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PORTUGUÊS
Sugestões de atividades
Unidade 6
Trabalho
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Português
Português
O texto a seguir é um trecho do livro Elogio ao ócio, de Bertrand Russell. O autor foi um filósofo e matemá-tico inglês, considerado um dos mais influentes do século XX. Polêmico e transgressor, questionou dogmas e defendeu causas, como o feminismo e o direito ao aborto, bem antes de elas terem se tornado centrais. Russell assinou junto com Albert Einstein um manifesto contra o uso de armas nucleares. No trecho abaixo, de maneira irônica, o filósofo expõe o que pensa a respeito do louvor ao trabalho.
“A ideia de que os pobres devem ter direito ao lazer sempre chocou os ricos. Na Inglaterra do início do século XIX, a jornada de trabalho de um homem adulto tinha quinze horas de duração. Algumas crianças cumpriam, às vezes, essa jornada, e para outras a duração era de doze horas. Quando uns abelhudos intrometidos vieram afirmar que a jornada era longa demais, foi-lhes dito que o trabalho man-tinha os adultos longe da bebida e as crianças afastadas do crime. Eu era ainda criança quando, pouco depois de os trabalhadores urbanos terem conquistado o direito de voto, e para a total indignação das classes superiores, os feriados públicos foram legalmente instituídos. Lembro-me de uma velha duquesa exclamando: ‘O que querem os pobres com esses feriados? Eles deviam estar trabalhando.’ Hoje em dia as pessoas são menos francas, mas o sentimento persiste, e é fonte de boa parte de nossa confusão econômica. [...]
Eu penso que o fato de se permitir que essas pessoas sejam ociosas não é nem de longe tão nocivo quanto o fato de se exigir dos assalariados que escolham entre o sobretrabalho e a privação.
Se o assalariado comum trabalhasse quatro horas por dia, haveria bastante para todos, e não haveria desemprego – supondo-se uma quantidade bastante mo-desta de bom senso organizacional. Essa ideia choca as pessoas abastadas, que estão convencidas de que os pobres não saberiam o que fazer com tanto lazer. Nos Estados Unidos, os homens costumam trabalhar longas horas, mesmo quando já desfrutam uma ótima situação, e ficam sinceramente indignados com a ideia do lazer para os trabalhadores, a não ser na forma do castigo cruel do desemprego. Na verdade, eles rejeitam o lazer até para os seus filhos. [...]
Devido à total ausência de controle central sobre a produção, produzimos uma imensa quantidade de coisas de que não precisamos. Mantemos ociosa uma par-cela considerável da população trabalhadora, que se torna dispensável justamente porque se impõe o sobretrabalho à outra parcela. Quando esse método se revela inadequado, fazemos a guerra: colocamos um monte de gente para fabricar explo-sivos e outro tanto para explodi-los, tal como crianças que acabaram de descobrir os fogos de artifício. Combinando todos esses mecanismos, somos capazes, ainda que com alguma dificuldade, de manter viva a noção de que uma grande quanti-dade de trabalho manual é o quinhão inevitável do homem comum. [...]”
Bertrand Russell. Elogio ao ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. p. 29-31.
1. Faremos neste exercício uma análise de cada parágrafo para compreender bem as ideias do texto.
a) Sublinhe as ideias principais de cada parágrafo.
2. Nesta unidade aprendemos a fazer fichamento de textos. Este será o seu trabalho agora: fazer um ficha-mento do texto de Bertrand Russell. A primeira parte do trabalho já foi feita no exercício anterior: subli-nhar as ideias mais importantes e parafraseá-las. Para continuar a elaboração do fichamento, lembre-se do que foi estudado sobre o gênero.
I. Registre o título e indique a referência bibliográfica do texto no alto da página;
II. Obedeça à sequência do texto;
III. Registre as informações principais, por meio de setas e recursos visuais que facilitem a rememoração do texto.
3. Segundo o autor do texto, por que existe desemprego? Qual seria a solução para que todos tivessem direito ao trabalho?
4. Por que, segundo Russell, o lazer é tão criticado? A sociedade toda estabelece a mesma relação com o ócio e com o trabalho?
5. Releia:
“A ideia de que os pobres devem ter direito ao lazer sempre chocou os ricos. Na Inglaterra do início do século XIX, a jornada de trabalho de um homem adulto tinha quinze horas de duração.”
“Lembro-me de uma velha duquesa exclamando [...]”
“Eu penso que o fato de se permitir que essas pessoas sejam ociosas não é nem de longe tão nocivo quanto o fato de se exigir dos assalariados que escolham entre o sobretrabalho e a privação.”
Destaque dos trechos acima:
a) palavras que têm o som de /zê/, sublinhando a letra que o representa na escrita;
b) duas palavras em que a letra x representa sons diferentes entre si e descreva-as.
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Português
Português
Gabarito
1. a) Primeiro parágrafo: “A ideia de que os pobres devem ter direito ao lazer sempre chocou os ricos. Na Inglaterra do início do século XIX, a jornada de trabalho de um homem adulto tinha quinze horas de duração. Algumas crianças cumpriam, às vezes, essa jornada, e para outras a duração era de doze horas. Quando uns abelhudos intrometidos vieram afirmar que a jornada era longa demais, foi-lhes dito que o trabalho mantinha os adultos longe da bebida e as crianças afastadas do crime. Eu era ainda criança quando, pouco depois de os trabalhadores urbanos terem conquis-tado o direito de voto, e para a total indignação das classes superiores, os feriados públicos foram legalmente instituídos. Lembro-me de uma velha duquesa exclamando: ‘O que querem os pobres com esses feriados? Eles deviam estar trabalhando.’ Hoje em dia as pessoas são menos francas, mas o sentimento persiste, e é fonte de boa parte de nossa confusão econômica. [...]”
