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ESPRAIAMENTO DO CONSERVADORISMO NO BRASIL DAS MÍDIAS SOCIAIS.

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

SÍRIA MARIA ANDRADE PAIVA

ESPRAIAMENTO DO CONSERVADORISMO NO BRASIL DAS MÍDIAS SOCIAIS.

NATAL/RN 2021

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SÍRIA MARIA ANDRADE PAIVA

ESPRAIAMENTO DO CONSERVADORISMO NO BRASIL DAS MÍDIAS SOCIAIS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Drª. Carla Montefusco de Oliveira.

NATAL/RN 2021

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Maria, Síria Maria Andrade Paiva.

Espraiamento do conservadorismo no Brasil das redes sociais / Siria Maria Andrade Paiva. - 2021.

49f.: il.

Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Serviço Social. Natal, RN, 2021. Orientadora: Profª. Drª. Carla Montefusco de Oliveira.

1. Conservadorismo - Brasil - Monografia. 2. Mídias sociais - Monografia. 3. Serviço social - Monografia. I. Oliveira, Carla Montefusco de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 322:004(81)

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SÍRIA MARIA ANDRADE PAIVA

ESPRAIAMENTO DO CONSERVADORISMO NO BRASIL DAS MÍDIAS SOCIAIS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Drª. Carla Montefusco de Oliveira.

Aprovado em: ______/______/______

Banca Examinadora

__________________________________ Profa. Dra. Carla Montefusco de Oliveira

(Orientadora/UFRN)

__________________________________ Profa. Dra. Daniela Neves de Sousa

(Membro interno/UFRN)

______________________________ Assistente Social Mariana Guimarães de Azevedo

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Dedico este trabalho à minha família, em especial à minha avó, Alaide Pereira da Cunha, à minha mãe, Maria da Conceição Chirlene de Andrade Barbosa, e à minha tia, Maria Ângela da Cunha Paiva, sem elas nada disso seria possível.

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AGRADECIMENTOS

À minha avó, Alaide Pereira da Cunha, por ter cuidado de mim com tanto esmero, por me ensinar tanto com sua simplicidade.

À minha mãe, Maria da Conceição Chirlene de Andrade Barbosa, por ter me dado o privilégio de ser sua filha, por me aceitar como sou e me guiar dentro das minhas próprias escolhas, me mostrando o verdadeiro significado do amor.

À minha companheira, Narhuna Azevedo de Melo, de tamanha força e doçura, que acreditou em mim quando eu já não acreditava, te agradeço um tanto.

À minha querida amiga e sogra, Regina Azevedo de Melo, pelos conselhos tão especiais, por tamanha solidariedade nos momentos de dificuldade, e por ter me dado a honra de ter uma terceira família.

À minha querida orientadora Carla Montefusco de Oliveira, pela coragem de, em tempos tão difíceis, encarar comigo o desafio da construção deste trabalho, pela paciência, pelo otimismo, por tantos ensinamentos, e por ter tornado este caminho que pareceu tão tortuoso, em algo mais leve.

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RESUMO

O presente estudo tem como objetivo geral analisar o espraiamento do conservadorismo no Brasil através das mídias sociais. Visando, neste sentido, compreender os aspectos políticos e econômicos da ideologia conservadora, seu surgimento e sua inserção na realidade brasileira. Além disso, pesquisou os conteúdos disseminados nas páginas do Facebook do Movimento Brasil Livre (MBL), na busca de identificar o envolvimento do MBL no processo do avanço conservador no país que culminou na eleição do atual chefe do executivo, Jair Messias Bolsonaro, contrapondo com as postagens da mesma rede da Mídia NINJA. Este é um estudo bibliográfico e documental, orientado pelo método Materialista Histórico Dialético, onde busca-se analisar a realidade para além de sua aparência. Sendo assim, analisamos o conteúdo documental das postagens e o discurso utilizado nos canais midiáticos citados anteriormente. Esta pesquisa foi resultado do trabalho de conclusão de curso como uma parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Logo, foi possível concluir, para além dos novos questionamentos vindos à tona no processo investigativo, que as mídias sociais, enquanto veículos informativos, foram protagonistas para o avanço da ideologia conservadora nas mais diversas camadas da sociedade, mas, também, que as mesmas mídias estão postas, à favor da classe trabalhadora possibilitando contra tendências aos movimentos levantados pela extrema-direita nacional.

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ABSTRACT

This study aims to analyze the spread of conservatism in Brazil through social media. Aiming, in this sense, to understand the political and economic aspects of the conservative ideology, its emergence and its insertion in Brazilian reality. In addition, research the contents disseminated through Movimento Brasil Livre’s (also known as MBL) Facebook, in order to identify the involvement of the MBL in the process of conservative advance in the country that culminated in the election of the current chief executive, Jair Messias Bolsonaro, contrasting with posts from the same network of Mídia NINJA. This is a bibliographic and documentary study, guided by the Dialectical Historical Materialist method, which seeks to analyze reality beyond its appearance. Therefore, we analyzed the documentary content of the posts and the discourse used in the aforementioned media channels. This research was the result of course completion work as part of the requirements for obtaining a Bachelor's Degree in Social Service from the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN). Therefore, it was possible to conclude, in addition to the new questions that surfaced in the investigative process, that social media, as informative vehicles, were protagonists in the advancement of conservative ideology in the most diverse layers of society, but also that the same media they are placed in favor of the working class, making possible counter-trends to the movements raised by the national extreme right.

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LISTA DE SIGLAS

ARPAnet - Advanced Research Projects Agency

DARPA - Defense Advanced Research Projects Agency DEM - Democratas

EPL - Estudantes pela Liberdade EUA - Estados Unidos da América

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MBL - Movimento Brasil Livre

MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia MIT - Massachusetts Institute of Technology

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PSL - Partido Social Liberal

PSOL - Partido Socialismo e Liberdade PT - Partido dos Trabalhadores

RNP - Rede Nacional de Ensino e Pesquisa SP - São Paulo

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Imagem do vídeo em que Kim Kataguiri declara apoio ao (na época) candidato à presidência da república Jair Messias Bolsonaro ...………. 37 Figura 2 - Postagem de ato de rua pró-Bolsonaro e antipetista no Rio de Janeiro em 21 de outubro de 2018 ……… 40 Figura 3 - Imagem do vídeo postado por Jair Messias Bolsonaro a dois dias da votação do segundo turno das eleições presidenciais de 2018 …...43 Figura 4 - Postagem de denúncia da Mídia NINJA, em que aponta fake news divulgadas nas redes pelo Movimento Brasil Livre ……….….... 44 Figura 5 - Postagem do Coletivo Mídia Ninja sobre o uso das notícias falsas durante as eleições presidenciais de 2018 ………... 45

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO………...11 2 CONSERVADORISMO: ASPECTOS TEÓRICOS, POLÍTICOS E A

PARTICULARIDADE BRASILEIRA………..17 2.1 Aspectos teóricos e políticos do conservadorismo………...17 2.2 Apontamentos sobre o conservadorismo na realidade brasileira…..25 3 MÍDIAS SOCIAIS CONSERVADORISMO………...29

3.1 Mídias sociais: conceituações………..…...29 3.2 Expressões do conservadorismo no Brasil: uma análise a partir das publicações do Facebook do Movimento Brasil Livre e da Mídia NINJA………32 CONSIDERAÇÕES FINAIS………....45 REFERÊNCIAS………...47

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1. Introdução

Pesquisar sobre Conservadorismo não me veio como um interesse, mas como uma tarefa a ser cumprida e um compromisso com a classe a que pertenço. Desde o golpe sofrido pela ex Presidenta Dilma Rousseff no segundo semestre de 20161, início do meu Ensino Superior e recém ingressada no movimento estudantil, era possível perceber que o cenário político social caminhava para algo cada vez mais tortuoso e difícil para a esquerda Brasileira.

