital do estado (DRUMMOND; PEREIRA, 2007).

(38)

Figura 11: Vila Serra do Navio.

Fonte: C onceição (201-?).

Figura 12: Vila Amazonas em Santana.

Fonte: C onceição (201-?).

Em meio a este processo visionário de exploração de manganês, construíram-se

“cidades” – “Company-towns”, uma em cada polo, para abrigar os funcionários e técnicos

(39)

gabaritados, assim como suas famílias, em meio a estes se encontram estrangeiros, migrantes e população local que passam a ficar isolados nestas cidades ideais, projetadas por Oswaldo Bratke. Estas cidades empresas foram planejadas e executadas para atender as necessidades dos novos moradores de uma área remota, pouco habitada e carente em serviços e produtos, em meio à floresta amazônica em meados da década de 50.

Com o fim do contrato de beneficiamento da ICOMI diante do minério de Serra do Navio (1953-2003), os cenários das cidades operárias prósperas e planejadas foram modificados, devido aos novos paradigmas econômicos e sociais. Houve na verdade uma retirada da empresa, antes do tempo previamente estabelecido (1997), revelando a insuficiência econômica da região, já que todo o capital dependia das jazidas de manganês, restando alguns poucos estabelecimentos comerciais e informais que não eram expressivos diante do mercado durante o período de exploração, tão pouco após o fim do projeto (TOSTES et al. 2008).

A população que migrou para o estado neste período e que ocupava as estruturas das cidades planejadas de Bratke, em Serra do Navio e Santana, ficaram a mercê, sem condições de manter-se financeiramente e sem moradias. Muitos ex-funcionários partiram rumo à capital Macapá, em busca de amparo e de uma forma de reerguer-se, acarretando em um inchaço populacional, que foi um dos fatores iniciais das primeiras ocupações em áreas de ressaca, devido a facilidade de acesso, baixo custo inicial de ocupação e proximidade aos pontos de interesse e serviço.

Assim, o segundo fator que proporcionou o aumento populacional de Macapá se destaca em meio a este cenário de transformações, onde ouve a elevação do Território Federal do Amapá em Estado pela Constituição Federal de 1988, segundo Porto (1999b, p.7)

“Juridicamente, o auge dos Territórios Federais se dá com sua transformação em Estados".

Para compreender tal feito histórico e até mesmo recente do Amapá, torna-se necessário retornar a 1943, ano em que foi criado o território federal do Amapá, que em meio a tensões políticas e assim como os outros territórios criados, como um mecanismo de defesa das áreas de fronteira.

Mesmo com tais diretrizes, os Territórios Federais foram implantados sob a

ideologia da defesa nacional, em época de guerra [...] No que se refere à sua origem

política, deu-se a partir de Decreto-lei, sem consulta à população por plebiscitos,

nem às Assembleias Legislativas, ou seja, foram impostos pelo Governo Central

(40)

sobre as regiões fronteiriças do Brasil. Este período histórico relaciona-se à primeira gestão de Getúlio Vargas (1937-1945), quando governou o Brasil com a participação de interventores, sem discussões no Congresso Nacional dos seus projetos, pois esta instituição foi dissolvida por sua determinação. Vários objetivos foram traçados com a criação e instalação desses Territórios, dentre os quais se destacam: proteger as regiões fronteiriças de vazio demográfico; garantir a atuação do governo em regiões longínquas e criar condições jurídicas e econômicas para reorganizar o espaço brasileiro, de acordo com as orientações constitucionais e com um programa para sua organização e desenvolvimento que preconizava sanear, educar e povoar (PORTO, 1999b, p.5).

Assim, era necessária a criação do Território Federal era no Amapá, com intuito de assegurar o território nacional, proteger a zona de fronteira e os recursos naturais existentes, mas acima de tudo, estava a necessidade de organizar politicamente, economicamente, socialmente e institucionalmente o estado que pertencia anteriormente ao desmembramento para a criação do TF, pertencia ao estado do Pará.

Desmembrado do Pará, o Território Federal do Amapá teve sua área organizada a partir dos municípios de Almerim, pelo seu distrito de Arumanduba, Mazagão (a união dessas duas áreas originaram o município de Mazagão), Macapá e Amapá. A partir de então, passou por reestruturações territoriais municipais resultantes de:

preocupações geopolíticas (Oiapoque), atuação de empresas nas suas áreas (Santana, Laranjal do Jari, Pedra Branca do Amapari, Serra do Navio, Porto Grande e Vitória do Jari), pela exploração aurífera (Calçoene), pela construção da Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes (Ferreira Gomes) e de movimentos políticos locais (Tartarugalzinho, Cutias, Itaubal, e Pracuúba) (PORTO,2005c, p.11988).

