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Rev. Estud. Fem. vol.15 número3

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Academic year: 2018

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Estudos Feministas, Florianópolis, 15(3): 823-841, setembro-dezembro/2007

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Novos rumos no feminismo

Novos rumos no feminismo

Novos rumos no feminismo

Novos rumos no feminismo

Novos rumos no feminismo

Rumo equivocado: o feminismo

e alguns destinos.

BADINTER, Elisabeth. Tradução: Vera

Ribeiro.

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

2005. 174 p.

Introdução Introdução Introdução Introdução Introdução

Após breve introdução historiográfica sobre a trajetória do feminismo, Elisabeth Badinter enfrenta as estatísticas (provenientes, sobretudo, de periódicos e publicações feministas mais radicais) com humor e ironia. O texto se destaca pelo estilo vívido, e tem tradução excelente, o que torna sua leitura agradável. A autora empreende uma análise corajosa dos resultados, dificuldades, êxitos e expectativas dos projetos e movimentos de emancipação e visibilização das mulheres, com foco no que se passa na França, na Europa em geral, bem como nos Estados Unidos e Canadá.

O texto todo é varrido por considerações aval i ati vas da es cri tora, que condena veementemente a vi ol ênci a mas cul i na e argumenta em favor da necessidade de se conseguir igualdade de oportunidades para homens e mulheres, superando a fase atual de luta e projetos de anulação da identidade masculina na França, fase que ela considera no risco de trilhar um rumo equivocado. Avulta no texto a insistência da autora em que o feminismo radical que ela denuncia vai além das medidas, por se transformar numa luta contra os homens, e não mais em favor das mulheres.

A crítica demolidora de Badinter A crítica demolidora de Badinter A crítica demolidora de Badinter A crítica demolidora de Badinter A crítica demolidora de Badinter

Em belo capítulo que se intitula “O novo discurso do método”, Elisabeth Badinter desfaz equívocos resultantes de amálgamas de dados de distinta natureza, que resultam em números alarmantes sobre a violência perpetrada por homens contra as mulheres. Os percentuais que

ela denuncia se constroem pela conjunção de estatísticas sobre violência física com dados sobre ag res s ão verbal ou qual quer ti po de desentendimento entre membros dos dois sexos. Ela examina e avalia questionários, bem como definições de conceitos polêmicos, como o de assédio (que prevê agressão sexual, simbólica e física, sem levar em conta as relações de poder entre as pessoas envolvidas), e mostra que todos os artifícios estão a serviço de uma ideologia conspirativa, que faz avolumar-se a acusação contra os homens, de predadores, violentos, cruéis, exploradores, que se aproveitam de mulheres indefesas, fracas, infantilizadas. A autora mostra como se cria um mal-estar filosófico, com o aci rramento bi nari s ta, de opos i ções maniqueístas, com o homem mau e a mulher inocente, em que a dominação masculina é apresentada como mascarada, multiforme e prevalente, e em que o naturalismo que parecia sepultado retorna vitorioso.

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analisar com mais objetividade o que se passa em ambos os segmentos. Badinter nos faz ver que, no reduto do casal, a violência feminina também se manifesta, com um dado novo: geralmente os homens têm vergonha de admitir que são espancados, e tendem a continuar a conviver com a pessoa agressora. A violência feminina se mani fes ta por mei os aparentemente não violentos, como no uso do poder de reprodução, quando a mulher se vale do esperma masculino para impor a paternidade àquele que a recusa de forma explícita. A continuarmos nessa senda argumentativa, poderíamos pensar que para esta autora, sempre polêmica em suas abordagens, desde o clássico O mito do amor materno, dos anos 1980, domina o entendimento de que as mulheres é que são violentas, e de que os homens nunca o são. Entretanto, ela quer apenas desfazer a falsa verdade, fabricada por viés ideológico, que condena os homens, sem apelação. Cabe ressaltar que a violência, conforme nos ensina Badinter, é algo inerente ao ser humano, e não uma característica pertencente a um único sexo. A violência está acima dos sexos.