Em perfeita memória, me recordo, estávamos na praça do setor I, ao fim da tarde, durante a votação do impeachment. Ao fim da votação pude ver meus amigos e amigas, a mais tempo no movimento estudantil, muito tristes. O que seria do futuro da esquerda brasileira? O que aquele momento representava? Na época, tínhamos respostas para estas questões, mas sem dúvidas nenhuma delas correspondia ao que o futuro nos reservava.

Com o passar do tempo e o decorrer da graduação, o processo que se construía era o de compreensão de tudo o que tinha nos levado até ali. O estudo da construção sócio histórica brasileira, das temáticas de gênero, raça e classe, economia política; e todo esse processo posso relacionar com a simples metáfora de cortinas caindo diante dos meus olhos. E os inesquecíveis Fundamentos Sócio Históricos do Serviço Social, que me introduziram de forma profunda aos estudos sobre o Conservadorismo.

Isto, em paralelo ao todo econômico e político social que perpassou, a época, o Estado brasileiro, construíram a necessidade e a curiosidade de pesquisar e estudar

1 Em maio de 2016, Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita à presidência da república, foi afastada do cargo acusada de crime de responsabilidade por fraude fiscal, destituída do poder em agosto do mesmo ano. “Organizado pelo parlamentar, judiciário, mídia e pela classe média alta, o golpe de 2016 não é visto por muitos como tal, devido a não ter sido orquestrado por intervenção militar, por não ter instaurado uma ditadura. Todavia, utilizando uma definição sucinta, entendemos como golpe de estado a derrubada de um governo de forma ilegal que seja constitucionalmente legitimo. Desta forma, entendemos que para se depor um presidente faz-se necessário que o mesmo tenha cometido crime de irresponsabilidade, o que de início foi posto em questão para legitimar a retirada de Dilma do poder, mas que por falta de provas contundentes não veio a prosseguir. No entanto, “não se tinha certeza, mas havia convicção”. Com uma tentativa falha buscou-se meios para alegar que o impeachment era um instrumento constitucional, deixando de lado a importância da exigência de crime de responsabilidade. ” Disponível em: <https://www.edufma.ufma.br/wp- content/uploads/woocommerce_uploads/2021/04/O-Golpe-de-2016-e-o-Futuro-da-Democracia-no-Brasil.pdf> Acesso em: 09/09/2021.

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sobre o movimento que elegeu um Presidente que não negou o seu apoio e admiração aos torturadores do período ditatorial2. Que trouxe as “Notícias Falsas” (fake news)3 para o centro do debate político brasileiro. Uma ferramenta que apoiada na força dos meios de comunicação e das mídias sociais, passa a difundir o pensamento conservador em um formato que beira desesperadamente uma redenção destas figuras por seus discursos de ódio que até então eram considerados inaceitáveis e repulsivos por décadas pela maioria da sociedade. (ROCHA, Camila et al., 2018, p.44).

Quais os aspectos políticos e econômicos do conservadorismo no Brasil? Quais os conteúdos nas mídias sociais que influenciaram a disseminação da ideologia conservadora? Quem os veicula? Quais as tendências conservadoras presentes nestes canais midiáticos que contribuem para o avanço da extrema direita nacional?

A mesma extrema direita que, munida das forças conservadoras política, ideológica e culturalmente, em um país que a menos de 2 anos elegeu a primeira mulher à presidência do país, integrante de um partido popular de esquerda, o Partido dos Trabalhadores, fez o sentimento fúnebre que cercou o segundo semestre de 2016 parecer um sentimento tranquilo, se comparado à noite de resultado das eleições presidenciais de 2018 anunciando a vitória de Jair Messias Bolsonaro.

A partir deste curso de contradições com raízes históricas, econômicas e sociais, é que me chega a necessidade de aprofundamento. Não apenas como interesse individual de estudo do movimento conservador e das mídias sociais, mas pelos rumos tomados pela própria história, e por quão prejudicial ele - conservadorismo - foi e vem sendo a classe à qual eu pertenço. É pelo comprometimento com a minha futura profissão, com a classe trabalhadora, que se instauram as motivações para o estudo deste movimento a fim de compreendê-lo e desvendá-lo, a fim de munirmo-nos, a partir do conhecimento, para o seu enfrentamento.

2 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xiAZn7bUC8A>. Acesso em: 26 ago. 2021. 3 O conceito “Fake News” foi utilizado neste trabalho em virtude da intensa notoriedade que aparece no período analisado por esta pesquisa, o período das eleições de 2018. Logo, o uso do termo refere-se ao falrefere-seamento da realidade, resultando na distorção das informações.

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Analisando a realidade social a partir do que está posto e não de uma aspiração ou sentimento ideal, é que esta pesquisa foi realizada a partir de revisão bibliográfica, onde analisamos obras já escritas sobre o objeto de estudo, principalmente livros, teses e artigos científicos. Como necessidade de alcançarmos um de nossos objetivos: a compreensão dos aspectos políticos e econômicos do conservadorismo no Brasil. Sob a vantagem dessa modalidade de pesquisa “permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. ” (GIL, 2008, p. 50)

Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo geral4 analisar o espraiamento do Conservadorismo no Brasil através das mídias sociais. A partir disso, como objetivos específicos elencamos compreender os aspectos políticos e econômicos do conservadorismo no Brasil; analisar os conteúdos disseminados na página do Facebook do Movimento Brasil Livre (MBL) e identificar as tendências conservadoras presentes neste canal midiático que contribuíram, de alguma forma, para o avanço do pensamento conservador, aliado ao crescimento da extrema Direita nacional. Contrapondo as tendências, na mídia, do movimento conservador, apresentamos o trabalho inverso, que é realizado pela Mídia NINJA na mesma rede social.5

Este é um estudo bibliográfico, uma vez que recorremos e nos norteamos através de estudos das temáticas envolvidas ao tema pesquisado, e também de caráter documental a partir da análise do conteúdo das redes sociais analisadas. Optamos pela pesquisa no Facebook do Movimento Brasil Livre (MBL) devido à sua ampla participação nas últimas eleições presidenciais, que elegeram o atual presidente da república Jair Messias Bolsonaro, e pelo protagonismo enquanto um coletivo de Direita no país, inseridos nos espaços de decisão e debates políticos.

4 Esta pesquisa, iniciada com seu pré-projeto durante a pandemia da Covid-19, sofreu alterações que, ao final do trabalho, não influenciaram o seu objetivo geral, que foi analisar o avanço da ideologia conservadora nas redes sociais. Entretanto, foi realizada dentro do período reduzido de apenas 3 meses em função da intensificação das cargas horárias semestrais devido aos impactos sofridos pela pandemia.

5 Esta pesquisa foi realizada seguindo as Orientações de ética em pesquisa em ambientes virtuais. Disponível em:

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A escolha por apresentar como contraponto a página da Mídia NINJA, surge da necessidade de não sermos reféns da demonização das mídias, como algo negativo ou disseminador de determinadas correntes. Mas, sim, apresentar o espaço das mídias sociais como um espaço que também é ocupado por outras correntes de pensamento. Sendo assim, apresentamos a NINJA pela notoriedade que o coletivo adquire a partir das manifestações de 2013 nas redes sociais pelo diferencial informativo que expõe, ao qual trataremos nos itens que seguem o trabalho.

Para alcançarmos os objetivos traçados nesta pesquisa nos orientamos metodologicamente pelo Materialismo Histórico Dialético, que, enquanto um método de investigação busca um modo de explicar e compreender a sociedade além de sua aparência, retirando do sujeito o papel daquele que funda e tem as respostas para compreender a sociedade, pelo contrário, indicando que não está no sujeito as respostas para as transformações sociais, mas sim nas mudanças dos modos de produção e no intercâmbio dos produtos de cada sociedade. (GIL, p. 22, 2008)

Para Marx e Engels, segundo Gil (2008), a estrutura econômica é a base das superestruturas da sociedade como a política, a arte, o Direito, a espiritualidade, etc. Deste modo, quando adota-se o método em questão, considera-se a dimensão histórica dos processos sociais, deixando de lado uma análise meramente simplista ou superficial.

