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CONDICIONANTES CLIMÁTICOS ASSOCIADOS A VARIAÇÃO TEMPORAL DO Biomphalaria glabrata EM REGIÃO ENDÊMICA PARA A ESQUISTOSSOMOSE - ARACAJU/SE ( )

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CONDICIONANTES CLIMÁTICOS ASSOCIADOS A VARIAÇÃO TEMPORAL DO

Biomphalaria glabrata EM REGIÃO ENDÊMICA PARA A ESQUISTOSSOMOSE -

ARACAJU/SE (2005-2011)

MÁRCIA ELIANE SILVA CARVALHO

1

FRANCISCO DE ASSIS MENDONÇA

2

JOSEFA ELIANE DE S. S. PINTO

3

Resumo

Esta pesquisa analisou a existência de correlações entre as variáveis climáticas, a distribuição temporal do Biomphalaria glabrata e da esquistossomose no município de Aracaju/SE de 2005/2011. Para tal, utilizou-se uma metodologia de caráter descritivo e quantitativo, pesquisas bibliográfica/documental e dados estatísticos. Foi identificada correlação forte e inversa entre insolação e elevadas temperaturas, associada com uma correlação forte e positiva com a umidade e um delay em torno de um mês entre o início do período chuvoso e o repovoamento das colônias de B. glabrata, demonstrando que os condicionantes climáticos continuam a ser um elemento importante na trama de fatores que compõem a complexa interação entre homem-agente-ambiente do Schistosoma mansoni. Palavras-chave: Variáveis climáticas - Biomphlaria glabrata - Esquistossomose

Abstract

This research aims to analyze the existence of correlations between climate variables, the temporal distribution of Biomphalaria glabrata and schistosomiasis in the municipality of Aracaju/SE between 2005/2011. For this, we used a descriptive and quantitative methodology, from the literature / documents and use of statistical data. It was identified that there is a strong inverse correlation between insolation and high temperatures, combined with a strong positive correlation with moisture and a delay of about a month from the beginning of the rainy season and the restocking of colonies B. glabrata, demonstrating the weather conditions continue to be an important element in the plot of factors that make up the complex interaction between man-agent-environment Schistosoma mansoni.

Keywords: Climate Variables - Biomphlaria glabrata - Schistosomiasis

1. Introdução

Para compreender o processo saúde-doença a partir do enfoque multicausal, os componentes sociais, econômicos, ambientais, biológicos, culturais devem ser avaliados em associação com a existência e atuação dos serviços de atenção básica.

Especificamente sobre as variáveis ambientais, o clima tem-se destacado na atualidade com maior ênfase em virtude do aquecimento da atmosfera do planeta Terra,

1 Profª Drª do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe, Pós-doutoranda pelo LABOCLIMA/UFPR. E-mail: marciacarvalho_ufs@yahoo.com.br

2 Prof. Dr. do Departamento de Geografia, do PPGeografia da Universidade Federal do Paraná e coordenador do LABOCLIMA/UFPR. E-mail: chico@ufpr.br

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2436 cujos efeitos e impactos ainda não estão totalmente esclarecidos. Neste ínterim, Mendonça (2003, p.211) ressalta que

(...)é preciso notar que há uma interação direta entre os impactos de fenômenos de ordem natural e as condições socioeconômicas-tecnológicas das diversas sociedades humanas; aquelas menos aquinhoadas encontram-se mais expostas aos riscos e são, portanto, mais vulneráveis que aquelas dos países ricos e desenvolvidos.

Áreas ambientalmente vulneráveis podem ser agravadas por processos de expansão urbana desordenada que trazem em seu bojo acesso limitado a saúde, educação, saneamento ambiental e que podem repercutir sobre vulnerabilidades socioambientais, conforme apontam Hogan et.al.(2001), Mendonça (2008, 2011).

