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MULHERES SEM FILHO NO BRASIL Morvan de Mello Moreira Fundação Joaquim Nabuco - Brasil Universidade Federal de Pernambuco- Brasil Wilson Fusco

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MULHERES SEM FILHO NO BRASIL

Morvan de Mello Moreira Fundação Joaquim Nabuco - Brasil Universidade Federal de Pernambuco- Brasil Wilson Fusco Fundação Joaquim Nabuco - Brasil

Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar a evolução temporal das proporções de mulheres sem filho no Brasil. Os dados utilizados são provenientes das informações dos censos demográficos de 1940 até 2010 sobre o numero reportados de filhos e as proporções desagregadas pela situação educacional e conjugal das mulheres. Os resultados mostram uma relativa estabilidade das proporções de mulheres sem filho no Brasil até 1980, declinando a partir de então, voltando a aumentar na década final, em todos os grupos de idades. As proporções de sem filho crescem com a escolaridade, sendo que nos anos recentes a proporção dessas com curso superior completo era mais do que o dobro daquelas sem estudo ou curso primário incompleto. Na última década cresce a proporção de mulheres alguma vez unidas sem filho e amplia a fração das solteiras com filho. Os resultados apontam que a fecundidade brasileira continuará a cair abaixo do nível da reposição.

Palavras-chave: Fecundidade; Sem filho; Brasil. Introdução

No conjunto de mudanças que transformaram a quinta população do mundo e décima sexta economia mundial, em 1980, na sétima economia mundial, em 2015, o empoderamento da mulher brasileira constituiu-se em dos mais notáveis avanços das relações sociais no Brasil, com profundos impactos sobre a dinâmica social, econômica e demográfica nacional.1

A capacidade da mulher em controlar sua reprodução estabelece-se como a mais significativa conquista feminina no domínio do próprio corpo e da reprodução social da população. O controle da fecundidade, promovido pela disseminação de métodos anticoncepcionais seguros e baratos, confirmou, não só a propriedade da mulher sobre seu corpo, mas, também, a sua primazia sobre a escolha de ter ou não filhos, e, escolhendo tê-los, quantos e quando os ter. Ao acesso aos métodos anticoncepcionais acessíveis, juntam-se as conquistas femininas que juntam-se traduzem em maiores liberdades nas formas de coabitação e nas relações afetivas e as flexibilizações das normas que confinavam os

1 Em termos de Produto Interno Bruto em bilhões de dólares ppp. Disponível em: http://pt.knoema.com/nwnfkne/world-gdp-ranking-2015-data-and-charts

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nascimentos ao interior do casamento. Novas formas de relacionamento, independências na produção dos filhos, distintas percepções dos papéis femininos, assim como novas valorações da família, da maternidade e do tamanho da prole integram o empoderamento feminino.

Muitas das novas possibilidades vivenciadas pelas mulheres brasileiras afiguram-se competitivas com a coabitação e a reprodução, aumentando o custo de oportunidade dos filhos, ampliado por aumento da participação no mercado de trabalho e por estilos de vida e aspirações que almejam a realização e o bem estar individual e que negam, postergam ou reduzem a reprodução.

Esse conjunto de mudanças, nas quais ficam abertas às mulheres as possibilidades de estabelecerem suas próprias vidas, resultam em uma rápida e expressiva queda do nível de fecundidade brasileira, que transitou de mais de quatro filhos por mulher, nos anos de 1980, para abaixo do nível de reposição no início deste século.

Nessa mudança e na rápida e significativa queda da fecundidade brasileira, uma variável que recebeu relativamente pouca atenção foi o papel das mulheres sem filho -

childless. Elas, tanto são constituídas por aquelas que por distintas razões, mas não por

escolha, durante suas vidas não geraram nenhum nascimento vivo, assim como por aquelas que, mesmo podendo ter filhos, escolheram não tê-los. Essas se identificam distintas daquelas, por renunciarem à maternidade, sendo denominadas childfree, ou, mais adequadamente childfree by choice. No conjunto de mulheres sem filho, também há que se contabilizar aquelas que são momentaneamente sem filho, ou seja, aquelas mulheres de uma determinada idade que postergam até outras idades a maternidade.

A literatura brasileira sobre mulheres sem filho é escassa. O mais significativo estudo foi promovido por Cavenaghi e Alves (2013), a exemplo dos trabalhos de Sobota (2005) e Rosero-Bixby et al. (2009) para a América Latina. Com o objetivo de contribuírem para a identificação de possíveis tendências do nível da fecundidade futura, e se o Brasil se tornaria em uma sociedade sem filho, analisam as tendências de mulheres sem filho no Brasil. Seus resultados apontam que, como o padrão de fecundidade brasileira é muito jovem, é esperado um aumento na postergação de filhos e incremento das mulheres de paridade zero ou um, o que indicaria possível declínio nos níveis de fecundidade nas próximas duas décadas.

