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326174658-Rivers-O-metodo-Genealogico-na-Pesquisa-Antropologica.pdf

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1.1 1.1

O M€TODO GENEAL•GICO

O M€TODO GENEAL•GICO  NA

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(1910) (1910)

11conhecido o fato de que muitos povos preservam longasconhecido o fato de que muitos povos preservam longas

genealogias de seus ancestrais, abrangendo in€meras gera•‚es, e genealogias de seus ancestrais, abrangendo in€meras gera•‚es, e freqƒentemente chegando at„ tempos m…ticos. O que n†o „ freqƒentemente chegando at„ tempos m…ticos. O que n†o „ sabido t†o bem „ que v‡rios povos de cultura primitiva sabido t†o bem „ que v‡rios povos de cultura primitiva preser-vam oralmente suas genealogias por v‡rias gera•‚es, em todas vam oralmente suas genealogias por v‡rias gera•‚es, em todas as linhas colaterais, de modo a apresentar genealogicamente as linhas colaterais, de modo a apresentar genealogicamente to-dos os descendentes de um bisavˆ ou trisavˆ, e deste modo, dos os descendentes de um bisavˆ ou trisavˆ, e deste modo, distinguindo aqueles que n‰s denominar…amos primos em distinguindo aqueles que n‰s denominar…amos primos em segun-do e terceiro grau fazensegun-do com que, por vezes, suas mem‰rias do e terceiro grau fazendo com que, por vezes, suas mem‰rias  pe

 penetnetrem rem ainainda da mamais pis profrofunundadamemente nte no no temtempopo. Š . Š esteste o e o tiptipo do dee genealogia utilizado no

genealogia utilizado no m„todo que me proponho a considerarm„todo que me proponho a considerar neste artigo.

neste artigo.

Iniciarei pelo modo de coletar getalogias que fornece a Iniciarei pelo modo de coletar getalogias que fornece a  ba

 base se papara ra eseste te mm„„totododo. O . O prprimimeieiro ro popontnto o a a seser cr cononsisidederarado do „„

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Kutntl Kuperou OUSA Kuliki Kondtllshikal manias }ovens

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SINf?I - Konluva Klndupulcl 1 Lukwiil

que, devido ‹ grande diferen•a entre os sistemas de rela•‚es1de

 parentesco dos povos primitivos e dos civilizados, „ desej‡vel que sejam usados t†o poucos termos de parentesco quanto poss…-vel, sendo que genealogias completas podem ser obtidas com express‚es limitadas ‹s seguintes: pai, m†e, filho, filha, marido e mulher. A pequena genealogia apresentada como exemplo foi obtida em Guadalcanal, na parte leste das ilhas Salom†o e, neste caso, iniciei a pesquisa perguntando a meu informante: Kurka ou Arthur, o nome de seu pai e de sua m†e, deixando claro que queria os nomes de seus pais biol‰gicos e n†o de quaisquer outras pessoas que ele assim denominasse em virtude do sistema classificat‰rio. Depois de me certificar que Kulini tinha apenas uma esposa e Kusua apenas um marido, obtive os nomes de seus filhos e filhas por ordem et‡ria pesquisando os matrimˆnios e a prole de cada um. Assim, cheguei ao pequeno grupo dos descendentes dos pais de Arthur. A Ilha de Guadal-canal possui um sistema social caracterizado pela descendŒncia matrilinear e, deste modo, Arthur conhecia melhor a genealogia de sua m†e do que a de seu pai. Obtive os nomes dos pais de sua m†e, certificando-me, como fiz anteriormente, de que cada um havia sido casado apenas uma vez e ent†o indaguei os nomes de seus filhos e filhas obtendo assim os matrimˆnios e descen-dentes de cada um. Pelo fato de Arthur ter vivido por um longo  per…odo de tempo em Queensland, seu conhecimento n†o ia al„m

da gera•†o de seus av‰s. Caso ele fosse mais versado em sua genealogia, eu teria pesquisado a parentela de Sinei e Koniava, e chegado at„ os descendentes de seus pais exatamente do mes-mo mes-modo, seguindo assim at„ que o conhecimento de meu in-formante sobre sua fam…lia fosse completamente exaurido.

Ao coletar as genealogias obtŒm-se os descendentes em am- bas as linhas, masculina e feminina, mas ao transcrevŒ-los para

uso deste artigo, ‚ aconselh‡vel anotar em uma p‡gina apenas os descendentes de uma linha, com referŒncias cruzadas a outras  p‡ginas para os descendentes da outra linha."