As doenças cujo vetor ou hospedeiro estejam associadas com coleções hídricas ainda figuram no cenário atual do mundo moderno, de forma preocupante e cada vez mais expansivas. A esquistossomose é uma delas, uma doença endêmica da região Neotropical cujo número de casos positivos aproxima-se de 200 milhões de pessoas em diversas localidades do mundo, principalmente em países da África, Ásia e América, estando associada à pobreza, coleções hídricas contaminadas, ausência de saneamento, cuja expansão pode ser potencializada a partir de variações climáticas.

A esquistossomose é uma doença infecto-parasitária causada pelo Schistosoma mansoni. Não há vetor envolvido na transmissão da esquistossomose, sendo que em seu ciclo estão envolvidos dois hospedeiros (definitivo e intermediário). O principal hospedeiro definitivo é o homem e nele o parasita ao se reproduzir elimina ovos que ao serem liberados no ambiente por meio das fezes em locais inadequados, contamina os recursos hídricos. Estes ovos dependem da presença do hospedeiro intermediário para completar o ciclo. No Brasil são as espécies de caramujo Biomphalaria glabrata, B. straminea, B. tenagophila. As áreas endêmicas para esquistossomose no Brasil são heterogêneas quanto ao clima, à topografia e à vegetação (BRASIL, 2008), fazendo-se necessário ampliar os estudos sobre os aspectos ecológicos e climáticos associados ao desenvolvimento desta espécie e consequente disseminação da esquistossomose.

De acordo com dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012), foram confirmados 2.297.352 casos entre 1995 a 2011. Tomando como ano-base 2011, o país apresentou 64.811 casos da doença, dos quais 57,5% localizados no Nordeste brasileiro; 41,6 % no Sudeste; 0,7% no Norte; 0,09% no Centro-Oeste e 0,07% na região Sul. Dentre os estados nordestinos, Alagoas apresentou o maior número de casos em 2011, 12.903 casos confirmados, seguido pelo estado de Sergipe, que registrou 8.977 no mesmo ano.

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2437 Dentre os 75 municípios sergipanos foi diagnostica a ocorrência da espécie do hospedeiro intermediário Biomphalaria glabrata em 49 municípios (BRASIL, 2008), sendo que em 40 deles, ocorreu a infestação com o Schistosoma.

Diante deste cenário, esta pesquisa tem como objetivo analisar a existência de correlações entre as variáveis climáticas, a distribuição temporal do B. glabrata e da esquistossomose no município de Aracaju/Sergipe, entre os anos de 2005 a 2011.

2. Procedimentos Metodológicos

No intuito de identificar se existem relações entre variações climáticas e a ocorrência temporal da esquistossomose e do hospedeiro intermediário do S. mansoni, utilizou-se uma metodologia de caráter descritivo e quantitativo, a partir da pesquisa bibliográfica/documental e utilização de dados estatísticos. Para tal, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a temática, indicando os principais aspectos ecológicos e epidemiológicos relativos a espécie do B. glabrata.

As variáveis climáticas selecionadas foram a precipitação, insolação, temperatura máxima e umidade relativa do ar, pois foi levado em consideração os aspectos da biologia e ecologia da referida espécie. O levantamento dos dados relativos as variáveis climáticas de 2005 a 2011 teve como base a Estação Meteorológica Automática do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) (www.inmet.gov.br) - Estação 83096, localizada na área urbana do município de Aracaju, nas seguintes coordenadas geográficas: 10,9º de latitude sul e 37,0º de longitude oeste.

O levantamento malacológico de 2005-2011, bem como os dados epidemiológicos da esquistossomose, foram obtidos na base de dados do PCE/DATASUS.

Para geração do banco de dados e posterior construção de tabelas e gráficos foi utilizado o Excel/Windows/07. A análise estatística foi pautada no coeficiente de correlação de Pearson, cujos dados de precipitação foram considerados como a variável independente e os casos de esquistossomose e de ocorrência do B. glabrata como variáveis dependentes. Para análise dos resultados foi considera classificação de Dancey e Reidy (2006): 0 a 0.30 indica fraca correlação; 0.40 a 0.6 (positivo ou negativo) indica correlação moderada; 0.70 a 1 (positiva ou negativa) indica forte correlação. Os dados foram analisados de forma integrada buscando compreender as relações entre as variáveis, associada com a literatura pertinente à temática.