Enquanto pesquisadores comprometidos com a análise do que está por trás desta aparência e seus fenômenos, não a descartamos, uma vez que partimos da compreensão de que o processo social não se encerra nesse estágio. Mas, partimos do objetivo primeiro que é a apreensão da essência dos processos, ou seja: a estrutura e a dinâmica do objeto (NETTO, 2008, p. 8).

Apreender e analisar os trâmites da ideologia conservadora dentro da perspectiva crítico dialética e de totalidade a qual é corrente teórica do Serviço Social, proporciona um estudo que contribui não apenas para a formação da categoria, mas que demarca o Serviço Social enquanto área de produção de conhecimento, de pesquisa; enxergando-a com a capacidade de contribuição teórica sociológica dentro das ciências sociais, para fora do Serviço Social, a partir de uma visão crítica dos acontecimentos econômicos, políticos e sociais.

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O Conservadorismo não é um fenômeno recente, nem tão pouco se inaugura com o avanço da extrema direita no Brasil. O Serviço Social tem, em suas raízes, a impregnada ideologia e prática conservadoras desde os anos 1930. O que, até hoje, mesmo após a virada teórica da profissão, é tema de discussão por estar presente enquanto uma estrutura social que imprime formato aos projetos profissionais de Assistentes Sociais, sendo, o conservadorismo, um produto do modo de produção capitalista, que estará presente enquanto este modelo de sociedade imperar.

Aonde quero chegar, com isto, é que: avançar teoricamente sobre as temáticas que cercam o conservadorismo, é, também, avançar para o rompimento de práticas conservadoras na profissão. É reconstruir a imagem do profissional que foi atrelada ao voluntarismo e à caridade. É caminhar para a consolidação de um discurso anti conservador e anticapitalista que dê respostas práticas no cotidiano profissional de forma coletiva, reafirmando os valores éticos e políticos que são indicados a uma prática homogênea e coerente dentro da categoria.

Fizemos uso da pesquisa documental para destrinchar nossa análise dos conteúdos midiáticos de longo alcance na mídia nacional que disseminam a ideologia conservadora. Segundo Gil (2008), este é um tipo de pesquisa parecida com a bibliográfica, porém lida com a análise de documentos que ainda não passaram por nenhum tipo de tratamento analítico. Assim, recorremos à pesquisa e análise das postagens do Movimento Brasil Livre (MBL) e da Mídia NINJA no Facebook, considerando-os enquanto veículos de comunicação de massa que “[...] possibilitam ao pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual e também lidar com o passado histórico. Neste último caso, com eficiência provavelmente maior que a obtida com a utilização de qualquer outra fonte de dados. ” [...] (GIL, 2008, p. 151)

Finalmente, para analisar as tendências conservadoras presentes na rede social do MBL, partimos da análise dos discursos apresentados por estes canais, mediante a análise de conceitos como Conservadorismo, Fascismo, Extrema Direita, dentre outras.

Neste trabalho de conclusão de curso, iniciamos com uma introdução que contém as motivações para realização desta pesquisa, as inquietações as quais

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buscamos responder após conclusão deste trabalho. Em seguida, apresentamos o Conservadorismo e seus aspectos teóricos, políticos, contemplando o conservadorismo clássico e sua transição para a contemporaneidade, e, por fim, esta corrente dentro da realidade brasileira, a partir da sua formação sócio histórica.

No terceiro e último capítulo introduzimos o debate às mídias sociais e apresentamos os resultados da pesquisa, que se deram a partir do estudo de postagens de algumas páginas da internet que representam aquilo que objetivamos apresentar no estudo, conjuntamente com a análise de como o conservadorismo aparece nesta particularidade social. E, concluindo nosso trabalho, refletimos nas considerações finais sobre os resultados levantados a partir desta pesquisa.

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CAPÍTULO 2

Conservadorismo: aspectos teóricos, políticos e particularidade brasileira

Para tratarmos do papel das mídias no espraiamento do conservadorismo no Brasil faz-se necessário que façamos um breve passeio pela história dessa raiz de pensamento, por reconhecer que o percurso histórico do pensamento conservador carrega elementos que ajudam na sua compreensão atual. Sendo assim, nosso ponto de partida é a história do próprio sistema capitalista, desde a acumulação primitiva, que marca o início da sociedade do capital, até chegarmos ao momento em que o conservadorismo (surge a partir do desenrolar) se impõe pela ocorrência dos fatos desta sociedade.

Logo, tratamos do pioneirismo no Conservadorismo, da sua face Clássica, e percorremos até sua fase contemporânea. Em seguida, dedicamos uma seção para apresentar as características do pensamento conservador no Brasil para entendermos como este pensamento se molda às particularidades da formação sócio histórica brasileira.

2.1 Aspectos teóricos e políticos do Conservadorismo

Antes de colocarmos uma lupa sobre o conservadorismo, é necessário debruçarmo-nos em suas raízes, no que o sustenta e qual sua participação na reprodução social. Para isto, vamos à base do surgimento do próprio capitalismo, já que é neste contexto que se monta a base do pensamento conservador, e o que nos leva a afirmar este pensamento como uma particularidade cultural da sociedade burguesa.

A sociedade do capital se constitui dentro das circunstâncias determinadas a partir do que ele chama de Acumulação Primitiva, à qual na Inglaterra do século XVI se apresenta em sua forma clássica, ou seja, sendo marcada pela separação histórica entre os produtores e os meios de produção. “Ela aparece como “primitiva” porque constitui a pré-história do capital e do modo de produção que lhe corresponde” (MARX, 2013, p. 515).

É a partir do processo da Acumulação Primitiva que surgem as duas principais classes do sistema capitalista de produção, os burgueses, detentores dos meios de

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produção, e os proletários, trabalhadores, àqueles que vendem sua força de trabalho. Os Trabalhadores, aqueles que antes ocupavam o lugar de servos no sistema feudal (que antecede à acumulação primitiva), e que, agora, vendem “livremente” sua força de trabalho à burguesia, a classe detentora do capital e dos meios de produção. O uso das aspas anteriormente se deve ao fato de que os trabalhadores no pós-feudalismo, são tidos como livres, não mais ligados aos senhores de feudo, entretanto, de acordo com Marx (2013) estes não possuem meios de produção e tão pouco capital ou terras, sendo indiretamente obrigados a venderem sua força de trabalho.

Entretanto, a implementação de uma sociedade capitalista não se deu de forma tão simples. Em contraponto à ordem social que vigorava desde o século V, a partir da desestruturação da sociedade romana, surge uma nova ordem com valores distintos, contrariando a sociedade feudal, a modernidade (ROCHA et al., 2018, p. 3). A Revolução Francesa e seu viés progressista e classista, onde a Burguesia forjou a derrubada da monarquia pelo povo, através do consenso de ideias gerais do liberalismo clássico representativo de um determinado grupo social, o grupo burguês mercantil, dando início ao processo revolucionário, de forma efetiva (HOBSBAWM, p. 19, 1996).

Assim, podemos compreender como se dá o início do conservadorismo pelo capitalismo, uma vez que as ideias primeiras desta corrente de pensamento, com Edmund Burke, surgem como uma resposta ao movimento revolucionário rebelde da Revolução Francesa. O conservadorismo clássico, no pós-1789, é expressado em uma espécie de ‘’manifesto’’ chamado ‘’Reflexões sobre a Revolução da França”, onde Burke externaliza todo seu descontento com os resultados da Revolução Francesa a partir de um relato aristocrático e apologético à monarquia que fora desconstituída. Documento que ultrapassa o retrato opinativo sobre o cenário político, e cumpri o papel de manual conservador, exercendo influência até o pensamento conservador em voga na contemporaneidade6.