O m„todo exato para o arranjo de nomes n†o „ de grande importncia, entretanto achei conveniente colocar os nomes mas-culinos em letras mai€sculas e os nomes femininos na forma habitual, sempre posicionando o nome do marido ‹ esquerda do da esposa. Em matrimˆnios polig…nicos, ou polindricos, in-cluo os nomes das esposas ou dos maridos entre parŒnteses.

Uma das mais importantes caracter…sticas do m„todo „ a de mencionar, tanto quanto poss…vel, a condi•†o social de cada  pessoa inclu…da nas genealogias. A localidade de origem de cada um deve ser dita e freqƒentemente faz-se necess‡rio gravar, n†o apenas o distrito, mas tamb„m o nome de algum grupo territo-rial menor, seja um vilarejo ou uma aldeia. Caso o grupo possua organiza•†o totŒmica, os nomes do totem ou dos totens de cada

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 pessoa devem ser mencionados ou, se n†o existirem cl†s totŒmi-cos ou outras divis‚es sociais, isto deve ser igualmente mencio-nado. Na genealogia de Guadalcanal, dada como exemplo, os nomes colocados sob os das pessoas referem-se a cl†s ex‰gamos que provavelmente possuem natureza totŒmica.3

Ao iniciar o trabalho em uma nova localidade „ aconselh‡-vel mencionar qualquer fato, sobre cada indiv…duo, que possa ter significa•†o social, podendo posteriormente a pesquisa ser limitada ‹queles considerados de importncia. Cuidados espe-ciais devem ser tomados para o registro das localidades de pro-cedŒncia daqueles que se casaram dentro da comunidade, vindos de outras tribos ou locais. Caso exista a pr‡tica da ado•†o, as crian•as adotadas quase que certamente s†o inclu…das entre os filhos leg…timos, a menos que se preste aten•†o espec…fica ao tema, devendo, nos casos em que for poss…vel, ser mencionado o  parentesco real e o adotivo.

Freqƒentemente s†o encontradas dificuldades e fontes de erro quando da coleta do material para a aplica•†o do m„todo geneal‰gico. Uma delas, com que me deparei, „ a existŒncia de tabus em rela•†o aos nomes dos mortos, s‰ podendo este fato ser sobrepujado com muita dificuldade, na maioria das vezes. Em minha pr‰pria experiŒncia fui compelido, em conseqƒŒncia deste tabu, a obter em segredo certas genealogias e de outras  pessoas que n†o do grupo estudado. Outras fontes de erro e  perplexidade s†o as pr‡ticas da ado•†o e da mudan•a de nomes e, sem d€vida alguma, novas dificuldades ser†o encontradas por aqueles que procurarem levantar genealogias em outros locais. A fim de empregar o m„todo geneal‰gico do modo que  proponho faz-se necess‡rio ter certeza de que as genealogias obtidas s†o fidedignas. Ao coletar as genealogias de toda uma comunidade existir†o muitos pontos de entrecruzamento; em um caso pessoas que perten•am ao tronco paterno de um informan-te perinforman-tencer†o ao tronco mainforman-terno de outro, ou estar†o entre os ancestrais de sua esposa, havendo assim amplas oportunidades

 para testar a concordncia das vers‚es oferecidas pelos diferen-tes informandiferen-tes.

Em quase todas as comunidades com as quais tive oportu-nidade de trabalhar, encontrei pessoas com conhecimentos ge-neal‰gicos especiais, sendo bom que delas se fa•a tanto uso quanto poss…vel. De acordo com minha experiŒncia, „ perigoso confiar em homens jovens, que em quase todos os locais n†o se d†o mais ao trabalho de aprender suas genealogias junto aos seus velhos. No entanto, se elas forem obtidas atrav„s destes €ltimos, normalmente possuir†o extraordin‡ria acuracidade quan-do confrontadas com diferentes vers‚es bem como uma maior coerŒncia dentro da genealogia completa da comunidade.

Tendo assim descrito rapidamente o m„todo de registro de genealogias, e de garantir sua acuracidade, posso seguir detalhan-do os usos a que elas se prestam.