A política adotada entre o período da criação do Território Federal do Amapá (1943) e a sua elevação à Estado (1988) era voltada a valorização, organização e ordenamento, assim como havia incentivos por parte da União para a ocupação e a consequente afirmação/

proteção do estado e seus recursos, tornando-se altamente atrativo para a população de outros estados que buscava melhores condições de vida.

Até meados de 1990, a forma principal de acesso à terra urbana, em Macapá, ocorria

por meio da distribuição gratuita, via dispositivo de posse, pelo governo territorial, e

não na forma de propriedade, que caracteriza mais diretamente o mercado, de modo

que o mercado de terras era pouco desenvolvido e o preço da terra relativamente

baixo. Esta distribuição tinha o objetivo de incentivar a ocupação da região. Mas a

dinâmica de urbanização, que se impõe a partir de 1990, gera uma “escassez” da

terra no urbano, em especial nas áreas com mais infraestrutura, e provoca mudanças

nesse cenário, de modo que tanto o mercado de terras quanto a busca da renda da

terra se fortalecem, contribuindo para um processo que, na atualidade, tem resultado

na sobreposição do valor de troca da terra urbana sobre o valor de uso (SILVA,

2017, p.433).

(41)

Ainda para Silva (2017, p.429):

Mas, após o processo de estadualização, em 1988 essa dinâmica se modifica e, especialmente a partir de 2011, o processo de expansão urbana em Macapá passa por sensíveis mudanças, principalmente no que se refere a suas formas e conteúdo, destacando-se a maior presença no território de serviços ligados a meios técnico científico-informacionais e, especialmente, o comparecimento do setor imobiliário, via incorporadoras e construtoras, como agentes importantes na promoção da expansão urbana e na produção da cidade.

Diante desta nova realidade espacial e com tantos incentivos a ocupação, o índice migratório tornou-se elevado, até que estas políticas entraram em colapso e esta ação gerou a alta taxa de ocupação do solo, não havendo mais como prosseguir com os incentivos e a população carente, possuía dificuldade de acessar a terra de forma legal, devido aos custos do mercado, assim proliferando a cidade informal.

Com o estado em ‘construção’ e atrativo, criaram-se os projetos já mencionados anteriormente, mas além destes tem-se como fundamental o terceiro fator que é a regulamentação da Área de Livre Comércio de Macapá e Santana – ALCMS, pela Lei Federal n° 8.387, de 30 de dezembro de 1991, que procede na comercialização de produtos importados.

Tal atividade apresenta-se como importante incentivo às atividades econômicas do estado, com a finalidade de estimular o desenvolvimento e inserir de vez o estado no cenário nacional e internacional.

A área de livre comércio de Macapá e Santana, segundo o artigo 11° do Congresso Nacional brasileiro (n° 8.387, de 30 de dezembro de 1991) disciplina in verbis:

Art. 11. É criada, nos Municípios de Macapá e Santana, no Estado do Amapá, área de livre comércio de importação e exportação, sob regime fiscal especial, estabelecida com a finalidade de promover o desenvolvimento das regiões fronteiriças do extremo norte daquele Estado e de incrementar as relações bilaterais com os países vizinhos, segundo a política de integração latino-americana (BRASIL, 1991, n.p.).

Esta atividade de isenção fiscal proporcionou ao estado avanços nas atividades

comercias, assim como incentivou as empresas locais, em negócios e empreendedorismo dos

empresários, atraindo público para o estado que visavam adquirir os produtos e também os

que desejavam prosperar com a iniciativa política.

(42)

Na década de 1990 o estado do Amapá recebeu muitos migrantes, que vieram em busca de emprego e de um “lugar” melhor para morar, atraídos pela recém-criada Área de Livre Comércio, que ofereceria tais empregos no ramo do comércio, entretanto o que se viu, foi que muitas desses pretensos empregados tiveram que trabalhar como autônomos e em livres iniciativas. Muitos desses migrantes oriundos de outros estados e do interior passaram a ocupar áreas de ressaca [...] esse problema ambiental persiste até hoje [...] (PEREIRA; SOUSA; SILVA, 2015, p.3).