Considerando suas primeiras aparições na Inglaterra, é importante a ressalva de que, no pós-Revolução Francesa, formou-se na Alemanha (país que se destaca

6 SOUZA, J. M. A. Tendências ideológicas do conservadorismo. 2016. 304 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2016.

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pelas tendências conservadoras aliado à Inglaterra) um forte movimento contrarrevolucionário, anti-Iluminista e anti-intelectual. Neste sentido, o conservadorismo, por mais que tenha surgido enquanto teoria na Inglaterra, com Burke, chegou como influência em uma Alemanha onde boa parte das influências sociais eram repressivas com bases militares. Ele - o pensamento conservador- foi, então, “pensado até as suas últimas consequências”, diferente da Inglaterra, de forma que seus lemas teóricos foram pensados e arquitetados para alcance de fins lógicos. (MANNHEIM, 1986, p. 86-87).

Souza (2016) em sua tese ‘’Tendências Ideológicas do Conservadorismo”, a qual leitura e análise embasam, também, parte da construção deste trabalho, apresenta uma pesquisa histórica e teórica sobre o conservadorismo enquanto tendência ideológica em curso na sociedade Brasileira, sendo por meio da qual introduziremos o debate sobre conservadorismo.

Para introduzir o conservadorismo clássico e contemporâneo iremos apresentar suas características principais de forma a que possamos, mais à frente, retomar essas análises com as reflexões (aqui) futuras, também considerando, de acordo com Mannheim (1986), que os estudos e suposições filosóficas, não de forma proposital ou como “campanhistas políticos”, carregam as bases do pensamento político, refletindo nos padrões de ação e também nas diferentes abordagens da realidade, a partir dos diferentes estilos de pensamentos.

O Conservadorismo Clássico de Burke em Reflexões, é construído principalmente a partir do seu caráter antirrevolucionário, diante de toda frustração pelo modo como se deu a Revolução Francesa. Neste caso, dá-se a adoção de uma ideia de revolução enraizada pelo fanatismo religioso e pela passividade, tal qual é demonstrado, ainda, na contemporaneidade. Sobre isto, Souza (2016) elucida de forma direta que,

Enquanto para Marx e boa parte da tradição marxista a revolução envolve a tomada insurrecional e temporária do Estado, no sentido de desatar as estruturas para sua posterior liquidação, o conservadorismo defende que a revolução significa, apenas e tão somente, a melhoria com a permanência perene das instituições consolidadas. (SOUZA, 2016, p. 115).

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Neste sentido, o pensador clássico conservador preconiza que a sociedade não necessita de processos revolucionários que indiquem a transformação das instituições, significando, estes processos, uma espécie de ameaça à ordem social. Onde os indivíduos revolucionários ganham uma espécie de espectro violento, perigoso, ameaçador, de nada diferente do apresentado pela corrente conservadora contemporânea. “Os defensores dessa corrente, na contemporaneidade, procuram, tal como Burke, acusar aqueles que lutam por avanços civilizatórios de serem "inimigos da sociedade", de suas instituições e tradições — algo típico das ideologias conservadoras de uma maneira geral. ” (SOUZA, 2016, p. 116).

Estes indicativos vêm assemelhados à negação, por parte dos conservadores, de toda e qualquer ideias relacionadas à democracia e à igualdade social, apresentando estes ideais como uma aspiração abstrata e utópica, como meros desejos ideais das classes revolucionárias.

A partir disso, Burke, que tinha como objetivo a preservação das instituições políticas britânicas, usa uma tática de “batalha das ideias”7, construindo um cenário de negação do pensamento iluminista, do avanço do conhecimento e da ciência, substituindo a ideia de que são dispensáveis, sendo primordial a isto o como fazer das coisas, ao seu porquê. (SOUZA, 2016, p. 119)

Fundamentado nestes aspectos, o Irracionalismo presente no pensamento Conservador Clássico, e que se arraiga à contemporaneidade, apresenta-se com a destruição da razão em enaltecimento de princípios como o imediatismo, o pragmatismo das ideias e das ações dos sujeitos, que ganha corpo na explicação monoteísta cristã e idealista das coisas e dos determinantes sociais.

Neste cenário, Estado e a sociedade, por exemplo, são frutos da natureza e devem estar entregues à ordem natural das coisas sem interferência do homem para alteração de seu curso, inclusive tais quais a propriedade privada e a desigualdade social, também estabelecidas e passíveis de interferência, o que se alarga para a

7 Mais aprofundamento ver KONDER, Leandro. O marxismo na batalha das ideias. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2009.

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manutenção das diferenças entre as classes sociais e a naturalização das situações de pobreza, pauperização e miséria, de modo que:

Tal concepção de mundo redunda na naturalização das relações sociais — redundância frequente entre as ideologias conservadoras. A divisão da sociedade em classes e a desigualdade social, portanto, compõem, na visão burkeana, um quadro de hierarquia e ordenamento correspondentes à natureza. ” [...] “Por derivação, tal quadro é interpretado como perene e insuperável. Nesse contexto, seria como um atentado contra a natureza a defesa de um princípio como o da igualdade social. A luta por ela, um atentado contra a ordem divina. (SOUZA, 2016, p. 123)

É nesta linha do pensamento conservador clássico que se apresenta o desprezo pelas classes subalternas, e a tudo a que elas se relacionam, sendo consideradas incapazes de tomar decisões políticas ou participarem de processos decisórios, estando este cargo destinado apenas aos proprietários sob a ideia de que estes são, naturalmente, sujeitos da conservação da ordem e manutenção da sociedade vigente. E, também pelo sentimento de inveja sentido pelos pobres dos ricos, que resultava em processos de revolta e busca por mudanças e revoluções.

A explicação de acontecimentos sociais a partir de vias abstratas e ideais é presente no pensamento conservador clássico e se estende ao seu momento contemporâneo e geral, o que se adapta de acordo com os interesses liberais que reatualizam este conservadorismo clássico, tornando-o conveniente a manutenção das disparidades de classe. “Esse desprezo visceral pelas formas de vida e cultura das classes subalternas permanecerá como um dos elementos de continuidade mais centrais do conservadorismo contemporâneo, particularmente expressado pelo ódio e pelo preconceito de classe. ” (SOUZA, 2016, p. 126)

As explicações idealistas do conservadorismo clássico de Burke passam a consubstanciar os argumentos ideais e místicos como únicas fontes verdadeiras, uma vez que são consideradas oriundas das verdades da própria alma humana, que contém as verdades mais puras que aquelas apresentadas pela via da razão e da ciência, o que reforça a naturalização de aspectos de decorrência social e diferenças entre classes, como fenômenos de natureza social e escolha divina.

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Para seguir adiante, é necessário que se faça uma rápida distinção entre os termos “conservadorismo” e “tradicionalismo”, que por vezes são considerados como as mesmas filosofias e pensamentos. O Tradicionalismo está ao apego de práticas da velha forma de vida, como tradições religiosas, culturais, as quais podemos destacar como “onipresentes e universais”, nas palavras de Mannheim (1986).

Mais relacionado à modos de vida e modos psicológicos de mentes individuais, o tradicionalismo pode existir tanto na própria burguesia capitalista, quanto dentro do grupo da classe trabalhadora, que mantém seus rituais religiosos, e determinados países que carregam ao longo dos anos práticas tradicionais. Enquanto o conservadorismo está atrelado a um conjunto concreto de circunstâncias, no tradicionalismo é possível, de certa forma, prever o que a pessoa fará, baseada em seus tradicionalismos. Por outro lado, como reagirá o conservador é algo que dependerá do modo como o movimento conservador se coloca em sua realidade atual. O conservadorismo é guiado consciente ou inconscientemente por uma forma de pensamento e de ação que tem um peso histórico anterior a ele.