O primeiro e mais ‰bvio uso refere-se ‹ elabora•†o dos sistemas de parentesco. Em quase todos os povos de cultura simples estes sistemas diferem tanto do nosso pr‰prio, que existe um grande perigo de se cair em erro, caso se tente meramente obter os equivalentes aos nossos termos atrav„s do m„todo de  pergunta e resposta. Meu procedimento „ perguntar ao infor-mante os termos que ele aplicaria a diferentes membros de sua genealogia e, reciprocamente, os termos que aqueles aplicariam ‹ sua pessoa. Assim, no caso da genealogia de Guadalcanal que apresentei como exemplo, perguntei a Arthur como ele denomi-nava Tokho, e ele mencionou o equivalente a "irm†o mais ve-lho", quando um homem est‡ a falar, enquanto que o modo  pelo qual Tokho denomina a Arthur „ o equivalente a "irm†o mais novo". Os termos aplicados um ao outro por Vakoi e Arthur deram os equivalentes a "filho da irm†" e "irm†o da m†e", respectivamente; no parentesco de Komboki e Arthur sur-giram os temas "esposa do irm†o da m†e" e "filho da irm† do marido", tendo sido as outras express‚es de parentesco do lado materno obtidas do mesmo modo. Para os termos de parentesco

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filho* do irm†o (m.f.) filho* do irm†o da esposa filho* da irm† (h.f.) ... filho*da irm†do marido do lado paterno, a genealogiade Kulini, paide Arthur, era em- pregada. Ž fato real que excepcionalmente, um jogocompleto de termos de parentesco pode ser obtidoa partir de apenasuma genealogia,mas mesmo se assim fosse poss…vel, n†o seria

reco-mend‡vel que sefizesse deste modo, porquesempre h‡a  possi- bilidade de ocorrŒncia de algum parentesco duplo, um talvez  por consangƒinidade eoutro porafinidade,que pode nos enga-nar. Nunca fico inteiramente satisfeito com um sistema de pa-rentesco, a menos que cada genealogia tenha sido obtidaa partir detrŒs outrasdistintas.

A seguintelista de termos das rela•‚esde parentesco deve ser obtida:

Pai ... filho M†e ... filha

Irm†o mais velho (h.f.) ... irm†o mais novo (h.f.) Irm†o mais velho (m.f.) ... irm† mais nova (h.f.) Irm† mais velha (h.f.) ...

irm†o mais novo (m.f.) Irm† mais velha (m.f.) ...

irm† mais nova (m.f.) Irm†o do pai ...

filho* do irm†o (h.f.) Esposa do irm†o do pai ... filho* do irm†o do marido Filho* do irm†o do pai .

Irm† do pai ... Marido da irm† do pai Filho* da irm† do pai . Irm†o da m†e ... Esposa do irm†o da m†e Filho* do irm†o da m†e Irm† da m†e ... Marido da irm† da m†e Filho* da irm† da m†e Pai do pai ... M†e do pai ... Pai da m†e ... M†e da m†e ... Marido ... Pai da esposa ... M†e da esposa ... Pai do marido ... M†e do marido ... Irm†o da esposa ...

Irm† da esposa ... marido da irm† (m.f.) Irm†o do marido ... esposa do irm†o (h.f.) Irm† do marido ... esposa do irm†o (m.f.) Marido da irm† da esposa ...

Esposa do irm†o do marido ... Pais da esposa do filho ...

h.f. = hom,m falando

m.f. = mulher falando * = filho e/ou filha Eles est†o dispostos em duas colunas, e os termos opostos em cada uma s†o rec…procos, de maneira que caso hajam sido obtidos atrav„s do m„todo geneal‰gico, o nome dado por um homem a qualquer um de seus parentes entrar‡ em uma coluna e o nome dado a ele por aquele parente ocupar‡ um lugar na coluna oposta. No caso de rela•‚es m€ltiplas de parentesco, duas formas s†o utilizadas: uma, quando se dirigindo a um parente, e outra, quando dele falando, sendo que ambas devem ser obtidas. Em v‡rias partes do mundo, diferentes termos de parentesco s†o utilizados por pessoas de sexos diferentes, sendo os termos tam- b„m afetados pelas idades respectivas das duas partes da

rela-•†o. Na lista, todas as diferen•as importantes de acordo com o sexo foram inclu…das atrav„s da especifica•†o sobre se o termo est‡ sendo usado por um homem (h.f.) ou uma mulher ( m.f.),

mas as distin•‚es et‡rias apenas foram fornecidas nos casos de

irm†os e irm†s. Se, conforme freqƒentemente acontece, os irm†os mais velhos e os mais jovens do pai s†o distinguidos, estes ter-mos devem tamb„m ser obtidos, e distin•‚es similares devem ser  pesquisadas em casos de outras rela•‚es. Algumas vezes as distin•‚es et‡rias v†o mesmo mais longe, podendo existir um termo distinto para cada membro de uma fam…lia de trŒs, qua-tro, cinco ou mais pessoas. Se os filhos forem distinguidos das filhas na nomenclatura, os termos devem ser fornecidos, em cada caso, na lista, sempre que a palavra "prole" ' ocorra.

