r
III
I
Por
srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
que escolheu Portugal, para sua pesquisa?Por elxistirem tantas sem elhanças,
afinidades e condicionam entos entre
esse país e o Brasil, tais com o a lín-gua, literatura, história, costum es que, infelizm ente, não foram ou não
pude-ram ser explorados suficientem ente
nas últim as décadas. A literatura
bra-sileira, por exem plo, após a Sem ana
da Arte M oderna, tom ou os seus
ru-m os e o Portugal salazarista, por sua
vez, não ofereceu condições para um intercâm bio intelectual e editorial. Ho-je em dia, há m ais interesse por parte
de editores e escritores, de reatar os
laços culturais. Por exem plo, o editor
Sérgio Lacerda, da "Nova Fronteira",
Rio de Janeiro, em um depoim ento
publicado no "Jornal de Letras, Artes e Idéias", Lisboa, julho 1982, analisa
os entraves editoriais dos dois lados
do Atlântico e aponta soluções para
que se possa alcançar um a com unida-de unida-de língua portuguesa do futuro,
in-cluindo os m ercados africanos de
ex-pressão portuguesa.
Veja-se por outro lado, a iniciati-va do poeta gaúcho Carlos Nejar que
organizou um a antologia intitulada
QPONMLKJIHGFEDCBA
R O D O L F O T S U P A L , éP r o fe s s o r d o C u r s o d e B t b l i o t e c o n o m i a , U N E S P , C a m p u s d e M c r i l i a , S . P . R B B D e n t r e v i s t o u - o s o b r e a r e a l i z a ç ã o d e s u a p e s q u i s a , lia á r e a d e B i -b l i o t e c o n o n i i a , e m P o r t u g a l , I/OS m e s e s j u -l h o . ' a g o s t o ( ' s e t e m b r o d e 1 9 8 2 .
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"Poesia Portuguesa Contem porânea",
publicada pela editora Ohno-Kem pf,
este ano, no Brasil.
Ainda um a contribuição recente,
que considero de grande alcance é a
da série de reportagens, publicada
se-m analse-m ente, ese-m "O Estado de S.
Pau-lo" a partir de 16 de m aio de 1982,
intitulada "Escritor Português Hoje".
A autora dessas reportagens, Crem
il-da M edina, entrevistou m ais 'de 30
es-critores, poetas, críticos e transm itiu
os seus depoim entos para o leitor bra-sileiro.
Há tam bém instituições que m
an-tém intercâm bio cultural com o Biblio-teca Nacional de Lisboa, A Fundação
Calouste Gulbenkian, por m eio de
doações de livros e várias outras ins-tituições e associações.
Quanto às afinidades por um lado
a falta de intercâm bio na área de
Bi-blioteconom ia, responde o
bibliotecá-rio português, Rodrigo M agalhães na
entrevista que m e concedeu em Lisboa, este ano e que está sendo publicada na Revista Brasileira de Bibliotecono-m ia e DocuBibliotecono-m entação.
Escolhi, portanto, Portugal, para
m inha pesquisa por essas razões,
acrescidas pela sim patia que nutro,há
m uito tem po, por esse país. Com o
tam bém pela convicção de que os
es-tudos de Biblioteconom ia Com parada
devem ser m antidos tam bém entre os
países cham ados "em
desenvolvi-m ento".
Qual propósito da sua pesquisa em Portugal?
A pesquisa que fiz em Portugal
é parte de um projeto sobre o papel
E N T R E V I S T A
cultural de Biblioteca Pública,
incluin-do relação de Literatura e o Leitor,
Coletei dados, nas cidades de Lisboa, Porto e Coim bra.
A realização desse trabalho foi
possível graças a concessão de um a
bolsa de investigação pelo Instituto ele
Cultura e Língua Portuguesa/M
inis-tério da Educação, Lisboa; CAPES/
M EC, Brasília, e UNESP, São Paulo.
Os portugueses lêem?
Sim . Aliás, foi um dos m eus
pres-supostos que, se o país possui um a
literatura rica e profunda, deve tam
-bém ter leitores, receptores e ecos des-sa literatura.
M as, prim eiram ente, há de se
con-siderar que em 1970 o analfabetism o estava atingindo cerca de 25 em cada
100 portugueses adultos. Isto
consis-tiu um dos obstáculos aos hábitos ele
leitura e ao fluxo de idéias, Outro
obstáculo representavam os índices ele
livros proibidos. Depois de Abril ~4,
os editores com eçaram a lançar desde
a literatura universal à subliteratura,
pois havia leitores ávidos para tudo
aquilo que antes era proibido ou con-trolado.
