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Revista da SBEnBio - Número VI Enebio e VIII Erebio Regional 3

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Academic year: 2021

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ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE APRENDIZAGEM NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE O BIOMA CERRADO

Diéssica Karoline Martins Chagas (Universidade Estadual de Goiás) Amanda Martins Dias (Universidade Estadual de Goiás) Hélida Ferreira da Cunha (Universidade Estadual de Goiás) Juliana Soares de Lima (Universidade Estadual de Goiás) Brenda Peixoto Romeiro (Universidade Estadual de Goiás) Resumo

O ensino de ciências por muitas vezes é defasado nas escolas. Em contrapartida os espaços não formais geram curiosidade nos alunos e oferecem um complemento educativo que pode diminuir as carências das escolas. O objetivo do trabalho foi propagar informações sobre o bioma Cerrado e os insetos, promovendo a popularização da ciência entre alunos de uma escola pública em Anápolis-GO, Brasil. O estudo foi realizado com 39 alunos de 7º ano, que assistiram a uma miniaula e visitaram uma trilha ecológica. Cada aluno produziu um desenho sobre Cerrado e insetos antes e após a visita. Foi possível constatar que houve uma melhora na representação das características do bioma posteriormente. Afirmando assim que os espaços não formais são uma ferramenta importante no processo ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: desenho, educação científica, trilha ecológica.

Introdução

O estudo sobre o Cerrado é muitas vezes negligenciado nas escolas, seja devido ao pouco número de aulas sobre o tema, seja pela falta de recursos para a realização de aulas práticas (BIZERRIL & FARIA, 2003). A realização de aulas de campo, onde os alunos têm a oportunidade de aprender através do estímulo de quatro sentidos -visão, audição, tato e olfato- é apontado como um fator fundamental para motivar e despertar a curiosidade dos alunos sobre o tema estudado (SENICIATO & CAVASSAN, 2004). No entanto, muitas escolas da rede pública possuem como fatores limitantes para o desenvolvimento de aulas em ambientes naturais a falta de tempo e de recursos financeiros para as saídas de campo (BIZERRIL & FARIA, 2003).

Segundo Vieira, Bianconi e Dias (2005), a educação pode ser dividida em: educação formal, que é aquela adquirida na escola, informal, que é passada por meio de experiências, e não formal, que ocorre por meio da intenção de pessoas dispostas a criar meios de ensinar

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que proporciona ensino-aprendizagem de conteúdos da escola formal em espaços não formais, como museus, centros de ciências, salas interativas, dentre outros, onde sejam desenvolvidas atividades direcionadas, com um objetivo previamente definido (VIERIA, BIANCONI & CARUSO, 2005; SIMSON, PARK & FERNANDES, 2001).

Esses espaços propiciam curiosidade em seus visitantes e oferecem um complemento educacional, a fim de suprir ou diminuir algumas carências das escolas (SABBATINI, 2003). Estas carências podem ser por falta de laboratórios e materiais, de recursos multimídia e também por falta de disposição e/ou estímulo do professor. Se por um lado, se reconhece a importância de ambientes não formais de aprendizagem, por outro percebe-se ainda a necessidade de mais estudos, a fim de analisar, por exemplo, os métodos utilizados nas visitas (VIEIRA, BIANCONI & DIAS, 2005; BIANCONI & CARUSO, 2005)

Segundo Bianconi & Caruso (2005), o ensino não formal de aprendizagem pode despertar o potencial criativo dos alunos e também o ensino não formal vai motivar o interesse do aluno pela ciência. Sendo assim, o espaço não formal pode motivar o aluno nas aulas de ciências, trazendo a criatividade do aluno para o ensino da natureza.

Cada indivíduo irá construir uma imagem do que é a natureza com base em suas relações com a sociedade e sua cultura. Esse conceito do que é a natureza é construído no dia a dia, e segundo especialistas existe uma grande diversidade de entendimentos sobre esse termo (GONÇALVES, 2002). Segundo Azevedo (1999), a partir do momento em que o professor conhece os saberes prévios de seus alunos por base de suas representações é possível realizar trabalhos educativos em cima das suas visões ambientais e assim ter uma reflexão do que é a natureza, por exemplo.