Os termos usados para rela•‚es definidas de parentesco, consangƒ…neas ou afins, s†o tamb„m freqƒentemente aplicados a outras com as quais tais la•os n†o podem ser tra•ados. Tenho filho* da irm† (m.f.)

filho* da irm† da esposa filho* do filho (h.f.) filho* do filho (m.f.) filho* da filha (h.f.) filho da filha (m.f.) esposa marido da filha (h.f.) marido da filha (m.f.) esposa do filho (h.f.) esposa do filho (m.f.) marido da irm† (h.f.)

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 por h‡bito suplementar o m„todo geneal‰gico pedindo uma lista de todas as pessoas a quem um homem espec…fico aplica termos de parentesco. Na an‡lise, geralmente descobre-se que eles caem em uma das seguintes classes: (1) parentesco que pode ser tra-•ado nas genealogias; (2) parentesco consangƒ…neo ou afim que n†o pode ser tra•ado nas genealogias dispon…veis, mas que pos-sui, sem sombra de d€vida, uma base geneal‰gica; assim, em conex†o com a mesma genealogia, Arthur poderia dizer que denominava um homem nianggu, ou "irm†o de minha m†e",  porque ela era otasina, ou "irm†o" de Kusua; (3) parentesco

dependente da pertinŒncia a uma divis†o social  assim, Arthur  poderia chamar um homem kukuanggu ou "meu avˆ" porque

este era um lakwili da mesma gera•†o de Koniava; e (4) paren-tesco dependente de algum la•o artificial estabelecido pelo usu‡-rio do termo ou mesmo pelo seu pai ou avˆ, sendo tal parentesco artificial, por vezes transmitido de pai para filho.

Os termos dados na lista s†o suficientes para determinar o car‡ter geral de um sistema, mas o ideal ser‡ obter um certo n€mero de express‚es para parentesco mais long…nquo tal como com o do irm†o ou da irm† do avˆ paterno, juntamente com sua prole e netos. Entre estes parentes mais distantes, a esposa do filho da irm† e o marido da filha da irm† e suas proles s†o, algumas vezes, de interesse especial.

O uso de genealogias tamb„m „ interessante para o estudo das regulamenta•‚es matrimoniais. Se todas as genealogias de uma popula•†o forem coletadas, como tenho conseguido em di-versos casos, teremos ent†o um registro dos casamentos que tiveram lugar na comunidade, retornando, certas vezes, at„ cer-ca de cento e cinqƒenta anos no passado. Este registro „ preser-vado nas mentes das pessoas, e atrav„s dele pode-se estudar .as leis que regem a institui•†o local do matrimˆnio, assim como em uma comunidade civilizada pode-se fazer uso dos registros matrimoniais em um cart‰rio ou igreja. Podemos, ent†o, saber n†o apenas quais os tipos de matrimˆnio permitidos ou

prefe-renciais e quais aqueles proibidos, mas tamb„m expressar esta-tisticamente a freqƒŒncia dos diferentes tipos. Entre diversos  povos de cultura simples, parece estar em andamento uma mu-dan•a gradual da condi•†o em que o matrimˆnio „ regulamenta-do primordialmente, ou inteiramente, por meio regulamenta-dos mecanismos de cl†s, fratrias ou outros arranjos sociais, para uma outra na qual a regulamenta•†o do matrimˆnio depende de uma consan-gƒinidade verdadeira, e a natureza exata do estado de transi•†o de um povo apenas pode ser determinada de modo satisfat‰rio atrav„s de um m„todo concreto, tal como o provido pelo estudo do registro geneal‰gico. Mais ainda, sendo o matrimˆnio regu-lado por alguma regra social, o m„todo permite descobrir quais-quer tendŒncias espec…ficas para que pessoas de determinadas divis‚es se casem entre si, tendŒncias estas que talvez n†o hajam sido informadas pelo pr‰prio povo. O m„todo torna poss…vel o estudo exato de formas de matrimˆnio tais como a poliginia, a  poliandria, o levirato e o matrimˆnio entre primos cruzados.