O conservadorismo político é, portanto, uma estrutura mental objetiva, em oposição à subjetividade do indivíduo isolado. Não é objetiva no sentido de ser eterna e universalmente válida. Nenhuma dedução a priori pode ser feita dos “princípios” do conservadorismo. Nem ele existe independente dos indivíduos que o realizam na prática e que o incorporam em suas ações. [...] resumindo, o conservadorismo não é uma entidade objetiva no sentido platônico correto ou incorreto da pré-existência das ideias. Mas, comparando com a experiência hic et nunc (neste exato instante - grifo meu) do indivíduo particular, ele tem uma certa objetividade bastante definida. (Mannheim, 1986, p. 103)

O Conservadorismo Clássico, então, predomina de 1789 a 1914, período onde a ideologia atrai as classes dominantes dos principais países europeus que vivenciavam momentos de crise na época. Compreendido como um modo de pensar, sujeito a reformulações de acordo com aqueles que adotassem este discurso, este conservadorismo encerra a era clássica, adentrando aos espaços das ciências sociais, no que sofre a influência de estudiosos como Émile Durkheim, por exemplo, que introduzem ao conservadorismo a criação de conceitos e produção de conhecimento científico, “algo que representa uma sofisticação importante em relação ao discurso puramente moralista e subjetivista de Edmund Burke” (SOUZA, 2016, 154), importante a ressalva de que:

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Isso não quer dizer que, a partir do pensamento sociológico, o conservadorismo adira, definitivamente, à racionalidade. Significa, tão somente, que a sociologia (tanto clássica, quanto contemporânea) passou a assumir o papel de importante interlocutor e formulador mais sofisticado dos princípios conservadores — da autoridade, da propriedade, da ordem, da hierarquia, das tradições, das corporações, das organizações privadas, do Estado, da divisão do trabalho social (por oposição à categoria crítica da divisão social do trabalho, que supõe a alienação nas sociedades de classes), por exemplo. (SOUZA, 2016, p. 153-154).

Este conservadorismo contemporâneo, operando sob novos aportes sociológicos, tem seu marco inicial no pós-Primeira Guerra, período de formação e consolidação, mantendo sua função social ideológica, a permanência das principais estruturas de poder nas mãos das classes dominantes. Uma das principais características deste novo momento conservador é a participação da Sociologia marcada pelas produções científicas de autores da tradição durkheimiana para explicação da vida social.

Estes autores se consideram defensores da democracia política (SOUZA, 2016, p. 155), enfatizando a cultura, a burocracia, a institucionalidade, a moral, a filosofia, ampliando e universalizando os valores da tradição conservadora mesmo que indiretamente. Elogiam uma sociedade democrática, entretanto defendem a institucionalidade sem abrir mão das mudanças necessárias para o bom funcionamento da ordem social.

A defesa de uma democracia (burguesa) política por parte dos intelectuais conservadores contemporâneos perpassa pelo nivelamento de movimentos antagônicos como o Nazismo e o Socialismo no mesmo patamar, aludidos todos como movimentos totalitários fundamentados em promessas e utopias para preservar o presente. Onde o ser revolucionário socialista passa a ser considerado um totalitário socialista de esquerda, com adoção de golpismo, desrespeito a subjetividade e atentado à democracia pelos comunistas. (SOUZA, 2016, p. 157-158)

Com o avanço das novas correntes conservadoras, a América do Norte, principalmente os Estados Unidos, passam a sofrer as influências desta ideologia,

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porém adaptada ao regime que ali se estabelece. Na figura de Russel Kirk8, o Conservadorismo ainda com forte discurso de Burke também nas propostas políticas, deposita seu foco para o fortalecimento das instituições do Estado principalmente para fortalecimento do monopólio da violência e da coerção, aumentando a intolerância e questionando a relevância dos institutos democráticos. Coerente ao discurso clássico conservador nas ideias durkheimianas9 da Ordem e Norma, que consideram anormais e ameaçadoras quaisquer reações que divirjam ao cerne do Estado e das instituições sociais.

Neste sentido, entendemos o conservadorismo como uma ideologia que ao longo da história mantém e sustenta o sistema capitalista, servido ao longo da história como uma alternativa perante às crises políticas e socioeconômicas das classes dominantes. A partir disto, no próximo item iremos abordar alguns aspectos sobre o conservadorismo na particularidade da sociedade brasileira.

2.2 Apontamentos sobre o conservadorismo na realidade Brasileira

De acordo com Souza (2016), no Brasil, assim como em outros países em que o conservadorismo se estabelece, este se molda às particularidades de sua formação sócio histórica e aos seus modelos econômicos. Desta forma, adere às concepções econômicas liberais e dentro das ciências sociais passa por uma decadência ideológica crítica, em contrapartida ao seu momento de ascensão no exterior anos antes, adotando um pensamento pragmático e acrítico.

Sendo assim, consideramos as particularidades da formação sócio histórica do Brasil para apresentar sua relação intrínseca com o conservadorismo. A realidade brasileira aponta traços e influências do conservadorismo norte-americano e inglês incumbidos em sua constituição. Neste sentido, o autor aponta as tendências

8 “Russell Kirk (Plymouth, 19 de outubro de 1918 – Mecosta, 29 de abril de 1994) foi um filósofo político, historiador, crítico social, crítico literário, e autor literário conhecido pela sua influência no conservadorismo americano durante o século XX. Seu livro, The Conservative Mind, publicado em 1953, deu forma ao movimento conservador pós-Segunda Guerra Mundial. Na obra é estudado o desenvolvimento do pensamento conservador na tradição anglo-americana, dando especial atenção às ideias de Burke. ” (Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Russell_Kirk Acesso em: 21/06/2021) 9 “David Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) foi um sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês. Formalmente, tornou a sociologia uma ciência e, com Karl Marx e Max Weber, é comumente citado como o principal arquiteto da ciência social moderna e pai da sociologia. Autor de livros como Da Divisão do Trabalho Social, As Regras do Método Sociológico e Suicídio. ” (Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim>. Acesso em: 21 jun. 2021)

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radicalizadas adeptas do conservadorismo de herança protofascista norte-americana e de posições brandas advindas da tradição inglesa do século XX.

A junção destes fatores na realidade brasileira, que tem sua economia historicamente subordinada aos países que estão no centro das lideranças mundiais com sua monopolização, resulta na adoção das práticas mais radicalizadas deste conservadorismo, próximo de tendências ‘’bonapartistas”, um modelo que se apresenta principalmente em momentos de crise da classe dominante, como alternativa para a “auto retirada” do cenário de afogamento desta classe.

Alguns mitos que rondam a formação social brasileira sustentam as novas ondas conservadoras. Marilena Chauí (1995), em “Cultura Política e Política Cultural”, apresenta-nos uma reflexão a respeito das máquinas mitológicas que sustentam as ideologias que rondam o país Brasil.

Quando Chauí nos apresenta o mito da não-violência brasileira em 1995 como um sustentador de ideologias autoritárias e conservadoras no país, não é surpresa que faça tanto sentido quando pensamos na atualidade. Se falamos em conservadorismo clássico ou conservadorismo contemporâneo, falamos da omissão do debate e do enfrentamento das violências, naturalizando suas práticas.

O mito de que no Brasil não existe violência é um dos fatores que vêm sustentando práticas conservadoras e autoritárias desde a invasão portuguesa. O mecanismo da inversão do real (CHAUÍ, 1995, p. 74), que pondo atos e ideias violentas como eventos naturais e/ou vontades do divino, dissimulou as épocas radicais ditatoriais e, na contemporaneidade, as protofascistas. Que atuam pela via das “micro violências não assumidas”, sob o repúdio ao pluralismo social, tanto na política, quanto na cultura ou literatura, no caso brasileiro, ultraconservadores caricatos, de acordo com Lyra (2020). Conservadores de valores tradicionais, militaristas e machistas e que transferem sua ânsia de poder para as questões sexuais, daí o menosprezo pelas mulheres e a intolerância à homossexualidade (ECO,

2019, p. 54-55).