O terceiro capítulo analisa a Contradição entre a realidade sexual e a nova moral sexual que se definiu e consolidou na Europa em geral, e na França, em particular. Mostra que na busca da l i berdade total , favoreci da pel os anticoncepcionais, parte das mulheres francesas banalizou o sexo e a relação sexual, o que por sua vez contribuiu para inflamar a violência masculina. Na complexidade de gestos e atitudes que se deflagraram no campo do gênero, dois movimentos se manifestaram fortes. Por um lado, as mulheres virilizadas, independentes, que requerem uma ordem de liberdade absoluta, e de poder sem limite, que lhes permita cavalgar os homens, utilizar-se deles como escravos de seus projetos e desejos. Para esse segmento, cabe denunciar, sempre, os homens, que levam as mulheres a aviltar o próprio corpo, representadas pela atriz pornô, pela dançarina e strip-tease e pela prostituta, todas representantes do abuso de poder masculino, e num certo sentido (para as feministas radicais) objetos de estupro. De outro lado, a sacralização do corpo feminino, a volta ao modelo judaico-cristão, de valorização da maternidade, em suma a volta do mito do amor materno como instinto e não como construção cultural. O feminismo do retorno moral prega a libertação das mulheres diante da opressão da dominação e defende a igualdade dos papéis de homens e de mulheres, embora não aceite a prostituição como uma possibilidade de escolha por livre-arbítrio das mulheres e sim como algo

i mpos to vi ol entamente. Es s e movi mento s acralizador s ilencia s obre os proj etos de emancipação e liberação absoluta das mulheres e s e concentra nos cas os em que há vitimalização. Tem um compromisso com a volta da ordem moral , contra a s oci edade de consumo, do capitalismo exagerado. Nesse capítulo, também é relatado que o corpo às vezes é explorado até a destruição, ao ser associado aos atos sexuais e filmes pornográficos, que transmitem a idéia de obsessão dos homens pelos seus desempenhos e das mulheres pela sua aparência.

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mulher, e não apenas uma batalha de poderes entre os mesmos. A autora aponta, em seu discurso final, para o risco do rumo equivocado, que consiste no restabelecimento das fronteiras e na deterioração da relação das mulheres com os homens.

Nosso posicionamento Nosso posicionamento Nosso posicionamento Nosso posicionamento Nosso posicionamento

Temos a impressão de que a realidade brasileira apresenta semelhanças e diferenças com a apresentada na obra de Badinter, uma vez que o contexto sociocultural brasileiro constitui-se de forma distinta do europeu. Há, no entanto, traços em comum. O casamento continua sendo fortemente valorizado no Brasil, apesar do crescimento na participação das famílias chefiadas por mulheres, e se insiste sobre a maternidade das mulheres jovens por vezes de forma moralista ou condenatória. Contamos com propagandistas tanto da luta antimasculina, abs or vi da por mui tos homens , quanto da igualdade, sem que as contradições sejam claramente debatidas. No Brasil foi gerado um complexo legal que favorece a mulher em vários

sentidos, contudo, não parece ser resultado da ação coletiva ou organização das mulheres.

O exposto acima pode nos estimular no sentido de realizar pesquisas semelhantes em nosso contexto e verificar o quanto as formulações da autora podem ser aproveitadas em nossos estudos. Ressaltamos que não é nossa intenção desautorizar suas conclusões, e sim verificar a viabilidade de suas idéias no Brasil, o que se poderá fazer com o aprofundamento no conhecimento da realidade na qual fazemos intervenções e pesquisas. O aproveitamento crítico da obra dessa autora nos favorece um (re)pensar das teorias feministas discutidas no Brasil e, sobretudo, adverte que, também aqui, enfrentemos o r i s co de es col her um r umo equivocado.

Sebastião Votre Universidade Gama Filho

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