Nestes últim os anos apareceram
várias pesquisas na área de sociologia
da leitura, incluindo os estudos sobre
a relutância do leitor português à
lei-tura.
Resultados interessantes de pesq ui-sa baseada num a am ostragern das
bi-bliotecas itinerantes da Fundação
Gulbenkian, publicado por José
Ten-garrinha, dem onstraram que, por
exem plo, os grupos sócio-profissionais
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R O D O L F O T S U P A L
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tais com o em pregados de com ércio,
de escritório, dom ésticas, operários
industriais e estudantes, lêem com
m aior freqüência Cam ilo Castelo
Branco, Eça de Queirós e Júlio Diniz.
Esta constatação pode ser verificada
tam bém nas estatísticas das
bibliote-cas públibibliote-cas m unicipais, ora Eça
as-sum indo o prim eiro lugar nessas listas,
ora acrescido por Herculano, em
al-gum a região.
Os autores contem porâneos, com o
por exem plo, Nam ora, Torga, V.
Fer-reira, Abelaira são lidos m ais pelos
leitores de m aiores níveis
instrucio-nais. lilll
~ !
III
Perguntei ao Dr. Orlando
Vitori-no, um dos Diretores das Bibliotecas
Itinerantes da Fundação C.
Gulben-kian, por que seus leitores liam quase
exclusivam ente autores portugueses,
Resposta: "porque gostam de ler". O
Dr. Vitorino, depois acrescentou que
existe, em Portugal, e m uitas vezes
nos lugares afastados, pessoas que
pertenciam a um a m inoria qeu prim a
pelo aprofundam ento espiritual. Este
seria o segredo da raça portuguesa de
ser o que ela é. E acrescentou que
não há de se desprezar o fato que o
país teve, ria prim eira m etade do
século poetas com o: Teixeira de
Pas-coaes, Fernando Pessoa e José Régio.
Freqüentem ente perguntava a m im
m esm o se esse patrim ônio literário
português poderá ser usado algum dia
pelos leitores com uns. .
E as Bibliotecas?
O problem a que logo senti, ao
contactar com bibliotecas públicas, foi
este: Com o as bibliotecas podem
exe-cutar a política e program as culturais
sem possuir m ecanism os ágeis de
fun-cionam ento? Em outras palavras, tive
que indagar sobre os processos técni-cos. M elhor, antes tive que pensar
so-bre a sim ples possibilidade de um
lei-tor chegar a um a biblioteca.
O acesso às inform ações
bibliográ-ficas aos livros e docum entos é
geral-m ente prejudicado pelo excessivo
con-trole. Os funcionários na portaria ou
nas antes-salas das bibliotecas (que às
vezes são instaladas em antigos
con-ventos, claustros, palácios) se
encar-regam de fazer triagens e cum prir as
ordens superiores. Parece haver, na
estrutura m ental dos portugueses, um a
preocupação dem asiada pela
hierar-quia. Um bibliotecário, em Lisboa,
re-trucou-m e, ao em itir esta opinião, que
não é tanto respeito aos regulam
en-tos, m as m edo de perder o em prego.
Os catálogos, destinados ao
públi-co, na m aioria das bibliotecas
públi-cas, indicam , sum ariam ente, autores e
títulos. Os catálogos de assunto são
raros. Pode ocorrer que haja várias
form as de catálogos, num a biblioteca,
incom patíveis entre si, isto devido à
s u a herança do passado. Quanto à
colocação de livros nas estantes, o
ta-m anho dos voluta-m es ainda é um dos
fatores determ inantes. Ainda que se
introduza um a classificação decim al o
"endereço" do livro ainda estaria
.ex-presso topográficam ente.
Em 1980, por força de lei, com
e-çou a ação norm ativa da ficha
catalo-gráfica para o âm bito nacional. Coube
à Biblioteca Nacional elaborar e
dis-tribuir as fichas catalográficas pelas
Bibliotecas públicas do país. Em
ou-rras palavras, o "Projeto de Regras
portuguesas de Catalogação" da
Co-m issão Técnica Portuguesa de NorCo-m
a-lização de Docum entação (1975),
re-presentou um passo para fortalecim
en-to da infraestrutura técnica das
bi-bliotecas.
Quanto à classificação e à
indexa-ção, ainda não há um consenso
na-cional.
Um a grande parte dos acervos 'das bibliotecas as quais contactei está fora do alcance do usuário. Há poucos ins-trum entos de busca, o que dificulta a
pesquisa bibliográfica e lim ita as
opções do leitor. Falo sobre pesquisa
bibliográfica, pois a grande m aioria
dos utentes das bibliotecas públicas
são estudantes.