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Antecedem a esse trabalho os de Barros (2009); Alves; Cavenaghi; Barros (2010); Alves; Barros (2012) que se concentram sobre os casais de dupla renda e sem filho – a chamada família dinc (double income, no children, ou dink - double income, no kids) que correspondem a aproximadamente 3% dos arranjos familiares no Brasil, constituindo-se pela população que se posiciona no topo da pirâmide de renda brasileira, detentora dos maiores níveis de educação e de consumo, e que, de acordo com os resultados dos autores tenderiam a apresentar uma forte tendência de crescimento em não ter filho.

É objetivo deste trabalho analisar a evolução das proporções de mulheres sem filho no Brasil e, com base nos resultados censitários a partir de 1970, considerar seus atributos educacionais e situação conjugal.

DADOS

As proporções de mulheres sem filho são calculadas a partir o número de filhos tidos reportados pelas mulheres nos censos demográficos de 1940 a 2010. A ausência de dados nos anos de 1940, 1950 e 1960, que permitissem a análise de sem filho por características socioeconômicas das mulheres, restringiu ao ano de 1970 e posteriores a avaliação da evolução do fenômeno tendo em conta atributos das mulheres em idades reprodutivas.

A distribuição das mulheres em idades reprodutivas (15 a 49 anos) ocorreu por grupos quinquenais de idades. Em razão das dificuldades impostas pela qualidade das informações prestadas sobre a variável renda nos distintos censos, assim como a variação no poder de compra do salário mínimo ao longo do tempo, desconsiderou-se na análise o recorte de renda, medida em valores deflacionados ou em salários mínimos. Na ausência de informação sobre número de anos de estudos no Censo de 2010, para manter a comparabilidade dos níveis de escolaridade entre as datas censitárias, a escolaridade das mulheres em idades reprodutivas foi agrupada em: 1) sem estudo ou primário incompleto; 2) primário completo ou ginasial incompleto; 3) ginasial completo até colegial completo; 4) superior completo ou incompleto. A situação conjugal das mulheres foi estabelecida na dicotomia: 1) em união/ alguma vez unida; 2) solteira.

RESULTADOS Filhos Tidos

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Os dados sobre os números de filhos tidos pelas mulheres em idades reprodutivas, assim como a taxa de fecundidade total (TFT) correspondente a cada um dos momentos contemplados estão apresentados à Tabela 1.

De início, chama atenção a estabilidade dos níveis de fecundidade até 1960, o progressivo declínio a partir de então, e a passagem para o nível abaixo da reposição em 2010. De outro, é notável a quase estabilidade da proporção de mulheres sem filho que se prolonga até os anos de 1980; as quedas nos dois decênios sequentes e a ampliação em 2010, com retorno aos níveis de 1991, descolando a queda da fecundidade da variação da proporção de sem filho.

Tabela 1 – Brasil – Taxa de Fecundidade Total e Número de filhos tidos pelas mulheres em idades reprodutivas segundo grupos quinquenais de idade – 1940/2010

Anos TFT Sem Filho Que tiveram filhos

1 ou 2 Filhos 3 Filhos 4 Filhos ou mais

1940 6,16 43,5 32,4 13,1 54,5 1950 6,21 43,4 31,9 12,9 55,2 1960 6,28 42,1 32,9 14,0 53,2 1970 5,76 42,4 33,3 14,8 52,0 1980 4,35 41,7 42,4 16,2 41,4 1991 2,85 39,9 50,7 19,6 29,8 2000 2,38 36,0 57,4 20,0 22,6 2010 1,90 38,8 67,8 18,3 13,9

Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 1940/2010

Visto em sua trajetória temporal, é digna de nota a mudança nas preferências das mulheres brasileiras pelo número de filhos: até 1970, mais da metade das mulheres que tiveram filhos geraram 4 ou mais filhos e apenas um terço, 1 ou 2 filhos. Dez anos depois, em 1980, a proporção daquelas com 1 ou 2 filhos iguala-se à com 4 ou mais. Nos dez anos seguintes a mudança é extraordinária: em 1991, mais da metade das mulheres tiveram 1 ou 2 filhos e tão somente menos de um terço, 4 ou mais filhos. Essa tendência exacerba nos anos seguintes, em dimensão tal que, em 2010, a situação reverte-se completamente: a proporção de mulheres que tiveram 1 ou 2 filhos (67,8%) é cinco vezes maior do que as que tiveram 4 ou mais filhos (13,9%). Na passagem 2000-2010, a ampliação da fração de mulheres que tiveram 1 ou 2 filhos é significativa, sendo marcante o decréscimo na proporção de mulheres com 4 filhos e mais e, pela primeira vez, redução na proporção de mulheres que tiveram 3 filhos.