Estas institui•‚es possuem in€meras variedades que escapam fa-cilmente ‹ aten•†o pelos m„todos comuns de pesquisa, mas que se tornam perfeitamente claras quando sua natureza „ trabalha-da em detalhes usando-se as genealogias; al„m disso, o m„todo  permite detectar se as regulamenta•‚es matrimoniais de um povo

est†o sendo obedecidas na pr‡tica, podendo um estudo dos casamentos, atrav„s de gera•‚es sucessivas, revelar uma mudan-•a progressiva na severidade com que qualquer regra seja san-cionada. Na realidade, „ poss…vel trabalhar os problemas mais complexos concernentes ‹ regulamenta•†o do matrimˆnio sem  jamais haver formulado uma quest†o direta sobre o assunto,

embora isso n†o seja desej‡vel, porque uma das caracter…sticas mais interessantes do m„todo geneal‰gico „ fornecida pela com- para•†o entre os resultados obtidos atrav„s de seu uso e aqueles

derivados da pesquisa direta. Caso existam discrepncias entre os dois, a investiga•†o poder‡ n†o apenas fornecer id„ias para novos pontos de vista, como tamb„m lan•ar luz sobre as

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peculia-ridades lingƒ…sticas ou psicol‰gicas que possam ter sido a causa do mal-entendido.

A genealogia de Guadalcanal apresentada como exemplo „ muito diminuta para que possa valer como um bom exemplo da aplica•†o do m„todo, mas deve ser observado que em nenhum caso duas pessoas do mesmo cl† casaram entre si e que, de um total de oito casamentos, quatro tiveram lugar entre membros dos cl†s kindapalei e lakwili, fato explicado provavelmente pela existŒncia do matrimˆnio entre primos cruzados naquela ilha. Ela tamb„m nos fornece um exemplo de casamento com um membro de outra comunidade, ou seja, com um nativo da viz -nha Ilha de Savo, cujos cl†s correspondem muito de perto acs de Guadalcanal.

Outra aplica•†o do m„todo „ a investiga•†o das leis que regulam a descendŒncia e a heran•a de propriedades. Assim, na genealogia servida como exemplo, ser‡ visto que cada pessoa  pertence ao cl† de sua m†e, ilustrando deste modo a descendŒn-cia matrilinear nesta parte das Ilhas Salom†o. O m„todo „ espe-cialmente importante para o estudo sobre sucess†o na chefia,  bem como para o da heran•a de bens. Assim „ poss…vel tomar

um determinado peda•o de terra e pesquisar sua hist‰ria, talvez a partir do tempo em que ela come•ou a ser cultivada; o trajeto de suas divis‚es e subdivis‚es, em ocasi‚es diversas pode ser seguido em detalhes, e um caso de posse que pareceria sem espe-ran•as de resolu•†o torna-se perfeitamente simples e intelig…vel ‹ luz de sua hist‰ria, havendo uma penetra•†o na dinmica das leis concernentes ‹ propriedade, de um modo que jamais pode-ria ter sido obtido atrav„s de um m„todo menos concreto.

Outro uso do m„todo que ocasionalmente torna-se de gran-de valor „ no estudo das migra•‚es. Assim, em diversas partes da Melan„sia, nos €ltimos cinqƒenta anos teve lugar uma mu-dan•a no estilo de vida das matas para o litoral, e a informa•†o fornecida pelas localiza•‚es de gera•‚es sucessivas pˆde explicar a natureza de tal migra•†o.

Os usos at„ aqui considerados s†o concernentes ao estudo da organiza•†o social, mas o m„todo possui tamb„m validade  para o estudo da magia e da religi†o. Na maior parte dos povos que estudei, descobri que, nos cerimoniais, fun•‚es bem defini-das s†o destinadefini-das a pessoas que est†o em rela•†o determinada com quem executa a cerimˆnia ou com a pessoa para quem ela est‡ sendo levada a efeito. Acredito que a pesquisa exata, torna-da poss…vel pelo m„todo geneal‰gico, mostraria que estas fun-•‚es conectadas ‹s relafun-•‚es de parentesco s†o muito mais amplas que a literatura antropol‰gica atual pode nos levar a supor, e mais ainda, que os direitos e .privil„gios oriundos do parentesco, descobertos deste modo, podem ser mais precisamente definidos. O m„todo permite tamb„m que se investigue o cerimonial de modo mais concreto do que seria poss…vel de outro modo. Quan-do estou trabalhanQuan-do com este tema, coloco ‹ m†o meu livro de genealogias e conforme obtenho os nomes dos v‡rios atores  procuro verificar como eles est†o ligados ao executante ou ao

sujeito da cerimˆnia, havendo ao mesmo tempo a vantagem de eles se tornarem personagens reais para mim, mesmo que ante-riormente nunca os tenha visto, e a investiga•†o proceder de uma maneira que interessa tanto a mim quanto aos meus infor-mantes, muito mais do que se os personagens fossem meros X, Y ou Z.