A prática do livre acesso às
estan-tes parece im possível para a m aioria
dos responsáveis das bibliotecas
pú-blicas, especialm ente aquelas
benefi-ciadas pelo Depósito Legal. O
retra-to, às vezes, é triste: sala de leitura,
rodeada de estantes altas, fechadas,
graves. Os livros, assim , perdem sua
significação, sua identidade, sua
pro-xim idade para com o leitor.
As bibliotecas das autarquias têm
m aior liberdade adm inistrativa, tanto
no angariar fundos financeiros para
aquisição, de novas obras, com o para conseguir a participação da com
unida-de na determ inação da política
cul-tural e educativa da biblioteca.
Por outro lado, desenvolvem -se
serviços e program as tais com o: em
-préstim o dom iciliar; bibliotecas m
ó-veis; bibliotecas itinerantes; doações
de pequenas coleções aos asilos,
pri-sões, escolas; bibliotecas infantis, bi-....~
E N T R E V I S T A
blioteca Braille, salas excl usivas para
os estudantes. Existem fatores
positi-vos no am biente bibliotecário
portu-guês, com o por exem plo, o nível
inte-lectual do bibliotecário form ado, o
respeito na biblioteca m anifestado
pe-lo silêncio, participações nas
progra-m ações dos eventos culturais,
exposi-ções e outras atividades com unitárias.
Entrevistando o Dr. Thom ás M
a-chado, Diretor do Instituto Português
do Patrim ônio Cultural, órgão que
fornece diretrizes da política cultural,
do qual dependem tecnicam ente todas
as bibliotecas m unicipais, estatais e
privadas, resum iu a problem ática das
bibliotecas desta form a: (a) recursos
hum anos, (b) espaço físico, (c)
insu-ficiência de verbas e (d) herança do
passado (acervo antigo, técnicas
anti-quadas). Refiro-m e ainda que,
atual-m ente, está eatual-m processo uatual-m
levanta-m ento da infra-estrutura bibliotecária,
em todo o país. É um trabalho de
grande vulto que perm itirá, após o
es-tudo-diagnóstico, dar subsídios para
form ulações políticas de inform ação e
traçar planos de desenvolvim ento
pa-ra as bibliotecas de todos os tipos.
Es-ta pesquisa é patrocinada pelo
Institu-to Português do Patrim ônio Cultural,
e executado pela dinâm ica Associação
Portuguesa dos Bibliotecários,
Arqui-vistas e Docum entalistas, assessorada
pela consultoria do Dr. J. S. Parker
da Library Developm ent Consultants,
Inglaterra.
A Formação do Bibliotecário em Portugal é semelhante à do Brasil?
Um bibliotecário form ado em Por-tugal, terá que passar por um Curso
Superior de Bibliotecário e
RODOlFO TSUPAl,
ta, após a conclusão de licenciatura
em qualquer área do ensino superior
Para nós no Brasil, seria um a espécie
de especialização. Este curso
iniciou-se na Faculdade de Letras em Coim
-bra, em 1930, e atualm ente está em
transição tanto para um a, nova
deno-m inação, que será "Curso de Ciências
Docum entais", com o tam bém em
tran-sição para um novo local em Lisboa. Os créditos são integralizados em dois anos, no regim e de 8 horas sem anais.
A Associação Portuguesa de
Bi-bliotecários, Arquivistas e Docum enta-listas, sediada na BN, Lisboa, que pra-ticam ente cuida de todos os setores da
vida bibliotecária, orienta esse curso
superior, com o tam bém prom ove cur-sos a nível de 2.° grau de Técnico Au-xiliar, com duração de 3 m eses, com 4 horas de aula por dia.
Se considerarm os o núm ero de
as-sociados,' aproxim adam ente 600 sócios,
incluindo Bibliotecários; Arquivistas,
Docum entalistas e Técnicos
Auxilia-res, e considerarm os que a população
do País é de aproxim adam ente 9 m i- .
lhões de habitantes, e que o núm ero
de bibliotecas existentes (de acordo
com o Anuário Estatístico de Portugal
- 1979) é de 1. 169 Bibliotecas,
po-dem os sentir o problem a da carência
de recursos hum anos. Os
bibliotecá-rios portugueses têm , entretanto, um a
facilidade de obter a colaboração dos técnicos e especialistas europeus, no-tadam ente ingleses, para m inistrar cur-sos, proferir conferências, fornecer
li-teratura especializada, a fim de se
in-fluir na sua form ação, tam bém .
Term ino aqui, ciente da possível
parcialidade no om itir os juízos e da
fragm entação dos assuntos tratados.
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