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Ao contrario da excepcional variação dos níveis da fecundidade brasileira, a proporção de mulheres sem filho modificou-se relativamente pouco entre 1940 e 2010: menos de 2 pontos percentuais entre 1940 e 1980, período da relativa estabilidade, e 2,9 pontos percentuais entre 1980 e 2010.

O movimento da fecundidade e das sem filho são de mesmo sentido: a fecundidade declina ao mesmo tempo em que diminui a proporção de mulheres sem filho. Até 1970, fecundidade e proporção de sem filho caminham juntas. A partir de 1970, a queda da fecundidade é acompanhada pela redução da proporção de sem filho, mas se dá a uma taxa mais rápida do que a das sem filho. A intensidade do distanciamento é tal que, em 2010, a taxa de fecundidade total apresentou significativa redução, enquanto a proporção de sem filho aumentou. Os resultados da Tabela 1 mostram tal movimento. Entre 2000 e 2010 é observada uma recuperação dos 3,9 pontos percentuais de redução entre 1991 e 2000, mas sem se retornar aos níveis de 1991 (39,9% de mulheres sem filho). Mesmo com esse aumento na proporção de mulheres sem filho, a queda da fecundidade entre 2000 e 2010 é maior do que a observada entre 1980 e 1991, a sugerir o completo descolamento da trajetória declinante da fecundidade brasileira de uma eventual tendência a aumentar a proporção de sem filho. Nesse sentido há fortes indícios de uma continuada redução dos níveis da fecundidade brasileira2, mesmo com aumento da proporção de mulheres sem filho, assim como uma trajetória em direção ao filho único ou ao par de filhos.3

Sem filho por grupos de idades

As proporções do total de mulheres sem filho ao longo da vida reprodutiva, a cada ano, agregam mulheres de diferentes gerações, com comportamentos reprodutivos distintos e, enquanto sumário do total delas, estão afetadas pela distribuição etária dessas mulheres no decorrer do tempo.

Na Tabela 2 a distribuição das mulheres sem filho por grupos quinquenais de idade mostra que a maternidade é uma função crescente da idade, declinando a proporção de mulheres sem filho à medida que envelhecem.

2

A perspectiva de continuação da queda da fecundidade brasileira além da reposição nos próximos decênios já era apontada por reputados demógrafos brasileiros nos inícios dos anos 2000. (Goldani, 2009)

3

A última Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Mulher e da Criança (Brasil, 2009) referente ao ano de 2006, mostra que a fecundidade desejada das mulheres brasileiras reduziu-se de 1,8 filhos, em 1996, para 1,6 filhos, em 2006.

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A relativa estabilidade nos níveis e padrões de mulheres sem filho por grupos de idade observada no período 1940-1960 apresenta um desvio no seu desenho nos anos de 1970. A mudança no padrão de não maternidade que ocorre em 1970 mostra que são as mulheres acima de 30 anos as que mais se distanciam de suas antecedentes nas proporções de sem filho. O novo padrão erigido nos anos de 1970 persiste pelas duas décadas seguintes, com acréscimos das proporções de mulheres de 25 a 35 anos sem filho, e o ano de 2000 prenuncia a profunda mudança em 2010. A proporção de mulheres sem filho aumenta de forma expressiva em todos os grupos de idades entre 2000 e 2010; em menor dimensão no grupo 20-24 anos (15%), mas, em torno de 30% nas demais. Como resultado, no trintênio compreendido por 1991-2010, a maior variação na proporção de mulheres sem filho ocorre entre as aquelas de 30 anos, e, em seguida as de 25-29 anos.

Tabela 2 – Brasil – Proporção de mulheres sem filho por grupos quinquenais de idades – 1940/2010 Anos 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 39 anos 40 a 44 anos 45 a 49 anos 1940 91,3 53,7 29,7 21,0 16,8 16,1 14,9 1950 90,4 53,5 30,0 21,1 17,3 16,8 15,9 1960 91,4 52,8 27,5 18,9 15,5 15,8 15,8 1970 91,7 52,3 25,6 15,3 11,7 11,4 11,5 1980 89,9 53,9 26,9 15,6 11,0 9,9 9,8 1991 87,6 52,9 29,0 16,2 11,1 9,8 9,6 2000 85,0 52,3 30,4 17,9 12,4 10,1 9,6 2010 88,0 60,4 39,6 23,8 15,9 13,2 12,2

Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 1940/2010.