Outro grupo de usos para os quais o m„todo pode ser co-locado ‹ disposi•†o „ o estudo dos v‡rios problemas que, embora sejam primordialmente biol‰gicos, ainda assim s†o de grande

importncia sociol‰gica. Refiro-me a temas como: a propor•†o dos sexos, o tamanho das fam…lias, o sexo do primeiro filho, a  propor•†o de crian•as que crescem e se casam para com o

n€me-ro total de nascidos, e outn€me-ros temas similares que podem ser estudados estatisticamente pelo m„todo geneal‰gico. Nas genea-logias possu…mos uma grande massa de dados de maior impor-tncia para o estudo exato de v‡rios problemas demogr‡ficos, mas aqui torna-se necess‡rio exprimir uma nota de advertŒncia:

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de acordo com minha experiŒncia, a mem‰ria do povo „ menos cr…vel no referente a crian•as da gera•†o passada que morreram  jovens, ou antes da idade matrimonial, do que no caso daqueles que se casaram e tiveram prole  „ ‰bvio que estes €ltimos ter†o ganho uma importncia social dentro do grupo, que faz da preserva•†o de seus nomes um fato natural. Tem sido uma freqƒente fonte de surpresa para mim o fato de jovens falecidos uma gera•†o antes serem lembrados t†o bem quanto o s†o; pro-vavelmente devem existir poucas d€vidas de que alguns tenham sido esquecidos, e as estat…sticas concernentes a estes temas  biol‰gicos s†o menos completas do que aquelas que lidam com  problemas estritamente sociais.

Um outro uso do m„todo, ainda mais importante, „ a sua  possibilidade de ajudar a antropologia f…sica. Como exemplo

des-te fato, apresentarei o exemplo de uma ilha, visitada por mim e  pelo Sr. Hocart no ano passado, onde existem duas fontes cons-tantes de mistura, em ambos os casos com povos cujas carac-ter…sticas f…sicas s†o muito diferentes daquela da massa geral de seus habitantes. A antropometria da popula•†o desta ilha pelos m„todos comuns dificilmente produz algum resultado definido, mas atrav„s do m„todo geneal‰gico foi poss…vel descobrir a ascendŒncia imediata de cada pessoa a ser medida; al„m do mais, a combina•†o de medi•‚es f…sicas com o uso do m„todo geneal‰gico provŒ um grande volume de material para o estudo dos problemas de hereditariedade. O m„todo tamb„m torna pos-s…vel trabalhar exaustivamente o modo de transmiss†o de con-di•‚es como o daltonismo e o albinismo que est†o presentes, em propor•‚es variadas, na maioria das partes do mundo.

Pode-se mencionar, brevemente, algumas outras vantagens incidentais do m„todo geneal‰gico. Muitas informa•‚es podem ser obtidas no tocante ‹ transmiss†o de nomes, e no exemplo fornecido pode ser observado que uma crian•a recebe o nome de seu bisavˆ, al„m do mais, o nome de alguma pessoa morta, talvez algu„m que haja vivido um s„culo atr‡s, lembrar‡ a

his-t‰ria passada do povo que, de outro modo, possivelmente n†o seria obtida, e alguns coment‡rios lan•ados ‹ esmo, em conex†o com os nomes dos ancestrais, podem fornecer sugest‚es valiosas  para pesquisa. Al„m disto, a mera cole•†o de nomes provida na genealogia forma um dep‰sito de material lingƒ…stico que seria de imenso valor n†o fosse o fato de possuirmos pouco conheci-mento das partes mais vivas da linguagem de modo a permitir que ela seja utilizada.