O objetivo deste trabalho foi propagar informações sobre o bioma Cerrado e os insetos sociais, por meio de miniaulas e visita ao fragmento de Cerrado na Trilha do Tatu localizada no Campus Henrique Santillo (CCET) da Universidade Estadual de Goiás (UEG), um espaço não formal de aprendizagem, para promover a popularização da ciência entre alunos do ensino fundamental de uma escola pública em Anápolis, Goiás, Brasil.

Metodologia

O estudo foi realizado em uma instituição pública de ensino da cidade de Anápolis, Goiás. Foram selecionadas duas turmas de 7º ano do período vespertino (Turma A e Turma B), totalizando 39 alunos. Previamente, na escola, os alunos foram instruídos a fazer um

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desenho que representasse o bioma Cerrado evidenciando a biodiversidade de insetos. A atividade foi realizada durante uma aula de 50 minutos em cada turma.

Após uma semana, os alunos da turma A fizeram uma visita à UEG, CCET, onde participaram da segunda parte da atividade. Eles foram recebidos no Laboratório de Pesquisa Ecológica e Educação Científica (Lab-PEEC) e participaram de uma miniaula sobre Cerrado e insetos, especialmente insetos sociais. Como material de apoio, foram utilizados modelos didáticos de abelhas, cupins e formigas e seus respectivos ninhos durante a miniaula, de modo que os alunos puderam interagir e pegar os modelos durante a explicação. Além dos modelos didáticos, foram mostrados espécimes reais dos insetos e também ninhos reais de abelhas, vespas e cupins.

Após a miniaula os alunos receberam um kit biólogo/pesquisador mirim que continha: uma garrafa (squeeze), um boné, um colete, um caderno de bolso, um lápis e uma perneira, entre os quais eles puderam levar para casa o caderno e a garrafa. Após receberem o kit, os alunos visitaram um fragmento de Cerrado do Campus (Trilha do Tatu), a fim de aprender as características principais da flora do bioma e observar os insetos pelo caminho. Durante a visita, foi explicado para os alunos sobre as três fitofisionomias do Cerrado observadas no fragmento (Cerrado Sensu Stricto, mata seca e mata de galeria) e sobre as plantas e os animais encontrados, com enfoque nos insetos sociais.

Após a visita à trilha, os alunos retornaram ao laboratório e receberam uma folha na qual tiveram que desenhar novamente o Cerrado e sua diversidade de insetos. Foram disponibilizados lápis de escrever e lápis de cor para cada um. Quando os alunos terminaram os desenhos, eles voltaram para a escola. Na semana seguinte as atividades foram repetidas com os alunos da turma “B”.

Todos os desenhos foram analisados qualitativamente utilizando duas abordagens: a descrição dos elementos presentes e a criação de categorias para cada um, como proposto por Bardin (1977). Os elementos foram avaliados segundo a sua presença ou ausência em cada desenho (por exemplo: se havia árvores com copa, casas ou animais). Cada desenho foi caracterizado conforme o conjunto de elementos que continha. Além disso, cada desenho foi enquadrado em uma categoria de acordo com o conjunto de elementos que continham.

Resultados e Discussão

Ao todo, nos desenhos, foram observados 19 elementos relacionados ao bioma Cerrado e Insetos sociais. Os elementos “abelha”, “outros insetos”, “árvore com copa” e

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“casa” apareceram mais vezes antes da realização da intervenção. Já os elementos “formiga”, “cupim”, “vespa”, “água”, “árvores tortas sem copas” e “gramíneas” apareceram mais vezes nos desenhos após a intervenção. Os elementos “cactos” e “flores” tiveram o mesmo número de registros antes e depois. Os elementos “invertebrados”, “animais vertebrados” e “humanos” somente apareceram antes, enquanto “fungos”, “cerca” e “fábrica” somente apareceram após as atividades (Figura 1).