Segundo parágrafo: “Eu penso que o fato de se permitir que essas pessoas sejam ociosas não é nem de longe tão nocivo quanto o fato de se exigir dos assalariados que escolham entre o sobretrabalho e a privação.
Terceiro parágrafo: “Se o assalariado comum trabalhasse quatro horas por dia, haveria bastante para todos, e não haveria desemprego – supondo-se uma quantidade bastante modesta de bom senso organizacional. Essa ideia choca as pessoas abastadas, que estão convencidas de que os pobres não saberiam o que fazer com tanto lazer. Nos Estados Unidos, os homens costumam trabalhar longas horas, mesmo quando já desfrutam uma ótima situação, e ficam sinceramente indignados com a ideia do lazer para os trabalhadores, a não ser na forma do castigo cruel do desemprego. Na verdade, eles rejeitam o lazer até para os seus filhos. [...]”
Quarto parágrafo: “Devido à total ausência de controle central sobre a produção, produzimos uma imensa quantidade de coisas de que não precisamos. Mantemos ociosa uma parcela considerável da população trabalhadora, que se torna dispensável justamente porque se impõe o sobretrabalho à outra parcela. Quando esse método se revela inadequado, fazemos a guerra: colocamos um monte de gente para fabricar explosivos e outro tanto para explodi-los, tal como crianças que acabaram de descobrir os fogos de artifício. Combinando todos esses mecanismos, somos capazes, ainda que com alguma dificuldade, de manter viva a noção de que uma grande quantidade de trabalho manual é o quinhão inevitável do homem comum. [...]”
b) Resposta pessoal. Sugestão:
Primeiro parágrafo: Os mais ricos ficam indignados com a ideia de que os pobres, os operários, têm direito ao lazer. No início do século XIX, na Inglaterra, os adultos e até as crianças eram submetidos a desumanas jornadas de trabalho (de 15 horas por dia). Para justificar essa exploração, os ricos disseminavam o discurso de que o trabalho mantinha as crianças longe dos crimes; e os adultos, da bebida. A elite não suporta a ideia de ver os mais pobres em outras atividades que não sejam o trabalho. Essa ideologia permanece até os dias de hoje, mas atualmente as pessoas são menos francas, evitando dizer o que pensam.
Segundo parágrafo: Exigir que os empregados escolham entre não terem empregos e, portanto, terem que passar privações de todo tipo ou trabalharem como escravos, sem ter direitos trabalhistas e direito ao lazer, é muito mais grave do que permitir que as pessoas sejam ociosas.
Terceiro parágrafo: Se todos trabalhassem apenas quatro horas por dia, ninguém seria desemprega-do. Essa ideia deixa as pessoas mais ricas indignadas, porque acham que os pobres não saberiam o que fazer com o lazer. Trabalhadores financeiramente estáveis continuam trabalhando muito mais do que o necessário e rejeitam o lazer para todos, até para seus filhos.
Quarto parágrafo: Produzimos muito mais coisas do que necessitamos. Mantemos uma parte con-siderável da população desempregada, enquanto sobrecarregamos a outra parcela de trabalho. Quando isso começa a dar errado, fazemos guerra, empregando alguns para fabricar explosivos e outros para explodi-los. Combinando essas duas estratégias, mantemos viva a ideia de que o ho-mem comum precisa de uma grande quantidade de trabalho manual para existir.
Observação: professor, auxilie os alunos na compreensão de palavras de uso menos comum, ajudan-do-os a ampliar o vocabulário.
2. Professor, leia, se possível, cada um dos fichamentos individualmente. Oriente os alunos a fichar outros textos trabalhados ao longo do ano para que possam se aperfeiçoar. Após alguns meses, retome os textos, por meio dos fichamentos, a fim de que os alunos compreendam, na prática, a finalidade desse gênero e analisem se os textos que produziram foram bem-feitos.
3. O autor do texto defende que, se todos trabalhassem apenas quatro horas por dia, não haveria desem-prego. Dessa forma, uma parte da população não ficaria mais sobrecarregada, trabalhando muito mais do que aguenta, sem direito ao lazer e a uma vida de qualidade; enquanto a outra parte está desempre-gada, passando por privações de todo tipo, à margem da sociedade.
4. Russell expõe que as pessoas mais ricas ficam indignadas com todo tipo de lazer e tempo livre conce-dido aos trabalhadores, argumentando que eles precisam trabalhar, que o homem comum precisa de uma grande quantidade de trabalho manual só pode existir por meio do trabalho. O texto também deixa claro que as pessoas ricas têm direito ao lazer, ao tempo livre e trabalham muito menos – ou nada. O autor nos mostra o quanto o discurso de “amor ao trabalho” é um controle a que os mais ricos submetem os assalariados.
Observação: professor, ouça com atenção o que os alunos têm a dizer e converse sobre o tema, que é bastante polêmico. É possível, em sala de aula, promover, ainda, a leitura de trechos de “O direito à preguiça”, de Paul Lafargue (www.ebooksbrasil.org/adobeebook/direitopreguica.pdf), outros trechos do livro Elogio ao ócio (como este <www.ic.unicamp.br/~campos/ElogioOcio.pdf>) ou entrevistas e textos do sociólogo italiano Domenico de Masi para ampliar a discussão.
5. a) Lazer, quinze, duquesa, ociosas; exigir.
b) Na palavra exigir, o x tem som de /zê/. Em exclamando, o x representa o som de /sê/ ou de /chê/, de acordo com a região geográfica.