Tendo agora considerado linhas mais detalhadas de pesqui-sa para as quais o emprego do m„todo geneal‰gico „ €til ou essencial, sintetizo brevemente algumas de suas vantagens em termos mais gerais. Em primeiro lugar, mencionaria sua solidez. Qualquer um que conhe•a povos de cultura simples sabe a dificuldade que se coloca ante o estudo de qualquer quest†o abstrata, n†o tanto porque o selvagem n†o possua id„ias abs-tratas, mas sim porque ele n†o possui palavras para expres-s‡-las, ao mesmo tempo em que „ certo que dele n†o pode ser esperada uma aprecia•†o adequada dos termos abstratos do idio-ma de seu visitante ou de quaisquer outras l…nguas estrangeiras que sirvam de meio de comunica•†o. O m„todo geneal‰gico tor-na poss…vel a investiga•†o de problemas abstratos em uma base  puramente concreta. E at„ mesmo poss…vel que atrav„s dele

pos-sam formular-se leis que regulem a vida do povo, as quais pro-vavelmente jamais foram formuladas, certamente n†o com a cla-reza e exatid†o que elas tŒm para a mente treinada em uma civiliza•†o mais complexa. Tamb„m ser†o evitados desentendi-mentos infind‡veis entre aqueles pass…veis de surgirem entre  povos de esferas t†o diferentes, desentendimentos que possuem

sua fonte em diferen•as de perspectivas e falta de aprecia•†o, de um lado ou de outro, das amenidades da linguagem, seja europ„ia ou nativa, que esteja servindo como meio de comuni-ca•†o. O m„todo n†o pode eliminar as dificuldades que atrapa-lham a interpreta•†o das condi•‚es sociais do selvagem pelo

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visitante de outra civiliza•†o, mas fornece uma massa de fatos definidos e indubit‡veis para serem interpretados.

Deste ponto de vista, o m„todo „ mais €til ‹queles que, como eu, apenas podem visitar os povos selvagens ou b‡rbaros  por um pequeno espa•o de tempo, totalmente insuficiente para adquirir um grau de dom…nio sobre o idioma nativo que permita que ele seja usado como instrumento de comunica•†o. Para isto, o m„todo „ essencial, caso haja alguma esperan•a de se conse-guir fatos de valor verdadeiro sobre as caracter…sticas mais com- plexas da organiza•†o social. Atrav„s do m„todo geneal‰gico „  poss…vel, sem conhecimento do idioma e com maus int„rpretes, trabalhar com maior acuracidade os sistemas de parentesco, t†o complicados que os europeus que tŒm passado suas vidas entre estes povos nunca conseguiram entendŒ-los. N†o „ exagero dizer que sobre este assunto ou sobre aquele da regulamenta•†o do matrimˆnio „ poss…vel obter, atrav„s deste m„todo, um conheci-mento mais definido e exato do que „ poss…vel, sem ele, para um homem que viva muitos anos entre estes povos e que tenha obtido um conhecimento t†o pleno quanto aquele que um euro- peu pode adquirir da l…ngua de um povo b‡rbaro ou selvagem. Outra grande vantagem do m„todo „ que ele fornece meios de testar a acuidade das informa•‚es obtidas. Entre os selva-gens, tal como entre n‰s, existem enormes diferen•as quanto ‹ veracidade com que se descreve uma cerimˆnia ou a hist‰ria de uma pessoa ou um curso de eventos. O m„todo geneal‰gico for-nece um meio r‡pido de se testar a acuidade. N†o quero sim- plesmente dizer que uma pessoa que guarde em sua mem‰ria,

de maneira acurada, as genealogias, possuir‡ tamb„m mem‰ria agu•ada para outros temas, sendo que o m„todo concreto de  pesquisa, tornado poss…vel pelo m„todo geneal‰gico, nos permite

detectar a falta de cuidado e de acuidade muito mais rapida-mente do que pelos m„todos mais comuns de pesquisa. N†o „ um detalhe sem importncia o conhecimento de que fatos acura-dos d†o ao pesquisador um sentido de confian•a em seu

traba-lho, que n†o „ pass…vel de ser desprezado nas penosas condi•‚es clim‡ticas, ou de outros tipos, em que a maior parte do trabalho antropol‰gico tem de ser efetuado. Mais ainda, o m„todo geneal‰-gico n†o apenas garante a confian•a nos informantes, como pos-sui um efeito igualmente importante no sentido de dar ao selva-gem seguran•a quanto ao seu interrogador. Todos conhecem o velho refr†o de que "a principal caracter…stica do selvagem „ que ele lhe contar‡ o que vocŒ quiser saber"; quando ele age assim „ porque lhe parece o meio mais f‡cil de efetuar uma tarefa  pela qual ele n†o possui interesse, freqƒentemente porque n†o