Violências estas que marcam o processo sócio histórico brasileiro, a partir do processo de colonização pelos portugueses, que, dentre suas buscas marítimas por

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aventuras e riquezas, com invasões de territórios, escravizaram indígenas e negros no Brasil para causar o seu enriquecimento, às custas da exploração, também da terra e das riquezas naturais.

Virá o branco europeu, para especular, realizar um negócio, inverterá seus cabedais e recrutará a mão-de-obra que precisa: indígenas ou negros importados. Com tais elementos, articulados numa organização puramente produtora, industrial, se constituirá a colônia brasileira (JÚNIOR, 1885, p. 26)

Além do processo da escravatura, que marca a cultura brasileira com o racismo até os dias atuais, os traços patriarcais arraigados desde o período colonial deixaram carregados no país os modelos autoritários dentro da vida social.

No Brasil, onde imperou desde tempos remotos, o tipo de família patriarcal – que é muito ligada a vida rural - a urbanização e o êxodo migratório para as cidades, criou um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje. (HOLANDA, 1995, p. 145)

Com a chegada da família real em 1808 certamente os padrões coloniais foram ameaçados. A proclamação da república, seguida do processo de abolição da escravidão (HOLANDA, 1995, p. 163), certamente não significou mudança dentro dos termos sociais, uma vez que tal processo, à primeira vista transgressor, realiza apenas a mobilidade do fator trabalho, substituindo a forma de servidão (SANTOS, 1979, p. 71).

Dando um salto histórico, chegamos aos anos 1990, com intuito de delimitar este como o ano que marca a entrada do Brasil na rede de economia mundial. se colocando às ordens do crescente capital financeiro e neoliberalismo da época em que são os responsáveis por redefinir o modo de operação capitalista e as reformas do Estado. Isto significou um ataque direto aos Direitos alcançados através das lutas trabalhistas dos anos 1980, com o retorno da pobreza, do desemprego e ausências das políticas sociais.

O sistema capitalista, então, adentra no que Mota (2009) e outros autores denominam de crise orgânica, que rompe com o histórico apenas da ocorrência das crises econômicas deste modelo de produção. As crises, a partir de Mota (2009), indicam um momento do sistema capitalista onde este encontra dificuldades de se sustentar, principalmente pelo desequilíbrio entre produção e consumo, sobrando

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mercadorias, e a plena realização do sistema é comprometido, não havendo compra dos produtos, logo, deixa-se de realizar a plenamente a mais-valia, o que afeta diretamente o lucro dos capitalistas.

Assim, o tempo seguinte é marcado por esta redefinição das bases econômicas a nível mundial e por uma “ofensiva ideopolítica necessária à construção da hegemonia do grande capital, evidenciada na emergência de um novo imperialismo e de uma nova fase do capitalismo, marcada pela acumulação com predomínio rentista (HARVEY, 2004 apud MOTA, 2009, p. 9).

Ainda,

Estes movimentos podem ser identificados historicamente em medidas que indicam: a) a reestruturação dos capitais, com as fusões patrimoniais, a íntima relação entre o capital industrial e financeiro, além da formação de oligopólios globais via processos de concentração e centralização do capital; b) as transformações no mundo do trabalho, que tanto apresentam mudanças na divisão internacional do trabalho como redefinem a organização do trabalho coletivo, reduzindo a fronteira entre os processos de “subsunção real e formal” do trabalho ao capital e compondo a nova morfologia do trabalho, segundo a expressão de Antunes (2006); c) a reconfiguração do aparato

estatal e das ideologias e práticas que imprimem novos contornos à sociabilidade capitalista, redefinindo mecanismos ideopolíticos necessários à formação de novos e mais eficientes consensos hegemônicos (grifo meu). (MOTA, 2009, p. 9).

Neste sentido, entendendo o conservadorismo enquanto uma ideologia que presta suporte aos avanços capitalistas neoliberais adentrando nas vias de comando Estatais para conservação de um modelo de produção e uma determinada classe nas instâncias de poder, pudemos compreender como o movimento conservador aparece à realidade brasileira, uma vez que é uma corrente que se reformula a partir da realidade social na qual se instala.

No conservadorismo contemporâneo, esse traço do bonapartismo aparece reforçado na sacralização do princípio da "prudência" no pensamento e na ação. Em nome da "prudência", a política e o poder político, relacionados dialeticamente com os rumos da economia, resultam justificados ideologicamente em sua crescente concentração, mediante o discurso da meritocracia e da liberdade de mercado. Esse é o fundamento sócio histórico que cria as condições para a ascensão de sujeitos políticos de extrema-direita, que emergem com a radicalização do discurso da ordem, ainda que esse discurso

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careça de bases concretas, exemplificados, na contemporaneidade por políticos como Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro no Brasil, Marine Le Pen na França, entre muitos outros. (SOUZA, 2016, p. 143-144)

O solo que fortaleceu a candidatura de figuras políticas como Donald Trump e Jair Bolsonaro é o solo do conservadorismo. Nos EUA metamorfoseado a partir da cultura estadunidense. No Brasil fortalecido e disseminado pela cultura socioeconômica brasileira que possui em sua história particularidades sociais construídas a partir de mitos sociais que atuam como o fermento para a massa do bolo da ideologia conservadora.

A contemporaneidade brasileira é a que possui, na presidência do país, uma figura política que traz consigo não apenas a incapacidade de governar uma república, mas, também, que significa anos de retrocesso ideológico, político e social a uma nação que desde 2013 vive o avanço da extrema direita conservadora, com a disseminação das fake news (notícias falsas), que, das redes sociais para fora delas, ganhou popularidade do centro à periferia do país.

Deste modo, compreendemos o papel particular e decisivo das mídias sociais para difusão das ideias conservadoras no Brasil. Sem a demonização destas, apontamos, a partir de nossas análises, o uso que fez e faz a extrema direita protofascista destes recursos para aumentar sua aprovação popular promovendo ideias políticas que têm como porta de entrada o discurso ideológico conservador.

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CAPÍTULO 3

Mídias Sociais e Conservadorismo

Neste capítulo apresentamos uma breve introdução ao conceito das Mídias Sociais, partindo de um apanhado histórico da criação da internet, até a chegada das primeiras formas de se relacionar dentro deste espaço. Também, introduzimos a importância das mídias e dos meios de comunicação de massa, o espaço que adquiriram na sociedade e algumas de suas características.

No item seguinte, apresentamos o Movimento Brasil Livre (MBL), um pouco de sua história e sua influência dentro e fora das mídias sociais, assim como analisamos algumas de suas postagens no Facebook a favor de Jair Messias Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018, as características dos discursos utilizados e como isso refletiu na sociedade.

Em seguida, realizamos uma breve análise em uma das postagens de Jair na prévia do segundo turno das eleições, analisando, também, o discurso utilizado, e os reflexos disso nos resultados eleitorais. Finalmente, apresentamos, em contraposição às mídias até então pesquisadas, uma página de mídia alternativa contra hegemônica, também no Facebook, o Coletivo Mídia Ninja.