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2438 O recorte temporal inicial era de 2005 a 2014. No entanto, o banco de dados do PCE/DATASUS disponibiliza dados até 2011 e segundo a coordenação técnica do PCE/SES/SE, não está ocorrendo a coleta dos moluscos e a alimentação deste banco.

3. Resultados

3.1. Aspectos ecológicos e epidemiológicos do Biomphalaria glabrata: uma

síntese.

As primeiras descobertas sobre o agente etiológico da esquistossomose datam de 1851 no Egito, realizadas pelo patologista Theodor Bilharz. No entanto, foi em 1908 que Pirajá da Silva, na Bahia, descreveu o ciclo do Schistosoma mansoni e Lutz (1916/1917), realizando estudos no Brasil, reconheceu que espécies de moluscos do gênero Biomphalaria (do latim bis = duas vezes e do grego omphalos = umbigo), especificamente B. glabrata e B. straminea, seriam as hospedeiras intermediárias (PARAENSE, 2008).

Estas espécies são pulmonadas e apresentam ampla distribuição geográfica pela região Neotropical, com alta susceptibilidade a S. mansoni, sendo a B. glabrata, a mais importante hospedeira intermediária nas Américas (CARVALHO, et.al., 2008).

Segundo Pieri e Favre (2008), esta espécie é capaz de ajustar-se a mudanças nas condições ambientais, como temperaturas elevadas, falta de alimento, escassez de água, respondendo biologicamente a estas limitações a partir de seu afastamento da água e entrando em estado de dormência. Esta resposta fisiológica pode variar a depender da zona climática na qual as espécies se encontram e se tornar elemento fundamental para o processo de planejamento das ações de saúde pública, pois não apenas os reservatórios hídricos podem ser fontes de contaminação, mas em seu entorno podem ser encontrar reservatórios potenciais assim que as condições ambientais se tornem propicias.

A espécie em questão apresenta também processo adaptativo ao meio urbano/periurbano. Dos ambientes lênticos do meio rural, adaptou-se ao meio urbano ao ocupar córregos, valas de águas servidas e pequenas áreas empoçadas, temporárias ou permanentes, recolonizando o ambiente rapidamente, após os eventos pluviométricos.

Com o esclarecimento do ciclo epidemiológico da doença, com a constante ampliação do conhecimento ecológico das espécies hospedeiras a realidades diversas e com os estudos voltados para a fase humana da doença, uma série de estratégias foram sendo estruturadas, implementadas e modificadas em nível mundial.

Barbosa et.al. (2008), apresenta o histórico de recomendações da OMS para controle epidemiológico da esquistossomose mansoni em escala global, trazendo

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2439 repercussões sobre a atuação e controle no Brasil. Na década de 1980, com o advento de quimioterápicos mais eficazes, a prioridade foi modificada do controle da transmissão (ocorrido até a referida década) para o tratamento da morbidade. Na década seguinte, reconhecido os avanços, recomendava-se o controle associado com as geo-helmintíases e que as crianças em idade escolar fossem a prioridade.

A partir do ano de 2002, o relatório da OMS modifica a estratégia de controle das verminoses ao dirigir o tratamento para grupos de alto risco, sem diagnóstico individual prévio, associado com medidas de saneamento e de controle do hospedeiro.

Essa nova estratégia não atingiu todos os programas de controle da esquistossomose. Em Sergipe, por exemplo, de acordo com dados do Centro de Controle de Zoonoses de Aracaju, responsável pelo monitoramento e alimentação do banco de dado do PCE – Programa de Controle da Esquistossomose de Aracaju, as ações são focadas nos grupos vulneráveis que habitam aglomerados subnormais.

A ênfase no tratamento da morbidade com quimioterápicos apresenta um avanço. No entanto, retornada à condição socioambiental no qual o sujeito vive, torna-se alvo de nova (re)infestação, repetindo o ciclo. Desta forma, somente o tratamento não promoverá a erradicação da doença.