Figura 1. Elementos observados nos desenhos antes e após as atividades.

Alguns alunos apresentaram dificuldade em distinguir árvores características do Cerrado (tortas e sem copas) de árvores de pomar (Como pode ser vista na Figura 2A), mesmo após a visita à trilha. Isso pode ter acontecido porque o Cerrado apresenta fitofisionomias diferentes, contendo tanto árvores com troncos tortos como árvores com copa (Figura 2B). No entanto, as árvores com copa observadas durante visita se diferem das árvores de pomar, que se encontram mais dispersas e contêm frutos que não são típicos do bioma visitado, como por exemplo, a macieira. Apesar disso, o número de árvores com copa diminuiu e o de árvores tortas sem copa aumentou nos desenhos feitos na universidade. Isto evidencia que os alunos puderam compreender as principais características do bioma Cerrado no sentido estrito.

Segundo Derdik, uma maneira da criança ter uma percepção da sua existência é desenvolvendo uma atividade total, ou seja, uma atividade onde ela use todo o seu potencial. O desenho é uma prática que desenvolve potencialidades, sendo assim é uma ferramenta na

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qual a criança pode expressar o modo como ela vê o mundo e como ela se sente em relação a ele. (DERDIK, 1989)

Figura 2. (A) Desenho antes das atividades. (B) Desenho após ás atividades.

Outro aspecto importante observado nos desenhos foi a presença de mais formigas, cupins e vespas após as atividades, mostrando que os alunos passaram a entender que estes insetos são elementos da fauna deste bioma. O método de categorização possibilitou organizar os desenhos em sete grupos (Figura 3).

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Na categoria denominada “somente insetos” foram colocados os desenhos que continham apenas insetos e nenhum outro elemento. Na categoria denominada “Cerrado antropizado” foram colocados todos os desenhos que tinham alguma construção, como casas e fábricas. Na categoria chamada “Cerrado com insetos” foram colocados todos os desenhos que representavam alguma fitofisionomia do Cerrado, que tinham árvores tortas e insetos ou ninhos. O número de desenhos desta categoria aumentou bastante após as atividades, o que mostra que muitos alunos entenderam o que era o Cerrado e que os insetos sociais fazem parte de sua composição e desempenham uma função importante neste bioma. Outro fato que reforça essa ideia é que nenhum desenho foi categorizado como “Cerrado sem inseto” posteriormente.

Na categoria “Cerrado sem inseto”, foram considerados os desenhos que representavam alguma fitofisionomia do Cerrado e que tinham árvores tortas, mas não tinham nenhum inseto ou ninho. Na categoria “Cerrado como parque ou jardim com insetos”, foram colocados todos os desenhos que não apresentavam características do Cerrado e que mais pareciam com uma paisagem com poucas árvores com copas, flores e lago, mas também apareciam algum inseto ou ninho. Na categoria denominada “Cerrado como parque ou jardim sem insetos”, foram colocados todos os desenhos que não apresentavam características do Cerrado e que mais pareciam com uma paisagem com poucas árvores com copas, flores e lagos. Porém não continha nenhum inseto ou ninho.

Na categoria “não compreende o tema”, foram colocados todos os desenhos que não tinham características de nenhuma fitofisionomia do Cerrado, não tinham árvores nem insetos, ou seja, não apresentavam o que havia sido pedido. Nesta categoria a maioria dos desenhos tinham apenas nuvens, sol e um risco que provavelmente representava o chão.

As categorias que continham insetos, em geral tiveram mais desenhos que as outras. Os modelos didáticos, os insetos e ninhos reais auxiliaram na aproximação dos alunos com o conteúdo trabalhado, pois muitos mencionaram o fato de nunca terem visto os mesmos de tão perto anteriormente. Observou-se uma melhora no entendimento das características do Cerrado, uma vez que a quantidade de desenhos enquadrados na categoria “não compreende o tema” foi menor depois da visita à trilha.