3.1 Mídias Sociais: conceituações

Os meios de comunicação em massa, desde o jornal impresso aos noticiários de televisão, programas de rádio, a internet enquanto um veículo informativo em grande escala, surgem na sociedade para se referir a objetos tecnológicos com a possibilidade de propagar a mesma informação para um vasto público ou massa, de forma que outros recursos, como telefone, por exemplo, não o fariam. (CHAUÍ, 2006) A informação e a comunicação sempre foram vetores de poderes dominantes, alternativos, de resistências e de mudanças sociais. Nesse sentido, a ascensão sobre a mente das pessoas propiciada pela comunicação é fundamental: afinal, é apenas com a condição de moldar o pensamento dos povos que os poderes se constituem em sociedades, e que as sociedades evoluem, mudam. (CASTELLS, 2016)

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Em 1934, o pioneiro em gestão da informação Paul Marie Gislan, já vislumbrava o surgimento de uma rede de informações para armazenamento de documentos baseada na multiplicidade de mídias, onde se iniciaria o caminho do armazenamento de dados. Alguns anos depois, Vanevar Bush, em 1945 impulsionava o mundo da tecnologia com ideias similares, quando chamou de “Memex” um dispositivo que armazenaria mídias diversas, como livros, registros, etc. prevendo, além de sua forma física, os conceitos de navegação através do link. Ambos prevendo a chegada do que se passou a chamar de Computador. (CALAZANS; LIMA, 2013, p. 2).

A internet como hoje a conhecemos aspirou, primeiramente, sob os conceitos de J.C.R Lickerlider, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), em 1962, através do que o estudioso chamou de “Rede Galáxia”, ou seja, o mundo interligado através de uma rede de computadores para trocas e acessos de artigos. Nesta mesma época, em 1965, foi criada a primeira rede de computadores do mundo pelos estudiosos Roberts e Thomas Merrill. A partir daí, foi lançado o projeto Defense Advanced Research Projects Agency (Darpa), o Advanced Research Projects Agency (ARPAnet), com o objetivo de interligar redes militares e os departamentos de pesquisa do governo americano. (CALAZANS; LIMA, 2013, p. 2-3).

As autoras apontam, ainda, que nos anos 1970 o governo dos EUA (Estados Unidos) liberou estes recursos para uso acadêmico e instituições de pesquisa, chegando a 100 sites online em poucos anos. Nos anos 80 centenas de computadores já integravam a ARPAnet. Inicialmente, e um tempo após sua criação, a internet estava restrita ao mundo acadêmico, seu uso público-comercial foi liberado apenas em 1987 nos Estados Unidos, e em 1992 vieram a criação das empresas provedoras de internet. (TAIT; TRINDADE, 2003 apud CIRIBELI; PAIVA, 2011, p. 71).

A revolução do mundo cibernético nos anos 1990, segundo autores como Deitel et al. (2003) apud Ciribeli e Paiva (2011), dentre outros, veio com a World Wide

Web, ou, WWW, que significa “teia em todo mundo” (tradução nossa), que engloba

recursos de textos e mídias, permitindo uma navegação livre, de acordo com os desejos do usuário a partir de um clique. (LEÃO, 2001 apud CALAZANS; LIMA, 2013, p. 3).

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No Brasil, foi criada em 1989 a RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com o propósito de difundir a internet e uma infraestrutura adequada para o meio acadêmico, e popularizar o uso cibernético no país. Em 1992 chega a primeira rede de Internet, e em 1995 a RNP passa a receber o apoio de diversas empresas com fornecimento de equipamentos e softwares, e através de financiamentos de projetos.10

A partir desta difusão nacional e internacional dos computadores e da internet, a popularização destes recursos adentra o dia-a-dia da população, seja nos celulares, tablets, notebooks, e a comunicação passa a ser regida, a partir de então, também pelas plataformas digitais, seja para conversação, venda de produtos, mobilizações sociais, estudos, a vida social ganha um espaço na vida dos usuários.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstrou que 82,7% dos domicílios nacionais possuem acesso à internet (até o ano da pesquisa), apontando um aumento de 3,6 pontos percentuais em relação a 2018.11

MacIver e Page (in FERNANDES, 1973) afirmam que uma comunidade inteiramente auto suficiente pertence ao mundo primitivo e que a civilização moderna desencadeia forças que rompem o isolamento das grandes ou pequenas comunidades. Forças estas que são, em parte, tecnológicas, como o aperfeiçoamento dos meios de comunicação e de transporte. E, como Wirth (in FERNANDES, 1973) previu, os homens tiveram capacidade de agir coletivamente e a civilização tecnológica trouxe novas bases para a integração social. (CALAZANS; LIMA, 2013, p.6)

O advento da internet colabora com a sociedade dentro das mais diversas maneiras, a abertura de novos caminhos e possibilidades para se expressar e comunicar, é considerada a mais significativa. Da mesma forma, as redes sociais se fizeram presentes neste processo de desenvolvimento onde os atores e as conexões de rede são o que, afinal, definem uma rede social. (RECUERDO, 2009 apud STEIN; NODARI; SALVAGNI, 2018, p. 45).

10 Disponível em <https://www.rnp.br/sobre/nossa-historia>. Acesso em: 14 ago. 2021.

11 Disponível em < https://www.gov.br/mcom/pt-br/noticias/2021/abril/pesquisa-mostra-que-82-7-dos-domicilios-brasileiros-tem-acesso-a-internet>. Acesso em: 14 ago. 2021.

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Desta forma, considerando que a comunicação, historicamente, “foi traduzida como transferência de dados e informações: um ser que informa e outro que ouve” (FIGUEIREDO, 2018, p. 166), é que compreendemos o vasto espaço virtual das redes sociais como um impulsionador de informações e propagador da ideologia conservadora no país.

As mídias sociais, de acordo com Teixeira (2013) apud Steins; Nodari; Salvagni (2018), se diferem das redes sociais, uma vez que, o primeiro termo é utilizado para se referir de forma mais abrangente em relação às plataformas que promovem a interatividade e criação de conteúdos através de novas mídias. Enquanto as redes sociais são recursos formados por um determinado grupo de organizações ou pessoas que querem discutir temas de interesse comum, dentro de um espaço que os aproxime, com confiança e reciprocidade.

Entretanto, não predomina nas redes sociais um ambiente sadio e isento de desavenças ou intolerâncias. Uma das faces deste novo arranjo social, o anonimato e a distância medida pelas telas, por vezes deliberam enunciações de ódio e agressividade. Assim como a incerteza do teor informativo, e a arbitrariedade da propagação de notícias e conteúdos que estão passivos à manipulação.

À vista disso, apresentamos, no capítulo seguinte, como a ideologia conservadora se apresentou e foi disseminada através de uma das redes sociais de um coletivo político que protagonizou o processo eleitoral de 2018 que elegeu o atual presidente da república Jair Messias Bolsonaro, o Movimento Brasil Livre (MBL). Apresentando também, uma breve análise do conteúdo da rede social de Jair Bolsonaro.

3.2 Expressões do conservadorismo no Brasil: uma análise a partir das publicações do Facebook do Movimento Brasil Livre e do Coletivo Mídia Ninja

O Movimento Brasil Livre (MBL), é um movimento que se empenha na difusão da filosofia liberal12 no país, com o objetivo de que esta filosofia chegue ao Estado

12 “O libertarianismo original, por sua convicção de que a autonomia individual deve ser sempre respeitada, levaria a posições avançadas em questões como consumo de drogas, direitos reprodutivos e liberdade sexual. Mesmo nos Estados Unidos, porém, tais posições tendem a estar mais presentes em textos dogmáticos do que na ação política dos simpatizantes da doutrina. Seus principais aliados são cristãos fundamentalistas, e o discurso costuma apresentar o reforço da família tradicional como

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brasileiro sendo, majoritariamente, a ideologia que orienta e define sua atuação. Defendendo principalmente a liberdade individual, a propriedade privada e o Estado de Direito como conceitos fundamentais para alcançar uma sociedade livre, próspera e justa.13

De acordo com as informações retiradas da sessão “Valores e Princípios” do site do Movimento, são defendidas bandeiras como “Fim de toda forma de discriminação social instituída por meio de cotas raciais ou de gênero”; “Revogação do estatuto do desarmamento e o reconhecimento do direito de autodefesa do cidadão”; e “Fim do voto obrigatório”.