Outras ações e medidas de controle preconizadas pela OMS também não lograram êxito de forma permanente no âmbito das políticas públicas de controle de endemias: educação em saúde com um caráter permanente e saneamento ambiental. Mesmo com ações pontuais de campanhas educativas e com a melhoria no sistema de saneamento, cada vez mais se constata o avanço dos aglomerados subnormais nas regiões metropolitanas, os quais, são foco das referidas endemias, pois carecem de formas adequadas de abastecimento de água e rede de saneamento, o que nos leva a reflexão de como é complexo o sistema econômico e político no qual estamos inseridos e quanto estas comunidades ficam a margem do processo de melhoria da qualidade de vida. Ressalta-se desta forma, o caráter negligenciado destas doenças, bem como da própria população vitimada com as referidas enfermidades.

Outros ajustes se fazem necessário do ponto de vista epidemiológico: continuidade no monitoramento e tratamento dos focos da doença em associação com políticas públicas efetivas de combate à pobreza, efetivação do ordenamento territorial e continuidade no controle dos moluscos vetores e para tal conhecimento sobre seus aspectos biológicos e ecológicos para que se concretize a erradicação da doença.

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3.2. Condicionantes climáticos e a distribuição temporal do Biomphalaria

glabrata: a esquistossomose em foco.

Embora seja reconhecido mundialmente a importância de ações integradas no combate da esquistossomose, cada vez mais as equipes do programa de controle da referida endemia tornam-se reduzidas e os dados disponíveis para consulta, limitados.

Ao analisar o banco de dados do PCE/DATASUS, foi identificado que dados de coleta dos moluscos são irregulares e no caso de Sergipe, o banco de dados apenas disponibiliza as informações sobre o total de hospedeiros intermediários infectados e não infectados até 2011, sem haver distinção em quais setores censitários foram coletados, no caso do município de Aracaju. Este fato limita a análise proposta, mas não reduz a sua importância, pois apresenta a dissociação entre a ocorrência da parasitose e o real monitoramento de seu transmissor intermediário.

Conforme literatura acerca da esquistossomose em Sergipe, a espécie predominante é a do Biomphalaria glabrata. Dados do PCE (DATASUS, 2016) de 2005 a 2011 apontam que dos 12.304 caramujos capturados nestes sete anos, 97,3%, (11.971) são da espécie B. glabrata e 79 da espécie Biomphalaria straminea. No recorte espacial em estudo, 11,2% apresentaram resultados positivos para a presença do Schistossoma mansoni, sendo que os anos de 2007 e 2008 ocorreram as maiores campanhas para coleta e identificação de positividade do molusco (figura 01). O ano de 2010 foi caracterizado como um período sem atuação expressiva na coleta e monitoramento do B. glabrata. Ao analisar a distribuição mensal, constata-se que o maior número de espécies capturadas se encontra nos meses de junho e julho, com queda acentuada de novembro a março (figura 02).

Figura 01 – Total de espécimes coletadas de B. glabrata em Aracaju (2005-2011) Fonte: PCE/DATASUS (2016).

Org.: Márcia Carvalho

Ao analisar a correlação entre o número de casos positivos de esquistossomose no período em estudo e o total de espécimes coletados (Figura 03), utilizando o método de

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2441 correlação de Pearson, identifica-se que não há correlação (0,131) o que sinaliza para dois aspectos: que os casos estão persistindo na comunidade (não ocorre tratamento) e/ou que não há uma associação entre o monitoramento dos casos no hospedeiro definitivo e o monitoramento do hospedeiro intermediário. Este dado demonstra a necessidade de ações integradas nos diferentes segmentos do ciclo epidemiológico da doença.

Figura 02 – Total de espécimes coletadas de B. glabrata por mês em Aracaju (2005-2011) Fonte: PCE/DATASUS (2016).