Figura 13: Taxa de urbanização no Estado do Amapá - 1950/2000.

Fonte: Oliveira e Moraes (2016).

Na figura 13, verifica-se de maneira gráfica o que foi explanado anteriormente, onde se discorreu sobre o processo de desenvolvimento urbano do estado do Amapá, associado ao fluxo migratório, proveniente principalmente das questões econômicas, onde a cada ano o índice médio aumentou.

O aumento da taxa de urbanização nestas décadas de acordo com IBGE (2000) está relacionado a maior oferta de empregos na área técnica, uma vez que o então Território Federal do Amapá se fortalecia institucionalmente e apresentava carência de mão-de-obra para os setores de educação, administração estatal e serviços diversos, inclusive por demandas oriundas da implantação de empreendimentos como AMCEL (Amapá Celulose), Área de Livre Comércio de Macapá e Santana (1991) e a transformação do então Território Federal do Amapá em Estado, a partir de 1988 (Porto, 1999) (AGUIAR; SILVA, 2003, p.179).

Diante destas dinâmicas espaciais, encabeçada pelo capital, Silva (2017) afirma que o

processo de urbanização derivado da expansão urbana provenientes da migração acarreta na

intensificação do surgimento de moradias irregulares, por populações carentes, que não

possuem condições financeiras de acessar a terra de forma legal, ocupando assim as áreas de

ressaca, consolidando o surgimento das favelas horizontais em terrenos alagados.

(43)

1.2 LEGISLAÇÃO

As áreas de ressaca são ecossistemas de extrema complexidade e que são classificadas como APPs, assim sendo possuem normas e diretrizes específicas quanto às formas de manejo e ocupação, que na prática não são implantadas corretamente, o que pode ser justificado pelas dinâmicas sociais desenvolvidas nos locais, carência de fiscalização e não adequação destas às novas realidades. Este fenômeno é comprovado quando analisamos as ressacas e são detectados problemas de mobilidade, moradia, saneamento básico, segurança, acessibilidade, entre outros, em um espaço que deveria ser dedicado exclusivamente a formas de apropriação com o mínimo de impacto ambiental.

As primeiras legislações sobre as áreas de ressacas datam desde 1965 com a publicação do primeiro código florestal que já ressaltava sobre a conservação permanente das florestas e demais vegetações ao longo dos rios e dos cursos d’água (BRITO et al., 2012, p.1).

A figura 14, apresenta uma breve linha do tempo com as principais posturas que exercem influência direta aos ambientes das ressacas que possuem como objetivo o controle e ordenamento diante das ações antrópicas e a preservação ambiental.

Figura 14: Esquema das leis nas áreas de ressaca.

Fonte: A autora (2017).

(44)

É importante ressaltar que dentro deste quadro anterior, apresentam-se diretrizes municipais, estaduais e nacionais, sendo que todas exercem influência diante da proteção das ressacas e ao longo dos anos estas foram completando umas às outras.

Quanto ao Código Florestal de 1965, revogado em 2012, especificamente a Lei n.º 12.651, de 25 de maio de 2012, em seu artigo 3°, inciso II, discrimina as áreas de ressaca, como:

Área de Preservação Permanente – APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico da fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Segundo o artigo 6°, inciso de I à VIII, do Código Florestal (1965), as áreas de ressaca são:

Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:

I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha;

II - proteger as restingas ou veredas;

III - proteger várzeas;

IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;

V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;

VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;

VII - assegurar condições de bem-estar público;

VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.

E ainda o acesso a terra é permitido desde que siga as coordenadas do Art. 9o, ainda da Lei n.º 12.651, de 25 de maio de 2012 “É permitido o acesso de pessoas e animais às Áreas de Preservação Permanente para obtenção de água e para realização de atividades de baixo impacto ambiental”.

Já quanto a Constituição do Estado do Amapá, apresenta os panoramas fundamentais do poder legislativo, incluindo a preservação e restauração das ressacas como uma particularidade regional.

De acordo com a Constituição do Estado do Amapá de 20 de dezembro de 1991, capítulo IX, do Meio Ambiente, artigo 311:

Art. 311. O Poder Público estadual realizará o zoneamento ecológico econômico do

Estado, de modo a compatibilizar o desenvolvimento com a preservação e a

conservação do meio ambiente, bem como promoverá o levantamento e o

monitoramento periódico da área geográfica estadual, de acordo com a tendência e

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