O MBL surge em 2014, e ganha maior notoriedade durante o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2015. Cresce nas eleições de municipais de São Paulo em 2016 com vitórias inéditas, como a inserção de Fernando Holiday (DEM-SP) eleito o vereador mais jovem da história da cidade, com apenas 20 anos e mais de 40 mil votos; e Kim Kataguiri (DEM-SP), membro da organização Estudantes pela Liberdade (EPL), que foi eleito deputado federal com 465 mil votos. E, além disso, prestando apoio público ao então candidato a presidente da República Jair Messias Bolsonaro. (PRADO; PRATES, p. 2, 2019).

O surgimento do movimento em 2014 se funda na participação das manifestações de rua no Movimento Passe Livre14 dos membros dos Estudantes pela Liberdade (EPL), a qual Kataguiri era membro, como uma forma de não comprometer diretamente a organização liberal, que contava com financiamentos internacionais, o MBL surge como uma espécie de célula. O EPL “se configura como um aparelho privado de hegemonia de orientação neoliberal. ” (CASIMIRO, p. 394-395, 2018). Se

compensação para a demissão do Estado das tarefas de proteção social - Estado é o inimigo comum, seja por regular as relações econômicas, seja por reduzir a autoridade patriarcal ao determinar a proteção aos direitos dos outros integrantes do núcleo familiar. Aliança similar ocorre no Brasil, em que o ultra liberalismo faz frente unida com o conservadorismo cristão”. Aponta Luis Felipe Miguel no artigo “A reemergência da direita brasileira”, em “Ódio Como Política: a reinvenção das direitas no Brasil”, de organização de Esther Solano Gallego, 2018, uma das obras utilizadas como referência para construção desta pesquisa.

13 Disponível em: <https://mbl.org.br/valores-principios> Acesso em: 26 ago. 2021.

14 “O Movimento Passe Livre (MPL) é um movimento social brasileiro que defende a adoção da tarifa zero para coletivo. “ Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Passe_Livre>. Acesso em: 26 ago. 2021.

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caracteriza, principalmente, “pelo recrutamento de jovens universitários para a composição de novos quadros de intelectuais orgânicos da ideologia de mercado”.

A organização é tida como uma versão brasileira de outra organização com os mesmos princípios, a Students for Liberty15, uma organização que, segundo Casimiro

(2018), é fundamental na articulação entre os think tanks conservadores americanos e a juventude “anti-populista” Latinoamericana. Os think tanks “atuam com o objetivo principal de disseminar ideários políticos procurando influenciar a opinião pública. ” (Hauck. 2015, p. 171 apud Rocha e Solano, 2019, p.126).

Toda essa mobilização de setores liberal-conservadores que representam a “nova direita” no Brasil estava em formação desde os anos de 1980, com a nova estratégia de organização da burguesia por meio de seus aparelhos privados de hegemonia. [...] Estamos diante, portanto, de uma frente ampla de ação política e ideológica como um verdadeiro partido, no sentido gramsciano. (CASIMIRO, 2018, p.406)

Desde o seu surgimento nas mídias sociais, o MBL somatiza cada vez mais seguidores, atualmente, contam com 659 mil seguidores em sua página do Instagram @mblivre16, e pouco mais de 3 milhões de seguidores no Facebook17, além de estarem, também, nas plataformas Youtube18, com mais de 1.25 milhões de seguidores, e no Twitter19, com aproximadamente 647 mil.

O EPL (Estudantes pela Liberdade), organiza, financia e estabelece diretrizes de ação, principalmente a partir de seu braço de atuação política e ideológica, o Movimento Brasil Livre (MBL). Divulgando vídeos de seus membros com narrativas revisionistas e ataques aos movimentos sociais, proferindo discursos de ódio de classe e sobre minorias, criando e reproduzindo fakenews, promovendo manifestações reacionárias e viabilizando a candidatura política de seus integrantes alinhados a tradicionais partidos de direita, o MBL configura-se como uma marca dessa nova direita. (ROCHA, et

al. 2018, p. 45)

15 Uma rede de organização de jovens estudantes pró-liberdade com sede na América do Norte. Disponível em: <https://studentsforliberty.org/north-america/about-us/> Acesso em: 26 ago. 2021. 16 Disponível em: <https://www.instagram.com/mblivre/>. Acesso em: 26 ago. 2021.

17 Disponível em: <https://www.facebook.com/mblivre>. Acesso em: 26 ago. 2021. 18 Disponível em: <https://www.youtube.com/mblivre>. Acesso em: 26 ago. 2021. 19 Disponível em: <https://twitter.com/mblivre>. Acesso em: 26 ago. 2021.

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De acordo com Prado e Prates (2019), a partir de um estudo realizado no ano de 2018 dentro do período das eleições presidenciais, foram analisadas postagens diárias do Facebook do MBL dos meses de setembro e outubro (totalizando cerca de 1215 postagens). Segundo os autores, o que se observou, de início, foi a criação de um pano de fundo temático que sustenta o discurso usado constantemente nas postagens, que é a criação do Outro (o candidato da esquerda) como um personagem de “do mal”, um inimigo a ser combatido.

Em um vídeo publicado na página pública do Facebook de Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL, em 05 de outubro de 2018, o político declara seu apoio a Jair Messias Bolsonaro. Com um discurso que aponta o candidato como a única candidatura possível, com força política para retirar o Partido dos Trabalhadores20 (PT) de uma possível vitória com Fernando Haddad21, Prefeito de São Paulo e ex-Ministro da Educação. O vídeo conta com a seguinte legenda: “Neste momento de grande apreensão, não serei eu a ficar em cima do muro. Temos que fazer escolhas, e farei as minhas baseado em meus valores e na ameaça de um retorno ao poder da quadrilha que destruiu nosso país. Neste vídeo declaro meu voto para Presidente da República. ”

Em sua declaração, Kataguiri diz que “a candidatura de Jair Bolsonaro é a única esperança que a gente tem para nos livrar, pelos menos durante 4 anos, desse plano totalitário", finalmente presta seu total apoio e solicita que aqueles que os acompanham, ao MBL, também optem pelo mesmo candidato. O vídeo conta com mais de 63 mil interações, entre curtidas e comentários que, em sua maioria, apoiam e parabenizam Kim pelo seu posicionamento, e foi visualizado mais de 1,3 milhões de vezes.

20 “O Partido dos Trabalhadores surge da necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la. A mais importante lição que o trabalhador brasileiro aprendeu em suas lutas é a de que a democracia é uma conquista que, finalmente, ou se constrói pelas suas mãos ou não virá. ” Disponível em: https://pt.org.br/nossa-historia/ Acesso em: 26/08/2021

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Figura 1: Imagem do vídeo em que Kim Kataguiri declara apoio ao (na época) candidato à presidência da república Jair Messias Bolsonaro.

Fonte: Página de Kim Kataguiri no Facebook22

Jair Messias Bolsonaro é nascido em Glicério (SP) no ano 195523, e atualmente acumula cerca de 39.968.059 seguidores em suas redes sociais. O atual presidente da república passou pela Câmara dos Deputados por sete vezes, e já afirmou em seu site pessoal, que suas bandeiras se afirmam na defesa da família e do Estado brasileiro. (ROCHA E SOLANO, p. 192, 2019). As autoras ainda destacam que, em seu último mandato como Deputado, em 2019, Jair se destacou na luta pela redução da maioridade penal (proposta que levou para votação no mandato presidencial24), e pelo chamado “Kit Gay”, uma cartilha que teria sido destinada às escolas do ensino fundamental contra a homofobia, ao qual Bolsonaro apontou Fernando Haddad como

22 Disponível em: <https://www.facebook.com/kimkataguiri>. Acesso em: 26 ago. 2021.

23 Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/conheca-a-presidencia/biografia-do-presidente>. Acesso em: 26 ago. 2021.

24 Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/politica/bolsonaro-pede-que-senado-aprove-reducao-da-maioridade-penal/>. Acesso em: 26 ago. 2021.

Referências

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