Org.: Márcia Carvalho

Figura 03 – Total de casos de esquistossomose e do B. glabrata por mês em Aracaju (2005-2011)

Fonte: PCE/DATASUS (2016). Org.: Márcia Carvalho

Ao avaliar O total anual de ocorrência da esquistossomose com as espécies no ambiente, constata-se que os anos com maiores números de casos de esquistossomose (2006 e 2010) são os anos com menor número de espécies coletadas (Figura 04). Deste fato também se pode inferir duas situações: que não ocorre o monitoramento em conjunto do diagnóstico da doença ou que a ausência da busca ativa e coleta dos moluscos leva ao aumento no número de casos de esquistossomose. Esta avaliação não pode ser conclusiva

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2442 visto que ocorrem lacunas nas informações sobre a relação hospedeiro intermediário e contágio dos seres humanos, bem como as condições de vida, habitação e saneamento tem papel importante nesta correlação.

Figura 04 – Total de casos de esquistossomose e da espécie B. glabrata por ano em Aracaju (2005-2011)

Fonte: PCE/DATASUS (2016). Org.: Márcia Carvalho

A relação entre a precipitação e o aumento da atividade e taxa reprodutiva do B. glabrata, é amplamente citada na literatura especializada. Em Aracaju, o período chuvoso concentra-se entre os meses de março a julho/agosto (Figura 05), com destaque da concentração da precipitação no mês de maio.

Figura 05 – Aracaju/SE - Normal Climatológica de 1961 a 1990. Fonte: INMET (2016)

Org: Márcia Carvalho

No período em estudo, a concentração da precipitação iniciou de abril a julho e o pico de espécimes capturados junho e julho. No total dos 11.971 caramujos, 88% concentraram-se nos meses pós início das chuvas (maio a setembro), sendo que 50% das espécies coletadas ocorreram em apenas dois meses: junho e julho (figura 06). Os demais

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2443 12% foram coletados nos meses de outubro a março, períodos considerados secos durante os quais o B. glabrata utiliza de forma adaptativas de sobrevivência, como a diapausa ou a dormência buscando locais úmidos para proteção contra a dessecação até que os criadouros, mesmo que temporários, apresentem condições para o retorno as atividades normais e reprodução em larga escala. Ao aplicar o coeficiente de correlação de Pearson, o resultado foi baixo (0,391), pois a resposta da espécie a recolonização do ambiente ocorreu em torno de um mês após o início das chuvas.

Figura 06 – Precipitação total em Aracaju/SE e total de espécimes coletadas por mês de B. glabrata (2005-2011)

Fonte: INMET (2016), PCE/DATASUS (2016) Org.: Márcia Carvalho

No tocante a variação da insolação e a temperatura máxima, a correlação foi alta e negativa para ambos os casos (- 0,745 e - 0,874, respectivamente, Figuras 07 e 08), pois por se tratar de uma espécie pecilotérmica, dependente da água, variações bruscas de temperatura e insolação, com acentuada queda da precipitação, podem causar a morte da espécie, o que os faz migrar para localidades mais úmida, o que nos leva a importante aspecto espacial da epidemiologia da doença, ratificando elementos da ecologia da espécie para outras localidades brasileiras: o entorno dos criadouros naturais são fontes potenciais de armazenamento do S. mansoni, visto que este continua a sobreviver no caramujo mesmo quando ele se encontra em dormência, retornando a atividade e completando seu ciclo assim que as condições ambientais se tornem propícias.

Analisando as relações com a umidade relativa, a correlação foi considerada alta e positiva (0,766), indicando a importância de fatores climáticos associados que repercutem positivamente sobre a espécie nos períodos mais chuvosos e úmidos (figura 09).

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2444 Figura 07 – Relação entre a insolação e total de espécimes coletadas por mês de B. glabrata em

Aracaju/SE (2005-2011)

Fonte: INMET (2016), PCE/DATASUS (2016) Org.: Márcia Carvalho

Figura 08 – Relação entre a temperatura máxima e os espécimes coletadas por mês de B. glabrata em Aracaju/SE (2005-2011)

Fonte: INMET (2016), PCE/DATASUS (2016) Org.: Márcia Carvalho

Pela análise das variáveis climáticas correlacionadas com a ocorrência do molusco em estudo, pode-se inferir que os meses de maio a agosto são os mais propícios para a eclosão das colônias de B. glabrata, podendo ser considerados como de risco potencial elevado, pois associam condições climáticas favoráveis para o repovoamento e reprodução da espécie em virtude da elevada umidade, atenuação da temperatura máxima e da insolação e aumento da precipitação.