Se se estabelece o grupo de mulheres de acima de 40 anos como o mais adequado para a identificação da vida reprodutiva praticamente encerrada4, de acordo com os dados da Tabela 2, a fração de mulheres brasileiras sem filho ao final da vida reprodutiva oscilaria em torno de 13%.

Sem filho por nível de escolaridade

Na Tabela 4 e no Gráfico 2 estão dispostos os percentuais de mulheres sem filho por nível de escolaridade no período 1970/2010, mostrando que a proporção de sem filho

4

Em 2000 e 2010 a taxa de fecundidade das mulheres brasileiras de 40 anos e mais representava pouco mais de 3% da taxa de fecundidade total. De acordo com os dados censitários, em 2000, a taxa de fecundidade das mulheres de 40 anos girava em torno de 8 por mil, declinando para 6 por

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associa-se positivamente com o nível de escolaridade feminino. Entretanto, ao longo do período iniciado em 1970, em que pese ter sido observado redução na proporção de mulheres sem filho em todos os níveis educacionais, esse declínio foi mais amplo entre as de menor escolaridade, sendo mais expressivo entre aquelas que concluíram o ensino primário ou frequentaram o ginasial, mas não o completaram. Em todos os grupos educacionais a proporção de sem filho declinou até o ano 2000, de forma mais acentuada entre as de menor escolaridade e pouco significativa entre as de maior escolaridade. Em 2010, a trajetória declinante até então observada reverteu, ocorrendo aumento da proporção de mulheres sem filho, em escala muito modesta, e crescente com o nível de escolaridade, com exceção das mulheres que concluíram o ginasial ou que tendo adentrado o curso universitário não o concluíram, as quais experimentaram um continuado declínio em sua proporção de sem filho (a maior variação relativa observada no período).

Tabela 4 – Brasil – Distribuição percentual das mulheres em idade reprodutiva sem filho por nível de escolaridade – 1970/2010

Anos Sem estudo ou primário incompleto Primário completo ou ginasial incompleto Ginasial completo ou colegial completo Superior completo ou incompleto 1970 36,8 59,3 60,7 67,4 1980 29,9 44,2 63,5 63,1 1991 29,8 39,7 48,2 51,9 2000 20,6 28,4 46,7 51,8 2010 21,8 30,3 42,7 55,9

Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1970/2010

Tenha-se em conta a similitude da proporção de sem filho entre as mulheres do primário completo ao ginasial ou colegial completo, em 1970, e como, em 2010, essas últimas se distanciam daquelas.

No Gráfico 2 é identificado o progressivo distanciamento da proporção de mulheres sem filho com curso superior completo ou incompleto dos demais grupos de escolaridade. O diferencial por escolaridade é de dimensão tal que, tanto em 2000, como em 2010, a proporção de mulheres de sem filho de mais alta escolaridade era mais do que o dobro daquelas de mais baixa escolaridade e quase o dobro daquelas que completaram o ensino primário ou não concluíram o curso ginasial. Mesmo aquelas mulheres que completaram o curso ginasial ou colegial, cuja proporção de sem filho mais se aproximava daquelas com curso superior, a partir de 1991, dessas começam a se apartar. Em 2010 a diferença amplia,

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momento em que as proporção de mulheres sem filho de ginasial ou colegial completo continuou a declinar, ao contrário de todos os demais.

Tendo em conta as altas proporções de mulheres sem estudo ou primário incompleto no total da população brasileira no início do período analisado, é possível imputar-lhes os altos níveis de fecundidade vigentes na ocasião. No sentido oposto, é possível atribuir a essa fração de população parte da redução da fecundidade nos anos sequentes, ampliada pelo massivo incremento na escolaridade experimentado por contingentes expressivos da mesma.5

Gráfico 2 – Brasil - Distribuição percentual das mulheres sem filho por nível de escolaridade – 1970/2010

Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1970/2010.