entende a natureza real das perguntas, mas creio que mais usual-mente porque ele reconhece que seu interrogador n†o as entende tamb„m. O que parece ser a mais simples das quest‚es para um europeu n†o instru…do pode, para o nativo, ser totalmente inca- paz de prover uma resposta direta, e n†o „ surpresa constatar

que o confuso filho da natureza tome o caminho mais curto  para liqƒidar o assunto. Acredito que o m„todo geneal‰gico

co-loca o pesquisador europeu no mesmo n…vel do nativo. Ž certo que os povos de cultura simples n†o preservariam suas genealo-gias com as min€cias habituais, caso elas n†o possu…ssem grande importncia pr‡tica em suas vidas, e a familiaridade do pesqui-sador com o instrumento que ele usa dar‡ aos selvagens confian-•a e interesse na pesquisa, os quais s†o de inestim‡vel valor para se obter informa•‚es. Al„m do mais, a confian•a m€tua que „ engendrada pelo uso do m„todo geneal‰gico para o entendimen-to da organiza•†o social estende-se a outros departamenentendimen-tos da antropologia, n†o sendo limitada em seus efeitos.

Outra caracter…stica de grande valor do m„todo geneal‰gi-co, ‹ qual j‡ me referi, „ a ajuda que ele nos oferece quando nos  permite entender aquelas caracter…sticas da psicologia dos

selva-gens que tanto dificultam o trabalho antropol‰gico. Tenho sem- pre o h‡bito de fazer perguntas utilizando o m„todo geneal‰gico

e o m„todo comum de perguntas e respostas. Sempre existir†o discrepncias, e sua investiga•†o nos fornecer‡ uma percep•†o

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extremamente valiosa sobre as peculiaridades mentais que foram a causa do mal-entendido.

Concluindo, existem duas vantagens do m„todo que s†o de tamanha importncia que seriam suficientes, a meu ver, para tornar seu uso essencial, mesmo que outros n†o existissem.

E quase imposs…vel, hoje em dia, encontrarmos povos cujas culturas, cren•as e pr‡ticas n†o estejam sofrendo os efeitos da influŒncia europ„ia, uma influŒncia que tem sido particularmen-te ativa duranparticularmen-te os €ltimos cinqƒenta anos. A meu ver, o grande m„rito do m„todo geneal‰gico „ o de ele nos levar de volta a um tempo antes que esta influŒncia atingisse o povo. Ele pode nos fornecer registros de matrimˆnio e descendŒncia e outras caracter…sticas da organiza•†o social de cerca de cento e cin-qƒenta anos atr‡s. Eventos de at„ um s„culo atr‡s puderam ser registrados abundantemente em todas as comunidades em que trabalhei, e acredito que com o devido cuidado eles podem ser obtidos junto a quase todos os povos. Al„m disto, o curso das genealogias algumas vezes „ suficiente para demonstrar o efeito gradual de novas influŒncias que tŒm afetado os povos.

Outro m„rito not‡vel do m„todo „ que ele nos d‡ os meios, n†o apenas de obter informa•‚es, mas de verifica•†o da veraci-dade das mesmas. At„ recentemente, a Etnologia era uma ciŒn-cia amadora. Os fatos nos quais esta ciŒnciŒn-cia tem sido baseada vŒm sendo coletados por pessoas que normalmente n†o possuem treinamento cient…fico, e eles s†o comunicados ao mundo com muito poucas garantias de acuidade ou completitude. Ž um tri- buto admir‡vel ‹ veracidade essencial do selvagem que estes

registros sejam t†o bons quanto s†o, mas qualquer um que j‡ tenha examinado atrav„s de uma ‰tica cr…tica os registros de qualquer povo, deve ter encontrado grandes disparidades nas evidŒncias, como tamb„m reconhecido que os registros, em si mesmos, n†o oferecem quaisquer crit„rios que permitam distin-guir o falso do verdadeiro. Atrav„s do m„todo geneal‰gico „  poss…vel mostrar os fatos da organiza•†o social de maneira tal

que eles conven•am o leitor do mesmo modo que qualquer uma das ciŒncias biol‰gicas. O m„todo geneal‰gico, ou outro similar, que torne tal demonstra•†o poss…vel, ajudar‡ a colocar a Etno-logia num posto de igualdade,  juntamente com as demais ciŒn-cias.

Referências

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