Cinco alunos antes das atividades deixaram suas folhas em branco, enquanto após a atividade todos fizeram o desenho. Isso pode ter acontecido pela falta de informações, já que na escola alguns mencionaram que não sabiam o significado da palavra bioma, outros diziam que não sabiam o que era Cerrado, sendo assim eles não tinham ideia do que desenhar. Isso também pode ser explicado pela falta de espontaneidade dos alunos, segundo Goldberg,

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Yunes e Freitas (2005) as crianças que estão na pré-escola tem maior incentivo ao desenho que as crianças das outras fases de ensino, sendo assim, a influência da alfabetização troca o sistema de representação (desenho) pelo sistema da escrita.

É perceptível que a miniaula e a visita à trilha tenham ajudado de alguma forma esses alunos, pois os mesmos conseguiram produzir um desenho baseados no que visualizaram durante a visita ao laboratório e à trilha. Se deve pensar em questões ecológicas e em educação ambiental tanto no âmbito da educação formal quanto na não formal, para que as crianças tenham uma percepção sensível do ambiente a qual estão inseridas (GOLDBERG, YUNES e FREITAS, 2005).

Deste modo, os espaços não formais de aprendizagem mostraram que tem um papel importante na popularização da ciência, visto que possibilitam alunos que estudam em espaços formais de aprendizagem tenham contato com o conhecimento científico produzido dentro da Universidade.

Os espaços não formais de aprendizagem têm um importante papel no desenvolvimento tanto pessoal como intelectual dos alunos. Os trabalhos de Seniciato e Cavassan (2004), mostram que após aulas práticas em um ambiente natural de ecossistema terrestre que os alunos mostram eficácia na produção de respostas que mais se assemelhavam aos conceitos científicos, sendo assim a contribuição dos espaços não formais de aprendizagem para o ensino de ciências é bem relevante.

Conclusão

O presente estudo indicou uma melhora na compreensão dos alunos sobre componentes do bioma Cerrado, uma vez que houve diminuição no número de desenhos cujas categorias não correspondiam plenamente ao tema proposto (Cerrado com insetos). A popularização da ciência, dessa forma, é um elemento importante para que o conhecimento científico gerado dentro da universidade seja uma ferramenta utilizada na construção do pensamento de alunos da educação básica.

Referências

AZEVEDO, G. C. Uso de jornais e revistas na perspectiva da representação social de meio ambiente em sala de aula. In: REIGOTA, M. (Org.). Verde cotidiano: o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&A, p. 67-82, 1999.

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BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 226p, 1977.

BIANCONI, M. L.; CARUSO, F. Educação Não-formal. Cienc. Cult. , São Paulo, v. 57, n. 4, p. 20, 2005.

BIZERRIL, M. X. A.; FARIA, D. S. A escola e a conservação do cerrado: uma análise no ensino fundamental do distrito federal. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient., V. 10, 2003. DERKIK, E. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo: Scipione, 1989.

GOLDBERG, L. G.; YUNES, M. A. M.; FREITAS, J. V. O desenho infantil na ótica da ecologia do desenvolvimento humano. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 1, p. 97-106, 2005.

GONÇALVES, C. W. P. Os (des)caminhos do meio ambiente. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2002. (Temas Atuais)

SABBATINI, Marcelo. Museus e centros de ciência virtuais: uma nova fronteira para a

cultura científica. Com Ciência. Disponível em:

http://www.comciencia.br/reportagens/cultura/cultura14.shtml. Acesso em: 20 junho de 2016. SENICIATO, T.; CAVASSAN, O. Aulas de campo em ambientes naturais e aprendizagem em ciências – um estudo com alunos do ensino fundamental. Ciência & Educação, v. 10, n. 1, p. 133-147, 2004.

SIMSON, O. R. D. M. V; PARK, M. B; FERNANDES, R. S. Educação não formal: cenários da criação. Campinas: Unicamp, 2001.

VIEIRA, V.; BIANCONI, M. L. e DIAS, M. Espaços não-formais de ensino e o currículo de Ciências. Ciência e Cultura , São Paulo, v.57, n.4, p. 21-23, dez. 2005.

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