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2445 Figura 09 – Umidade relativa do ar e ocorrência de B. glabrata por mês em Aracaju

(2005-2011)

Fonte: PCE/DATASUS (2016). Org.: Márcia Carvalho

Os meses de novembro e fevereiro podem ser classificados como de risco potencial médio, pois embora considerados meses secos, não raro ocorrem eventos extremos de precipitação no referido mês ou no mês antecedente e que podem desencadear o repovoamento antes que as demais condições ambientais estejam em ponto ótimo para a espécie. Da mesma forma o mês de setembro, no qual as condições ambientais antecedentes ainda estão favoráveis. Como de risco potencial baixo apenas os meses de outubro, dezembro e janeiro, evidenciando que no recorte em estudo o controle ambiental não pode ser considerado de como segundo plano.

Este dado apresenta relevância para o sistema de saúde em termos de controle integrado, visando a otimização das ações de busca ativa do molusco no ambiente e promoção de educação em saúde com as populações consideradas vulneráveis e de risco elevado para a esquistossomose. Importante ressaltar que outras variáveis de cunho socioeconômico podem e devem ser inferidas para ampliar a análise.

A identificação dos criadouros deve ser tomada como uma estratégia complementar importante, pois estes espaços podem estar localizados no ambiente peridomiciliar, como também constituírem-se em locais de uso coletivo cotidiano, fazendo-se necessário ampliar as ações em educação em saúde de forma efetiva nas áreas de risco.

4. Conclusões:

A análise entre as variáveis climáticas e a distribuição temporal dos hospedeiros intermediários continua a ser um elemento importante na trama de fatores que compõem a complexa interação entre homem-agente-ambiente do Schistosoma mansoni.

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2446 Ao identificar que há uma correlação forte e inversa entre insolação e elevadas temperaturas, associada com uma correlação forte e positiva com a umidade, com um delay em torno de um mês entre o início do período chuvoso e o repovoamento das colônias de Biomphalaria glabrata em Aracaju, identificam-se variáveis importantes e os meses (de maio a agosto) para efetivar o controle ambiental da doença com a busca ativa do hospedeiro intermediário, ampliação dos inquéritos de coproscopia para determinação da esquistossomose neste período, bem como ações efetivas de educação em saúde para a população em situação de risco, determinada tanto pelo potencial ecológico do ambiente, quanto pelas condições socioeconômicas e de saneamento inadequadas.

Considerando a complexidade dos fatores multicausais da esquistossomose (presença do agente etiológico; coleções hídricas contaminadas, permanentes ou temporárias em meio urbano e periurbano; presença do hospedeiro intermediário; ocupações precárias associadas com saneamento deficiente e/ou inexistente; renda da comunidade; variações climáticas associadas com aspectos da ecologia da espécie; atuação do sistema de saúde), vale salientar que todos estes fatores necessitam ser focados para o efetivo controle desta endemia.

5. Referências

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Schistosoma mansoni: uma visão multidisciplinar. RJ: FIOCRUZ, 2008, p. 965-1008.

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DANCEY, Christine & REIDY, John. Estatística sem Matemática: Usando SPSS para Windows. Porto Alegre, Artmed. 2006.

HOGAN, D.J.,et.al. Migração e Ambiente nas Aglomerações Urbanas. Campinas:UNICAMP. 2001. INMET. Gráficos Climatológicos. 2016. Disponível em: http://www.inmet.gov.br/html/clima.php.

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MENDONÇA, Francisco. Aquecimento global e saúde: uma perspectiva geográfica. Terra Livre. São Paulo, vol. I, n.20, 2003, p. 205-221.

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PARAENSE, W.L. Histórico do Schistosoma mansoni. In: Carvalho, O. dos Santos; et.al. S. mansoni: uma visão multidisciplinar. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2008, p. 29-42

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