Os diferenciais de proporções de mulheres sem filho entre extremos educacionais são bastante elevados, e mais amplos no período mais recente do que no inicial. Em 1970, a

5

Em 1970, 77,2% das brasileiras em idades reprodutiva eram mulheres sem nenhum grau de escolaridade ou com o primário incompleto, e a fração das mulheres de 15 a 49 anos de idade com curso superior completo ou incompleto era tão somente 1,2%. Em 2010, 1/6 das mulheres em idades reprodutivas continuam a compor o grupo de menor escolaridade, mas já são amplamente superadas pela fração daquelas que ingressaram o curso superior – 20,1%. No Brasil, em 2010, o maior grupo de mulheres em idade reprodutiva é constituído por aquelas que completaram o ginasial ou colegial (48,8%), grupo esse que, também, já era majoritário em 2000. Entre 2000 e 2010, o grupo de mulheres que mais incrementou no período foi o das que ingressaram no curso superior, cuja participação praticamente duplicou no intervalo. Com o incremento daquelas com ginasial ou colegial completo, em 2010, mulheres com curso superior e colegial ou ginasial

10 20 30 40 50 60 70 1970 1980 1991 2000 2010 Anos

sem estudo ou primário incompleto primário completo ou ginasial incompleto

P e r c e n t a g e m

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proporção de mulheres universitárias sem filho (67,4%) era quase o dobro daquelas que não completaram o primário (36,8%), e, em 2010, as de curso superior sem filho (55,9%) passaram a ser 2,5 vezes mais numerosas do que a fração das analfabetas ou com primário incompleto sem filho (21,8%).

Chama a atenção o significativo afastamento do comportamento das mulheres sem filho promovido pela educação primária completa ou ginasial incompleto em relação àquelas sem estudo ou primário incompleto, diferença essa que em 2010 (42,7% versus 30,3%) se mostra muito maior do que a existente em 1970 (60,7% versus 59,3%). Nos anos de 1980, completar o ensino primário ou adentrar o ginasial, mesmo não o completando, resultou em uma profunda redução da proporção de sem filho, continuado nas duas décadas seguintes. Esse conjunto de movimentos sugere, no agregado, comportamento distinto entre dois pares de grupos educacionais: os de menor escolaridade apresentam sempre as menores proporções de sem filho e as maiores quedas entre 1970 e 2010 vis-à-vis os de maior escolaridade. Observe-se, também, que os diferenciais entre os extremos dos grupos educacionais cresceram no quarentênio, em razão de ter sido maior a queda entre as de menor nível de escolaridade do que as de maior, que, inclusive, reverteram no último decênio a trajetória até então declinante.

Situação Conjugal

A proporção de mulheres unidas ou alguma vez unidas, sem filho, cresce no período 1970-2010, à exceção do ano de 2000, quando ocorreu redução na fração dessas mulheres, retração essa que é mais do que compensada no período seguinte, conforme apontam os dados apresentados à Tabela 6.6 Movimento de sentido contrário ocorre entre as solteiras, cuja proporção declina durante todo o quarentênio.

No período inicial, 1970, menos de um décimo das mulheres alguma vezes unidas não tinham filho, podendo-se afirmar então que a maternidade era um fenômeno presente entre a quase totalidade de mulheres que em algum momento da vida encontravam-se unidas. Entre as solteiras, a inexistência de filhos era mais acentuada ainda, porquanto menos de um vigésimo delas geraram um filho. O contraste em relação ao ano de 2010 é flagrante e de sentido contrário entre os dois grupos: cresce a proporção de mulheres alguma vez unidas sem filho e amplia a fração das solteiras com filho. Em termos absolutos

6

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os movimentos são de igual dimensão.

Tabela 6 – Brasil – Distribuição percentual das mulheres em idade reprodutiva sem filho por situação conjugal – 1970/2010

Ano Em união/alguma vez unida Solteira Total

1970 9,5 95,6 42,4

1980 11,0 93,2 41,7

1991 13,6 91,0 39,9

2000 10,7 89,3 36,0

2010 16,4 88,6 38,8

Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1970/2010 CONCLUSÃO

A fecundidade brasileira declinou de forma expressiva nos últimos quarenta anos, mesmo em uma situação de ampla fração de mulheres em idade reprodutiva tendo filhos; ou seja, a fecundidade reduziu pela retração do número de filhos tidos, a despeito de uma ampliação na proporção de mulheres tendo filho. No último decênio, ao contrário de todo o período anterior, a queda da fecundidade teve a contribuição do aumento da proporção de sem filho por todas as mulheres em idades reprodutivas, particularmente significativa entre aquelas de maior expressão na fecundidade – as mulheres de 20 anos.

A evidência de que a proporção de sem filho entre as mulheres das idades de finalização da fecundidade é crescente a partir das gerações nascidas pós 1955, ao lado da possibilidade de que as gerações socializadas no período de queda da fecundidade venham a vivenciar a combinação de aumento na proporção de sem filho com a tendência à concentração do número de filhos em torno do par ou do filho único, sugerem que o nível da fecundidade brasileira continuará a declinar nas próximas décadas abaixo do nível de reposição e que o tamanho modal da família brasileira venha a ser do filho único ou dois filhos.

BIBLIOGRAFIA

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